Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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domingo, 25 de março de 2012
Politica industrial esquizofrenica, politica economica improvisada
quinta-feira, 22 de março de 2012
La Journee des Dupes (ou, os enganados voluntarios)
Enganadores ativos, ou passivos, são basicamente hipócritas, ou seja: em lugar de discutir questões reais, os fundamentos verdadeiros dos problemas detectados, ficam brincando de soluciomática, isto é, identificam uma causa qualquer, geralmente errada, do problema em causa e apontam, invariavelmente, a solução errada, que apenas posterga o problema, e sua solução (que pode ser penosa).
Esses enganadores ativos e passivos acham que todos são idiotas, e vão acreditar nesse balé de mentiras convenientes, de hipocrisias mutuamente consentidas que proclamam.
Enfim, quem quiser passar por idiota, e se deixar enganar, passe bem. Comigo não funciona...
Paulo Roberto de Almeida
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Brasil: a caminho da introversao produtiva e do stalinismo industrial
Pois bem, essa "máquina"-- que nunca foi muito inovadora, e subsistiu sempre à custa de proteção tarifária, subsídios públicos e uma extensa panóplia de regras definidas pelo Estado -- está sendo agora destruída, não pela concorrência estrangeira, como parecem acreditar os ingênuos (à falta de melhor expressão) que nos governam, mas pelas próprias políticas distorcivas, espoliativas, "extrativas", enfim, estúpidas, do próprio governo (e isso há muito tempo).
O Brasil não tem um problema grave de atraso material, ou de disfunções técnicas, como ele tem um gravíssimo problema de atraso mental, que afeta os políticos em geral, os que estão no governo em particular, e também os capitalistas, que insistem em delegar ao "Robin Hood" que nos governa a direção dos seus assuntos microeconômicos.
O Brasil é um país que caminha rapidamente para a irrelevância industrial e produtiva, graças aos idiotas que nos governam...
Paulo Roberto de Almeida
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Dezoito montadoras terão redução de IPI até 31 de dezembro
Do MDIC
Brasília, 31 de janeiro de 2012 - Dezoito montadoras poderão usufruir, até 31 de dezembro de 2012, da redução de 30 pontos percentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre automóveis de passeio, comerciais leves e caminhões produzidos em suas fábricas instaladas no Brasil, Mercosul e México.
Esse será o percentual de aumento do IPI a partir de 2 de fevereiro, conforme o Decreto nº 7.567/2011, publicado com o objetivo de incentivar a produção nacional de automóveis. A avaliação das empresas foi feita pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e publicada no Diário Oficial desta terça-feira.
Foram habilitadas as empresas: Agrale S.A, Caoa Montadora de Veículos S.A., Fiat Automóveis S.A., Ford Motor Company Brasil S.A, General Motor do Brasil S.A., Honda Automóveis do Brasil S.A., Internacional Indústria Automotiva da América do Sul Ltda., Iveco Latin América Ltda., MAN Latin América Indústria e Comércio de Veículos Ltda., Mercedes-Benz do Brasil Ltda., MMC Automotores do Brasil S.A., Nissan do Brasil Automóveis Ltda., Peugeot Citroën do Brasil Automóveis Ltda., Renault do Brasil S.A., Scania Latin América Ltda., Toyota do Brasil Ltda., Volkswagen do Brasil Indústria de Veículos Automotores Ltda., Volvo do Brasil Veículos Ltda.
O aumento do IPI foi estabelecido pelo Decreto nº 7.567/2011 e vale até 31 de dezembro de 2012. As novas regras para gerir o regime automotivo, no período entre 1º de janeiro de 2013 e 31 de julho de 2016, conforme critérios estabelecidos na medida provisória nº 540/2011, estão sendo estudadas pelo governo.
