O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador nuclear Iran. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador nuclear Iran. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Politica Externa brasileira: pro e contra o "acordo" com o Irã

Um artigo de opinião e um editorial do Globo sobre a aventura iraniana.
Primeiro um artigo a favor, do ex-presidente da Câmara e ex-líder do PT, deputado federal por SP. Depois o editorial do Globo.

Um acerto para a paz
Arlindo Chinaglia
O Globo, 24 de maio de 2010

O memorando de entendimento sobre enriquecimento de urânio assinado pelo Irã com Brasil e Turquia é uma realização extraordinária da diplomacia brasileira e do presidente Lula. Os especialistas concordam com isso. A imediata consequência é que agora não há argumentos defensáveis para insistir na escalada de sanções.
O acordo dissipa um foco de tensão e pavimenta o caminho para uma solução do impasse que envolve o Irã, as superpotências e a Agência Internacional de Energia Atômica.
O processo aberto exigirá maior empenho de negociação, como o documento trilateral prevê, e garantias de segurança complementares, mas é inegável que o esforço diplomático do Brasil e da Turquia abriu a possibilidade de diminuir as preocupações da comunidade internacional. O principal entrave às negociações, o envio do estoque de urânio levemente enriquecido do Irã ao exterior, foi superado.
A diplomacia brasileira agiu à altura do novo papel do Brasil no mundo e contribuiu para o Irã firmar um compromisso que até então resistia a fazer. Não é tarefa fácil definir quem vai enriquecer o urânio, acertar as garantias formais e outros ajustes. Mas o que parecia impossível era firmar o acordo, e isto foi conquistado.
Evidentemente, tudo deverá ser submetido à análise da AIEA e do Conselho de Segurança da ONU.
Não há mais uma justificativa técnica e racional para não entabular negociações sérias com o Irã. A entrega dos 1,2 mil quilos de urânio iraniano e a não condicionalidade sobre o recebimento prévio do combustível geraram uma situação absolutamente nova. A questão agora é fundamentalmente política. Os EUA e seus aliados estão dispostos a adentrar pela porta aberta pelo Brasil e negociar com o Irã, ou o interesse maior é no isolamento e desestabilização do regime iraniano? O curioso é que, em nosso país, parte da oposição e da mídia fica na torcida contrária à diplomacia brasileira. Diziam que o Brasil não tinha influência e que as gestões não dariam em nada; agora dizem que o acordo é inútil, embora quase todo o mundo tenha dado destaque ao êxito da operação diplomática. Até o comandante em chefe da Otan na Europa, general James Stavridis, afirmou que o acordo é um “exemplo do que todos buscamos, um sistema diplomático que vise a um bom comportamento por parte do regime iraniano”. Houve elogios também de França, China, Rússia e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
A atuação do Brasil junto ao Irã abre novas portas para a distensão. Exemplo é a libertação da professora francesa Clotilde Reiss, depois de uma retenção de dez meses no Irã. Temos muito a ganhar. O Irã é um país-chave para o equilíbrio geopolítico do Oriente Médio, que interessa a nós e ao mundo.
As relações econômicas e comerciais também são importantes: o Irã, com uma das maiores reservas de petróleo e gás do mundo e um PIB de US$ 336 bilhões, desponta como potência emergente.
Diante disso, o presidente Lula, em sua viagem ao Irã, anunciou que disponibilizará, ao longo de cinco anos, uma linha de crédito de US$ 1 bilhão para o país persa importar alimentos brasileiros. O comércio bilateral pode quintuplicar em cinco anos, dos atuais US$ 2 bilhões para cerca de US$ 10 bilhões.
O mundo e o Oriente Médio não precisam de mais uma guerra. O Brasil abriu as portas para o diálogo e para a paz
O curioso é que parte da oposição e da mídia fica na torcida contrária ao país.

=============

Agora o editorial do Globo, que não acha a aventura tão extraordinária assim:

Suicídio diplomático
Editorial, 24/05/2010

A temerária operação diplomática empreendida pelo governo Lula para salvar o mundo no Irã terminou como cena de contos em que tapetes persas voam e magos saídos de garrafas curam todos os males: esfumaçou-se no ar.

Infelizmente, ao contrário das fábulas, há previsíveis desdobramentos objetivos contra os interesses do Estado brasileiro — instituição perene, ao contrário de governos.

Ao menos a descuidada operação feita em aliança com a Turquia, levada à frente apesar dos alertas sobre a baixa ou nenhuma confiabilidade do regime iraniano em conversações sobre o programa nuclear do país, ajudou a se concluir de vez que, na diplomacia brasileira, tudo vale para atingir um alvo estratégico: contrapor-se a interesses dos Estados Unidos e aliados do Primeiro Mundo, o “Norte”.

No mesmo balaio, encontra-se a preocupação quase obsessiva — embora legítima — de aumento da influência mundial do Brasil, alvo também perseguido pela sócia Turquia, desde o pósguerra candidata frustrada a entrar no bloco europeu.

Apenas muita convicção ideológica podia levar o governo a ir adiante numa empreitada com todas as condições de dar errado. E deu, no melhor estilo das frases cômicas do Barão de Itararé. Recolocar sobre a mesa, em Teerã, os mesmos termos do acordo proposto aos iranianos, em outubro do ano passado, pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), era infrutífero.

Naquela época, considerando-se os estoques de urânio do Irã, as quantidades de material a ser enriquecido fora do país representavam cerca de 2/3 do total. Agora, pouco mais da metade. Ou seja, se levado a sério pela comunidade internacional, o acerto seria muito menos eficaz como instrumento para reduzir a margem de manobra de Ahmadinejad e aiatolás no seu pouco disfarçável projeto de dotar a ditadura teocrática de armamentos nucleares.

Em 2009, o Irã aceitou as condições encaminhadas pela AIEA — com os Estados Unidos, é claro, por trás, apoiados por Rússia e China —, para logo depois recuar. Na semana passada, a cúpula de Ahmadinejad patrocinou uma festa em Teerã, com direito a braços erguidos de Lula e Erdogan (Turquia), em comemoração ao fechamento do acordo de outubro do ano passado.

A indiscutível manobra para adiar a decisão do Conselho de Segurança da ONU — em que Brasil e Turquia têm assentos não permanentes — sobre novas sanções durou apenas horas. Os Estados Unidos aceleraram as conversas com a reticente China e, logo na manhã seguinte àquela festa — pelos fusos de Brasília e Nova York —, a secretária Hillary Clinton anunciava o consenso com chineses e russos para apertar torniquetes das sanções para obrigar Teerã a negociar a sério.

Nas declarações oficiais na ONU, a tentativa de Brasil e Turquia foi considerada positiva.

Nas conversas francas, off the record, entre auxiliares de Barack Obama na Casa Branca e repórteres, não se escondeu a irritação com Brasília e Ancara. Com razão, pois postergar os trabalhos no CS é dar tempo para Ahmadinejad obter mais urânio das suas centrífugas, cujo número tem sido ampliado para elevar a taxa de enriquecimento do urânio.

Ao ter ajudado, na prática, o Irã a buscar a bomba nuclear, Brasília perdeu parte da credibilidade nos principais centros da diplomacia mundial. Ficou mais longe do assento de titular no CS — entre outros prejuízos, inclusive para a pessoa de Lula, visto agora com menos daquele glamour de simpático metalúrgico que venceu na vida.

sábado, 22 de maio de 2010

Politica Nuclear do Iran (7): The Economist coloca os pontos nos "iis" (para quem precisa)

Para os que acompanham seriamente, sem arroubos patrioteiros, e sem retórica deslocada, o problema nuclear do Irã -- que se arrasta há pelo menos cinco anos -- foi realmente uma surpresa o anúncio tripartite de que o mundo estava salvo, de que a diplomacia tinha vencido e de que uma guerra tinha sido evitada. Mas, apenas o anúncio, pois que o acordo em si -- na verdade, uma mera declaração -- representou uma frustação em termos de encaminhamento do problema. Nada, na verdade, estava arranjado.
Para aqueles que necessitam saber por que, exatamente, e não têm a quem perguntar, esta matéria da The Economist resume muito bem o problema.
Alerta preventivo (em face de tentativas passadas): não adianta pipocar comentários absurdos neste post -- como faz certo personagem que não tem nenhum argumento inteligente a postar, e fica apenas tentando provocar -- que vou deletar impiedosamente. Os leitores deste blog merecem algo mais inteligente do que mais bobagens na internet, que já tem muita...
Paulo Roberto de Almeida

Brazil, Turkey and Iran
Not just any deal will do

The Economist, May 20th 2010

Have Brazil and Turkey helped solve a brewing nuclear crisis, or made it worse?

TO IRAN’S irrepressible president, Mahmoud Ahmadinejad, the deal was a triumph for the powers of the future over “the tyrant powers [who] belong to the past”. Others, tyrannically minded or not, have yet to see whether Brazil’s president, Luiz Inácio Lula da Silva, and Turkey’s prime minister, Recep Tayyip Erdogan, really have succeeded in enticing Iran a step in from the cold in its row with the UN Security Council over its nuclear ambitions. Several years of on-off talks (mostly off, at Iran’s insistence) between Mr Ahmadinejad’s government and six other countries, America, Britain, France, Germany, Russia and China, have failed to budge Iran from its insistence that its suspect nuclear work will continue, no matter what.

Under the May 17th deal, Mr Ahmadinejad is to send abroad some of his low-enriched uranium stocks, in return for higher-enriched fuel rods Iran needs to replenish an ageing medical-research reactor. On the face of it, that resembles a bargain Iran had first struck last October with America, Russia, France and the International Atomic Energy Agency (IAEA), the UN’s nuclear guardian, before it backed off. But the fear is that, well-meaning as the leaders of Turkey and Brazil may be, Iran is abusing their efforts to get out of a fix.

To those with past experience of Iran’s tactics, both timing and terms of the new deal look deeply suspect. Iran is facing a fourth set of UN sanctions. Two days after the Tehran “breakthrough” , a draft resolution agreed by the six countries Iran has been refusing to talk to, including previously reluctant Russia and China, was circulated to the rest of the Security Council. That was despite the claim by Turkey’s foreign minister that the Tehran deal meant further sanctions were now unwarranted.

If voted through, the new resolution would add more names to a list of individuals, firms and banks sanctioned for their links to Iran’s nuclear and missile programmes and slap an arms embargo on heavy weapons. Suspect shipments to and from Iran could be searched. Iran would find it much harder to get foreign uranium for its enrichment machines, which Mr Ahmadinejad claims he set spinning merely to produce under 5% low-enriched uranium for nuclear-power reactors (though Iran has none that can use it), while others suspect it may eventually be used to make the 90%-enriched stuff needed for a bomb.

Iran pooh-poohs sanctions, claiming even new ones won’t make it give up its “right” to enrich uranium. But its leaders have been courting other Security Council members, especially Brazil and Turkey. For, whatever their economic impact, widely supported UN sanctions do give the lie to Iran’s claims that it is the victim of a Western-inspired plot to deprive it of its right to nuclear energy, rather than being in the dock for what IAEA inspectors report have been serious violations of its nuclear safeguards. Iran also refuses point blank to answer more questions about activities that have little rational explanation except as part of a weapons effort.

