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quinta-feira, 31 de março de 2016

Mais uma nota vergonhosa de uma associacao academica: ABPHE - minha reacao, Paulo Roberto de Almeida


Historiadores econômicos em favor da corrupção e da inépcia governamental?

Paulo Roberto de Almeida
Nota em reação à nota da diretoria da ABPHE em 31/03/2016

            A diretoria da ABPHE, ao emitir a nota, reproduzida abaixo, divulgada em 31/03/2016, a propósito da atual crise brasileira, que não é simplesmente política, ou econômica, mas sobretudo moral, extravasou nitidamente em sua competência, em minha opinião. A despeito de ser formulada unicamente em nome da própria diretoria, ela pretende se expressar em nome de toda a categoria: “Nós, historiadores econômicos...”.
            Permito-me dizer, claramente, que ela não me representa por essa nota, que a considero ilegítima e inadequada para o momento em que vivemos, uma vez que essa nota peca muito mais pelo que esconde, do que pelo que proclama. A nota é claramente inadequada, inconveniente, e distorcida, enviesada, denotando um espírito de “linha auxiliar” que é incompatível com a natureza profissional, e é incompatível com os princípios e normas que devem presidir uma associação de pesquisadores, de diferentes opiniões políticas e posturas ideológicas.
            A nota menciona “graves atos que atualmente põem em risco as instituições democráticas arduamente conquistadas em nosso país” sem jamais dizer claramente quais são esses “graves atos” – que adivinhamos quais são pelo tom deformado da nota – e porque eles estariam colocando “em risco as instituições democráticas arduamente conquistadas”. A afirmação é capciosa, mentirosa e sectária.
            Em nenhum momento a nota usa a palavra CORRUPÇÃO, ou menciona os graves atos, estes sim identificáveis, que estão revelando um dos maiores esquemas de roubalheira organizada, conduzida por um partido que atualmente ocupa o poder. Por isso a nota é mentirosa, enviesada e covarde, indigna dos cidadãos pagadores de impostos que somos todos nós, inclusive historiadores econômicos que estão tendo provas tangíveis – inclusive com condenações de empresários e de responsáveis do partido corruptor – do assalto conduzido contra as instituições públicas, e que levaram justamente à atual situação de crise, ela mesma simultânea à maior crise econômica de TODA A HISTÓRIA ECONÔMICA do Brasil. O que teria a diretoria da ABPHE a dizer sobre isso? Nada? Pois então a nota é capciosa, mentirosa e deformada.
            A sua denúncia de um suposto “boicote atual de certos organismos empresariais que, como se sabe, estiveram em outros momentos de nossa história associados a pactos golpistas contrários ao desenvolvimento das forças econômicas nacionais”, é igualmente deformada, sectária e omissa no que ela esconde. A diretoria quer provavelmente se referir aos anos conturbados do governo Goulart, que acabou derrocado por um golpe militar, que certamente teve o apoio dessas forças empresariais. A nota é deformada pois se esquece de mencionar o ambiente conturbado – no plano social, administrativo, político e sobretudo econômico – no qual o Brasil vivia naqueles anos, que possui certos paralelos com o período atual, também marcado por alta inflação, movimentos “sociais” atuando à margem e contra a lei, desemprego, inépcia governamental e a alta corrupção, disseminada e até promovida por aqueles mesmos que ocupam o poder atualmente. A linguagem da nota é claramente identificada ao simplismo sectário de certos manuais vulgares de história política que é claramente indigna de historiadores profissionais qualificados como devem ser a maioria dos membros da ABPHE.
            A nota delira e se mostra novamente sectária, quando expressa a vontade da diretoria – certamente não a da maioria dos seus membros – ao se juntar “a outras instituições e organizações no repúdio aos ataques a nossa democracia e [ao] se posiciona[r] ao lado daqueles que lutam para manter as conquistas democráticas históricas que alcançamos.” Ninguém, no cenário político nacional estava esperando o posicionamento da diretoria da ABPHE para resolver a atual crise política, sequer para “manter [supost]as conquistas democráticas históricas”, que certamente não dependem da diretoria da ABPHE, ou de seus membros, para serem defendidas. Nisso a nota atinge um ponto de ridículo que a iguala a outros “movimentos sociais” alimentados a mortadela e que são manipulados por um partido a pretensões monopólicas sobre o poder.
            A última frase, conclamando os “associados [a que] mantenham-se atentos e ativos nesta luta em defesa da democracia e da legalidade, sem a qual nossa história econômica, política e social terá grande retrocesso”, é outro ponto alto de ridículo e de uma arrogância que a diretoria não poderia ter, em sinal de mínimo respeito a seus associados. Meu repúdio total e absoluto a essa nota inadequada, mentirosa e ridícula, certo de que interpreto igualmente o pensamento de muitos outros colegas.
            Paulo Roberto de Almeida, Brasília, 31 de março de 2016.

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NOTA DA DIRETORIA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM HISTÓRIA ECONÔMICA (ABPHE)

A diretoria (20152017) da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE) vem a público expressar seu repúdio aos graves atos que atualmente põem em risco as instituições democráticas arduamente conquistadas em nosso país. 
Nós, historiadores econômicos, atentos à formação econômica brasileira, latino-americana e mundial, em suas relações com as esferas política e social, denunciamos o boicote atual de certos organismos empresariais que, como se sabe, estiveram em outros momentos de nossa história associados a pactos golpistas contrários ao desenvolvimento das forças econômicas nacionais.
Denunciamos ainda o avançar de forças reacionárias que sempre tiveram, em nossa história, o objetivo de manter alijados da sociedade e do acesso aos seus direitos básicos o povo brasileiro.
Nesse sentido, a ABPHE se junta a outras instituições e organizações no repúdio aos ataques a nossa democracia e se posiciona ao lado daqueles que lutam para manter as conquistas democráticas históricas que alcançamos. Conclamamos, assim, que nossos associados mantenham-se atentos e ativos nesta luta em defesa da democracia e da legalidade, sem a qual nossa história econômica, política e social terá grande retrocesso.

Diretoria da ABPHE

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