Exigências
Para receber a habilitação definitiva do MDIC, as empresas cumpriram uma série de exigências técnicas e comprovaram regularidade fiscal, tributária e utilização da Escrituração Fiscal Digital (EFD), nos termos do disposto no Ajuste Sinief nº 2, de 3 de abril de 2009, conforme determinado pela Receita Federal. De acordo com a legislação, estará fora do aumento de imposto os automóveis de passeio, comerciais leves e caminhões que cumpram as seguintes exigências:
• Uso mínimo de 65% de conteúdo regional de peças - autopeças originárias de países-membros do Mercosul serão consideradas como produzidas no país.
• Realização de investimentos em atividades de inovação, de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico de produto no país, correspondentes a pelo menos 0,5% da receita bruta total de venda de bens e serviços, excluídos os impostos e contribuições incidentes sobre a venda.
• Desenvolvimento, no país, de pelo menos seis das seguintes atividades:
1.montagem, revisão final e ensaios compatíveis;
2.estampagem;
3.soldagem;
4.tratamento anticorrosivo e pintura;
5.injeção de plástico;
6.fabricação de motores;
7.fabricação de transmissões;
8.montagem de sistemas de direção, de suspensão, elétrico e de freio, de eixos, de motor, de caixa de câmbio e de transmissão;
9.montagem de chassis e de carrocerias;
10.montagem final de cabines ou de carrocerias, com instalação de itens, inclusive acústicos e térmicos, de forração e de acabamento; e
11.produção de carrocerias preponderantemente através de peças avulsas estampadas ou formatadas regionalmente.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Os iPads na ilha da fantasia - Kleuber Cristofen Kleber Cristofen PiresPires
A pretensão, repito, é ridícula, e custosa, e vai revelar mais uma vez como o Brasil é não apenas mercantilista, mas totalmente em descompasso com as tendências mundias de integração produtiva.
Nossos dirigentes são caipiras, e mais do que isso, são totalmente defasados no plano econômico e diplomático. O Brasil se isola num mundo cada vez mais globalizado, com políticas mesquinhas no plano econômico.
Paulo Roberto de Almeida
Os Ipad's na Ilha da Fantasia
Kleber Cristofen Pires
Posted: 26 Jan 2012 11:53 AM PST
Com a nacionalização de Ipad's,governo usa o casuísmo para fins eleitorais.
No dia 25/01/2012, foi publicada noDiário Oficial da União a Portaria Interministerial nº 034, de 23 de janeiro de 2012, que concede diversos benefícios fiscais à empresa taiwanesa FOXCONN Indústriade Eletrônicos Ltda, especialmente isenção de IPI, PIS e Cofins, para a produção de Ipad's em território nacional, mediante os compromissos de investimento em pesquisa e desenvolvimento e utilização de componentes de fabricação nacional segundo os percentuais estipulados pela parafernália de artigos contidos no Decretonº 5. 906/2006 e leis que o sustentam.
Desta forma, pretendem os nossos burocratas que os consumidores brasileiros sejam contemplados com os disputados produtos da Apple, tão inacessíveis atualmente, comunidades produzidas nacionalmente e a preços razoáveis.
Vejam, prezados leitores, a que ponto chegou o particularismo legislativo: Desta nossa Constituição esquizofrênica, da qual que se pode extrair o que se quiser conforme as interpretações convenientes ao momento, dá-se um pisão naquele artigo 5º, que diz sermos todos iguais perante a lei, e criam-se leis que fingindo de abstratas, foram e vão sendo sancionadas com vistas a atender interesses bastante específicos;adiante, baixa-se um decreto que as regulamente e que torça ainda um pouco mais a palmeira para se alcançar o coco que finalmente, será colhido por meio de uma portaria.
Tudo muito constitucional, tudo muito legal....mas nada justo!
Agora, por que eu, como dono de uma padaria ou de uma fábrica de fios têxteis, não tenho direito igualmente a tais isenções fiscais? Então eu também não preciso investir no desenvolvimento dos meus produtos?
O sistema constitucional e legal erguido sobre a doutrina positivista sempre há de desembocar nos particularismos justificados pelos argumentos mais criativos, para privilegiar os setores que o estado considera como estratégicos ou convenientes, por qualquer motivo, por mais esdrúxulo que seja,desde que ele seja a razão de ser de si próprio.
