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quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Como chegamos à miséria geopolítica atual? No mundo e no Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Como chegamos à miséria geopolítica atual?

Paulo Roberto de Almeida

George W. Bush (2000-2008), o pior presidente que os EUA já tiveram (com exceção de Trump, que é hors concours), carrega a suprema culpa pelas terríveis decisões que impactaram por décadas a atualidade (para trás e para a frente): a guerra do Iraque (o maior desastre da história militar dos EUA, comparável à insana guerra do Vietnã) e o antagonismo contra a Rússia (pela expansão da OTAN no glacis ucraniano) e a China (pela impossível decisão de contenção de sua irresistível ascensão), todas elas derivadas da arrogância e soberba daquele momento unipolar. 
Retrospectivamente, uma história diplomática dos EUA, se for honesta, terá de reconhecer esses tremendos erros de conduta estratégica.
Se ouso acrescentar algo para o Brasil e a sua política externa, seria isto: a decisão de se unir a duas autocracias (Rússia e China) e a uma democracia de baixa qualidade (a Índia, nisso semelhante ao Brasil) para formar o BRIC, a partir de uma simples sugestão de oportunidade de mercado por um economista de banco de investimentos, foi o maior ERRO ESTRATÉGICO da diplomacia brasileira em décadas, talvez historicamente. Venho alertando para esse erro desde 2006, quando o BRIC tomou forma em nível ministerial. 
O futuro confirmará meu julgamento, feito em diversos trabalhos reunidos neste livro,  cujo prefácio segue logo abaixo do índice: 


A grande ilusão do Brics : e o universo paralelo da diplomacia brasileira (2022): https://www.amazon.com.br/grande-ilus%C3%A3o-Brics-diplomacia-brasileira-ebook/dp/B0B3WC59F4

Índice

 

Prefácio: Brics: uma ideia em busca de algum conteúdo

1. O papel dos Brics na economia mundial

O Bric e os Brics 

A Rússia, um “animal menos igual que os outros” 

A China e a Índia  

E o Brasil nesse processo?

 

2. A fascinação exercida pelo Brics nos meios acadêmicos 

Esse obscuro objeto de curiosidade  

O Brasil, como fica no retrato?

Russia e China: do comunismo a um capitalismo especial 

O fascínio é justificado? 

O que os Brics podem oferecer ao mundo? 

 

3. Radiografia do Bric: indagações a partir do Brasil  

    Introdução: a caminho da Briclândia  

Radiografia dos Brics 

Ficha corrida dos personagens 

De onde vieram, para onde vão? 

New kids in the block  

Políticas domésticas 

Políticas econômicas externas 

Impacto dos Brics na economia mundial 

Impacto da economia mundial sobre os Brics  

Consequências geoestratégicas  

O Brasil e os Brics   

Alguma conclusão preventiva?

 

4. A democracia nos Brics  

A democracia é um critério universal?  

Como se situam os Brics do ponto de vista do critério democrático? 

Alguma chance de o critério democrático ser adotado no âmbito dos Brics? 

 

5. Sobre a morte do G8 e a ascensão do Brics   

Sobre um funeral anunciado  

Qualificando o debate   

O que define o G7, e deveria definir também o Brics e o G20

Quais as funções do G7, que deveriam, também, ser cumpridas pelo G20? 

 

6. O Bric e a substituição de hegemonias 

Introdução: por que o Bric e apenas o Bric?   

Bric: uma nova categoria conceitual ou apenas um acrônimo apelativo? 

O Bric na ordem global: um papel relevante, ou apenas uma instância formal?  

O Bric e a economia política da nova ordem mundial: contrastes e confrontos 

Grandezas e misérias da substituição hegemônica: lições da História 

Conclusão: um acrônimo talvez invertido 

 

7. Os Brics na crise econômica mundial de 2008-2009 

Existe um papel para os Brics na crise econômica?  

Os Brics podem sustentar uma recuperação financeira europeia? 

A ascensão dos Brics tornaria o mundo mais multipolar e democrático?

 

8. O futuro econômico do Brics e dos Brics  

Das distinções necessárias 

O Brics representa uma proposta alternativa à ordem mundial do G7? 

O que teriam os Brics a oferecer de melhor para uma nova ordem mundial? 

O futuro econômico do Brics (se existe um...)  

Existe algum legado a ser deixado pelo Brics? 

 

9. O Brasil no Brics: a dialética de uma ambição 

O Brasil e os principais componentes de sua geoeconomia elementar 

Potencial e limitações da economia brasileira no contexto internacional 

A emergência econômica e a presença política internacional do Brasil  

A política externa brasileira e sua atuação no âmbito do Brics 

O que busca o Brasil nos Brics? O que deveria, talvez, buscar?

 

10. O lugar dos Brics na agenda externa do Brasil 

Uma sigla inventada por um economista de finanças 

Um novo animal no cenário diplomático mundial 

Existe um papel para o Brics na atual configuração de poder? 

