O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 2 de maio de 2010

Grandes contribuicoes a cultura universal: o retorno...

Sanatório Geral
Coluna do Augusto Nunes

Blog, 2 de maio de 2010

"Vocês começam a dar muita importância para a revista Time e daqui a pouco meu ego cresce e não cabe mais nas calças. Vou ter que encomendar uma calça mais larga porque o ego vai crescendo e o ego engorda".
Lula, sem que nenhum áulico por perto tivesse coragem de dizer que, se o chefe quiser mesmo reduzir o tamanho da ego, basta aparecer outra vez no Maracanã ou lançar a continuação do filme sobre o Filho do Brasil.

De búqui is on de têibol
2 de maio de 2010
VAI QUE É SUA
A elite dizia que eu não falava inglês, mas meu coração pensa brasileiro, meu coração pensa o povo brasileiro.”
Lula, ao confirmar que o cérebro continua zero quilômetro em pensamento, fazendo de conta que os loiros de olhos azuis gostariam de ouvi-lo assassinando também o inglês.


Sempre pode piorar (23)
VAI QUE É SUA
O Lula é o principal cabo eleitoral de Dilma. Aliás, cabo não. É um general eleitoral”.
José Eduardo Dutra, em entrevista à revista VEJA, surpreendendo quem achava que o PT jamais encontraria um presidente mais servil a Lula que José Genoíno e mais bisonho que Ricardo Berzoini.

VAI QUE É SUA
Quando deixar a presidência, vou mandar registrar em cartório tudo que eu fiz. Para que quem vier depois de mim, e vocês sabem quem eu quero, faça mais”.
Lula, ao informar que o Brasil será o primeiro país do mundo a produzir certidão de nascimento de pedra fundamental, aproveitando o piquenique da Força Sindical para zombar da Justiça Eleitoral.


Mensalão na passarela
O mensalão foi uma grife que pegou como toda grife. Mas o mensalão, nos termos em que foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República, não houve”.
José Eduardo Dutra, presidente do PT, garantindo que, embora não exista, o mensalão ainda pode fazer muito sucesso nas passarelas do São Paulo Fashion Week.


Neurônio solitário (122)
Uma mulher está pronta para a presidência? Mais do que isso, todas as mulheres estão”.
Dilma Rousseff, fazendo campanha antecipada para Marina Silva e, simultaneamente, lembrando ao PT que depois do fiasco no primeiro debate a Mãe do PAC pode ser substituída por Ideli Salvatti ou Erenice Guerra.

Vaga reservada
A elite fica ofendida quando negociamos a paz em Israel, quando vou ao Irã.”
Lula, Arquiteto da Paz no Oriente Médio, Conselheiro Perpétuo dos Aiatolás Atômicos, Flagelo da Elite Golpista, Terror dos Ditadores de Honduras e, a partir de 2011, Hóspede Vitalício da Suíte Presidencial “Hugo Chávez”, número 171 da Ala dos Mitômanos do Sanatório Geral.

Gente que mente
Eu fico feliz quando a revista Time diz que eu sou a pessoa mais influente do mundo”.
Lula, no piquenique de 1° de Maio organizado pela Força Sindical, transformando-se na mais notória testemunha de defesa do site Gente que Mente, que o PT quer fechar sob o argumento de que a companheirada tem muito apreço pela verdade, e mostrando que falta na web o site exclusivo Presidente que Mente.

Três em um
Já imaginou numa cidade aí de uns cem mil habitantes: Ah, aquele lá é comida de padre? Já imaginou como é que fica na cidade? Então a vítima se retrai, se esconde”.
Antonio Carlos Viana Santos, presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, ao tentar explicar por que investigações sobre casos de pedofilia geralmente dão em nada, irritando a Igreja Católica, humilhando as vítimas e envergonhando o Judiciário.

Poço profundo
É impossível discursar e responder sem explicar, a não ser que seja superficial. E eu não sou superficial”.
Dilma Rousseff, em Santos, ensinando aos companheiros apavorados com a discurseira da candidata que entender a profundidade do dilmês não é para qualquer um.

(Nunca antes neste país, o vocabulário corrente foi tão enriquecido com frases tão çábias. E pensar que sempre nos arriscamos que mais frases como essas nos caiam na cabeça...)

Grandes contribuicoes a cultura universal: frases de impacto (e como...)

Não tenho nenhum mérito pela seleção, apenas recolhi no Blog do jornalista Augusto Nunes, na revista Veja.
Independentemente de quem seja, ou de quem fez a seleção, as frases EXISTEM, elas foram pronunciadas e, como tal, servem para enriquecer ainda mais (ou não, você julga, caro leitor) a nossa cultura, o nosso conhecimento da língua e seus infinitos meandros, a nossa compreensão deste mundo complicado que nos cerca...
Certas frases dos personagens políticos (e um futebolista) aqui selecionados se parecem muito com argumentos de filósofos franceses, os tais de desconstrucionistas.
Ou, como diria o Chacrinha: "Eu não vim para explicar, eu vim para confundir".
Divirtam-se...
Paulo Roberto de Almeida

Augusto Nunes
SEÇÃO » Direto ao Ponto
O Sanatório Geral entra na festa
1 de maio de 2010

Em homenagem ao 1° aniversário da coluna, os médicos e enfermeiros do Sanatório Geral decidiram republicar, em ordem cronológica, uma coletânea de palavrórios internados neste ano.

A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui, fica conhecido. Acho que de tanto mexer com macumba, não sei o que é aquilo. O africano em si tem uma maldição. Todo o lugar que tem africano tá foda”.
Gerge Samuel Antoine, cônsul do Haiti em São Paulo, antes do começo da entrevista ao SBT, sem saber que o que dizia estava sendo gravado.

Eu estava no Guarujá, caiu uma chuva na quinta-feira que eu pensei que ia encher o mar. Eu falei: tudo bem, quando o rio transborda, a água vai para o mar. Primeiro, passa na casa das pessoas que moram na periferia, depois ela vai para o mar. Eu falei: se o mar encher, vai para onde?
Lula, revelando, como atesta a profunda reflexão reproduzida pelo Blog do Noblat, o que se passa na cabeça de quem vai à praia com um isopor daquele tamanho.

Tudo isso só aconteceu porque o Zelaya esteve na nossa embaixada”.
Celso Amorim, chanceler de bolso de Hugo Chávez, revelando que, se o Brasil não tivesse instalado Manuel Zelaya na Pensão do Lula, o governo hondurenho não precisaria tirar Manuel Zelaya da Pensão do Lula.

“O PAC 1 não tinha capacidade estrutural, essa coisa estruturante que tem o PAC 2 por não termos dinheiro
”.
Dilma Rousseff, numa reunião com prefeitos do Paraná, ao explicar a diferença entre o PAC 1 e o PAC 2 a 170 convidados que continuam reunidos até agora tentando descobrir o que é que ela quis dizer.

Todos os partidos têm desvios éticos porque são formados por seres humanos”.
José Eduardo Dutra, explicando que as bandalheiras do PT só deixarão de acontecer quando o partido, em vez de um ajuntamento de seres humanos, transformar-se, por exemplo, numa floresta.

Sou vítima de uma campanha difamatória que atinge níveis jamais vistos na vida pública brasileira”.
José Roberto Arruda, em carta divulgada quando estava a caminho da cadeia, suspeito de roubo de fraldas quando ainda estagiava no berçário, ladrão irrecuperável, disposto a atingir níveis de cinismo jamais vistos na vida pública brasileira.

Uma pessoa chique ganhando cachaça é algo chique. Um metalúrgico ganhando cachaça é cachaceiro”.
Lula, em Goiás, explicando que um cachaceiro é identificado pela primeira anotação na carteira de trabalho, não pela quantidade de garrafas que derruba.

Há problemas de direitos humanos no mundo inteiro”.
Marco Aurélio Garcia, sobre a morte do preso político Orlando Zapata Tamayo, informando que quem vê o mundo com as lentes da canalhice não há diferenças entre Cuba e Dinamarca, Irã e Holanda, Venezuela e Suécia, Brasil e Suiça.

Que horas vamos votar isso? Estou de saco cheio de ficar aqui”.
Ideli Salvatti, musa da bancada companheira no Senado, ansiosa por aprovar a desconvocação de Dilma Rousseff pela Comissão de Constituição e Justiça, mostrando que também merece o título de Miss Elegância.

Eu digo sempre o seguinte: eu acordo todo dia pedindo a Deus que cada dia mais apareça chinês comendo, indiano comendo, africano comendo, latino-americano comendo, porque quanto mais o povo comê, mais o Brasil vai ter que produzir, porque não tem nenhum país no mundo que tenha a quantidade de terras agricultáveis que tem o Brasil, nem tão pouca quantidade de sol e chuva na combinação perfeita para formar a fotossíntese que a agricultura mundial precisa”.
Lula, em entrevista a TV Tem, de São Paulo, depois de um almoço da pesada.

Não fico arrependido, mas, quando a gente põe a cabeça no lugar, percebe que não é uma coisa legal”.
Vágner Love, atacante do Flamengo, explicando que só é escoltado por traficantes armados de fuzis na favela da Rocinha, na zona sul do Rio, quando está com a cabeça fora do lugar.

Acredito que com os presos cubanos a situação seja diferente porque o acesso que eles têm à mídia é muito grande”.
Dilma Rousseff, ao comparar os presos políticos cubanos aos brasileiros punidos pela ditadura militar, explicando que quem está na cadeia e no noticiário dos jornais é muito mais feliz do que quem está só na cadeia.

Mesmo quando é para um artefato nuclear, é também para fins pacíficos porque é para dissuasão”.
José Alencar, ao justificar o projeto atômico do companheiro iraniano Mahmoud Ahmadinejad, ensinando que a corrida nuclear ocorrida durante a Guerra Fria foi, no fundo, uma bonita demonstração de amor à paz protagonizada em parceria pelos Estados Unidos e pela União Soviética.

Nós, brasileiros, acostumados com nosso calor suarento, sempre louvamos termos sido preservados por Deus dos violentos fenômenos da natureza: vulcões, furacões, terremotos ─ mas não nos livramos das secas nem das enchentes. E a miscigenação nos deu a mulata!
José Sarney, ao discorrer na Folha desta sexta sobre as cinzas do vulcão Eyjafjallajokull, explicando que um par de mulatas vale meia dúzia de enchentes no Rio e uma centena de secas no Nordeste.

É com satisfação que nos reunimos aqui na quadra da Mangueira”.
Luiz Sérgio, presidente do PT do Rio, ao saudar a comitiva de Dilma Rousseff na quadra da Portela.

(Deve ter mais frases dessas por aí. Quem souber, por favor, pode mandar que eu publico, tudo em nome da cultura universal...; PRA)

E ainda tem gente que acha o Bolsa-Familia o maximo...