Iran thus wants to block or delay a sanctions vote. But even if the October deal had gone through, harsher moves would have remained in play, both because their aim is to get Iran into wider talks than just those over fuel for its research reactor; and because, without pressure, Iran would be free to drag out talks uselessly. The October fuel deal was a gamble: Iran called it an acceptance of its “right” to uranium enrichment. But the rewards, had it chosen to negotiate seriously, were deemed worth the risk.

By shipping two-thirds of its then low-enriched uranium abroad, Iran would have been left, for perhaps six months while it rebuilt stocks, with less uranium in the country than would be needed, with further enrichment, for a breakout to a nuclear bomb. This, it was hoped, might create time for wider talks. More to the point, Russia’s offer to enrich the uranium from under 5% to the almost 20% needed for the medical reactor, along with France’s readiness to turn it into the needed fuel rods, mean Iran had no excuse to do the higher enrichment work itself. For it is a quirk of uranium enrichment that to get from 20% to 90% takes less effort than making the lesser-enriched stuff in the first place.

If a deal was worth trying then, surely it is worth trying now? But much has changed. Iran’s stock of low-enriched uranium is bigger: only about half of it would be needed to produce the equivalent fuel load for the medical reactor. Iran could have a full bomb’s-worth on hand again in no time. Earlier this year, Iran started its own 20% enrichment and insists that this will continue. That wipes out the hoped for non-proliferation gain, and may be a deal-breaker.

Meanwhile the terms of the new accord are vague. Mr Ahmadinejad is to set out his ideas to the IAEA within days. But then he can take all the time he likes to haggle over details with America, France, Russia and the IAEA. Under the old deal, the uranium would have gone directly to Russia, then France for reworking. Under the new one, Turkey will take custody of it. But Turkey has no way to enrich it or make it into fuel. Does Iran expect to get the 20% enriched fuel rods from another source, while its own uranium is under Turkish guard? Also, under the deal with Turkey and Brazil, Mr Ahmadinejad can decide whether the deal is going as he likes. If it isn’t, Turkey must hand back his uranium forthwith.

For those trying to talk Iran out of potentially weapons-usable work, this seems to get them nowhere. But it could leave the Security Council split and make an end to the stand-off with Iran harder. Mr Ahmadinejad would be the winner.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Politica Nuclear do Iran (6): Uma ducha fria em certas pessoas

Quando foi comemorado, da forma mais estrepitosa possível, o imenso sucesso diplomático alcançado em Teheran, pela dupla turco-brasileira, alguns leitores e comentaristas mais afoitos não se privaram de me escrever -- inclusive equivocadamente, em outro post que não tinha nada a ver com o assunto -- para, numa espécie de provocação, incitar-me a comentar o assunto.
Teve um até que me tratou por "tio" (sic), disparando algo do gênero: "E aí, tio, não vai comentar a vitória histórica da diplomacia brasileira?" (passons...)
O tempo voa, e no dia seguinte já tinha uma ducha fria no entusiasmo dos neófitos, com o anúncio de uma resolução sobre sanções.
Eu, obviamente, não "torço" para nenhum lado, apenas para o da verdade, o da paz e o da segurança mundial. Sob esses poucos critérios, muito simples deduzir como estaria o mundo -- mais próximo ou mais distante desses objetivos -- se uma ou outra solução prevalecer. Desde o primeiro post desta série, eu advertia que não tinha a menor ideia de como este assunto vai terminar, mas antecipava que o final não seria muito feliz. Talvez eu nem suspeitasse que ele faria infeliz a mais gente do que os suspeitos de sempre (como diria aquele personagem de Casablanca).
Abaixo, um artigo para alimentar o debate...
Destaco apenas um trecho, que tem a ver com as pretensões a "pacificador" do Brasil:
Mas por que o Brasil não tenta mediar o conflito entre Venezuela e Colômbia em torno das Farc? Ou a disputa prolongada entre Argentina e Uruguai em torno de uma fábrica de celulose na fronteira entre os países? Ou a disputa territorial entre Chile e Peru? Ou o conflito entre Equador e Colômbia suscitado pelo ataque de 2008 contra uma base da guerrilha colombiana no Equador?
São boas perguntas, para começar. Se alguém tiver respostas sérias, que não sejam ofensivas, nem transponham o limite da pertinência, pode comentar, que eu publico; que estejam na linha e no espírito do que vem sendo publicado aqui, pelo menos...
Paulo Roberto de Almeida

O tropeço do Brasil no Irã
Andrés Oppenheimer
Folha de S.Paulo, 21.05.2010

A autoproclamada vitória diplomática do Brasil no Irã no início da semana levou comentaristas a afirmar que o país teria se convertido num novo protagonista da diplomacia mundial. Mas é provável que tenham se enganado, ou, no mínimo, falado antes da hora.

Em vez disso, o anúncio feito na segunda pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que Brasil e Turquia tinham mediado um acordo com o Irã para resolver a crise internacional em torno do programa nuclear iraniano pode ficar na história como caso típico de megalomania diplomática.

O anúncio pode também levantar perguntas crescentes sobre o porquê de Lula estar tentando resolver sozinho os maiores problemas do mundo - como o programa nuclear iraniano ou, semanas antes, o conflito israelo-palestino - ao mesmo tempo em que praticamente não move uma palha para tentar mediar disputas que estão muito mais perto de casa, na própria América Latina.

Após firmar o acordo entre os três países durante sua visita ao Irã, Lula, enlevado, ergueu suas mãos com o homem-forte iraniano Mahmoud Ahmadinejad e o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan e proclamou que o acordo foi "uma vitória da diplomacia".

Pelo pacto, o Irã concordou em enviar 1.200 quilos de urânio pouco enriquecido à Turquia. Em troca, receberia mais ou menos um ano mais tarde 120 quilos de urânio enriquecido da Rússia e da França. O acordo é semelhante ao proposto em outubro por EUA, Rússia, China e Europa, que o Irã chegou a sinalizar que aceitaria para depois recuar.

Defensores do esforço de mediação brasileiro-turco observam que o Irã fez concessões importantes no novo acordo: até agora, Teerã vinha rejeitando a ideia de armazenar seu urânio no exterior e exigia que qualquer troca fosse feita de maneira simultânea.

Sanções
Contudo, horas apenas depois de Lula ter declarado vitória, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, anunciou que o governo Obama tinha fechado um acordo com Rússia, China, França e Reino Unido para impor sanções ao Irã.

Em outras palavras, as potências mundiais viram o trato feito pelo Irã com o Brasil e a Turquia como mais uma tentativa de Teerã de ganhar tempo enquanto continua a construir armas nucleares em segredo. Especialistas em proliferação nuclear dizem que o pacto Brasil-Turquia-Irã para reativar o plano de outubro foi falho porque as circunstâncias mudaram significativamente desde então: o Irã continuou a enriquecer urânio a todo
vapor nos últimos sete meses.

Isso significa que o acordo prevê a troca de uma porcentagem muito menor do estoque de urânio iraniano do que previa o plano anterior. "Não acho que tenha sido uma vitória diplomática", diz Sharon Squassoni, especialista em proliferação nuclear do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington. "Foi, na verdade, uma iniciativa preventiva da parte do Irã para evitar novas sanções. Como tal, fracassou."

Vizinhos
Minha opinião: não há nada de errado em uma potência emergente como o Brasil tentar resolver grandes crises internacionais, apesar de Lula ter um histórico lamentável de sempre partir para o resgate de alguns dos ditadores mais implacáveis do mundo. Eu gostaria muito de ver o Brasil assumindo riscos para apoiar a democracia e os direitos humanos.

Mas por que o Brasil não tenta mediar o conflito entre Venezuela e Colômbia em torno das Farc? Ou a disputa prolongada entre Argentina e Uruguai em torno de uma fábrica de celulose na fronteira entre os países? Ou a disputa territorial entre Chile e Peru? Ou o conflito entre Equador e Colômbia suscitado pelo ataque de 2008 contra uma base da guerrilha colombiana no Equador?

O Brasil provavelmente considera que as disputas latino-americanas não fazem jus a sua estatura internacional. É possível que tema que exercer um papel pacificador maior na região seja acompanhado de responsabilidades econômicas que não deseja assumir.

Mas não é possível ser um anão diplomático em sua própria região e tentar ser um gigante longe de casa. Se o Brasil quiser ser um ator construtivo nos assuntos internacionais, poderia começar por comportar-se como tal em casa.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Politica Nuclear do Iran (5): As Palavras e as Coisas

Sem querer parafrasear Michel Foucault (a quem considero, aliás, um grande enrolador de palavras), permito-me aqui dar o devido destaque a dois comentários postados a proposito do numero 2 desta série sobre a politica nuclear do Irã.
O tema é conhecido, e não preciso explicar, para quem acompanha a atualidade.
Já o tema do debate é muito simples: trata-se de saber se o que foi assinado em Teheran pelos chanceleres da Turquia, do Brasil e do Irã era um acordo formal, ou uma simples declaração.
Vocês escolhem o que querem. Eu fico com a realidade das coisas...
Paulo Roberto de Almeida

1) José Marcos deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Politica Nuclear do Iran (2): uma simples declarac...":

PALAVRAS SÃO PALAVRAS NADA MAIS QUE PALAVRAS

Prezado professor Paulo Roberto de Almeida,
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 – ratificada 40 anos depois no Brasil - define no artigo 2º, parágrafo 1º, que tratado “significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica”. Consultando o livro “Direito Internacional Público” de Nguyen Quoc Dinh et alii, os autores afirmam que ao dispor “que o termo “tratado” refere-se a um acordo internacional qualquer que seja sua denominação particular, a Convenção confirma a existência de uma pluralidade de denominações equivalentes” (Nguyen Quoc Dinh, pág 123). Rezek, no livro que citei no primeiro comentário, define tratado como “todo acordo formal concluído entre pessoas jurídicas de direito internacional público, e destinado a produzir efeitos jurídicos.” A partir dessas definições amplas de tratados, pode-se dizer que a tal “declaração tripartite” é um acordo internacional e, por conseguinte, um tratado. Ressalte-se, contudo, que há outras definições mais específicas para “declarações”, “acordos” e “tratados”, como as que o senhor forneceu. Tais definições, porém, não constam na Convenção de Viena de 1969. É importante deixar claro que não há uma classificação terminológica definitiva, com aceitação universal. O uso reiterado de algumas nomenclaturas acaba sendo o fator primordial da aplicabilidade de uma expressão em relação a outra. Em resumo, trata-se de um problema de definição. Partindo de definições diferentes, chega-se a conclusões diferentes também. Não vejo motivo, porém, para censurar o ministro Celso Amorim por usar indistintamente os termos “declaração” e “acordo”.

PS. Para quem quiser consultar, o livro que citei é: “Direito Internacional Público” de Nguyen Quoc Dinh, Patrick Daillier e Alain Pellet, 2ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.

