quinta-feira, 13 de março de 2014

Venezuela: segue o caminho da Argentina no maior calote da historia economica

O governo bolivariano prepara-se para aplicar um calote de proporções bilionárias, talvez não tão importante, em magnitude, ao que a Argentina aplicou aos seus credores em 2001 -- ou seja, aos detentores de bônus da dívida argentina, pagos à razão de apenas 30 centavos por cada dólar emitido -- mas igualmente relevante, e ainda mais significativo, por não incidir sobre "poupança" acumulada de privados e investidores institucionais (ou seja, estoque de recursos), mas sobre fluxos correspondentes a operações reais no mundo do comércio (bens e serviços efetivamente transacionados).
O que a Argentina fez, em 2001 -- e por isso ela paga um preço até hoje -- foi atuar no âmbito da sua balança de capitais, ou seja, transações puramente financeiras ou compensatórias.
O que a Venezuela está pretendendo fazer agora é atuar sobre a balança de transações correntes, ou seja, dar calote a pagamento de fatores, o que formalmente seria sancionado pelo FMI.
Acredito que se trata de sequestro econômico ainda mais grave, e deve atingir igualmente empresas brasileiras.
Vamos ver como reage o governo companheiro a esse novo atentado do governo bolivariano contra os interesses legítimos das empresas brasileiras.
Segundo um analista, "o governo venezuelano "ignora tratados internacionais e está tornando mais difícil para as companhias manterem seus compromissos naquele mercado".
No que se refere a empresas brasileiras, vejamos esta informação: 
"Em balanço relativo ao terceiro trimestre de 2013, a Latam, maior companhia aérea da América Latina e dona da brasileira TAM e da chilena LAN, afirma que seu caixa "sujeito a restrições" na Venezuela subiu de R$ 104,9 milhões no fim de 2012 para R$ 314 milhões (US$ 133 milhões no câmbio de ontem). O número é próximo ao fornecido por uma fonte do governo brasileiro ao Valor, que disse ter tomado conhecimento de que a Latam tem US$ 120 milhões em dividendos retidos no país e a Gol, outra aérea brasileira que opera ali, US$ 60 milhões. Os números também levam em conta o câmbio oficial."
Pois é. Chega um momento em que as empresas vão parar de operar na Venezuela ou para a Venezuela.
Paulo Roberto de Almeida 

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Múltis temem perdas bilionárias na Venezuela

