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domingo, 27 de fevereiro de 2022

Ex-chanceler (ministro das relações exteriores) da Alemanha Federal denuncia o projeto imperial da Rússia - Joschka Fischer

 The Telegraph, Londres – 25.2.2022

Russia's Stolen Future

By invading Ukraine, Russian President Vladimir Putin is challenging not only that country's independence but also the broader European system, which rests above all on the inviolability of borders and the law of nations. There has been no comparable event in Europe since the Hitler era.

Joschka Fischer

 

Berlin – Russian President Vladimir Putin has made his choice. He has brought war to Ukraine. This is a watershed moment for Europe. For the first time since the Balkan wars of the 1990s, which were limited to the area of the disintegrating Yugoslavia, the continent is once again confronted with bombardments of cities and rolling tank divisions. But this time, it is a nuclear superpower that started the fighting.

By ordering an invasion, Putin is showing a brazen disregard for international treaties and the law of nationsThere has been no comparable event in Europe since the Hitler era. According to Putin’s latest declarations, Ukraine has no right to exist as a sovereign state – even though it is a member of the United Nations, the Organization for Security and Cooperation in Europe, and the Council of Europe; and even though Russia itself (under Boris Yeltsin) has recognized the country’s independence.

Putin now claims that Ukraine is an inseparable part of Russia. Whatever the majority of Ukrainians think is irrelevant to him; Russia’s greatness and international standing are all that matter. But make no mistake: Putin wants more than Ukraine. His war is about the entire European system, which rests above all on the inviolability of borders. In seeking to redraw the map by force, he hopes to reverse the European project and re-establish Russia as the preeminent power, at least in Eastern Europe. The humiliations of the 1990s are to be erased, with Russia once again becoming a global power, on par with the United States and China.

According to Putin, Ukraine has no tradition of statehood, and has become a mere tool of American and NATO expansionism, thus posing a threat to Russia’s security. In a bizarre speech the day before his troops stormed across the border, Putin even went so far as to claim that Ukraine is trying to acquire nuclear weapons. In fact, when the Soviet Union collapsed in the early 1990s, Ukraine – home to the world’s third-largest nuclear arsenal at the time – surrendered its nuclear weapons to Russia with the active diplomatic support of the “evil” US.

Ukraine did so because it had received “guarantees” of its territorial integrity, as stated in the Budapest Memorandum on Security Assurances of December 5, 1994. That document was signed by the guarantor powers: the US, the United Kingdom, and Russia, alongside Ukraine, Belarus, and Kazakhstan (the latter two relinquished the smaller nuclear arsenals they had inherited from the USSR).

Set against the historical facts, Putin’s statements are nonsense. His primary purpose, clearly, is to give his own population a justification for invading Ukraine.Putin knows that if ordinary Russians were given a choice between a war to dominate Eastern Europe and a better, more prosperous life at home, they would prefer the latter. As so often in Russian history, the country’s people are having their future stolen by their rulers.

Russia’s ascent to global power in the nineteenth and twentieth centuries resulted in numerous tragedies not only for the neighbors it subjugated and gradually absorbed, but also for its own people. China’s current leaders, in particular, should be mindful of this history, considering that imperial Russia seized more territory from China than from anyone else.

What Putin does not seem to realize is that Russia’s longstanding policy of dominating foreign peoples in its sphere of influence makes other countries focus on how to escape the Kremlin’s geopolitical prison at the first opportunity, by securing protection from NATO. The alliance’s eastward expansion after 1989 attests to this dynamic. Ukraine wants to join NATO not because NATO intends to attack Russia, but because Russia increasingly demonstrated its intention to attack Ukraine. And now it has.

It is worth remembering that in the 1990s, Russian propaganda accused the West of harboring all manner of evil plans. None of these plots was realized at the time, when Russia was down, because no such Western scheme ever existed. The accusations were fearmongering nonsense.

The Russian imperial project has always been characterized by a mixture of domestic poverty, brutal oppression, florid paranoia, and aspirations of global power. And yet, it has proved to be exceptionally resistant to modernization – not just under the czars and then under Lenin and Stalin, but also under Putin.

Just compare Russia’s economy to China’s. Both are authoritarian systems, yet Chinese per capita incomes have grown robustly while Russian standards of living have been declining. In historical terms, Putin is taking Russia hurtling back toward the nineteenth century, in search of past greatness, whereas China is forging ahead to become the defining superpower of the twenty-first century. While China has achieved unprecedentedly rapid economic and technological modernization, Putin has been pouring Russia’s energy-export revenues into the military, once again cheating the Russian people out of their future.

Ukraine has tried to escape this never-ending cycle of poverty, oppression, and imperial ambition with its increasingly pronounced orientation toward Europe. A well-functioning European-style liberal democracy in Ukraine would jeopardize Putin’s authoritarian rule. The Russian people would ask themselves and their leaders, “Why not us?”

Putin would have no good answer to give them, and he knows it. That is why Russia is in Ukraine today. (P.S.)

 

Joschka Fischer, Germany’s foreign minister and vice chancellor from 1998 to 2005, was a leader of the German Green Party for almost 20 years.

 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Bolsonaro está sem sorte no plano da política externa: sua diplomacia está em frangalhos (a despeito do Itamaraty) - matérias de imprensa

 


Bastidores: Alemanha se soma à França como dor de cabeça para diplomacia bolsonarista

Diplomatas preveem tensão com novo novo governo alemão e reclamam de embaixador em Brasília
 
Felipe Frazão, O Estado de S.Paulo
08 de dezembro de 2021 | 15h00

BRASÍLIA - A França, de Emmanuel Macron, não está mais sozinha. Com a posse do novo chanceler Olaf Scholz nesta quarta-feira, 8, a Alemanha se junta à condição de alvo internacional da ira bolsonarista. O motivo da insatisfação contra Paris, que agora já se estende a Berlim, é o tom das cobranças europeias ao governo Jair Bolsonaro, por causa da destruição ambiental na Amazônia.

Em Brasília e em Berlim, a expectativa diplomática é que o novo governo alemão aumente a pressão sobre Bolsonaro. Ouvidos reservadamente pelo Estadão, embaixadores dos dois países dizem que a situação tende a "piorar".

A maior economia europeia vai ser governada por uma coalização à esquerda, se comparada com a da democrata-cristã Angela Merkel, que ficou 16 anos no poder como chanceler. O bloco que compõe o governo é formado por social-democratas, liberais e verdes. A coalizão foi apelidada de "semáforo", pela ordem das cores dos partidos - vermelho, amarelo e verde. Olaf Scholz já compunha a gestão de Merkel como vice-chanceler e ministro das Finanças.