==================

2) paulo araújo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Politica Nuclear do Iran (2): uma simples declarac...":

Sobre diferenças entre as palavras e as coisas.

Minhas dúvidas estão esclarecidas pelo comentário do Paulo Roberto Almeida. Isto é, há sim uma distinção entre Acordo e Declaração. Ficou mais claro ainda que não foi por acaso que os países escolheram a estrutura formal (Declaração) mais adequada para colocar no papel a intenção explícita do governo iraniano em abrir uma negociação de troca dos 1200 quilos de urânio sob condição determinadas condições.

O problema na Declaração está, portanto, localizado nas intenções não explicitadas pelos iranianos no documento.

Olhada à luz dos fatos que a antecederam, a Declaração conjunta contempla somente um dos aspectos da negociação que a AIEA a bastante tempo tentava levar adiante com os aiatolás. Para a AIEA, a troca de urânio era somente a contrapartida com a qual a agência se compromissava sob a condição do Irã cumprir o acordo de salvaguardas (inspeções livres e não ocultamente de atividades de pesquisa nuclear e produção de urânio enriquecido) com a AIEA, previstos no TNP.

Olhada à luz dos fatos que a antecederam, estamos diante de uma situação que beira o nonsense: o governo brasileiro gestiona diplomaticamente a favor de um novo acordo para fazer o Irã cumprir os antigos acordos do TNP.

Se não estou enganado, quem recomendou que o CS da ONU imponha sanções ao Irã foi a AIEA, após o governo iraniano ter dado várias demonstrações de fato de que não pretende submeter-se ao controle da AIEA, o que está previsto no TNP.

Enfim, os próprio iranianos encarregaram-se de esclarecer as intenções não explicitadas na Declaração com as reiteradas manifestações de que não haveria qualquer relação entre o documento que explicita as condições da troca de urânio e a continuidade do programa de enriquecimento à margem ou acima das salvaguardas previstas no TNP:

"There is no relation between the swap deal and our enrichment activities ... We will continue our 20 percent uranium enrichment work," (Ali Akbar Salehi, chefe da agência atômica iraniana).

"We are not planning on stopping our legal right to enrich uranium," Iran's Foreign Ministry spokesman Ramin Mehmanparast told CNN by telephone.

É da lógica elementar a dedução de que o Irã possui mais urânio do que a quantidade que se propõe trocar. Os 1200 quilos de urânio enriquecido apresentados para troca eram uma quantidade estimada há 8 meses. Difícil acreditar que desde então os aiatolás mandaram parar o enriquecimento. Se você fosse um deles, mandaria parar?

Em poucas palavras, jogaram no lixo toda a retórica pacifista e conciliatória doas atuais chefes do Itamaraty. Em minha opinião, foram essas declarações dadas à imprensa as parteiras da resposta imediata dos países do 5+1.

=========

Por enquanto ficamos por aqui, numa história que promete se arrastar como uma novela da Globo (esta com consequências provavelmente mais trágicas).

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Politica Nuclear do Iran (4): carta do Brasil e da Turquia ao CSNU

Mais um capítulo desta trama emocionante das relações internacionais contemporâneas (em tempo real, se ouso dizer):

Carta aos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas
19 de maio de 2010

A Declaração Conjunta firmada por Brasil, Turquia e Irã no último dia 17, em Teerã (nota nº 310), foi encaminhada hoje, 19 de maio, aos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, por meio da seguinte carta (original em inglês):

"Excellency,
We have the pleasure to enclose herewith the copy of the ‘Joint Declaration by Iran, Turkey and Brazil’, which was issued by H.E. Mr. Mahmoud Ahmadinejad, President of the Islamic Republic of Iran, H.E. Mr. Luiz Inacio Lula da Silva, President of the Federative Republic of Brazil and H.E. Mr. Recep Tayyip Erdoğan, Prime Minister of the Republic of Turkey, in Tehran on 17 May 2010. The Joint Declaration was signed by H.E.Manucher Mottaki, Minister of Foreign Affairs of the Islamic Republic of Iran, H.E. Ahmet Davutoğlu, Minister of Foreign Affairs of the Republic of Turkey and H.E. Celso Amorim, Minister of External Relations of the Federative Republic of Brazil.

The Joint Declaration highlights the right to develop research, production and use of nuclear energy for peaceful purposes while underlining the strong conviction of three countries that the nuclear fuel exchange will provide an opportunity to begin a forward-looking process aiming at creating a positive, constructive, non-confrontational atmosphere leading to an era of interaction and cooperation.

The Declaration reflects, in this context, Iran’s clear agreement to deposit 1200kg low enriched uranium (LEU) in Turkey. It also lays down a realistic and achievable road map leading to necessary agreements and arrangements which are to be negotiated between the parties directly involved, within specified timelines, for the provision of 120 kg nuclear fuel needed for the Tehran Research Reactor (TRR) in return for the deposited LEU.

We have full confidence that the P5 plus 1 will review the Joint Declaration with a view to paving the way both for the refueling of the TRR in the most efficient and effective manner and considering issues related with the Iranian nuclear programme and the broader issues of mutual concern, through constructive dialogue.

Brazil and Turkey are convinced that it is time to give a chance for negotiations and to avoid measures that are detrimental to a peaceful solution of this matter.

Please accept, His/Her Excellency, the assurances of our highest consideration.

Celso Amorim
Minister of External Relations of the Federative Republic of Brazil

Ahmet Davutoğlu
Minister of Foreign Affairs of the Republic of Turkey"

O original desta nota encontra-se disponível no seguinte endereço:
http://www.mre.gov.br/portugues/imprensa/nota_detalhe3.asp?ID_RELEASE=8243

Politica Nuclear do Iran (3): Brasil promete denunciar EUA

Mais um capítulo, de uma história que promete se arrastar por algum tempo...

Contra sanções ao Irã, Brasil promete denunciar EUA
Terça-feira, 18 Mai, 08h05

O Itamaraty não escondeu hoje a sua indignação com a atitude dos Estados Unidos de ignorar o acordo extraído pelo Brasil e a Turquia do governo iraniano e enviar uma proposta de novas sanções contra o Irã ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Como reação, os chanceleres do Brasil e da Turquia encaminharão nesta semana uma carta a cada membro do Conselho. No texto, que na prática funcionará como uma denúncia da posição dos EUA e aliados, Brasil e Turquia defenderão que o acordo traz exatamente os termos exigidos por essas potências e censurarão o fato de Washington não ter dado um prazo para que o Irã pudesse colocá-lo em marcha antes de colocar a máquina das sanções em ação.
"O acordo (de Teerã) é o acordo que eles propuseram. Nós (Brasil e Turquia) apenas estávamos viabilizando uma maneira de chegar ao acordo que estava sobre a mesa. Todas as dificuldades foram superadas", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Segundo o chanceler, as negociações conduzidas pelas delegações turca e brasileira no último final de semana permitiram eliminar todas as resistências e novas exigências do Irã em relação à proposta de acordo de outubro do ano passado. Conforme argumentou, o governo iraniano aceitou o depósito de 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido na Turquia em um prazo de 30 dias e o recebimento, um ano depois, dos elementos combustíveis para o reator de Teerã.
Segundo Amorim, o governo iraniano também se dispôs a informar a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em uma semana sobre o acerto e a dar continuidade às negociações para a recuperação da confiança internacional na finalidade pacífica de seu programa nuclear. Da mesma forma, acatou a presença de inspetores da AIEA - imposição implícita no texto do acordo e que significa uma garantia clara de que o Irã não enriquecerá urânio a 20%.
Na avaliação de Amorim, o acordo de Teerã pode ser considerado um "passaporte para uma solução negociada e pacífica". Nesse sentido, o mínimo esperado dos EUA e de seus aliados seria uma manifestação de boa vontade, que poderia ser traduzida no prazo de pelo menos um mês para que o Irã cumprisse os termos iniciais do acordo. "Ignorar o acordo é desprezar a busca de uma solução pacífica e negociada", declarou Amorim.

Politica Nuclear do Iran (2): uma simples declaracao tripartite, não um acordo

Este comentário, enviado por um interlocutor habitual deste blog, Paulo Araújo, merece todo o destaque, e no entanto, trata de uma questão elementar: a diferença básica, essencial, entre o que seria um acordo, en bonne et due forme (ou seja, formal, como se concebe na prática diplomática internacional), e uma simples declaração de intenções, que foi o que assinaram em Teheran os três ministros das relações exteriores dos países envolvidos, Brasil, Turquia e Irã.

Paulo Araújo disse...

Caro,

Esclareça-me, se possível, uma dúvida. Por que todos estão falando em Acordo se o que de fato foi gerado em Teerã é uma Declaração? Seria possível, em termos estritamente diplomáticos, que os três países assinassem um documento com a estrutura formal de um Acordo? Se era possível, por que assinaram uma Declaração?

A imprensa daqui e de fora continua chamando a Declaração de Acordo. Eu penso que é um erro grosseiro. Bastaria apenas ler com a devida atenção o documento. A Declaração assinada é uma carta de intenções.

No texto a palavra "declaração" aparece quatro vezes para não deixar dúvida sobre a espécie de documento.

Para efeito de classificação arquivística, as análises diplomática (o exame da estrutura formal do documento legal ou administrativo) e tipológica de documentos antigos e atuais distinguem em nível formal e hierárquico as espécies documentais Declaração e Acordo:

DECLARAÇÃO - documento diplomático ou não, segundo sua solenidade, enunciativo, descendente. Manifestação de opinião, conceito, resolução ou observação, passada por pessoa física ou por um colegiado.
Protocolo inicial: a palavra Declaração. Nome e titulação do declarante. A corroboração ou cláusulas de vigência.
Protocolo final: datas tópica e cronológica, assinaturas (da autoridade emitente e da precação que, no caso do decreto executivo, é dada pelo ministro ou secretário da pasta que tenha relação com o assunto do decreto).

ACORDO - documento diplomático normativo, pactual, horizontal. Ajuste ou pacto realizados por duas ou mais pessoas, físicas ou jurídicas, em torno de um interesse comum, ou para resolver uma pendência, demanda ou conflito.
Protocolo inicial: “Pelo presente acordo de... celebrado entre...” Segue-se o nome das pessoas pactuantes e suas qualificações.
Texto: “fica estipulado...” Segue-se o motivo do acordo. “E como as partes estão de acordo firmam o presente acordo”.
Protocolo final: datas tópica e cronológica, assinaturas dos pactuantes e das testemunhas (conforme o caso, não obrigatórias). (Glossário de espécies documentais elaborado por Helena L. Belloto)

Isso não é frescura. Trata-se da estrutura formal do documento, que é escolhido em função do que e como os signatários querem enunciar. Eu pensava que não haveria o mínimo sentido os três países assinarem um Acordo, pois os termos somente seriam válidos (teriam caráter normativo) se o Acordo estiver assinado pelo governo do Irã e pela AIEA. Mas aqui todos falam em Acordo como se não houvesse a distinção.

Minha pergunta é bem objetiva. Não sei se estou certo, mas eu penso que a escolha pela estrutura formal da Declaração não foi aleatória por que na diplomacia nada é aleatório. A escolha pela forma da Declaração tem uma razão de ser nos diplomas (documentos oficiais) assinados por países.

