Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Religiao e desenvolvimento: um questionario e minhas respostas
Como sei que minhas respostas serão aproveitadas apenas parcialmente, e como sei que este tema sempre desperta curiosidade nos estudiosos de ciências humanas em geral, permito-me transcrever aqui minhas respostas, não como religioso, mas como simples estudioso das religiões e, sobretudo, do desenvolvimento econômico e social em escala comparada.
Acredito que o tema é relevante, mas desde já me posiciono contra a posição fundamentalista que está vinculada a certas confissões evangélicas, no sentido de apoiar o criacionismo e se posicionar contra o evolucionismo. Aqui não é uma questão de fé ou de postura anti-religiosa. Acredito que essa posição é errada, e é profundamente danosa para o desenvolvimento do espírito científico, em qualquer país, em qualquer época, com qualquer religião.
Como disse em uma das minhas respostas: esses fundamentalistas serão, eventualmente salvos, pelo avanço da pesquisa científica em matéria de doenças e procedimentos terapêuticos, mas dificilmente, ou JAMAIS, poderão colaborar para a descoberta da cura ou de inovações levando a melhor condição de vida enquanto ficarem presos a essas concepções ingênuas e no fundo anti-racionalistas.
Paulo Roberto de Almeida
Pesquisa sobre Religião e Desenvolvimento
Paulo Roberto de Almeida
Respondendo a perguntas colocadas por repórter de confissão evangélica.
Perguntas:
1) Que relação pode haver entre a religiosidade de um povo e seu nível de renda?
PRA: Não existe um padrão universal e uma correlação unívoca – ou seja, de causa a efeito, numa só direção – entre religião e prosperidade, ou entre religião e nível de vida de um povo, pois as situações são as mais diversas possíveis e têm mais a ver com a formação histórica e cultural de um povo do que propriamente com o seu nível de vida. Todos os povos têm, naturalmente, religiões, alguma emergindo naturalmente, como o antigo paganismo ou politeísmo, outras surgindo com base em profetas ou figuras carismáticas (Cristo, ou Maomé, por exemplo). Alguns povos “importam” suas religiões – como o budismo na China e no Japão, por exemplo, propagado a partir da Índia, a partir de monges missionários, mercadores, viajantes, etc. Outros povos são levados à conversão por colonização ou dominação externa, como a maior parte dos povos autóctones da América Latina. Ou seja, as situações são muito diversas, pois entre todos esses povos encontramos nações extremamente desenvolvidas (como Europa e Estados Unidos, onde o cristianismo se propagou por evangelização ao longo dos séculos) e outras totalmente miseráveis (como a índia secular, por exemplo, basicamente hinduísta, mas também muçulmana e dotada de dezenas de outras religiões, inclusive o próprio budismo, no qual existem povos hoje desenvolvidos, como os japoneses, e outros ainda “atrasados”, como no Nepal, Butão, o próprio Tibete, etc.
A nação mais avançada do mundo, que é indiscutivelmente os EUA, pelo menos em termos científicos e tecnológicos, é, também, a mais religiosa, ou parece ser, com uma profusão de cultos, sobretudo evangélicos e protestantes (mas aberta a todas as confissões, num sistema tão livre quanto anárquico, de religiões, de opiniões, de iniciativas individuais, enfim, de ampla liberdade). Ao lado, temos o México e os países da América Central, todos uniformemente católicos e relativamente atrasados, com um nível de renda per capita 5 ou 6 vezes menor do que nos EUA.
Em resumo, não há um padrão, e muita tinta já se gastou, desde Max Weber, em tentativas de correlação entre uma coisa e outra, sem muito sucesso aparente.
2) Em sua opinião, há uma influência recíproca entre religião e economia?