Conheci, durante visitas aos Estados Unidos e participação em seminários acadêmicos, alguns dos economistas que acompanham a educação brasileira e que fizeram esse estudo; posso assegurar que se trata de um estudo dotado de metodologia rigorosa e que absolutamente o estudo foi feito para "desprovar" o BF, apenas os seus efeitos efetivos, se me permitem repetir o óbvio. Eles são até simpáticos à idéia em si, e estavam apenas em busca de evidência sobre seu impacto real. Pois bem, parece que não é lá grande coisa.
O Bolsa-Escola, descontinuado pelo governo Lula, a despeito de ser uma confissão explícita de nossas piores mazelas educacionais e sociais, estava pelo menos focado no desempenho escolar. O Bolsa-Família, alegadamente vinculado aos mesmos requisitos, sequer isso consegue assegurar.
Trata-se apenas, como venho repetindo à exaustão desde a sua concepção e lançamento, de um "curral eleitoral", para maior promoção pessoal do Nosso Guia, genial pai dos pobres (e mãe de banqueiros e capitalistas em geral).
Quem ainda acha que o BF é o máximo -- e todo político, demagogo por profissão, vai continuar repetindo que JAMAIS desmantelaria o BF, apenas o promoveria mais e melhor -- pode encontrar outros argumentos para justificar a transferência da esmola governamental, pois essa da escola fez chabu.
Resta o da solidariedade com quem é pobre, não comia, não tinha emprego, não tinha renda, vivia desnutrido, etc.
Pois é, tem tudo isso, como sempre teve no Brasil.
Mas, não me consta que tivessemos mais de 12 milhões de famílias, mais de 44 milhões de pessoas -- uma Argentina inteira -- em situação de carência alimentar absoluta, arriscando morrer de fome na próxima esquina.
Não, o que tinha era o desejo de constituir um curral eleitoral, feito com dinheiro público, obviamente, e propagandeado como a grande realização humanitária deste governo.
A "herança maldita" deste governo será essa mesma: deixar como legado um terço da população reduzido à condição de assistidos oficiais, um exército social de dependentes da caridade pública, uma nação reduzida à cultura da assistência pública, um contingente enorme de gente que acha que tem "direito" eterno a dinheiro oficial.
Triste, mas este vai ser a herança maldita deste governo...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 2 de amio de 2010)

Estudo mostra limites do Bolsa-Família
Adriana Carranca
Estado de São Paulo, 2 de maio de 2010,

Apesar de ter colaborado para o aumento do número de matrículas em escolas públicas, o programa federal de transferência de renda tem pouca influência nas taxas de evasão e rendimento, segundo pesquisa de universidades brasileira e norte-americana

Unanimidade entre os pré-candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), os programas federais de transferência de renda, embora tenham levado mais crianças para a escola, têm pouca influência na permanência e no rendimento dos alunos, segundo estudo feito com base no censo escolar.

Entre alunos beneficiados pelo Bolsa-Escola e, depois, pelo Bolsa-Família, a evasão escolar foi 1,5 ponto porcentual menor, se comparada aos que não receberam o complemento de renda, e a taxa de aprovação, apenas 2 pontos porcentuais maior, em média.

O estudo, do Departamento de Economia da Esalq-USP e da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, foi feito com base em dados de 1998 a 2005. Os pesquisadores analisaram três períodos, começando em 1998, quando não havia programas federais de transferência de renda, passando pelo Bolsa-Escola, entre 2001 e 2003, e o Bolsa-Família, entre 2003 e 2005, quando a ajuda no orçamento já chegava a 8,9 milhões de brasileiros. Hoje são 11 milhões.

O efeito sobre o abandono foi maior, segundo a economista Ana Lúcia Kassouf, professora da Esalq-USP e uma das responsáveis pela pesquisa, considerando-se como base, por exemplo, a evasão escolar de 9% e a aprovação dos alunos era de 73%, em 2005. “Não é possível chegar a números exatos, pois nós desconsideramos dos resultados todos os efeitos que pudessem afetar a evasão e a aprovação, como qualidade da escola, nível de escolaridade do professor, equipamentos disponíveis, recebimento de outros benefícios e merenda escolar, para tentar mensurar o efeito Bolsa-Família isoladamente”, explica a economista.

O efeito Bolsa-Família pode ser ainda menor. O aumento da taxa de aprovação, por exemplo, se deve em parte ao polêmico sistema de aprovação automática adotado em alguns Estados. Fatores como distância para a escola ou número de professores por sala de aula, não considerados na pesquisa, podem influenciar a permanência das crianças na sala de aula, segundo especialistas em educação e políticas sociais ouvidos pelo Estado. “Diante dos dados, o importante agora, e que ainda não foi feito, é analisar o custo benefício do Bolsa-Família”, diz a pesquisadora.

E ainda tem gente que acha empresa estatal o maximo...

Existem "n" motivos que me levam a desconfiar de uma empresa estatal. Um deles é o que vai referido abaixo: corrupção.
Não que eu seja ingênuo a ponto de acreditar que empresa privada não faz corrupção. Faz, e muito, mas faz muito mais quando existe dinheiro público envolvido, ou quando o processo todo -- compras, licitações, concorrências, etc. -- envolve funcionários designados politicamente para tratar de um empreendimento que é basicamente público, ou estatal, melhor dizendo.
Pois uma empresa privada que faz corrupção contra si mesma, certamente terá uma diminuição correspondente no faturamente, ou nos lucros, ou nos resultados realizados, qualquer que seja o aspecto envolvido. Se essa empresa privada tem um dono vigilante -- alguns são idiotas a ponto de se deixar enganar durante algum tempo, ou então ele pode confiar no filho ou no sobrinho que foi designado para algum cargo por favor, não por competência ou honestidade -- ou se a mesma empresa privada tem um conselho atento e preocupado apenas com os retornos e os lucros a serem distribuidos -- e os membros do Conselho foram escolhidos pelos acionistas exatamente para produzir o maior volume de lucros para os acionistas da empresa -- em algum momento os responsáveis da diretoria ou do conselho vão descobrir alguma maracutaia e sancionar o ocorrido.
Mas, não importa: ainda que não o faça, não existe um centavo do meu, do seu, do nosso dinheiro envolvido e não temos por que nos preocupar com essa empresa. O problema é dela: se for menos eficiente do que outra concorrente do setor, vai perder mercado, vai ter menos lucros para fazer novos investimentos, vai perder clientes (posto que menos faturamento, menos lucros, menos inovação, menos clientes) e vai acabar sendo empurrada para fora do mercado, e terá de se reestruturar ou desaparecer. Problema dela.

Mas, se uma empresa pública faz a mesma coisa -- e frequentemente ela faz, pois os diretores e os membros do conselho foram escolhidos para isso mesmo, não para torná-la mais eficiente ou produzir lucros para os acionistas -- ela acaba, em algum momento, tendo de ser socorrida pelo Estado (ou governo, melhor dito) que controla sua diretoria e seu conselho. Esse governo pode decidir "recapitaliza-la", por exemplo, como já ocorreu com o Banco do Brasil em 1996 (à altura de 8 bilhões de reais, se querem saber), ou como está sendo a Petrobras, via BNDES (o que quer dizer Tesouro), à altura de mais de 100 bilhões de reais. Isso é dívida pública, isso é o nosso dinheiro, isso é totalmente irresponsável, pois uma empresa desse porte poderia estar facilmente se abastecendo no mercado de créditos comerciais privados, não no público, e o governo poderia estar investindo essa dinheirama toda em escola, saúde, estradas, melhoria da infra-estrutura de forma geral, da segurança pública, até da Previdência, que seja, tudo menos dando dinheiro para uma empresa que poderia perfeitamente ser privada e fazer exatamente o que ela faz: tirar petróleo no fundo do mar e vender para o distinto público no mercado.

Por isso, se alguém tiver algum argumento inteligente para justificar a razão, o motivo, o por que de a Petrobras ter de ser estatal, eu gostaria de ouvir.
E que ninguém me venha com o papo furado de que se trata de um setor estratégico que eu mando passear na terra dos ridículos resplandecentes. Estratégico é criança na escola o dia inteiro, não estatal de petróleo.
O país que considera o petróleo um bem altamente estratégico como os EUA não tem uma única estatal de petróleo, não uma ou duas, NENHUMA, e não deixa de garantir o abastecimento interno por reservas, aí sim, estratégicas, que o governo controla. Apenas isso.
Claro, pessoas inteligentes resolvem atuar via mercado.
Políticos corruptos adoram atuar via empresas estatais.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 2 de maio de 2010)

Fraude na Petrobras provoca rombo de R$ 1,4 bi, afirma PF
Por Leonardo Souza e Renata Lo Prete
Folha de S.Paulo, 2 de maio de 2010

Ao menos cinco grandes obras da Petrobras licitadas no governo Lula foram alvo de acordos e manobras clandestinas de empreiteiras que resultaram num custo adicional de R$ 1,4 bilhão para a estatal.

O superfaturamento foi constatado por peritos da Polícia Federal a partir de documentos apreendidos em cinco operações desde 2008.

Técnicos da PF descobriram que construtoras participaram indiretamente da elaboração dos editais, de maneira a restringir a quantidade de concorrentes, e combinaram previamente o lance vencedor dos certames. Em um dos casos, o acerto incluiu também a divisão “por fora” da execução do projeto e do sobrepreço imposto à petrolífera.

Desde o início de março, a Folha publica uma série de reportagens a respeito de “consórcios paralelos” montados por empreiteiras em todo o país para repartir contratos públicos à margem do resultado das licitações. Em volume de recursos, os casos relacionados à Petrobras são, de longe, os maiores até agora identificados. Os valores contratados pela estatal somam R$ 5,88 bilhões.

Referem-se aos seguintes empreendimentos: Unidade de Tratamento de Gás de Caraguatatuba, Unidade de Coque da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), Refinaria do Nordeste, Refinaria do Vale do Paraíba (Revap) e Unidade Termelétrica de Cubatão.

Entre as empresas participantes do conluio, de acordo com os documentos da PF, estão a Camargo Corrêa e a GDK, protagonista de um escândalo envolvendo a Petrobras e o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, em 2005.

Ele recebeu um carro Land Rover, avaliado em R$ 73,5 mil, do dono da GDK. O episódio foi investigado na ocasião pela CPI dos Correios, que considerou a doação “um caso exemplar de tráfico de influência”.

A participação da construtora baiana GDK se deu na licitação da unidade de Caraguatatuba (SP). Em uma primeira disputa, realizada em 2006, a GDK havia apresentado a menor proposta, com valor de R$ 988 milhões. Mas ela não foi qualificada. Nenhuma empresa foi, levando a Petrobras a fazer nova concorrência no ano seguinte.
Da segunda vez, a GDK não participou. O consórcio vencedor, composto por Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e IESA, deu um lance de R$ 1,462 bilhão -R$ 474 milhões acima do oferecido pela GDK no ano anterior. Posteriormente, após negociação imposta pela Petrobras, o valor do contrato caiu para R$ 1,395 bilhão.

A empreiteira baiana, contudo, deixou a concorrência apenas oficialmente. Por fora, de acordo com a PF, a GDK levou 20% do empreendimento.

Empresa nega
A Petrobras negou que tenha havido qualquer irregularidade ou superfaturamento nas cinco obras analisadas pelos peritos da Polícia Federal. A estatal afirmou que a diferença nos valores se dá por divergência entre os parâmetros técnicos usados pelo Tribunal de Contas da União e a PF e os adotados pelo corpo de engenheiros da companhia petrolífera.
A Petrobras destacou também que, em relação à Unidade de Tratamento de Gás de Caraguatatuba, o TCU já atestou que não houve sobrepreço.

A estatal concentrou sua resposta nos critérios de medição empregados pelo TCU. Informou que o tribunal utiliza o Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil) e o Sicro (Sistema de Custos Rodoviários). O primeiro é adotado em obras de saneamento e habitação. O segundo é usado pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) na construção de estradas.

