Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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quarta-feira, 14 de novembro de 2018
Estatais: monstrengos a serem fiscalizados (se possível privatizados) - Antonio Emilio Freire
quinta-feira, 1 de novembro de 2018
O que Margaret Thatcher teria a ensinar ao Brasil? - Paulo Roberto de Almeida (Instituto Millenium)
Podcast do Instituto Millenium em 6/11/2018, disponível no seguinte link: https://www.institutomillenium.org.br/destaque/o-que-o-brasil-pode-aprender-com-margaret-thatcher/
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(B) Apresentação-resumo do áudio-gravado pelo jornalista Frederico Portella:
segunda-feira, 11 de junho de 2018
Reduzir o tamanho do Estado: absoluta necessidade - Julio Marcelo de Oliveira (Crusoe)
É preciso reduzir o tamanho do Estado
O procurador que investigou as pedaladas fiscais de Dilma Rousseff defende a privatização de estatais como um atalho para reduzir a corrupção, tornar os serviços públicos mais eficientes e evitar problemas como o que deflagrou o levante dos caminhoneiros
Há um caldo de insatisfação da sociedade com um governo que cobra muito imposto, que custa caro e não entrega um serviço de qualidade. Basta ver a falta de segurança, os hospitais públicos caindo aos pedaços e a educação que não avança e está longe de ser uma alavanca de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, há o Poder Judiciário com esses habeas corpus em escala industrial, especialmente do ministro Gilmar Mendes, que acabam ajudando a aumentar a sensação de impunidade, de que há certas pessoas e grupos protegidos. Isso gera descrença na democracia e nas instituições. A credibilidade do Supremo nunca esteve tão em xeque, e isso faz parte do caldo de insatisfação da sociedade brasileira. Se as pessoas não acreditam nas instituições, por que vão mantê-las? Por que vou manter um sistema que não me devolve o que espero dele?
Eu não tenho descrença na democracia. Para mim, ela é um valor absoluto. O que vejo em grande parte da sociedade é uma descrença na democracia em razão de as pessoas não perceberem nas instituições uma resposta adequada ao problema que é apontado pela população como o mais grave do país hoje — a corrupção. Se o Congresso Nacional e os partidos políticos não expurgam nem mesmo os já condenados e se alguns ministros do STF concedem habeas corpus em escala industrial, a percepção da sociedade é de que nossa democracia não funciona. E assim as pessoas ficam perdidas, procurando uma alternativa que possa ser melhor, mas que não existe. Temos de consertar nossa democracia, não jogá-la fora. Democracia é incompatível com impunidade. O Judiciário é o fiador da democracia, tem de garantir o seu funcionamento, porque deve proteger a lei e punir quem a viola. Em vez de pedirem o fim da democracia, essas pessoas devem exigir intolerância com a corrupção nos três poderes, o STF incluído.
Os números mostram que a má gestão e o desperdício causam até mais prejuízos que a corrupção. Mas uma coisa está amarrada à outra, porque você tem a ocupação dos cargos públicos por pessoas incompetentes para gerir, mas competentes para arrecadar, para abastecer o caixa das campanhas dos partidos políticos. É por isso que é tão tão grande a sede dos partidos pelo loteamento dos cargos na Esplanada. É por isso que o número de cargos em comissão é altíssimo. E é por isso que instituições como a Caixa são troféus, e que os partidos procuram fazer indicações para diretorias dessa e de todas as outras grandes estatais.
Atrapalha muito e gera ineficiência. Nosso país até hoje é patrimonialista. O Estado é visto como um meio de conseguir recursos, privilégios, benefícios fiscais, ocupação de cargos. Um Estado maior favorece isso. Um Estado menor dificulta. Por isso não se conseguiu privatizar mais na era Fernando Henrique. Recentemente, ele mesmo disse que não conseguiu privatizar Furnas porque era um condomínio de indicações políticas. O Estado é muito ineficiente. Não defendo Estado mínimo, mas pergunto: por que o Estado tem que ser empresário? Ele tem uma dívida imensa com a sociedade brasileira na saúde e na educação pública. Essas áreas, sim, podem alavancar nosso desenvolvimento. Na educação pública você investe e daqui a 15, 20 anos tem uma geração de pessoas educadas, bem formadas, com alta produtividade e capacidade de inovação. Isso hoje está restrito a quem pode pagar escola particular ou a um mínimo de escolas públicas de qualidade. Isso é que tinha que ser considerado estratégico pela população. As crianças brasileiras é que são nosso ativo estratégico para desenvolver o país, não é o petróleo.
