Entre 2003 e 2016, ou seja, durante todo o regime lulopetista no Brasil, eu não tive NENHUM cargo na Secretaria de Estado, começando por um veto da nova administração – que tomou posse em janeiro de 2003 – a um convite que eu havia recebido para dirigir o mestrado em diplomacia no Instituto Rio Branco.
Desde essa época, nunca tive nenhum trabalho nas áreas de trabalho diplomático estrito senso; trabalhei primeiramente no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República – a convite do então ministro da Secom e chefe do NAE Luiz Gushinken, que eu conhecia de seus tempos de deputado do PT –, depois, a partir de 2006 até 2010 – passei anos e anos no chamado DEC – Departamento de Escadas e Corredores do Itamaraty – fazendo da Biblioteca o meu escritório de trabalho –, fiz um serviço provisório na China durante alguns meses em 2010 (por ocasião da Expo Universal em Shanghai), voltei novamente para o DEC em 2011, em seguida tirei licença-prêmio e fui dar aulas no Institut de Hautes Études de l'Amérique Latine, vinculado à Sorbonne, em Paris (no primeiro semestre de 2012), voltei novamente para o DEC, fazendo novamente da Biblioteca do Itamaraty o meu escritório de trabalho – onde escrevi alguns livros: um, na minha série de "clássicos revisitados", O Moderno Príncipe, seguindo os 26 capítulos do clássico de Maquiavel, outro sobre o lulopetismo diplomático: Nunca Antes na Diplomacia (2014) –, para, finalmente, aceitar um posto secundário num modesto consulado brasileiro nos EUA, entre 2013 e 2015. Ao voltar, no início de 2016, continuei nas escadas e corredores, até que o impeachment, em meados de 2016, fizesse com que os novos gestores do Itamaraty se lembrassem novamente de mim, convidando-me para ser o diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), órgão da Fundação Alexandre de Gusmão, vinculada ao Itamaraty.
Resumi um pouco dessa trajetória no seguinte texto, aqui disponível:
“Como atravessar o deserto (e permanecer digno ao fim e ao cabo)”, Brasília, 18 dezembro 2016, 7 p. Divulgado no blog Diplomatizzando (24/06/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/uma-longa-travessia-do-deserto.html).
Dois anos e meio de atividades no IPRI me foram extremamente gratificantes do ponto de vista intelectual, pessoal e funcional. Mas a alegria não poderia durar muito tempo, sobretudo depois da mudança de governo, de regime e de "filosofia" diplomática. Já não era o mundo de liberdade relativa da qual eu tinha desfrutado brevemente e tinha inevitavelmente de acabar, em face do autoritarismo (eu até diria da estupidez) da nova administração. Fui exonerado no Carnaval deste ano, e passei novamente a frequentar escadas e corredores, com paragens ocasionais na Biblioteca.
Bem, acabo de ser lotado no Departamento de Documentação e Arquivo (DCA) e espero passar alguns meses na Divisão de Arquivo, fazendo pesquisa e escrevendo mais algum livro. Não sei quanto tempo vai durar a nova situação, mas vou tentar ser o mais produtivo possível, esperando que minha presente travessia do deserto termine em algum momento do futuro (breve).
Ainda não tenho nenhum texto sobre a nova situação, mas não deixo de manter registros privados sobre cada nova etapa da minha vida intelectual.
Informarei oportunamente.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9 de maio de 2019
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