Um problema foi acrescido após a COP 26, em Glasgow, na Escócia. A delegação brasileira chefiada pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, deixou de apresentar os dados mais recentes de desmatamento na Amazônia, um recorde de 13 mil km² devastados, e assegurou que o cenário seria positivo. Nos bastidores, diplomatas brasileiros reconhecem que a credibilidade foi prejudicada e que seus pares estrangeiros saíram com a percepção de que foram enganados.

Berlim, assim como parte das capitais da União Europeia, entende que a confiança em Bolsonaro foi perdida. Não por outro motivo, o embaixador alemão em Brasília, Heiko Thoms, disse ao Estadão que os compromissos anunciados pelo Brasil na Cúpula do Clima eram só palavras e manifestou descrédito na capacidade de o governo cumprir a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2028. Ele negou a possibilidade de o país retomar contribuições ao Fundo Amazônia.

O embaixador e sua equipe têm manifestado em conversas preocupações com direitos humanos, ameaças à liberdade de imprensa e às instituições democráticas e com o desmantelamento de órgãos ambientais brasileiros. Para eles, o governo Bolsonaro não percebeu que a pauta climática virou preocupação de toda a sociedade alemã e se vê refletida no espectro político mais amplo, à exceção da extrema-direita. As eleições internas ocorreram meses após enchentes históricas que provocaram quase 200 mortes na Alemanha.

O tom mais duro do diplomata alemão acendeu o sinal amarelo no Itamaraty. Dois embaixadores ligados à cúpula do Ministério das Relações Exteriores (MRE) manifestaram restrições ao novo comportamento de Thoms. Por enquanto, as respostas públicas serão dadas por ministros do primeiro escalão bolsonarista, como virou costume.

Um diplomata ligado à área econômica disse que o embaixador alemão vestiu a camisa do novo governo antecipadamente para "mostrar serviço" a Berlim, deixando em segundo plano relações de mais longo prazo que norteiam as duas diplomacias. O outro, responsável pela agenda de meio ambiente, afirmou que as críticas de Thoms eram uma atitude inadequada diplomaticamente e que ele deveria optar por canais formais junto ao MRE. "Imagine se nosso embaixador em Berlim (Roberto Jaguaribe) comentasse assuntos domésticos deles… Não cabe", protestou.

Apesar das reclamações com a eloquência de Thoms, o tom deve escalar alguns níveis acima, e o embaixador certamente tem respaldo superior.  A nova ministra das Relações Exteriores será a advogada Annalena Baerbock, de 40 anos, ex-candidata a chanceler e uma das líderes do Partido Verde. Ela é uma política ecologista, ex-atleta e crítica do presidente Bolsonaro, favorável a movimentos de pressão global sobre a Amazônia, que podem impactar o comércio.

Outro líder do partido, Robert Habeck, vai chefiar o novo ministério do Clima e da Economia. Também ficaram com os verdes as pastas de Agricultura e do Meio Ambiente.

Do outro lado da fronteira, a França vai passar por eleições nacionais no ano que vem, depois de os verdes assumirem mais protagonismo nas municipais de 2020, o que joga pressão para a reeleição de Macron como presidente. Os franceses também irão assumir a presidência de turno do Conselho da União Europeia, o que pode deixar ainda mais longe progressos no acordo comercial com o Mercosul.

Posse de Scholz encerra Era Merkel
A posse do líder social-democrata Olaf Scholz nesta quarta-feira, 8, pôs fim a um dos capítulos mais importantes da história contemporânea da Alemanha: os 16 anos de Angela Merkel como dirigente da maior economia da zona do euro. Primeira mulher a governar o país, Merkel deixou o cargo após 5.860 dias, apenas nove a menos do que seu mentor, o ex-chanceler Helmut Kohl.

Aos 63 anos, Scholz foi escolhido como novo chanceler pelo Parlamento alemão nesta quarta, após conquistar 395 votos dos 736 possíveis na atual composição do Bundestag. A eleição era certa após a coligação com os Verdes (que conquistaram 118 cadeiras na eleição de setembro) e com os liberais (92 cadeiras) ser anunciada na terça-feira, 7.

Scholz respondeu "sim" à presidente do Parlamento, Bärbel Bas, ao ser questionado se aceitava o resultado da votação, e recebeu  o documento que oficializa sua nomeação e marca o início de seu mandato do presidente Frank-Walter Steinmeier. Ele prestou juramento, ao lado dos seus ministros, diante dos deputados e leu o artigo 56 da Lei Fundamental, no qual promete "dedicar suas forças ao bem do povo alemão".

Merkel também esteve presente na votação e recebeu muitos aplausos em sua despedida. Nas últimas semanas, a agora ex-chanceler recebeu várias homenagens, reconhecendo importantes avanços de seu governo e o papel central que desempenhou como liderança na União Europeia.

"Angela Merkel foi uma chanceler que teve êxito", elogiou Scholz recentemente, ao homenagear uma governante que "permaneceu fiel a ela mesma durante 16 anos marcados por várias mudanças"./ Com informações da AFP

https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,bastidores-alemanha-se-soma-a-franca-como-dor-de-cabeca-para-diplomacia-bolsonarista,70003920390


"Brasil deve esperar cobranças mais duras da Alemanha", diz professor da Universidade de Berlim

Novo governo alemão promete mais proteção ao clima. Má notícia para Bolsonaro, avalia professor Sérgio Costa

Cristiane Ramalho DW
08 de Dezembro de 2021 às 13:35

Professor da Universidade Livre de Berlim, e observador da política alemã há mais de 20 anos, o sociólogo Sérgio Costa aposta que a mudança de governo na Alemanha terá impacto direto sobre o Brasil, tanto nas relações diplomáticas quanto comerciais: "O Brasil deve ganhar mais espaço na agenda política alemã - mas com sinal negativo. Não como aliado de primeira instância, mas como um dos governos com os quais é difícil trabalhar."

Três ministérios que interessam diretamente ao Brasil passarão para as mãos do Partido Verde: Economia e Clima; Meio Ambiente; e Relações Exteriores. O novo governo promete uma política externa voltada para a defesa do meio ambiente e das minorias. A pressão sobre o governo brasileiro vai aumentar: "Haverá um endurecimento nas relações", avalia Costa.

O novo enfoque no combate às mudanças climáticas pode levar, por exemplo, a restrições à importação de produtos que contribuam para o aumento do efeito estufa, como a carne e a soja - inclusive do Brasil.

Em relação ao acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE), as perspectivas também não são boas. "As coordenadas já não são favoráveis, e agora pode ter uma reviravolta", diz Costa. Pelo menos, enquanto o atual governo estiver no poder: "O grande fantasma para o acordo entre a UE e o Mercosul se chama Bolsonaro."

