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sexta-feira, 12 de maio de 2017

Brasil para Refugiados: Fabio Koifman e Charles Gomes - IPRI, 19/05, 15hs.

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A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), com organização do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), convida para o seminário “O Brasil para os refugiados: contexto histórico”, com os professores Fábio Koifman, especialista em fluxos migratórios da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Renato Zerbini, ex-presidente do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), e Charles P. Gomes, pesquisador da Área Políticas de Imigração, em 19 de maio, às 15h, no auditório Paulo Nogueira Batista.
A formação dos chamados Estados Nacionais fez produzir, especialmente nos períodos de exacerbação dos nacionalismos, projetos e construções identitárias relacionadas aos contornos que definem um povo: idioma, cultura, etnia e religião os quais seriam estabelecidos como padrão criador original de cada nação. Na maioria das experiências, entretanto, as fronteiras nacionais acabaram por delimitar, em um mesmo espaço geográfico, um numero expressivo de diferentes povos e identidades. Os governos incluíram entre as suas missões e atribuições, o dever de zelar pela preservação da cultura elegida como comum e nacional de suas populações, como elemento fundamental do zelo pela unidade nacional. Ao longo da história, minorias étnicas que residiam em diferentes Estados Nacionais compuseram os discursos justificadores de guerras expansionistas, ou foram vítimas de acusações de falta de patriotismo ou até traição.
Nos últimos séculos os conflitos internos, e aqueles entre nações, fizeram produzir dentre as minorias residentes em diversos Estados, assim como dentre os dissidentes políticos ou simplesmente deslocados de guerras e da pobreza, um expressivo e elevado número de almas deslocadas. Estes grupos humanos, que no contexto do século XX, por diferentes razões, necessitavam de refúgio. Porém, em um mundo que estabelecera fronteiras nacionais rígidas, os deslocamentos e a residência se tornaram cada vez mais restritivo e controlado. Mesmo as nações que até então possuíam tradição de recepção a novos imigrantes começaram a limitar seu acesso, criando, pois, maior dificuldade na provisão e fornecimento do refúgio, e de um novo lar aos deslocados. Pergunta-se: como o Brasil se posicionou neste contexto? As ponderações deste seminário-debate tentarão responder tal questionamento ao analisar, por meio de uma abordagem histórica, as políticas brasileiras frente aos refugiados durante a primeira e segunda metade do século XX, assim como tratará do papel contemporâneo que o país toma frente ao tema.
As inscrições estão abertas até às 12h do dia 19 de maio. As vagas são limitadas e será disponibilizado certificado de participação. Participe!
Serviço: 
Tema: O Brasil para os refugiados: contexto histórico
Palestrantes: Fábio Koifman, Renato Zerbini e Charles P. Gomes
Local: Auditório Paulo Nogueira Batista, Anexo II do Palácio Itamaraty, Esplanada dos Ministérios,  Brasília-DF
Data: 19 de maio de 2017, às 15h
Vagas limitadas! Certificados de participação serão entregues aos interessados. Basta solicitar pelo e-mail ipri@funag.gov.brcom o assunto “Certificado Evento Refugiados”.

domingo, 11 de setembro de 2016

Os refugiados e o refugio no Brasil: debate na USP, 29/09/2016


                                                                                                                                             


Os refugiados e o refúgio no Brasil: a lei, as situações e os desafios.
                         29 de setembro de 2016
Das 9h30 às 12h30 – Prédio das Ciências Sociais, SALA 8 - 
Av. Prof. Luciano Gualberto, 315– Cidade Universitária – SP