PRA: Sim e não, dependendo do que se pretende como fatores causais. Essa influência pode ser positiva, ou seja, levar um povo a prosperar com base em suas habilidades próprias. Mas as relações reais são muito complexas. Acredito, por exemplo, que uma religião que coloca a mulher em papel subordinado, como ocorre no islamismo em grande medida, atua num sentido negativo para fins de desenvolvimento social e prosperidade. Religiões que atribuem forte papel à mulher, como mãe e responsável pela educação dos filhos – como ocorre na tradição judaica, e parcialmente no cristianismo – podem ser extremamente positivas na inovação e na prosperidade. Os judeus, por exemplo, constituem menos de 1% da população mundial, mas contribuíram de maneira absolutamente “desproporcional” para o progresso da humanidade, nos mais diversos campos do saber, da ciência, da cultura. Basta ver a proporção de Prêmios Nobel ganhos por pessoas de origem judia. Creio que o grande papel, aqui, é o da mãe e da família judia, extremamente focadas no desenvolvimento dos filhos, na sua educação, numa vida digna e voltada para o benefício da comunidade. Não se encontra esse tipo de motivação e de vocação entre todas as religiões. Mas fatores causais podem ser mais de origem cultural, ou costumeira, do que propriamente religiosa, pois o patriarcado, ou dominação masculina, e a conseqüente opressão da mulher, existem em várias religiões.
3) De acordo com a pesquisa, quanto mais religiosos são os habitantes de um país, mais pobre ele tende a ser. O senhor concorda com essa conclusão?
PRA: Não concordo, absolutamente, e o exemplo já citado dos EUA nega esse tipo de afirmação. Mas, mais uma vez, essa relação é complexa, e não se pode, sem ser leviano, estabelecer uma correlação entre o grau de “religiosidade” – o que isto quer dizer?; trata-se aqui de conceito essencialmente subjetivo – de um povo e o nível de sua prosperidade material. Certas religiões podem contribuir para certa estagnação – ou falta de inovação de certos povos, como determinadas variantes do islamismo, a partir de certa fase – e outras permitirem o desenvolvimento.
Tudo depende, em minha opinião, da capacidade de ser exercido o chamado “espírito criativo”, algo que, como a religião, parece ser inato no homem (ou nos seres humanos). As religiões que “congelam” determinados conceitos sociais e impedem o avanço da pesquisa e da inovação – em matérias científicas, como biologia, história, etc. – contribuem para o atraso de seus povos. Aquelas que permitem a chamada “exegese”, ou seja, a interpretação dos “livros sagrados”, para adaptar as mensagens religiosas à dinâmica econômica e científica, contribuem para o desenvolvimento dos povos, e isso ocorreu no cristianismo. Mas esse itinerário ainda não foi conhecido no islamismo, pelo menos em várias de suas interpretações literais; pode ser que o islamismo evolua para esse mesmo tipo de secularização que permita uma interpretação alusiva, e não literal, da palavra escrita, ou seja, que permita a exegese (algo mais ligado à tolerância do que ao dogmatismo). Não devemos esquecer, por outro lado, que a Europa conheceu terríveis guerras de religião, responsáveis por morticínios inacreditáveis na concepção moderna dos direitos humanos.
Acredito que o fanatismo, a intolerância, o dogmatismo e o exclusivismo religiosos podem ser, sim, fatores de atraso, ao passo que a tolerância, o espírito aberto, a capacidade de absorver e integrar novas descobertas na cultura religiosa dominante são, ou podem ser, fatores de progresso e de prosperidade.
4) A pesquisa aborda a questão de forma genérica, no entanto, não deveriam ter levado em consideração as diferenças doutrinárias de uma religião para outra, já que essas diferenças poderiam ter apontado outro resultado, a exemplo de Max Weber que considerou o Protestantismo melhor para o desenvolvimento econômico do que o Catolicismo?
PRA: A tese de Max Weber é extremamente controversa, sempre foi aliás. Ele escreveu numa época – começo do século 20 – quando os povos protestantes pareciam ser a vanguarda do desenvolvimento econômico mundial, e de fato a Europa e os EUA estavam na dominação indisputada do mundo, exercendo uma extraordinária hegemonia econômica, tecnológica e cientifica. Mas, o capitalismo – que esteve na base desse excepcional desenvolvimento – nasceu na Itália católica, e não nos povos setentrionais protestantes. É certo que o comportamento mais aberto às inovações financeiras levaram protestantes a se desenvolverem mais rapidamente, e que o preconceito cristão, ou católico, contra o lucro e a usura pode ter contribuído para um desenvolvimento capitalista mais lento, mas mesmo essa tese é sujeita a caução. Se dizia, algumas décadas atrás, que os povos asiáticos, que possuem dezenas de religiões, mas poucos são cristãos ou protestantes, estavam condenadas ao atraso e à miséria, mas nas ultimas três décadas são os que mais avançaram no mundo em termos de prosperidade material, deixando para trás a América Latina quase toda ela católica, que décadas atrás aparecia como mais promissora para fins de crescimento e riqueza. Tudo isso NÃO TEM a ver com religião, e sim com as políticas econômicas corretas e, sobretudo, com a educação do povo. Mais do que as religiões, são as instituições sociais que podem ser “colaborativas” ou “impeditivas” do progresso.