Vínculos e efeitos futuros: um exercício especulativo 

 

11. Contra as parcerias estratégicas: um relatório de minoria  

Introdução: o que é um relatório de minoria? 

O que é estratégico numa parceria? 

Quando o estratégico vira simplesmente tático 

Parcerias são sempre assimétricas, estrategicamente desiguais  

A experiência brasileira de parcerias: formuladas ex-ante 

A proliferação e o abuso de uma relação não assumida 

 

Posfácio: O Brics depois da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia  


Indicações bibliográficas 

Nota sobre o autor 

 

Prefácio

Brics: uma ideia em busca de algum conteúdo

 

 

Agrupamentos econômicos ou políticos geralmente partem de algum projeto intrínseco à lógica instrumental de seus proponentes originais e tendem a seguir os objetivos precípuos de seus principais países membros. Eles geralmente são constituídos a partir de alguma ruptura de continuidade na ordem normal das coisas, ou seja, no plano diplomático, no seguimento de um evento ou processo transformador das relações de força. Por exemplo, a Grande Guerra de 1914-18, o mais devastador dos conflitos globais até então conhecidos, produziu a Liga das Nações, uma tentativa de conjurar enfrentamentos bélicos daquela magnitude nos anos à frente: o proponente original, contudo, a ela não aderiu, e a primeira entidade multilateral dedicada à manutenção da paz entre os Estados membros se debateu nos projetos militaristas expansionistas dos fascismos do entre guerras, até soçobrar por completo nos estertores da Segunda Guerra Mundial. Para Winston Churchill, os dois conflitos globais foram uma espécie de repetição daquilo que a Europa havia conhecido no século XVII, uma “segunda Guerra de Trinta Anos”. 

A tentativa seguinte começou com um exercício de conformação da ordem econômica do pós-guerra, realizado na reunião de Bretton Woods, em junho de 1944: ela partiu da constatação de que era preciso reconstruir as bases da interdependência econômica destruídas pela crise de 1929 e pela depressão da década seguinte, congregando quase todos os países que estavam então unidos pela ideia das “nações aliadas”, a maior parte em luta contra as potências do eixo nazifascista. A proposta foi relativamente bem-sucedida e resultou na criação do FMI e do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, ainda que a União Soviética, presente ao encontro, tenha preferido não se juntar às demais economias de mercado que puseram em funcionamento as duas instituições a partir de 1946. 

Imediatamente após a conferência de San Francisco e a abertura dos trabalhos da ONU, seu Comitê Econômico e Social (Ecosoc) aprovou a constituição de comissões econômicas regionais, encarregadas de mapear e informar a nova organização multilateral sobre a situação econômica em cada grande região do planeta, sendo que a mais famosa delas, a Cepal, sob a direção de Raúl Prebisch, não se contentou em apenas coletar dados econômicos sobre os países latino-americanos e do Caribe; com sede em Santiago do Chile, ela logo virou uma verdadeira escola de pensamento econômico, com cursos e programas de estudo sobre os problemas estruturais do continente.

Da mesma forma, a primeira organização de coordenação econômica europeia, a Oece, predecessora, em 1948, da Ocde (1960), foi constituída para administrar o funcionamento do Plano Marshall, e deveria, em princípio, estender-se igualmente aos países da Europa central e oriental ainda ocupados pelo Exército Vermelho. O Secretário de Estado americano proponente da ideia, o próprio George Marshall, respirou aliviado quando Stalin vetou a participação de sua esfera de influência no esquema, pois que não haveria, provavelmente, recursos a serem distribuídos entre todos eles; o programa, coordenado a partir de Paris, ficou então restrito à Europa ocidental.

Nos anos 1950 e no início da década seguinte, os países em desenvolvimento, em grande medida impulsionados pelo Brasil e demais latino-americanos, constataram que os arranjos econômicos feitos no âmbito de Bretton Woods e das reuniões preparatórias em Genebra à conferência da ONU sobre comércio e emprego de Havana, das quais resultaram, preliminarmente, o Acordo Geral sobre Comércio e Tarifas Aduaneiras (Gatt, 1947), não tinham resolvido o problema básico das diferenças estruturais entre as economias avançadas e as “subdesenvolvidas”, como então eram chamados os países pobres, logo em seguida batizados conjuntamente de “Terceiro Mundo”. Levantou-se, então, um imenso clamor em torno dessa distinção julgada indesejável entre o Norte e o Sul do planeta, do qual resultou a convocação, pelo Ecosoc, da primeira conferência das Nações Unidas sobre comércio e desenvolvimento (Unctad, 1964), da qual resultou não só a criação do G77, o grupo dos países em desenvolvimento, mas um secretariado em Genebra, que passou a organizar reuniões quadrienais, das quais alguns dos resultados foram acordos sobre produtos de base e a criação de um Sistema Geral de Preferências, abolindo, na prática, o princípio da reciprocidade inscrito nos primeiros acordos comerciais, uma das cláusulas básicas do sistema do Gatt.