Já o Ministério para a Cooperação e Desenvolvimento, responsável pelo Fundo Amazônia, ficará com os social-democratas do SPD – o que também deve evidenciar ainda mais as diferenças em relação ao governo Bolsonaro, segundo o professor.

Também diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos, em Berlim, Costa lembra que SPD, verdes e liberais se comprometeram ainda a apoiar os movimentos sociais "que defendem a democracia" e a "fortalecer as lutas contra populistas e autocratas" na América Latina e Caribe. O que pode ser uma boa notícia para organizações que trabalham com os mesmos valores na região.

Com 20 livros publicados como autor ou coeditor, o sociólogo diz que não só a Alemanha vai mudar, mas também a União Europeia - que passará a ter papel mais pronunciado na proteção do clima e do meio ambiente: "Esta passa a ser uma agenda europeia."

Nesta quarta-feira, o Parlamento alemão confirmou o nome de Olaf Scholz como novo chanceler federal, colocando fim à era Merkel. É a primeira vez que o país sera governado por numa coalizão formada por social-democratas, verdes e liberais.

DW Brasil: Como o Brasil será visto pela nova coalizão de governo nessa era pós-Merkel que se inicia?

Sérgio Costa: O Brasil deve ganhar mais espaço na agenda política alemã – mas com sinal negativo. Não como um aliado de primeira instância, mas como um dos governos com os quais é difícil trabalhar.

Com a nova coalizão, teremos partidos que são muito mais programáticos do que a CDU (União Democrata Cristã, de Angela Merkel) – especialmente o Partido Verde. Devemos esperar, portanto, mudanças tanto nas relações diplomáticas quanto nas relações comerciais entre o Brasil e a Alemanha.

O ministério das Relações Exteriores – uma pasta que interessa diretamente ao Brasil – ficou justamente com o Partido Verde. Haverá um endurecimento nas relações bilaterais?

Com a copresidente do Partido Verde (Annalena Baerbock) à frente do Ministério das Relações Exteriores, haverá uma linha geral de política externa que enfatize o multilateralismo, e o fortalecimento dos direitos humanos e de minorias, tais como indígenas, negros, mulheres e LGBTQ, e uma posição muito clara em relação a temas de meio ambiente e clima, no sentido da mudança climática.

E o Partido Verde não estará sozinho. Esses itens são uma pauta importante também para os social-democratas e os liberais. Em todos esses campos, haverá realmente um endurecimento nas relações com o Brasil.

Os verdes vão assumir ainda dois ministérios que também dizem respeito ao Brasil: o de Meio Ambiente e o superministério de Economia e Clima. Como isso deve afetar as relações entre o governo alemão e o governo Bolsonaro, em meio a recordes de desmatamento na Amazônia?

É de se esperar cobranças mais duras do governo brasileiro. Com o novo enfoque no clima pode haver, por exemplo, mais controle sobre as emissões de gases do efeito estufa na cadeia produtiva – o que pode levar a restrições na importação de produtos do Brasil, como a carne, e também a própria soja, na medida em que fique configurada a correlação entre o desmatamento e a expansão da soja.

Mesmo que o governo brasileiro tente negar, essa relação é óbvia. Tudo vai depender da capacidade do partido Verde de impor os seus valores na disputa interna de poder entre os diferentes ministérios. [Continua após o vídeo.]

O Partido Liberal Democrático, que assumirá a pasta das Finanças no novo governo, não poderá frear essa pressão em nome dos interesses comerciais da Alemanha – que tem no Brasil seu maior parceiro na América do Sul?

Nós vamos ver um jogo de forças. O novo ministro das Finanças, Christian Lindner, é a favor da liberdade completa da economia. E o partido liberal é, por definição, muito favorável aos atores econômicos. Em que medida esses interesses poderão ser contrariados para atender aos interesses do respeito ao meio ambiente e das minorias, e à contenção da mudança climática, para que lado vai pender a balança entre essas duas forças, é algo que ainda está em aberto.

Mas os liberais ratificaram, no acordo de coalizão, a proposta de fortalecimento das sociedades na luta contra o populismo, os movimentos autoritários e as ditaduras na América Latina. Nesse aspecto, pelo menos, eles não estão afinados?

Com certeza. Ainda que possa haver diferenças em relação à economia, no que diz respeito à proteção da democracia e das liberdades individuais, como na manifestação da sexualidade, o Partido Liberal é tão rigoroso e intransigente quanto os social-democratas e os verdes.

Nesse sentido, eles têm nos liberais um aliado muito forte. E a parte que se refere à América Latina e ao Caribe diz claramente que uma das prioridades é apoiar os movimentos sociais que defendem a democracia, e fortalecer as lutas contra populistas ou autocratas nessa região. Isso indica que o novo governo irá incentivar movimentos que trabalhem com os mesmos valores que ele, buscando alianças. E isso pode ter consequências, obviamente, em relação ao Brasil. Sob esse ponto de vista, pode ser esperar uma clareza maior do que nos governos comandados por Merkel.

::Análise | O fim da Era Merkel e a volta da centro-esquerda ao poder na Alemanha: e agora?::

O acordo de coalizão condiciona o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia a compromissos vinculantes nas áreas de meio ambiente e direitos humanos. Haverá impacto sobre a ratificação desse acordo?

Sim, as coordenadas já não são favoráveis, e agora pode haver uma reviravolta. Não existe a menor dúvida de que o grande fantasma – mesmo que não seja mencionado o nome dele – para o acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul se chama Bolsonaro.

O medo do que Bolsonaro significa em termos de clima, direitos humanos e democracia é que impede esse acordo de já estar completamente consolidado e assinado. É de se esperar que a nova coalizão seja ainda mais intransigente na exigência de compromissos com relação à proteção do meio ambiente e dos direitos humanos. Não só a Alemanha vai mudar, como a UE deve ter um papel mais pronunciado em relação à proteção do clima e ao meio ambiente. Com a influência da Alemanha, essa passa a ser uma agenda europeia.

O Ministério para Cooperação e Desenvolvimento, responsável pelo Fundo Amazônia, vai passar para as mãos dos social-democratas. As diferenças em relação ao governo Bolsonaro devem se aprofundar ainda mais?

Sem dúvida. Simbolicamente, esse é um ministério muito importante. Ele tem capilaridade e penetração social, e atinge desde instituições de caridade até ONGs, inclusive na região Amazônica. Nele se define qual o desenvolvimento que se quer promover e cofinanciar.

E é claramente o desenvolvimento sustentável, não só socialmente, mas também ambientalmente. A discussão sobre o Fundo Amazônia estava nas mãos do partido CSU (União Social Cristã, conservadora), que detinha o ministério, e endureceu a relação a ponto de cortar esses recursos.

