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sábado, 8 de maio de 2021

Gente: o que será que houve? - Paulo Roberto de Almeida

 Gente: o que será que houve?

Paulo Roberto de Almeida


Estou achando os nossos colegas bolsomínions destes nossos espaços inacreditavelmente silenciosos. 

O que será que aconteceu com eles? 

Antes, qualquer palavrinha torta contra o “mito”, lá vinha uma enxurrada de impropérios, daqueles bem escabrosos, os preferidos pelo guru presidencial.

Ficaram magoados conosco, nós que somos os antibolsonaristas?

Retiraram os batalhões? Desistiram? Combateremos sozinhos? Pena!

Desculpem qualquer coisa: não queriamos ofender, chamar vocês de burros, idiotas, essas coisas; era tudo defesa da democracia, vcs sabem, aquela coisa inventada pelos gregos lá atrás (mas sem mulheres e escravos), e que foi sendo aperfeiçoada aos poucos, ao longo dos séculos. A coisa ia indo mais ou menos bem, mas, de vez em quando, chega um maluco e põe tudo a perder.

Era o bom combate, mas estamos ficando sozinhos na arena: eles agora preferem manifestar sozinhos, aos domingos, quando chamados pelo capitão e sua tropa de aloprados. 

De repente pararam de me xingar, como se eu, justo eu, tivesse parado de atacar suas ideias malucas. 

Estou quase ficando sem matéria prima para escrever alguns livros de ocasião: nos últimos dois anos e meio aquele menino maluquinho alçado à condição de chanceler acidental me forneceu abundante material para minhas reflexões e escritos; agora está ficando mais raro. 

Vai voltar? Não é que eu esteja pedindo, pois tenho coisas mais importantes para fazer, e estava sendo desviado para essa obrigação moral de me opor aos destruidores de nossas instituições, em especial no âmbito da diplomacia.

Se alguém tiver notícias dos maluquetes favor avisar...

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 8/05/2021

terça-feira, 4 de maio de 2021

Os novos bárbaros e a falsa defesa da soberania nacional - Paulo Roberto de Almeida

 Os novos bárbaros e a falsa defesa da soberania nacional

 

Paulo Roberto de Almeida

Comentários esparsos sobre fraudes nas redes sociais


 

Circulou pelas redes sociais uma “notícia” sobre uma suposta interferência do embaixador da China no caso de um assessor fundamentalista bolsolavista que está arriscado de demissão, pois que participou, com o Bananinha 03 e o infeliz ex-chanceler acidental, da destruição da diplomacia brasileira, desde o final de 2018 até o início de 2019. Postei a manchete, ainda que me pareceu suspeita, apenas me permitindo ironizar como sendo a segunda “bola na caçapa”, pois é evidente que a primeira, por parte de um coletivo de senadores, também foi causada pelos potenciais prejuízos causados ao agronegócio brasileiro em vista da postura ideológica de trio aloprado. A tropa dos “novos bárbaros”, que infesta de modo caoticamente organizado as redes sociais, pretendeu fornecer lições de “soberanismo explícito”, às quais respondi com uma série de comentários cumulativamente dispersos (isto é, sem um ordenamento lógico).

Permito-me simplesmente alinhar esses comentários, sem qualquer objetivo de apresentar um quadro linear no que se refere às denúncias que cabe fazer contra os aloprados da bolsodiplomacia, que deliberada ou inconscientemente, alienaram a soberania brasileira a uma potência estrangeira, ou mais especificamente a um dirigente americano, já devidamente votado para fora do governo da maior democracia ocidental.

 

Os “novos bárbaros” continuam agressivamente atacando as bases do conhecimento científico e das evidências empíricas, patrocinando um ataque geral à racionalidade ou ao simples bom senso. Eles estão em todas as frentes, na área médica, nas políticas setoriais, na diplomacia (até 29/03).

Bolsonaristas enchem a boca com seu soberanismo abstrato quando cometeram traição à pátria, ao submeter cada uma das grandes decisões nacionais em comércio internacional, nas votações da ONU, nas relações com outros países, aos interesses dos EUA, atuando como vassalos de um presidente megalomaníaco. 

Como considerar atos de soberania decisões de política externa totalmente sujeitas ao escrutínio estrangeiro como fizeram o Bananinha 03, o Robespirralho e o capacho do chanceler acidental, ao prestar, várias vezes, vassalagem a Trump? Eles isolaram o Brasil do mundo, um pária internacional.

Vergonha dos bolsolavistas ignorantes ao abandonar qualquer defesa do interesse nacional em troca da subordinação às vontades do Trump; não trouxeram nenhuma vantagem ao Brasil, só derrotas: conseguiram nos desentender com TODOS os grandes parceiros do país; um fracasso completo!

Quem passeou com bandeiras de duas potências estrangeiras, pedindo a imbecilidade da “intervenção militar constitucional”? Quem seguiu vergonhosamente cada determinação do Departamento de Estado, até acertar com eles o discurso na AGNU? Não têm vergonha da submissão, de serem capachos?

Aliás, quem foi mesmo que falou “I love you Trump”? E quem foi aquele discípulo do Rasputin de Subúrbio que mandou comprar etanol e trigo americano para ajudar numa certa eleição? E que renunciou a ter presidente do BID brasileiro para eleger um sub do sub do Trump?

Aliás, quem disse que o Brasil já virou um “protetorado chinês” foi aquele guru destrambelhado da Virgínia. Os bolsolavetes debiloides que cospem fogo por aqui não vão acusar o desgoverno atual de rendição a uma potência estrangeira? Por algumas toneladas de soja?

Esses caras não souberam das instruções do patético ex-chanceler acidental para que a China retirasse seu embaixador de Brasília; os chineses devem estar rindo até hoje. Vão lhe oferecer um curso gratuito de mandarim num Instituto Confúcio, a CIA da ditadura chinesa. Vai fazer?

Nos bons velhos tempos em que eu criticava o lulopetismo diplomático, os petistas achavam que eu estava a serviço da CIA. Agora, os idiotas que defendem o bolsolavismo diplomático querem saber quanto a China me paga. E eu ainda continuo usando carro velho, comprando seminovos.

Os exaltados com a soberania não têm nada a dizer do “I love you Trump”; da obediência às “instruções” de Trump em todas as circunstâncias, de uma base militar americana no Brasil à aventura eleitoreira na Venezuela, etanol americano, submissão automática ao Departamento de Estado?

Finalmente, quem acha que o Trump iria salvar o Ocidente? Só mesmo um idiota bolsolavista totalmente submisso aos interesses americanos e ao Bananinha 03. Teve de se desdizer no seu “balanço” mentiroso, ao pretender não ter grudado nos EUA e hostilizado a China! 

A própria oposição ideológica ao nosso maior parceiro comercial – um dos motivos da queda do chanceler acidental – já é uma prova evidente da submissão total à paranoia americana, não uma defesa dos interesses nacionais. Bolsolavistas entreguistas: quem mandou seus dirigentes alienarem a soberania nacional a uma potência estrangeira, ficando a ela submissos até a derrota final do Grande Mentecapto? Por que os militares não os derrubaram como traidores da pátria que foram? Covardes, uns e outros?

Nada a dizer sobre certos aspones do alto mandarinato que poderiam facilmente ser enquadrados na categoria de agentes de uma potência estrangeira? Os arquivos a desvelar um dia vão confirmar a suspeita, aliás evidente desde já prima facie. Basta ler certas “notas” diplomáticas...