Por que não?
Qual o sentido hoje de o país ser dono de uma petroleira estatal? Por que não ter aqui cinco petroleiras, abrir o mercado, gerar competição na exploração, no refino, na distribuição? A gente só tem a ganhar.
Porque no imaginário do brasileiro a Petrobras é estratégica. Se foi, lá na década de 50, hoje já não é. Petróleo já não é mais estratégico. Daqui até 2030, os países não vão ter mais combustível fóssil sendo queimado por tantos veículos. Vai ser quase tudo elétrico. Quanto mais a gente gerar de exploração de petróleo agora, aproveitar de geração de riqueza enquanto ele tem valor, melhor. Por que tratar isso como se fosse uma questão de soberania nacional? O Brasil precisa se abrir.
São várias resistências. Primeiro, dos funcionários que vão sempre dizer que aquilo é um patrimônio do país, estratégico, que não pode ser vendido de jeito nenhum, como diziam da Vale. Segundo, tem esse imaginário popular que precisa ser desconstruído. A população precisa ver que tem muito mais a ganhar com a privatização. Enquanto o imaginário da sociedade achar que o petróleo é estratégico e que a Petrobras é fundamental para o futuro do país, políticos vão ficar com medo de tocar nesse assunto. E sempre há a resistência daqueles outros que usam a empresa para fortalecer o seu grupo.
A Petrobras já vinha recuperando seu valor. As ações estavam subindo até a greve dos caminhoneiros. Em qualquer lugar, fazer uma gestão boa dá trabalho, leva tempo, mas para destruir é muito rápido. Tem que pegar a empresa enquanto está boa e vender enquanto ela vale algo, enquanto está em boas condições. Um próximo governo com viés ideológico equivocado pode destruir a Petrobras, pode acabar com ela.
(Pode) Querer que ela seja utilizada para controlar a inflação, impondo o prejuízo de comprar gasolina mais cara do que ela vende. Essa política causou 60 bilhões de reais de prejuízos na Petrobras e fez da empresa uma máquina de investimento sem capacidade de retorno. Essas refinarias que ela começou a construir no governo passado, várias simultaneamente, foram um absurdo. Sem orçamento, com orçamento chutado, com obras que custaram muitos bilhões a mais do que o inicialmente previsto, com outras que foram abandonadas, gastaram-se alguns bilhões e não haverá retorno nenhum. Esse dinheiro foi todo perdido.
Há níveis de governança diferenciados. Percebemos diferença nítida, por exemplo, entre Caixa e Banco do Brasil. O Banco do Brasil conseguiu criar cultura de diretorias ocupadas por servidores de carreira de uma qualidade técnica maior e um senso de proteção da instituição, mas isso também não impede que esses funcionários de carreira não sejam ligados a partidos políticos e procurem nos partidos os vetores que lhe vão dar a oportunidade para ascender. Mesmo assim, o nível de qualidade da governança é melhor. A Caixa, por sua vez, é explicitamente vulnerável, como deixou claro a Lava Jato. Também é evidente a utilização da Caixa como instrumento político do governo para atender as suas bases.
Qual sentido faz a União ser dona de dois bancos (Caixa e Banco do Brasil) desse porte? Tem sentido o Estado ter uma instituição financeira quando o mercado é incipiente. Quando não há outras instituições financeiras, o Estado vai lá e ocupa esse espaço. Com o mercado financeiro sofisticado como o que temos no país, não tem sentido o Estado ser dono de metade do crédito do mercado financeiro. Não tem sentido ser dono do Banco do Brasil e ser dono da Caixa.
Não é porque você vai privatizar que vai privatizar mal. Privatização não pode ser um fetiche que se justifica por si só. Ela pode ser melhor para o país se for bem feita. No caso das teles, houve erros. Mas é fácil avaliar olhando para trás.
