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quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Mercosul, entre a frigideira e o fogo, segundo Jose Botafogo Goncalves
MARCELO SALTON
DE SÃO PAULO
Valor Econômico, 28/08/2014
O embaixador e vice-presidente emérito do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), José Botafogo Gonçalves, criticou os pedidos para a eliminação da união aduaneira no Mercosul e destacou que a medida criaria problemas para a indústria brasileira.
"Eliminar a união aduaneira significa que todos podem importar livremente com tarifa zero. O efeito disso para São Paulo e Rio Grande do Sul seria catastrófico, se não for tomada nenhuma medida compensatória", afirmou.
O principal segmento prejudicado em São Paulo seria o automobilístico, porque concentra a maior parte de suas exportações para a Argentina. Além disso, as negociações de fabricantes de equipamentos para a produção agrícola do Rio Grande do Sul com o país vizinho poderiam ser afetadas.
A declaração de Gonçalves aconteceu na manhã desta quinta (28), durante a palestra 'Crise argentina: impacto para as exportações brasileiras', parte do Fórum de Exportação promovido pela Folha na Tucarena, em São Paulo.
O embaixador criticou a pouca importância dada ao tema pela presidente Dilma Rousseff e pela líder argentina, Cristina Kirchner, além dos candidatos ao Planalto.
Gonçalves destacou que há um equívoco quando se diz que o Mercosul não permite que o Brasil faça alianças bilaterais de comércio com outras nações.
"Não negociamos acordos com outros países porque não tivemos interesse, e não porque a Argentina não deixou", salientou.
O vice-presidente emérito do Cebri apontou como positivo o interesse da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) para que o Brasil construa acordos de livres comércio com Estados Unidos e Europa.
As parcerias chegaram a ser cogitadas durante a segunda metade da década de 1990 e o início dos anos 2000.
Ele também defendeu o fim da política de incentivo para que toda a cadeia de produção industrial seja realizada no país, apontando que a postura dificulta a competitividade brasileira no exterior. A solução, de acordo com Gonçalves, é repetir a postura adotada pela China, que é a de realizar a transferência de etapas anteriores da manufatura para nações vizinhas.
Para quem lamenta a maior participação do país asiático no comércio do Mercosul, o embaixador diz que o os empresários brasileiros não são vítima da situação. "Comentam que a Argentina abandona o Brasil, o Uruguai e o Paraguai, e abraça a China. E nós não estamos fazendo a mesma coisa? Qual é o nosso principal mercado?, questionou.