Duas pautas frequentes das negociações com o Brasil eram a proteção do meio ambiente e de minorias - sobretudo da população indígena. Mas sempre houve um cuidado de não provocar rupturas. Sob a regência do partido social-democrata essas exigências devem ser ainda mais enfáticas, com programas de cooperação e transferência de recursos sendo usados para pressionar o governo brasileiro.

Um novo governo na Alemanha seria capaz de influenciar, de alguma forma, as eleições no Brasil em 2022, levando em conta a antiga relação entre os social-democratas, que estarão no poder, e Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje desponta como favorito?

Não acredito que a política externa possa ter uma importância tão grande nas eleições do Brasil, um país continental onde os eleitores se preocupam pouco com a política externa. Nas últimas eleições, a Venezuela ganhou importância. Mas era muito mais porque as pessoas temiam que o Brasil se tornasse uma Venezuela.

Episódios recentes, porém, dão uma boa medida das relações entre Brasil e Alemanha hoje. Por exemplo, a liderança de um partido de extrema-direita, a AfD, foi recebida no Brasil por Bolsonaro. Este é um partido marginal na política alemã. Nenhum ator democrático aceita qualquer cooperação com a AfD na Alemanha e na Europa.

Ao mesmo tempo, Lula foi recebido pelo futuro chanceler federal (Olaf Scholz) quando veio à Europa. Isso tem uma importância simbólica. Pode ressaltar as diferenças entre Lula e Bolsonaro, que nunca conseguiu ter receptividade na Europa - a não ser da extrema direita. E pode até ter algum impacto para um eleitorado mais escolarizado e atento. Mas a influência disso na eleição será muito pequena.

SAIBA MAIS: Encontro de Bolsonaro com extremista alemã expõe "articulação global da extrema direita"

Bolsonaro também não foi recebido por Angela Merkel – que, por sua vez, nunca visitou o Brasil durante o  governo dele. Esse distanciamento tende a piorar?

O Brasil, do ponto de vista da política exterior, ficou completamente isolado, sobretudo depois da derrota do Trump (Donald Trump, ex-presidente americano), que não foi reeleito. Seus parceiros internacionais são hoje países sem grande expressão. Ninguém quer se aproximar do Brasil na arena internacional. Não é, obviamente, pelo país, nem pela sociedade, nem pela sua potencialidade econômica e social. É pelo governo que ele tem. Há um distanciamento claro do governo Bolsonaro.

Os diplomatas, inclusive embaixadores brasileiros no exterior, estão isolados, porque nenhum país democrático quer cooperar estreitamente com o Brasil. O governo da Merkel não foi diferente. Colocou o Brasil na geladeira.

Apesar do histórico de relações bastante intensas, não só econômicas, mas também políticas e diplomáticas, essa cooperação estratégica perdeu a importância nos últimos anos. O que pode acontecer agora, com a nova coalizão, é que esse distanciamento passe a ser ativo. Não como no governo Merkel, que evitou as relações com o Brasil. Com a nova coalizão, pode haver uma cobrança de fato em relação ao Brasil.

https://www.brasildefato.com.br/2021/12/08/brasil-deve-esperar-cobrancas-mais-duras-da-alemanha-diz-professor-da-universidade-de-berlim

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

G4, mais uma tentativa inutil para reformar o Grand Machin - Nota do MRE e Paulo Roberto de Almeida

 Desde o início, ainda em 2004 ou pouco depois disso, eu considerei contraprodutiva a constituição desse grupo, que em minha opinião mais afastava do que aproximava o Brasil de seu objetivo último: reformar a Carta da ONU, ampliar o seu Conselho de Segurança e colocar o Brasil como membro permanente do CS dessa “grande geringonça”, como o general De Gaullese referia à ONU.

Eu dizia que era melhor o Brasil estar sozinho nos esforços do que unir-se a países com problemas e obstáculos muito maiores do que os nossos, como era manifestamente o caso de Japão, Índia e mesmo Alemanha.

O chanceler do lulopetismo tinha verdadeiro ódio por eu expressar tal opinião, publicamente e sem restrições.

Paulo Roberto de Almeida 


Ministério das Relações Exteriores

Departamento de Comunicação Social

 

 

Nota nº 116

22 de setembro de 2021

 

Comunicado Conjunto da Reunião Ministerial do G4 – Nova York, 22 de setembro de 2021

 

1. Em 22 de setembro de 2021, os chanceleres dos países do G4, Exmo. Sr. Carlos Alberto Franco França, Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Exmo. Sr. Heiko Maas, Ministro Federal do Exterior da Alemanha, Exmo. Sr. Subrahmanyam Jaishankar, Ministro dos Negócios Exteriores da Índia, e Exmo. Sr. Motegi Toshimitsu, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão, reuniram-se durante a 76a sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), em Nova York. Os Ministros sublinharam a urgência da reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, de modo a torná-lo mais legítimo, eficaz e representativo, ao refletir a realidade do mundo contemporâneo, incluindo países em desenvolvimento e os principais contribuintes.

2. Os Ministros do G4, ao passarem em revista os trabalhos da 75a Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, acolheram que, em sua Decisão 75/569, a Assembleia refletiu o comprometimento de todos os Chefes de Estado e Governo em “injetar vida nova nas discussões sobre a reforma do Conselho de Segurança”, conforme mencionado na Declaração de comemoração do 75o aniversário das Nações Unidas (A/RES/75/1). Nesse contexto, os Ministros celebraram, também, a prontidão do Secretário-Geral da ONU em oferecer o apoio necessário à reforma, segundo expresso em seu relatório “Nossa Agenda Comum”, de 10 de setembro de 2021. Os Ministros acolheram, ainda, o fato que o Documento de Elementos preparado pelas cofacilitadoras das Negociações Intergovernamentais (IGN) apresentou avanços, com atribuições parciais das posições e propostas dos Estados Membros.

3. Os Ministros do G4 expressaram sua forte determinação em trabalhar para o lançamento, sem delongas, de negociações baseadas em texto no âmbito das IGN, com base em um documento único, com vistas à sua adoção pela Assembleia Geral. Para este fim, os Ministros instruíram suas delegações junto às Nações Unidas a apoiarem os esforços do Presidente da 76a sessão da AGNU e das cofacilitadoras das IGN, assim como a identificarem caminhos para se elaborar documento único e consolidado, que servirá de base para projeto de resolução. Os Ministros decidiram intensificar o diálogo com todos os Estados Membros interessados, incluindo outros países e grupos alinhados à defesa da reforma do Conselho, com o objetivo de buscar conjuntamente resultados concretos em um prazo determinado. 