5) A seu ver, é a religião que leva uma população à pobreza ou é a riqueza que tende a afastar as pessoas da religiosidade?
PRA: De modo algum; todas as situações são encontradas nos mais diferentes povos, locais e épocas históricas. Existe, aparentemente, uma correlação entre prosperidade material e uma atitude menos “religiosa”, ou seja, mais laica, ou secularizada, como ocorre entre os povos nórdicos, por exemplo, onde se pode notar uma forte diminuição da assistência a cultos religiosos, do pagamento de contribuições às Igrejas e do ensino religioso, de forma geral. Mas, acredito que a religião é um traço civilizacional que vai acompanhar as comunidades humanas sempre, independentemente do grau de seu desenvolvimento (ou ausência de) prosperidade material.
6) A religião desempenha um papel importante no desenvolvimento econômico de um país?
PRA: Eu diria que esse papel é em geral neutro e não depende da religião em si, ou seja, da “mensagem sagrada”, e sim das instituições que determinam a criação de riqueza. Certas instituições são mais favoráveis a isso, como o instituto da propriedade, o respeito aos contratos, o chamado rule of Law, ou seja, o respeito à lei e à legalidade jurídica num pais, etc. Tudo isso pode ser, e é, positivo para fins de desenvolvimento, independentemente da religião específica de um povo. Mas, se uma religião se atém, por exemplo, a uma leitura literal e obrigatória sobre determinados fenômenos naturais, e recusa a abertura à pesquisa e à inovação, ela pode, sim, ser fator de atraso. Por exemplo, não se pode ter carreira cientifica em biologia, ou nas ciências de modo geral, sem aderir a alguns pressupostos da teoria da seleção natural, de origem darwiniana (mas a evolução é um fato, que independe de teorias). Quem não aceita esses pressupostos simplesmente não consegue fazer biologia, ou até geologia ou, no limite, a história e a arqueologia. Tudo isso pode representar fatores de atraso absoluto no desenvolvimento material, pois a tecnologia só pode avançar com plena utilização do espírito cientifico. Todas as pessoas podem ser salvas pela medicina avançada, mesmo recusando seus pressupostos básicos, e negando a teoria evolucionista, por exemplo. Mas essas pessoas JAMAIS contribuirão para aquela solução cientifica que salva as suas vidas se elas não aderirem a certas metodologias científicas que uma determinada vertente religiosa, intolerante e dogmática, pretende banir do ensino laico (que deve ser aberto a todo e qualquer desenvolvimento científico, pois isso é importante e crucial para a humanidade).
Eu me proclamo, apenas para fins de honestidade intelectual, como uma pessoa irreligiosa – ou seja, não me posiciono quanto às religiões, embora as respeite historicamente – e essencialmente como um racionalista. Sou, sim, um grande estudioso das religiões, como deveria ser todo espírito aberto e propenso ao progresso material e espiritual da humanidade.
Paulo Roberto de Almeida (Beijing, 14.10.2010)
==========
Agora a pesquisa que motivou a consulta:
Pesquisa: 80% da população mundial vê a religião como importante .
Qui, 02 de Setembro de 2010
Fonte: Christian Post – Link: http://www.christianpost.com/article/20100901/over-8-in-10-worldwide-see-religion-as-important/
Mais de oito em cada dez adultos em todo o mundo dizem que a religião é uma parte importante de suas vidas diárias, de acordo com pesquisas do Gallup realizada em 114 países.
E, como pesquisas anteriores encontraram, ainda há uma forte correlação entre o nível socio-econômico do país e a religiosidade de seus moradores.