PROGRAMAÇÃO

MARIA QUINTEIRO mediadora - Socióloga. Núcleo de Políticas Públicas, NUPPs-USP.
FLÁVIO ANTAS CORRÊA“Plano Estadual de Migração e Refúgio” (relação com educação, saúde, justiça e defesa da cidadania, trabalho, família, desenvolvimento social, cultura e pessoas com deficiência).Advogado, especialista em Direito do Trabalho, Coordenador do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas - NETP, da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo.
BERENICE YOUNG“Leituras possíveis no entendimento psicossocial de refugiados em São Paulo- reflexões e experiências” (características do solicitante de refúgio, vivências, problemas e demandas no contexto do serviço de atendimento psicossocial). Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, USP; psicóloga fundadora do Serviço Psicossocial, no Centro Pastoral da Missão Paz.
ALEX ANDRÉ VARGEM - "Desafios nas garantias de direitos e a proteção dos refugiados no Brasil" (Aplicação do Estatuto dos Refugiados, Políticas Públicas estabelecidas e as ausências- Direito à participação política). Sociólogo, com formação sobre o Direito Internacional dos Refugiados pelo International Institute of Humanitarian Law,Itália.
 MARCELO HAYDU - “A Integração Local de Refugiados na Cidade de São Paulo” (integração, desafios nesse processo, lei e políticas públicas). Especialista em Relações Internacionais, professor de sociologia. Diretor Executivo da ADUS- Instituto de Reintegração dos Refugiados no Brasil.
DEBATE APÓS AS APRESENTAÇÕES



Informações e inscrições:
Vera Cecília da Silva, Analista Acadêmica, NUPPs-USP – nupps@usp.br - (11) 3091.3272 / 3815.4134

domingo, 11 de maio de 2014

Heranca maldita da era Lula: os refugiados haitianos - Claudio Humberto (Diario do Poder)


  • Claudio Humberto
  • Diário do Poder, 11 DE MAIO DE 2014

  • É SÓ GRITAR ‘REFÚGIO!’, E HAITIANOS ENTRAM NO BRASIL

    A Polícia Federal está proibida de conter a entrada dos haitianos no Brasil, como tem acontecido, sem qualquer controle, nem documentos. Entre os mais de 4 mil que chegaram este ano, pode haver criminosos comuns, fugitivos da Justiça, terroristas procurados etc, mas instruídos pelos “coiotes”, pagos para trazê-los do Haiti, apenas precisam gritar “refúgio!”, e os agentes são obrigados a permitir o ingresso no Brasil.

  • CASA DE MÃE JOANA
    Já no Brasil, os haitianos recebem “visto humanitário” de permanência, além de carteiras de trabalho com a identidade que declaram.

  • IRRESPONSABILIDADE
    O Brasil, irresponsável, nem sequer faz gestões junto aos governos da Bolívia e do Peru, por onde chegam os haitianos, para exigir vistos.

  • PF MARGINALIZADA
    O Ministério Público Federal e o governo paulista criaram comissão para examinar o problema dos haitianos. E excluíram a Polícia Federal.

  • É SÓ O COMEÇO
    Com estímulo inconsequente do governo, o problema deve se agravar: estudo recente mostra que 91% dos haitianos querem viver no Brasil

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Siria: toda a atencao para as armas quimicas; mas e o desastre humanitario?

Parece que, com essa discussão sobre as armas químicas, estão deixando de lado o drama dos refugiados e deslocados pela guerra cruel, uma guerra que dura dois anos e só existe porque um ditador -- aliás muy amigo dos companheiros -- pretende manter sua ditadura...
Paulo Roberto de Almeida

Pablo Uchoa
Da BBC Brasil em Washington
Atualizado em  12 de setembro, 2013 - 05:00 (Brasília) 08:00 GMT

ONU recebeu apenas 30% da ajuda requisitada para ajudar os refugiados sírios
Elas são a razão subjacente e, paradoxalmente, um dos fatores menos citados na discussão sobre uma possível intervenção militar na Síria: as vítimas de um desastre humanitário que já dura dois anos e meio.