Vejo instituições públicas sendo levadas a fazer maus negócios para atender orientações políticas. A Caixa Econômica libera empréstimos para município e estados que têm dificuldade, que têm capacidade de endividamento comprometido a ponto de não conseguir o aval do Tesouro. Bradesco e Itaú não iriam emprestar dinheiro para município sem aval do Tesouro. Por que a Caixa tem que fazer isso? Se o Tesouro não está dando aval é porque esse município e esse estado já estão com capacidade de endividamento esgotada, já estão devendo muito. Agora, em ano eleitoral, o prefeito e o governador querem gastar e o negócio é feito. Isso é uma disfunção.
Defendo publicamente o fim das indicações políticas para ministros e conselheiros dos tribunais de contas. Isso tem que acabar. Tem várias propostas de emenda constitucional nesse sentido. Mas a questão cultural é muito forte. Na cabeça dos políticos brasileiros, tribunais de contas são para nomear, para ter indicação política.
É bem pior por duas razões. Primeiro, porque nos estados você tem uma elite menor e acontece de haver um mesmo grupo político dominando o estado por 20, 30 anos. Acaba que todos os conselheiros fazem parte do mesmo grupo político e têm uma visão afinada. Isso prejudica ainda mais a independência e a liberdade.
Na Petrobras, dado o seu estado crítico, houve a sensibilidade de que ela tinha que ir para a UTI e ser recuperada, blindada desses critérios de indicação política que a corroeram. Agora, no resto do governo, a lógica continua sendo a mesma de loteamento político. O BNDES hoje é mais transparente. Quando Maria Silvia (Bastos Marques) assumiu, a postura foi de abrir a base de dados para os órgãos de controle. Ainda assim, estamos longe do ideal.
Quando se tem transparência, isso facilita muito a atividade. Hoje se trabalha melhor com o paradigma de transparência nas empresas estatais e nas agências reguladoras. O grande desafio de um órgão como o TCU, que tem que ter seletividade na sua atuação, é fazer um mapeamento de risco, de relevância. Não tem como controlar tudo o tempo todo. O controle tem que ser eficiente e gerar expectativa. É como a Lei Seca. Não dá para ter um policial para cada cidadão. Agora, se o cidadão sabe que existe o risco de ser parado em uma blitz, ele é estimulado a cumprir a lei. É fundamental que exista a certeza de que tudo pode ser fiscalizado.
sexta-feira, 25 de agosto de 2017
Privatizacoes no Brasil: um retorno ambiguo - Bradesco BBI
Cabe registrar, apenas, que atualmente, e infelizmente, o governo não está exatamente privatizando totalmente os dinossauros estatais. Pressionado por problemas fiscais, o governo está apenas vendendo uma parte de suas ações, para fazer um pouco de caixa, em vista do enorme buraco orçamentário existente nas contas públicas.
A situação permanece extremamente grave, o que recomendaria uma retomada de privatizações, mas em escala verdadeira, ou seja, vendendo TODOS os dinossauros estatais, inclusive bancos e TODO o controle sobre as estatais do setor elétrico, e sobretudo e principalmente a Petrobras, para que ela nunca mais ela seja objeto de práticas predatórias de políticos corruptos. Afinal de contas, ninguém detectou participação significativa da Embraer ou da Vale nessa onda vergonhosa de corrupção lulopetista e do sistema político, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida
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Privatization, What’s Not Seen
BradescoBBI, August 24, 2017
Privatization is back in the news. As usual, we could investigate the impact of any asset sales from the fiscal finance point of view. But as we argue today, the effect is immensely and even incommensurably bigger on the economy. We analyze a few of these with an eye on the announcement made by the government regarding Eletrobras.
We also describe the complexities from a Congressional point of view of the political agenda in the near term, which could delay the process.
Brazil embraced one of the largest privatization programs in the world in the 1990s. The bulk of privatizations occurred after 1995 during the FHC presidency (a little over than US$10bn was captured under the Collor and Itamar Franco administrations, but were not relevant compared to what was to come). Indeed, it was the change in mindset that was all important: from the ‘national pride’ sentiment that many of these companies embodied during the so-called Economic Miracle, they gradually became a burden and frequently signaled the failure of the State to provide public services (lack of telecommunication services in the 1980s was emblematic).