O Gabinete do Ódio já foi melhor na preparação das ofensivas nas redes; o pessoal anda destreinado; não combinam antes como é que vão atacar um contrarianista. Precisam voltar para um supletivo para aprenderem pelo menos a escrever: envergonham até a mãe com esse linguajar chulo! Tem muito nervosinho nestas paragens, defendendo causas que estavam em voga nos anos 1930 em certos países (o que eles provavelmente ignoram). Alguns até ficam pateticamente indignados quando seus “argumentos” são confrontados: não esperavam ser ridicularizados. “Menos” pessoal!

Quanto menos os caras têm algo de inteligente para oferecer ao debate, mais eles se encrespam com o que não combina com suas ideias fixas e suas obsessões geopolíticas e ideológicas. Deveriam tomar chá de camomila e se dedicar mais à sua própria ilustração.

 

Meu lema preferido: Nulla dies sine linea, segundo Plínio, isto é, nenhum dia sem escrever. O que é bem diferente de nenhum dia sem uma mentira grosseira, num “portugueis” estropiado, sempre atacando inimigos imaginários, e contribuindo para aumentar o sofrimento da nação, quando não mortos!

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4 maio 2021

 

terça-feira, 30 de março de 2021

Uma carta patética de renúncia do chanceler acidental - Paulo Roberto de Almeida

 Uma carta patética de renúncia do chanceler acidental

 

Paulo Roberto de Almeida

 

 

A inacreditavelmente patética carta do ex-chanceler acidental Ernesto Araújo (reproduzida in fine), sem qualquer dúvida o PIOR ministro das Relações Exteriores de toda a história independente do Brasil – e também do curto período de ministério dos Negócios Estrangeiros português já instalado no Rio de Janeiro desde 1808 –, colocando seu cargo à disposição do chefe de governo contém unicamente falácias e inverdades, sendo todo o seu conteúdo inapelavelmente falso e ridículo, como vou demonstrar nesta nota.

Numa entrevista ao jornal O Estado de São Paulo alguns dias antes, o infeliz e desequilibrado diplomata – cujo epitáfio na tumba deveria ser: “Aqui jaz um pária” – havia dito duas únicas verdades, que o jornal não deixou de sublinhar em seu editorial desta terça-feira, 30 de março de 2021, dedicado à sua saída. Seleciono imediatamente essas únicas frases que expressam alguma verdade, para depois me dedicar a desmontar mais um instrumento da série de falsificações que o submisso funcionário de uma família de ineptos conduziu na provecta instituição também conhecida como a Casa de Rio Branco. Eis as passagens: 

“O presidente Bolsonaro tem confiança no meu trabalho. Meu trabalho não é meu, é a implementação de uma agenda de política externa que o presidente traz desde a campanha. (...) Tenho respaldo (de Bolsonaro) porque desde o começo sempre propus ao presidente maneiras de implementar as ideias dele. (...) O presidente me nomeou por causa do meu compromisso de fazer a política que ele queria, implementar as coisas que ele quer, a visão de mundo”. 

Fecho as citações dessa entrevista que precedeu os últimos desastres conduzidos pelo destrambelhado diplomata colocado como um marionete de ocasião à frente do Itamaraty, e passo a examinar sua carta-renúncia de 29/03/2021.


1) No cargo..., lutei desde o início pela liberdade e dignidade do Brasil e do povo brasileiro, pela nossa soberania e grandeza em todos os aspectos.

 

PRA: Não, rigorosamente não. Conceitos abstratos como “liberdade” e “dignidade” são usados abusivamente por qualquer um desses ditadores de opereta que infernizam a vida de tantos povos, pois que fazem exatamente o contrário, ao retirar-lhes a liberdade e qualquer resto de dignidade. O chanceler, como sofista que é, seguindo nisso seu destrambelhado guru expatriado, o Rasputin de Subúrbio refugiado no exterior, pensa que engana o distinto público ao distorcer o vocabulário. Sem tem uma coisa que ele não defendeu, mas invariavelmente se empenhou em destruir, foi a soberania e a grandeza do Brasil, ao colocar a política externa e a diplomacia a serviço de um dirigente estrangeiro, nisso adotando para si o patético slogan de seu inepto chefe, que chegou a proclamar seriamente: “I love you Trump!”

 

2) Procurei... colocar o Itamaraty a serviço do sonho de um novo Brasil.

 

PRA: Esse “sonho” do desvairado chanceler acidental foi um pesadelo para a quase totalidade dos diplomatas profissionais, que viram o Brasil diminuir a olhos vistos no cenário internacional, até ser reduzido à condição de verdadeiro pária, numa obra conjunta dirigida pelo inepto chefe de governo, sendo que o submisso chanceler acidental era vigiado de longe pelo subsofista da Virgínia e administrado de perto pelo Bananinha 03 e pelo fanático fundamentalista conhecido como Robespirralho. O que ele fez, sim, foi colocar o Itamaraty a serviço de Trump, do ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton e do igualmente patético e mentiroso Secretário de Estado americano, Mike Pompeo, com os quais tratou do brancaleônico projeto de “invasão humanitária” da Venezuela, para tentar derrocar o governo Maduro. O que ele fez, de fato, foi reduzir o Brasil a um grau de subordinação automática ao governo Trump, o que jamais ocorreu em qualquer momento da Guerra Fria ou da política oficial de Estado no auge da luta contra o “comunismo mundial”. EA, na verdade, alienou completamente a soberania do Brasil a um governo estrangeiro.

 

3) Nessa luta, deparei-me... com correntes frontalmente adversas.

 

PRA: O ex-chanceler acidental é modesto: não foram apenas “correntes”. Jamais ocorreu na história da política externa uma tal unanimidade contra uma política externa subserviente e totalmente contrária aos interesses concretos do Brasil: desde o início, os mais diferentes setores da economia brasileira, da academia e da cultura, da mídia e da opinião pública em geral, alertaram contra as posturas absurdas que estavam sendo sugeridos ou implementados, e se opuseram contra as medidas mais estranhas e prejudiciais a esses interesses. Em raras ocasiões da história política do Brasil desde a independência se registrou tamanha oposição às orientações estapafúrdias do governo. 

 

4) Ergueu-se contra mim uma narrativa falsa e hipócrita, a serviço de interesses escusos nacionais e estrangeiros, segundo a qual minha atuação prejudicaria a obtenção de vacinas.

 

PRA: O ex-chanceler acidental se engana e pretende enganar novamente: todos aqueles preocupados com os reais interesses do país não deixaram de alertar o quanto a sua política externa caótica, feita de agressividade contra os que não partilham de suas teorias conspiratórias, levantou oposição em praticamente todos os setores, sobretudo quanto a ausência completa de uma política concreta de combate à pandemia, e em face da total inoperância do chanceler e do Itamaraty na mobilização de apoios a um programa de prevenção e vacinação que simplesmente não existia, e de um rotundo fracasso na obtenção de um volume suficiente de vacinas, fracasso que é igualmente partilhado com os incompetentes do Ministério da Saúde (mas que, em última instância pode ser atribuído ao negacionismo persistente do chefe de governo).

 

5) ... infelizmente, neste momento da vida nacional, a verdade não importa para as correntes que querem de volta o poder – esse poder que, durante as décadas em que o exerceram, só trouxe ao Brasil atraso, corrupção e desgraça.