“A Petrobras considera que esses critérios não se aplicam a obras como uma refinaria de petróleo, mais complexa e com especificidades próprias.”

sábado, 1 de maio de 2010

Numa unica frase, a tragedia da educacao brasileira

Acabo de ler um artigo de um professor de escola particular sobre a "educação fast-food". Não importa o autor e não é necessário citar a fonte, neste momento, mas uma simples frase revelou-me a extensão da tragédia educacional brasileira:

"O governo percebe que 50% das crianças de 10 anos não estão alfabetizadas."

Ou seja, a situação é bem mais grave do que poderíamos supor. E se o governo apenas "percebe", é mais grave ainda...
Acredito que entre o "perceber" e o "fazer algo" vai demorar certo tempo, isso se os "remédios" forem aplicados corretamente, o que duvido bastante.
As últimas notícias que eu tive do governo na área da alfabetização foram as de que ele estava adotando o método cubano de alfabetização e importando material apropriado para isso.
Sem ser especialista nessa área, acredito que não vai dar certo, pois raramente soluções importadas funcionam em outro contexto e em outra situação social e de estruturas institucionais de ensino, dadas as peculiaridades de nosso sistema educacional, certamente muito diferente em funcionamento do cubano.
Preparo-me para mais notícias trágicas na frente educacional...

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 2 de maio de 2010)

Confissoes sinceras de um aproveitador do público (ops, de um servidor publico)...

Creio que ele exagera um pouco, não sendo válidas suas observações para muitas categorias de funcionários públicos, mas no geral, corresponde aos estereótipos e caricaturas que se tem dos funcionários públicos. Um retrato válidos para certos funcionários, que conspurcam a imagem dos demais, nem por isso dotados de alta produtividade no trabalho...
Paulo Roberto de Almeida (2 de maio de 2010)

Confissões de um 'servidor público'
por Astolfo Pontes Negreira
Instituto Von Mises do Brasil, segunda-feira, 8 de março de 2010

Você está procurando um emprego? Quer ganhar um salário várias vezes maior do que aquilo que você realmente vale? Quer ter a liberdade de chegar e sair quando quiser, trabalhar somente quando estiver a fim, esticar a seu bel-prazer o horário de almoço, ter todos os seus feriados remunerados e até doze semanas de férias, também remuneradas, por ano? Há somente uma alternativa: trabalhar para o governo federal.

Suponho que poucos brasileiros tenham alguma ideia de como a coisa funciona. Se tivessem, certamente haveria um terremoto político. Como membro da Classe Parasítica há 15 anos, testemunhei de tudo e participei em primeira mão desse corrupto e grotescamente injusto sistema. Não apenas estou qualificado, como também sou moralmente obrigado a expô-lo.

Você poderia, obviamente, me chamar de hipócrita. Financeiramente, prosperei muito além dos meus sonhos mais extravagantes. Considerando-se meus talentos, meu trabalho e minha produtividade, meu padrão de vida é muito maior do que aquele que eu poderia ter atingido trabalhando duro no setor privado.

Porém, por ter lido os livros certos, e por ter tido conversas demoradas e detalhadas com minha esposa (uma empregada do setor privado) e com nossos amigos, também da iniciativa privada, finalmente passei a ver esse repugnante sistema como ele realmente é.

O que leva as pessoas a trabalharem para o governo? O que as mantém lá por toda a vida? É simples: compensações excessivas, enormes benefícios e ótimas condições de trabalho. É atraente para entrar e praticamente impossível de se querer sair. Isso porque o governo, de modo geral, remunera habilidades e experiências que não seriam comercializáveis no setor privado, pelo menos não no mesmo nível salarial.

Peguemos a mim como exemplo. Sou formado em ciência política. Escrevo, faço editoração e pesquisa. Os pagadores de impostos me garantem um salário (contando o 13º) de R$ 117.000 por ano, além de benefícios como plano de saúde gratuito e aposentadoria integral. Eu não poderia ganhar isso legitimamente no setor privado. Se você não acredita em mim, dê uma pesquisada nos anúncios de classificados. Salários para "escritor/editor" e "analista" começam em, no máximo, R$ 35.000 por ano, sem contar o que será descontado pelo INSS.

Mas digamos que eu consiga um emprego no setor privado (supondo que alguém iria contratar uma pessoa com a produtividade de quem passou toda a sua vida adulta trabalhando para o governo). E vamos também supor que eu consiga ganhar os mesmos R$ 117.000 do setor público.

O que eu perderia se saísse do governo? Pra começar, uma semana de trabalho curta já estaria fora de qualquer perspectiva. Eu poderia até me aventurar a adotar uma rotina de trabalho menor, mas isso seria prejudicial para a minha renda. Eu também teria de cumprir prazos e exigências - coisas com as quais não estou acostumado -, pois os consumidores querem o serviço feito sempre em tempo hábil.

Eu também teria de esquecer qualquer chance de conseguir folgar em todos os feriados - e, pior ainda, ter folgas remuneradas em todos eles. Os trabalhadores do setor privado dificilmente conseguem uma folga remunerada na Semana Santa ou no Carnaval. Meus amigos do setor privado se contorcem todos naquele misto de raiva e inveja quando lhes digo que não trabalho mas sou remunerado em feriados espúrios como Tiradentes, Dia da Consciência Negra e Finados.

E quanto às férias? Atualmente, posso gastar 17,4% do meu horário de trabalho em férias. São doze semanas por ano, eternamente. O tempo médio de férias no setor privado é de duas semanas, e, para alguns, isso não é um direito.

Eu também poderia dar adeus aos "benefícios" extraoficiais: por exemplo, todos os dias faço uma corridinha leve de uma hora, seguida de um banho prolongado e um almoço calmo e tranquilo. Isso me mantém em ótima forma para usufruir minhas constantes férias. E visitas a algum shopping durante minha hora de trabalho são sempre possíveis (pois ninguém é de ferro). Stress? Não tem como. Se relaxamento prolongasse a longevidade, burocratas viveriam até os 150 anos de idade.

Todos os anos, nossos valorosos sindicatos choramingam sobre a disparidade entre o trabalho do setor público e o do setor privado. Eles invariavelmente concluem que os burocratas precisam de maiores salários e de mais benefícios, exigindo portanto que o governo confisque mais dinheiro daqueles que trabalham genuinamente. Como sempre sou beneficiado - dado que o governo não se atreve a peitar o sindicalismo, sua base de apoio -, gosto muito. Mas é claro que o argumento sindicalista é uma enorme besteira. Se os burocratas fossem pagos de acordo com seu real valor para a sociedade, o resultado seria um êxodo em massa do setor público, e o governo federal teria de encerrar suas atividades.

Para quem é versado em economia de livre mercado, as razões para todo esse abuso sobre aqueles que trabalham duro e são obrigados a pagar impostos para sustentar essa classe superior e parasitária são óbvias. Ao contrário do setor privado, o governo não está sujeito aos rigores do sistema de lucros e prejuízos. O governo pode tributar, imprimir dinheiro e pegar empréstimos privilegiados junto ao setor bancário - que está sob seu restrito controle - para cumprir com suas obrigações. Ele pode pagar a milhões de pessoas um salário absurdamente fora de proporção, e não ser superado por nenhum concorrente que tenha uma gestão mais eficiente.

Sem ter de se submeter à disciplina imposta pelo mercado, o governo é naturalmente uma máquina ineficiente pelos padrões do setor privado. Ele jamais irá abolir ou mesmo reduzir por conta própria funções desnecessárias. Na hierarquia do funcionalismo público, quanto mais alta a função, menos falta ela faz. Porém são exatamente esses lá de cima que têm poder de decisão sobre a máquina. E eles jamais irão tomar decisões que atentem contra si próprios.

Enquanto o resto da população continuar sendo enganada pela propaganda e levada a crer que os funcionários do governo são pessoas que se sacrificam pelo bem público, os políticos não irão sentir qualquer pressão para reduzir essa máquina de espoliação em massa.

Já comecei a procurar a sério um emprego no setor privado. Terei de me submeter a um enorme corte salarial e abrir mão dessas generosas "benesses" que você pagador de imposto me concede. Porém, ao agir assim, estarei finalmente contribuindo com algo positivo para a sociedade. E só assim poderei ser capaz de viver bem comigo mesmo, sem o sentimento de culpa que carrego por estar parasiticamente vivendo bem à custa daqueles que se sacrificam diariamente para me sustentar.
Astolfo Pontes Negreira , carinhosamente conhecido pelo acrônimo AsPoNe, "trabalha" para o governo federal.

Istvan Jancso - Um historiador do Brasil

ISTVÁN JANCSÓ (1938-2010)
Um historiador do Brasil
Observatório da Imprensa, 27/4/2010

Lançado na segunda-feira (26/4), no Teatro da Memória, em São Paulo, o livro Um historiador do Brasil – István Jancsó, da Editora Hucitec, traz em depoimento a trajetória intelectual e política deste professor e pesquisador, falecido no dia 23 de março. Nascido na Hungria em 1938, sua vida foi atravessada pelos grandes conflitos do século 20.

Entre os trabalhos publicados por István, encontra-se uma contribuição à história da imprensa brasileira. Seu ensaio (em coautoria com Andréa Slemian) sobre o Correio Braziliense, "Um caso de patriotismo imperial", publicado na edição fac-similar do pioneiro periódico (ver, neste Observatório, o texto na íntegra) analisa como a idéia de Brasil era formulada por Hipólito da Costa desde o início de seu jornal, em 1808, até o encerramento da publicação, no ano da Independência.

István idealizou e coordenava a Biblioteca Brasiliana Mindlin, da USP, em cujo site encontra-se em acesso gratuito a coleção completa e indexada do Correio.

Um historiador do Brasil – István Jancsó, organizado pelos historiadores Marco Morel, Andréa Slemian e André Nicacio Lima, revela a ação e o pensamento de um historiador que viveu de forma intensa e corajosa o período da ditadura pós 1964, na medida em que considerava seu ofício não apenas como emprego, mas sobretudo ligado à ética de uma dimensão cidadã e libertária.

Hipólito da Costa, Correio Braziliense (íntegra)

Maravilhas da garantia de emprego sob o socialismo

Está começando a cair mais um dos mais renitentes mitos em torno do socialismo: o do emprego assegurado (ainda que em condições de baixíssima produtividade, como era sabido).
Pois em Cuba, tão defendida por certos "intelequituais" de gabinete no Brasil e na AL, essa garantia não mais existe: ela desaparece, à medida em que desmorona o socialismo cubano. Parece que o descontentamento vai aumentar...

Cuba debe despedir a un millón de empleados estatales
El País – 01/05/10.

La Habana – Un trabajador cubano dormita sobre una carretilla… Otro, sentado en un pedrusco, se limpia las uñas con un alambre. Sólo un tercero da unos golpes de cincel en un murete, tampoco demasiados. La escena es de ayer mismo, y esta brigada estatal que trabaja a las afueras de La Habana es representativa de lo que sucede en todo el país; en la Cuba socialista uno puede comer en una cafetería de 10 mesas atendida por 20 empleados, hay empresas con tantos inspectores y vigilantes como obreros y la plantilla nacional de dirigentes supera las 380.000 personas, casi un 9% de los trabajadores estatales.