A ONU calcula que o número de mortos desde o início da guerra civil síria supera 100 mil – mais de 1,4 mil só nos ataques com armas químicas no dia 21 de agosto, segundo os EUA – e cerca de 2 milhões de pessoas se aglomeram em campos de refugiados nos países vizinhos.
Apesar disso, até julho, a agência da ONU para refugiados, Acnur, havia recebido apenas 30% dos US$ 4,4 bilhões em ajuda requisitados junto aos países membros para prestar auxílio no conflito.
Nações como o Brasil são acusadas de dificultar a entrada de refugiados sírios, piorando a situação em um país onde mais de 4 milhões já contam como deslocados.
E enquanto as principais potências mundiais debatem o destino das armas químicas sírias, organizações e analistas de direitos humanos lamentam que pouca atenção seja dedicada também à questão humanitária no país.
"Não creio que as discussões correntes façam grande diferença (para a questão humanitária), porque estão focadas unicamente na questão das armas químicas", disse à BBC Brasil um porta-voz da Human Rights Watch em Nova York, Philippe Bolopion.
"Aplaudimos os esforços para garantir que a Síria não volte a usar armas químicas contra sua própria população, mas eles não mudam nada em relação às mais de 100 mil mortes que já foram causadas no conflito."
Questionado sobre se o adiamento da ação militar em favor da opção diplomática poderia recolocar as necessidades da população civil como uma preocupação central, Bolopion expressou ceticismo.
"Quisera eu que assim fosse", disse o porta-voz. "Mas a questão das armas químicas já é um tema demasiado complexo e divisivo, e se acrescentarmos a dimensão humanitária à discussão corremos o risco de fazer com que a Rússia dê um passo atrás na sua própria proposta."
Debate precário
A brevidade do debate sobre os refugiados ficou evidente no conjunto de argumentos que o presidente Barack Obama reuniu na terça-feira à noite para tentar convencer o cidadão comum a não descartar a opção militar por enquanto.
"Resisti aos pedidos de ação militar (na Síria) porque não podemos resolver o problema alheio à força, particularmente depois de uma década de Iraque e Afeganistão", disse Obama.
"A situação mudou profundamente nas primeiras horas de 21 de agosto, quando mais de mil sírios – incluindo centenas de crianças – foram mortas por armas químicas lançadas pelo governo (do presidente Bashar al) Assad."
Apesar da menção aos civis sírios, a explicação do presidente caminhou para falar do risco da proliferação das armas de químicas – que não fazem distinção entre civis e militares – não para as vidas sírias, mas para as de americanos e seus aliados.
"O que aconteceu àquelas pessoas – e àquelas crianças – não é apenas uma violação do direito internacional: é também um perigo para a nossa segurança", argumentou Obama.
"Com o tempo, nossas tropas podem enfrentar o prospecto de uma guerra química nos campos de batalha. Ficaria mais fácil para organizações terroristas obter estas armas e usá-las contra civis. Se o conflito extrapolar as fronteiras da Síria, estas armas podem ameaçar os nossos aliados na região."
Interesses de quem
"
"Nunca escondemos que, quando integravam no Conselho de Segurança, Brasil, Índia e África do Sul poderiam ter feito muito, muito mais para cuidar das necessidades dos civis sírios. Agora que está fora do Conselho, o Brasil poderia ser uma voz mais firme denunciando o apoio incondicionalo da Rússia ao governo sírio."
Philippe Bolopion, porta-voz da Human Rights Watch em Nova York
É compreensível que o presidente, ao se dirigir ao eleitorado doméstico, enfatize os interesses de seu país ao defender uma intervenção mais direta na Síria.
No entanto, mesmo em outros contextos, a falta de um plano contido na proposta americana para reduzir o impacto humanitário da ação militar é uma das críticas levantadas por ONGs.
Além da questão do financiamento, organizações de assistência humanitária se queixam da falta de cooperação do governo Sírio em permitir o acesso a áreas onde a população carece de necessidades básicas, como alimentos, medicamentos e combustível.
Segundo a Human Rights Watch, 2,8 milhões de sírios dentro do país vivem em situação de risco à vida por falta de assistência, ainda que a ajuda esteja, nas palavras de Bolodion, "a alguns quilômetros de distância", nas fronteiras dos países vizinhos.
Nesta quarta-feira, a Comissão da ONU criada em 2011 para monitorar a questão dos direitos humanos no país apresentou um relatório em que acusa ambos os lados do conflito sírio de cometer crimes de guerra e contra a humanidade.
Do lado do governo, a comissão recolheu acusações de massacres contra civis, bombardeios a hospitais e uso amplo de bombas de fragmentação.
Entre os grupos rebeldes, o órgão, chefiado pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, disse ter ouvido denúncias de assassinatos, execuções sumárias, tortura e sequestros.
Fora da agenda
Nada leva a crer que o tema seja discutido em profundidade pelo secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, quando se encontrarem para negociar uma solução diplomática para as armas químicas, em Genebra na quinta-feira.
A Rússia não somente tem bloqueado iniciativas humanitárias no Conselho de Segurança da ONU, como é acusada de continuar suprindo o governo Assad de armamentos pesados, como caças.
Outros atores internacionais, como os países emergentes, são criticados por expressar sua preocupação com o conflito sírio, defender uma saída política mas continuar ausente das operações para apoiar os civis em situação de fragilidade.
"Nunca escondemos que, quando integravam no Conselho de Segurança, Brasil, Índia e África do Sul poderiam ter feito muito, muito mais para cuidar das necessidades dos civis sírios", disse Bolodion.
"Agora que está fora do Conselho, o Brasil poderia ser uma voz mais firme denunciando o apoio incondicionado da Rússia ao governo sírio."
Durante o encontro do G20 – o grupo de 20 principais nações industrializadas e emergentes – em São Petersburgo, na Rússia, na semana passada, organizações pediram apoio político para a proposta de investigar os abusos cometidos por governo e oposição sírios no âmbito do Tribunal Criminal Internacional.
Onze dos vinte membros do grupo – incluindo o Brasil – não haviam se manifestado sobre o tema.

