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segunda-feira, 18 de abril de 2016
Imepachment = "maquiavelismo de provincia"? - entrevista Celso Amorim
Curioso: será que ele acha que o impeachment contra o presidente Collor, também acusado de corrupção, foi igualmente uma conspiração das elites e um "maquiavelismo de província"?
Será que ele acredita realmente que nem Dilma nem Lula estavam ou estão envolvidos em todos os casos de corrupção, que tudo se passou à revelia e no desconhecimento completo de ambos?
Será que ele é ingênuo a esse ponto?
Ou está apenas sendo, como sempre foi, um fiel aliado dos companheiros que tomaram o Brasil de assalto em 2003, e que, a pretexto de fazer justiça social, e distribuição de renda, comandaram ao mais gigantesco esquema de corrupção de toda a história nacional e um dos maiores do mundo?
O que será que ele pensa realmente da Petrobras?
Não vou comentar suas muitas declarações, pois perderia muito tempo com algo que não merece que eu deixe coisas mais importantes de lado para rebater o que considero -- eu sempre digo o que penso -- argumentos de pura má-fé de profunda desonestidade.
Paulo Roberto de Almeida
Impeachment é ‘maquiavelismo de província’, diz Celso Amorim
Jefferson Puff - @_jeffersonpuffDa BBC Brasil no Rio de Janeiro
Às vésperas da votação do
pedido de impeachment de Dilma Rousseff, Celso Amorim, ex-ministro das
Relações Exteriores no governo Lula e da Defesa no governo Dilma, diz
temer graves retrocessos num novo governo, e aponta elementos de
"conspiração" e "maquiavelismos de província" em torno da movimentação
pelo fim do mandato da presidente.
Tido como um dos mais
influentes chanceleres da história recente do país, na carreira
diplomática desde 1965, Amorim avalia que as elites se tornaram
"intolerantes" com o projeto petista de promover maior igualdade social
no país, e se diz temeroso pelo futuro da política externa brasileira
num eventual governo chefiado pelo atual vice-presidente Michel Temer.
Para ele, haveria um gradual enfraquecimento da posição
brasileira no Mercosul e na Unasul, e forte tendência de adoção de
posições "subalternas" em relação aos Estados Unidos e à União Europeia,
além de retrocessos nas áreas social e econômica.
Apesar de não
esconder divergências com Dilma, sobretudo em relação ao
"constrangimento e dificuldades" enfrentadas pelo Itamaraty, Amorim
defende a continuidade do governo e classifica o impeachment como
"golpe", além de não ver indícios de crime de responsabilidade por parte
da presidente, avaliando as pedaladas fiscais, principal argumento do
pedido, como "tecnicalidades".
Em
entrevista à BBC Brasil no Rio de Janeiro, o ex-chanceler admitiu que o
PT cometeu equívocos no governo e disse que atos de corrupção devem ser
punidos, mas apontou que a operação Lava Jato tem usado a prisão
preventiva como mecanismo de "tortura" e teceu críticas ao uso das
delações premiadas nas investigações.
Veja os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil
- Como o senhor vê o momento atual do Brasil, e como acredita que os
potenciais desfechos da crise política possam impactar o país? Celso Amorim -
Eu vou completar 74 anos em breve e vivi essa história recente do país.
Votei nas eleições diretas em 1960, vi o golpe de Estado, a
democratização lenta e gradual, a estabilização econômica, e finalmente
estava muito feliz porque achava que pela primeira vez o Brasil estava
realmente atacando o problema da desigualdade, que é o pior problema do
país. Houve pequenas oscilações, mas o fato é que sempre vi o Brasil
melhorando, e agora eu estou muito preocupado.
Há muitos anos eu
não vejo o país tão dividido, e achava que nunca mais veria uma
tentativa de ruptura institucional, porque é de fato uma ruptura, algo
muito diferente do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de
Mello, porque agora não há uma imputação clara de crime. Há no máximo
uma tecnicalidade, e você pode dizer que foi impróprio ou não, mas essa é
a razão do pedido de impeachment, embora eles tentem misturar com
outros fatos que, na minha opinião, alguns ocorreram, e outros não se
tem certeza. Mas aqui a suspeita já ganha foro de verdade imediatamente.