Na correr deste rio, são tragados como as terras caídas os nefastos potencialismos de seleção por parte de quem ocupa as cadeiras decisórias do estado, a decidir quem pode e quem não pode ser contemplado por suas benesses, conforme as retribuições que este possa prover para o agigantamento do poder dos agentes do estado.
Malgrado toda boa vontade e lídima honestidade possível neste mundo, nem por isto afasta-se o perigo do dirigismo estatal sobre a economia, fadando-se ao fracasso inexorável os seus projetos, pelo simples motivo de que em um sistema capitalista livre prevalece uma fantástica interdependência que não pode ser reproduzida em cativeiro.
Sobre isto, há um famoso artigo, chamado de “Eu, o lápis”, de Leonard E. Reed, que explica magistralmente a intrincada e impossível de rastrear teia de relações humanas capazes de fazer com que uma criança tenha em mãos o tão singelo instrumento de escrever, do qual reproduzo adiante um trecho para degustação:
Não há nenhuma pessoa na face da terra que saiba me fazer. Soa fantástico, não?
Minha árvore genealógica começa com uma árvore, um cedro de fibras retas que cresce no norte da Califórnia e em Oregon. Agora contemple todas as serras, tratores, cordas e incontáveis outros equipamentos utilizados na coleta e transporte dos troncos de madeira até a estrada de ferro. Pense agora em todas as pessoas e incontáveis habilidades que foram necessárias para a fabricação desses equipamentos: a mineração do ferro, a fabricação do aço e a transformação deste em serras, machados e motores; o cultivo do sisal e todo o seu processo de transformação em cordas fortes e resistentes; pense ainda nas áreas de corte dos troncos de cedro onde os lenhadores dormem em camas e têm as suas refeições servidas em grandes mesas em salas ainda maiores, o cozimento e cultivo de toda a comida necessária para alimentar a todos. Afirmo, milhares de anônimos são responsáveis por cada copo de café que os lenhadores bebem.
…
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Soberania economica, desindustrializacao e esquizofrenia economica
Para isso estão dispostos a tudo, ridiculamente, cedendo soberania econômica que tanto prezam (equivocadamente) no plano político, criando regras confusas no terreno da política industrial, fazendo do setor uma selva completa de miniregras setoriais que só alimentam a confusão nessa área.
Seria tão mais simples se as regras fossem universais, e para melhorar o ambiente de negócios no Brasil.
Economistas malucos acabam provocando desindustrialização no Brasil, mesmo quando a intenção é outra, ou exatamente oposta.
A empresa Foxconn está habilitada a produzir tablets no Brasil, recebendo incentivos fiscais determinados pelo decreto 5.906, de 2006, que se refere à Lei da Informática.
. O governo do PT concedeu inéditas renúncias fiscais.
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Comento brevemente:
Na verdade, não existe política industrial, mas apenas impulso, repentes, rebrotes, saltos de "genialidade" governamental (que todas remetem a dar mais dinheiro para os ricos de sempre), e muito protecionismo tarifário para proteger os mesmos ricos da concorrência estrangeira.
O problema da indústria no Brasil é grave, e ele tem um nome: o inimigo da indústria se chama Estado extrator, o arrecadador compulsório e o espoliador das receitas e do faturamento do empresário, por uma teia complexa de tributação em cascata, reincidente e irracional, que está matando a competitividade da indústria.
A seguir uma seleção de matérias sobre mais esse escândalo de uma suposta política industrial no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida
Foxconn recebe benefício para fabricar iPad
O Estado de S. Paulo - 26/01/2012
O governo federal oficializou a concessão de incentivos fiscais para a Foxconn produzir o tablet iPad, da Apple, no Brasil. A medida está em uma portaria interministerial publicada ontem no Diário Oficial da União.