4. Os Ministros reafirmaram o caráter indispensável da reforma do Conselho de Segurança, por meio da expansão de ambas as categorias de assentos, permanentes e não-permanentes, de modo a habilitar o Conselho a lidar com a complexidade e os crescentes desafios à manutenção da paz e segurança internacionais, e assim, exercer seu papel de maneira mais efetiva. Nesse contexto, os Ministros expressaram seu firme apoio à Posição Comum Africana (CAP), conforme estabelecida no Consenso de Ezulwini e a Declaração de Sirte.

5. Os Ministros do G4 reiteraram seu apoio às candidaturas dos membros do grupo a novos assentos permanentes em um Conselho de Segurança reformado.

 

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G4 Ministerial Joint Press Statement

1. On 22 September 2021 the Foreign Ministers of the G4 countries, H.E. Mr. Carlos Alberto Franco França, Foreign Minister of Brazil, H.E. Mr. Heiko Maas, Federal Foreign Minister of Germany, H.E. Dr. Subrahmanyam Jaishankar, Minister for External Affairs of India, and H.E. Mr. Motegi Toshimitsu, Minister for Foreign Affairs of Japan, met during the 76th session of the United Nations General Assembly in New York. The Ministers underlined the urgency of reforming the Security Council in order to make it more legitimate, effective and representative by reflecting the reality of the contemporary world including developing countries and major contributors.

2. The G4 Ministers, reviewing the work of the 75th session of the United Nations General Assembly, welcomed that the Assembly reflected in its Decision 75/569 the commitment of all Heads of State and Government to “instil new life in the discussions on the reform of the Security Council”, as mentioned in the Declaration on the commemoration of the 75th anniversary of the United Nations (A/RES/75/1). In this context, the Ministers also welcomed the readiness of the UN Secretary-General to provide necessary support, as expressed in his report “Our Common Agenda” of 10th September 2021. The Ministers further welcomed that the Elements Paper prepared by the Co-Chairs of the Intergovernmental Negotiations (IGN) has evolved, with partial attributions of the positions and proposals of Member States.

3. The G4 Ministers expressed their strong determination to work towards launching text-based negotiations without further delay in the IGN, on the basis of a single document, with a view to its adoption in the General Assembly. The Ministers instructed, to this end, their delegations to the United Nations to support the efforts of the President of the 76th General Assembly and the Chair(s) of the IGN, and to identify ways to develop a single consolidated text as a basis for a draft resolution. The Ministers decided to intensify dialogue with all interested Member States, including other reform-minded countries and groups, in order to seek concrete outcomes in a definite time-frame.

4. The G4 Ministers reaffirmed that it is indispensable to reform the Security Council through an expansion of both categories, permanent and non-permanent seats, to enable the Security Council to better deal with the ever-complex and evolving challenges to the maintenance of international peace and security, and thereby to carry out its duties more effectively. In this context, the Ministers expressed their strong support to the Common African Position (CAP) as enshrined in the Ezulwini Consensus and the Sirte Declaration.

5. The G4 Ministers reiterated their support for each other’s candidatures as aspiring new permanent members in a reformed Security Council.

[Nota publicada em: https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/comunicado-conjunto-da-reuniao-ministerial-do-g4-2013-nova-york-22-de-setembro-de-2021 ]

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

A Alemanha precisa ser forte outra vez ? - Dominique Moisi

Institut Montaigne, Paris – 14.9.2021

La nouvelle angoisse du "Trop peu d'Allemagne"

La réunification de l'Allemagne au début des années 1990 a fait craindre à ses voisins européens la résurgence d'une puissance qui avait commis le pire 50 ans plus tôt. Aujourd'hui, c'est le risque d'une Allemagne trop faible sur le plan militaire et géopolitique qui doit nous interroger.

Dominique Moîsi

 

"La réunification de l'Allemagne est une bonne nouvelle pour l'Europe, pas pour la France", aurait dit en privé François Mitterrand. Au lendemain de la réunification allemande, la presse internationale était remplie de caricatures représentant le chancelier Helmut Kohl coiffé du casque à pointe, cher à Bismarck et Guillaume II. Tout semblait se passer comme si, du seul fait de la réunification, le "problème allemand" était revenu. Il y avait simplement à nouveau trop d'Allemagne en Europe, comme il y avait eu trop d'Espagne jusqu'à la déroute de "La Grande Armada" à la fin du XVIème siècle, trop de France entre Louis XIV et Napoléon, et puis trop d'Allemagne de 1871 à 1945.

Trop puissante et dynamique économiquement, trop forte démographiquement - trop bon élève aussi peut-être de la classe atlantique et européenne - l'Allemagne n'était plus seulement une source d'irritation, elle était redevenue une source d'inquiétudeOublié le discours prononcé plus de quatre ans avant la chute du mur de Berlin, le 8 mai 1985, par le président de la République fédérale, Richard Von Weizsäcker. L'Allemagne n'a pas été défaite le 8 mai 1945, disait-il aux Allemands. Elle a été libérée d'un régime criminel qui l'avait placée au ban de l'humanité.

Avec Konrad Adenauer, l'Allemagne avait normalisé sa relation avec l'Ouest de l'Europe. Elle en avait fait de même avec l'Est de l'Europe grâce à Willy Brandt. Avec Richard Von Weizsäcker, l'Allemagne normalisait sa relation avec elle-même : une normalité allemande qui passait par l'autocritique la plus sévère et la plus lucide.

 

Exigence de normalization

 

Ce rappel historique n'est pas inutile. En 2021, l'Allemagne doit faire face à une quatrième exigence de normalisation. Et c'est l'évolution géopolitique du monde, que l'Allemagne doit intégrer dans sa psyché d'abord et traduire dans ses politiques ensuite. Cette dernière forme de normalisation est l'enjeu profond des élections du 26 septembre prochain. Les voisins et amis de l'Allemagne en sont parfaitement conscients. Et de fait leur préoccupation (celle de la France, en particulier) est exactement l'inverse de ce qu'elle pouvait être il y a trente ans. À la peur qu'une Allemagne trop forte puisse dominer l'Europe, s'est substituée la crainte qu'une Allemagne guidée par des dirigeants trop faibles, soit incapable de jouer le rôle que l'on attend d'elle dans le nouveau contexte géopolitique mondial. Autrement dit, on est passé de l'angoisse du "trop d'Allemagne" à celle du "trop peu d'Allemagne" qui signifierait "trop peu d'Europe".

Après le long "règne" d'Angela Merkel, une telle crainte est naturelle. Il est difficile de succéder à "Mutti". Le bilan de son action est contrasté et fait et fera l'objet de débats virulentsTel n'est pas le cas de sa personne. Première femme à la tête de l'Allemagne, Angela Merkel a su au fil des années, imposer sa modération, sa lucidité, sa dignité, son sens de l'humour aussi. Sa réputation a traversé les frontières.