Falando especificamente sobre a questão das armas químicas, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o governo brasileiro "repudia e considera como crime hediondo qualquer uso" desses armamentos

domingo, 9 de dezembro de 2012

Refugiados do nazismo no Brasil - Fabio Koifman

Meus Fantasmas Colaboradores
POR FÁBIO KOIFMAN
Historiador Fabio Koifman - professor de história da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) - fala sobre sua pesquisa a respeito dos perseguidos do nazismo que imigraram para o Brasil e as coincidências que encontrou longo de suas investigações.
Entre 1997 e 2000 investiguei a história do diplomata Luiz Martins de Souza Dantas (1876-1954), em especial, o empenho dele em ajudar os perseguidos do nazismo quando serviu em Vichy, como embaixador do Brasil na França ocupada.
Uma vez levantadas nos arquivos públicos todas as informações relativas à biografia do diplomata, faltava o essencial: uma lista das pessoas que haviam sido salvas. Gente que corria perigo sob o regime nazista, como judeus, comunistas, homossexuais... Quais seriam os seus nomes? Como atribuir ajuda humanitária sem indicar a quem essa ajuda se destinou?
Carteira de identificação de Adele Ots, a sra. Kowarzki, que recebeu visto do embaixador Souza Dantas
O jeito foi estudar todas as listas de passageiros dos navios vindos dos portos europeus no período de junho de 1940 a fevereiro de 1942. A partir dessa fonte, elaborei uma lista com milhares de nomes e passei a pesquisar um por um de modo a identificar o responsável pela concessão do visto para o Brasil.
A lista de portadores de vistos emitidos irregularmente pelo embaixador chegou a 500 nomes. A partir daí busquei localizar os que ainda estavam vivos e entrevistá-los. Meu intuito era instrumentalizar o processo que acabou sendo formado no Museu do Holocausto em Jerusalém com depoimentos dos beneficiados visando o reconhecimento do diplomata como um dos "Justos entre as Nações".
Esses depoimentos, somados a algumas centenas de documentos que remeti junto com o livro que escrevi ("Quixote nas Trevas", Record), contribuíram para que Souza Dantas fosse reconhecido nessa categoria junto àquela instituição em 2003.
Além do suor e da metodologia, outro fator contribuiu para a pesquisa: a ação do que eu chamava de "fantasmas". Para amigos céticos, eram "coincidências". Com a sucessão das "coincidências", passei a brincar dizendo que os fantasmas estavam me ajudando.
Considerando o complexo montar de quebra-cabeças que a pesquisa se constituiu, a localização de pessoas, dados e documentos em um universo tão amplo de possibilidades muitas vezes parecia ação do sobrenatural. Até que um dia descobri a provável identidade dos meus fantasmas.
Homônimos se constituíram em uma das maiores dificuldades para a identificação dos estrangeiros salvos pelo embaixador. Um exemplo foi o nome Lazar Kowarzki. Entre a Primeira e a Segunda Guerra, quatro estrangeiros entraram no Brasil com esse mesmo nome.
Na esperança de entrevistar o próprio ou os filhos, telefonei para duas cidades brasileiras. Nada. Descobri uma viúva brasileira de um dos Lazar Kowarzki vivendo em Miami. Ao telefone, informou também que se tratava de homônimo. Restou um quarto e último, cuja documentação, naquele momento, o Arquivo Nacional não estava disponibilizando.
Ainda assim solicitei o processo que, por milagre, "desceu". Na época, eu vivia em um antigo prédio no Flamengo construído no início dos anos 1940, em um apartamento no qual meus avós viveram por mais de 30 anos.
O prédio possui 68 unidades e a minha era a de número 403. Conferindo os dados do processo de Lazar Kowarzki confirmei o visto concedido pelo embaixador e fui surpreendido pelo fato de Lazar ter chegado ao Brasil acompanhado da esposa e dos pais idosos.
Os quatro vieram com vistos irregulares emitidos por Souza Dantas. Fui verificar o endereço residencial que constava no processo. Para minha surpresa, o endereço era exatamente o meu, com uma diferença apenas: viviam no apartamento 503, a unidade exatamente acima da minha.
Em 1998, localizei a filha do casal Kowarzki e por ela soube que todos já haviam falecido. Ao telefone, disse que eu então habitava o 403. Alguns segundos de silêncio se seguiram. A senhora então disse um pouco assustada: "mas ali vivia dona Rebecca". Esclareci que essa era exatamente a minha avó.
Os Kowarzki viveram dos anos 1940 até os anos 1960 ali e depois se mudaram. A filha passara a infância no prédio.
Anos depois, fui morar em outro apartamento no mesmo bairro. Lendo a escritura, descobri o nome dos primeiros proprietários do imóvel: Zalamans e Frieda Snejers. Ambos já falecidos e antigos portadores de vistos do Souza Dantas.
Deixei os meus quatro fantasmas no antigo apartamento e encontrei outros dois novos para companhia.
Outras tantas "coincidências" ocorreram e seguem ocorrendo. Sorte deste rato de arquivo que enfrenta muitos quilômetros lineares de papel para tentar contribuir com a compreensão de outros tempos neste país. Para tal empreitada, não dispensa a ajuda sempre bem-vinda dos seus fantasmas colaboradores.
O texto foi gentilmente cedido ao Café História pela Folha de S.Paulo e pelo autor, Fabio Koifman.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Intelectuais e o nazismo: Otto Maria Carpeaux

