GIGANTE CORPORATIVO avaliado em quase 90 bilhões de dólares, a Petrobras é uma empresa peculiar sob vários aspectos. Apesar de ter como seu principal controlador o governo brasileiro, trata-se de uma companhia de capital aberto e ações negociadas em bolsa, num regime misto, com milhões de acionistas no Brasil e no exterior. Sua mais recente estratégia de negócios alinha a política de preços às cotações do petróleo no exterior, uma forma de garantir a própria sobrevivência, bem como evitar riscos de desabastecimento no mercado nacional, que ainda depende de 30% de importação do produto e seus derivados. Infelizmente, desde sua criação, em 1953, por Getúlio Vargas, ela sempre foi alvo da ingerência dos governantes, como aconteceu durante a gestão petista, quando acabou engolfada no escândalo do chamado petrolão.
Nas últimas semanas, tal roteiro de interferência governamental novamente se repetiu. O aumento no preço internacional dos combustíveis a partir da crise deflagrada na guerra da Ucrânia levou o governo a pôr a Petrobras na mira do presidente da República, Jair Bolsonaro. Preocupado com os reflexos que a política de preços da empresa possa ter no humor do eleitorado às vésperas da eleição, ele adotou, em um primeiro momento, um discurso hostil em relação à companhia e seus dirigentes, responsabilizando-os diretamente pelo alto custo da gasolina, do gás de cozinha e do diesel. Em um segundo passo mais radical, abandonou as ameaças e vitupérios disparados em suas lives para encampar a intervenção explícita na empresa, ao anunciar a demissão de seu presidente, o general Joaquim da Silva e Luna, depois de uma constrangedora fritura pública.
Nomeado pelo próprio Bolsonaro há um ano para substituir Roberto Castello Branco, que ocupava o cargo desde o início do governo, Silva e Luna havia presidido a Itaipu Binacional e suportou com disciplina militar os ataques do presidente. Na semana passada, logo depois da confirmação de sua saída, ele falou a respeito do assunto em entrevista exclusiva a VEJA. Em tom emocionado, o general detalhou os episódios em que Bolsonaro tentou influenciar os rumos da empresa e impor medidas temerárias — todas refutadas. Tal zelo com a governança corporativa, contudo, acabou levando ao seu desligamento.
Em obediência aos ritos que regem a Petrobras, seu novo número 1 só deve ser empossado no dia 13 de abril, quando ocorre a próxima reunião do conselho. O economista Adriano Pires, 64 anos, é o indicado do governo ao posto e deve tornar-se o quadragésimo presidente da petroleira. Respeitado por suas posições equilibradas e alinhadas aos princípios liberais, Pires foi bem-aceito pelo mercado. Tomara que em sua gestão à frente do colosso petrolífero ele tenha mais sorte (e tranquilidade) que seu antecessor.
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