Une candidate à la présidentielle en France, Valérie Pécresse, se présente comme "deux tiers Merkel, un tiers Thatcher". En Allemagne, c'est paradoxalement le candidat du SPD Olaf Scholz qui a su bénéficier de cette nostalgie pour la personnalité rassurante, presque consensuelle d'Angela Merkel.Il se présente comme le plus proche héritier de la chancelière et le véritable candidat de la continuité. Ce qui n'est pas en soi une véritable surprise, compte tenu des orientations presque "sociales-démocrates" d'Angela Merkel et de l'extrême modération centriste d'Olaf Scholz lui-même.

 

Les questions de Défense

 

Mais il est un domaine clé - et c'est le cœur du problème - où le SPD n'a pas évolué ou si peu : les questions de défense. Elles demeurent ainsi très largement absentes du programme d'un parti, qui est encore dominé par une ligne, qui continue de flirter avec l'antimilitarisme. Comment mettre l'accent sur une continuité rassurante lorsque l'Histoire frappe lourdement à la porte et exige plus de ruptures que de continuité, surtout sur les questions de géopolitique ?

En 1991, la peur d'une Allemagne trop forte était largement dépassée, anachronique même. Qu'y avait-il vraiment à craindre de l'Allemagne, à l'heure où, "l'Amérique hyperpuissance", pour reprendre la formule d'Hubert Védrine, dominait le monde ? En 2021 à l'inverse, la crainte d'une Allemagne qui continuerait d'être absente géopolitiquement, alors même qu'elle demeure une puissance incontournable sur le plan économique, est beaucoup plus fondée. De fait, il existe comme un décalage toujours plus grand, entre l'évolution de l'Allemagne et celle du monde.

Il est un domaine clé - et c'est le cœur du problème - où le SPD n'a pas évolué ou si peu : les questions de défense. 

Certes, et c'est peut-être l'essentiel, l'Allemagne continue d'être sur le plan des valeurs, politiquement rassurante. Le parti d'extrême droite, l'AFD, ne fait guère plus, selon les derniers sondages, que 10 % des intentions de votes. Ce qui est moins de la moitié des voix attribuées au Rassemblement national en France. Mais comment "réveiller l'Europe" à ses responsabilités géopolitiques face à la Chine et à la Russie, - et ce dans un contexte nouveau dominé par l'absence de l'Amérique - lorsque le parti qui s'apprête peut-être à accéder au pouvoir dans le plus important pays d'Europe, demeure figé dans une logique et un discours largement antimilitariste ?

 

Servitude volontaire

 

La Grande-Bretagne a quitté l'Union attirée par les mirages d'un projet "Global Britain" qui a montré toute sa vacuité au lendemain du retrait américain de Kaboul. L'Italie, derrière Mario Draghi, surprend heureusement ses détracteurs traditionnels, comme ses amis fidèles. Mais quel que soit son dynamisme, son énergie, elle ne saurait se substituer sur le plan géopolitique à l'Allemagne. Reste bien sûr la France, avant les élections d'avril 2022. À en croire les sondages, Emmanuel Macron fait la course en tête. Mais la vérité d'aujourd'hui n'est pas nécessairement celle de demain.

Ce qui est certain, c'est que plus que jamais, la France a besoin à ses côtés d'une Allemagne forte qui ait intégré dans ses choix et son comportement les changements radicaux qui sont en train de se produire sur l'échiquier du monde. Ne nous y trompons pas, l'alternative à une Europe forte et lucide, c'est une Europe qui, victime de ses incertitudes et de ses divisions, prendrait le chemin d'une servitude volontaire. C'est aussi cela l'enjeu des élections allemandes du 26 Septembre.

 

Dominique Moïsi est un politologue et géopoliticien français. Il rejoint l'Institut en septembre 2016 comme conseiller spécial, notamment afin d'accompagner le développement de sa stratégie internationale.

Membre fondateur de l’Institut français des relations internationales (Ifri) en 1979, il en a été le directeur adjoint puis conseiller spécial. Actuellement professeur au King’s College à Londres, il a enseigné à l'université d’Harvard, au Collège d'Europe, à l'École nationale d'administration, à l'École des hautes études en sciences sociales ainsi qu’à l'Institut d'études politiques de Paris. Chroniqueur aux Echos et à Ouest France, il publie également des articles dans le Financial Times, le New York Times, Die Welt et d'autres quotidiens. Il est membre de la Commission Trilatérale.

Il est diplômé de Sciences Po Paris et d'Harvard, il obtient un doctorat en Sorbonne sous la direction de Raymond Aron, dont il a été l’assistant.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Cultura e história alemã serão assuntos no Goethe-Institut São Paulo em agosto (Estadão)

 Cultura e história alemã serão assuntos no Goethe-Institut São Paulo em agosto


CONTEÚDO ESTADÃO
da Redação

O Goethe-Institut São Paulo, órgão cultural do governo da Alemanha, oferecerá, a partir de agosto, uma imersão na história, nos costumes e na política alemã.

A instituição irá oferecer cursos especiais que vão abordar desde a biografia de irmãos muito conhecidos como Jacob e Wilhelm Grimm, Alexander e Wilhelm von Humboldt e Fanny e Felix Mendelssohn, passando pelo Romantismo, até a presença de partidos políticos alemães no Brasil, suas fundações e ideologias.

Além do ensino do idioma, o Goethe-Institut São Paulo oferece esses cursos especiais para pessoas que já têm conhecimento básico da língua, com uma proposta de unir o ensino do alemão com aspectos culturais e históricos da Alemanha.

Por causa da pandemia de covid-19, os cursos estão sendo ministrados em plataforma online. O instituto também oferece cursos de alemão direcionados a profissionais de direito, de saúde e tradutores, além dos preparatórios para exames de proficiência.

Para participar, basta entrar em contato com o Goethe-Institut para mais informações. Confira a programação.

CURSOS ESPECIAIS GOETHE-INSTITUT EM AGOSTO:

Resistência ao nacional-socialismo: biografias, cartas e diários dos combatentes da resistência

A história do Nacional-Socialismo a partir da perspectiva de grupos de resistência e pessoas que se opõem ao sistema e trabalhavam pela paz e justiça, como Sophie Scholl, Helmuth James Graf von Moltke e Dietrich Bonhoeffer.

Quando: De 5/8 a 10/8, das 18h45 às 22h

Biografias de irmãos - parte 1

As histórias de vida dos irmãos muitas vezes refletem a situação histórica de todo um século. A relação entre assuntos sociopolíticos e privados como um influenciado o outro mutuamente será analisada a partir de três biografias de diferentes épocas: Jacob e Wilhelm Grimm, Alexander e Wilhelm von Humboldt e Fanny e Felix Mendelssohn.