Suddenly, much more motivated by (1) the pragmatic recognition of this failure, rather than a liberal/libertarian view of the world, (2) the positive impact on fiscal finances with the potential reduction of public debt, transfer of debt to the private sector with upfront revenue collection from the sales proceeds and (3) increased tax collection flows from privatized companies (some not even paying taxes), Brazil went ON SALE, big time, during the second half of the 1990s, raking in more than US$105bn (current nominal dollars) over about seven years.
The purpose, scope and magnitude of the privatization program in the 1990s was unique, probably only comparable to the post-Soviet era and Eastern Europe because of different reasons.
First, it is important to highlight some of the differences in macroeconomic backgrounds, starting with the magnitudes. Based on a very approximate calculation using today’s Reais, this would total around R$350bn according to our estimate (taking the BNDES’ information on the entire privatization program, ‘centering’ a date at Jun/1998 and then monetarily correcting this value for today’s Reais).
That is a lot of money. And it was an even bigger amount from the public finance perspective. Total net debt – a relevant debt concept at the time, since both the volume of reserves and BNDES liabilities were low – reached R$386bn in December 1998.
Apples to apples, or in US dollars, that US$105bn in privatization proceeds compared to a total net debt in dollars of US$319bn at YE1998. The volume of privatization proceeds was very relevant, to the point of representing – in this very rough comparison – one-third of the public debt during the period.’ Today, the Brazilian public debt totaled R$4.7tr as of June 2017, according to the gross debt concept (now more relevant). Under the net debt concept (which discounts debt owned by the federal government with other public-sector entities and reserves), the total is R$3.2tr.
No matter how we refine our numbers, in an approximate calculus in present value terms, the R$350bn we obtained as the total volume of privatization resources is equivalent to 7% of gross debt and 11% of net debt.
Before anyone points to a fair question: we are comparing apples to oranges since the remaining ‘privatizable’ companies are nowhere near that amount today. And that is exactly the first point we want to get across: selling SOEs today is not as potentially important to the public finances as it has been in the past, and for sure it will never be a panacea for massively reducing the stock of public debt.
Yet this does not reduce the government’s incentives to continue with these sales.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Fracassos de um governo que nao acredita em setor privado - Celso Ming
Falhou
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Privatizar todas as estatais brasileiras - Gustavo Miquelin Fernandes
Gustavo Miquelin Fernandes
O país já chegou a sua adolescência democrática; passou-se mais de vinte anos da promulgação da Constituição Federal; a hiperinflação foi derrotada; subimos alguns graus nos índices de desenvolvimento humano e criminosos por delitos contra o Poder Público foram condenados na mais alta Corte da Justiça.
Há avanços, sim, inegavelmente.
Chegou a hora, entretanto, de discutir o assunto do comportamento estatal no sistema de produção, prestação, comercialização e distribuição de bens e serviços com maior esclarecimento e informação. A questão da interferência estatal em assuntos que originariamente não lhe dizem respeito.
Leia-se: a extensa estatização dos meios de produção. O tentacularismo estatal que sufoca o empresariado, gera corrupção, promove aumento tributário e cria a cultura da ineficiência e da improdutividade.
A raiz desse problema é o espectro patrimonialista da nação, fruto da colonização lusitana e com gênese já na chegada de Dom João em terras brasileiras. É a ideia de que público e privado se confundem e trabalham numa faixa de intersecção. Resultado: a coisa não é de ninguém, não tem dono. É de todos e por isso mesmo, de ninguém.
Essa ideologia é sempre reforçada por políticos profissionais, burocratas e agentes mercadores de facilidades em um sistema burocrático de dificuldades, legalmente criado.
O Poder Executivo brasileiro regula, é proprietário, acionista, é participante, é investidor, controlador, e sem contar os órgãos de regulação como as agências brasileiras (ANS, ANVISA, ANATEL, ANTT, ANTAQ, ANCINE), secretarias, departamentos, etc.
A revista “Época”, em sua edição n. 682, com matéria intitulada “Estado Ltda.”, fez interessante levantamento sobre a mão pesada do Estado patrimonialista brasileiro. Faço a ressalva que não se trata de trabalho com metodologia científica, é matéria meramente jornalística, o que não lhe retira o bom conteúdo e que fornece um bom norte para avaliar a situação.
Resultado da pesquisa: 675 empresas com participação direta ou indireta do Governo Federal. Sem contar, evidente, Estados e municípios.