Embora a portaria não cite diretamente o tablet da Apple, o governo já havia dito que a fabricante tinha interesse em produzi- lo no País. Os incentivos envolvem a isenção dos impostos IPI, PIS e Cofins. Segundo a portaria, a Foxconn poderá receber benefícios para produzir "microcomputador portátil, sem teclado, com tela sensível ao toque ("touch screen"), de peso inferior a 750g (Tablet PC)". OiPad tem peso de 601 gramas (3G) e de 613 gramas (3G +Wi-Fi).
Aportaria, com data de segunda-feira, foi assinada pelos ministros Guido Mantega (Fazenda), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e pelo então ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que desde terça-feira responde pelo Ministério da Educação.
Com sede em Taiwan, a Foxconn é a maior fabricante de componentes eletrônicos do mundo. Em viagem à China em abril de 2011, a presidente Dilma Rousseff anunciou um investimento de US$ 12 bilhões da Foxconn no Brasil em cinco anos. A empresa, no entanto, nunca deu detalhes sobre o projeto.
O ministro, a China e o professor
terça-feira, 25 de outubro de 2011
A frase da semana: Steve Jobs "brasileiro" (eu disse brasileiro???!!!)
Não existe nenhuma lógica que você possa detectar na ação do governo, ou mais exatamente da presidente.
Ela apenas ganhou, comprou ou obteve de alguma forma um iPad, se encantou pela coisa, e decidiu, impressionisticamente, que o Brasil PRECISAVA ter aquilo, Quer por que quer, como seu antigo chefe e mentor.
Ou seja, trata-se de uma espécie de vergonha do atraso, e de obsessão com o lado falso da modernidade industrial.
NUNCA houve, nem JAMAIS haverá qualquer cálculo racional do governo, em qualquer área sobre a formação de custos e a repartição dos retornos em torno da fabricação de iPads no Brasil. Simplesmente a presidente decidiu que TÍNHAMOS de ter essa oitava maravilha da Apple e assim tudo o que o governo estava fazendo como cálculos era como distribuir os benefícios e prebendas com dinheiro oficial, sempre com sua obsessão de agregação local de valor, que é a mesma motivação que esteve na origem da recente medida do IPI automotivo e de outras medidas de política industrial desse governo e do anterior. Primitivismo econômico no mais alto grau…
Você certamente se lembra das aventuras em torno de “um computador por criança”, que deveria custa 100 dólares e que obviamente só pode sair pelo triplo disso, depois de muitos abatimentos e favorecimentos ultra-setoriais aos privilegiados de sempre, de uma administração que só trabalha nesse estilo.
Em outras palavras, não se trata de análise econômica que se revela necessária, e sim de análise psicológica, e eu até diria psicanalitica, ou talvez mesmo psiquiátrica.
O primitivismo econômico que está por trás desse tipo de voluntarismo econômico é totalmente compatível com o perfil psicológico de quem esquentou algumas cadeiras numa Faculdade de Economia de terceira linha mas que nunca aprendeu realmente nada de economia. Na verdade, revela a esquizofrenia econômica do partido no poder, que vai continuar assim indefinidamente.
Em outros termos, concordo inteiramente com o Dionatan: não existe nada, absolutamente nada de racional nessa obsessão de uma pessoa que contamina todo um governo.
Admitindo-se que seus subordinados possuam ainda menor racionalidade econômica do que a chefe, inclusive um ministro que fraudou seu título de PhD — numa das mais vergonhosas ações de qualquer universidade, em qualquer tempo e lugar — não se pode pretender nenhum debate, já não digo racional, apenas de bom-senso, em pessoas que nunca tiveram nenhum,
Espero não ter sido muito cáustico…
Paulo Roberto de Almeida
sábado, 1 de outubro de 2011
Pirataria governamental: somos as vitimas
Para isso, ela aumenta impostos que nós temos de pagar, aqui dentro...
Ou seja, isso é extorsão contra o patrimônio de brasileiros comuns, que somos nós.
Quem é mesmo o pirata?
