Como diria um personagem de Conrad, transposto para o cinema na figura de Marlon Brando:
“O Horror, o Horror!”
Celso Barros não teve tempo de mencionar a nova modalidade de “negócios políticos”: a lavagem de dinheiro programada em 360 meses with a little help from bancos estatais. O horror se amplifica...
Paulo Roberto de Almeida
Brasil morre, Brasília foge, e Faria Lima vende
Celso Rocha de Barros
Folha de S. Paulo, Segunda-feira, 1 de março de 2021
Bolsonaro permanece impune, em troca nenhum político será preso
A semana passada deve ter sido a pior do século 21 brasileiro. Enquanto os primeiros países a se vacinarem já discutem a volta à normalidade, as mortes por Covid-19 crescem aceleradamente no Brasil.
As mortes já começaram a cair em países que também se saíram mal no combate à pandemia, como o México e os Estados Unidos, mas continuam a crescer no Brasil.
Em Manaus, pacientes intubados precisam ser amarrados para suportar a agonia porque a anestesia acabou, como antes havia acabado o oxigênio.
O governo Bolsonaro mandou as vacinas do Amazonas para o Amapá porque errou a sigla. Em várias regiões do Brasil a ocupação de UTIs se aproxima de 100%.
No célebre hospital Albert Einstein, o preferido do presidente, já está em 104%. Se Bolsonaro fosse esfaqueado por Adélio Bispo hoje, morreria sangrando na sala de espera.
Enquanto isso, o auxílio emergencial acabou, e a população brasileira mergulhou na mais profunda miséria.
Sem perspectiva de vacinação, não há cenário de crescimento econômico que empregue essa gente toda.
Passaremos a recuperação da economia mundial doentes, morrendo, pobres, deixados para trás pelas nações que não elegem Bolsonaros.
O que as elites política e econômica brasileiras estavam fazendo durante tudo isso? Em um país funcional, teriam apoiado e promovido impeachment e prisão dos responsáveis por tudo isso.
Um governo de união nacional estaria já implementando a nova política de sustentação de renda. Todos os esforços estariam focados em conseguir vacinas desde o impeachment de maio de 2020.
Ao invés disso, na pior semana do século, as pautas em Brasília eram as seguintes: o Congresso passou tempo precioso tentando tornar mais difícil que parlamentares sejam presos.
O governo inventou um pacote de medidas liberalizantes projetadas nas coxas para acalmar o mercado depois da intervenção na Petrobras (cujas ações voltaram a cair).
Bolsonaro conseguiu que o Superior Tribunal de Justiça aliviasse para seu filho Flávio, criando jurisprudência que será usada por todos os acusados de corrupção de agora em diante. Na quinta-feira, o presidente da República foi à internet para mentir que máscaras não funcionam para combater a Covid-19.
A Brasília que sustenta Bolsonaro resolveu deixar o resto do Brasil morrer enquanto eles todos, como o primeiro-filho Flávio, fogem da polícia.
O acordo é esse: Jair Bolsonaro, o responsável por muitas milhares de mortes durante a pandemia, mantém seu cargo e permanece impune pelas mortes que causou. Em troca, nenhum político será preso pelo dinheiro que roubou.
E os ricos? Até a semana passada, apoiavam isso tudo.
Desde a intervenção na Petrobras, estão em dúvida: discutem se Bolsonaro, que mudou de Palmeiras para Flamengo no dia seguinte à decisão do Campeonato Brasileiro, tem convicções liberais firmes. Se concluírem que tem, voltam a apoiar. Enquanto discutem, a bolsa cai.
Na pior semana do século brasileiro, Brasília fugiu da polícia, e a Faria Lima vendeu Petrobras. Se já houve mecanismo capaz de fazer as duas trabalharem pelo Brasil, parece ter parado de funcionar.
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Retomo (PRA):
Perguntar não ofende:
Será que os militares estão “impressionados” com o imenso talento para os negócios (sobretudo imobiliários) do filho 01 do modesto capitão que envergonhou o Exército no passado e que hoje abusa de seu poder sobre generais amestrados?
Ou será que os generais gostariam de poder fazer igual?
Estão “impressionados” ou “pressionados”?
Não se espantam com a desfaçatez da Famiglia? Acham tudo normal?
Pretendem refletir sobre as novas oportunidades de mercado?
Esse tipo de aprendizado ainda não figura nos currículos das escolas de Estado Maior: será que cogitam introduzir algo nesse terreno do “business”?
Afinal de contas, eles se aposentam (ou se “reformam”) cedo os militares: muitos, depois, colocam seus talentos e contatos das casernas em lucrativos negócios na esfera privada.
Devem saber reconhecer os verdadeiros talentos; embora certas demonstrações de exibicionismo de luxo deve deixar a maior parte desses generais da Vila Militar horrorizados...
Como eu disse: perguntar não ofende.
Mas, é preciso pensar um pouco também.
O 01 está inaugurando uma nova modalidade de lavagem de dinheiro: aquela que é feita de forma programada durante 360 meses, com a ajuda de bancos estatais. Um “must”!
Uma última pergunta não ofensiva: os generais já pensaram nessa inovação no mercado político?
Paulo Roberto de Almeida
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