Listarei algumas conclusões mais importantes dos jornalistas que procederam ao levantamento.
Dessas 675 empresas, o Governo controla 276.
Ainda, segundo texto da revista:
“Levando em conta apenas as 628 empresas não financeiras, o faturamento soma R$ 1,06 trilhão, algo como 30% do nosso Produto Interno Bruto (PIB) ou 2,5 vezes as vendas dos 50 maiores grupos privados nacionais (leia o gráfico abaixo). Nas 247 empresas não financeiras controladas pelo governo, as vendas somam R$ 468,5 bilhões, ou 13% do PIB. E o valor de mercado das 99 empresas cujas ações são negociadas na BM&FBovespa totaliza R$ 1,7 trilhão, ou 71% do valor de mercado das empresas na Bolsa. A interferência do Estado na economia via estatais, BNDES e fundos de pensão é tão intensa que, durante a pesquisa, ÉPOCA teve de atualizar os dados de muitas companhias que receberam recentemente dinheiro do governo, como o frigorífico JBS ou a Cipher, especializada em sistema de segurança de informação”.
Enquanto, na décadade 90, o Governo social-democrata teve uma leve inclinação privatizante, o Governo de Luiz Inácio Lula da Silva criou sete novas estatais: Banco Popular do Brasil, Hemobrás, a Empresa Brasileira de Comunicações, a Empresa de Pesquisa Energética, a Pré-Sal Petróleo, a Ceitec e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares.
A atual Presidente da República criou mais cinco empresas: Infraero Serviços, Amazônia Azul Tecnologias de Defesa, Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias, Empresa Brasileira de Planejamento e Logística (EPL) e a Hidrobrás.
A sanha intervencionista é assustadora e não deveria existir num país tão pobre, cheio de carência e miséria e com uma classe empresarial tão propensa à inovação e ao investimento.
Se não bastasse a criação de novas companhias, há a permanência das existentes, a participação governamental em empresas privadas, a regulação, a questão dos subsídios, investimentos e inversões conduzidas pelo BNDES nas empresas públicas e privadas. Como exemplo, a revista cita o caso do BNDES ter convertido uma dívida de R$ 3,5 bilhões do JBS, o maior frigorífico de carne bovina do mundo, em ações da empresa, ampliando seu capital de 17% para 31%.
A publicação assinala que, do total de despesas públicas, dois terços tem destino carimbado para a folha de pagamentos federal e ao sistema de aposentadoria do funcionalismo.
Pode-se concluir desse cenário patrimonialista que o ambiente é refratário a discussões mais lúcidas, onde qualquer tentativa é vista com muita paixão pelos ideólogos de plantão, não permitindo um debate amplo e sério, não raro, com acusação de “privatistas”, desrespeito ao “patrimônio do povo”, etc.
O problema começa com a Constituição Federal – o regramento base do país:
“Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.”
O que seria segurança nacional ou relevante interesse? Conceitos vagos que demandam interpretações as mais descabidas, evidentemente, socializantes, como é do espectro do próprio sistema constitucional.
O problema é político e, sobretudo, jurídico.
O mais importante, hoje, é fazer essa discussão sobre o redimensionamento da atuação publica em negócios privados, além da excessiva regulamentação, que engessa o setor produtivo e cria um mercado paralelo de vendas de facilidades. Isso sem contar os monopólios estatais, que conferem somente ao Poder Público a exploração de determinados serviços – prestando de maneira muito ineficiente, desperdiçando recursos tributários e gerando corrupção.
A redefinição do papel governamental derrubaria os custos de transação e de produção do setor privado, o que beneficiaria muito a geração de empregos, sobrevindo benefícios para todos.
Outros melhoramentos advindos da privatização: o Estado priorizaria suas funções típicas ou clássicas, como segurança, instituições democráticas, educação, etc. Haveria forte aumento fiscal pelas vendas de ativos e pela ausência dos custos de produção, que serviria para investimentos ou abatimento da dívida pública; a vedação do uso político de empresas, etc.
Há necessidade, portanto, de um novo PND – Plano Nacional de Desestatização – mais amplo que contemple mais empresas, de diversos setores e com maior transparência, para atestar a lisura dos procedimentos da transferência do domínio.
