Os desastres
econômicos da Argentina e da Venezuela
Países apresentam os mais graves exemplos de
distorções econômicas da América Latina
O Estado de S. Paulo, 10 de maio de 2014
Como um pesadelo para seus cidadãos, Argentina e
Venezuela empurram o crescimento da América Latina para baixo e registram os
mais graves exemplos de distorções econômicas da região. Os indicadores
negativos hoje prevalecem em ambos os países que, em momentos diferentes do
passado, experimentaram a riqueza concentrada e o sonho de ingressar no mundo
desenvolvido. A Argentina crescerá apenas 0,5% neste ano. A Venezuela, dona da
maior reserva de petróleo do mundo, provará o recuo de 0,5% em sua atividade.
Em ambos os países, a inflação crescente
corrói a renda das famílias, sobretudo das mais pobres. Na Argentina, deve
fechar o ano em torno de 30%, conforme estimativas extraoficiais. O cálculo do
governo, menos robusto, não é tido como confiável. Na Venezuela, a inflação
chegará a 75%, de acordo com previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI).
No coração de Buenos Aires, a Avenida Alvear e a
favela do Retiro tornaram-se símbolos da decadência econômica acelerada e da
expansão da pobreza nas últimas quatro décadas. Em Caracas, as filas nas portas
de supermercados e as prateleiras vazias das farmácias alimentam os protestos
nas ruas por mudanças no governo, de estilo autoritário.
A insatisfação popular é expressa também na queda
do apoio e da avaliação dos presidentes Cristina Kirchner, em seu último ano de
governo, e Nicolás Maduro, no primeiro ano de mandato. Entre analistas
econômicos, prevalece a condenação dos modelos adotados desde 2003, na
Argentina, e desde 1999, na Venezuela.
No fim do ano passado, com reservas internacionais
em apenas US$ 13 bilhões, a Argentina adotou medidas de correção de rumo
enquanto se engajou no diálogo com o FMI sobre a construção de um novo
indicador de preços ao consumidor - passo inicial para uma possível retomada da
sua relação com o Fundo.
O governo venezuelano resiste em reconhecer o
fracasso das políticas econômicas ao longo dos últimos 15 anos. A estatal PDVSA
deu mostras de debilidade ao recorrer a empréstimo de US$ 40 bilhões do Banco
Central em 2013, mas continua a municiar boa parte da máquina social chavista.
Sua fragilidade está na raiz das quatro taxas de câmbio vigentes no país e na
própria crise de desabastecimento que afeta ricos e pobres.
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