Raúl Castro lo admitió hace tiempo: los salarios no alcanzan. Obviamente, ganar el equivalente a 15 euros al mes no estimula la productividad, pero el problema de las plantillas infladas no es menos grave. El 4 de abril, el presidente cubano reconoció que en el sector estatal sobran un millón de puestos de trabajo. Una barbaridad; esto representa uno de cada cuatro cubanos que trabaja para el Estado.

Si durante medio siglo el pleno empleo ficticio fue un emblema de la revolución, como la educación y la salud, hoy lastra la economía y entrampa la salida de la crisis. Con 11,2 millones de habitantes y una fuerza laboral de 4,9 millones de personas -de las que más de cuatro millones trabajan en el sector estatal-, Cuba se encuentra en una encrucijada. Un millón de trabajadores sobrantes es un grave problema político, pero hacer esta reconversión es de necesidad imperiosa, advierten los economistas.

El Gobierno ha adelantado que las soluciones del pasado no son una opción. Antes, a los trabajadores cesantes se les enviaba a casa con una prolongada garantía salarial o se les ofrecía la posibilidad de estudiar, cobrando el sueldo completo. Eso se acabó.

Salvador Mesa, el secretario general de la Central de Trabajadores de Cuba, el sindicato único, afirmó que la “reubicación” se hará “con orden” y que “nadie quedará abandonado”. El país, dijo, “no dispondrá de fórmulas mágicas, los puestos de trabajo tenemos que crearlos en los municipios, como en la agricultura y la construcción”. Precisamente, este es uno de los problemas. “Mucha gente no quiere reconvertirse de oficinista en campesino o albañil. ¿Qué van a hacer?”, expone un sociólogo.

“Si se quiere desinflar esas plantillas en las que casi todo el aire lo ha puesto la política paternalista del Estado, habrá que permitir que los que pierdan sus improductivos puestos laborales puedan hacer cualquier actividad que no sea delictiva”, opinó recientemente el escritor Guillermo Rodríguez Rivera. “Hacerlos abandonar sus empleos para echarles encima el mar de prohibiciones que existen para realizar cualquier trabajo, mandaría directamente a esa masa a delinquir”, afirmó, en un artículo publicado en la página web de la Unión Nacional de Escritores y Artistas de Cuba.

La salida, según la mayoría de los analistas, es de cajón: el Gobierno debe extender la iniciativa privada y fomentar cooperativas y pymes en los sectores que el Estado es incapaz de administrar con eficiencia. Para Rivera, las “nuevas empresas empezarían a ser una alternativa laboral, a cuyos empleos podrían aspirar muchos cubanos”.

Mordido por la realidad, el Gobierno realiza algunos tímidos experimentos en esta línea. En varios municipios de La Habana se ha entregado la gestión de las peluquerías a los trabajadores, que han de pagar un impuesto mensual de unos 34 euros al mes. También, a modo de experiencia piloto, se ha permitido a un pequeño grupo de taxistas que exploten por cuenta propia el vehículo del Estado a cambio de un impuesto, ocupándose ellos del mantenimiento.

“El reordenamiento laboral” de un millón de trabajadores es un reto descomunal, y “lo hecho hasta ahora es irrisorio”, asegura un economista. Además, dice, está “la desconfianza”.

“El primer objetivo es el resurgir de estas formas de producción y no crearle obstáculos que más bien parecen pretender su fracaso”, afirma Rivera, que pide “confiar en la probada diligencia del cubano para llevar adelante una empresa que de veras le importe”. Han pasado cuatro décadas desde que, en 1968, Fidel Castro acabó por decreto con la mayoría de los negocios privados. Ahora, en este 51º Primero de Mayo de la Revolución, son vistos por muchos como la salvación.

2262) Ajustando contas comigo mesmo: acertando a numeração deste blog...

Um aviso, um pedido de desculpas a meus fiéis leitores e o fim de uma inutilidade desnecessária (com perdão pela redundância

Eu tenho o (péssimo) hábito, como é fácil de constatar, de numerar sequencialmente meus posts, mesmo sabendo que se trata de medida perfeitamente inútil, uma vez que o próprio sistema possui calendário e relógio automáticos, que registram fielmente quando, exatamente, foi postado cada post, sendo impossível qualquer manipulação indevida, dado que o sistema jamais aceitaria inserções posteriores ou antecipações falsas.
A numeração, uma mania que adquiri para não perder o controle de meus escritos terminados (ou prontos para eventual publicação), foi preservada para saber, visualmente, a quantas eu andava em matéria de postagem, ou seja, a "produtividade" -- volumétrica, vale dizer -- deste blog. Bem, bastava acessar as postagens para ter esse volume medido, sem precisar mais me preocupar com a numeração sequencial (que via de regra confunde, pois é comum o retorno a posts anteriores, para comentar ou responder a comentários, ou para algum addendum qualquer).
Operando uma verificação rápida neste blog, constatei que, sob o título de Diplomatizzando, postei 1774 vezes, o que, combinado aos três posts anteriores (Paulo Roberto de Almeida, Diplomaticas e Diplomatizando), que continham, cumulativamente 487 postagens, perfaz um total de 2261 posts desde quando dei início a este hábito viciante (talvez até vicioso), no final de 2005.
Apenas por isto este post, o último numerado, leva o número 2262, sendo que o primeiro post neste blog foi inserido em 17 de junho de 2006.
(Isto não representa o total de postagens, visto que tenho outros blogs especializados -- em textos de referência, em resenhas de livros, em livros meus, um outro sobre meu itinerário pessoal, alguns acadêmicos, outro sobre temas asiáticos, um outro, interrompido, sobre os Brics, etc. -- com várias centenas de posts em alguns deles.)
Não sei como foi exatamente ocorrer, mas as mudanças de nomes anteriores se deveram a que (provavelmente por incompetência técnica de minha parte) os blogs anteriores em algum momento se encontraram bloqueados, ou eu não soube administrá-los corretamente, dando assim a partida a um novo blog cada vez que o anterior "bloqueava" (sem que eu até agora tenha descoberto por que, exatamente).

Pois bem, a partir de agora não vou mais numerar mais meus blogs, nenhum, cabendo ao link específico de cada post sua precisa localização, quanto à data e hora, e à listagem seria composta pelo próprio sistema o número cumulativo de postagens.
Nada como simplificar a vida...

Paulo Roberto de Almeida

2112) Falando nisso, assim é que as coisas acontecem...

Em vista do que escrevi no post anterior, nem preciso comentar...

China aprova lei que obriga empresas de comunicações a delatar usuários
Cláudia Trevisan
O Estado de S.Paulo, 01 de maio de 2010

A China aprovou ontem uma lei que obriga provedores de internet e de serviços de telecomunicações a colaborarem com a polícia e autoridades em investigações relativas a vazamento de "segredos de Estado" ? conceito vago o bastante para incluir qualquer atividade que Pequim considere suspeita.

As novas regras obrigam as empresas de telecomunicações a interromper a transmissão de possíveis segredos de Estado e comunicar às autoridades potenciais delitos. Elas também devem manter registros de ligações e deletar informações por determinação do governo.

As mudanças fazem parte de uma emenda à lei sobre segredos de Estado aprovada pelo Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, encarregado de legislar, já que o Parlamento se reúne só uma vez por ano.

Segundo o governo, o objetivo da emenda é reduzir a abrangência do que pode ser considerado segredo de Estado. Mas mesmo com a mudança, o conceito continua vago, incluindo "informação que, se divulgada, pode prejudicar os interesses do Estado nas áreas de política, economia e segurança nacional".

A emenda, que entra em vigor em 1.º de outubro, reduz o número de órgãos governamentais com poder para classificar informações como sigilosas e tenta padronizar o procedimento. Segundo a imprensa oficial chinesa, várias autoridades em todo o país recusam-se a prover informações ao público com o argumento de que se trata de "segredo de Estado".

A nova legislação, porém, deve dificultar ainda mais a atuação de empresas de internet estrangeiras no país, dois meses depois de o Google transferir seu site em chinês para Hong Kong por causa dos excessos de controles e da censura.

O Yahoo enfrentou um desastre de relações públicas em 2005, quando o jornalista chinês Shi Tao, usuário de seu serviço de e-mail, foi condenado a dez anos de prisão sob a acusação de divulgar segredos de Estado.

Shi usou sua conta do Yahoo para enviar a um amigo em Nova York documento do Departamento de Propaganda do governo enviado ao jornal em que trabalhava com orientações sobre os riscos relacionados à cobertura dos 15 anos do massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido em 1989.

O Google decidiu sair da China antes de se ver envolvido em um caso semelhante ao do Yahoo. Quando anunciou que poderia tomar esse caminho, em janeiro, a empresa afirmou que várias contas de seu provedor de e-mails, Gmail, tinham sido alvo de hackers chineses.

2111) Seria bom se fosse verdade...

Ditadores de verdade não ficam com medo de mouses, infelizmente. Eles tentam domá-lo, quando não matá-lo, ou pelo menos colocar numa gaiola de ferro, mantendo-o sob controle. Nem sempre conseguem, mas atrapalham um bocado a vida de simples cidadãos, que nada mais desejam senão informar-se livremente pela rede.
Em determinados países, os blogs são completamente bloqueados, exigindo que alguém tenha um provedor virtual para saltar grandes barreiras. Nem todo mundo é capaz, obviamente, de pagar um provedor em outro país, não dispondo de recursos em divisas.
Em todo caso, a campanha publicitária é bem-vinda e deveria incitar, pelo menos, à reflexão.


Imprensa - O rato que ruge
Revista Veja, edição 2163 - 5 de maio de 2010

A campanha publicitária dos Ditadores Medrosos vira um ícone poderoso ao retratar com humor a ameaça que o mouse, como o símbolo da liberdade de expressão e de informação, representa para os donos da verdade

SOCORRO
Castro, Ahmadinejad e Chávez, na montagem: a encenação divertida reproduz o que os tiranetes sentem, mas não mostram

Campanhas publicitárias costumam ser rápidas, eficazes e fugazes. Passou, acabou. Há aquelas, porém, que transcendem o efeito momentâneo e vão ficando mais impactantes com o tempo. É claro que um tema monumental como a liberdade de expressão ajudou a tornar memorável a campanha Ditadores Medrosos, lançada há um ano pela agência Ogilvy & Mather, de Frankfurt, para a Sociedade Internacional para os Direitos Humanos, organização não governamental alemã criada em 1972 para "atuar contra as injustiças por trás da Cortina de Ferro". Felizmente para todos, a cortina de ferro, expressão churchilliana que englobava a União Soviética e seus satélites, se foi, mas os abusos contra os direitos fundamentais pululam em outras partes. Daí a premiada campanha mostrando três conhecidos donos da verdade apavorados diante de um rato-mouse de computador. Raúl Castro, de Cuba, Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, e Hugo Chávez, da Venezuela, erguem o pezinho, sobem na mesa e fazem cara de pânico diante do pequeno objeto na ponta de um fio que traz embutida a praga de sua existência – informação à vontade. Era assim em 2008, quando a campanha ficou pronta, era assim em maio de 2009, quando ganhou um Clio, o maior prêmio da propaganda, é assim muito mais hoje em dia, quando Castro, Ahmadinejad, Chávez e correlatos oprimem seus cidadãos, perseguem os que ousam confrontá-los, ofendem o senso de justiça e liberdade de toda a humanidade e parecem inamovíveis.