 

PRA: A únicas correntes que já trouxeram, de fato, atraso (que é a volta a um tipo de anacronismo anti-iluminista), corrupção (ainda que familiar) e desgraça (e não só por causa da pandemia, mas no armamentismo, na flexibilização dos controles ambientais e do tráfico), foram e são os fanáticos do bolsonarismo mais ignorante e grosseiro, ao qual o chanceler se tem esforçado para se alinhar completamente (inclusive gritando “MITO!”, “MITO!”) e com isso se rebaixa intelectualmente, numa triste demonstração de como maças podres conseguem contaminar todas as outras. Não se tem notícias de que forças políticas adversas ao desgoverno do capitão estejam ativamente empenhados em tirá-lo do poder: nenhum das seis dezenas dos pedidos de impeachment foi sequer considerado pelo anterior ou atual presidente da CD.

E agora chegamos ao ponto alto da alucinante e alucinada carta do chanceler: 

 

6) A verdade liberta e a mentira escraviza. Hoje, a mentira é despudoradamente utilizada para um projeto materialista que visa a escravizar o Brasil e os brasileiros, a escravizar o próprio ser humano e roubá-lo de sua dignidade material e, principalmente, espiritual.

 

PRA: O infeliz e fracassado diplomata, guindado por engano e de forma fraudulenta (uma vez que EA mentiu para o presidente e para os seus patrocinadores), acredita que só ele tem o direito de distinguir entre a verdade e a mentira, o que é próprio dos egocêntricos e dos autoritários. Mas ele vai além: ele pretende que só eles podem ter o monopólio da salvação do país e da população, como se o Brasil e os brasileiros estivéssemos ameaçados a cair sob o domínio de alguma ditadura comunista, caso os ineptos do poder atual não possam impor sua versão dos fatos, a sua “verdade”. EA fez isso diversas vezes ao longo de seus infelizes dois anos à frente do Itamaraty, e não só em direção ao público interno, mas também em direção ao mundo. Ele pensa que engana o público em geral, quando suas mensagens se dirigem mais especialmente aos grupos de fiéis apoiadores do presidente atual. Numa palavra: ele é patético.

Finalmente, o chanceler acidental (e agora acidentado) conclui sua carta ao “querido Chefe”, em tom lacrimoso, dizendo que tem amor ao Brasil e ao seus povo, e que pretende continuar lutando em favor desse povo “até o fim dos meus (seus) dias”. Pode até ser, mas dificilmente ele o fará novamente nos quadros do Itamaraty ou do Serviço Exterior brasileiro, instituição que ele diminuiu sistematicamente, ao colocá-la a serviço de um pequeno grupo de aloprados, humilhando, no mesmo movimento, seus colegas profissionais de carreira. O ministério foi praticamente demolido pela desastrosa gestão do pior chanceler de toda a história independente do Brasil: o processo de reconstrução da política externa e de restauração da diplomacia será duro, lento e longo, pois que a demolição foi muito profunda, como argumentei em um livro precedente: Uma certa ideia do Itamaraty.

Se eu fosse macabro, o que não sou, eu apenas diria a EA: descanse em paz, e leve consigo seu título de pária, pois que ele não cabe ao Brasil e aos brasileiros. 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 30 de março de 2021

 



terça-feira, 23 de março de 2021

COVID-19: o que falta ao mundo: Liderança de ESTADISTAS para superar a desigualdade vacinal - Paulo Roberto de Almeida, Stephen Collinson, Caitlin Hu (CNN)

 CNN (abaixo) sobre a desigualdade mundial das vacinas (o que nada mais é do que a reprodução do que já existe em termos de PIB per capita, IDH e outras desigualdades)


O que falta, sempre faltou, desde o início e mesmo antes da pandemia, é um diálogo mínimo e um entendimento entre o P5, entre os grandes do G20, e as grandes organizações internacionais, ONU, PNUD, OCDE, OMS, Bretton Woods, OMC, BIS, grandes corporações e tutti quanti importantes para conceber um plano global de enfrentamento da pandemia, o que não ocorreu devido a insistência do Idiota do Trump e pretender chamar o Covid-19 de "virus chinês" e ao insinuar que seria um golpe baixo dos "comunistas chineses" (postura imitada por nossos idiotas nacionais, a começar pelo patético chanceler acidental) para minar o Ocidente.
Está na hora de Biden fazer um apelo ao Guterres para convocar IMEDIATAMENTE uma conferência diplomática internacional para estabelecer um programa de vacinação em massa nos países pobres, com licenciamento negociado das patentes existentes, com vistas a uma oferta abundante, de todos os tipos de vacinas, aos miseráveis do mundo (entre os quais infelizmente nos incluímos, devido à INCÚRIA do GENOCIDA que preside o Brasil).
Paulo Roberto de Almeida

Agora a matéria da CNN:

'It's very frustrating'
Stephen Collinson and Caitlin Hu
CNN, March 22. 2021
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World leaders know Covid-19 will never be beaten until every nation, rich or poor, is blanketed with vaccines. But they also understand that doling out doses to foreigners before their own people are taken care of is political self sabotage.
The gap in vaccine availability between wealthy and developing nations is becoming more “grotesque” every day, World Health Organization Director General Tedros Adhanom Ghebreyesus warned Monday. The world’s most powerful nation, the US, has been slow to corral a global effort to get vaccines for everyone. Marinating in the bitterness of Brexit, the UK and European Union are locked in an ugly showdown over vaccine exports. Meanwhile, entire nations are being overcome by new viral surges: In Brazil, where President Jair Bolsonaro has made a politicized hash of the pandemic, hospitals warn they're running out of drugs necessary to keep patients intubated.
The vaccine race has emphasized a trend stirred by a wave of populism in the West — the revival of the nation-state. The advantage goes to countries with deep pockets and pharmaceutical capacities that can churn out the completed vaccines. This is despite the fact that chemical components of the dose rely on a global supply chain. Winners in the vaccine race like Israel, the UK and now the US boast of their success — especially since it’s covering up their blushes at botching earlier efforts to stifle the virus.
The WHO says countries should prioritize health workers and high-risk populations everywhere in the world, before vaccinating their own healthy citizens who are at low risk of dying from the virus. No one is doing that, though Washington has started to make some limited moves to improve access: It’s “lending” 2.5 million AstraZeneca doses to Mexico and 1.5 million to Canada, and leading an effort that also includes India, Japan and Australia to get a billion vaccines to countries in Asia. More choices will loom when the supply of doses in the US outstrips the number of Americans willing to take them.
No one will be free of Covid until everyone is free. But domestic politics ensure that when it comes to vaccines, charity begins at home.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Compilação de imprecações para uso dos mais ousados - Paulo Roberto de Almeida

Compilação de imprecações para uso dos mais ousados

Os franceses já dispõem, desde 2012, de um Dictionnaire des Gros Mots, ou seja, dos palavrões:
Dictionnaire des gros mots: insultes, grossièretés et autres noms d'oiseaux - par Marc Lemonier
Insultes, grossièretés et autres noms d'oiseaux (Français) Broché – 22 août 2012.