Por que o ministro Celso Amorim, entre outros, fala tanto em Acordo se de fato o que foi assinado é uma Declaração? Isto é, é normal e esperado que o governo e seus apoiadores soltem foguetes e batam o bumbo. Porém, se pretendiam passar ao público a mensagem "um Acordo foi fechado pelos três países”, por que raios não assinaram um Acordo de fato e sim preferiram assinar uma Declaração? Claro que para efeito dos meios de comunicação de massa a palavra "acordo" é muito mais impactante.

No link abaixo a entrevista de Celso Amorim na qual ele repete várias vezes a palavra “acordo” e omite a palavra “declaração”:
http://blog.planalto.gov.br/entrevista-com-celso-amorim-persuasao-foi-mais-eficiente-do-que-a-pressao/

terça-feira, 18 de maio de 2010

Why Brazil is a Broker with Iran (Matias Spektor - CFR)

Existem outras razões, também, não exatamente explicitadas no artigo. E existem outras razões, também, não explicitadas no artigo, para o Irã desejar enriquecer urânio, supostamente para fins energéticos.
PRA.

Why Brazil is a Broker with Iran
Matias Spektor, Visiting Fellow
Council on Foreign Relations, May 17, 2010

Iran on May 17 signed an agreement brokered by Brazil and Turkey to ship low-enriched uranium to Turkey in exchange for nuclear fuel for its medical research reactor. It is not clear whether the agreement will frustrate a U.S.-sponsored new round of sanctions by the UN Security Council. Nor is it clear that the Iranians will be reliable partners when it comes to implementation. To many in Washington, Brazil has been "naïve," playing the role of Iran's "useful idiot." Others see Brazil's move as more perniciously anti-American, the combination of rooted nationalism and an upcoming presidential race.

However the latest chapter of this crisis unfolds, it is important to understand Brazil's new diplomatic assertiveness. In the past few years, Brazil opened more than thirty new embassies in Africa, and the government of President Luiz Inacio Lula da Silva launched a Middle East policy that includes growing trade and political consultations with Iran, the Arab world, and Israel. The dominant perception in Brasilia today is that problems diplomats could afford to ignore only a few years ago now require a response. As is normally the case with rising powers, Brazil is now redefining its own national interests in ever-expanding terms.

Brazil, currently a nonpermanent member of the Security Council, has insisted that UN sanctions against Iran will be both ineffective and counterproductive. It shares the view held by a number of developing-world nations that the Nonproliferation Treaty has become a tool for the strong to lay down the law on the weak at their own discretion. Nuclear Israel and India will not be punished for sitting outside the regime, and may even be rewarded, say these countries, but Iran will be denied its rights under the NPT to enrich uranium to fuel a medical research reactor. No wonder, the argument goes, countries will have an incentive to abandon a regime that is in need of deep repair. Here Brazil believes it has the moral authority to speak up because it is the only non-nuclear member of the BRIC group (the major emerging-nations group that includes Russia, India, and China) and because it has willingly relinquished any ambitions to acquire a nuclear weapon.

This policy trend is unlikely to change no matter who succeeds Lula in the October presidential elections. There might be a partial pullback from current diplomatic exposure in places like Africa or the Middle East, and even a change in rhetoric. But the quest for upward mobility will remain in place, and so will the fundamental belief that the winds are blowing to Brazil's favor. As U.S. Ambassador to Brasilia Tom Shannon recently put it (FT), "As Brazil becomes more assertive globally and begins to assert its influence, we are going to bump into Brazil on new issues and in new places." This is because in the Brazilian view, existing models of governance have failed to produce a fair and stable international system.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Inocentes uteis, or else...

Has Brazil's Lula become Iran's useful idiot?
The Washington Post, May 7, 2010

Mahmoud Ahmadinejad clearly thinks so. On Wednesday his website posted a statement saying he had accepted “in principle” a supposed Brazilian proposal to defuse Iran’s standoff with the U.N. Security Council -- and prevent the adoption of new sanctions pressed by the United States, Britain and France.
The Brazilian foreign ministry hastily denied that there was a concrete proposal. But that’s irrelevant: Lula, who is planning a trip to Tehran next week, is obviously seeking to position himself as the mediator who can broker a deal between Iran and the West.
His gesture would be as irrelevant as his recent attempt to settle the Israeli-Palestinian conflict -- except for the fact that Brazil currently holds one of the rotating seats on the Security Council. Like Turkey, another temporary member, Brazil is stoutly resisting the new sanctions initiative, which is one reason why the measure was not adopted last month, as the Obama administration had hoped.
In other words, Lula is providing Iran with valuable time to delay sanctions, even as it presses ahead with enrichment and prepares a new generation of centrifuges to do it more efficiently.
The Brazilian “proposal” seems to amount to another version of the deal Iran has already rejected repeatedly: an exchange of most of the nuclear material it has already enriched for fuel rods it could use to resupply a medical research reactor.
Tehran initially appeared to accept a Western offer along these lines last fall, then retreated. Since then it has played at discussing various variations on the deal -- most of which would neuter the point of the transaction from the West’s point of view, which was to remove nuclear material from Iran.
Ahmadinejad’s obvious intention is to discuss this proposal with Lula as long as possible -- without, of course, ever agreeing. “The proposal has many details,” Ahmadinejad’s chief of cabinet said on Wednesday.
Turkey has already been playing this same game with Iran for months, with no results. So why would Lula jump in? For the same reason as Turkish Prime Minister Recep Tayyip Erdogan: to prove that his country is an emerging world power that is capable of acting independently -- and defying the United States. It doesn’t matter to Lula that his diplomacy has no chance of succeeding. What matters are the wire service stories describing Brazil as “an emerging world player” and Lula himself as one of the globe’s most influential leaders.
The price for this vanity diplomacy is the continued delay of sanctions that could be the last chance of stopping Iran’s drive for a nuclear weapon peacefully. The United States looks impotent; Ahmadinejad and his Revolutionary Guard cronies are confirmed in the belief that they have nothing to fear from the West. President Obama’s attempt to restore multilateralism to the center of U.S. diplomacy falls flat.
But will there be any consequences for Lula? The Brazilian president probably doesn’t mind much whether or not Iran acquires nuclear weapons -- after all, he is in his last year in office, and Iran poses no threat to Brazil. Nor does the Obama administration appear inclined to punish the Brazilian leader, whom Obama recently called “my man.” The State Department said this week that the administration is “increasingly skeptical” that Iran was going to change course, and that “there may still be a difference of opinion” with Brazil “as to where we are in this process.”
Nevertheless, “we do recognize the value and importance of a variety of countries engaging Iran,” spokesman Philip Crowley said.
In other words: Lula, go ahead and grandstand.

terça-feira, 27 de abril de 2010

2085) Iran elogia Brasil em politica nuclear

Mediação do Brasil na questão nuclear iraniana
Agência Efe, 27.04.2010

O presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, deu as boas-vindas a uma eventual mediação do Brasil na polêmica questão do programa nuclear de Teerã, acusado por grande parte da comunidade internacional de ter fins militares.

Larijani recebeu nesta segunda-feira, 26, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que chegou de madrugada a Teerã para preparar a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Irã. O parlamentar, citado pela agência de notícias local Mehr, não ofereceu, no entanto, detalhes sobre o papel que o Brasil poderia desempenhar para solucionar a polêmica.

Amorim, por sua vez, manteve a postura do governo brasileiro e insistiu que Brasília apoia o programa nuclear iraniano, desde que seja voltado para fins pacíficos. O chanceler, porém, não comentou se o País apoiaria possíveis sanções internacionais contra o regime persa.

O ministro já havia anunciado há dois meses a vontade do Brasil de atuar como mediador do conflito, mas não oferecera detalhes. “O que queremos para o povo brasileiro é o que queremos para o povo iraniano, ou seja, a expansão das atividades nucleares pacíficas”, disse Amorim, depois de se reunir também com o negociador nuclear iraniano na questão, Saeed Jalili.

Grande parte da comunidade internacional, sob a liderança dos EUA, acusa o regime dos aiatolás de ocultar, sob seu programa civil, outro de natureza clandestina e com ambições bélicas, cujo objetivo seria adquirir um arsenal atômico, alegação negada por Teerã.

A polêmica se radicalizou no final do ano passado, depois de o Irã rejeitar uma oferta dos EUA, Reino Unido e Rússia para enviar seu urânio enriquecido a 3,5% ao exterior e recuperá-lo depois enriquecido a 20%, nas condições que diz precisar para manter em operação seu reator em Teerã.

Perante a falta de acordo, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, ordenou o início do enriquecimento a 20%, apesar das advertências internacionais. Desde então, o governo americano busca aprovar uma nova rodada de sanções internacionais para tentar frear o polêmico programa nuclear iraniano.

Neste ano, o Brasil assumiu uma das 15 cadeiras do Conselho de Segurança da ONU, órgão responsável pelas possíveis sanções ao regime iraniano. A este respeito, o presidente do Parlamento iraniano voltou a culpar as grandes potências pela falta de acordo e insistiu que chegar a uma solução é “simples”. “Polemizar com dados irreais não terá efeito algum sobre a vontade do povo iraniano. As grandes potências tentam complicar este assunto para favorecer assim seus próprios interesses políticos”, criticou.

Durante a reunião, Larijani e Amorim expressaram a necessidade de ampliar as relações bilaterais em diversos campos, disseram fontes diplomáticas brasileiras.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

2084) Brasil-Iran-CSNU: Brasil vai ter de escolher, diz especialista

Irã é escolha estranha do Brasil, diz consultor de Obama
Por Samy Adghirni
Folha de S.Paulo, 25.04.2010.

Se o Brasil quiser se tornar um líder global, deverá aprender a contrariar aliados -como o Irã- e aceitar que interesses multilaterais se sobreponham a relações bilaterais. O aviso é do analista americano James Rubin, professor de políticas públicas da Universidade Columbia (Nova York), ex-secretário-assistente de Estado do governo de Bill Clinton (1993-2001) e hoje consultor informal da equipe diplomática de Barack Obama.
Em entrevista à Folha, por telefone, Rubin disse que a relutância do Brasil em apoiar sanções ao Irã beneficia um regime que viola a legislação internacional, o que pode prejudicar a aspiração brasileira ao assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

FOLHA - Como o sr. vê a posição do Brasil em relação ao Irã?
JAMES RUBIN - O Brasil, como qualquer outro país grande e importante, tem direito de ter relações com quem bem entender e tantas parcerias econômicas quantas julgar necessário. Mas, no plano bilateral, nenhum americano gosta de ver um líder admirado como Lula na mesma foto que alguém tão pouco admirado como [Mahmoud] Ahmadinejad. Lamento que o governo brasileiro não perceba o perigo de não assumir o papel que lhe cabe no sistema internacional. Na conferência nuclear [de Washington], o Brasil mostrou ter entendido claramente a importância de fazer com que armas nucleares não sejam usadas durante um acesso de raiva ou por terroristas. Então não dá para entender por que o Brasil não acredita que é importante punir aqueles que violam a lei internacional estabelecida pelo TNP [Tratado de Não Proliferação Nuclear] e a AIEA [agência atômica da ONU].