Nos países mais pobres do mundo - aquelas com renda média per capita de 2000 dólares ou menos - a proporção mediana que dizem que a religião é importante em suas vidas diárias é de 95 por cento, informou nesta terça-feira Gallup.
Em contraste, a mediana para os países mais ricos - aqueles com renda média per capita acima de USD $ 25.000 - é de 47 por cento
"Os cientistas sociais têm colocado diante inúmeras explicações possíveis para a relação entre a religiosidade de uma população e o seu nível de renda média," observou o editor Steve Gallup Crabtree.
"Uma teoria é que a religião desempenha um papel mais funcional nos países mais pobres do mundo, ajudando muitos moradores a lidarem com uma luta diária para prover a eles e suas famílias. A análise anterior Gallup apoia esta idéia," acrescentou.
Na análise da Gallup de 2009, inquéritos realizados em 143 países, nos três anos anteriores, a organização concluiu que a relação entre religiosidade e bem-estar emocional é mais forte entre aqueles nos países pobres do que entre aqueles no mundo desenvolvido.
Em seu último relatório, Gallup disseram que a religião era considerada importante por 95 por cento das pessoas em países com 2.000 dólares ou menos renda per capita. E para os países com renda per capita acima de USD $ 2.000, mas menos de USD $ 5.000, 92 por cento das pessoas disseram que a religião é uma parte importante da sua vida quotidiana.
Depois de 5.000 dólares, os números declinaram mais, com 82 por cento considerando a religião como importante para os países dentro do grupo USD $ 5.001-12,500. Para renda de USD $ 12.501-25.000, 70 por cento disseram o mesmo. E para os países com renda per capita mais USD $25.001, apenas 47 por cento disseram que a religião é uma parte importante da sua vida quotidiana.
Tal como em inquéritos anteriores, no entanto, os Estados Unidos estão entre os países ricos, que vêm escapando à tendência.
Segundo a última pesquisa Gallup, 65 por cento dos americanos dizem que a religião é importante em suas vidas diárias. Outros países de alta renda mais propensos a enfatizar a importância da religião incluem Itália, Grécia, Singapura e países do Golfo Pérsico.
Os seis principais países com maior porcentagem de pessoas colocando importância da religião foram Bangladesh, Nigéria, Iêmen, Indonésia, Malawi, e Sri Lanka - com pelo menos 99 por cento em cada comunicação a religião como importante em suas vidas diárias.
Os seis países com os menores percentuais foram a Estónia (16 por cento), Suécia (17 por cento), Dinamarca (19 por cento), Japão (24 por cento) e Hong Kong (24 por cento).
Resultados de pesquisas Gallup são baseados em entrevistas telefônicas e presenciais, realizadas em 2009 com cerca de 1.000 adultos em cada país.
Fonte: Folha Gospel
Contra o dolar depredador; viva a nova moeda (so podia ser ele...)
Chávez ainda vai conseguir -- aliás já está fazendo -- destruir completamente a economia da Venezuela, provocando desinvestimento, desabastecimento, fuga de capitais, inflação, câmbio negro, enfim, o cortejo de tragédias habituais que acontecem nos países dominados por dirigentes totalmente irresponsáveis no plano econômico, como sempre autoritários no plano político.
A chamada Rodésia do Sul, desde a independência Zimbabue, foi simplesmente convertida em economia moribunda pelo seu "líder", Roberto Mugabe.
Chávez parece seguir o mesmo caminho.
Pobre Venezuela.
Paulo Roberto de Almeida
Presidente Chávez calificó al Sucre como un sistema monetario liberador
(11.10.2010)
El presidente Hugo Chávez Frías calificó este lunes al Sistema Unitario de Compensación Regional (Sucre) como una nueva moneda liberadora en los planos económico y político.
Afirmó que con ese nuevo sistema monetario se rompen los paradigmas “del dólar depredador!!”, y se refirió a la compra aceite de soya a Bolivia mediante el Sucre, lo que convierte a las naciones en “libres económicamente”.
El pasado viernes 8, Venezuela y Bolivia cerraron la primera negociación pagada en Sucres. La transacción facturó en 4.241.680 sucres, y el pago correspondió a la compra de 5.000 toneladas cúbicas de aceite crudo de soya.
