Cúpula da Otan marca aumento do efetivo militar no Leste Europeu e mudança de tom com Rússia
Número de soldados vai de 40 mil para mais de 300 mil, e Moscou vira 'ameaça direta', diz secretário-geral
Folha de S. Paulo, 27.jun.2022
A cúpula da Otan, a ser realizada em Madri, na Espanha, a partir desta terça (28) até quinta-feira (30), deve assinalar uma espécie de refundação da aliança militar ocidental diante do prolongamento da Guerra da Ucrânia e marcar o endurecimento do tom com o qual a Rússia é tratada pelos países membros do grupo.
"Esta cúpula será um ponto de virada, e várias decisões importantes serão tomadas", afirmou o secretário-geral do clube militar, Jens Stoltenberg, em entrevista coletiva em Bruxelas nesta segunda (27).
O número de soldados de prontidão na parte leste da Europa, disse ele, passará dos atuais 40 mil para mais de 300 mil, num contexto em que a invasão da Ucrânia se encaminha para o quinto mês, um conflito que assinala o momento de maior tensão bélica no continente desde a Segunda Guerra Mundial.
O efetivo será espalhado por Lituânia, Estônia, Letônia, Polônia, Romênia, Hungria, Eslováquia e Bulgária. Militares na Alemanha também ficarão de prontidão, na maior revisão da defesa coletiva da aliança desde a Guerra Fria. O encontro também deve mudar a linguagem com a qual a Otan trata Moscou —pela redação atual, consagrada na cúpula de Lisboa, em 2010, a Rússia é descrita como parceiro estratégico.
"Espero que os aliados afirmem claramente que a Rússia representa uma ameaça direta à nossa segurança, aos nossos valores e à ordem internacional baseada em regras", afirmou o secretário.
"A Rússia abandonou a parceria e o diálogo que a Otan tenta estabelecer há muitos anos. Escolheram o confronto em vez do diálogo. Lamentamos isso —mas é claro que precisamos responder a essa realidade."
A cúpula ocorre num momento crucial para o grupo, após desavenças internas geradas pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump, que ameaçou retirar Washington do clube. Mas a invasão russa da Ucrânia, no final de fevereiro, desencadeou uma mudança geopolítica, levando dois países antes neutros, Finlândia e Suécia, a pedirem a adesão à Otan, e à Ucrânia, a iniciar o processo para virar membro da União Europeia.
Os líderes da aliança também intensificarão o apoio a Kiev —o presidente Volodimir Zelenski participará do encontro por meio de videoconferência. Segundo Stoltenberg, a Otan fornecerá armas pesadas ao país e quer ajudar na modernização do arsenal ucraniano, ainda baseado em equipamentos da era soviética.
Os aliados da Otan se comprometeram a dedicar 2% de seu PIB aos gastos com defesa em 2024, mas só nove dos 30 membros atingiram essa meta em 2022 —Grécia, EUA, Polônia, Lituânia, Estônia, Reino Unido, Letônia, Croácia e Eslováquia. A França investe 1,90%, a Itália, 1,54%, a Alemanha, 1,44% e a Espanha, com 1,01%, é o penúltimo da lista, à frente de Luxemburgo (0,58%), segundo dados divulgados pela Otan.
"Para responder à ameaça, esta meta de 2% torna-se um piso, não mais um teto", afirmou Stoltenberg.
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/06/cupula-da-otan-marca-aumento-do-efetivo-militar-no-leste-europeu-e-mudanca-de-tom-com-russia.shtml
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