FOLHA - O Brasil alega que o Irã tem direito de enriquecer urânio para fins pacíficos e que até hoje não há provas de que o Irã esteja fabricando a bomba atômica.
RUBIN - O Brasil está certo em dizer que o Irã tem direito a um programa nuclear civil. Mas Teerã violou a legislação duas vezes. Na primeira, o CS impôs a exigência de que o Irã congelasse seu enriquecimento de urânio. Na segunda, a AIEA disse claramente que Teerã descumpriu regras de inspeções e transparência de informações, além de não ter respondido várias perguntas. Saber se o programa nuclear iraniano está fabricando armas não é a questão. A questão é que o Brasil, um país grande e responsável que defende o multilateralismo e talvez se torne um futuro membro permanente do CS, precisa endossar a legislação e o sistema internacionais. O Brasil hoje é membro não permanente do órgão da ONU cujas determinações o Irã viola.

FOLHA - O Brasil pode ter que arcar com o custo político dessa posição?
RUBIN - O Brasil pode ter vários questionamentos legítimos sobre o sistema de não proliferação e tem direito de levantá-los na conferência de revisão do TNP [em maio]. Mas até a China e a Rússia admitem sanções contra Teerã. É estranho o Brasil estar fora desse grupo. Defender as regras do sistema internacional às vezes tem um custo no plano bilateral. Os EUA estão pagando caro por tentar encontrar soluções internacionais para os problemas. O governo americano vive irritando amigos. Talvez o Brasil não queria irritar um país amigo como o Irã. Ou talvez o Brasil não queira estar na posição dos membros permanentes do CS, que são obrigados a contrariar aliados o tempo todo. Para ser responsável, você tem de sacrificar alguns aspectos de suas relações bilaterais. Se o Brasil quer ser um líder, então tem que aceitar que alguns amigos serão contrariados.

domingo, 25 de abril de 2010

2082) Iran defectors tell about nuclear activities - Washington Post

Iranian technocrats, disillusioned with government, offer wealth of intelligence to U.S.
By Joby Warrick and Greg Miller
Washington Post Staff Writers
Sunday, April 25, 2010; A01

Iran's political turmoil has prompted a growing number of the country's officials to defect or leak information to the West, creating a new flow of intelligence about its secretive nuclear program, U.S. officials said.

The gains have complicated work on a long-awaited assessment of Iran's nuclear activities, a report that will represent the combined judgment of more than a dozen U.S. spy agencies. The National Intelligence Estimate was due last fall but has been delayed at least twice amid efforts to incorporate information from sources who are still being vetted.

Director of National Intelligence Dennis C. Blair said in a brief interview last week that the delay in the completion of the NIE "has to do with the information coming in and the pace of developments."

Some of the most significant new material has come from informants, including scientists and others with access to Iran's military programs, who are motivated by antipathy toward the government and its suppression of the opposition movement after a disputed presidential election in June, according to current and former officials in the United States and Europe who spoke on the condition of anonymity to discuss the intelligence gains.

"There is a wealth of information-sharing going on, and it reflects enormous discontent among Iranian technocrats," said a former U.S. government official who until recently was privy to classified reports about intelligence-gathering inside Iran. He said that among senior technocrats in the nuclear program and other fields, "the morale is very low."

In recent weeks, U.S. officials have acknowledged that an Iranian nuclear scientist defected to the West in June. Shahram Amiri, 32, vanished while on a religious pilgrimage in Saudi Arabia and has provided spy agencies with details about sensitive programs, including a long-hidden uranium-enrichment plant near the city of Qom, intelligence officials and Europe-based diplomats said.

Amiri is described by some as the most significant Iranian defector since Brig. Gen. Ali Reza Asgari, a former deputy defense minister and Revolutionary Guard Corps commander who switched sides during a 2007 trip to Turkey.

But sources said there has been a spate of other recent defections by diplomatic and military officials, some of which have not been made public. Among the defectors was a top diplomat at the Iranian mission in Oslo, who said he was pressured to falsify election returns for Iranian nationals who had cast votes at the embassy.

The revisions to the NIE underscore the pressure on the U.S. intelligence community to produce an accurate assessment of Iran's nuclear ambitions as President Obama pursues a policy aimed at preventing the country from acquiring an atomic bomb. The community's 2007 assessment presented the startling conclusion that Iran had halted its work on developing a nuclear warhead, provoking enduring criticism that the report had underestimated the Iranian threat.

Officials briefed on the new version, which is technically being called a "memo to holders" of the first, say it will take a harder tone. One official who has seen a draft said that the study asserts that Iran is making steady progress toward nuclear weapons capability but that it stops short of concluding that the Islamic republic's top leaders have decided to build and test a nuclear device. Iran says its nuclear program is entirely peaceful.
CIA 'brain drain' program

The Iranian diplomat who defected, Mohammed Reza Heydari, said in a telephone interview from Norway that he represents thousands of young, educated Iranians who are increasingly discouraged by developments in their country.

"I personally had a good situation, both in Iran and as a diplomat, but my conscience would no longer allow me to work for the regime," Heydari said. "I was upset that the regime was repressing and killing people, simply for asking the question 'Where is my vote?' "

The departures of Amiri and others have given new momentum to a "brain drain" program set up by the CIA in recent years as part of a broader effort to slow Iran's nuclear progress by sabotaging equipment being shipped into the country and enticing key scientists to defect.

Art Keller, a retired CIA officer, said the agency's goal in recruiting agents is almost always to "run them in place." But in Iran -- where the government uncovered a network of CIA informants and executed its members more than a decade ago -- recruiting spies is regarded as extremely dangerous. "Particularly when it comes to clandestine weapons programs," Keller said, "where the scientists are watched like a hawk."

The CIA declined to discuss the brain-drain program or characterize the information provided by defectors such as Amiri. It also declined to comment on an ABC News report that Amiri has been resettled in the United States.

But Iranian news reports have identified Amiri as a researcher for the Atomic Energy Organization of Iran. The National Council of Resistance in Iran (NCRI), an opposition group that publicly revealed the existence of a secret uranium-enrichment program in 2003, said Amiri had been associated with sensitive nuclear programs for at least a decade. Iran contends that Amiri was kidnapped.

Some observers say the Tehran government has been unnerved by the defections and point to the death of an Iranian physics professor more than three months ago as a sign that it has begun a crackdown designed to frighten would-be spies.

The professor, Masoud Ali Mohammadi, was killed Jan. 12 when a bomb planted on a motorcycle exploded as he passed nearby. Iranian officials accused Israeli and Western intelligence operatives in the killing, but news accounts indicated that Mohammadi had been sympathetic to the opposition movement and had attended anti-government demonstrations. The day before his death, Iranian intelligence agents had searched his home and confiscated documents and notes, according to a report by the NCRI.
Learning from mistakes

In public testimony over the past three years, senior U.S. intelligence officials have avoided contradicting the language used in the 2007 NIE, despite privately asserting that Iran is seeking a nuclear weapon. An unclassified U.S. military report submitted to Congress this month concluded: "Iran is developing technological capabilities applicable to nuclear weapons and, at a minimum, is keeping open the option to develop nuclear weapons."

The 2007 report stressed that Iran was still taking other steps that could help it acquire nuclear arms, but any nuance was lost in the fierce debate that followed. Like the new version, the 2007 estimate was revised repeatedly as its release date neared.

Indeed, it was essentially scrapped and rewritten after the United States obtained secret computer records that described a decision by Iranian leaders to cancel work on a warhead around the time U.S.-led forces invaded Iraq in 2003.

Critics blamed the document -- a version of which was released to the public -- for creating the impression that the Iranian threat had subsided and for derailing the George W. Bush administration's hard-line approach.

The report's authors subsequently acknowledged that it was poorly written for a public audience and, as a result, was widely misunderstood.

A U.S. official briefed on the progress of the new NIE said analysts are under pressure to avoid their predecessors' mistakes. The document is now scheduled to be delivered by August, the official said, adding that "there is an expectation that the previous one will be corrected."

U.S. officials said there will be a major difference in how the new estimate is presented. The previous document triggered headlines that Iran had backed away from its pursuit of the bomb largely because officials decided to release a version to the public. The officials said they now see that decision as a mistake and have no plans this time to make portions of the estimate public.

Staff researcher Julie Tate contributed to this report.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

2059) EUA e Iran: esgotando as vias diplomaticas

O Irã e o instinto de Obama
Stefan Simanowitz, The Guardian
O Estado de S. Paulo, 21.04.2010

Consciência de líder está certa em evitar ao máximo um confronto militar direto com Teerã; é preciso insistir nas negociações, em vez de aplicar novas punições ao regime

Há alguns dias, a Rússia e os Estados Unidos assinaram um novo tratado de redução de armas estratégicas (Start) dando sinais de uma mudança significativa no foco da estratégia nuclear dos EUA - de seus antigos inimigos da Guerra Fria para os chamados Estados renegados. Na última semana, na cúpula sobre segurança nuclear em Washington, a China concordou pela primeira vez em trabalhar com os EUA numa possível aplicação de sanções contra o Irã. Enquanto cresce o ímpeto para novas sanções contra Teerã na ONU, crescem também os temores de que uma intervenção militar contra o Irã esteja se tornando mais provável. Os instintos do presidente Barack Obama assegurarão que ele fará tudo ao seu alcance para evitar um conflito militar com o Irã - mas ele enfrenta "falcões" em casa.

No mês passado, o senador americano Lindsey Graham disse a uma plateia que, se for usada, a força militar contra o Irã deve ser empregada "de maneira decisiva" assegurando que o Irã não tenha nem mesmo "um avião que possa voar ou um navio que possa navegar". Esse tipo de retórica belicosa não é nova vindo de falcões em Washington, mas as palavras do senador Graham refletem uma militância crescente no Congresso, que no ano passado autorizou US$ 46 bilhões em recursos militares de emergência. No fim de março, circulou uma resolução na Câmara dos Representantes endossando explicitamente um ataque militar israelense ao Irã se "nenhuma outra solução pacífica puder for encontrada em tempo razoável". O tipo de "solução pacífica" e o tempo que eles considerariam "razoável" não foi especificado.

Noticiou-se recentemente que centenas de bombas "arrasa bunker" (que penetram profundamente no solo antes de explodir) estão sendo enviadas dos EUA à base militar americana na Ilha de Diego García, no Índico, e o governo americano assinou contrato com uma empresa de transporte para levar 19 contêineres de munição para a ilha. Serão mandadas 195 bombas inteligentes Blu-110 com penetradores e 192 bombas Blu-117 de 900 quilos. Os EUA já possuem uma força militar poderosa no Golfo e estão realizando manobras navais em larga escala no Atlântico com britânicos e franceses.