Aseveró que la nueva moneda es “liberadora en los económico y político... Viva la Independencia económica Latinoamericana. Es tiempo de los Pueblos!!”, expresó.
A questao do aborto: um artigo esclarecedor - Olavo de Carvalho
Paulo Roberto de Almeida
Lógica do abortismo
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 12.10.2010
O aborto só é uma questão moral porque ninguém conseguiu jamais provar, com certeza absoluta, que um feto é mera extensão do corpo da mãe ou um ser humano de pleno direito. A existência mesma da discussão interminável mostra que os argumentos de parte a parte soam inconvincentes a quem os ouve, se não também a quem os emite. Existe aí portanto uma dúvida legítima, que nenhuma resposta tem podido aplacar. Transposta ao plano das decisões práticas, essa dúvida transforma-se na escolha entre proibir ou autorizar um ato que tem cinqüenta por cento de chances de ser uma inocente operação cirúrgica como qualquer outra, ou de ser, em vez disso, um homicídio premeditado. Nessas condições, a única opção moralmente justificada é, com toda a evidência, abster-se de praticá-lo. À luz da razão, nenhum ser humano pode arrogar-se o direito de cometer livremente um ato que ele próprio não sabe dizer, com segurança, se é ou não um homicídio. Mais ainda: entre a prudência que evita correr o risco desse homicídio e a afoiteza que se apressa em cometê-lo em nome de tais ou quais benefícios sociais hipotéticos, o ônus da prova cabe, decerto, aos defensores da segunda alternativa. Jamais tendo havido um abortista capaz de provar com razões cabais a inumanidade dos fetos, seus adversários têm todo o direito, e até o dever indeclinável, de exigir que ele se abstenha de praticar uma ação cuja inocência é matéria de incerteza até para ele próprio.
Se esse argumento é evidente por si mesmo, é também manifesto que a quase totalidade dos abortistas opinantes hoje em dia não logra perceber o seu alcance, pela simples razão de que a opção pelo aborto supõe a incapacidade – ou, em certos casos, a má vontade criminosa – de apreender a noção de “espécie”. Espécie é um conjunto de traços comuns, inatos e inseparáveis, cuja presença enquadra um indivíduo, de uma vez para sempre, numa natureza que ele compartilha com outros tantos indivíduos. Pertencem à mesma espécie, eternamente, até mesmo os seus membros ainda não nascidos, inclusive os não gerados, que quando gerados e nascidos vierem a portar os mesmos traços comuns. Não é difícil compreender que os gatos do século XXIII, quando nascerem, serão gatos e não tomates.
A opção pelo abortismo exige, como condição prévia, a incapacidade ou recusa de apreender essa noção. Para o abortista, a condição de “ser humano” não é uma qualidade inata definidora dos membros da espécie, mas uma convenção que os já nascidos podem, a seu talante, aplicar ou deixar de aplicar aos que ainda não nasceram. Quem decide se o feto em gestação pertence ou não à humanidade é um consenso social, não a natureza das coisas.
O grau de confusão mental necessário para acreditar nessa idéia não é pequeno. Tanto que raramente os abortistas alegam de maneira clara e explícita essa premissa fundante dos seus argumentos. Em geral mantêm-na oculta, entre névoas (até para si próprios), porque pressentem que enunciá-la em voz alta seria desmascará-la, no ato, como presunção antropológica sem qualquer fundamento possível e, aliás, de aplicação catastrófica: se a condição de ser humano é uma convenção social, nada impede que uma convenção posterior a revogue, negando a humanidade de retardados mentais, de aleijados, de homossexuais, de negros, de judeus, de ciganos ou de quem quer que, segundo os caprichos do momento, pareça inconveniente.
Com toda a clareza que se poderia exigir, a opção pelo abortismo repousa no apelo irracional à inexistente autoridade de conferir ou negar, a quem bem se entenda, o estatuto de ser humano, de bicho, de coisa ou de pedaço de coisa.
Não espanta que pessoas capazes de tamanho barbarismo mental sejam também imunes a outras imposições da consciência moral comum, como por exemplo o dever que um político tem de prestar contas dos compromissos assumidos por ele ou por seu partido. É com insensibilidade moral verdadeiramente sociopática que o sr. Lula da Silva e sua querida Dona Dilma, após terem subscrito o programa de um partido que ama e venera o aborto ao ponto de expulsar quem se oponha a essa idéia, saem ostentando inocência de qualquer cumplicidade com a proposta abortista.
