Museu do Ipiranga conclui obras de restauro de seu edifício-monumento
Jornal da USP, 08/04/2022
Juntamente às obras de restauro e ampliação, acontecem os trabalhos de conservação do acervo - Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre
Museu será reinaugurado em setembro com prédio reformado, o dobro da área construída e 12 exposições com itens de acervo inteiramente restaurados
Autor: Conteúdo Comunicação/Colaboração: Adriana Cruz
Arte: Adrielly Kilryann/Jornal da USP
No final do mês de março, foram concluídas as obras de restauro do edifício-monumento do Museu do Ipiranga. Desde outubro de 2019, o prédio, que foi inaugurado em 1890, tem passado por uma reforma total, com reparos em todos os detalhes da arquitetura, incluindo os 7.600 metros quadrados das fachadas, que, pela primeira vez em sua história, passaram por limpeza, decapagem, recuperação dos ornamentos, aplicação de argamassa, tratamento de trincas e pintura.
Para pintar, foi utilizada uma tinta mineral, desenvolvida especialmente para o museu, que permite a troca de umidade entre o prédio de cal e o ambiente. Um estudo estratigráfico [ramo da geologia que estuda as camadas de rochas] e o processo de decapagem também tornaram possível recuperar a cor original da construção do século 19.
Tetos e paredes do interior receberam tratamento similar. Os elementos de marcenaria, como as 450 portas e janelas, foram catalogados, retirados e restaurados em oficinas no canteiro de obras, e recolocados no mesmo lugar, bem como os 1.900 metros quadrados de assoalho que revestem o piso da edificação. Os pisos de ladrilho hidráulico franco-alemão também passaram por restauro. Com a instalação de elevadores, o edifício-monumento será, enfim, totalmente acessível.
Os elementos de marcenaria, como as 450 portas e janelas, foram catalogados, retirados e restaurados em oficinas no canteiro de obras - Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre
Outro quesito essencial no projeto são os métodos para prevenção de incêndios. O sistema de sprinklers adotado é do tipo “pré-ação” com tecnologia que antevê alarmes falsos, evitando disparos acidentais. Já o sistema de detecção de fumaça utiliza a técnica de aspersão (sucção do ar em intervalos fixos) para constante análise, podendo identificar partículas de resíduos queimados que podem prenunciar um incêndio. Os sistemas comuns de detecção de fumaça são acionados apenas em caso de muita fumaça, ou seja, após o incêndio ter tomado certa proporção. Dessa forma, com a técnica de aspersão, garante-se a proteção do prédio por meio de um sistema mais efetivo.
Agora, o prédio caminha para a conclusão de sua última etapa de obras antes de sua reabertura em setembro, para a celebração do bicentenário da Independência do Brasil: a de ampliação. Foi realizada uma escavação em frente ao edifício, que abrigará a nova entrada, bilheteria, auditório para 200 pessoas, espaço educativo, café, loja e sala de exposição temporária. Na esplanada, o assentamento do piso em mosaico português da área central avançou e tem previsão de finalização para este mês de abril. Pela primeira vez na história do museu, a instituição estará apta a receber acervos de outras instituições, inclusive internacionais, graças à instalação de ar-condicionado.
O projeto abarca também o Jardim Francês, localizado em frente ao edifício-monumento. Estimada em R$ 19 milhões e custeada pelo governo do Estado, a proposta prevê a restauração de toda a área construída e de paisagismo, além da reforma do espaço da antiga administração para instalação de um restaurante, criação de infraestrutura para food bikes, restauro e modernização da iluminação pública, requalificação das vias de acesso, contemplando também equipamentos de acessibilidade, e a reativação da fonte central. Até o momento, os 14 delfins e cachepôs que adornam as fontes foram restaurados e reinstalados. Os ornamentos tiveram suas trincas reparadas em laboratório com o mesmo material de origem e já foram religados às mangueiras das novas instalações.
“Este projeto é superlativo em todas as suas dimensões, pois envolve a preservação, a restauração e a ampliação de um patrimônio histórico brasileiro do século 19. A conclusão desta primeira fase da obra representa um importante passo para que possamos entregar o Novo Museu do Ipiranga para a população em setembro, neste que é um ano emblemático para a história de nosso país”, destaca o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior.
Carlos Gilberto Carlotti Junior - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Rosaria Ono - Foto: Arquivo pessoal
“A restauração do edifício-monumento só foi possível graças à equipe multidisciplinar que atua nas obras. O trabalho envolveu desde pesquisa em fotografias e documentos históricos, até estudos e testes in loco, sempre com o acompanhamento de profissionais de restauro e dos órgãos de patrimônio, para que juntos chegássemos - o mais próximo possível - às feições do prédio inaugurado no século 19”, comenta a diretora do Museu Paulista, Rosaria Ono.