Quando, no seguimento da denúncia americana da primeira versão de Bretton Woods, feita pelo presidente Nixon em agosto de 1971, se instalou um “não-sistema financeiro mundial”, as principais economias de mercado avançadas estabeleceram um esquema informal de consultas entre elas para tentar conter a volatilidade dos mercados cambiais, o que deu origem ao G5 e, mais adiante, ao G7. Esse agrupamento perdura até hoje, com uma fase de G8 – não exatamente econômica, mas bem mais política –, com a inclusão da Rússia pós-soviética no esquema, situação que perdurou até a invasão da península da Crimeia, amputando-a da Ucrânia, em 2014. 

Paralelamente às reuniões anuais do G7, foi criada uma entidade privada, o Fórum Econômico Mundial, com encontros em Davos, na Suíça, com esse mesmo objetivo primário, de oferecer um espaço de discussões sobre a economia global, mais reunindo líderes de países e empreendedores privados; daquelas tertúlias nos Alpes suíços resultaram algumas boas iniciativas depois incorporadas às agendas de trabalho das principais organizações do multilateralismo econômico, primeiro o Gatt, depois a OMC, mas também as entidades de Bretton Woods, assim como as de várias agências especializadas da ONU; delas também participavam muitas ONGs de todo o mundo, a passo que, num sentido manifestamente oposto aos objetivos de Davos, começou a reunir-se, por breve tempo, o Fórum Social Mundial, um convescote anual das tribos confusas de antiglobalizadores – ou altermundialistas, como proferiam os franceses –, já com clara orientação anticapitalista.

De forma algo similar, no contexto das crises financeiras das economias emergentes, no final dos anos 1990, foi criado, no âmbito do FMI, um Fórum de Estabilidade Global, que, impulsionado por nova crise financeira, desta vez dos países avançados, em 2008, resultou na institucionalização do G20, reunindo as maiores economias do planeta. As reuniões anuais do G20 ingressaram numa repetitiva rotina de trabalho dos dirigentes desses países (incluindo a União Europeia e organizações pertinentes), relativamente satisfatórias no plano das proposições, mas que eram bem menos exitosas no terreno das realizações concretas, dada a diversidade natural de orientações de política econômica (e de postura política) entre seus membros, o que parece natural, uma vez que o G20 carece da unidade de propósitos que caracteriza, por exemplo, a Ocde. Alguns grupos informais, para meio ambiente, por exemplo, ou para outros temas globais, foram sendo instituídos, ao sabor das urgências de cada momento, sem exibir, contudo, o formalismo institucional de grupos estruturados em torno de um tema específico, com objetivos bem determinados. Estes são, grosso modo, os exemplos mais conspícuos – descurando a multiplicidade e a diversidade dos acordos e arranjos regionais ou plurilaterais que congregam interesses setoriais ou regionais, geralmente sob a forma de arranjos de liberalização do comércio ou organizações de escopo político, ou militar, como a Otan, no caso –, de agrupamentos surgidos a partir de um entendimento comum sobre objetivos compartilhados, que podem, ou não, evoluir para formatos institucionais, ou mais refinados, de agregação de valores e dotados de metas claramente definidas. 

Este não parece ser o caso do Bric-Brics, entidade híbrida, no universo dos agrupamentos conhecidos, sem um formato preciso quanto à sua institucionalidade e desprovido de metas objetivamente fixadas de acordo a um entendimento comum sobre seus objetivos básicos, ou seja, os elementos capazes de definir esse agrupamento em sua essência fundamental. Ele parece ter sido mais formado em oposição ao suposto “hegemonismo” do G7 do que em torno de propostas próprias sobre a ordem econômica e política mundial, com base em uma agenda de trabalho formalizada. Mas atenção, e aqui reside uma diferença relevante com respeito a todas as entidades mencionadas acima, ele não resultou de uma necessidade detectada internamente aos integrantes de seu primeiro formato, o Bric, mas se constitui a partir de uma sugestão totalmente alheia ao trabalho diplomático, ou de coordenação econômica entre países postulando objetivos comuns, com uma “inspiração” externa e estranha ao grupo, apenas para “aproveitar” a aproximação feita por um funcionário de uma entidade dedicada a finanças e investimentos, o economista Jim O’Neill, do Goldman Sachs. Por essa razão precisa, sempre o considerei um personagem anômalo, no universo de nossas tradições diplomáticas, mas basicamente em função de uma composição heterogênea, sem um foco preciso no leque dos interesses nacionais do Brasil no plano externo.

