Paulo Roberto de Almeida
NOVO LIVRO: Rubén Darío no Brasil
Lançado na Nicarágua o livro “Yo Pan-americanicé: Rubén Darío en Brasil” (Manágua, Ed. HISPAMER, 2018, 179 páginas, ISBN 978-99964-42-94-0).
Escrita em espanhol, a obra trata das duas vistas do poeta nicaraguense Rubén Darío ao Brasil em 1906 e 1912. Na primeira oportunidade, o Príncipe das Letras Castelhanas esteve no Rio de Janeiro como membro da delegação de seu país à III Conferência Pan-americana, tendo interagido com Joaquim Nabuco, Graça Aranha, Machado de Assis, Fontoura Xavier, Elísio de Carvalho, entre outros brasileiros.
No Ro de Janeiro, em 1906, Darío escreveu o poema “Salutación al Águila” um hino em favor do pan-americanismo, em contradição com toda sua obra anterior e posterior, de marco tom antiamericano.
Em 1912, já reconhecido pelo público brasileiro, Darío retorna ao Brasil e visita, além do Rio de Janeiro, a cidade de São Paulo.
Além de descrever com detalhes inéditos e corrigir erros factuais e interpretações equivocadas dos mais consagrados biógrafos de Rubén Darío, o livro faz uma resenha da visão de Darío sobre o Brasil e traz o inventário de todas as referências ao Brasil e aos brasileiros na obra do grande poeta e jornalista nicaraguense.
SUMÁRIO
Agradecimiento y fuentes
Presentación
Introducción
Identidades: Rubén Darío y la invención de América Latina
Brasil, Río de Janeiro, 1906: identidades en transformación
Rubén Darío en Brasil antes de 1906
Al mare, con Joaquim Nabuco
Encuentros y desencuentros cariocas
La condesa X
Salutación al Águila
La segunda estancia de Darío en Brasil
El Brasil por la pluma de Darío
El ditirambo brasileño
Conclusión
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Resenha do livro sobre Rubén Darío no Brasil, na Folha de São Paulo
FOLHA DE SÃO PAULO
17/11/2018
Impacto das visitas de Rubén Darío ao Brasil é esmiuçado em livro
Diplomata brasileiro lembra passos do poeta e ensaísta nicaraguense, que esteve no país em 1906 e em 1912
Sylvia Colombo
O nicaraguense Rubén Darío (1867-1916), hoje celebrado como um dos grandes poetas em língua hispânica dos dois lados do Atlântico, tem tido agora sua obra ensaística e jornalística rememorada.
Primeiro, em Buenos Aires, onde viveu entre 1893 e 1898, quando escreveu crônicas para o jornal La Nación, há pouco reeditadas, mas também em novas reflexões sobre sua obra realizadas em outros países.
Um desses textos é o livro “Yo Pan-americanicé – Rubén Darío en Brasil” (disponível em https://hispamer.online.com.ni), do brasileiro Luís Cláudio Villafañe G. Santos, diplomata e autor do recente “Juca Paranhos, o barão do Rio Branco” (Companhia das Letras).
No livro, Villafañe relata as duas visitas que Darío fez ao brasil, em 1906 e em 1912. “Contadas muito rapidamente e como algo menor por seus biógrafos tradicionais, são passagens reveladoras de sua personalidade e que impactaram seu modo de pensar”, diz o autor.
Villafañe sustenta a tese de que Darío, ao lado do cubano José Martí (1853-1895) e do uruguaio José Enrique Rodó (1871-1917), formou a tríade de intelectuais que começou a forjar a identidade latino-americana, “não mais em alteridade com a Espanha, mas, a partir de então, em alteridade com os EUA”.
“O Brasil entraria nesse conceito cultural e intelectual de América Latina muito depois, nos anos 1960, e até hoje esse processo não está completo”.
Porém, além da elaboração da tese biográfica, o livro conta algumas anedotas e passagens do autor pelo país que revelam aspectos de sua personalidade. Por exemplo, quando divide uma embarcação para chegar ao pais com Joaquim Nabuco (1849-1910), então uma das principais figuras da intelectualidade brasileira, que num primeiro momento despreza Darío por não saber bem de quem se tratava – embora depois mudasse de comportamento, reconhecendo-o como intelectual. Darío virou fã imediato de Nabuco.
No Rio, Darío transitou entre a elite intelectual de então e terminou por mencionar em seus artigos esse cenário, que incluía Olavo Bilac, Euclydes da Cunha e Machado de Assis. “O que no Brasil é um fato, entre nós são tentativas. O Brasil tem uma literatura, nós não”, escreveria Darío no La Nación.
Para Villafañe, isso era um recado para os argentinos. “Darío estava sempre defendendo que as artes tinham de ter mecenas, e foi isso que ele viu no Brasil, que muitos desses autores eram pagos de alguma forma pelo Estado. No fundo, esse parecia o mundo ideal para ele”, diz o autor.
Sobre Machado de Assis, Darío escreveu um lindo poema (ver íntegra ao final do texto), em que diz: “Doce ancião que vi, em seu Brasil de fogo e de vida e de amor […], aceite esta lembrança de quem ouviu uma tarde, em teu divino Rio tua palavra nobre”.
“Foi de tremendo impacto para ele não apenas o encontro com esses homens letrados do Brasil, mas ficou também muito impressionado com as belezas naturais, como a floresta da Tijuca”, diz Villafañe.
O livro reforça o aspecto cosmopolita deste escritor que se tornaria um dos primeiros latino-americanos verdadeiramente internacionais. “Quando vai viver em Paris, não escreve apenas para os latino-americanos, mas passa a integrar a cena intelectual local, algo que era difícil e em que foi um dos pioneiros”, acrescenta Villafañe.
O cosmopolitismo de Darío começa quando, adolescente, vai viver em El Salvador. Com 19 anos viaja ao Chile, onde escreve algumas publicações e se torna colaborador do La Nación. Por esse diário, é enviado para a Espanha como correspondente, em 1898. Com um pé no mundo diplomático, vira, em 1903, cônsul da Nicarágua em Paris.
A experiência e a vivência em tantas viagens moldaram o poeta e também o cronista e o ensaísta. O que o livro de Villafañe faz é incluir o impacto que o Brasil teve em seu perfil de escritor e pensador de um mundo que vivia um momento de grande transformação e de uma América Latina que buscava desenhar uma nova identidade.
***
Poema de Rubén Darío a Machado de Assis
Doce ancião que vi, em seu Brasil
de fogo e de vida e de amor, todo modéstia e graça
Moreno que da Índia teve sua aristocracia;
aspecto mandarino, língua de sábio grego.
Aceita esta lembrança de quem ouviu uma tarde
em teu divino Rio tua palavra nobre,
dando ao orgulho todos os farrapos que arde,
e à inveja ruim o que apenas a cobre.
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