As fotos da campanha foram tiradas em cenários montados na prefeitura da cidade de Wuppertal, um prédio do século XIX em estilo eclético. Foram usados tanto sósias como dublês de corpo, fazendo gestos e expressões faciais. Por fim, no computador as imagens foram ajustadas a fotos originais dos três tiranetes, para ficarem mais naturais. Chávez e Raúl trajam roupas habituais, mas o falso Ahmadinejad aparece todo de branco, como se a qualquer momento fosse cantar um bolerão. Segundo profissionais que participaram da campanha, o mais difícil foi encontrar fotos dos três tiranetes que se aproximassem de um rosto assustado – déspotas, pela própria natureza, são bons em insuflar medo, e não em exibi-lo, até aquele momento em que a maré da história dá uma virada e... todo mundo sabe como acaba. Será que os poderosos com medo do ratinho que ruge ainda virarão pôster?

2110) Nosso Guia descobriu o Brasil...em 2003

Parece que só em em 2003 o Guia Genial dos Povos descobriu que o Brasil não foi feito por ele, e que o que tinha vindo antes -- como a estabilização do Plano Real, por exemplo -- era digno de ser mantido, preservado e até ampliado (o que ele não fez, pois que não empreendeu NENHUMA reforma digna desse nome).
Pessoas que se pretendem salvadoras do mundo, e iniciadoras de um ciclo completamente novo na história do País, estão enganando a si mesmas, e tentando enganar os outros. Como nem todos os brasileiros são idiotas, como certos propagandistas das ideias alheias, esse tipo de demagogia, na verdade mentira deslavada, não cola, embora muita gente desinformada acabe acreditando que, sim, o Nosso Guia salvou a pátria e praticou a bondade universal.
Pobres de espírito, ou gente de má fé, podem, eventualmete, acreditar nesse tipo de bobagem.
Pessoas inteligentes, como aquelas que lêem este blog, sabem separar a verdade da mentira.
Abaixo um artigo de Mailson da Nobrega sobre essa exata questão.
Paulo Roberto de Almeida

Quem descobriu o Brasil?: Lula ou Cabral?
Maílson da Nóbrega
Revista Veja, edição 2163 - 5 de maio de 2010

"A história reconhecerá Lula pelas corajosas decisões de preservar a política econômica – que condenava – e de não buscar o terceiro mandato"

Os menos avisados que escutam Lula podem pensar que fomos descobertos em 2003, e não em 1500. Seus discursos buscam deslustrar seus antecessores e propagandear o que entende como seus feitos. Não exagera a ponto de reivindicar a glória do descobrimento, mas chega perto. Diz que mudou o Brasil.

Lula se gaba de ser o autor das boas transformações do país. É o que disse na Bahia, em março passado: "Este país começou a mudar, e isso incomoda muita gente". Bajuladores não faltam, como o que lhe atribuiu o epíteto de "nosso guia".

No lançamento do PAC 2, Jaques Wagner, governador da Bahia, disse que "Lula está refundando o Brasil". Para a então ministra Dilma Rousseff, "este é o Brasil que o senhor, presidente Lula, recuperou para nós e que os brasileiros não deixarão escapar de suas mãos". Adulado e popular, Lula se imagina o marco zero.

Mudanças como essas não acontecem em curto prazo. A Europa começou a emergir no século XV – suplantando a China e o mundo islâmico, até então centros de inovação e poder –, mas o processo de sua ascensão se iniciara muito antes, com destaque para a Carta Magna inglesa (1215) e para o Renascimento, que começou no fim do século XIII.

Antes, mudanças ocorreram em áreas cruciais: cultura, sociedade, economia, política e religião. Copérnico, Vesálio e Galileu criaram a ciência moderna, abrindo caminho para o avanço tecnológico. Gutenberg revolucionou a imprensa. Depois, a reforma protestante de Lutero (século XVI) e a Revolução Gloriosa inglesa (1688) se tornaram fonte do moderno sistema capitalista e do predomínio econômico e militar do Ocidente.

Indivíduos à frente de seu tempo contribuíram para mudanças ciclópicas. Entre 1776 e 1787, os pais fundadores da nação americana – os que participaram da Declaração de Independência, da Revolução ou da elaboração da Constituição – moldaram os princípios formadores dos alicerces sobre os quais se erigiria seu grande futuro.

Felipe González, o governante socialista espanhol (1982-1996), abandonou velhas ideias e conduziu reformas estruturais, incluindo ampla privatização. Preparou seu país para a integração europeia e para longo ciclo de crescimento. Margaret Thatcher reverteu a trajetória de declínio da Inglaterra. Ronald Reagan renovou o capitalismo americano.

O Brasil tem seus líderes transformadores. Entre outros, José Bonifácio, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. No período militar, sobressaem Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, este em grande parte responsável pelo fim pacífico do autoritarismo.

Ao proclamar-se o início de tudo, o presidente presta um mau serviço à história e aos brasileiros que gostam de ouvi-lo. Despreza o papel de Tancredo Neves na transição para a democracia, sem a qual não teria chegado ao poder. Obscurece a participação de Fernando Henrique Cardoso na construção da plataforma de lançamento da qual decolou.

Lula gostaria de ser lembrado como um Getúlio ou um Juscelino, mas creio que a história – a quem cabe apontar o lugar dos atores políticos – o reconhecerá pelas corajosas decisões de preservar a política econômica – que condenava – e de não buscar o terceiro mandato. Evitou, assim, o retorno da inflação e o abalo das instituições políticas, que precisam de tempo para se consolidar.

A continuidade deu tempo para o amadurecimento de mudanças anteriores. Permitiu-nos colher frutos da expansão da economia mundial e da emergência da China, hoje forte demandante de nossas commodities. Crescemos acima da média dos últimos 25 anos. As exportações triplicaram. Com estabilidade, crescimento e baixa inflação, foi possível alargar políticas sociais e assim reduzir as desigualdades sociais e a pobreza.

Lula é um líder de massas sem paralelo na América Latina. Politicamente populista, não foi desastrado na economia, embora deixe más heranças, como o aparelhamento do estado, a piora da qualidade do regime fiscal e os efeitos da inconsequente política externa.

Lula não descobriu o Brasil nem foi um líder transformador, mas não fez o estrago que se temia. Não é pouco. Não precisava, todavia, desconstruir as realizações do passado para marcar seu lugar na história, que parece garantido.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

2109) Indulging myself with some narcisism...

Mensagem recebida de uma leitora:

On May 1, 2010, at 1:41 AM, Exxxx Xxxxxx wrote:

Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.

Nome: Exxxx Xxxxxx
Cidade: Xxxxxxxx
Estado: MG
Email: xxxxxxx@uol.com.br
Assunto: Opiniao

Mensagem: Professor,
fiquei feliz por \"passear e percorrer\" pelo seu site. Senti-me menos inadequada e incompetente.
Sua visão do mundo acadêmico é tudo que penso a respeito dele. Um mundo engessado, compressor que limita e impede a criatividade e o livre pensar por nós mesmos. A sensação é que o nosso olhar, o nosso observar o mundo em volta conta pouco na hora de produzir o tal \"artigo científico\" exigido pra formar. Pouco ou quase nada se aproveita da contribuição daqueles alunos que como eu, não aceitam \"uma camisa de força\".
Obrigada por existir e principalmente ter conseguido sair desse \"casulo\" como um doutor que de fato merece assim ser chamado.
Atenciosamente,
Exxxxx Xxxxxx

Minha resposta:

Muito grato por sua mensagem, Exxxx, suponho que em conexao com "minha" Falácia sobre o "Marco Teórico". Ela foi pensada justamente em defesa dos alunos, e contra professores incompetentes para pensar com sua propria cabeça, dependendo sempre de algum guru qualquer para organizar a sua falta de ideias e de argumentos racionais.
Cordialmente, desde Shanghai,
------------------------------
Paulo Roberto Almeida

PS: O trabalho referido é este aqui:
3) Falácias acadêmicas, 3: o mito do marco teórico
Buenos Aires-Brasília, 30 setembro 2008, 6 p. Da série programada, com algumas criticas a filósofos famosos.
Espaço Acadêmico (n. 89, outubro 2008; arquivo em pdf). Relação de Originais n. 1931

A série toda pode ser lida neste link:
http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/FalaciasSerie.html

2108) Uma pausa refescante... mas na Bollivia???

Os viajantes, eventualmente desejosos de não pagar royalties ao imperialismo -- sempre tem gente assim motivada -- podem agora escolher entre a velha bebida conhecida de todos, a Coca-Cola, como todos sabem com origem nos Estados Unidos, e essa nova maravilha da tecnologia tradicional boliviana, a Coca-Colla, recém lançada pelo Governo da Bolívia (que portanto fica com todos os royalties, lucros, e eventuais prejuízos da operação (inclusive, possivelmente, o de ser derrotado nos tribunais do seu país, por contrafação, apropriação indébita de marca, tentativa de enganar o consumidor...).
Sempre tem quem goste...

2107) O papa nao está acima da lei - Christopher Hitchens

Bring the Pope to Justice
Christopher Hitchens
Newsweek, Apr 23, 2010

Popes and their problems through the centuries

Detain or subpoena the pope for questioning in the child-rape scandal? You must be joking! All right then, try the only alternative formulation: declare the pope to be above and beyond all local and international laws, and immune when it comes to his personal and institutional responsibility for sheltering criminals. The joke there would be on us.

The case for bringing the head of the Catholic hierarchy within the orbit of law is easily enough made. All it involves is the ability to look at a naked emperor and ask the question "Why?" Mentally remove his papal vestments and imagine him in a suit, and Joseph Ratzinger becomes just a Bavarian bureaucrat who has failed in the only task he was ever set-that of damage control. The question started small. In 2002, I happened to be on Hardball With Chris Matthews, discussing what the then attorney general of
Massachusetts, Thomas Reilly, had termed a massive cover-up by the church of crimes against children by more than a thousand priests. I asked, why is the man who is prima facie responsible, Cardinal Bernard Law, not being questioned by the forces of law and order? Why is the church allowed to be judge in its own case and enabled in effect to run private courts where gross and evil offenders end up being "forgiven"? This point must have hung in the air a bit, and perhaps lodged in Cardinal Law's own mind, because in December of that year he left Boston just hours before state troopers
arrived with a subpoena seeking his grand-jury testimony. Where did he go? To Rome, where he later voted in the election of Pope Benedict XVI and now presides over the beautiful church of Santa Maria Maggiore, as well as several Vatican subcommittees.

In my submission, the current scandal passed the point of no return when the Vatican officially became a hideout for a man who was little better than a fugitive from justice. By sheltering such a salient offender at its very heart, the Vatican had invited the metastasis of the horror into its bosom and thence to its very head. It is obvious that Cardinal Law could not have made his escape or been given asylum without the approval of the then pontiff and of his most trusted deputy in the matter of child-rape damage control, then cardinal Joseph Ratzinger.

Developments since that time have appalled even the most diehard papal apologists by their rapidity and scale. Not only do we have the letter that Cardinal Ratzinger sent to all Catholic bishops, enjoining them sternly to refer rape and molestation cases exclusively to his office. That would be bad enough in itself, since any person having knowledge of such a crime is legally obliged to report it to the police. But now, from Munich and Madison, Wis., and Oakland, come reports of the protection or indulgence of
pederasts occurring on the pope's own watch, either during his period as bishop or his time as chief Vatican official for the defusing of the crisis.
His apologists have done their best, but their Holy Father seems consistently to have been lenient or negligent with the criminals while reserving his severity only for those who complained about them.