BBC Brasil
- Membros do PT, de sua base, e a própria presidente Dilma Rousseff
classificam o impeachment como um "golpe". O senhor concorda? Amorim -
Sim, de certa forma, sim. Sem os militares, como no passado, mas usando
meios constitucionais para um fim inconstitucional, porque não há nada
que prove crime de responsabilidade da presidenta.
Eu acho que há
dois pecados que você não pode cometer diante da elite do Brasil, e que
já aconteceram outras vezes na nossa história. Eles não aceitarão um
governo que lute por mais igualdade e não aceitarão um governo que
queira uma posição mais autônoma no cenário mundial. E quando você tem
as duas coisas juntas, aliadas a uma situação econômica difícil,
chega-se à situação em que estamos agora.
As elites nunca realmente aceitaram um
metalúrgico na Presidência, o PT na Presidência, e uma mulher na
Presidência, sobretudo uma mulher que teve a importância que ela teve em
lutar contra a ditadura. Mas enquanto a economia estava indo bem, os
pobres melhorando de vida, não só em termos absolutos, mas também
relativos, e os ricos também melhorando, ainda havia alguma tolerância.
Quando
as coisas começaram a apertar, o que é muito parecido com o que
aconteceu em 1964, e o dinheiro parou de entrar, houve uma mudança de
visão dessas pessoas que nunca aceitaram um Brasil mais igualitário,
menos racista, e mais presente no cenário mundial.
Apesar de reconhecer divergências com Dilma, Amorim defende mandato de presidente
BBC Brasil - De um lado há
acusações de "golpe". Do outro, acusações de corrupção, delações
premiadas e os indícios da operação Lava Jato, além do escândalo do
Petrolão. Como o senhor se posiciona? Amorim -
Eu não estou negando que tenha havido corrupção de muita gente. Mas não
houve corrupção do ex-presidente Lula ou da presidenta Dilma. As
acusações contra eles aliás são ridículas, e Dilma nem está sendo
acusada de corrupção propriamente.
O processo de impeachment não é
sobre isso. Se você está falando do escândalo da Petrobras, de bilhões,
o ex-presidente Lula ganhou o quê? Uma reforma no banheiro? Um bidê a
mais? Num sítio que nem é dele?
E é perfeitamente normal que o
sítio não seja dele, e que um homem com a trajetória dele tenha um amigo
que queira ceder a ele o lugar, mas achar que isso tem a ver com algum
vício de licitação no passado é uma visão totalmente absurda. Agora, que
há corrupção, é claro que há. Eu não posso dizer que é tudo uma grande
conspiração porque eu não tenho provas, mas que é muito estranho, é.
BBC Brasil - Ao que o senhor se refere exatamente com o termo "conspiração"? Amorim -
Quando eu digo conspiração, é no sentido de primeiro se achar um
culpado e depois procurar o crime. Todo este processo é muito estranho, e
se não é uma conspiração, certamente parece uma.
Outra coisa que
faz parecer uma conspiração é quando você analisa em conjunto tudo o que
está acontecendo. Estão atacando o petróleo, a energia nuclear, as
empresas nacionais, o instrumento principal de presença econômica no
exterior, que é o BNDES, as lideranças do PT.
É muita coisa junta para você achar que
não tem nada de estranho. É muita ingenuidade achar que essas coisas
acontecem por coincidência. Por que o ex-presidente Lula foi detido?
Fizeram isso para humilhar o presidente que encarnava as reformas e a
autonomia do país, como tentaram humilhar o Getúlio Vargas. Isso não é
novo no Brasil.
Eu não tenho provas disso, então seria leviano
dizer que há uma conspiração, mas que parece, parece. Como houve com o
Getúlio. O que ficaram das acusações de corrupção contra o Getúlio, um
nacionalista que defendia os pobres? Um sítio que um filho dele vendeu
para um segurança. Talvez uma coisa condenável, que tinha que ser
apurada, mas não para derrubar um presidente.
Os atos de corrupção
têm que ser punidos, mas quando houver um nexo causal comprovado. Não é
porque alguém emprestou um sítio para o ex-presidente e reformou o
banheiro do sítio que você vai ligar isso a licitações que ocorreram e
envolveram bilhões de dólares. É uma coisa que não convence ninguém.
BBC Brasil - Qual é a sua opinião sobre a operação Lava Jato? Amorim -
Eu não posso negar que houve atos de corrupção e que eles têm que ser
punidos. Disso não há a menor dúvida. Agora, eu também vejo, e não sou
só eu, é também a opinião de juristas, alguns até conservadores, que o
tipo de delação premiada como existe no Brasil é uma coisa que não
existe em lugar nenhum do mundo.