 

 

Este livro foi composto a partir de uma seleção de uma dezena, tão somente, de trabalhos, dentre uma lista de mais de duas dúzias de ensaios e artigos que escrevi explicitamente sobre o Brics – à exclusão, portanto, de diversos outros textos que pudessem igualmente abordar secundariamente esse grupo de países reunidos por uma ambição diplomática –, a partir de uma simples proposta econômica, e que se manteve navegando, entre ventos e marés, desde meados da primeira década do século, e que segue existindo mais como ideia do que como realidade. Os primeiros trabalhos nessa categoria foram escritos antes mesmo da constituição formal do grupo e se estenderam por mais de uma década, sobretudo durante a vigência do lulopetismo diplomático. A despeito de algo defasados no tempo, o que se reflete em alguns dados conjunturais, eles revelam uma preocupação fundamental do autor com a coerência da diplomacia brasileira – nem sempre respeitada em todos os governos – e com uma noção muito bem refletida sobre os chamados interesses nacionais – nem sempre bem interpretados por todos os governos –, o que fiz invariavelmente desde minha formação superior, nos campos da sociologia histórica e da economia política. A partir do momento em que passei a exercer-me na carreira de diplomata, nunca deixei de aplicar minhas leituras, minhas pesquisas, as experiências adquiridas em prolongadas estadas no exterior, em todos os regimes políticos e sistemas econômicos imagináveis, com exceção talvez de uma pura tirania ao velho estilo do despotismo oriental, ou o stalinismo do seu período mais sombrio. Percorri muitos países, ao longo de uma vida de estudos e de missões diplomáticas, sempre recolhendo impressões sobre suas formas de organização política e suas modalidades de organização econômica, o que me permitiu escrever centenas de artigos, duas dúzias de livros e incontáveis notas em cadernos, que se transformavam em trabalhos uma vez definido um objeto preciso de análise.

O Bric-Brics foi um desses animais estranhos na paisagem diplomática, ao qual apliquei o meu bisturi analítico, de forma bastante crítica como se poderá constatar pela leitura dos trabalhos selecionados e aqui compilados, o que obviamente se situava contrariamente à postura do Brasil em política externa nos anos do lulopetismo diplomático. Nunca fui de aderir a modismos de ocasião, nem me intimidei com os olhares estranhos que me eram dirigidos cada vez que eu me pronunciava com o meu olhar crítico sobre esse novo animal na paisagem de nossas relações exteriores. Sempre considerei que a atividade diplomática não pode ser dominada por esses princípios que só podem vigorar nas casernas, ou melhor, em situações de combate: a hierarquia e a disciplina. Acredito que um soldado não pode interromper as operações no terreno para ir discutir os fundamentos da paz kantiana com o seu comandante de pelotão, mas um diplomata tem, sim, o dever, de questionar, e de argumentar, sobre cada “novidade” que se apresenta na agenda das relações exteriores do Brasil. 

Como nunca me dobrei ao argumento da autoridade, sempre busquei invocar a autoridade do argumento ao discutir a rationale desse animal bizarro no cenário de nossas atividades, o que não foi bem recebido pelo grupo no poder. Não obstante estar privado de cargos na Secretaria de Estado, durante mais de uma década, continuei analisando criticamente as principais opções de nossas relações exteriores, aliás em todos os governos, desde a era militar até o arremedo de autoritarismo castrense a partir de 2019, o que se refletiu, precisamente, em todos os livros que publiquei desde 1993 (sendo os dois primeiros sobre o Mercosul) e em dezenas de artigos de corte acadêmico redigidos desde o período da ditadura militar. O último artigo desta coletânea, não tem a ver diretamente com a questão do Brics, mas se refere precisamente a essa postura de “minoria” contra certas posições dominantes, que nunca hesitei em proclamar, com base num estudo aprofundado de nossas relações internacionais. 

Esta compilação de artigos e ensaios tem por objetivo, assim, demonstrar na prática como se pode fazer diplomacia – ou, no caso, história diplomática – sem necessariamente rezar a missa pelo credo oficial. Ela demonstra, pelo menos para mim, que o dever do diplomata não é o de se curvar disciplinadamente às inovações que vêm de cima, mas o de questionar, com base num exame detido de cada questão, sua adequação a uma certa concepção do interesse nacional. A radiografia que aqui se faz do Brics tem por objetivo apresentar os dados da questão, examinar o interesse da ideia para o interesse nacional – com o objetivo do desenvolvimento econômico e social sempre em pauta – e de questionar o que deve ser questionado a partir de certos equívocos de posicionamento externo que podem discrepar daquele objetivo. Manterei minha opção de oferecer relatórios de minoria cada vez que a ocasião se apresentar. No momento, a intenção foi a de coletar trabalhos resultando uma década e meia de reflexões sobre o que eu chamei de “grande ilusão” de uma diplomacia paralela, que ainda exerce influência sobre nossas opções externas. 

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 6 de maio de 2022

 

 

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

UE acerta novo pacote de sanções contra Rússia (DW)

 UE acerta novo pacote de sanções contra Rússia

Deutsche Welle, 5/10/2022

Oitavo conjunto de retaliações contra Moscou é resposta do bloco à anexação ilegal de territórios ucranianos e inclui limite a preço do petróleo russo.