Ao assumir a presidência, Obama fez uma clara ruptura com a estratégia para o Irã de George W. Bush, demonstrando a disposição de negociar diretamente com Teerã sem precondições. Em seu pronunciamento pela televisão voltado para o Irã e em seu discurso no Cairo, ele reconheceu publicamente os aiatolás como legítimos representantes do povo iraniano, admitiu o direito do Irã de enriquecer urânio e falou abertamente do papel da Agência Central de Inteligências (CIA) na deposição do primeiro-ministro iraniano, Mohammad Mossadegh, em 1953.

Em outubro, ele manteve conversações diretas com os iranianos em Genebra depois das quais o jornal britânico Financial Times observou que Obama "obteve mais do Irã em oito horas do que a posição enérgica de seu antecessor conseguiu em oito anos".

Obama também herdou uma máquina militar cujos planos para um ataque ao Irã já estavam bastante avançados, e enfrenta uma mídia conservadora e um público pouco familiarizado com uma política externa com base na diplomacia paciente e na construção do consenso que muitos equiparam à fraqueza. A mais recente rodada de sanções envolverá exigências rígidas de inspeção de todos os bens que entram e saem do Irã e um embargo de produtos derivados de petróleo para o Irã. O bloqueio naval necessário para aplicar as sanções - seguramente envolvendo a Marinha Real britânica - poderá perfeitamente levar à guerra. Como se viu no Golfo de Ormuz nos últimos anos, escaramuças com a Marinha iraniana na região tendem à escalada.

Nas conversações em Genebra, o acordo proposto pelos EUA estabelecia que o Irã trocasse a maior parte de seu estoque atual de urânio pouco enriquecido por hastes de combustível para usinas vindos da Rússia e da França. Essa troca de "combustível por combustível" foi em grande parte aceita pelo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, Mas, preocupado com "promessas quebradas" anteriores, ele propôs que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) assumisse o controle do urânio pouco enriquecido no Irã até as hastes de combustível serem entregues. Como um passo para uma solução desse problema arrastado, a contraproposta do Irã parecia sensata, mas foi descartada. Em vez disso, os EUA não parecem dispostos a negociar, considerando o acordo proposto uma oferta para "pegar ou largar".

A aparente meta das negociações nucleares dos EUA de completa cessação de todas as atividades de enriquecimento pelo Irã é não só irreal mas, até certo ponto, indesejável. Ahmadinejad não vai desistir das atividades de enriquecimento que considera um direito inalienável do país.

Enquanto muitos têm preocupações genuínas de que o Irã está decidido a desenvolver armas nucleares, a maneira de assegurar que o Irã não se tornará uma nação nuclearmente armada não é isolar Teerã. Em vez disso, é preciso restabelecer rigorosas atividades de monitoramento internacional. Argumentos sobre o possível cronograma para o Irã obter uma capacidade de produzir armas nucleares tornam-se acadêmicos se assegurarmos a cooperação iraniana como o regime de inspeções da AIEA.

Com novo respeito nas ruas árabes por sua condenação, no mês passado, da política israelense de assentamentos, e mais legitimidade em seu apelo pela não-proliferação nuclear ao embarcar ele próprio na redução de armas, Obama deveria aproveitar essa oportunidade para prosseguir nas negociações com o Irã em vez de promover novas sanções. Os neoconservadores podem tentar convencer Obama de que, na condição de única superpotência global, os EUA precisam aproveitar este momento para garantir sua posição na região e assegurar controle das reservas cada vez menores de petróleo e gás. Eles podem argumentar que é preferível lançar um ataque preventivo contra o Irã mais cedo, enquanto a máquina militar americana está na região, do que mais tarde, quando o Irã se tornar ainda mais forte. Mas um ataque assim, com base no princípio da autodefesa antecipada e lançado antes de todos os meios pacíficos terem sido esgotados, seguramente não se coadunaria facilmente com a consciência de Obama. A nós, só nos resta esperar que Obama continue sendo um homem guiado por suas crenças.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

2054) Iran e seguranca nuclear: ofensiva diplomatica contra as sancoes

O Irã está despachando missões diplomáticas para países que estima importantes no bloqueio de novas sanções. Não pretende fazê-lo em relação ao Brasil, talvez por julgar que não é necessário, talvez porque o Brasil se antecipou ao gesto e está enviando uma missão diplomática a Teerã, aliás, do mais alto nível, como se sabe...

Iran seeks to persuade Security Council not to back tough nuclear sanctions
By Thomas Erdbrink
Washington Post Foreign Service
Wednesday, April 21, 2010

TEHRAN -- Facing increasing momentum behind a U.S.-backed bid for new sanctions against it, Iran is launching a broad diplomatic offensive aimed at persuading as many U.N. Security Council members as possible to oppose tougher punishment for its nuclear program.

Iran wants to focus on reviving stalled talks about a nuclear fuel swap to build trust on all sides, according to politicians and diplomats in Tehran. But leaders of Western nations say that unless Iran alters its conditions for the deal, they will refuse to discuss it again. Under the arrangement, aimed at breaking an impasse over Iran's uranium-enrichment efforts, Tehran would exchange the bulk of its low-enriched uranium for more highly enriched fuel for a research reactor that produces medical isotopes.

As Iranian diplomats fly around the world to discuss the swap, they are lobbying some of the Security Council's rotating members to vote against a fourth round of sanctions proposed by the United States, officials said.

The Obama administration is seeking unanimous support for further Security Council sanctions against Iran. Three previous rounds of sanctions were accepted by all members, except in 2008, when Indonesia abstained. This time, Iran is actively working to get more Security Council members to oppose the U.S. initiative.

"In the coming 10 days, the Islamic republic's delegations will travel to the capitals of Russia, China, Lebanon and Uganda to pursue talks," Foreign Minister Manouchehr Mottaki said. "Other countries will be visited in the near future." He said that "nuclear issues" will be on the agenda.
ad_icon

Iran also plans to try to rally support during an international conference to review the nuclear Non-Proliferation Treaty (NPT). In Tehran's view, the gathering, scheduled for May in New York, is shaping up as a confrontation between nuclear powers and developing nations.

Iran's official stance is that the U.N. sanctions are not effective. But unofficially, any vote against a new sanctions resolution would be welcomed as a great diplomatic victory.

"The groups we are sending out will be focusing on the correct implementation of the NPT, the disarmament trend and fuel-swap issues," said Kazem Jalali, a member of the Iranian parliament's national security and foreign policy committee. "Naturally, our explanations during the trips will have a positive effect against the efforts by the United States in trying to impose new sanctions."

To start its diplomatic offensive, Iran held a nuclear disarmament conference last weekend that several Security Council members attended. The meeting, with its motto of "nuclear energy for all, nuclear weapons for none," focused on what Iran and other developing nations call "double standards" and "discriminatory elements" in the Non-Proliferation Treaty.

Participants in the Tehran conference shared complaints that world powers are using proliferation fears as a reason to prevent developing nations from establishing independent nuclear energy programs.

Iran's diplomatic effort seems especially aimed at developing nations such as Brazil, Nigeria and Turkey, which hold rotating seats on the 15-member Security Council. Iran is also betting that council members Lebanon -- which has a government that includes members of Iran-backed Hezbollah -- and Uganda might vote against new sanctions or abstain.

As a part of the campaign, President Mahmoud Ahmadinejad will begin a two-day state visit Friday to Uganda, where he is expected to promise help in building an oil refinery.

Brazil and Turkey already have said they are wary of imposing additional punishment on Tehran. Turkish Foreign Minister Ahmet Davutoglu, visiting Iran on Tuesday, announced that his country is ready to mediate on the uranium swap proposal and other nuclear issues.

The U.N.-backed arrangement, proposed in October, was the subject of promising initial negotiations. But it was soon shelved after Iran repeatedly changed its conditions, saying the exchange should take place on Iranian soil and demanding more Western security guarantees.

With Western nations insisting that the swap occur outside Iran, Turkey offered last year to act as a neutral location for the exchange, but Tehran was not interested, diplomats said.

Asked Tuesday about the proposal, Iranian Foreign Ministry spokesman Ramin Mehmanparast told reporters, "The venue of any fuel swap will be in Iran."

Special correspondent Kay Armin Serjoie contributed to this report.

domingo, 18 de abril de 2010

2035) Advocacia diplomatica: pagando, fazemos qualquer servico...

...ou talvez até sem pagamento, assim entre amigos, na base da simpatia...
As relações Brasil- Irã estão chegando ao ponto G, de ótimo, obviamente...

O advogado de Ahmadinejad
Editorial
O Estado de São Paulo, 18.04.2010

Se cobrasse honorários por desempenho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia apresentar uma alentada fatura ao seu homólogo iraniano Mahmoud Ahmadinejad pelos extenuantes serviços de advocacia que lhe prestou nos últimos dias. Desacreditando a própria versão oficial de que a intenção do governo brasileiro era mediar o conflito sobre o programa nuclear do Irã, Lula se comportou como patrono de Teerã nas suas reuniões bilaterais com os líderes estrangeiros vindos a Brasília para dois encontros de cúpula: o do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) e o do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China).

O chinês Hu Jintao, o indiano Manmohan Singh, o russo Dmitri Medvedev e o sul-africano Jacob Zuma ouviram dele o que ouviriam de Ahmadinejad: que a adoção, pelo Conselho de Segurança (CS) da ONU, de uma nova rodada de sanções contra o Irã, buscada pelos Estados Unidos e a União Europeia, seria inútil ou contraproducente, e que o diálogo é a única via para o país prosseguir com o programa nuclear a que tem direito e a comunidade internacional se convencer dos seus fins pacíficos. Na véspera, de volta da Cúpula de Segurança Nuclear, em Washington, Lula já havia criticado abertamente o presidente Obama.

“O que acho grave é que ele até agora não conversou com o Irã”, acusou. Na realidade, o sexteto formado pelos EUA, Alemanha, Grã-Bretanha, França, Rússia e China vinha conversando intermitentemente com a República Islâmica, sem resultados. Lula, que visitará Teerã daqui a um mês, temperou a sua defesa da posição iraniana com o reparo de que o país “tem de ser mais transparente para mostrar que a finalidade de seu programa é pacífica”. Pelo visto, ele acredita nas intenções declaradas do Irã: o problema estaria apenas na sua opacidade. Como se isso não fosse indício veemente de seus planos para, no mínimo, chegar ao limiar da produção da bomba.

Lula tem afirmado que em 2003 o mundo foi induzido a crer que o Iraque tinha armas de destruição em massa - e que isso não pode se repetir com o Irã. O fato é que Saddam agia como se as tivesse, ao passo que Ahmadinejad age como se não quisesse tê-las. Lula também anunciou que falará “olho no olho” com Ahmadinejad “e, se ele disser que vai construir (a bomba), vai arcar com as consequências do seu gesto”. Só mesmo a sideral soberba do presidente para levá-lo a imaginar que o seu anfitrião poderá se confessar com ele. Saindo do terreno da galhofa, o que o Brasil propõe é ressuscitar as negociações sobre a troca de urânio iraniano enriquecido a 3% pelo equivalente russo e francês de 20% de teor, para a produção de isótopos de uso medicinal.