As this became horribly obvious, I telephoned a distinguished human-rights counsel in London, Geoffrey Robertson, and asked him if the law was powerless to intervene. Not at all, was his calm reply. If His Holiness tries to travel outside his own territory-as he proposes to travel to Britain in the fall-there is no more reason for him to feel safe than there was for the once magnificently uniformed General Pinochet, who had passed a Chilean law that he thought would guarantee his own immunity, but who was visited by British bobbies all the same. As I am writing this, plaintiffs are coming forward and strategies being readied (on both sides, since the Vatican itself scents the danger). In Kentucky, a suit is before the courts seeking the testimony of the pope himself. In Britain, it is being proposed that any one of the numberless possible plaintiffs might privately serve the pope with a writ if he shows his face. Also being considered are two international approaches, one to the European Court of Human Rights and another to the International Criminal Court. The ICC-which has already this year overruled immunity and indicted the gruesome president of Sudan-can be asked to rule on "crimes against humanity"; a legal definition that happens to include any consistent pattern of rape, or exploitation of children, that has been endorsed by any government.

In Kentucky, the pope's lawyers have already signaled their intention to contest any such initiative by invoking "sovereign immunity," since His Holiness is also an alleged head of state. One wonders if sincere Catholics really desire to take refuge in this formulation. The so-called Vatican City, a political nonentity covering about 0.17 square miles of Rome, was created by Benito Mussolini in 1929 as part of his sweetheart deal between fascism and the papacy. It is the last survival of the political architecture of the Axis powers. Its bogus claim to statehood is now being
used to give asylum to men like Cardinal Law.

In this instance the church damns itself both ways. It invites our challenge-this is where the appeal to the European Court of Human Rights becomes relevant-to its standing as a state. And it calls attention to the repellent origins of that same state. Currently the Holy See has it both ways. For example, it is exempt from the annual State Department Human Rights Report precisely because it is not considered a state. (It maintains only observer status at the United Nations.) So, if it now does want to claim full statehood, it follows that it should receive the full attention
of the State Department for its "lay" policies, and, for that matter, the full attention of the Justice Department as well. (First order of business-why on earth are we not demanding the extradition of Cardinal Law?
And why is this grave matter being left to private individuals to pursue?)

It is very difficult to resist the conclusion that this pope does not call for a serious investigation, or demand the removal of those responsible for a consistent pattern of child rape and its concealment, because to do so would be to imply the call for his own indictment. But meanwhile why are we expected to watch passively or wonder idly why the church does not clean its own filthy stable? A case in point: in 2001 Cardinal Castrillón of Colombia wrote from the Vatican to congratulate a French bishop who had risked jail rather than report an especially vicious rapist priest. Castrillón was invited this week to conduct a lavish Latin mass in Washington. The invitation was rightly withdrawn after a storm of outrage, but nobody asked why the cardinal could not be held as an accessory to an official Vatican policy that has exposed thousands of American children to rapists and sadists.

Only this past March did the church shamefacedly and reluctantly agree that all child rapists should now be handed over to the civil authorities. Thanks a lot. That was a clear admission that gross illegality, and of the nastiest kind, has been its practice up until now. Euphemisms about sin and repentance are useless. This is a question of crime-organized crime, by the way-and therefore of punishment. Or perhaps you would rather see the shade of Mussolini thrown protectively over the Vicar of Christ? The ancient Roman symbol of the fish is rotting-and rotting from the head.

Hitchens, a NEWSWEEK contributor, is a columnist for Vanity Fair and the author of God Is Not Great.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

2106) Uma aluna indecisa: alguns conselhos genericos...

Não tenho pretensões a ser conselheiro vocacional, sequer psicólogo profissional, mas não posso escapar de algumas consultas didáticas ou de algum aconselhamento acadêmico. Sem muito tempo para grandes conversas bilaterais, mas consciente de que muitos outros estudantes podem alimentar as mesmas dúvidas, ou mesmo angústias, de vez em quando me atrevo a fazer o que não devo: aconselhar outros, o que é uma tremenda responsabilidade. Tento fazer da forma mais isenta possível, como se pode constatar abaixo.

Uma consulta "pedagógica"

On Apr 30, 2010, at 1:05 AM, c..... s........ wrote:

Olá! Eu sei que o senhor não me conhece, e talvez ache estranho eu estar lhe enviando este email, mas existem alguns momentos na vida em que nos sentimos bastante perdidos e nos agarramos a tudo que esteja a nosso alcance. Então vou tentar relatar o que está acontecendo comigo.
Eu tenho 17 anos, terminei o ensino médio em dezembro de 2009, já sabendo qual seria o rumo a seguir. Em fevereiro deste ano sai de casa, fui morar em Xxxxxxxx com minhas amigas para fazer um curso pré-vestibular, pois meu objetivo era cursar Relações Internacionais na UFxx. Como sou uma pessoa que sempre busca o melhor pesquisei sobre os melhores cursos de RI do Brasil e descobri que o da UFxx não estava entre os melhores. Então eu larguei o cursinho, voltei para casa e comecei a estudar para o vestibular de invernos da PUC de XXXXX, pois lá o curso é muito bom e o vestibular é mais fácil, portanto não precisaria mais fazer cursinho. Iria tentar entrar na UnB também, sem muitas expectativas, por ser o mais concorrido. A escolha deste curso já era uma certeza para mim, sabia que era isso que eu queria, mas agora parece que tudo mudou, eu não tenho mais certeza de nada. Essa mudança começou quando li uma reportagem sobre o melhor emprego do mundo no [jornal] e aquilo era exatamente o que eu queria para mim, entrei então em contato com o entrevistado e ele me disse que havia feito jornalismo na Xxxx, aqui em Xxxxxxx, pertinho de casa. Bom, ai eu quis fazer jornalismo, mas o problema é que eu não gosto muito de escrever, e na verdade, é isso que um jornalista faz. Mais uma vez fiquei perdida. Existem duas coisas que eu quero depois de formada e eu procuro um curso que me proporcione isso, que são viajar muito, conhecer vários países, várias culturas, ter contato com pessoas diferentes e também ajudar a humanidade, ajudar o meu país e tentar fazer alguma coisa para que esse mundo melhore. Procurei então, cursos que tivessem isso, então minha lista que tinha dois foi para seis. RI, jornalismo, ciências sociais, serviços sociais, geografia e turismo. Não sei mais o que fazer, eu que tinha certeza de tudo, agora não sei mais nada e também não tenho quem me ajude a ver melhor as coisas e saber o que é melhor. Meus pais são maravilhosos e eles vão me apoiar em qualquer decisão, mas ele não me ajudam, eles também não sabem o que dizer para mim. Preciso da ajuda de alguém que tenha uma visão mais ampla do mundo e da vida, porém não conheço nenhuma pessoa que possa me ajudar. Eu estava pesquisando sobre universidade, quando encontrei o teu blog e li algumas coisas, li sobre o senhor também e decidi lhe mandar este email. Sei que você deve ser uma pessoa muito ocupada e não tem tempo para problemas como o meu, já deve ter dor de cabeça suficiente com a suas coisas. Mas mesmo assim resolvi lhe mandar este email, pq não sei mais o que fazer e você foi uma luz para mim. Tenho esperanças que o senhor leia e tenha a bondade de responder. Desculpe o encomodo. Desde já agradeço. Espero que eu não tenha misturado demais e que você entenda o que eu preciso.

Obrigada,
C.... S.......


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Minha resposta (improvisada e rapidamente escrita):

C....,
Duas primeiras observacoes sobre sua longa carta, abaixo, bastante explicativa de sua situacao e de suas duvidas de vida, de estudo e de trabalho.
1) "encomodo" se escreve incômodo. Mas isso você já deveria saber, com 17 ou 18 anos.
2) Se voce não gosta de escrever, isso é terrivel, e é um tremendo handicap para qualquer carreira, mas sobretudo para a diplomacia. Passamos metade do tempo, talvez dois tercos do tempo escrevendo: telegramas, oficios, memorandos, position papers, notas, até comunicados presidenciais e declaracoes oficiais de reunioes importantes, em portugues, espanhol, sobretudo ingles, eventualmente outras linguas tambem. Ou seja, se você nao gosta de escrever, e não consegue escrever bem, eu a desaconselho a tentar a diplomacia.

Voce precisa ser realista e traçar seu plano de vida, pois nao é possivel fazer tudo ao mesmo tempo: "viajar muito, conhecer vários países, várias culturas, ter contato com pessoas diferentes e também ajudar a humanidade, ajudar o meu país e tentar fazer alguma coisa para que esse mundo melhore".
Você poderá, eventual e hipoteticamente, fazer tudo isso, mas não ao mesmo tempo, e sobretudo não concentrado em curto espaço de tempo. Esse é um projeto de uma vida inteira, e como se diz, a caminhada começa com o primeiro passo.
Seu primeiro passo, aliás uma obrigação sua, se os seus pais estão lhe pagando os estudos, seria ter uma boa formação, e se quiser ter sucesso na vida, profissional e pessoal, uma excelente formação. Isso, NENHUMA faculdade, nenhum curso vai lhe dar, NENHUM. Todos são mediocres, professores relapsos e incompetentes, colegas desinteressados, aulas chatas, etc.
Ou seja, ou você se forma sozinha, de forma autodidata, ao lado da frequencia formal das aulas na Faculdade, para tirar um certificado e ter um minimo de orientacao de leituras, ou você NUNCA terá uma boa formação.
Eu não vou lhe indicar um curso, pois acho que isso depende de você mesma sondar sua consciência, se informar sobre os MELHORES cursos de Xxxxxxxx, e fazer um deles.
Eu só vou lhe dizer que você precisaria ler o tempo todo, bons livros, e escrever muito, o tempo todo.
Se você quiser ter sucesso, comece pelas coisas mais simples: seja uma grande leitora, uma grande estudiosa, seja em que profissao ou carreira for, e seja uma escritora plena, pois seu sucesso depende do dominio completo da lingua, lida, falada, escrita. Sim, tenha um excelente ingles, também, pois isso vai lhe ajudar bastante, qualquer que seja a profissao.
Tudo isso voce pode, voce deve fazer sozinha, por sua propria iniciativa, e comecando agora.
Abra o computador, selecione os melhores jornais e revistas do mundo para ler: New York Times, Economist, Washington Post, Financial Times, Le Monde, El Pais, e comece a ler. Cada materia interessante que voce ler. faça um resumo em portugues, de preferência num caderno, para você ir verificando aos poucos sua melhoria de escrita.
Faça um programa de leituras, sistematico, se preferir baseado no Guia de Estudos do Rio Branco: comece a ler TODOS os livros indicados, anotando cada um.
Depois de 4 anos de estudos intensos, você poderá ser uma boa diplomata, ou ter sucesso em qualquer outra profissão.
Estes são os meus conselhos...
Cordialmente,
------------------------------
Paulo Roberto Almeida
(Shanghai, 30.04.2010)

2105) Keynes vs Hayek (ou vice-versa): um rap economico

Já postei aqui, no passado, o link pertinente, mas creio que sem tradução, desta vez feita pelo pessoal do Instituto Mises do Brasil, que também traduziu este artigo resumindo o video, de autoria de Jeffrey A. Tucker, editor do site www.Mises.org.
Uma excelente aula de economia, se você prestar atenção nos conceitos (que deveriam ser objeto de várias visualizações, para melhor compreensão).