Os países integrantes da União Europeia chegaram nesta quarta-feira (05/10) a um acordo sobre novas sanções contra a Rússia. O novo pacote, o oitavo desde o início da invasão russa à Ucrânia em fevereiro, passará por um processo de aprovação formal e, caso não haja objeções, entra em vigor nesta quinta-feira.

"Acabamos de chegar a um acordo político sobre novas sanções contra a Rússia: uma resposta contundente da UE à anexação ilegal de territórios ucranianos por Putin", informou no Twitter o governo da República Tcheca, que ocupa a presidência rotativa da UE.

Limite do preço do petróleo

O pacote inclui o compromisso para estabelecer um teto para o preço do petróleo russo se o valor for acordado com o G7 (grupo de países mais industrializados do mundo) e outros países. O teto do preço do petróleo consiste em só permitir o transporte do petróleo russo e seus derivados para países fora da UE se Moscou vendê-lo a um preço igual ou inferior ao fixado, para reduzir, dessa forma, a receita de que Moscou dispõe para financiar a guerra contra a Ucrânia e também limitar os impactos na crise energética.

O acordo foi alcançado após a aceitação da exigência de Grécia, Chipre e Malta de que a proposta só iria adiante se implementada por uma coalizão mais ampla de países, temendo que suas companhias marítimas percam participação de mercado para concorrentes.

Contra a propaganda do Kremlin

A nova rodada de sanções também atingirá indivíduos, acrescentando à lista de sanções individuais os responsáveis pró-russos nas regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia, ocupadas pela Rússia. 

As retaliações proíbem ainda os cidadãos europeus de participarem dos conselhos de administração de empresas públicas russas.

A UE também incluirá na lista de russos sancionados Alan Lushnikov, o maior acionista da fabricante de armas russa JSC Kalashnikov Concern, além de artistas ou músicos que participaram de atos de propaganda do Kremlin.

Também é destaque a inclusão da empresa russa Alrosa, uma das maiores produtoras de diamantes do mundo. Além disso, também fazem parte da lista a empresa JSC Goznak, responsável, entre outras coisas, pela impressão dos passaportes que Moscou distribui nas regiões ocupadas de Donbass, e outras empresas relacionadas ao fornecimento de armas ao exército russo e uma envolvida em pesquisas nucleares para uso civil.

A UE também vetará a exportação de tecnologia nos setores de aviação, eletrônicos e produtos químicos e siderúrgicos, entre outros, para privar o Kremlin de tecnologias-chave para a máquina de guerra russa.

"Kremlin continuará pagando"

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, saudou o acordo sobre o pacote de sanções. "Nunca aceitaremos os falsos referendos de Putin nem qualquer tipo de anexação na Ucrânia. Estamos determinados a continuar fazendo o Kremlin pagar", escreveu ela no Twitter.

Uma resposta mais reservada veio do ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, que criticou o número de isenções incluídas no último pacote. "O tempo para pacotes fortes acabou e, ao ler os documentos apresentados, às vezes tem-se a impressão de que há mais exceções do que sanções", disse ele a uma rádio lituana na quarta-feira. "No entanto, é melhor do que nada, do que nenhum pacote", disse ele, acrescentando: "Estamos progredindo, embora de forma bastante fraca".

md/rk (Reuters, DPA, EFE, AFP, Lusa)


domingo, 24 de julho de 2022

A próxima política externa do Brasil promete ser tão ruim quanto a atual - Paulo Roberto de Almeida

Sobre a guerra na Ucrânia e nossa próxima política externa

Paulo Roberto de Almeida

 Lula, o chefe indiscutível do PT e provável próximo presidente, deve reunir-se com os embaixadores do grupo BRICS nos próximos dias, grupo que ele criou com os russos e que pretende manter ativo e ainda mais forte, seguindo nisso sugestões da China. Estes embaixadores vão provavelmente repetir o que seus governos vêm dizendo em relação à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, ou seja, não haverá muita novidade nesse encontro, a não ser o fato relevante de CONFIRMAR a postura de Lula como singularmente parecida com a de Bolsonaro, ou seja, de cumplicidade objetiva com Putin nessa guerra de agressão, que representa antes de mais nada uma violação da Carta da ONU e dos princípios mais elementares do Direito Internacional.

Lula deveria reunir-se, igualmente – e suponho que o fará – com os embaixadores da União Europeia, cujos países já condenaram diversas vezes a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, já introduziram sanções contra a Rússia, e todos eles, ou quase todos, ratificam, endossam, subscrevem à resolução da última cúpula da Otan, que condenou, nos termos mais duros, a guerra ILEGAL da Rússia contra a Ucrânia.

Antes de se reunir com os embaixadores da UE – com os quais gostaria de combinar a entrada em vigor do acordo Mercosul-UE –, Lula talvez devesse reler (ou ler, se ainda não o fez) dois parágrafos da declaração da Otan, que resume a postura que os países europeus observam nessa questão: 

- We are united in our commitment to democracy, individual liberty, human rights, and the rule of law. We adhere to international law and to the purposes and principles of the Charter of the United Nations. We are committed to upholding the rules-based international order.