Quando: De 16/8 a 4/10, das 20h30 às 22h

A época do Romantismo e seus temas centrais

"Romântico": conceito este conceito compreende o sinistro, o fantástico, o assunto, trata das personagens aventureiras e apaixonadas. O Romantismo Negro, em particular, manifestou o fascínio por ocorrências estranhas e malignas. ETA Hoffmann, com as suas histórias de Sandmann e da Casa Vazia, é um exemplo paradigmático do narrador irônico e pouco confiável desta época. Neste curso texto explicativo e ocasionalmente adaptações cinematográficas e musicais para entender aspectos específicos da época do Romantismo.

Quando: De 26/8 a 9/12, das 18h45 às 20h15

Os partidos políticos alemães no Brasil - suas fundações e ideologias

Os partidos políticos alemães estão ativamente presentes no Brasil há muitos anos através de suas fundações, que oferecem bolsas de estudo e programas diferentes. Neste curso, vamos explorar as ideias e os políticos por trás dessas fundações. Um panorama compacto de 1950 até hoje, incluindo retratos dos três candidatos ao cargo de Chanceler Federal após 16 anos de Angela Merkel: Olaf Scholz, Armin Laschet e Annalena Baerbock.

Quando: 16/8 a 13/12, das 18h45 às 20h15

SERVIÇO:
Cursos especiais Goethe-Institut
Quando: a partir de agosto
Onde: Online pela plataforma Zoom
Contactos : cursos-saopaulo@goethe.de ou pelo telefone (11) 3296-7000, das 9h às 18h

(Com Agência Estado)

https://www.hnt.com.br/brasil/cultura-e-historia-alema-serao-assuntos-no-goethe-institut-sao-paulo-em-agosto/233525

sábado, 16 de janeiro de 2021

Neonazismo renascendo na Alemanha, armado e disposto a matar - BBC News Brasil

 A velha Alemanha nazista, xenófoba, racista estaria de volta? E ao velho estilo do putsch da Cervejaria? Dispostos a matar imigrantes e alemães simpáticos à imigração? A reportagem é deveras assustadora...

Paulo Roberto de Almeida

O que é o Dia X, o colapso político e econômico pelo qual esperam neonazistas alemães?

  • Gabriel Bonis
  • De Berlim para a BBC News Brasil
Braço segura máscara em ambiente ao ar livre
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Extremistas de direita da Alemanha incorporaram teoria da conspiração que prevê colapso do país

O colapso da sociedade alemã se aproxima e é preciso se preparar para o "Dia X", quando a ordem e o governo da Alemanha sucumbirão. Àqueles prontos para esse momento caberá, então, salvar a nação do desastre. Ao menos, é isso o que prevê uma teoria da conspiração abraçada por extremistas de direita e neonazistas no país.

Diversos grupos, grande parte deles organizados em fóruns na internet ou via o aplicativo de mensagens Telegram, se previnem para esse dia com estoques de alimentos, bebidas alcóolicas, remédios, armas e muitas, muitas munições.

Alguns até aguardam uma guerra entre alemães e "imigrantes e muçulmanos", porque temem uma "substituição" da população alemã por estrangeiros que supostamente não seguem os valores do país.

Ainda que o "Dia X" aparente ser apenas mais uma teoria da conspiração, nos últimos anos os preppers (pessoas que se preparam para cenários apocalípticos) da extrema direita alemã têm preocupado as autoridades do país.

Mas, na Alemanha, o "Dia X" entrou na agenda de parte da extrema direita, após a crise de refugiados de 2015, quando mais de 1 milhão de solicitantes de asilo chegaram ao país fugindo de locais como Síria e Iraque.

"Conforme a crise se desenvolveu, houve um aumento do populismo de direita, do AfD [partido de extrema direita que se tornou a terceira força no parlamento federal], de todos os tipos de grupos de direita e, então, dentro do movimento prepper, as pessoas se inclinaram mais para a direita", afirma à BBC News Brasil Hans-Jakob Schindler, diretor do Projeto Contra-Extremismo (CEP), organização sem fins lucrativos dedicada a combater ideologias extremistas.

Uma das principais redes de preppers é a Nordkreuz (Cruz do Norte, em alemão), com mais de 30 integrantes. Parte destes indivíduos eram membros da Spezialeinsatzkommandos (SEK), unidade de operações especiais da polícia do Estado da Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental — um deles, inclusive, ainda estava na ativa quando o grupo passou a ser investigado em 2017.

A Nordkreuz, segundo as investigações, compilou uma lista com 25 mil nomes de opositores que poderiam ser alvos de ataques no cenário do "Dia X", incluindo políticos locais pró-refugiados e até mesmo o ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas, e o ex-presidente alemão Joachim Gauck. Além disso, a preparação incluiu a encomenda de 200 sacos usados para descartar cadáveres humanos.

Caderno com marca de X escrita
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Perspectiva de um 'Dia X' move 'preppers' na Alemanha

No fim de 2019, Marko Groß, uma das figuras centrais da Nordkreuz e integrante da SEK, foi julgado por violação de leis sobre armas de guerra e de controle de armamentos, além de fraude por ter armazenado e, supostamente, recebido armas do Exército alemão.

Em duas buscas em propriedades ligadas ao suspeito, as autoridades encontraram mais de 50 mil cartuchos de munições, diversas armas e ao menos 18 munições classificadas como armas de guerra. Groß recebeu uma sentença de 21 meses. Os procuradores recorreram da decisão. Outros membros do grupo estão sob investigação.

"Acompanhei o julgamento e fiquei chocado com a facilidade com que o juiz principal e seus colegas conseguiram menosprezar uma conspiração aberta de cidadãos 'honestos', como policiais, caçadores, médicos e membros de clubes de tiro, para pegar em armas quando o 'Dia X' ocorrer", diz Friedrich Burschel, conselheiro sênior sobre neo-nazismo e estruturas/ideologias de discriminação na Fundação Rosa-Luxemburgo, em Berlim.

A Nordkreuz, destaca Burschel, montou refúgios, estocou alimentos, água, gasolina, produtos sanitários, "armas e munições, explosivos e outros dispositivos assassinos", além de manter um fórum online com conteúdos "bastante explícitos" e referências diretas ao regime nazista.

"Eles encaminharam fotos de Hitler em frente à torre Eiffel, em Paris, com a legenda 'Chegada da delegação antiterror alemã', ou fotos mostrando um soldado da SS atirando em vítimas caídas no chão com o título 'pedido de asilo rejeitado'", diz.

As Cortes alemãs, acredita Schindler, enfrentam dificuldades para lidar com esses grupos, porque a "questão crucial" é se eles apenas aguardam um colapso social involuntário ou se estão organizando um levante para criar esse cenário.