Mas, muitos anos antes, o folclorista Câmara Cascudo já tinha feito um Dicionário do Palavrão e termos afins, que ficou retido na censura do regime militar em várias de suas edições.
Pois bem, resolvi atualizar alguns dos "gros mots" mais populares, para serem imediatamente utilizados pelos interessados ou aqueles muito necessitados de ofender alguém, qualquer um, à serviço da clientela.
Vejamos o que posso coletar:
Abutre, abrutalhado, alienado, alucinado, anacrônico, animal, assassino, Átila, autocrata, babaca, bárbaro, bobalhão, bestalhão, bostinha, bostão, brega, burrão, cagão, calhorda, chacal, cínico, canalha, corrupto, covarde, debiloide, deformado mental, degenerado, dejeto, depravado, déspota, disforme, desequilibrado, doido, escória, escroto, esgoto, estúpido, fascista, falso, fraudador, filho de uma égua, fujão, genocida, gigolô, gosmento, hiena, hipócrita, Hitler, huno, idiota, ignorante, impotente, jumento, ladrão, larápio, lixo, louco hidrófobo, mafioso, mentiroso, merdoso, miliciano, Mussolini de opereta, Napoleão de hospício, nojento, nulidade, obsessivo doentio, opressor, panaca, pantanoso, parvo, pateta, psicopata, pulha, quadrilheiro, Quisling, rato, repulsivo, ridículo, sociopata, terrorista, tirano, totalitário, urubu, Zero.
Pronto, o Novo Dicionário das Imprecações está pronto, sem direitos autorais, cada um use como quiser...
Paulo Roberto de Almeida
PS: Acréscimos nos comentários, por favor, mas com certo pudor, pois existem menores e senhoras de respeito na audiência.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Custo Brasil NÃO existe: só existe Custo do Estado brasileiro, ou de seus governos inconsequentes - Paulo Roberto de Almeida

 Custo Brasil NÃO existe: só existe Custo do Estado brasileiro, ou de seus governos inconsequentes 

Paulo Roberto de Almeida


O “custo Bolsonaro” já se propaga da Petrobras para outros setores da economia: câmbio, juros, spread sobre emissões globais, fluxos de investimentos e morosidade geral na economia, em face das incertezas provocadas por aquele degenerado, que promete “meter o dedo” onde acha que pode melhorar (e só provoca estragos, como já foi o caso na pandemia, com milhares de mortos adicionais).

O vice-presidente exerce plenamente o seu direito de demonstrar ignorância e exibir platitudes sobre o comportamento de “manada” dos mercados, apenas para se alinhar ao nível de debilidade mental do chefão ignaro. Certas pessoas poderiam aproveitar a oportunidade para não se inserir no “efeito manada” da estupidez hierárquica. 

O Brasil patina na economia e se afunda no pântano da falta de governança, já que o posto Ipiranga parou de fornecer combustível, como qualquer outra coisa.

Houve um breve tempo, depois da descoberta do pré-sal, que a Petrobras chegou a ter um rating superior ao do próprio Brasil (antes do Investment grade, em 2009), podendo emitir dívida a juros internacionais inferiores ao do país. Aí veio Madame Pasadena e aplicou golpes em série nessa credibilidade “de manada”, nos combustíveis, na eletricidade, na política automotiva e em muitas outras políticas setoriais, culminando por fazer tudo errado ao mesmo tempo, resultando na Grande Destruição de 2015-16, da qual ainda não nos recuperamos inteiramente.

Agora é a vez do capitão degenerado produzir a GRANDE DEMOLIÇÃO!

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 22/02/2021

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Sobre uma eventual e ainda incerta mudança no Itamaraty - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre uma eventual e ainda incerta mudança no Itamaraty 

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 22/01/2021


Sim, o atual chanceler acidental ultrapassou todos os limites do razoável e da dignidade pessoal, ao defender, e até mesmo recrudescer, no tocante às posturas absolutamente alopradas dos donos do poder em matéria de política externa e de diplomacia.

Sim, ele é o PIOR chanceler em 200 anos de história, mas mesmo tal escala comparativa é inaplicável na prática, pois NUNCA tivemos profissional tão desequilibrado e tão medíocre na gestão de área tão sensivel não só para a imagem do Brasil no mundo, mas também para a defesa concreta dos interesses nacionais e dos resultados econômicos para a comunidade de negócios. 

Sim, ele se mostrou indigno com respeito a valores e princípios tão caros na tradição dos altos padrões de trabalho seguidos pela diplomacia profissional, e até com respeito a cláusulas constitucionais que ele violou seguidamente, notadamente no campo da não intervenção nos assuntos internos de outros países e, sobretudo, na defesa da independência nacional, pois que sacrificou o interesse nacional ao se subordinar de forma vil a dirigentes de uma potência estrangeira.

Sim, ele demonstrou não possuir nenhum laivo de racionalidade, ou até de auto estima, ao se submeter de forma canina, servil, como um capacho indigno, às piores loucuras antiplomáticas de assessores ineptos do círculo do poder e mesmo às idiossicrasias claramente prejudiciais ao Brasil defendidas pelos ignaros da família presidencial em assuntos externos.

Sim, ele representa tudo o que os diplomatas profissionais mais rejeitam, e por isso tem sido objeto do desprezo dos colegas de carreira, a ponto de ser alvo de zombarias clandestinas e de ter sido agraciado com epítetos depreciativos, entre eles o de Beato Salu, personagem histriônico da literatura novelesca.


E, no entanto, acaba de ser defendido pelo degenerado dirigente máximo da obra execrável na política externa, dizendo que ela é “excepcional”. Mas isso era esperado, pois o inepto capitão teima em se contrapor a todo o mundo.

E o que conta, finalmente, é que o chanceler acidental se esmera ao máximo em seguir caninamente seus chefes, obedecendo servilmente aos ainda mais ineptos controladores imediatos, o filho 03, um despreparado completo em temas internacionais e um aspone apelidado de Robespirralho.


Existe o precedente de “cair para cima”, como no caso do inacreditavelmente estúpido Weintraub, premiado com um cargo no exterior totalmente acima e além de sua notória incapacidade.

Pode ser o caminho do desequilibrado chanceler acidental, mas só no caso de problemas ainda maiores do que os já causados aos intereses dos grandes grupos econômicos, até aqui silentes e coniventes com os tremendos despautérios perpetrados por esse bando de ignorantes e despreparados.

Alguma pressão nesse sentido tem sido visível nos últimos tempos, e podem se acentuar com os desastres acumulados no combate à pandemia, e em face do extraordinário e inédito isolamento internacional do Brasil, cujo chanceler não tem diálogo com NENHUM dos grandes parceiros econômicos do Brasil.

Mas, justamente, o inepto e voluntarioso dirigente adora posar de “macho”, contrariando todas as opiniões alheias e até o senso comum e o consenso geral. 

De toda forma, os aloprados no poder precisam de um outro capacho no Itamaraty, o que pode ser difícil de conseguir; ninguém de fora, ou mesmo algum quadro profissional conseguiria ser tão indigno na subserviência quanto tem demonstrado ser o chanceler acidental; se existir, poderia ser apenas o prolongamento da demolição da política externa e da diplomacia. 