E o principal – que não venha acompanhado de órgãos reguladores, nem tenha participação de bancos públicos, como o BNDES, como é praxe no Brasil. A privatização, como o próprio nome sugere, deve ser genuinamente privada, sem interferências governamentais de qualquer espécie.
Há muita coisa para fazer. Mas poderíamos começar por aqui:
http://www.planejamento.gov.br/ministerio.asp?index=4&ler=c638
Acessem e divulguem esse link oficial, que é do Ministério do Planejamento.
Vamos conhecer todas “nossas” empresas.
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segunda-feira, 15 de abril de 2013
Rodrigo Constantino: entrevista em Paginas Amarelas da revista Veja
Veja, 14/03/2013
Rodrigo Constantino, jovem revelação de economista: “Esfolar os ricos em nome de melhorar a vida dos pobres é uma falácia. E a defesa do mercado não deve ser confundida com a defesa dos empresários”
Um dos mais produtivos economistas da nova geração aponta as contradições, os riscos e a ineficiência resultantes do aumento da interferência do governo na economia
“Se puserem o governo federal para administrar o Deserto do Saara, em cinco anos faltará areia.” A frase é do economista americano Milton Friedman (1912-2006), ganhador do Nobel de 1976 e o maior expoente do liberalismo nos últimos cinquenta anos.
Essa corrente de pensamento preconiza a abertura econômica dos países e a redução, ao mínimo possível, da interferência do governo no funcionamento dos mercados, favorecendo o investimento privado em um ambiente de competição acirrada. A frase de Friedman serve de epígrafe para o livro Privatize Já, de Rodrigo Constantino, lançado pela editora Leya.
Constantino, de 36 anos, faz parte de uma nova geração de economistas brasileiros que valorizam o pensamento liberal clássico e denunciam o peso excessivo do estado na economia. No livro, ele defende a “agenda esquecida” das privatizações. O economista recebeu VEJA em seu escritório, numa empresa de investimentos, no Rio de Janeiro.
As empresas de celulares estão entre as campeãs de queixas entre os consumidores brasileiros, apesar de serem extremamente rentáveis. Nas estradas privatizadas, as reclamações recaem sobre o valor dos pedágios. Não são sintomas de que a privatização nem sempre funciona?
No fundo, se procurarmos bem, sempre haverá a impressão digital do governo nessas falhas atribuídas ao mercado. No caso dos celulares, há muitas reclamações, em primeiro lugar, por causa do grande aumento no número de usuários depois da privatização do sistema Telebrás. Antes nem adiantava reclamar, porque era um serviço caro e raro.
Reconheço que existem problemas. Mas os impostos arrecadados pelo governo encarecem as tarifas e reduzem os investimentos. O sinal das chamadas é ruim porque faltam antenas, e o grande entrave para ampliar o número de antenas são os governos, que demoram a conceder as licenças de instalação.
As pessoas reclamam do preço do pedágio, porém o que deveria ser objeto de revolta são os milhões arrecadados em impostos, como o IPVA, que não são investidos nas ruas e rodovias.
As privatizações, obviamente, não são uma panaceia se feitas de maneira escusa. Acompanhei o processo de desestatização na Rússia, depois da queda do regime soviético. As privatizações ocorreram sem nenhum arcabouço institucional minimamente decente, sem transparência nas informações. Privatização, assim, não faz milagre.
Se a venda de estatais obteve resultados positivos, por que nenhum político no Brasil defende abertamente a privatização da Petrobras?
As resistências são gigantescas. Para privatizar a Petrobras, precisaríamos ter uma Margaret Thatcher, um estadista disposto a enfrentar os grupos de interesses localizados. Será impossível vender o controle da estatal enquanto imperar a ideia de que seria a “entrega” de um patrimônio público.
Basta ver a dificuldade dos tucanos em defender o seu legado, no geral favorável, de privatizações. Elas foram feitas mais por necessidade, porque as estatais estavam quebradas, do que por convicção. Foi preciso que gente como eu, um liberal convicto e crítico da social-democracia dos tucanos, saísse em defesa das privatizações.
A Petrobras não é uma empresa grande demais para ser privatizada e não existiria o risco de substituir um monopólio estatal por um privado?
