domingo, 28 de agosto de 2022

Stefan Zweig, a coragem da renúncia — José Luiz Alquéres (Diário de Petrópolis)

 


  Colunistas 
JOSÉ LUIZ ALQUÉRES
COLUNISTA

 

 

ZWEIG OU A CORAGEM NA RENÚNCIA

Hoje poucos sabem quem foi Stefan Zweig. Um grande escritor austríaco, nascido ainda no final do Século XIX e que na virada daquele século se destacava em Viena, uma das cidades mais ativas do mundo do ponto de vista cultural, na época. Cidade de Freud, de Klimt e de Wittgenstein.
Zweig escreveu romances e biografias de variados personagens. Escritores, filósofos, políticos, vultos da história. Mas também era um homem de impulsos. Tendo lido por acaso a narrativa de Pigafetta sobre a viagem de Fernão de Magalhães e de João Sebastião Delcano, em volta do mundo, realizada entre 1517 e 1519, escreveu um belo livro sobre Fernão de Magalhães e seu destemor em apontar seus navios para o desconhecido total e sair mar afora.
Seu talento estava, além da narrativa perfeita e interessante do ponto de vista formal, na capacidade de se transferir para a cabeça dos seus personagens e conferir-lhes uma enorme densidade psicológica.
Sua biografia de Maria Antonieta, escrita em francês, já no exílio, marcou época por estas qualidades. Ele certamente contribuiu para mudar uma memória odiosa que lhe tinha sido atribuída pela imprensa revolucionária e perdurava há um século. Com isso, ela passou até, de certa forma, a ser encarada com mais humanidade, tendo uma personalidade simpática. Pode-se dizer que Zweig contribuiu para a reabilitação de sua imagem como rainha e mulher.
Viveu intensamente os dramas de sua época. Alistou-se e foi enfermeiro durante a 1a Guerra Mundial. Tornou-se um grande pacifista após os horrores presenciados e, com Romain Roland e outros intelectuais europeus, teve importante papel no movimento pacifista entre as duas guerras mundiais.
Com a ascensão dos nazistas ao poder, teve que se desfazer dos seus bens. Embora fosse um escritor de grande sucesso mundial, começou um itinerário de mudanças e frustrações de país em país.
Escreveu um belo livro de memórias sobre o ocaso do mundo em que havia nascido, em pleno esplendor do Império Austro-húngaro. Era um mundo organizado. Previsível. Um império tolerante.
A 1ª. Guerra Mundial acabou com aquele mundo e a derrota da Áustria e Alemanha, seguida das humilhantes e escorchantes condições impostas pelos vencedores para a paz, acabaram levando os países germânicos ao totalitarismo, ao nazismo e agravado o antissemitismo.
Foi muito sofrido para um escritor não poder ser editado em sua própria língua e ver seus livros sendo queimados em praça pública. A vida de refugiado em outros países, ao tempo que assistia a progressão da guerra e as perseguições ao povo judeu, foram abatendo sua moral.
Vindo morar no Brasil teve alegrias e amor pelo país ao qual dedicou um livro "Brasil, um País do Futuro", vendo especialmente no caráter do nosso povo a nossa maior força, em um mundo no qual o ódio grassava.
Suicidou-se, junto com sua mulher, na casa onde moravam em Petrópolis. Tinha muita ânsia de ver o novo mundo que viria a acontecer no pós-guerra, como deixou escrito para os amigos. Não aguentou, porém, esperar por isso.
O episódio de sua morte causou bastante impacto nos meios intelectuais de então. Hoje, 80 anos depois, ainda é objeto das mais variadas interpretações.
É importante não se esquecer o quanto um ambiente de ódio e intolerância afeta as mentes particularmente sensíveis, as quais são as que maiores contribuições dão ao gênero humano. A morte de Zweig, contada no magnífico livro "Morte no Paraíso", escrito por seu melhor biógrafo, Alberto Dines, ficará como um marco. O próprio Dines me disse que "às vezes, renunciar exige mais coragem do que continuar".
São pensamentos que me veem quando vejo que a soma da intenção de votos desses candidatos nanicos, eleitores indecisos, votos brancos e nulos poderiam perfeitamente levar à vitória um candidato ou candidata à presidência realmente melhor que os dois “cavalos de Tróia” que disputam esse páreo.

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