- We condemn Russia’s war of aggression against Ukraine in the strongest possible terms. It gravely undermines international security and stability. It is a blatant violation of international law. Russia’s appalling cruelty has caused immense human suffering and massive displacements, disproportionately affecting women and children. Russia bears full responsibility for this humanitarian catastrophe. Russia must enable safe, unhindered, and sustained humanitarian access. Allies are working with relevant stakeholders in the international community to hold accountable all those responsible for war crimes, including conflict-related sexual violence. Russia has also intentionally exacerbated a food and energy crisis, affecting billions of people around the world, including through its military actions. Allies are working closely to support international efforts to enable exports of Ukrainian grain and to alleviate the global food crisis. We will continue to counter Russia’s lies and reject its irresponsible rhetoric. Russia must immediately stop this war and withdraw from Ukraine. Belarus must end its complicity in this war.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

UE quer poder impor sanção ambiental em acordos comerciais (Brasil seria candidato)

 UE quer poder impor sanção ambiental em acordos comerciais


Bloco quer fazer parceiros cumprirem meta climática; acordo UE-Mercosul estaria inicialmente fora

Por Assis Moreira — De Genebra
Valor/O Golobo, 23/06/2022

A Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia (UE), anunciou ontem que vai impor sanções em acordos comerciais, como último recurso para fazer respeitar a proteção do clima, meio ambiente e direitos trabalhistas - teoricamente, o Mercosul estaria de fora.

“Prometemos tornar o comércio mais sustentável e hoje estamos cumprindo”, disse o vicepresidente executivo e comissário para o Comércio, Valdis Dombrovskis, ao anunciar o reforço e aplicação de capítulos sobre Comércio e Desenvolvimento Sustentável (TSD, na sigla em inglês) em acordos comerciais negociados pela UE. “Nossos acordos comerciais nos dão força no cenário mundial e apoiam o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável, mas, a partir de agora, queremos torná-los um motor ainda maior de mudança positiva.”

Dombrovskis acrescentou que a UE vai se engajar e apoiar os parceiros para que isso aconteça. “Reforçaremos nossa aplicação e recorreremos a sanções se os principais compromissos trabalhistas e climáticos não forem cumpridos.”

Mas a ideia é de que a nova regra da UE seja aplicada apenas a acordos a serem negociados ou em negociação, portanto não se aplicaria ao Mercosul. “Não será aplicado sobre acordos já concluídos”, confirmou ao Valor a porta-voz de comércio da EU, Miriam Garcia Ferrer. Bruxelas tentará já aplicar as novas regras em acordo em negociação com a Nova Zelândia.

Mas a pressão sobre o Mercosul continuará. Bom número de eurodeputados acredita que as sanções devem ser incluídas nos 46 acordos comerciais existentes, e naqueles ainda a serem ratificados, como no do Mercosul para assegurar proteção da Amazônia. No caso do Mercosul, a UE fará ainda a demanda de compromissos adicionais na área ambiental para o acordo ser implementado. O que está excluído - pelo menos no momento - é a inclusão da parte de sanção, acredita um observador.

Mas recentemente o presidente da Comissão de Meio Ambiente do Parlamento europeu, Pascal Confin, deixou claro que o acordo UE-Mercosul só teria chances de aprovação pelos eurodeputados com a introdução de sanções. Ou seja, se compromissos assumidos no capítulo de desenvolvimento sustentável, para combater o desmatamento não forem implementados, por exemplo, a Europa poderia suspender a redução tarifária ou cotas (volumes importados com alíquota menor) previstas no acordo birregional para produtos do Brasil e do restante do Mercosul.

Todos os acordos comerciais modernos da UE incluem capítulos sobre comércio e desenvolvimento sustentável. Incluem a ratificação das convenções fundamentais da Organização Internacional do Trabalho (OIT), e a implementação efetiva das convenções da OIT e dos Acordos Ambientais Multilaterais que cada parte ratificou, como o Acordo de Paris sobre Mudança Climática e a Convenção sobre Diversidade Biológica.

Ou seja, os acordos já têm “boas intenções”, o que faltava eram “dentes”, como diz uma fonte. Agora, a UE identifica prioridades políticas e pontos-chave de ação, que estima que aumentarão a eficácia nessa área, como o uso de sanções comerciais para responder às violações das principais disposições de sustentabilidade.

A nova abordagem do capítulo sobre Comércio e Desenvolvimento Sustentável em futuros acordos cobre medidas e roteiros com prazos limitados para obter resultados eficazes; intensificação do envolvimento com parceiros comerciais para promover o cumprimento das normas internacionais trabalhistas e ambientais, inclusive através de assistência técnica e financeira; abrir novos mercados de importação e exportação de bens e serviços verdes e matérias-primas, que considera importante para reduzir as dependências no atual clima geopolítico.