A genialidade do rap estrelando Keynes versus Hayek
por Jeffrey A. Tucker
Instituto Mises do Brasil, quarta-feira, 28 de abril de 2010

Rap Hayek Vs Keynes

Nota do IMB: uma alma caridosa e extremamente competente traduziu e legendou o rap da batalha Keynes x Hayek. Não é exagero algum dizer que a letra da música não só é fenomenal, como também apresenta uma descrição extremamente acurada da visão antagônica que ambos tinham da mecânica dos ciclos econômicos. É um vídeo para se ver e rever inúmeras vezes. Por mais que você já o tenha visto, sempre acabará descobrindo detalhes novos.

O debate entre J.M. Keynes e F.A. Hayek, ambos vivendo e lecionando na Grã-Bretanha nos anos 1930, foi um dos grandes debates do século. Desafortunadamente, o charme keynesiano acabou prevalecendo, e Keynes, um homem que estava em frequentes viagens pelo mundo, acabou conquistando o pódio da audiência — a ponto de influenciar a política de todo o mundo até os dias de hoje.

Enquanto isso, o sereno e estudioso Hayek nunca de fato teve uma grande plateia. Assim como seu colega e mentor Mises, Hayek escrevia para jornais acadêmicos e era ouvido apenas por aqueles que tinham uma mente mais cética, pessoas que duvidavam das políticas e teorias convencionais e tinham a vontade intelectual de pesquisar os assuntos mais a fundo.

De um lado, portanto, o debate entre esses dois foi um dos mais decisivos para a modelagem das ideias econômicas que dominariam o mundo ao longo dos 75 anos seguintes. De outro lado, entretanto, esse debate nunca de fato ocorreu, uma vez que o ponto de vista hayekiano foi e tem sido sistematicamente marginalizado e escondido pelo establishment político e acadêmico desde que Keynes foi prematuramente declarado o vencedor no final da década de 30.

A maravilha das novas tecnologias midiáticas é sua capacidade de nos mostrar coisas que de outra forma poderiam passar despercebidas. Fear the Boom and Bust [Tema a Expansão e a Recessão], um vídeo do YouTube feito pelo produtor John Papola e pelo economista Russ Roberts, e apoiado pelo Mercatus Center, que pertence à George Mason University, explora genialmente essa vantagem, contrapondo Keynes e Hayek em um rap que captura uma realidade que poucos haviam compreendido por completo até agora.

Até o momento, o vídeo [o original] já foi visto mais de um milhão e cem mil vezes e virou notícia internacional. Além de ser uma bela e elaborada produção, o que realmente impressiona é sua transparência e acuidade teórica. Ele tirou a teoria austríaca dos ciclos econômicos de um plano secundário e a trouxe para o primeiro plano do debate.

É verdade que em 1974 Hayek recebeu o Prêmio Nobel, o que trouxe atenção para a sua obra que havia há muito sido esquecida. O comitê do Nobel citou especificamente o trabalho de Hayek sobre a teoria dos ciclos econômicos. Mas o renascimento desfrutado por Hayek nos anos seguintes não se centrou nesse aspecto da sua obra. Ao invés disso, toda a atenção foi voltada para elaborações sobre sua evolucionária teoria social, suas concepções sobre a ordem do processo de mercado e seus estudos sobre lei.

Com efeito, seus livros e a maioria de seus artigos sobre ciclos econômicos sequer foram reeditados desde o lançamento de sua primeira edição — até o ano passado, quando o Mises Institute lançou um maciço compêndio de sua obra: Prices and Production and Other Essays (bem como o livro Tiger by the Tail). O vídeo, portanto, vem a público de uma maneira acessível e trazendo a grande contribuição que Hayek deu à literatura econômica, a qual é essencial para se entender os atuais eventos da economia mundial.

Permita-me agora explicar por que esse vídeo é sensacional.

O vídeo começa com Keynes e Hayek chegando à recepção de um hotel. Ambos estão ali para a "Conferência Econômica Mundial". A recepcionista é toda remelexos com Keynes, tratando-o como a estrela que ele é. Keynes arrogantemente anuncia que ele não precisa de uma pauta porque ele é a pauta. Enquanto isso, Hayek humildemente tenta se fazer notar. A recepcionista nunca ouviu falar dele. Isso captura muito bem o espírito que perdurou desde a década de 1930 até hoje: o mundialmente famoso Keynes versus os desconhecidos austríacos.

Algo totalmente fiel à realidade: vários estudantes estão dizendo que mandaram esse vídeo para seus professores de economia, os quais responderam que, antes de verem vídeo, nunca tinham ouvido falar de Hayek. Enfatizo: professores de economia.

Voltando ao vídeo, a caracterização dos personagens é fantástica. Keynes é popular e amado por todos, sempre promovendo um estilo de vida boêmio, com festas e farras intensas — o futuro que se dane. Já a personalidade de Hayek é mais intelectual, sóbria e até mesmo um pouco puritana, com um foco na realidade e no longo prazo.

Hayek chega ao quarto do hotel e, ao abrir a gaveta da mesa de cabeceira encontra, ao invés da Bíblia, a Teoria Geral. O telefone toca e é Keynes anunciando que as festividades no Banco Central já estão quase começando. Hayek fica espantado, pois achava que eles estavam ali para seminários e congressos.

Eles se encontram no lobby do hotel e saem — Hayek com um ticket de metrô na mão. Keynes, sem perder tempo, pede uma limusine, enquanto Hayek balança negativamente a cabeça, indignado.

O tema do 'festeiro vs. economista sóbrio' perpassa toda a história. Os termos da argumentação são expostos bem claramente. Hayek diz que os ciclos econômicos são causados por "juros baixos" resultantes de intervenções do governo, ao passo que Keynes culpa o "espírito animal" que opera livremente em um mercado que necessita urgentemente ser controlado.

Keynes então começa a explicar sua teoria para a depressão. Ela é causada pela rigidez de salários e só pode ser curada se houver um estímulo à demanda agregada por meio do aumento dos gastos governamentais e impressão de dinheiro. Ele defende obras públicas, guerras e janelas quebradas — pois tudo isso estimularia a demanda —, alerta contra a armadilha da liquidez, defende déficits, vangloria-se de ter mudado o modo de se estudar economia, e conclui "Diga bem alto, com orgulho, somos todos keynesianos agora!". Enquanto isso, o espectador vai assistindo a cenas de pessoas embriagadas farreando freneticamente.

Sobra então para Hayek a missão de trazer realismo à discussão. Ele rejeita o argumento de Keynes pelo fato de este esconder muita agregação em suas equações, as quais ignoram toda a motivação e ação humana. Hayek compara estímulos governamentais ao ato de beber mais para tentar curar uma ressaca. Ele chama atenção para o fato de que não é possível haver prosperidade sem poupança e investimento — e em seguida começa a educar Keynes em sua perspectiva austríaca.

Ele começa sua exposição alterando o foco da análise: não é a recessão, mas sim a expansão que deve ser analisada. Pois é durante a expansão que são plantadas as sementes do desastre. A expansão econômica começa com uma expansão do crédito. Esse dinheiro recém-criado passa a ser erroneamente visto como sendo poupança real, que pode ser emprestada e investida em novos projetos, como imóveis e construção.

Porém, há uma escassez de recursos necessários para se finalizar esses projetos. Imprimir dinheiro não faz com que os recursos surjam do nada. Esses projetos, portanto, se transformam em investimentos errôneos. O "anseio por mais recursos revela que não há o bastante". É aí que a expansão se transforma em recessão. Quanto à armadilha da liquidez, ela é apenas uma evidência de um sistema bancário insolvente. A lição: "Você precisa poupar para investir, não use a maquina de imprimir."

Toda essa explicação ocorre enquanto Keynes tenta dormir para curar sua ressaca. Sem sucesso, ele corre para o banheiro para vomitar — os efeitos colaterais da farra da noite anterior.

O que Hayek discute no vídeo é sua própria teoria da estrutura de produção de uma economia. Mas vale notar que há uma estrutura de produção atuando no mundo das ideias também. Os primeiros pedaços da teoria austríaca dos ciclos econômicos foram juntados 100 anos atrás, quando Mises estava trabalhando em seu primeiro livro, que foi publicado em 1912.

Esse foi o primeiro tratado a juntar a teoria dos juros e da produção à teoria da moeda. O principal ponto de Mises era mostrar que os bancos centrais — que estavam sendo criados em sua maioria naquela época — iriam acabar causando mais ciclos econômicos, e não menos. Hayek deu sequência a esse trabalho nos anos 20 e 30, publicando uma série de estudos sobre o assunto. Mais tarde vieram aprimoramentos feitos pelo próprio Mises, que os publicou em sua obra magna de 1949, Ação Humana. Os estudos feitos por Roger Garrison na década de 1990 fornecem alguns dos termos que aparecem no vídeo. Ainda depois, surgiu o livro de Jesus Huerta de Soto sobre ciclos econômicos, o qual explica o papel do sistema bancário de reservas fracionárias na criação das expansões econômicas e das subsequentes recessões — um livro que se baseia em várias constatações feitas por Rothbard na década de 1960.

O que vemos nesse vídeo, portanto, é a culminação de várias sequências de ideias que começaram há um século. Trata-se de uma longa e complexa estrutura de produção de ideias. Mas foi exatamente essa estruturação que possibilitou que uma teoria dessa complexidade pudesse ser construída de modo tão coerente, que é perfeitamente possível apresentá-la em um vídeo de rap num formato que qualquer leigo pode ver e entender.

Sinceras e cordiais congratulações a Russ Roberts e John Papola por terem compilado tudo e apresentado um fantástico exemplo de como a ciência econômica pode ser explicada para qualquer indivíduo. Era justamente essa a visão de Mises: a ciência econômica não deve ser relegada às salas de aula; ela deve fazer parte dos estudos de cada cidadão. Roberts e Papola levaram essa prescrição muito a sério e, com isso, fizeram algo extraordinário para Hayek, para as ideias austríacas, para a ciência econômica em geral e para o progresso intelectual do mundo.

É por isso que o vídeo é fantástico.
Jeffrey A. Tucker
é o editor do Mises.org.

Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque

2104) Rota da Seda, um passeio pelo Oriente (e algo mais...)

Blog-site de Carmen Lícia Palazzo, por acaso (bem, não foi por acaso) minha queridíssima esposa, companheira, guia de viagens, historiadora oficial, conhecedora dos segredos da Rota da Seda e muito mais:

Rota da Seda
http://www.carmenlicia.org/

Prato sassânida (entre séculos V e VII); influência grega na temática da decoração.
© carmen lícia palazzo

Rota da Seda
丝绸之路 - Cidades da Rota da Seda
Carmen Lícia Palazzo
Fri, 04/23/2010 - 22:36

Carmen Lícia descendo do "taxi" no deserto de Gobi:


Estamos chegando de uma viagem muito especial pelo interior da China pois fizemos uma pequena parte da Rota da Seda, visitando Dunhuang e as cavernas ou grutas de Mogao, Lanzhou e Xi'an.

Dunhuang é o ponto de partida para visitar Mogao, um oásis no deserto de Gobi onde se encontram centenas de cavernas com magníficas pinturas e estátuas budistas. As cavernas começaram a ser escavadas no século IV quando ali se instalaram as primeiras comunidades de monges budistas. Os monges transformaram o local em um centro de devoção importante e muito frequentado pelos viajantes que percorriam a Rota da Seda. No oásis de Mogao as caravanas encontravam um lugar para descanso e para reabastecimento, sendo frequente também a troca de animais para seguir longos percursos.