A ideia, discutida em outubro passado na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), visava a reduzir os estoques iranianos de material passível de enriquecimento a 90%, necessário para a bomba. A tentativa de testar a boa-fé do Irã gorou quando Ahmadinejad exigiu que a troca fosse simultânea, o que a tornaria inócua para o objetivo desejado.

Foi a gota d’água para os Estados Unidos passarem a dar prioridade às sanções. Assim como as 3 anteriores, desde 2006, elas resultam das trapaças do Irã com a AIEA, sonegando informações requeridas e ocultando instalações e equipamentos sensíveis.

O retrospecto, é bem verdade, indica que as punições de nada serviram - ou porque saíram aguadas do Conselho de Segurança, sobretudo por obra da China, ou porque foram desrespeitadas até por empresas americanas. É incerto o efeito das próximas, se e quando forem aprovadas. Se forem robustas e receberem maciço apoio internacional, talvez levem os iranianos de volta à mesa, para uma negociação que poderia ser muito mais abrangente, como propõem especialistas em Oriente Médio e diplomatas - desde que o Irã deixe de pregar a destruição de Israel. A questão-chave é a posição da China, que mantém as suas cartas perto demais do peito para permitir prognósticos seguros do seu jogo.

Pequim reluta em punir o Irã que lhe vende 12% do seu petróleo e gás. Mas teria concordado em ao menos discutir as sanções com os outros membros do CS. Eis uma atitude mais madura - ou mais esperta - do que a do Brasil, advogando para Teerã.

2034) A diplomacia que diz nao: "agora nos podemos..."

Tem gente que se orgulha em dizer não ao Império, talvez por coragem, macheza, temeridade, whatever...
De fato, é uma demonstração de independência, até de soberba e arrogância.
A menos que seja de outra coisa, cujo nome me escapa, exatamente...

A situação é séria. O Brasil está operando para minar a posição dos EUA na questão estratégica número um do governo Obama
Por Paulo Sotero (*)
Estado de São Paulo, 18.04.2010:

As diferenças cada vez mais evidentes entre o Brasil e os Estados Unidos sobre como proceder para convencer o Irã a honrar suas obrigações de signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear contêm os ingredientes para transformar-se numa “crise real nas relações entre os dois países, com consequências nocivas que levarão anos para serem revertidas”, disse um funcionário do governo Obama, após a conclusão da Cúpula sobre Segurança Nuclear, em Washington, na semana passada. O desencontro de posições levou a Casa Branca a tirar o Brasil do roteiro preliminar de viagens internacionais do presidente Barack Obama em 2011, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o líder iraniano em Brasília, no final do ano passado.

As coisas só pioraram desde então. “A situação é séria. O Brasil está operando para minar a posição dos EUA na questão estratégica número um do governo Obama; não se trata de divergências como as do algodão ou a crise em Honduras, que podem ser tratadas em compartimento próprio, sem contaminar a relação.”

Na mesma linha, assessores legislativos manifestaram-se perplexos com o que um deles chamou de “a gratuidade” de certos gestos do Brasil, como o desprezo com que Lula referiu-se, em entrevista ao jornal espanhol El País publicada na véspera da cúpula, ao acordo de redução do arsenal de armas atômicas alcançado entre os EUA e a Rússia - o primeiro do gênero em duas décadas.

Ninguém entende tampouco em Washington a motivação do Brasil para assumir o papel de padrinho global do regime do iraniano na questão nuclear ou consegue vislumbrar o interesse brasileiro atendido por essa estratégia. “O Brasil entrou num jogo de altíssimo risco, no qual não tem fichas nem assento à mesa e suas chances de influir no desfecho são inexistentes”, disse uma fonte do governo. “Todos reconhecem o talento político de Lula, mas esse caso exige um milagre.”

O milagre provavelmente renderia o Prêmio Nobel da Paz a Lula em dezembro. Há quem acredite que esta seja a motivação do líder brasileiro. O pesadelo, considerado muito mais provável, pode começar no decorrer dos próximos 30 dias. Nesse período, Washington intensificará as negociações já iniciadas com os demais membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU com vistas à adoção de novas sanções para forçar Teerã a negociar.

Reconsideração. Paralelamente, estará ocorrendo em Nova York a conferência quinquenal de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Finalmente, dia 16 , Lula chegará a Teerã para retribuir a visita que lhe fez em novembro o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. A esperança nos círculos oficiais em Washington é que Lula reconsidere a visita a Teerã e some o Brasil ao crescente consenso em favor de mais pressão sobre o Irã, que conta agora com a participação da China e da Rússia. Preocupados em não dar pretexto para Brasília passar a impressão de que sua posição em relação ao Irã contaria com o respaldo da Casa Branca, como ocorreu após a visita do líder iraniano ao Brasil, funcionários do governo dos EUA desestimularam uma solicitação de encontro entre Lula e Obama. Na rápida conversa que acabou ocorrendo - durante uma breve reunião entre Obama e o premiê da Turquia, Recep Erdogan -, houve tempo apenas para Lula ouvir o rechaço de Obama ao seu pedido de mais tempo a uma solução negociada da questão nuclear com Teerã.

O quadro adverso que agora se desenha na relação bilateral era uma hipótese na cabeça do embaixador americano em Brasília, Thomas Shannon, nos dias que antecederam sua partida de Washington, em fevereiro. “Os esforços das diplomacias do EUA, do Brasil e de outros países em relação ao programa nuclear do Irã serão julgadas não pelos processos usados, mas pelo resultado”, disse Shannon na época. O resultado que pode desarmar a crise requer, obviamente, uma dramática volta atrás por parte do Irã, que não parece ser contemplada nos cálculos de Ahmadinejad.

Os danos, no entanto, começam a aparecer. O pouco caso de Lula ao acordo sobre desarmamento entre os EUA e a Rússia custará a antipatia ao Brasil do senador Richard Lugar, republicano de Indiana e um dos defensores do tratado no Congresso, que era, até recentemente, um político empenhado em ampliar a cooperação entre os dois países, principalmente na área de energia renovável.

A declaração que o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, fez em Teerã sobre a disposição do Brasil cooperar com o Irã na produção e fornecimento de biocombustíveis foi instantaneamente reproduzida por boletins eletrônicos e blogs voltados para a indústria do etanol de milho nos estados do Meio-Oeste e, com toda probabilidade, virará munição para a defesa dos subsídios ao setor e ataques contra o etanol brasileiro.

Há, por fim, o momento escolhido para a visita da missão comercial brasileira a Teerã, ou seja, durante cúpula convocada pelo presidente americano. Ele foi recebido como uma provocação por setores do Executivo e do Legislativo - uma provocação desnecessária que deve ficar sem resposta, para sublinhar a disposição do governo Obama em relação ao Brasil nesses meses finais do governo Lula.

(*) É jornalista e analista ao Woodrow Wilson International Center For Scholars, em Washington

sábado, 17 de abril de 2010

2026) O Imperio em busca de uma estrategia - um problema filosofico ou pratico?

Leiam primeiro, se desejarem, a matéria abaixo, do Washington Post, que alerta que o Secretário da Defesa dos EUA, com toda a sua candura (e estupidez) de politico profissional, diz abertamente o que nenhum estrategista verdadeiro, desde Sun Tzu pelo menos, diria em publico e nesses termos.
Se trata de alguem notoriamente despreparado para o cargo, de qualquer republiqueta que se pense, quanto mais do Imperio mais poderoso do planeta.
Se nao tem uma estrategia de longo prazo (ou de qualquer prazo), deveria mandar fazer uma, em lugar de ficar com devaneios filosoficos (que nao sei ainda quais sao, pois ainda nao li o documento original, so reagindo ao alerta do jornal).
Os israelenses tem sim uma estrategia, mas ela corre o risco de incendiar a regiao, e precipitar muito mais mortes e destruicao do que qualquer outra solucao diplomatica (que sera sempre de acomodacao, é bom que se diga de imediato).
Se os americanos nao tem estrategia, poderiam comecar discutindo a estrategia de quem tem: seja aos israelenses, seja ao G6 que discute o problema, até ao Brasil e sua diplomacia do olho-no-olho (quem sabe dá certo e o Lula consegue ser Premio Nobel da Paz, como tanto almeja?).
O que nao se pode é ficar fazendo documentos filosoficos. Secretario da Defesa não é para fazer filosofia, é para defender o seu pais, qualquer que seja a concepcao de defesa que este tenha democraticamente aprovado.
Neste caso, é tambem bom que se diga, os EUA estão prestando um servico de utilidade publica mundial.
Ou alguem acredita que o mundo estará melhor quando os iranianos possuirem a bomba atomica?
Bem, pode ser que alguem acredite nisso, aqui mesmo no Brasil.
Mas eu estou falando de pessoas sensatas...
------------------------------
Paulo Roberto Almeida

Gates Says U.S. Lacks Strategy to Curb Iran’s Nuclear Drive
By DAVID E. SANGER and THOM SHANKER
The Washington Post, April 17, 2010

WASHINGTON — Defense Secretary Robert M. Gates has warned in a secret three-page memorandum to top White House officials that the United States does not have an effective long-range policy for dealing with Iran’s steady progress toward nuclear capability, according to government officials familiar with the document.

Several officials said the highly classified analysis, written in January to President Obama’s national security adviser, Gen. James L. Jones, touched off an intense effort inside the Pentagon, the White House and the intelligence agencies to develop new options for Mr. Obama. They include a revised set of military alternatives, still under development, to be considered should diplomacy and sanctions fail to force Iran to change course.

Officials familiar with the memo’s contents would describe only portions dealing with strategy and policy, and not sections that apparently dealt with secret operations against Iran, or how to deal with Persian Gulf allies.

One senior official, who like others spoke on the condition of anonymity because of the sensitive nature of the memo, described the document as “a wake-up call.” But White House officials dispute that view, insisting that for 15 months they had been conducting detailed planning for many possible outcomes regarding Iran’s nuclear program.

In an interview on Friday, General Jones declined to speak about the memorandum. But he said: “On Iran, we are doing what we said we were going to do. The fact that we don’t announce publicly our entire strategy for the world to see doesn’t mean we don’t have a strategy that anticipates the full range of contingencies — we do.”

But in his memo, Mr. Gates wrote of a variety of concerns, including the absence of an effective strategy should Iran choose the course that many government and outside analysts consider likely: Iran could assemble all the major parts it needs for a nuclear weapon — fuel, designs and detonators — but stop just short of assembling a fully operational weapon.

In that case, Iran could remain a signatory of the Nuclear Nonproliferation Treaty while becoming what strategists call a “virtual” nuclear weapons state.

According to several officials, the memorandum also calls for new thinking about how the United States might contain Iran’s power if it decided to produce a weapon, and how to deal with the possibility that fuel or weapons could be obtained by one of the terrorist groups Iran has supported, which officials said they considered to be a less-likely possibility.

Mr. Gates has never mentioned the memo in public. His spokesman, Geoff Morrell, declined comment on specifics in the document, but issued a statement on Saturday saying, “The secretary believes the president and his national security team have spent an extraordinary amount of time and effort considering and preparing for the full range of contingencies with respect to Iran.”