Paulo Roberto de Almeida 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Mini-reflexão sobre a infelicidade do Itamaraty - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre a infelicidade

De todos os ministérios disfuncionais, esquizofrênicos e ineficientes do excepcional desgoverno do capitão degenerado — existem vários—, creio que o Itamaraty é o mais infeliz de todos, o mais acabrunhado por sentimentos depressivos, o mais coberto de vergonha, quando não (entre os mais antigos, que são também os mais conscientes da ruptura com padrões do passado) agitado por uma sensação de desesperança por parte daqueles tomados por certo pessimismo de desespero, após dois repletos de caos destruidor.

A razão é muito simples: todos os ministérios dos demais ministros aloprados — e o da Saúde é o exemplo mais evidente, mas também tem o do Meio Ambiente, o dos Direitos Humanos e o da Educação — foram tomados de assalto por ineptos de fora, pessoas completamente estranhas e inexperientes nas áreas que lhes foram atribuídas, figuras equivalentes a um pró-cônsul colonial, um capataz do seu senhor feudal, uma espécie de interventor nomeado por um desses déspotas pouco esclarecido.

Não é o caso do Itamaraty, o único ministério a ter como interventor autoritário um membro da carreira, ainda que muito apagado até sua nomeação, o que muitos duvidaram que fosse sério.

Para maior vergonha dos diplomatas, é justamente um mandarim da mesma classe de funcionários o encarregado de fazer o trabalho sujo que lhe é ordenado pelos ineptos donos do poder e de aplicar caninamente as consignas estapafúrdias de seus donos, mestres, amos e chefes, tanto da família de insanos e despreparados, quanto um fraudulento guru presidencial e outros aspones do círculo mais chegado.

A vergonha que o inacreditável chanceler acidental tem imposto ao Itamaraty, à diplomacia e à política externa não tem limites, e revela todo o desequilíbrio transparente num infeliz indivíduo que foi levado, no turbilhão alucinado e alucinante em que se meteu, a desempenhar um papel totalmente artificial, falso como uma nota de 3 dólares, que mantém com evidente desconforto e grande angústia, pois que sabedor da falsidade desse papel e com um enorme desconforto psicológico. 

Acredito que o torturado chanceler acidental se sinta cada vez mais inseguro nesse papel de pura hipocrisia que foi chamado a jogar, pois que vê com clareza a mediocridade do ambiente em que foi se meter, com ineptos e ignorantes que lhe dizem o que deve fazer a cada passo. Mas não tenho pena do desequilibrado interventor no Itamaraty, e, sim, lamento que meus colegas de carreira tenham de passar pela excepcional e gigantesca vergonha de verem seu ministério demolido em seus fundamentos mais sensíveis. 

Um dia passa essa ocupação ilegítima de uma das mais brilhantes instituições de pensamento e ação do Brasil em sua projeção externa. Todavia, o cristal se quebrou e a vergonha acumulada até aqui permanecerá como uma nódoa por largo tempo ainda. O desequilibrado chanceler acidental entrará numa categoria especial de interventores, a dos traidores de sua própria classe. 

Essa vergonha é indelével.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20 de janeiro de 2021

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Um alerta preventivo a meus colegas do Itamaraty - Paulo Roberto de Almeida

 Mensagem pessoal a meus colegas de carreira no Itamaraty

Paulo Roberto de Almeida

Um alerta fraternal a meus colegas do Itamaraty que estão colaborando, eu sei que em alguns casos involuntariamente (em outros com aquele gosto indecente de promoção e cargos de prestígio), com o projeto alucinado e alucinante do chanceler acidental, um capacho insano dos seus mestres (incluindo um mentecapto estrangeiro agora afastado do poder), ao introduzir essa fantasia antidiplomática do antiglobalismo no currículo do IRBr: vocês, um dia (quando a loucura for afastada), vão ser chamados de “colaboracionistas”, o que deve ser uma pecha terrível a levar em suas biografias pessoais (o resumo do CV do Itamaraty não trará esse detalhe).

Colaboracionista, como vocês devem saber, era o nome que os franceses deram àqueles que serviram ao ocupante nazista, alguns até por gosto, outros de forma relutante ou resignada. 

Os resistentes, como sempre, foram muito poucos, a maioria quando o fim do nefando regime já se prenunciava. 

Teremos esse cenário também no MRE, mas cabe sempre lembrar que certos episódios carregam marcas, deixam cicatrizes, lembranças amargas. 

No meu quilombo de resistência intelectual estou empenhado, como muitos sabem, em escrever uma história sincera do Itamaraty (que aliás é o título do prefácio de meu próximo livro da série sobre a diplomacia bolsolavista), e terei considerações a fazer sobre a miséria dos tempos atuais.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18/01/2021

A fantasia delirante do globalismo entra no currículo do Instituto Rio Branco: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/a-fantasia-delirante-do-globalismo.html - O que pode levar um diplomata tido como “normal” a derivar para a loucura? 1) ambição de poder; 2) a loucura já existia antes, apenas encoberta. Isto é EA, a Era dos Absurdos!

domingo, 3 de janeiro de 2021

A França decadente dos anos 1930 e o Brasil atual: dá para comparar? - Paulo Roberto de Almeida

A França decadente dos anos 1930 e o Brasil atual: dá para comparar? 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivoestabelecer similaridadesfinalidadeFrança dos anos 1930, Brasil atual] 

 

Raymond Aron escreveu em suas memórias:

J’ai vécu les années ‘30 dans le désespoir de la décadence française... Au fond, la France n’existait plus. Elle n’existait que par les haines des Français les uns pour les autres.

[Vivi durante os anos ‘30 no desespero da decadência francesa... Na verdade, a França não mais existia. Ela só existia no ódio dos franceses uns contra os outros.]

[Frontspício ao capítulo 1, “Decline and Fall: the French Intellectual Community at the End of the Third Republic”, Tony Judt, Past Imperfect, French Intellectuals, 1944-1956 (New York: New York University Press, 2011; first edition: Berkeley: University of California Press, 1992)]

 

Sem querer comparar, mas comparando: tem algum cheiro de Brasil atual no ar?

Ou seja, também estamos decadentes?

O Brasil não existe mais?

Só existe Brasil no ódio dos brasileiros uns pelos outros?

Volto à pergunta inicial: dá para comparar o Brasil atual à França dos anos 1930?

Dificilmente, era um país farol do mundo pela sua intelectualidade, pelo prestígio de sua cultura, todos tinham Paris como a sua segunda cidade, a começar pelos americanos cultos e pelos brasileiros ricos.

Mas, a História tem suas surpresas...

Depois disso, veio a derrota, a ocupação, a humilhação de Vichy, o colaboracionismo (bem mais do que a Resistência, que só se manifestou, de verdade, ao final, com a contraofensiva dos aliados, e isso depois que nazistas e comunistas andaram se ajudando reciprocamente).

Não, não dá para comparar: a história da França contemporânea é muito mais dramática, trágica e vergonhosa.

A nossa, por enquanto, é só vergonhosa.

Quem diria que o Brasil otimista dos primeiros anos deste século caminharia, primeiro para o mais grotesco cenário de corrupção política em mega-escala, depois para a maior crise e recessão de toda a sua história econômica, a Grande Destruição, inteiramente made in Brazil?

E quem diria que mergulharíamos, depois de uma breve fase de “corrupção normal”, e de esforços de ajuste econômico, no mais degradante e obscurantista governo de toda a nossa história, começando a contar desde 1549?