A visita às cavernas é bem organizada e é possível apreciar os diversos estilos que foram se sucedendo na arte budista, inclusive as diversas influências indiana, tibetana e mesmo greco-romana, como é o caso dos drapeados inspirados nas esculturas de Gandhara. São excepcionais as imensas estátuas de Buda. Como puderam ser esculpidas com tamanha habilidade ali dentro? As figuras voadoras, "devi" ou apsaras" são fascinates. Comprei um livro muito bom, "Dunhuang & Silk Road", cujos autores pertencem à Universidade de Lanzhou e à Academia Dunhuang, pretendo dar uma boa estudada na história deste lugar que há tanto tempo me fascina...

Em Xi'an, antiga Chang'an, capital da China em diversas dinastias e que teve seu apogeu na época dos Tang, visitamos o Museu de História de Shaanxi que justamente "conta" a história da Rota da Seda. Estivemos também no Grande Pagoda cuja construção se destinava principalmente a abrigar textos budistas que o monge Xuan Zhang trouxe da Índia. A peregrinação de Xuan Zhang, que partiu de Xi'an no ano de 628, é um dos episódios mais importantes do budismo chinês e foi no mosteiro ao lado do Pagoda que ele criou uma escola de tradutores que alcançou grande renome na Ásia. Ainda hoje o enorme mosteiro se encontra em atividade e é bastante prestigiado entre os budistas.

Mas voltando atrás no tempo visitamos, ainda em Xi'an, o que é considerado uma das mais importantes descobertas arqueológicas do século XX: o imenso conjunto de guerreiros em terracota que fazem parte do mausoléu do imperador Qinshihuang. Ele unificou a China em 221 a.C. e ainda muito jovem mandou construir o que viria a ser seu mausoléu. O famoso exército de terracota já é bastante conhecido pois suas imagens são constantemente divulgadas em livros, filmes e revistas. No entanto é inexplicável a sensação de vê-los de perto. Eles estão no próprio sítio arqueológico onde foram encontrados e há inclusive um grupo de arqueólogos trabalhando nas escavações. É possível acompanhar uma parte dos trabalhos. É imensa a extensão da necrópole e certamente outras descobertas importantes se seguirão.

Dunhuang/Mogao e Xi'an dão uma boa idéia do trabalho que a China vem desenvolvendo com apoio de vários outros países para trazer à tona partes importantes da sua história. O Projeto Dunhuang é especialmente interessante pois atualmente está sendo feita a digitalização de todo o acervo de obras de arte das cavernas e há uma equipe internacional com grande participação chinesa trabalhando também na conservação do local.

Estamos começando bem nossa temporada chinesa e esperamos ainda fazer muitas viagens até o início de novembro, quando encerra nosso período aqui.

Algumas fotos de Dunhuang, do deserto de Gobi e de Xi'an estão no item "Minhas fotos."


Atualizações recentes
Mosteiro em Xi’an
04/24/2010 - 03:24
Zhang Qian
04/24/2010 - 03:22
Entrada das cavernas de Mogao
04/24/2010 - 03:16
Cavernas de Mogao
04/24/2010 - 00:20
Deserto de Gobi
04/23/2010 - 23:21
Cidades da Rota da Seda
04/23/2010 - 22:36
Chegada em Shanghai
04/11/2010 - 00:26
Museu de Sharjah
04/07/2010 - 03:22
Museu de Sharjah
04/07/2010 - 03:18
Viagem aos Emirados Árabes
04/07/2010 - 02:52

2103) Continuando o dialogo sobre a (nao)democracia no Brasil

Um leitor deste meu post, neste blog:

quarta-feira, 28 de abril de 2010
2096) Um dialogo sobre a (nao) democracia no Brasil

Paulo disse...
Caro PRA,
Poderia, por gentileza, se aprofundar um pouco mais sobre essa democracia aborrecida, mas funcional, mencionada no seu texto?
Confesso que fiquei meio no ar.
Os EUA sao muito abertos a "imigracao selvagem" para se tornarem uma democracia aborrecida, mas funcional, como os escandinavos e semelhantes.
Grato,
Paulo


Bem, antes de continuar, talvez os leitores queiram ler primeiro o post em questão, para saber o que eu disse, exatamente, em relação ao que o leitor Paulo levanta, com o pedido de esclarecimentos adicionais.

Quem já leu Norberto Bobbio ou Karl Popper, sabe que a democracia é um sistema muito pouco excitante, a diferença de todas essas ditaduras que ficam mobilizando o povo em grandes marchas e manifestações, discursos de tres horas, etc.
Nada disso: a democracia é feita de pequenas reformas, pequenas adaptações, pequenos ajustes, infinitas conversas e conciliações, tentando melhorar, pela via do consenso, do voto, da discussão, aquilo que os representantes do povo decidem num processo marcado por muitos estudos técnicos, muita burocracia, muito equilíbrio entre vontades opostas.
Os regimes democraticos verdadeiramente consolidados são uma infinita chatice, porque ninguem fica discutindo essas "revoluções" na vida das pessoas que líderes demagogos e outros populistas ficam prometendo a cada vez. Ñão, o que se discute é o que vai ser feito com o lixo reciclado, o menu da merenda escolar, o trajeto da nova linha de metro, essas coisas aborrecidas.
"Democracias populares" é que ficam discutindo se o Estado vai ou não estatizar essa ou aquela propriedade ou atividade econômica, se vai mudar a política cambial, se vão ou não aceitar investimentos estrangeiros "exploradoes" ou "espoliativos", enfim grandes coisas que permitam enormes discursos cheios de acusações aos inimigos da pátria e os burgueses egoistas e banqueiros gananciosos.
Democracias consolidadas são tão aborrecidas que metade da população nem se desloca para votar nas eleições gerais, nacionais, preferindo eleger o xerife de aldeia, o juiz do condado, ou o board da escola e sua associação de pais e mestres. Essas são as chatices das democracias consolidades, nas quais ninguém tem medo de que um líder populista maluco mude as regras do jogo do dia para a noite e altere fundamentalmente o rendimento da poupança, os contratos de alugueis ou o valor da moeda.
Essa é a vida na Suíca ou nos paises escandinavos, uma chatice infinita, sem essas excitações dos grandes comícios e grandes apelos à defesa da pátria.

Quanto aos EUA, eu disse que eles são uma grande democracia, mas pagam o preço de também serem uma grande economia dinâmica e de atrairem uma "imigração selvagem". Esse é um fato, não uma opinião, pois todos os pobres da terra, e também os bandidos, querem ir para os EUA. Como diria um ladrão de bancos, lá é que está o dinheiro.
Nessas condições, os EUA não conseguem ser uma democracia aborrecida, pois a diversidade cultural, a dinâmica populacional, e a própria violência trazida pelo crime organizado que vai conquistar uma parte do dinheiro fazem com que a vida seja um pouco mais movimentada por lá.
E depois tem Hollywood, que não deixa a vida de ninguém ficar aborrecida.

Enfim, tem gente que prefere coisa mais movimentada, como países que decretam aumentos salariais de 40% aos policiais e aos membros das FFAA, como acaba de fazer Hugo Chávez, por certo por generosidade extrema.

Vejamos, como seria uma democracia não aborrecida. Eis aqui um exemplo:

Venezuela expropia instalaciones de Empresas Polar
Por Andrew Cawthorne
28 de abril de 2010, 02:11 PM

CARACAS (Reuters) - El presidente de Venezuela, Hugo Chávez, decretó la expropiación de unos depósitos de Empresas Polar, la mayor procesadora de alimentos del país, en un nuevo avance del Gobierno contra la propiedad privada.
También ordenó expropiar tres procesadoras de azúcar
El militar retirado firmó el martes en la noche el decreto y le advirtió al dueño del grupo, Lorenzo Mendoza, que se calme.
"No me provoques Mendoza. Quédate tranquilo, no te pongas bravo Mendoza, sabes que tengo razón", dijo Chávez dirigiéndose al jefe de Polar, desde una reunión ministerial que fue transmitida por la televisora estatal.
En marzo, Chávez exigió el desalojo del terreno donde están los depósitos en la ciudad central de Barquisimeto, con el fin de adelantar un plan de construcción de viviendas sociales.
Semanas después el Gobierno regional decretó la expropiación de los activos de la empresa, la que Polar consideró como "arbitraria" y la cual solicitó fuese calificada como "nula" por el Tribunal Supremo de Justicia.
Sin embargo el mandatario, quien afronta una baja en sus niveles de popularidad de cara a una crucial elección legislativa en septiembre, replicó entonces que las objeciones de Polar eran injustificadas.
Chávez ha nacionalizado amplios sectores desde que en 1999 llegó al poder por los votos y ha amenazado varias veces con expropiar operaciones de Polar, acusándola de "sabotaje" en la distribución de alimentos.
La firma, controlada por una acaudalada familia, fabrica alimentos, cervezas, refrescos y bebidas no carbonatadas. Tiene 30 plantas industriales y es fundamental para mantener abastecida a Venezuela, que ha sufrido crisis de escasez en años recientes.
Empresas Polar, que también opera Pepsi-Cola Venezuela, mantiene una participación accionaria en Cativen, unidad de la minorista francesa Casino, con la que el Estado se asociará para manejar los hipermercados Exito y los supermercados Cada.
La empresa ha dicho que podría llegar a pedir por la expropiación una indemnización de unos 95 millones de bolívares, unos 37 millones de dólares calculados al tipo de cambio oficial de 2,60 bolívares para bienes básicos.
Además, la firma ha dicho que el decreto afectará a más de 3.200 trabajadores de los centros de acopio y distribución de Cervecería Polar y Pepsi.
EXPROPIA AZUCARERAS
Chávez también ordenó expropiar los centrales azucareros Agua Blanca y Santa Clara, en los estados occidentales de Portuguesa y Yaracuy, alegando que se encontraban paralizadas.
"Centrales que estaban abandonadas en el peor estado, abandonadas sus instalaciones, los trabajadores mal pagados y explotados", explicó Chávez.
Una tercera procesadora de azúcar, en el estado Táchira, en la frontera con Colombia, también fue afectada por una medida de "adquisición forzosa", según reseñó la Gaceta Oficial que circuló el miércoles.
Según el Departamento de Agricultura de Estados Unidos, Venezuela cuenta con unos 15 centrales azucareros que producen sólo un tercio de su demanda, mientras que importa unas 700.000 toneladas anuales para satisfacer el consumo.
Fedecamaras, el mayor gremio empresarial del país y opositor del Gobierno, condenó la medida en contra de Polar, considerando que perjudica a consumidores y trabajadores.
"El Gobierno se está radicalizando, los empresarios tienen que radicalizar su postura de defensa a la propiedad privada y recurrir a todas las instancias", dijo Noel Alvarez, presidente de la Federación, a la televisora Globovisión.
Alvarez agregó que iniciará acciones legales en contra de Chávez en la Corte Interamericana de Derechos Humanos (CIDH) y en la Organización de Naciones Unidas (ONU).
(1 dólar= 2,6 bolívares a tipo de cambio preferencial para alimentos y medicinas; y 4,3 bolívares a tipo de cambio para bienes no prioritarios)
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Acho que isso explica tudo...