Eu estava nos EUA na época da
queda do ex-presidente Richard Nixon, por exemplo. Havia delação
premiada, mas não dessa maneira. Não usando a prisão preventiva, que é
uma coisa que tem outros objetivos, como impossibilitar a fuga do país
ou impedir crimes que possam continuar a ser cometidos. Estão usando a
prisão preventiva quase como se fosse uma tortura.
A combinação da
prisão preventiva prolongada, dos vazamentos seletivos e do tratamento
da mídia é muito preocupante. A imprensa age como se estivesse
organizando a hegemonia intelectual para um golpe.
BBC Brasil - Qual é a opinião do senhor sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha? Amorim -
Eu não vou fazer julgamentos, não vou falar sobre pessoas específicas.
Agora, é um fato óbvio que pesam sobre ele acusações infinitamente mais
graves, não estou dizendo que estão provadas, tudo ainda tem que ser
provado, mas infinitamente mais graves do que as que pesam sobre a
presidenta.
BBC Brasil - Mas o senhor concorda com a maneira como ele vem desempenhando seu papel institucional, de presidente da Câmara? Amorim -
Há que se ver a maneira como ele usa o poder, claro. Quando ele diz que
tem mais nove pedidos de impeachment para apresentar, isso é de uma
leviandade absurda, porque das duas uma: ou os processos são sérios e
ele já deveria tê-los apresentado, ou eles não são sérios e ele não pode
apresentá-los agora, como retaliação porque também houve um movimento
pelo impeachment do vice-presidente.
Mas enfim, estou dando minha
opinião pessoal, como cidadão. Nós vivemos num país em que ainda é
possível que todo cidadão dê sua opinião e eu estou dando a minha, mas
não posso julgá-lo. Eu acho que ainda vai haver o julgamento adequado,
na instância certa, mas é uma pena que demore tanto.
Há grande diferença entre impeachments de Dilma e Collor, diz Celso Amorim
BBC Brasil - Como o senhor avalia o cenário de aprovação do impeachment e um eventual governo Temer? Amorim -
Eu acho que será um retrocesso na área social, na área econômica, e
será um retrocesso, sem dúvida alguma, na área da política externa e na
defesa da soberania brasileira no exterior. Eu acho que obviamente o
país sobreviverá, agora o custo é muito grande. Vai ser um custo humano
tremendo.
Quando as pessoas perceberem claramente que o objetivo é
atingir o Lula, e atingir não só a Dilma, mas esses programas sociais
todos, eu acho que a reação vai ser muito grande, e, somada à essa
reação, (há) a situação econômica difícil.
As organizações sociais que podem até ter
um certo comedimento em função de elas se verem identificadas com o
governo, ainda que não concordem com tudo que o governo está fazendo,
isso não vai haver mais. E aí teremos a possibilidade de que ocorram
mais manifestações e greves, e se isso acontecer eu temo que haja mais
repressão, e que isso leve o Brasil a ser um Estado mais intolerante, e
isso é muito grave. BBC Brasil - O senhor tem críticas quanto à condução da política externa no governo Dilma?Amorim -
Eu fui crítico de algumas atitudes da presidenta, eu achei mesmo que
não tinha mais sentido continuar no governo. No Ministério da Defesa, a
tarefa que eu achava que tinha que cumprir, em relação à Comissão da
Verdade, eu acho que eu cumpri, e a presidenta também nos ajudou a
manter programas importantes, como o submarino nuclear e a decisão sobre
os caças.
Mas ao mesmo tempo eu não gostava de ver o Itamaraty
constrangido e com dificuldades. Mas, deve-se dizer, ela soube manter a
altivez. Ela não mudou o tom. Ou seja, quando um órgão do governo
americano, a (agência de segurança nacional) NSA, veio aqui espionar,
ela manteve uma atitude altiva e cancelou uma viagem aos EUA.
A
formação do Banco dos Brics também foi muito importante. Em duas ou três
posições eu teria dado o meu conselho, se ela tivesse pedido, e faria
um pouquinho diferente do que ocorreu, mas são problemas menores dentro
de um quadro maior. Eu costumava dizer que a política externa era altiva
e ativa. Ela diminuiu em atividade mas não diminuiu em altivez, e isso é
muito importante.