Logo, ainda que circulem na internet planejamentos detalhados sobre o que aconteceria no "Dia X", é complexo provar uma intenção destes grupos em cometer atos terroristas ou de realizar um golpe de Estado.

"Pelo menos até agora, os tribunais não conseguiram provar além de qualquer dúvida razoável que a lista [da Nordkreuz] era, na verdade, sobre pessoas que eles querem matar. Eles não fizeram nada de concreto ainda", explica Schindler, que também atuou na Organização das Nações Unidas (ONU) e no governo alemão em projetos de inteligência contra a Al-Qaeda, o Estado Islâmico e o Talebã.

Recrutamento nas forças policiais

diversas armas sobre mesa
Legenda da foto,

Munições e diversas armas já foram encontradas com adeptos de movimento que busca preparação para caos na Alemanha

Um relatório confidencial da Europol, a agência policial da União Europeia, divulgado pela emissora pública alemã Norddeutscher Rundfunk (NDR), revela a preocupação da entidade com a estratégia de grupos de extrema direita em tentar recrutar integrantes de forças policiais e do Exército.

O objetivo seria conseguir armas e munições, além de ter membros com treinamento militar, capacidade física e conhecimento de defesa pessoal. Na Alemanha, destaca Schindler, indivíduos com esse perfil são ainda mais úteis por terem acesso a armas em um país no qual esse processo não é simples para civis.

"Uma combinação de pessoas que pensam que a ordem social vai acabar — e que já estão fazendo uma lista de inimigos a serem executados se isso acontecer — e a coleta de armas e munições por indivíduos altamente treinados é uma tendência bastante preocupante", diz.

Problema grave nas Forças Armadas

A Bundeswehr, que tem cerca de 263 mil funcionários entre civis e militares, sofre há anos com escândalos de ligações de seus membros com a extrema direita.

Em janeiro de 2020, o portal RedaktionsNetzwerk Deutschland (RND) revelou que o serviço de contra inteligência militar (MAD) havia investigado 208 oficiais das Forças Armadas nos últimos quatro anos por suspeitas de ligação com extremismo de direita. O dado veio de uma resposta do Ministério da Defesa a um pedido de parlamentares federais.

O documento afirma que 34 desses oficiais tiveram que responder a uma Corte disciplinar militar. Entre os soldados, 147 foram julgados: 57 receberam medida disciplinar por "ofensas criminais com envolvimento com da extremismo de direita". Ao todo, 1173 soldados e 83 servidores públicos da Bundeswehr foram identificados como suspeitos de ligações com a extrema direita.

"Certamente, houve um problema de anos e anos de não se levar isso a sério o suficiente. Comparado com a quantidade de pessoas nas forças de segurança, esse número é insignificante. Ainda assim, centenas integraram essas redes com acesso a armas", afirma Schindler.

Em um dos casos mais recentes, as autoridades descobriram 2 kg de explosivos plásticos, um detonador, um fusível, um AK-47, um silenciador, facas e milhares de cartuchos de munição (muitos dos quais podem ter sido extraviados do exército) na propriedade rural de Philipp S., um sargento da Kommando Spezialkräfte (KSK), a tropa de elite especial das Forças Armadas.

No local também foram encontradas memorabilia nazista, como um livro de canções da Schutzstaffel (SS), uma organização paramilitar do regime de Adolf Hitler. O episódio pressionou o Ministério da Defesa a explicar como neonazistas passaram despercebidos dentro da corporação por tanto tempo.

O problema com a infiltração de extremistas de direita na KSK é tão grave que a ministra da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, desmontou uma das quatro companhias da corporação em julho. O resto da unidade especial, que atua em operações antiterrorismo e de resgate de reféns em áreas hostis, pode ter o mesmo destino se não conseguir implementar reformas profundas até 31 de outubro de 2020.

De máscara, a ministra da defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer, caminha em pátio, com homem fardado e helicóptero atrás
Legenda da foto,

Infiltração de extremistas de direita na KSK é tão grave que a ministra da defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer, desmontou recentemente uma das quatro companhias da corporação

Segundo o MAD, ao menos 20 soldados da KSK estão sob investigação por suspeitas de ligações com a extrema direita.

"O MAD não faz ideia do que está acontecendo nas Forças Armadas. As coisas aparecem acidentalmente, perguntas ficam sem resposta e as redes de extremistas de direita fortemente armados no Exército podem se desenvolver quase sem serem perturbadas", diz Burschel.

A intervenção do Ministério da Defesa na KSK indica quão profundamente esta crise atinge as tropas. O órgão admite, por exemplo, não saber determinar onde 37 mil cartuchos de munição excedente foram disparados, usados ou armazenados, e que 48 mil cartuchos de munição e 62 kg de explosivos desapareceram.

"É muito grave que em quase todos os grupos presos por suspeita de envolvimento com atividades terroristas de direita, se encontre policiais ou ex-policiais e soldados ativos. Tropas desse tipo e estruturas de ordem e obediência com raízes no militarismo e mitos de heroísmo de soldados são fertilizantes para ideologias fascistas e nacionalistas", afirma Burschel.

Governo admite o problema

Em nota à BBC News Brasil, um porta-voz do Ministério da Defesa alemão reconheceu que os sucessivos casos recentes de suspeitos de extremismo na KSK "causaram danos duradouros" à "confiança essencial" do Parlamento e da sociedade nas Forças Armadas.

O Ministério disse estar adotando "uma linha-dura ao buscar sistematicamente a investigação e a exposição de todas as circunstâncias dos casos individuais, bem como possíveis redes e estruturas facilitadoras". Mas destacou que "a maioria absoluta" da Bundeswehr está comprometida em respeitar a Constituição do país.

"A KSK alcançou resultados notáveis em todas as suas operações desde 1998. No entanto, a análise dos últimos eventos e casos de extremismo de direita deixa claro que a KSK ganhou vida própria […]. Isso resultou em partes da KSK desenvolvendo liderança tóxica, tendências extremistas e manuseio negligente de material e munições que não cumpriam totalmente com os regulamentos aplicáveis da Bundeswehr. A supervisão do comando em todos os níveis acima da companhia subestimou ou não reconheceu desenvolvimentos alarmantes nesses segmentos por muito tempo", disse o porta-voz.

O governo admitiu que o MAD "não cumpriu as suas responsabilidades" em relação ao problema, mas avalia que mudanças feitas no fim do ano passado melhoraram o serviço de contra inteligência militar, possibilitando a descoberta de casos como o de Philipp S.

Dados da investigação, contudo, vazaram do MAD para membros da KSK. Algo que o Ministério define como "uma falta de profissionalismo inaceitável". Segundo a nota, os métodos do MAD para combater o extremismo "ainda precisam de mais melhorias e profissionalização".