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sábado, 11 de abril de 2020

Chanceler acidental já defendeu a "luta armada" democrática da época da ditadura


A história é conhecida, mas ela vem a público novamente por meio desta postagem de antigo debate no programa "Pingos nos iis" da Rádio Jovem Pan, ocorrido em janeiro de 2019, antes que o jornalista Augusto Nunes adotasse uma outra postura em relação ao governo Bolsonaro: 

https://www.youtube.com/watch?time_continue=7&v=HDYmnyhQ1lg&feature=emb_logo



Ernesto Araújo defende Terrorismo de Dilma no Regime Militar e Augusto Nunes os Desmascara

43.239 visualizações
17 de jan. de 2019


O jornalista lê um trecho de matéria da revista IstoÉ, de janeiro de 2019, que reproduz parte da fala do então ministro-conselheiro da embaixada do Brasil em Washington, na parte que ele diz que "especialmente entre os jovens não havia a esperança de que a democracia pudesse ser restabelecida por meios pacíficos", reafirmando que "essa luta [armada] foi importante, como parte de um movimento geral em direção de mais democracia". 

Ou seja, o atual chanceler já fez, em 2011, uma defesa enfática da "luta armada pela democracia" na qual se tinha engajado a guerrilheira Dilma Rousseff. Isto porque era ministro conselheiro na embaixada em Washington e cumpria, até com zelo, o seu papel de defender o governo, qualquer governo, e quaisquer que tenham sido, no passado, as ações públicas de seus integrantes. Nisso ele atuou como um perfeito enquadrado no carreirismo – ou oportunismo – de um servidor, não do Estado, mas do governo de plantão.

Pouco depois, eu, que não tinha tomado conhecimento dessa declaração de meu colega de carreira, mas que me encontrava em Paris, dando aulas na Sorbonne, pois que o mesmo Itamaraty, de dona Dilma Rousseff e seus diplomatas amestrados continuavam a me recusar qualquer cargo na Secretaria de Estado das Relações Exteriores, e aproveitei uma "licença prêmio" a que tinha direito legalmente, para me afastar por alguns meses do Brasil, e continuar exercendo minha segunda carreira, a de professor universitário.
Quando a presidente veio, mais uma vez, defender o "sentido democrático" da guerrilha a que pertenceu, não hesitei em contestá-la, o que foi publicado na revista Veja. Tenho este registro, de maio de 2012: 

2393. “Dou-me o direito de discordar (Comissão da “Verdade”), Paris, 16 Maio 2012, 2 p. Comentários a frase da presidente Dilma Rousseff, para quem os que se levantaram em armas contra a ditadura militar estavam lutando pela “redemocratização” do Brasil. Postado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.fr/2012/05/dou-me-o-direito-de-discordar-comissao.html); trecho reproduzido em matéria da Veja, edição 2270, de 23/05/2012. 


Dou-me o direito de discordar (Comissão da “Verdade”)

Paulo Roberto de Almeida
Paris, 16 de maio de 2012
Postado no blog Diplomatizzando

Sobre isto:

A presidente Dilma Rousseff empossou nesta quarta-feira, em Brasília, os sete integrantes da Comissão Nacional da Verdade, grupo de trabalho que irá apurar violações de direitos humanos durante a ditadura militar, entre os anos de 1946 e 1988. Com voz embargada, a presidente negou que o colegiado busque “revanchismo” ou a possibilidade de “reescrever a história”. Ex-integrante da organização clandestina VAR-Palmares, a presidente se emocionou ao relembrar os “sacrifícios humanos irreparáveis” daqueles que lutaram pela redemocratização do país...

peço licença para discordar.
Como ex-integrante de dois desses grupos que alinharam contra o regime militar, no final dos anos 1960 e início dos 1970, posso dizer, com pleno conhecimento de causa, que NENHUM de nós estava lutando para trazer o Brasil de volta para uma "democracia burguesa", que desprezávamos.
O que queríamos, mesmo, era uma democracia "popular", ou proletária, mas poucos na linha da URSS, por nós julgada muito "burocrática" e já um tantinho esclerosada.
O que queríamos mesmo, a maioria, era um regime à la cubana, no Brasil, embora alguns preferissem o modelo maoista, ainda mais revolucionário.
Os soviéticos -- e seus servidores no Brasil, o pessoal do Partidão -- eram considerados reformistas incuráveis, e nós pretendíamos um regime revolucionário, que, inevitavelmente, começaria fuzilando burgueses e latifundiários. Éramos consequentes com os nossos propósitos.
Sinto muito contradizer quem de direito, mas sendo absolutamente sincero, era isso mesmo que TODOS os desses movimentos, queríamos.
Essa conversa de democracia é para não ficar muito mal no julgamento da história.
Estávamos equivocados, e eu reconheço isso. Posso até dar o direito a outros de não reconhecerem e não fazerem autocrítica, por exemplo, dizer que nós provocamos, sim PROVOCAMOS, o endurecimento do regime militar, quando os ataques da guerrilha urbana começaram. Isso é um fato.
Enfim, tem gente que pode até querer esconder isso.
Mas eles não têm o direito de deformar a história ou mentir...

Paulo Roberto de Almeida 

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Addendum em 21/05/2012
A revista Veja, em sua edição do sábado 19 (data de capa 23/05/2012), reproduziu trecho desta postagem, desta forma: 

O sociólogo Paulo Roberto de Almeida, que pertenceu a grupos de insurreição armada contra o regime militar brasileiro, colocou a questão com muita clareza:
"Como ex-integrante de dois desses grupos que se alinharam contra o regime militar, posso dizer, com pleno conhecimento de causa, que nenhum de nós estava lutando para trazer o Brasil de volta para uma 'democracia burguesa', que desprezávamos. Nós pretendíamos um regime revolucionário, que, inevitavelmente, começaria fuzilando burgueses e latifundiários."
Essa é a verdade. É uma afronta à história tentar romantizar ou edulcorar as ações, os métodos, as intenções e as ligações com potências estrangeiras dos terroristas que agiram no Brasil durante o período militar.

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