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sábado, 18 de junho de 2022

Sobre a impossibilidade de conviver com a degradação moral - Carmen Lícia e Paulo Roberto de Almeida

 Vou reproduzir o ”policy statement” de Carmen Lícia Palazzo sobre a impossibilidade de se aceitar qualquer conivência ou leniência com a suprema indignidade moral, que representa a tolerância e até a aceitação do fascismo ordinário, representada pelo sublixo desumano da atual escória que desgoverna o país. Ela se refere especificamente ao meio acadêmico, mas vou estender sua reflexão indignada ao âmbito diplomático, ao declarar minha absoluta rejeição de toda e qualquer postura, em política externa, que seja conivente ou leniente com graves transgressões do Direito internacional e até da ética no plano externo, como podem ser representadas por crimes de guerra e até, possivelmente, contra a humanidade, como se constata pelos atos bárbaros sendo perpetrados na Ucrânia pelo tirano de Moscou. Afeta-me profundamente que o governo brasileiro seja complacente com os crimes perpetrados todos os dias, e que ainda consintamos em assinar declarações inaceitáveis no âmbito do Brics.

Paulo Roberto de Almeida 

Carmen Lícia Palazzo:

“O momento terrível pelo qual atravessa o Brasil, as claríssimas evidências de que o governo está nas mãos de um grupo cruel, que atravessou a fronteira que separa a civilização da barbárie, a evidente inspiração f4ascista de muitos deles me leva a uma profunda reflexão sobre algo que é parte do meu temperamento: ter abertura para tudo e para todos, ser muito sociável e entender as divergências de opinião. Meu círculo de amizades é enorme, nem é círculo, vai até o fim do arco-íris. E já encontrei muitos potes de ouro, na forma de gente excepcional, íntegra, inteligente e que muito me faz feliz.

Agora, porém, estou diante de algo que não se resume mais a amigos com distintas opções de modelos políticos e/ou econômicos. Há outro tipo de pessoas que eu "descobri" entre minhas amizades, inclusive da área profissional, os apoiadores ou, em certos casos, condescendentes com a maior torpeza, com a ignomínia mais cruel e atroz que assola nosso país. 

Decido, então, que por uma simples questão de ética eu não posso compactuar com certos posicionamentos, não posso sequer participar de eventos nos quais eu vá sentar na mesma mesa na qual estarão pessoas que fazem parte do grupo dos que, por interesse, frustrações ou outros motivos estão do lado do mal maior e mais absoluto. Eu já deixei claro, em várias oportunidades que a crueldade, o desprezo e o deboche com vidas humanas e as inclinações f4ascistas são, para mim, o mal maior. 

Há algum tempo ainda me parecia que tais pessoas poderiam mudar de ideia, que alguns colegas deixariam de lado suas frustrações pessoais para entender que eles estavam sendo apenas cúmplices ou então marionetes de um filme de terror que tinha diretor, roteirista e atores principais muito ativos e sórdidos. Pois bem, alguns poucos, parece-me que realmente poucos, felizmente, na academia persistem em seu apoio ao Perverso e, quando não o apoiam, fazem contorções verbais para não parecer que são totalmente contra a imensa tragédia que se abateu sobre o Brasil. 

Declinei minha participação de um evento no qual duas dessas pessoas dividiriam a mesa comigo. Era "apenas" um evento acadêmico, no entanto sei bem o quanto há quem manipule atividades e distorça falas... Intolerância da minha parte? Decidam como quiserem. Li muito sobre os tempos do f4scismo na Europa, li muito sobre professores que compactuaram com o mal absoluto e também sobre aqueles que recusaram apoios, que muitas vezes eram apenas para pequenas atividades, para coisas supostamente insignificantes, mas que depois cresceram. E eram esses últimos que estavam certos.

Lembrei de uma entrevista que o grande pesquisador Alberto Costa e Silva deu, sobre África, para o grupo Brasil Paralelo e, depois, como sua fala serviu de propaganda para gente da pior espécie, o que ele disse tendo sido totalmente distorcido (frases soltas foram citadas insistentemente) e também usado como "chamariz" do tal grupo. Não sou famosa e nem tenho tal importância, mas até em pequenos eventos, mesas-redondas sobre outros assuntos, ainda que nada tenham a ver com Brasil, eu quero distância, a mais total distância de todos os que, mesmo de maneira muito sutil e quase imperceptível, estão tentando justificar as ações e as falas do Perverso ou querendo igualá-lo a outros momentos da política brasileira. 

Não é um momento fácil. Não é agradável reconhecer que algumas pessoas não eram como pensávamos. Nós que abraçamos o mundo e que temos as portas de nossas casas abertas para a diversidade de pensamento, para o debate franco, agora precisamos ficar atentos porque há algo de cruel, de perigoso, de extremamente mau que se insinua pelas menores frestas. É muito triste. E implica em decisões difíceis, mas quem sabe se um dia poderemos ficar felizes por ter escolhido o lado certo. Ou os lados, pois acredito na pluralidade e é nela que eu vivo e continuarei vivendo.”


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