BBC Brasil - O senhor acha que as
relações exteriores num eventual governo Temer caminhariam mais rumo a
modelos de relacionamento com os Estados Unidos como os do Chile e da
Colômbia, com acordos em que os países latino-americanos tendem a ceder
em troca da parceria comercial? Amorim -
A tragédia para eles é que nem isso eles vão conseguir, porque o Brasil
é muito grande, muito diversificado. O Brasil não é um país que pode se
especializar em apenas duas ou três áreas de produção industrial.
Eles
não vão conseguir, mas vão tentar, e, ao tentar, vão destruir um pouco
da base que foi criada. Essa visão de integração da América do Sul, a
primeira vez em 200 anos que o continente tem uma organização própria,
obviamente incomoda muita gente.
Ninguém vai dizer "vamos acabar
com a Unasul, vamos acabar com o Mercosul". Eles vão dizer "vamos
flexibilizar o Mercosul, vamos abrir a Unasul para entrar um ou outro
país de fora da América do Sul, com perspectivas diferentes". "Vamos
fazer uma associação com a Aliança Para o Pacífico". É isso que vai
acontecer. Ninguém vai dizer "vamos acabar com a política africana", mas
dirão "vamos agrupar as embaixadas na África".
Ex-ministro aponta chances de grandes mobilizações e greves caso impeachment ocorra
BBC Brasil - E quanto à relação do Brasil com a União Europeia e os Estados Unidos? Amorim -
A nossa relação com a União Europeia e os Estados Unidos vai ser uma
relação de inferioridade, porque o Brasil era muito valorizado. Eu temo
que de certa forma a gente aceite ou até procure uma posição de
subordinação. Alguém inventou essa expressão "subalternidade
estratégica", e eu acho que é um pouco a visão que eu temo que vá
prevalecer se o impeachment vencer.
BBC Brasil - Na visão do senhor o PT cometeu equívocos que possam ter colaborado para a situação atual? Amorim -
Eu não preciso apontar os equívocos porque isso aí a oposição se
encarrega de apontar, exagerar e multiplicar. Agora eu não vou dizer que
não se cometeram equívocos, claro.
Houve uma época em que as
empresas nacionais estavam achando muito bom ter isenções fiscais, e
também as estrangeiras que investiam aqui. Foi um erro, mas talvez com
os dados da época se achava que era possível. Todo governante acha que
as coisas boas vão continuar para sempre e as coisas ruins vão
desaparecer.
Talvez seja uma condição psicológica quase que
essencial para você governar. Então talvez tenha havido essa esperança
de que a crise internacional fosse passar, de que o preço das
commodities fosse subir de novo, e de que as concessões pudessem ser
absorvidas.
Não ocorreu isso, e foi um erro, mas eu não acho que a
crise brasileira tenha acontecido por causa disso, e de qualquer
maneira não é justificativa para a instabilidade institucional que está
sendo criada e que vai perdurar por muito tempo se o impeachment for
vitorioso.
BBC Brasil - Qual é a expectativa do senhor para a votação do impeachment marcada para domingo? Amorim -
É óbvio que eu gostaria que o impeachment fosse recusado, porque aí sim
as instituições brasileiras teriam demonstrado força. Eu fui
recentemente a este ato chamado Cultura e Democracia, aqui no Rio, e vi a
verdadeira alma do povo brasileiro ali.
Negros, brancos, pessoas
do hip hop, teatrólogos, escritores, o que é o Brasil verdadeiro, que
capta o sentimento real do povo, então eu acho que esses maquiavelismos
de província que estamos assistindo e essas atitudes muito pouco
conducentes a uma decisão equilibrada são muito lamentáveis.
Eu me
identifico com o ex-presidente Lula, e com a presidenta Dilma, apesar
de algumas vezes eu ter sido crítico de algumas coisas da área de
política externa, não me identifico com ela, com seus objetivos, mas eu
acho que é muito necessário para o Brasil que não ocorra o impeachment,
porque se ocorrer nós vamos ter um período muito longo de instabilidade
social.
Vamos perder muito em termos de ativos, de estrutura, e
não é só o PT que perde, é o país que perde. Por que não fizeram como os
argentinos? Esperaram acabar o mandato e aí ganharam a eleição. É mais
simples, mais democrático, e menos contestável.
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