Acervo restaurado e novas exposições
Simultaneamente às obras de restauro e ampliação acontecem os trabalhos de conservação dos itens que estarão expostos na reabertura. São mais de 3 mil objetos do acervo que estão passando ou já passaram por restauração. Dentre eles, encontram-se 122 pinturas e duas maquetes de grande porte. Do número total de peças a serem expostas, 2.800 já tiveram seus restauros finalizados.
Todo o acervo artístico do chamado Eixo Monumental, que inclui o Salão Nobre, as escadarias e o saguão do prédio do museu é patrimônio cultural tombado pelos órgãos de preservação - Foto: Reprodução/Helio Nobre
O quadro mais conhecido do acervo do museu – a tela Independência ou Morte, de Pedro Américo – foi um dos primeiros trabalhos a serem restaurados, em 2019. Mas a pesquisa para o restauro do quadro começou ainda em 2017. O restauro foi realizado no Salão Nobre, espaço onde o quadro permaneceu, devido ao seu tamanho. A tela, com dimensões de 415 cm x 760 cm, é maior do que as portas e janelas do salão e foi montada originalmente no local onde está até hoje, sem nunca ter sido retirada. A equipe do museu teve a tarefa de protegê-la dos resíduos do restauro da sala, com um tecido especial que impede a entrada de pó, permitindo que a obra “respire”.
Na inauguração do Novo Museu do Ipiranga, o público terá a oportunidade de visitar 12 exposições – 11 de longa duração e uma mostra temporária. As de longa duração são divididas em dois eixos temáticos: Para entender a sociedade e Para entender o museu. A exposição de curta duração, denominada Memórias da Independência, estará aberta por quatro meses. O tema foi escolhido por estar diretamente relacionado ao ano de reabertura do museu e ao bicentenário da Independência, e trará acervos de outras instituições brasileiras, especialmente do Rio de Janeiro e da Bahia.
Foto: Reprodução/José Rosal
Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre
Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre
Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre
Foto: Reprodução/Helio Nobre
Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre
Foto: Reprodução/José Rosael
Foto: Reprodução/José Rosael
Foto: Reprodução/José Rosael
Foto: Reprodução/José Rosael
Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre
No total, serão expostos 3.058 itens pertencentes ao acervo do museu, 509 itens de outras coleções e 76 reproduções e fac-símiles. A maior parte dos objetos data dos séculos 19 e 20, mas há itens mais antigos, que remontam ao Brasil colonial. São pinturas, esculturas, moedas, documentos textuais, fotografias, objetos em tecido e madeira que foram conservados e preparados para fazer parte do novo projeto expográfico. Outro aspecto importante das novas exposições do museu é a tratativa com a presença de monumentos que homenageiam figuras e situações controversas, como estátuas de bandeirantes e quadros com representações que celebram a destruição de missões e populações indígenas.
Outra das premissas do novo projeto é a acessibilidade. Haverá telas táteis, reproduções em metal, dioramas (maquetes tridimensionais feitas a partir das obras do museu), plantas táteis para localização dos visitantes, dispositivos olfativos, reproduções visuais e táteis (reproduções de imagens com aplicações de texturas para o toque), reproduções 3D e em outros materiais semelhantes aos objetos originais (como pedra e metal), cadernos em braile, amostras de texturas e objetos originais adquiridos especificamente para o manuseio dos visitantes. O processo ainda se completará na programação educativa a ser oferecida, com ações e estratégias de mediação que visam a contemplar distintos perfis de público.
Na esplanada, o assentamento do piso em mosaico português da área central avançou e tem previsão de finalização para este mês de abril - Foto: Reprodução/Helio Nobre
Parceiros e patrocinadores
Fechado desde 2013, o Museu do Ipiranga seguiu em atividade com eventos, cursos, palestras e oficinas em diversos espaços da cidade. As obras de restauro, ampliação e modernização do museu são financiadas via Lei de Incentivo à Cultura e conta com os seguintes parceiros e patrocinadores: BNDES, Fundação Banco do Brasil, Vale, Bradesco, Caterpillar, Comgás, CSN, EDP, EMS, Itaú, Sabesp, Santander, Banco Safra, Honda, Raízen, Postos Ipiranga, Pinheiro Neto Advogados, Atlas Schindler, Novelis, B3, GHT, Nortel, Dimensional, Goldman Sachs, Rede D’Or e Too Seguros. O custo da reforma é estimado em R$ 211 milhões.
A gestão do projeto Novo Museu do Ipiranga é feita de forma compartilhada pelo Comitê Gestor Museu do Ipiranga 2022, pela direção do Museu Paulista e pela Fundação de Apoio à USP (Fusp). Para mais informações sobre o restauro, acesse o site do museu.
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