Os produtores estrangeiros, que apenas oferecem produtos mais baratos porque não precisam pagar taxas e impostos absurdamente altos, ou o governo brasileiro, que nos escalpela, e depois, a título de "proteção", nos escalpela mais um pouco porque já cobra demais nos impostos internos?
Desculpe, presidente, eu só queria entender quem é mesmo o pirata nessa história...
Piratas são microempresários, atuando por conta própria, especializados em assaltar os transeuntes, sem oferecer nada em contrapartida. Esta é a definição exata e a verdade histórica.
Os empresários estrangeiros que vêm ao mercado brasileiros pagaram todos os impostos de importação e estão apenas oferecendo seus produtos aos consumidores brasileiros. Estes os comprarão, ou não, em função do preço e da qualidade, num mercado aberto.
Parece-me que quem está sendo pirata, nessa história, é o governo: ele não oferece nada em troca, e ainda assalta o consumidor brasileiro com altos impostos.
Quem é mesmo o pirata?
Paulo Roberto de Almeida
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Frases da semana (2): "Protecionismo estupido" - Bob Zoellick
"Não tomem decisões estúpidas, não deixem que o mundo opte pelo protecionismo."
Suponho que certos países não vão conseguir deixar, ou não deixar, que o mundo opte pelo protecionismo. Isso está muito acima da capacidade de certos "dirigentes" nacionais.
Em lugar do mundo, eles mesmos asseguram que seus países optem, individualmente, pelo protecionismo. Ou seja, uma decisão nacional, totalmente soberana.
E eles ainda pensam que são inteligentes.
Acho que o qualificativo do presidente do Banco Mundial resume tudo...
Precisa comentar mais?
Paulo Roberto de Almeida
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Protecionismo protecionista - apud The Economist...
Paulo Roberto de Almeida
sábado, 17 de setembro de 2011
O rato que ruge: Mantega contra OMC -- vários artigos...
Mas, temos aqui no Brasil ratinhos que rugem estrondosamente, e não têm medo de enfrentar a OMC, todos os países produtores de automóveis, importadores nacionais e tutti quanti ousarem confrontar, contestar, enfrentar, processar a mais nova experiência de políticas inteligentes que o inteligente governo brasileiro encontrou para remediar, parcialmente que seja, problemas que ele mesmo criou, ao impor tributos extorsivos aos produtores nacionais, e ao tentar passar isso para consumidores e fabricantes estrangeiros.
O governo é extraordinário (e entendam como quiserem o extraordinário): em lugar de consertar, eliminar, corrigir os problemas que ele mesmo cria, ainda encontra maneira de criar novos problemas ao definir soluções inteligentes aos problemas já existentes.
Premio Nobel da Inteligência deste ano de 2011 (aliás, desde 2003).
Paulo Roberto de Almeida
O governo decidiu correr o risco de enfrentar uma batalha jurídica internacional ao elevar o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis importados, pois a medida viola o Acordo Geral de Tarifas de Comércio (Gatt) e o Acordo de Medidas Relativas ao Comércio (Trims).
O governo acaba de promover, sob o disfarce de política industrial, mais uma lambança a favor de grupos selecionados. Com o pretexto de proteger o setor automobilístico e o emprego do trabalhador brasileiro, o Executivo federal aumentou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e definiu condições para isenção das novas alíquotas. As condições beneficiam claramente uma parte das montadoras e criam, indiretamente, barreiras à importação de veículos e de componentes fabricados fora do Mercosul e do México. Ao estabelecer uma discriminação baseada em critério de conteúdo nacional, o governo se expõe a ser contestado na Organização Mundial do Comércio (OMC). O governo, segundo fontes ouvidas pela reportagem do Estado, admite essa possibilidade, mas decidiu correr o risco.
