Conhecendo-se a política brasileira, os comportamentos atuais, de políticos e magistrados, nada deveria nos surpreender.
Paulo Roberto de Almeida
A LUZ QUE SE APAGA E A ESCURIDÃO QUE SE
APROXIMA
Carlos Chagas
Tribuna da Imprensa, 3/01
Confirmam amigos chegados ao presidente do
Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa: ele pedirá aposentadoria antes de
ser sucedido, em abril do próximo ano, pelo ministro Ricardo Lewandowski, na
direção maior do Poder Judiciário.
Motivo: o desmonte do mensalão, que começará
logo depois da mudança na presidência da mais alta corte nacional de Justiça.
Como? Através de manobra já engendrada pelo PT
e pelos advogados dos mensaleiros, com a aquiescência de Lewadowski, que
permitirá a REVISÃO dos processos onde foram condenados 25 implicados num dos
maiores escândalos da história da República. Estaria tudo coordenado, apenas
aguardando a mudança da guarda. Apesar de a revisão de processos constituir-se
em exceção na vida dos tribunais, pois acontece apenas com o surgimento de
fatos novos no histórico das condenações, já estariam em fase de elaboração os
recursos de quase todos os hoje condenados, a cargo de advogados regiamente
remunerados, junto com outros ideologicamente afinados com o poder reinante.
Nada aconteceria à margem de discussões e
entreveros jurídicos, mas a conspiração atinge a composição atual do Supremo
Tribunal Federal. E a futura, também.
O término do mandato de Joaquim Barbosa na
presidência da Corte Suprema marcaria a abertura das comportas para a
libertação dos criminosos postos atrás das grades e daqueles que se encaminham
para lá.
Joaquim Barbosa não estaria disposto a
assistir tamanha reviravolta, muito menos a ser voto vencido diante dela.
Assim, prepara seu desembarque. Pelo que se ouve, não haverá hipótese de mudar
a decisão já tomada, mesmo ignorando-se se aceitará ou não transmudar-se para a
política e aceitar algum convite para candidatar-se às eleições de outubro. Tem
até abril para decidir, apesar das múltiplas sondagens recebidas de diversos
partidos para disputar a presidência da República.
A informação mostra como são efêmeros os
caminhos da vida pública. Até agora vencedor inconteste na luta contra a
corrupção, reconhecido nacionalmente, Joaquim Barbosa pressente a curva no
caminho, não propriamente dele, mas dos mesmos de sempre, aqueles que conseguem
fazer prevalecer a impunidade sempre que não se trata de punir ladrões de
galinha.
Afinal, alguns meses de cadeia podem machucar,
mas se logo depois forem revogados através de revisões patrocinadas pelas
estruturas jurídicas postas a serviço das elites, terão passado como simples
pesadelos desfeitos ao amanhecer. Não faltarão vozes para transformar bandidos
em heróis.
A reação do ainda presidente do Supremo de
aposentar-se ficará como mais um protesto da luz que se apaga contra a
escuridão que se aproxima.
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