As recentes mudanças no sistema cambial da Venezuela podem gerar perdas bilionárias para as multinacionais que operam no país e precisam remeter divisas às suas matrizes no exterior. Segundo estimativa da consultoria Ecoanalítica, de Caracas, há cerca de US$ 10,5 bilhões em dividendos represados no país, levando-se em conta a taxa oficial, controlada, de 6,30 bolívares. A Datanálisis, também venezuelana, estima que o volume retido chegue a US$ 12 bilhões.
Mas esse valor pode praticamente evaporar caso as empresas sejam obrigadas, conforme sinaliza o governo, a recorrer ao Sicad 2, um novo mercado de compra e venda de dólares que entrará em vigor nos próximos dias.
O Sicad 2 relaxa os controles do governo sobre o câmbio, permitindo a pessoas físicas e jurídicas trocarem dólares entre si - o que estava proibido desde 2010. Cria-se, assim, uma terceira faixa cambial no país. Além da oficial, utilizada sobretudo para compras de produtos essenciais pelo governo, há o Sicad 1, que distribui dólares em um sistema de leilões, a uma cotação de cerca de 11 bolívares.
Diferentes analistas estimam que a moeda americana deverá ser negociada no Sicad 2 numa faixa entre 20 e 60 bolívares. Como um dos objetivos do governo é combater o mercado negro - onde o dólar já chegou a rondar a faixa dos 90 bolívares -, acredita-se que ela seja negociada no Sicad 2 perto da banda mais alta das previsões.
É justamente esse o temor das companhias. "Enquanto as empresas multinacionais estão cheias de bolívares e querem comprar moeda estrangeira, se a taxa de referência não é de 6 [bolívares por dólar], mas 60, sua compra é diluída em dez", disse Luis Vicente León, da consultoria Datanálisis, em sua conta no Twitter. "Se o governo decide que as multinacionais devem comprar seus dividendos no Sicad 2 e a taxa é 60, a dívida baixa de US$ 12 bilhões para US 1,2 bilhão."
A consultoria venezuelana Hinterlaces afirma que a última aprovação dada pelo governo venezuelano para a repatriação de divisas por empresas estrangeiras ocorreu no ano de 2011, com um total de US$ 81,9 milhões liberados. Segundo a Hinterlaces, há casos de empresas que esperam há sete anos para fazer essas remessas.
Um dos setores mais afetados é o da aviação civil. Ontem, o diretor-geral da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), Tony Taylor, disse em Genebra que os recursos bloqueados das empresas que operam no país chegam a US$ 3,7 bilhões. O cálculo considera o dólar oficial, de 6,30 bolívares.
Levando-se em conta os cálculos dos analistas, o montante cairá a US$ 1,16 bilhão, na melhor das hipóteses - um câmbio de 20 bolívares por dólar no Sicad 2. Se a moeda americana for negociada por 60 bolívares no novo mercado, o montante a ser repatriado será de apenas US$ 388 milhões.
Sem citar o novo tipo de câmbio, Taylor reclamou que o governo venezuelano "ignora tratados internacionais e está tornando mais difícil para as companhias manterem seus compromissos naquele mercado". Ele afirmou que algumas das 24 companhias que operam no país já limitaram a frequência de conexões e já deixaram de vender passagens internacionais na Venezuela. Taylor deu a entender, além disso, que pode haver uma paralisação de voos para o país, mas afirmou que essa é uma decisão individual das empresas.
"Negociações duram vários meses. E nossa preocupação é que, se a Venezuela mantém essa situação, será complicado, porque todos os países precisam de conexões na economia globalizada", afirmou. "Já fizemos intervenções diretas junto ao presidente [Nicolás] Maduro, para ele atuar pessoalmente para resolver esse problema, mas até agora não houve resultados."
Segundo a Iata, o impacto do dinheiro retido na Venezuela é enorme, considerando que toda a indústria aérea terá lucro de apenas US$ 18,7 bilhões globalmente.
Em balanço relativo ao terceiro trimestre de 2013, a Latam, maior companhia aérea da América Latina e dona da brasileira TAM e da chilena LAN, afirma que seu caixa "sujeito a restrições" na Venezuela subiu de R$ 104,9 milhões no fim de 2012 para R$ 314 milhões (US$ 133 milhões no câmbio de ontem). O número é próximo ao fornecido por uma fonte do governo brasileiro ao Valor, que disse ter tomado conhecimento de que a Latam tem US$ 120 milhões em dividendos retidos no país e a Gol, outra aérea brasileira que opera ali, US$ 60 milhões. Os números também levam em conta o câmbio oficial.
Pelos cálculos da Câmara de Indústria e Comércio Venezuelano-Brasileira (Cavenbra), há entre US$ 300 e US$ 400 milhões em dividendos de empresas brasileiras represados no país.
A migração para o Sicad 2 também pode multiplicar as perdas milionárias esperadas por empresas de consumo que atuam no país. A Colgate-Palmolive, que tem na América Latina seu principal mercado, responsável por 29% do faturamento, já estimava perdas após impostos de US$ 180 milhões a US$ 200 milhões com a Venezuela no primeiro trimestre, por conta da migração para o Sicad 1, no qual o bolívar é cotado a quase o dobro do valor oficial. Em 2013, a empresa deduziu US$ 172 milhões do balanço com o câmbio venezuelano. No Sicad 2, a perda pode chegar a US$ 1,02 bilhão, se for considerado o teto de 60 bolívares.
A Procter & Gamble (P&G), maior fabricante de bens de consumo do mundo, estimava em fevereiro perdas de US$ 230 milhões a US$ 280 milhões depois de impostos em 2014, por conta da nova taxa de 11 bolívares por dólar. No topo das expectativas do mercado para o Sicad 2, a empresa acumularia despesas de até US$ 1,47 bilhão.

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