Quem diria que estaríamos tão divididos quanto os franceses dos anos 1930, sendo que as sementes da divisão do país já tinham sido plantadas no regime do “Nunca Antes”, sob a condução de um partido especialmente corrupto, e sob a liderança de um carismático líder político — e chefe de gangue — que nos deixou com uma personalidade medíocre, que conseguiu fazer tudo errado em poucos anos?

E que diria que o legado de tudo isso foi nos deixar entregues ao mais perverso, inepto e psicótico dirigente, que só não conseguiu ser mais corrupto do que os petistas por pura incompetência e mediocridade?

Raymond Aron viu mais longe do que todos os outros, nos anos 1930, 40 e 50, quando tinha contra si os mais “brilhantes” intelectuais franceses. Acabou prevalecendo, mas demorou muito: não teve a sorte, como Roberto Campos, de assistir à implosão do comunismo e ao triunfo da ideia democrática, mas nunca desesperou por defender as ideias corretas.

É o que nos resta: defender as ideias corretas e lutar para derrotar os Novos Bárbaros, como se fossem tropas de ocupação. 

Eu já estou na resistência intelectual há muito tempo, em meu quilombo do Diplomatizzando: continuarei lutando contra os obscurantistas e, em especial, contra o anti-Iluminista que assaltou o Itamaraty, levando nossa diplomacia às páginas mais vergonhosas de sua história bicentenária.

Tenho tudo registrado, nos três livros já publicados — Miséria da diplomacia, O Itamaraty num labirinto de sombras e Uma certa ideia do Itamaraty — e dentro em breve num quarto: Apogeu e demolição da política externa (pronto, em edição).

A História não absolverá os Novos Bárbaros, não no que depender de mim.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3837, 03 de janeiro de 2021

 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

O Estado da Nação no Limiar de um Novo Governo (1994) - Paulo Roberto de Almeida

 O Estado da Nação no Limiar de um Novo Governo

 

Paulo Roberto de Almeida

Publicado, sob o título de “No Limiar do Novo Governo”, em O Estado de São Paulo (19/12/1994, p. 2). Relação de Publicados n. 171.

 

No triplo aspecto de sua situação econômica, de sua estrutura política e de suas condições sociais, o Brasil aparece, no cenário internacional, como um país complexo e contraditório, de acordo aliás com a própria leitura interna que dele se faz. Do ponto de vista econômico ele é considerado, com razão, como plenamente industrializado e dotado de um grande potencial de crescimento econômico, mas que permanece ainda largamente subutilizado em vista de uma persistente recusa a um modelo de desenvolvimento de tipo interdependente. Alguns consideram que se trata, melhor, de um incompreensível fechamento numa era de globalização econômica, outros de uma saudável rejeição à perda de soberania que decorreria de uma “internacionalização” precoce de sua economia.

Do ponto de vista político, ele é visto, externamente, como decididamente pacífico no contexto das relações internacionais e como razoavelmente democrático no plano institucional interno, ainda que apresentando um sistema político-partidário suscetível de aperfeiçoamentos e adaptações aos novos requisitos e exigências da ordem democrática (integração de novos atores sociais, ética e transparência na vida pública). Na área internacional, o Brasil quer ser visto como um fator de paz e estabilidade, suscetível portanto de ser integrado à estrutura  macro política de decisão (Conselho de Segurança).

Do ponto de vista social, contudo, à parte uma extraordinária capacidade de criação cultural, sobretudo no campo musical, o Brasil é visto também, como injustificadamente injusto em termos de distribuição de riqueza e socialmente perverso no terrenos dos direitos humanos e sociais, em proporção maior talvez ao que seria razoavelmente esperado de um processo de “acumulação para o crescimento”. Em outros termos, o Brasil acumula um grau de miséria incompreensivelmente alto e a todos os títulos não necessário para os objetivos de acumulação e crescimento capitalistas.

O que é, afinal, o Brasil? Um país desenvolvido pobre, um gigante com pés de barro, uma potência cultural emergente? Tudo isso ao mesmo tempo e algo mais ainda? Essas diferentes percepções têm muito a ver com o que a Nação considera como suas prioridades fundamentais em termos de crescimento e de desenvolvimento social. Sempre houve, a partir dos anos 30, um compromisso básico com um projeto nacional de desenvolvimento e de progresso social, mas, a despeito de um culto irrestrito e disseminado à noção de industrialização (considerada como o sustentáculo central desse projeto), todos os demais instrumentos de conquista daqueles objetivos foram perseguidos de maneira bem menos engajada, para não dizer de forma insuficiente: educação primária e técnica, investimentos em ciência e tecnologia, reforma agrária e repartição da renda, reforma administrativa, racionalização do aparelho do Estado, inserção internacional.

Cada inauguração de um novo governo representa, de certa forma, uma espécie de contrato social que a Nação estabelece consigo mesma para, a médio prazo, repensar globalmente sua estratégia de desenvolvimento, reorientar suas escolhas táticas e decidir sobre suas prioridades de investimento. O próximo, encabeçado por um sociólogo e contando sobretudo com economistas e planejadores em sua equipe dirigente, não foge à regra, ao contrário: quando candidato, Fernando Henrique Cardoso, buscou detalhar suas ideias em um programa de governo, muitas vezes quantificando objetivos e proclamando metas precisas a serem atingidas. Seu discurso de posse, em janeiro, e sua primeira mensagem ao Congresso, em fevereiro, deverão esclarecer um pouco melhor suas prioridades de curto e médio prazo.

Caberia, no entanto, superar a discussão sobre os projetos de curto prazo em torno dos quais se concentrou a campanha eleitoral e o debate sobre seu ministério para refletir de maneira ampla sobre as escolhas da Nação, aquilo que em linguagem hoje fora de moda se designa por “objetivos nacionais permanentes”. Estes são, evidentemente, o desenvolvimento material (econômico e tecnológico) do país, o progresso social e cultural da nação, a segurança interna e externa da sociedade, a participação, enfim, nas grandes decisões que afetam a comunidade internacional.

Para atuar em todas essas frentes, a Nação brasileira dispõe, como todas as outras, de um aparelho de Estado, mas apresentando este, como parece óbvio, certas disfunções e insuficiências, algumas típicas de um país ainda em transição para a completa modernidade, outras construídas nestes últimos anos de equívocos administrativos. Deixando de lado, no momento, o funcionamento dos poderes legislativo e judiciário, alguns grandes desafios se colocam atualmente ao novo Executivo para alcançar os objetivos definidos acima de forma muito geral.

O Estado brasileiro, em sua vertente operacional, compõe-se basicamente de três grandes núcleos de atuação institucional e de implementação de políticas, nas frentes interna e externa: uma “ferramenta” militar, um estamento diplomático e uma burocracia civil. As duas primeiras são instrumentos da política externa do país, muito embora possam participar igualmente da formulação da política nacional. O estado atual e as perspectivas de atuação de cada uma dessas duas corporações – a militar e a diplomática – podem obviamente causar preocupações quanto à qualidade de seu recrutamento em face dos baixos níveis de remuneração prevalecentes, mas não em excesso.

O instrumento militar, que teve uma preeminência política no passado, encontra-se hoje relegado a segundo plano, ocupando uma fração relativamente menor da despesa nacional. De certa forma, esse rebaixamento da função propriamente militar da atividade do Estado é normal, considerando-se que o Brasil não enfrenta a qualquer risco externo podendo colocar em perigo a soberania do país, não necessita afirmar seus interesses através do vetor dissuasório ou da ameaça do uso da força, nem apresenta, para sermos claros, um problema de defesa nacional. Tendo renunciado voluntariamente à posse da arma atômica e outras de destruição de massa, o Brasil pode legitimamente colocar-se como candidato a membro permanente do Conselho de Segurança assumindo plenamente sua condição de desnuclearizado e orgulhoso de sê-lo.