Prevê também mais participação e apoio à sociedade civil, incluindo em apresentação de reclamações sobre violações dos compromissos de sustentabilidade. No mecanismo de solução de controvérsias, a parte acusada de violação de qualquer dos compromissos sobre sustentabilidade terá que informar prontamente como implementará o relatório do painel e cumprirá as decisões dentro de um certo período de tempo. A UE reitera que incluirá a possibilidade de aplicar, como último recurso, sanções comerciais por violações materiais do Acordo Climático de Paris e dos princípios trabalhistas fundamentais da OIT.

Também ontem o Parlamento europeu aprovou sua proposta da reforma do mercado europeu de carbono, levando assim à frente o plano de Bruxelas para impor a taxa carbono na fronteira sobre importações procedentes de países que não estejam submetidos aos mesmos padrões ambientais.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2022/06/23/ue-quer-poder-impor-sancao-ambiental-em-acordos-comerciais.ghtml

domingo, 19 de junho de 2022

As voltas que o mundo dá - Paulo Roberto de Almeida

 As voltas que o mundo dá 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Comentários sobre as inversões e ciclos das políticas nacionais e das relações internacionais. 

 

As relações internacionais guardam uma íntima relação com a política interna daquelas grandes potências que têm a capacidade de influenciar decisivamente a agenda dos assuntos globais, incluindo aqui relações normais de intercâmbio, fluxos de pessoas e capitais ou até, em casos extremos, guerras civis ou guerras entre esses Estados. O mundo vinha numa onda de globalização inédita nos anais da economia mundial nas últimas três décadas do século XIX e na primeira do século XX, quando o acirramento de tensões entre as coalizões de grandes potências e seus aliados menores, assim como o erro de cálculo das autocracias da Europa central e oriental – Alemanha, Áustria-Hungria e Rússia – quanto a uma rápida resolução dos problemas precipitou o mundo na guerra global mais devastadora até então conhecida. Foi uma guerra mecânica, industrial, não mais feita de cavalaria e de artilharia entre exércitos se enfrentando em campo aberto – como ainda nas guerras da era napoleônica e no seu imediato seguimento –, mas de metralhadoras, canhões de longo alcance, carros blindados e até aviões, sem falar das armas químicas. 

As negociações de paz de Paris, em 1919, foram tão desequilibradas, ao consagrar as imposições dos vencedores, que os resultados provocaram repercussões de tal magnitude, sobretudo no terreno econômico, que se arrastariam para uma repetição dos enfrentamentos em um novo enfrentamento vinte anos depois. O entre guerras foi marcado por uma rejeição tão disseminada dos horrores registrados naqueles quatro anos de conflito, 1914-18, que o pacifismo se estendeu na maior parte das democracias ocidentais, que foram as que se saíram vencedoras. Enquanto as potências que saíram insatisfeitas do conflito continuaram a manter expectativas de revanche, os vencedores foram dominados pelos isolacionistas (nos EUA, por exemplo) ou pelos appeasers, os pacifistas, sobretudo na França e Grã-Bretanha. Enquanto a democracia se firmava nos segundos, os primeiros foram levados a regimes reacionários, conservadores ou claramente fascistas, ao lado de experimentos expansionistas que levaram a novas fontes de conflitos. A Rússia praticamente se isolou na construção do socialismo em um só país, ao passo que os demais cediam aos apelos do protecionismo, do nacionalismo e da autossuficiência. Foi um período de retraimento desastroso das democracias.

A devastação do segundo conflito global foi muitas vezes superior ao da Grande Guerra, inclusive porque se somou aos impulsos genocidas que já vinham se manifestando a partir dos totalitarismos, por vezes contra o próprio povo ou visando minorias étnicas. Uma nova ordem internacional foi sendo criada a partir do aprendizado feito pelas democracias avançadas: Bretton Woods, ONU, Gatt, Otan, integração europeia, voto das mulheres, direitos sociais e trabalhistas, tratados multilaterais e declarações sobre direitos humanos. A democracia floresceu em muitas partes, a despeito mesmo dos totalitarismos comunistas e dos golpes de Estado e regimes militares na América Latina, África e Ásia. O otimismo cresceu ao longo dos anos, mesmo atravessando a crise do keynesianismo e do Estado de bem-estar social, logo reforçado pelo fim do socialismo um pouco em todas as partes. Com o fim da União Soviética e a conversão da China à economia de mercado, o mundo parecia caminhar para o reforço da ordem criada no imediato pós-guerra, quando a própria Rússia era integrada ao G-7 e começava um programa de cooperação com a Otan, ao passo que a China era aceita no Gatt-OMC. 