A "nova" política automotiva, tim-tim por tim-tim - Mario Machado
Novo Regime Automotivo, velho protecionismo
“Mercadante afirmou que o aumento do IPI também é uma importante sinalização para o mercado de automóveis no mundo. Quem quiser se aproveitar do patrimônio do mercado consumidor brasileiro, terá que vir para o Brasil com tecnologia. "Mesmo porque, lá fora não tem muitas opções", ressaltou Mercadante. Ele disse que a medida é criativa nesse cenário atual internacional adverso. O ministro informou que a ação já contempla um "pequeno compromisso" das empresas em pesquisa e desenvolvimento.”
“Artigo 2 – Tratamento Nacional e Restrições Quantitativas1. Sem prejuízo de outros direitos e obrigações sob o GATT 1994, nenhum Membro aplicará qualquer TRIM incompatível com as disposições do Artigo III ou do Artigo XI do GATT 1994.2. Uma lista ilustrativa de TRIMs incompatíveis com a obrigação e tratamento nacional prevista no parágrafo 4 do Artigo III do GATT 1994 e com a obrigação de eliminação geral de restrições quantitativas prevista no parágrafo 1 do Artigo XI do GATT 1994 se encontra no Anexo ao presente Acordo.”
ANEXO – Lista Ilustrativa1. As TRIMS incompatíveis com a obrigação de tratamento nacional prevista no parágrafo 4 do Artigo III do GATT 1994 incluem as mandatórias ou aquelas aplicáveis sob a lei nacional ou decisões administrativas, ou cujo cumprimento é necessário para se obter uma vantagem e que determinam:a) que uma empresa adquira ou utilize produtos de origem nacional ou de qualquer fonte nacional especificadas em termos de produtos individuais, em termos de volume ou valor de produtos, ou em termos de uma proporção do volume ou valor de sua produção local;b) que a aquisição ou utilização de produtos importados por uma empresa limite-se a um montante relacionado ao volume ou valor de sua produção local.
GATT 1994ARTIGO III – TRATAMENTO NACIONAL NO TOCANTE A TRIBUTAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO INTERNAS.1. As Partes Contratantes reconhecem que os impostos e outros tributos internos, assim como leis, regulamentos e exigências relacionadas com a venda, oferta para venda, compra, transporte, distribuição ou utilização de produtos no mercado interno e as regulamentações sobre medidas quantitativas internas que exijam a mistura, a transformação ou utilização de produtos, em quantidade e proporções especificadas, não devem ser aplicados a produtos importados ou nacionais, de modo a proteger a produção nacional[...]4. Os produtos de território de uma Parte Contratante que entrem no território de outra Parte Contratante não usufruirão tratamento menos favorável que o concedido a produtos similares de origem nacional, no que diz respeito às leis, regulamento e exigências relacionadas com a venda, oferta para venda, compra, transporte, distribuição e utilização no mercado interno. Os dispositivos deste parágrafo não impedirão a aplicação de tarifas de transporte internas diferenciais, desde que se baseiem exclusivamente na operação econômica dos meios de transporte e não na nacionalidade do produto.
O nacionalismo é usado pelos grupos que advogam o protecionismo para que não tenham que dizer que as medidas visam proteger lucros de empresários que por vários motivos são ineficientes ante os competidores externos. Durante anos os empresários apontaram o “custo Brasil” como vilão da economia brasileira e de fato continua a ser o vilão, contudo é mais fácil amealhar o apoio da população e dos políticos gritando “China, China” como o menino gritava Lobo em nome do aumento de barreiras externas. E muito mais fácil acusar o protecionismo dos “loiros de olhos azuis” quando clamando por aumento de financiamento público, via BNDES. Nesse sentido o artigo de professor de economia da PUC-RIO, Dr. Marcelo de Paiva Abreu, no “O Estado de São Paulo” dia 23 de agosto é uma importante peça para analisar essa tendência.É fácil imaginar quem será chamado a pagar a conta desse nacionalismo econômico, quem arcará com o custo do Brasil grande, do recém achado amor ao verde e amarelo. Sim, isso mesmo todos nós, seja em nosso papel de contribuinte (arcando com o BNDES) seja em nosso papel de consumidor (privado de comprar mais barato em nome da Soberania).