Até que tenhamos uma versão não anacrônica, ideológica, sectária da história do Brasil, vamos continuar com essa deformação da história, que não atinge apenas estudantes, mas continua na vida adulta e contamina todos os setores da sociedade.
Paulo Roberto de Almeida
A história do Brasil do PT
Sem apoio ao pensamento liberal, não importa quantas Dilmas
destruírem o Brasil, pois elas serão produzidas em série. A nova Dilma está
sentada ao lado da sua filha na escolinha
Luiz
Felipe Pondé
Gazeta
do Povo, 18/04/2016
A “batalha do impeachment” é a ponta do
iceberg de um problema maior, problema este que transcende em muito o cenário
mais imediato da crise política brasileira e que independe do destino do
impeachment e de sua personagem tragicômica Dilma.
Mesmo após o teatro do impeachment, a
história do Brasil narrada pelo PT continuará a ser escrita e ensinada em sala
de aula. Seus filhos e netos continuarão a ser educados por professores que
ensinarão essa história. Essa história foi criada pelo PT e pelos grupos que orbitaram
ao redor do processo que criou o PT ao longo e após a ditadura. Este processo
continuará a existir. A “inteligência” brasileira é escrava da esquerda e nada
disso vai mudar em breve. Quem ousar, nesse mundo da “inteligência”, romper com
a esquerda perde networking.
O domínio cultural absoluto da esquerda no
Brasil deverá durar, no mínimo, mais 50 anos
Ao afirmar que “a história não perdoa as
violências contra a democracia”, José Eduardo Cardozo tem razão num sentido
muito preciso. O sentido verdadeiro da fala dos petistas sobre a história não
perdoar os golpes contra a democracia é que quem escreve os livros de História
no Brasil, e quem ensina História em sala de aula, e quem discorre sobre
política e sociedade em sala de aula, contará a história que o PT está
escrevendo. Se você não acredita no que digo é porque você é mal informado.
O PT e associados são os únicos agentes na
construção de uma cultura sobre o Brasil. Só a esquerda tem uma “teoria do
Brasil” e uma historiografia. Essa construção passa por uma sólida rede de
pesquisadores (as vezes, mesmo financiada por grandes bancos nacionais),
professores universitários, professores e coordenadores de escolas,
psicanalistas, funcionários públicos qualificados, agentes culturais, artistas,
jornalistas, cineastas, produtores de audiovisual, diretores e atores de
teatro, sindicatos, padres, afora, claro, os jovens que no futuro exercerão
essas profissões. O domínio cultural absoluto da esquerda no Brasil deverá
durar, no mínimo, mais 50 anos.
Erra quem pensa que o PT desaparecerá. O
Lula, provavelmente, sim, mas o PT como “agenda socialista do Brasil” só
cresce. O materialismo dialético marxista, mesmo que aguado e vagabundo, com
pitadas de Adorno, Foucault e Bourdieu, continuará formando aqueles que produzem
educação, arte e cultura no país. Basta ver a adesão da camada “letrada” do
país ao combate ao impeachment ao longo dos últimos meses.
Ao lado dessa articulada rede de agentes
produtores de pensamento e ação política organizada que caracteriza a esquerdasileira, inexiste praticamente opção “liberal” (não vou entrar muito no
mérito do conceito aqui, nem usar termos malditos como “direita” que deixam a
esquerda com água na boca). Nos últimos meses apareceram movimentos como o Vem
Pra Rua e o MBL, que parecem mais próximos de uma opção liberal, a favor de um
Brasil menos estatal e vitimista. Ser liberal significa crer mais no mercado
(sem ter de achá-lo um “deus”) e menos em agentes públicos. Significa investir
mais na autonomia econômica do sujeito e menos na dependência dele para com
paternalismos estatais. Iniciativas como fóruns da liberdade, todas muito
importantes para quem acha o socialismo um atraso, são essencialmente
incipientes. E a elite econômica brasileira é mesquinha quando se trata de
financiar o trabalho das ideias. Pensa como “merceeiro”, como diria Marx. Quer
que a esquerda acabe por um passe de mágica.
O pensamento liberal no Brasil não tem raiz
na camada intelectual, artística ou acadêmica. E, sem essa raiz, ele será uma
coisa de domingo à tarde. A única saída é se as forças econômicas produtivas
que acreditam na opção liberal financiarem jovens dispostos a produzir uma
teoria e uma historiografia do Brasil que rompa com a matriz marxista,
absolutamente hegemônica entre nós. Institutos liberais devem pagar jovens para
que eles dediquem suas vidas a pensar o país. Sem isso, nada feito.
Sem essa ação, não importa quantas Dilmas
destruírem o Brasil, pois elas serão produzidas em série. A nova Dilma está
sentada ao lado da sua filha na escolinha.
Luiz Felipe Pondé, escritor, filósofo e ensaísta, é doutor
em Filosofia pela USP e professor do Departamento de Teologia da PUC-SP e da
Faculdade de Comunicação da Faap.
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