quinta-feira, 13 de março de 2014

Reflexões ao léu: A falta que faz um bobo da corte - Paulo Roberto de Almeida

Reflexões ao léu: A falta que faz um bobo da corte

Paulo Roberto de Almeida

Rezam as lendas, não sei se verdadeiras, que os reinos antigos possuíam, em suas cortes, um personagem bizarro, e como tal vestido, cuja função era a de distrair o rei, e os seus convivas. Ele assim o fazia, cantando e dançando, recitando poesias, mas também fazendo troças com o próprio rei, uma maneira de mostrar que mesmo o mais poderoso dos homens podia cometer erros e permitia que outros apontassem seus equívocos. Artistas dessa qualidade efetivamente existiram, como relatado em antigas crônicas medievais e do início da era moderna, mas não se sabe exatamente até onde iam seus poderes “constitucionais” de desafiar a sabedoria do rei, ou até de zombar de sua figura, e de seus atos, na presença de convivas, outros membros da corte, ou até de visitantes estrangeiros. Alguns podem ter pago com a vida gestos e palavras mais ousados, ou críticas mais severas, disfarçadas como zombarias.
Qualquer que seja a realidade histórica desse tipo de personagem, reconheçamos que se trata de uma figura necessária em certos reinos, ou pelo menos em certas cortes, caracterizadas pela prepotência de seus mandatários, ou pela arrogância dos soberanos e de seus mandarins mais próximos. Um bobo da corte poderia, por exemplo, atuar como conselheiro presidencial, sempre encarregado de alertar para as consequências eventualmente funestas, ou contra-produtivas, de determinadas decisões, algo que alguns ministros mais medrosos não ousam fazer, temendo pela sua sorte, ou mais exatamente pelo seu cargo, já que não parece ser ainda costume mandar executar um auxiliar recalcitrante ou oposto a certas medidas do soberano (ou soberana, que também as há). Em todo caso, temos a clara percepção que um bobo da corte faria muito bem em circunstâncias de grandes conflitos entre os poderes, entre políticas contraditórias, entre recomendações divergentes que acrescentam ainda mais à instabilidade latente de todo poder muito concentrado, dificultando assim a tal de governabilidade.
Sem pretender me candidatar ao posto – longe disso – tenho a nítida impressão de que o Brasil está precisando de um bobo da corte, um verdadeiro, independente, livre e inimputável. O que existe atualmente parece que já não serve mais...


Hartford, 13 de março de  2014

2 comentários:

  1. -Sinto em discordar, mas temos um bobo da corte sim, senador Eduardo Suplicy...

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  2. JOB FERREIRA DA CUNHA BANANAL - SP14/03/2014, 11:09

    DOUTOR PAULO ROBERTO DE ALMEIDA , O SENHOR ESTA PERDENDO A OPORTUNIDADE DE PRESTAR UM GRANDE SERVIÇO A PATRIA , NESTE MOMENTO CRUCIAL QUE ELA ATRAVESSA .SUGIRO QUE O SENHOR SE CANDIDATE AO CARGO CITADO ACIMA , SERIA UM OTIMO BOBO DA CORTE ... NÂO IMPORTA SE O CARGO È CÔMICO , O IMPORTANTE SERIA O SERVIÇO PRESTADO kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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