Os dez mandamentos da política (em certos governos)
Paulo Roberto de Almeida
(com alguns agradecimentos a Moisés e seus escribas)
1. Não reconhecerás nenhum deus, personagem inexistente
em nossa república laica, salvo o comandante em chefe, também chamado de Nosso
Guia, ou genial condutor dos povos.
2. Não farás publicidade indevida, salvo a do
próprio chefe e guia infalível.
3. Apenas o nosso guia tem o direito de aparecer
nos meios de comunicação de massa sem qualquer restrição, assim como requisitar
esses meios para aparição pública, sempre e quando ele determinar que existe um
interesse nacional envolvido.
4. Guardarás todos os dias santificados, que são
também os dias de recolhimentos de impostos, diretos e indiretos, assim como
taxas e contribuições.
5. Honrarás pai e mãe, e darás a eles o direito de
serem atendidos no serviço público de saúde.
6. É proibido matar, a não ser que seja pela boa
causa. A boa causa é determinada pelo Nosso Guia.
7. Não cometerás adultério, pelo menos não nas
horas de trabalho. Se tiver de ser, que não seja no local de trabalho. Se tiver
de ser, que seja pela boa causa, assim determinada pelo Nosso Guia.
8. Não roubarás, até que sejas eleito para algum
cargo público. A partir de então, o roubo não é mais enquadrado como roubo, mas
apenas como prestação de serviço público, para o qual deve necessariamente existir
alguma compensação pecuniária pelos esforços incorridos.
9. Não discriminarás contra os estrangeiros, a não
ser que sejam brancos de olhos azuis. Nossos aliados naturais são os morenos
oprimidos.
10. Não corromperás o próximo, nem o perseguirás
por qualquer motivo fútil, pois ele pode ser nosso aliado natural, sobretudo se
for sindicalista. Aos que não são próximos, nem nossos aliados, apenas
aplicarás a lei.
Brasília, 31 de julho de 2009
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