Recebi, via email, o link para este outro blog que publica matérias relativas à vida cultural: ArtLivros.
O nazismo, como seus êmulos autoritários em outras partes do mundo, em outras épocas, sempre perseguiu intelectuais independentes.
Por aqui só temos uma pequena amostra do que ainda pode vir...
 Apenas postando o que me parece relevante, de um ponto de vista cultural.
Neste link: http://artlivros.wordpress.com/2012/08/26/herancas-da-segunda-guerra-i-parte-diplomatas-brasileiros-e-sua-atuacao-na-ajuda-aos-judeus/
Paulo Roberto de Almeida 

Heranças da segunda guerra – I parte – Diplomatas Brasileiros e sua atuação na ajuda aos Judeus.

O periodo da 2ª guerra mundial influenciou e influencia a humanidade em todos os campos. Da estratégia militar ao romance. Do teatro ao comportamento. Tudo parece transparecer o periodo turbulento que deixou profundas feridas na civilização ocidental. Não se pode mensurar as perdas e a carnificina lançada em razão de “ismos” e escolhas raciais. Mas há um lado pouco conhecido deste periodo. O lado oculto das batalhas diplomáticas em prol do salvamento ou da aniquilação dos Judeus. Há herois e crapulas que lucraram com a vida humana…é bem verdade. Porém, se não houvesse um acordo entre o Vaticano e o Brasil, para receber Judeus alemães convertidos ao cristianismo, não teriamos recebido em nossas plagas o vienense Otto Karpfen; filho de pai judeu e mãe católica. Compartilhou sua vida intelectual com figuras como Kafka, Arnold Zweig e outros frequentadores do café romanisches. Um humanista na Berlim dos anos 20. Interessado por assuntos distintos e idiomas. Amargurado, como Kafka, pelos rumos tomados na Europa pós 1ª guerra. Entendendo e antevendo a desgraça que se abateria sobre a Europa, em 1939, ficou sabendo da cota para judeus imigrantes celebrado entre o Vaticano e o Brasil. Decidido, resolveu apresentar-se ao vice-cônsul brasileiro na cidade de Antuérpia. Neste mesmo ano, 1939, casou-se  com uma cantora lírica austriaca e converteu-se ao catolicismo. E foi através  da ajuda de Octaviano Augusto Machado de Oliveira, que servia na cidade desde 1933, que Carpeaux vislumbrou uma chance de sobrevivência em meio a loucura que precipitava a Europa para a destruição. A atitude humanista do Cônsul garantiu ao jovem Otto e sua esposa Helene um visto para o Brasil. Quando cruzavam o oceano houve a invasão da Polonia e as declarações de guerra da Inglaterra e França à Alemanha. Ao chegar no Brasil adotou o nome católico “Maria” e mudou seu sobrenome germânico “Karpfen” para o frances “Carpeaux”. Há pouco reconhecimento ao trabalho dos diplomatas brasileiros no periodo pré 2ª guerra. Mas graças ao trabalho do cônsul Octaviano o Brasil recebeu e ganhou a herança intelectual de Carpeaux.
M.N (26/08/2012)