Na vertente do serviço exterior, não há muito o que observar, uma vez que o estamento diplomático é reconhecidamente de grande qualidade e profissionalismo. A corporação já forneceu, aliás, muitos quadros a diversos governos. No que concerne, contudo, a máquina do Estado, enquanto tal, a situação é reconhecidamente muito grave, com uma erosão brutal de sua eficiência e capacidade de intervenção. Desde meados dos anos 80, mas com o choque brutal introduzido pela desorganização administrativa do Governo Collor, o setor público enfrenta um de seus mais profundos desafios desde sua primeira estruturação na era Vargas e seu aperfeiçoamento sob o regime militar de 64. 

Pode-se dizer que o sucesso político e administrativo do Governo Fernando Henrique Cardoso se coloca na estrita dependência de sua capacidade em fazer funcionar a pleno vapor uma máquina pública corroída pelas pressões corporatistas e fragilizada pelos baixos níveis de remuneração e de treinamento especializado. Se a continuidade do processo de estabilização macroeconômica parece assegurada, considerando-se a boa qualidade das burocracias do Banco Central e do subsistema fazendário, é de temer-se pela implementação das demais políticas setoriais (inclusive em termos de segurança pública) em vista da inoperância atual da máquina do Estado. Será que o Governo FHC se verá obrigado a passar os próximos quatro anos tentando recompor um aparato estatal destruído pela incúria administrativa de seus antecessores?

 

Paulo Roberto de Almeida é Doutor em Ciências Sociais e funcionário público federal.

[Paris, 396: 08.12.94]

 

465. “O Estado da Nação no Limiar de um Novo Governo”, Paris, 8 dezembro 1994, 4 pp. Artigo jornalístico sobre a agenda de temas do próximo Governo, nas frente interna e externa. Publicado, sob o título de “No Limiar do Novo Governo”, em O Estado de São Paulo (19.12.94, p. 2). Relação de Publicados n° 171. 

 

 

Le Brésil à l'aube du XXIème siècle (1994) - Paulo Roberto de Almeida

 LE BRÉSIL À L’AUBE DU XXIe SIÈCLE

 

Paulo Roberto de Almeida

Paris, 23 novembre 1994

Texto preparado para servir de palestra do Emb. Carlos Alberto Leite Barbosa em almoço na “Maison de l’Europe”.

 

 

Il y a presque cent ans, c’est-à-dire, à l’aube du XXe siècle, l’économie brésilienne pourrait se résumer presque en un seul mot: le café. Le Brésil constituait, en effet, un exemple de ce que les économistes appellent une économie d’exportation: ses ventes externes étaient concentrées sur une seule matière de base, le café, dont l’exportation produisait les devises pour importer à peu près tout ce dont les brésiliens avaient besoin. Une partie substantielle des recettes gouvernementales, ainsi que le taux d’épargne et de la capacité d’investissement étaient aussi originaires du secteur externe de l’économie.

Tout en demeurant, en quelque sorte, à la périphérie de l’économie mondiale, l’insertion du Brésil dans le courant des échanges internationaux était beaucoup plus forte, par exemple, que celle du Japon, car il réussissait à exporter, en 1913, plus de 13,3 dollars par tête, contre moins de 7 dollars de la part du Japon. Le pays asiatique commençait alors, il est vrai, une percée formidable, puisque la distance en 1870 était beaucoup plus grande: de 7,8 dollars par tête au Brésil et seulement 40 centimes de dollar au Japon.

Trois décennies plus tard, dû à la crise de 1929 et à la dépression qui s’ensuivit, l’économie du Brésil – et avec elle celle de tous les autres pays latino-américains – se fermait au monde, amorçant un tortueux chemin dans ce que les économistes ont appelé le processus de substitution des importations. Les exportations n’ont plus jamais représenté le levier dynamique du développement national qu’elles avaient été jusqu’alors. Ce décuplement soudain de l’économie mondiale, opéré à l’insu des pays latino-américains – car provoqué par la brutale réduction de leurs marchés traditionnels d’exportation, fermeture encore renforcée par la guerre – allait être maintenu dans l’après-guerre, déjà par un choix délibéré des pays latino-américains eux-mêmes. C’était l’époque de l’idéologie d’industrialisation presque à outrance et de la protection des marchés nationaux, qui devaient demeurer isolés des grands courants des échanges internationaux.

C’est ainsi que, en dépit d’un formidable essor économique, le Brésil a maintenu, de 1945 à aujourd’hui, pratiquement le même taux de participation aux exportations mondiales: environ 1% des exportations totales, quand celle des pays asiatiques à économie dynamique triplait ou quintuplerait dans la même période. Le taux de croissance du produit brut brésilien n’a pas été négligeable au fil de ce siècle, mais le progrès social du Brésil a été sensiblement handicapé par la progression de son taux de natalité, ainsi que par une capacité réduite du système productif à générer ses propres sources de développement technologique. 

Le facteur principal, cependant, d’une performance comparativement insatisfaisante en termes de développement global doit être trouvé, pour le Brésil, dans le taux relativement bas de la productivité par tête de son système économique, ce qui est à mettre en rapport avec une formation professionnelle insuffisante de la main-d’œuvre. Ce problème représente une particularité brésilienne tout au long de son histoire, pratiquement depuis la colonisation portugaise et les inégalités héritées de l’époque de l’esclavage. Le maintien d’un processus permanent de développement économique et social a été, d’autre part, mis en échec, ces dernières années par l’aggravation du phénomène inflationniste et un certain laxisme fiscal de la part de l’État.  

À l’aube d’un nouveau siècle, le Brésil est en train de connaître un renversement notable de cette situation, avec la reprise du processus de croissance, sur la base d’une politique économique solide et soucieuse de stabilité et d’équité sociale, et d’une remarquable ouverture unilatérale à l’économie internationale. Ces phénomènes, commencés ou renforcés sous l’actuel gouvernement, devront trouver un nouvel essor sous le prochain Président, dont l’Administration sera facilitée par sa connaissance de tout une gamme de problèmes conjoncturels, étant lui-même responsable, comme ministre des Finances, de l’élaboration du nouveau programme économique, le Plan Real.

Plus qu’à aucune autre période historique dans ce siècle, le Brésil dispose maintenant de conditions favorables pour opérer une transition rapide vers un système socio-économique ajourné, pouvant déboucher sur une économie pleinement industrialisée et parfaitement intégrée à l’économie mondiale. Certes, le pays doit encore faire face à une tendance au déséquilibre fiscal et au déficit budgétaire, des problèmes qui sont pourtant typiques de la crise de l’État benefactor, tels qu’on les aperçoit dans des pays pleinement industrialisés. Il a, en plus, une structure sociale fortement inégalitaire qui doit être corrigée dans les meilleurs délais possibles. 