Ventos contrários começaram a agitar esse novo cenário de convergência, dada a “ascensão do Resto”, e a perda de empregos (não só industriais) nos países do capitalismo avançado. Um novo nacionalismo e o velho protecionismo ascenderam à superfície, a partir da crise dos anos 2008-2010, ao passo que agitação e guerras civis na periferia lançaram levas de imigrantes econômicos e de refugiados de guerra em direção de grandes democracias de mercado: os partidos de direita, xenófobos e contrários à globalização, deram um inédito vigor às tendências antiglobalistas de demagogos políticos. A União Europeia e seus órgãos executivos, sobretudo os eurocratas de Bruxelas, começaram a ser atacados, e a própria Otan foi acusada de ter sido afetada por “morte cerebral”. A globalização e conformação de uma agenda comum entre as grandes potências do G-20 sofreram recuos não apenas temporários, mas sobretudo uma nova escalada de tensões entre estas. Uma nova onda de desigualdades crescentes reforçou o apelo dos demagogos e dos seus sistemas políticos ditos iliberais. 

Foi nesse contexto que o neoczar da Rússia se lançou à reconquista do antigo império soviético. Mas algo surpreendente ocorreu então: a UE, mesmo amputada da Grã-Bretanha, recuperou uma unidade raramente vista, e até a Otan foi procurada por aqueles que temiam o abraço do urso russo. A ordem mundial alternativa concebida pelas duas grandes autocracias contemporâneas não parece mais estar na ordem do dia, em vista da disposição das velhas e novas democracias em defender o patrimônio já adquirido de valores e princípios situados no arco civilizatório do Direito Internacional. Mas, o mundo vai mudar, embora sua direção ainda não esteja plenamente conformada, dado que grande parte dos países em desenvolvimento – que são maioria nos organismos multilaterais – ainda não tomou partido na atual contenda entre o G-7-UE-Otan, de um lado, e a Rússia-China de outro. Os circuitos multilaterais ainda padecem da descoordenação criada primeiro pela pandemia, em seguida pela guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, e não se tem certeza se e quando um diálogo entre os dois contendores será novamente possível. O mundo se encaminha para uma possível recessão, como já ocorrida sob os choques do petróleo, das dívidas externas dos países em desenvolvimento, das crises financeiras dos anos 1990 e 2000, cujo contornos não estão ainda definidos, como tampouco a guerra na Ucrânia. 

Muitos cenários estão abertos aos analistas de relações internacionais, jornalistas e aos próprios estadistas dos grandes atores (quando existem). Prognósticos estão sendo feitos, mas cabe evitar analogias com processos ou fenômenos anteriores, do passado recente ou de fazes mais longínquas. O processo histórico é sempre único e original e nenhuma grande potência atual, ou mesmo alguma coalizão entre elas, é capaz de determinar a natureza e o ritmo do rumo das relações internacionais a partir de agora. Em qualquer hipótese, países como o Brasil, e com ele o restante da América Latina, terão pouco peso na direção dos processos e eventos do futuro de curto e médio prazo. Estamos ocupando a segunda classe de um barco em meio às turbulências do momento. Oxalá prevaleça o bom-senso.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4177: 19 junho 2022, 3 p.

 

 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Boosting Transatlantic Technology Cooperation - Robert D. Atkinson (The Globalist) - A PARANOIA do "Ocidente"

 Meu pitaco sobre uma escorregada séria do boletim The Globalist (agora um pouco menos globaliza).

Paulo Roberto de Almeida

My God, até o diretor da The Globalist se perdeu na política de contenção da China, numa postura totalmente defensiva do que resta do suposto "Ocidente" em face do "desafio" de se contrapor aos avanços da China em C&T. 
Esses caras perderam completamente o rumo, pois acham que o Atlântico Norte (EUA e UE) precisam de unir para "enfrentar" o desafio da China nessa área. Eles devem achar que ainda existe uma diferença (ou oposição) entre essa coisa chamada "Ocidente" e o ROW, ou seja, o resto do mundo. 
Que loucura! Desse jeito, esse "Ocidente" na defensiva vai perder o que eles consideram, de forma totalmente equivocada, um "enfrentamento" entre dois sistemas opostos. 
Ora, a China, a despeito de ser uma ditadura, é uma economia totalmente de mercado (com participação estatal não muito distante de certas democracias de mercado, a despeito do planejamento, que é bom inclusive para o "Ocidente"), e deve se desenvolver com base nas mesmas tecnologias que o "Ocidente" (um conceito totalmente ridículo hoje em dia), embora com alguma espionagem industrial aqui e ali, pirataria, etc. (nada que as potências "ocidentais" também não façam, justamente contra a China, que agora passou na frente em várias áreas).
Enfim, acho que The Globalist está se tornando menos globalista...
Boosting Transatlantic Technology Cooperation - The Globalist
THEGLOBALIST.COM
Boosting Transatlantic Technology Cooperation - The Globalist
The EU and the U.S. need to engage in more transatlantic technology cooperation to address the real competitiveness challenge – China.


Boosting Transatlantic Technology Cooperation

The EU and the U.S. need to address the real technology competitiveness challenge, which is China.