sexta-feira, 3 de abril de 2020

Embaixador vai à Justiça contra assédio moral e perseguição no Itamaraty - Edoardo Ghirotto (Veja, 3/04/2020)

Embaixador vai à Justiça contra assédio moral e perseguição no Itamaraty

Paulo Roberto de Almeida alega ser alvo de "retaliação financeira" por criticar a forma como Ernesto Araújo tem guiado a política externa brasileira

Por Edoardo Ghirotto - 3 abr 2020, 15h00

O embaixador Paulo Roberto de Almeida ingressou nesta semana com uma ação na Justiça Federal do Distrito Federal para responsabilizar a União por ações de assédio moral e de perseguição no Ministério das Relações Exteriores. Almeida afirma que tem sofrido “retaliações financeiras” desde que começou a criticar publicamente o trabalho do chanceler Ernesto Araújo.

Com 42 anos de carreira, o diplomata foi demitido em março de 2019 do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) e acabou alocado na Divisão de Comunicações e Arquivo, onde são exercidas funções de caráter burocrático. Na ação judicial, Almeida afirma que está há quase um ano sem receber nenhuma incumbência.

Em setembro de 2019, VEJA contou a história de Paulo Roberto de Almeida e de outros colegas de vasta carreira no Itamaraty que estavam no ostracismo por serem considerados desafetos de Ernesto Araújo. Há ao menos dezesseis diplomatas nessa situação. O custo desse desperdício de experiência é de cerca de 4,5 milhões de reais por ano.

Almeida decidiu entrar na Justiça após o Itamaraty lhe imputar “dez faltas injustificadas” em março, o que reduziria o pagamento a que tem direito. Situação semelhante já havia ocorrido no início do ano, quando o embaixador recebeu apenas 210 reais de salário no mês de janeiro. O desconto de 99% da remuneração se deu sob a alegação de que ele teria de indenizar o Itamaraty por outras 20 faltas injustificadas entre maio e agosto de 2019.

O diplomata alega que não foi informado de que faltas estavam sendo computadas e que apresentou os motivos para as ausências nas datas marcadas, que incluíam dois finais de semana. Entre as razões estavam participações em bancas de mestrado e doutorado, programas de pós-graduação e eventos políticos e diplomáticos, incluindo um cerimonial do Comando Militar em que o próprio Ernesto Araújo estava presente. O Itamaraty, no entanto, indeferiu todas as justificativas.

Ao ingressar com a ação de tutela de urgência, a fim de impedir novos descontos sumários em sua folha salarial, Almeida pede para que a Justiça obrigue o Itamaraty a apresentar documentos relacionados à lotação, ao controle de frequência e ao abono de faltas e atrasos de outros embaixadores. “Com efeito, a ré poderá provar que a situação do autor não é isolada e que o tratamento que ele recebe é o mesmo dos seus colegas”, diz a defesa do diplomata.

Almeida também solicita “a anulação das faltas indevidamente imputadas” e, quando for o caso, “o ressarcimento dos respectivos descontos”. Cobra ainda que seja anulada a sua lotação na Divisão de Comunicações e Arquivo e que o Itamaraty o transfira para um posto de acordo com seu grau hierárquico. Segundo ele, a falta atribuições e a função incompatível caracterizam ato de improbidade administrativa e de desperdício de recursos públicos.

Por fim, Almeida exige que a União arque com o pagamento de uma multa de 50 mil reais por danos morais. “Essas humilhações impostas ao autor, de forma discriminatória, servem, ainda, à intimidação de colegas de carreira que possuam reservas quanto à adequação da atual política externa aos padrões profissionais da diplomacia brasileira”, diz a defesa do embaixador.

O Itamaraty foi procurado para se manifestar a respeito da ação, mas não se posicionou até a publicação desta reportagem.

2 comentários:

  1. Muito corajoso! Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Grande Mestre PR Almeida,

    é com alegria que leio a notícia de que o Senhor procurou o Poder Judiciário para que sejam cessadas essas perseguições inócuas e lunáticas advindas do Chanceler de Papagaio. fique abismado com o montante que o Senhor recebeu de salário no último mês de janeiro. parece que não há limite para loucuras. essas atitudes e outras mais relatadas pelo Senhor, me fazem lembrar VOLTAIRE:
    " É DIFÍCIL LIBERTAR OS TOLOS DAS CORRENTES QUE ELES VENERAM".

    como operador do Direito e aspirante à Discípulo de Barão do Rio Branco, San Tiago Dantas e tantos outros que dignamente honraram e honram o Itamaraty, desejo que seu processo tenha sido distribuído para um(a) excelente magistrado(a) e que mais cedo do que nunca, a Justiça,alimentada pela verdade, seja realizada e que não só a sua situação, como a de outros Diplomatas com vasta bagagem intelectual e cultural, sejam também reconhecidos.

    Cordiais saudações do aluno e amigo,
    Giuliano

    ResponderExcluir

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.