Pressed on the administration’s ambiguous phrases until now about how close the United States was willing to allow Iran’s program to proceed, a senior administration official described last week in somewhat clearer terms that there was a line Iran would not be permitted to cross.

The official said that the United States would ensure that Iran would not “acquire a nuclear capability,” a step Tehran could get to well before it developed a sophisticated weapon. “That includes the ability to have a breakout,” he said, using the term nuclear specialists apply to a country that suddenly renounces the nonproliferation treaty and uses its technology to build a small arsenal.

Nearly two weeks ago, Mr. Obama, in an interview with The New York Times, was asked about whether he saw a difference between a nuclear-capable Iran and one that had a fully developed weapon. “I’m not going to parse that right now,” he said. But he noted that North Korea was considered a nuclear-capable state until it threw out inspectors and, as he said, “became a self-professed nuclear state.”

Mr. Gates has alluded to his concern that intelligence agencies might miss signals that Iran was taking the final steps toward producing a weapon. Last Sunday on the NBC News program “Meet the Press,” he said: “If their policy is to go to the threshold but not assemble a nuclear weapon, how do you tell that they have not assembled? I don’t actually know how you would verify that.” But he cautioned that Iran had run into production difficulties, and he said, “It’s going slow — slower than they anticipated, but they are moving in that direction.”

Mr. Gates has taken a crucial role in formulating the administration’s strategy, and he has been known over his career to issue stark warnings against the possibility of strategic surprise.

Some officials said his memo should be viewed in that light: as a warning to a relatively new president that the United States was not adequately prepared.

He wrote the memo after Iran had let pass a 2009 deadline set by Mr. Obama to respond to his offers of diplomatic engagement.

Both that process and efforts to bring new sanctions against Iran have struggled. Administration officials had hoped that the revelation by Mr. Obama in September that Iran was building a new uranium enrichment plant inside a mountain near Qum would galvanize other nations against Iran, but the reaction was muted. The next three months were spent in what proved to be fruitless diplomatic talks with Iran over a plan to swap much of its low-enriched uranium for fuel for a medical reactor in Tehran. By the time Mr. Gates wrote his memo, those negotiations had collapsed.

Mr. Gates’s memo appears to reflect concerns in the upper echelons of the Pentagon and the military that the White House did not have a well-prepared series of alternatives in place in case all the diplomatic steps finally failed. In fact, just before Mr. Gates issued his warning, the chairman of the Joint Chiefs of Staff, Adm. Mike Mullen, wrote an official “chairman’s guidance” to his staff saying that while any military option would have “limited results” against Iran’s nuclear facilities, preparations needed to be stepped up.

“Should the president call for military options, we must have them ready,” the admiral wrote.

Administration officials testifying before a Senate committee last week made it clear that those preparations were under way. So did General Jones. “The president has made it clear from the beginning of this administration that we need to be prepared for every possible contingency,” he said in the interview. “That is what we have done from day one, while successfully building a coalition of nations to isolate Iran and pressure it to live up to its obligations.”

At the same hearing before the Senate Armed Services Committee, Lt. Gen. Ronald L. Burgess Jr., director of the Defense Intelligence Agency, and Gen. James E. Cartwright, the vice chairman of the Joint Chiefs of Staff and one of the military’s most experienced officers on nuclear matters, said that Iran could produce bomb-grade fuel for at least one nuclear weapon within a year, but that it would probably need two to five years to manufacture a workable atomic bomb.

The administration has been stepping up efforts to contain the influence of Iran and counter its missiles, including placing Patriot anti-missile batteries, mostly operated by Americans, in several states around the Persian Gulf.

The Pentagon also is moving ahead with a plan for regional missile defense that reconfigures architecture inherited from the Bush administration to more rapidly field interceptors on land and at sea.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

2023) Diplomacia do futebol e suas metáforas....

E o Irã, que posição ocuparia no jogo de futebol?

Brasil não teme ficar isolado, diz Amorim
TÂNIA MONTEIRO
Agência Estado, 15 de abril de 2010

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, declarou, após o final das reuniões do BRIC, que o Brasil não tem nenhuma preocupação em ficar isolado na defesa de que não sejam aplicadas sanções ao Irã por causa de seu projeto nuclear e usou uma comparação com o futebol para falar da situação brasileira.

"Antigamente no futebol tinha o ponta esquerda e ele ficava isolado porque ninguém jogava bola pra ele. O Brasil não tem esse problema. O Brasil joga no meio de campo e, portanto, recebe bola e passa bola", afirmou Amorim, insistindo que a imprensa é que tem preocupação com isolamento, não o governo. "Não temos essa preocupação. Isso é uma preocupação de vocês", disse o ministro.

Celso Amorim disse ainda que o Brasil está conversando com vários países sobre a questão do Irã e depois destes encontros, certamente, todos vão refletir sobre as conversas. "Todos compartilham a percepção sobre o valor de uma solução negociada e os inconvenientes que podem ter as sanções", declarou Amorim, acrescentando que cada país fala por si e o Brasil defende o diálogo e todas as conversas foram muito produtivas.

Comentários à matéria do Estado:

4 Alfredo Junior
16 de abril de 2010 | 7h 11Denunciar este comentário

Esse Celso Amorim é a pior desgraça do governo Lula. O panaca quer comparar um assunto tão sério com futebol. É um imbecil de carteirinha mesmo. Mas é bom que os brasileiros vejam bem quem é o pivô de todas as enrascadas em que se mete o presidente, para que depois saiba de quem cobrar. Maldita hora em que delegaram poder a um retardado mental.

3 Alberto Martinet
16 de abril de 2010 | 6h 22Denunciar este comentário

O Amorim idolatra de tal maneira o chefe que já está se deixando contaminar pelo vezo de arrematar seus pensamentos com metáforas futebolísticas. É muito rasteiro para quem ocupa hoje o lugar que já foi do Barão do Rio Branco.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

2018) O Brasil e o programa nuclear iraniano: olhos nos olhos?

Eu me pergunto como vai ser esta conversa: o presidente Lula vai olhar nos olhos de Ahmadinejad e dizer o seguinte:
"-- Ahmadinejad, seja sincero e olhe nos meus olhos: é verdade que você pretende construir armas nucleares?"
Estou esperando a resposta...
Paulo Roberto de Almeida

Brazil's Lula warns Iran on nuclear arms
Reuters, Wed, Apr 14 2010

SAO PAULO, April 14 (Reuters) - Brazil's President Luiz Inacio Lula da Silva said on Wednesday that he will tell Iran's President Mahmoud Ahmadinejad the Islamic Republic would suffer the consequences if it seeks nuclear arms.
Lula is due to visit Tehran next month.
"I will go there and talk face-to-face to Ahmadinejad. If he says he will build (arms), he'll have to pay the price for his move," Lula said at a steel conference in Sao Paulo without giving details.
Latin America's largest economy has urged continued dialogue with Iran even as Western powers push for a new round of U.N. sanctions over a nuclear program they believe is aimed at developing nuclear bombs.
Lula said Iran should not be punished before further talks and that he didn't want a repeat of what happened in Iraq, which was accused of having arms of mass destruction "that nobody showed us."
The Lula administration said this week it was looking to finance Brazilian exports to Iran, particularly food supplies.
Lula welcomed his Iranian counterpart to Brazil last year and will visit Tehran despite growing criticism by Brazilian opposition parties and Western diplomats over the close ties.
Brazil's Foreign Minister Celso Amorim said last week that United Nations sanctions against Iran over its nuclear program could make the Islamic Republic more radical and cause its population to revolt. But he denied Brazil was pro-Iran, saying it simply favored negotiated solutions to global problems.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

2080) Editorial do Globo sobre o Iran e o problema nuclear

Nunca é tarde para transcrever certas manifestações de princípio, que tem a ver com o núcleo mesmo da política externa brasileira, num momento de definições relevantes.
Veremos como se dá a evolução deste processo.

Brasil à deriva no apoio ao Irã
EDITORIAL
O Globo, 09/04/2010

O presidente Barack Obama recepcionará líderes de 47 países na próxima semana, em Washington, para uma reunião sobre segurança nuclear, com três trunfos na mão: a revisão da política nuclear americana, há pouco anunciada, pela qual os Estados Unidos se comprometem a não usar armas atômicas contra países que não as possuam, exceto estados sem lei, como Irã e Coreia do Norte; a assinatura com a Rússia ontem, em Praga, de um pacto para redução em um terço dos arsenais nucleares, apontando para uma nova era de cooperação entre os grandes ex-inimigos da Guerra Fria (a Rússia é a sucessora legal da União Soviética); e, finalmente, a concordância da China em conversar sobre as novas sanções que os EUA e o Ocidente desejam aplicar ao Irã, pela falta de transparência de seu programa nuclear, considerado uma ameaça em escala mundial.

A revisão da política americana feita pelo governo Obama reflete preocupação, não com outras potências nucleares, como Rússia e China, mas com a proliferação: se estados sem lei, no sentido de não confiáveis, como Irã e Coreia do Norte, obtiverem armas atômicas, ainda que rudimentares, muito mais provável se torna a hipótese de que elas caiam em poder de redes terroristas, como a al-Qaeda. Estaria criado o pesadelo do terror nuclear.

Daí a busca de consenso para a imposição de sanções destinadas a interromper o desenvolvimento do programa nuclear iraniano, uma vez que Teerã rejeita submetê-lo à Agência Internacional de Energia Atômica (em relação à Coreia do Norte, há um trabalho permanente que envolve os EUA, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha).

Nesse contexto, quanto mais cresce a compreensão de que é preciso evitar que o Irã - governado por uma ditadura militar e teocrática com objetivos expansionistas - desenvolva armas nucleares, mais delicada se torna a posição do Brasil. O governo Lula adota uma política externa de protagonismo terceiro-mundista que, para seus artífices, o "Itamaraty do B", é a melhor forma de defender os interesses do país. Ela se pauta, estranhamente, pelo apoio a ditaduras - como as de Cuba, Venezuela e Irã - colocando o Brasil em rota de colisão com os EUA e o mundo. O argumento do presidente Lula é que "o Brasil conversa com todos". O do chanceler Celso Amorim é que não se deve pressionar o Irã porque isso poderá levar a maior radicalização de sua liderança. Imagine-se este argumento aplicado a Hitler.

Os EUA aceleram as gestões para que o Conselho de Segurança da ONU aprove o quanto antes novas sanções ao Irã. A China, o maior aliado iraniano, aceita conversar sobre a hipótese, embora não se possa dizer que vá concordar com ela. Sobra o Brasil, que, claro, também aceita conversar, mas insiste em dar o benefício da dúvida ao Irã. Se não houver uma evolução da posição brasileira, o presidente Lula chegará a Teerã em maio, retribuindo visita de Ahmadinejad a Brasília, em novembro, num um dilema infernal: se o Brasil votar na ONU a favor das sanções, desembarcará como persona non grata. Se recorrer à abstenção, desagradará tanto a Ahmadinejad quanto ao Primeiro Mundo. E se, num ato delirante, votar contra as sanções, a diplomacia brasileira terá ficado refém de Teerã.