Energia mais cara matou mais europeus do que a covid-19 no inverno passado
Por The Economist
11/05/2023 | 22h00
Depois que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, Vladimir Putin transformou o fornecimento de energia de seu país para o continente em arma: cortando as exportações de gás para a Europa e fazendo com que os preços disparassem. Embora os custos no atacado tenham caído em todo o continente agora, os preços domésticos da electricidade e do gás, em comparação com dois anos anteriores subiram espantosos 69% e 145% no inverno passado.
Os altos preços da energia podem custar vidas. Eles desencorajam as pessoas a aquecer suas casas adequadamente, e viver em condições de frio aumenta o risco de problemas cardíacos e respiratórios. Em novembro, a The Economist previu que a energia cara poderia levar entre 22.000 e 138.000 pessoas à morte durante um inverno ameno na Europa. Infelizmente, estávamos certos.
Para avaliar como as mortes no inverno passado se comparam às anteriores, usamos uma medida comum de mortalidade: o excesso de mortes. Comparando as mortes reais com o número que poderíamos esperar dada a mortalidade nas mesmas semanas de 2015-19, descobrimos que as mortes na Europa foram maiores do que o esperado. Nos 28 países europeus que investigamos, houve 149.000 mortes em excesso entre novembro de 2022 e fevereiro de 2023, o equivalente a um aumento de 7,8%.
Vários fatores podem explicar esse aumento. Entre os que morreram no inverno passado, quase 60.000 foram registrados como mortes por covid-19. A doença provavelmente contribuiu - direta ou indiretamente - para mais mortes, mas é improvável que seja responsável por todo o aumento do inverno passado. Entre março de 2020 e setembro de 2022, a contagem oficial de mortes por covid foi de 79% do total de mortes em excesso entre os 28 países da Europa. No inverno passado, era de 40%.
O clima também influenciou no número de mortes. Uma onda de frio em dezembro foi acompanhada por um aumento na mortalidade. Uma queda de 1°C na temperatura média em um período de três semanas está associada a um aumento de 2,2% no total de mortes. No entanto, o inverno passado foi mais ameno do que a média de 2015-19, então o frio por si só não pode ser responsável pelas mortes adicionais.
É provável que os altos preços da energia podem ter tido um efeito preponderante. Analisar os países caso a caso revela que aqueles com o maior número de mortes em excesso geralmente experimentaram os maiores aumentos nos custos de combustível. Para separar os custos de energia de mudanças climáticas e de temperatura, construímos um modelo estatístico. Nosso modelo também considera a demografia de um país, o número de mortes por covid antes do inverno passado e a subnotificação histórica dessas mortes.
Estimamos que um aumento de preço de cerca de € 0,10 por kwh – cerca de 30% do preço médio da eletricidade no inverno passado na Europa – esteja relacionado a um aumento na mortalidade semanal de um país em cerca de 2,2%. Se a eletricidade no inverno passado tivesse custado o mesmo que em 2020, nosso modelo indica que haveria 68.000 mortes a menos em toda a Europa, uma queda de 3,6%.
As mortes na Europa poderiam ter sido maiores se os governos não tivessem intervindo nos mercados de energia (embora os preços mais baixos aumentem a demanda, causando problemas em outras partes do mundo).
Usando dados da consultoria Vaasaett, o modelo estátistico da The Economist estima quantas mortes em excesso teriam ocorrido se as contas não tivessem sido reduzidas por preços máximos ou impostos de vendas mais baixos.
Em 23 países, nosso modelo descobriu que esses subsídios salvaram 26.600 vidas. À medida que os preços da energia no atacado caem e as temperaturas sobem, a ameaça imediata pode ter acabado, mas está claro que o uso do fornecimento de energia como arma por Putin é mortal.
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