Nesse aspecto, estou com Milton Friedman. Entre um monopólio estatal e um privado, prefiro o privado. Sempre há formas de regulação para equilibrar uma eventual falta de concorrência. Ademais, não acredito que a Petrobras deva ser monopolista. A concorrência pode e deve ser incentivada, atraindo novos investidores.
O petróleo não é nosso, como argumentam os defensores do monopólio estatal? Perfeito, então nada melhor que entregar a cada brasileiro a sua fatia na empresa. Cada um faria o que quisesse com as suas ações. Em parte, seria a repetição em grande escala da compra de ações com o uso do FGTS.
Infelizmente, o comando da Petrobras fica a cargo de políticos, pessoas sem o menor foco na gestão.
Quais seriam os benefícios de uma Petrobras privatizada?
Os acionistas privados, interessados na rentabilidade, pressionam a empresa a ser mais eficiente. Seriam reduzidas as ingerências políticas e manipulações, como o controle no preço da gasolina para evitar o impacto na inflação. O Brasil já seria autossuficiente em combustíveis. A produção do pré-sal estaria em um estágio muito mais avançado.
Como paralelo, basta observar a revolução em curso atualmente nos Estados Unidos com o intenso desenvolvimento da produção do gás de xisto. O seu processo de extração é complexo, e para torná-lo economicamente viável foram necessárias muitas pesquisas e inovações, feitas por diversas empresas.
É um exemplo daquilo que Schumpeter (Joseph Alois Schumpeter, economista austríaco, morto em 1950) chamou de destruição criadora. Não se pode vislumbrar esse tipo de inovação surgindo em uma economia predominantemente estatal, fechada e sem concorrência.
Não existem estatais eficientes?
São raras. As estatais tendem à ineficiência porque não precisam obter lucros para se perpetuar. Seus diretores podem fazer atrocidades financeiras, mas mesmo assim as estatais continuarão existindo, porque, quando houver problemas, o governo acabará lhes dando mais dinheiro.
É o que ocorre, enquanto falamos, com os bancos públicos. Os bancos privados, temendo o aumento na inadimplência e o risco de perdas, reduziram o ritmo na liberação de financiamentos. Já os bancos públicos, por determinação do governo, estão injetando na economia um volume crescente de empréstimos. Eles sabem que serão salvos pelo governo se essa política der errado.
A atuação dos bancos públicos não contribui para a queda nas taxas de juros cobradas pelo setor financeiro, estimulando assim o crescimento econômico?
Esse é um efeito de curto prazo, atendendo a interesses essencialmente políticos. Acusam, com certa razão, o setor privado pela crise financeira de 2008, mas se esquecem da contribuição do setor público.
Nos governos de Bill Clinton e de George W. Bush, a Casa Branca sofreu pressões para incentivar o crédito habitacional, usando como instrumento as agências semiestatais de financiamento. Essa foi a origem da bolha imobiliária.
Os governos são os maiores interessados em pôr em foco políticas de curto prazo e lançar a conta para a frente. Por cálculo eleitoral, os governos são míopes. Se um político não olha para o curto prazo, ele perde a eleição. Então os governos tendem a estimular a formação de bolhas, postergando qualquer tipo de ajuste.
A internet e o GPS resultaram de investimentos públicos na área da defesa, e o Vale do Silício talvez não existisse sem os gastos americanos na indústria militar e aeroespacial. No Brasil, a Embraer nasceu de um investimento do governo. Esses não seriam exemplos de intervenções estatais positivas?
Tudo isso é verdade, mas recorro a Bastiat (Frédéric Bastiat, teórico liberal francês do século XIX), segundo o qual, em economia, existem os efeitos vistos e os não vistos. Sempre haverá exemplos de sucesso resultantes de intervenções estatais. Um economista mais cético, entretanto, deverá perguntar: e aquilo que não se vê?
Como seria o país se o governo não desviasse recursos escassos para esses fins? Ninguém tem essa resposta. Se o governo não tivesse criado a Embraer e a mantido por anos e anos, mesmo dando prejuízo, talvez os recursos pudessem ter sido usados de maneira mais produtiva pela iniciativa privada. O governo nunca é um bom empresário.
A redução da pobreza não deve ser uma missão eminentemente do governo, sobretudo em um país com bolsões miseráveis como o Brasil?