Mais, dès maintenant, le Brésil doit être considéré comme intégrant le peloton des premières économies du monde. En effet, selon les statistiques courantes, basées sur un taux de change nominal de la monnaie nationale par rapport au dollar, le Brésil détiendrait un Produit Intérieur Brut de l’ordre de seulement 450 milliards de dollars, soit près de 2.300 dollars par habitant (sur la base d’une population de 152 millions d’habitants). Si l’on retient cependant le critère de la parité de pouvoir d’achat, établi par la Banque Mondiale et le PNUD et qui tient compte des prix réels de marché, le PIB du Brésil serait en fait de 846 milliards de dollars, soit un PIB par tête de 5.563 dollars. Cela ne le fait peut-être pas beaucoup plus riche qu’aujourd’hui, mais ce potentiel économique le place parmi les 10 plus larges économies du monde, avant le Canada, qui est la septième économie du G7.

Une projection de la Banque Mondiale pour 2020, sur la base des taux actuels de croissance, placerait le Brésil avant l’Italie et la Grande-Bretagne et presque à égalité avec la France. En termes démographiques, avec 2,8% de la population mondiale, le Brésil est aujourd’hui le cinquième en importance dans le monde, après la Chine, l’Inde, les États-Unis et l’Indonésie, mais son comportement démographique, formidable en termes d’expansion dans le passé, est actuellement en train de rejoindre le modèle des pays développés, en passant à un taux d’accroissement de seulement 1,9% actuellement.

Le maintien d’une croissance positive en termes de produit global dans les années à venir va donc permettre au Brésil de s’incorporer solidement au groupe des plus riches économies dans le monde. Cela se fera désormais non pas à la manière traditionnelle, c’est-à-dire, par l’amélioration progressive des termes de l’échange dans le commerce de produits de base, mais surtout au moyen d’une expansion de sa participation au commerce de manufactures, ce qui veut dire par le développement encore plus poussé de son industrie. En un siècle, donc, le Brésil est passé de la domination absolue des exportations de café à une diversification notable de ses ventes à l’extérieur.

Le développement industriel brésilien, qui traditionnellement présentait des forts taux de croissance dus au modèle dit substitutif d’importations, a connu ces dernières années un important processus d’adaptation aux nouvelles conditions d’ouverture extérieure de la politique économique. Après une période de crise et de décroissance relative, l’industrie brésilienne a présenté, à nouveau, ces deux dernières années, des taux proches de 10% de croissance. Il ne s’agit pas là d’un essor temporaire, lié aux cycles de consommation forcée d’une économie encore fortement marquée par l’inflation, mais d’un changement positif dans la composition du produit industriel. En effet, les secteurs responsables du comportement favorable de l’activité industrielle – métallurgie, matériel électrique et de communications, chimie et industrie mécanique – représentent des branches productrices non seulement de biens durables de consommation, mais ceux liés à la production industrielle elle-même, y compris l’équipement. L’industrie automobile de son côté, bien connue pour ses effets d’entraînement, est revenue également à des niveaux records de production en 1993 et en 1994, malgré une arrivée massive de modèles étrangers permise par une extraordinaire ouverture parallèle aux importations, jamais connue dans l’histoire de cette branche au Brésil. 

En général, un grand nombre, sinon la majorité, des entreprises brésiliennes ou multinationales installées au Brésil ont déjà traversé le plus fort des turbulences de l’ajustement imposé par les circonstances économiques exceptionnelles que le pays a connu ces dernières années: elles se sont adaptées aux nouvelles conditions du marché domestique et international et travaillent avec un haut pourcentage de capitaux propres. Tout semble prêt, donc, pour que le Brésil reprenne le processus d’industrialisation rapide connu dans le passé, à la faveur d’un certain nombre de facteurs dynamiseurs, parmi lesquels on aura une inflation déclinante, une demande mondiale satisfaisante – à la faveur de l’implémentation des accords de l’Uruguay Round – pour des produits brésiliens d’exportation, un rôle désormais inductif, mais non plus dirigeant de l’État, ainsi qu’un apport important de capitaux étrangers sous forme d’investissements directs. 

Le Brésil continue aussi à faire des progrès sur le front du commerce extérieur, en dépit d’un comportement pas toujours positif de l’économie mondiale et de l’ouverture unilatérale aux importations, matérialisée dans des successives réductions tarifaires et dans la quasi-absence de barrières non-tarifaires. Les taux les plus élevés d’augmentation du commerce extérieur ont été réalisés dans les échanges avec la région latino-américaine, surtout dans le cadre du MERCOSUD, qui rassemble l’Argentine, le Brésil, le Paraguay et l’Uruguay, aujourd’hui notre marché le plus dynamique. L’Amérique Latine dans son ensemble est devenue le deuxième débouché brésilien, après celui de l’Union Européenne et avant même les États Unis. Le Brésil représente aujourd’hui le principal importateur pour ses partenaires du MERCOSUD, dont les économies deviennent de plus en plus intégrées. En tenant compte de l’union douanière dans le Cône Sud, qui doit entrer en vigueur le 1er janvier 1995, et des accords de complémentation économique en négociation avec d’autres pays de la région, l’Amérique du Sud est appelée à devenir un espace de croissance tout à fait exceptionnel dans les prochaines années, offrant de ce fait des opportunités d’investissement industriel et tertiaire très intéressantes.

D’une manière générale, c’est donc une nouvelle période de progrès qui démarre au Brésil. Son potentiel de croissance est confirmé par un niveau très élevé des entrées de capitaux étrangers dans les derniers mois, portant les réserves de change à un niveau jamais connu dans notre histoire économique: plus de 43 milliards de dollars. Ces réserves, avec la libéralisation commerciale déjà pratiquement achevée, la normalisation complète des rapports avec la communauté financière internationale et le maintien du programme de privatisation, constituent des facteurs qui renforcent la pleine intégration du Brésil à l’économie mondiale.

Ce tableau se complète par le développement normal du programme de stabilisation du Gouvernement et sa continuité assurée par le prochain Président. La suite tranquille de l’ajustement macroéconomique brésilien, ainsi que la stabilité, désormais totale, dans la vie politique nationale, sont les deux éléments essentiels d’une politique plus vaste qui devra transformer fondamentalement la présence du Brésil sur la scène internationale avant même le début du prochain siècle.

Le Brésil a certes une vocation essentiellement latino-américaine et c’est dans sa région qu’il est inséré de façon définitive et prioritaire. C’est là où son action rayonne le plus, suffisant de mentionner le MERCOSUD, un marché prometteur de plus de 200 millions de personnes. Cependant, l‘action extérieure du Brésil ne pouvait se restreindre à sa région géographique. Sa dimension, ses ressources, son vaste potentiel et l’esprit de son peuple sont des facteurs qui contribuent à une vocation universaliste du Brésil, dont les intérêts sont présents dans toutes les régions du monde. Les chiffres de notre commerce extérieur en sont d’ailleurs le témoin, car les échanges du Brésil sont partagés pratiquement à égalité entre l’Union Européenne, l’Amérique Latine, l’Amérique du Nord et l’Asie.

La vocation universaliste du Brésil et sa présence accrue sur la scène mondiale constituent une contribution à la paix, à la stabilité et à la prospérité, des aspirations ancrées dans l’âme du peuple brésilien.

 

 

[Paris, PRA/463: 23.11.94]

463. “Le Brésil à l’Aube du XXIe siècle”, Paris, 23 novembre 1994, 6 pp. Texto preparado para servir de palestra do Emb. Carlos Alberto Leite Barbosa em almoço na “Maison de l’Europe”.