sábado, 4 de dezembro de 2010

Noticias da (Santa) Casa, 2: (quase) hospedando indesejaveis...

Blog do Ricardo Setti - Revista Veja
03/12/2010 às 16:3

Recusar presos de Guantánamo é coerente com a política pusilânime de direitos humanos do Brasil

Suspeitos de terrorismo em Guantánamo: contra muitos deles não há provas
Amigos do blog, vocês estranharam a notícia de hoje segundo a qual o governo brasileiro se recusou a receber, como refugiados, prisioneiros vindos da base militar de Guantánamo, em Cuba, segundo revelam documentos sigilosos vazados pelo site WikiLeaks?
Cheio de filigranas jurídicas, como sempre, o Itamaraty argumentou com o governo americano que seria ilegal os suspeitos de terrorismo liberados da ilha, pois “não poderia considerar como refugiado alguém que ainda não estava em solo brasileiro”. A informação consta de um telegrama emitido em 2005 para Washington pelo então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, John Danilovich.
Será que, se o governo brasileiro realmente tivesse uma orientação decente em relação aos direitos humanos, não poderia ter feito o que fizeram vários países amigos dos Estados Unidos? Claro que sim. Tanto é que, no ano passado, o secretário especial de Direitos Humanos, ministro Paulo Vanucchi, defendeu que o Brasil abrigasse ex-prisioneiros. A maioria dos atuais detentos de Guantánamo está preso há anos sem provas, e os já libertado que seguiram para o Canadá ou a França assumiram o compromisso de não manter atividades ilegais e aceitar ter movimentos monitorados. Vários já conseguiram emprego e levam vida normal.
Não por acaso, outros dois telegramas obtidos pelo WikiLeaks mostram que o Itamaraty manteve o mesmo discurso quando procurado para receber cubanos que fugiram do regime de Fidel Castro.
Nada a estranhar de um governo que, de forma pusilânime, se abstém para não condenar, na ONU, regimes que violam sistematicamente os direitos humanos como os de Irã, China, Sudão, Coréia do Norte, da própria Cuba e da Síria.

03/12/2010
às 18:42 \ Política & Cia

Receber como refugiados presos em Guantánamo sem culpa formada, não pode. Ficar com o terrorista assassino Cesari Battisti, pelo andar da carruagem, pode. Este é o Brasil de Lula e Celso Amorim

Quer dizer, pessoas acusadas de terrorismo há uma década, presas na base americana de Guantánamo, em Cuba, mas contra as quais não há provas de ter cometido crimes, nem culpa formada — e que os Estados Unidos querem libertar, mas não para seus países, onde se sentem ameaçados –, não podem vir para o Brasil como refugiados (leia post abaixo).
Já o terrorista italiano Cesare Battisti, frio assassino de quatro pessoas, condenado à prisão perpétua legalmente na Itália, país democrático e amigo do Brasil, pelo jeito que as coisas vão, pode. Ou seja, muito provavelmente não será extraditado para a Itália, e será libertado da carceragem da Polícia Federal em Brasília e poderá juntar-se, livre, leve e solto, a seus amigos na esquerda brasileira (leia aqui post a respeito).