Sinceramente, acredito que o Estado contribui mais para concentrar a riqueza do que para distribuí-la. Brasília, a capital com a segunda maior renda per capita do país, é um ótimo exemplo dessa concentração de renda patrocinada pelo governo. Não me convence o discurso segundo o qual a justiça social depende de um Estado grande e inchado.
O governo brasileiro cobra um pedágio muito alto em nome dessa distribuição de igualdade e, no fim, o resultado é uma concentração. O governo deveria concentrar os seus gastos na melhora da qualidade do ensino e também na infraestrutura. É o inverso do que existe hoje.
O governo consome o equivalente a quase 40% do PIB e investe apenas 1% do PIB. É preciso investir muito mais, sem, é claro, desativar uma rede de proteção social mínima.
Os países europeus argumentam que o estado de bem-estar social contribui para a coesão na sociedade, reduzindo o risco de levantes populares e rupturas políticas. Qual a sua avaliação?
Concordo em parte. Como disse, nenhuma nação civilizada deve se conformar com o fato de uma parcela de sua sociedade ter ficado para trás, seja por um infortúnio, seja por outro problema qualquer. Essas pessoas não podem ficar desamparadas. Na Europa, porém, o básico já foi atendido há muito tempo.
Para os europeus de agora, todos devem ter direito a tudo. Essa é uma bandeira marxista: a todos de acordo com a sua necessidade; de todos de acordo com a sua capacidade. No limite, essa política leva todos a ter necessidade de tudo, e todos a ter capacidade de nada.
O estado de bem-estar social solapa incentivos cruciais. Ninguém estará disposto a labutar de sol a sol para deixar 60% ou até 70% de sua renda na mão do governo. Esfolar os ricos em nome de melhorar a vida dos pobres é uma falácia.
Por quê?
A economia não é um jogo de soma zero, no qual João, para ficar rico, precisa tirar de José. O mesmo vale para países. É pura propaganda defender a ideia de que alguns países ficaram ricos apenas por ter explorado os pobres. Essa mentalidade mercantilista é que leva a conclusões absurdas como a de que as importações são prejudiciais ao país.
Não é importante proteger da concorrência externa empresas nascentes e, assim, desenvolver o parque industrial?
Absolutamente não. Quantas décadas ainda serão necessárias para a indústria automobilística sair da infância? Setenta anos não foram suficientes? Essa ideia de incentivar os campeões nacionais deveria ter sido enterrada já nos tempos da desastrada Lei da Informática, no governo militar. Mas, infelizmente, muitos economistas ainda usam esse argumento e dispõem de amplo espaço no debate público.
O liberalismo econômico e o estado mínimo não tendem a favorecer os já estabelecidos, os donos de propriedades, em detrimento dos pobres?
Falso. Hayek (Friedrich Hayek, economista liberal austríaco, morto em 1992) mostrou que o liberalismo é o maior aliado dos pobres, porque ele incita a concorrência e oferece igualdade de oportunidades. Sem concorrência, os grandes empresários se revezam na tentativa de conquistar mais privilégios do governo.
O capitalismo de Estado, a simbiose de empresários e governo, é o modo mais injusto de organização econômica. Nesse modelo, o interesse do homem comum, do consumidor, está sempre subordinado ao estado e às suas empresas preferidas. A defesa do mercado não deve ser confundida com a defesa dos empresários.
O mercado é muito mais amplo que isso. O mercado é um mecanismo impessoal de mediação constante dos interesses e demandas de milhares e milhares de entidades e pessoas.
Os liberais, particularmente no Brasil, costumam ser tachados de reacionários e conservadores. Como o senhor se classifica?
Nelson Rodrigues dizia que era um reacionário: reagia contra tudo aquilo que não presta. Eu sou um conservador: quero conservar tudo aquilo que presta. Um liberal é um sujeito cético, desconfiado da natureza humana e do custo das utopias. Encara o estado como um mal necessário.
Sabe que não existe vida civilizada sem governo, mas defende a tese de que o melhor mecanismo de incentivo ao desenvolvimento é a descentralização do poder estatal em um ambiente de livre mercado.
Para nós, liberais, o que realmente serve de garantia ao interesse público são as instituições sadias em pleno funcionamento, e não um governante iluminado dando canetadas no palácio, pensando ser capaz de resolver tudo apenas pela vontade.