Seria tolice esperar coerência moral de indivíduos que não respeitam nem mesmo o compromisso de reconhecer que as demais pessoas humanas pertencem à mesma espécie deles por natureza e não por uma generosa – e altamente revogável -- concessão da sua parte.
Também não é de espantar que, na ânsia de impor sua vontade de poder, mintam como demônios. Vejam os números de mulheres supostamente vítimas anuais do aborto ilegal, que eles alegam para enaltecer as virtudes sociais imaginárias do aborto legalizado. Eram milhões, baixaram para milhares, depois viraram algumas centenas. Agora parece que fecharam negócio em 180, quando o próprio SUS já admitiu que não passam de oito ou nove. É claro: se você não apreende ou não respeita nem mesmo a distinção entre espécies, como não seria também indiferente à exatidão das quantidades? Uma deformidade mental traz a outra embutida.
Aristóteles aconselhava evitar o debate com adversários incapazes de reconhecer ou de obedecer as regras elementares da busca da verdade. Se algum abortista desejasse a verdade, teria de reconhecer que é incapaz de provar a inumanidade dos fetos e admitir que, no fundo, eles serem humanos ou não é coisa que não interfere, no mais mínimo que seja, na sua decisão de matá-los. Mas confessar isso seria exibir um crachá de sociopata. E sociopatas, por definição e fatalidade intrínseca, vivem de parecer que não o são.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
"My" Economic Cold War: not so bad, anyway...
Paulo Roberto de Almeida *
Old Realities
The geopolitical Cold War is definitely closed, it seems. Besides “normal” political tensions and trade frictions between major powers, there are no more totally opposed conceptions about how to organize the world economically or politically. No one is saying something like “we’ll bury you”, as done in the past by a Soviet leader.
We are having now an economic Cold War, or sort of. Indeed, there is nothing capable of starting a full-scale confrontation among major powers. What we do have now are trade frictions and currency misalignments, over a post-crisis adjustment process. There is a dispute over how national economic policies should take into account their impacts over other countries’ economic situation. But, as Mark Twain could have argued, rumors about a global currency war are greatly exaggerated. We have not yet outlived the current financial crisis; this is just one among many others that affect dynamic markets since the beginnings of capitalism.
It is not entirely true that this crisis was created by the deregulation of the financial markets, although low regulation can indeed have facilitated the expansion of existing bubbles in some markets. The main culprit for the bubble, though, is the low level of interest rates established by central banks during too long a period. In the same manner, albeit in very different ways, that the old Lords of Finance of the Twenties created the crisis of the 1930s, by their action or inaction, the present crisis is the result of misguided policies by the new Lords of Finance.
It is also not true that this crisis is severe enough to justify a new Bretton Woods-like redrafting of the world economic order. Talks about a new financial architecture, or even about a redistribution of world economic and political power, are totally in contradiction with the more prosaic realities of our days. We are not at all in a post-major crisis arrangement, a sort of diplomatic complete reordering of the world after a cataclysmic seism, touching all and every major actor of the international scene. We are very far from that. Let’s look the precedents.
We are not in Wesphalia-1648. We are not in Vienna-1815. We are not in Paris or Versailles-1919. And we are not in Bretton-Woods-1944, or San Francisco-1945. We are not in any major re-founding of the international political and economic order. We simply are, nowadays, in the middle of our 1930s, trying to manage a big crisis by national responses, each one fitted to the specific circumstances of each country, and delinked from a major disaster affecting everyone and all countries.
To be more precise, we are somewhere between 1931 and 1933, still in the middle of a recession, but not in a depression. The level of unemployment is not as high as in 1933, and is probably in line with patterns of our days. World trade and financial flows are not as disrupted as in the 1930s, although economic liberalization regressed: we reverted to a light version of trade protectionism, without quotas.
This new economic Cold War arises from structural changes in the world economy, already on the move since the Eighties, when China started to flex its muscles again. At the same time, developing countries ceased to rely on national, inward-looking, projects for national development and opened themselves to foreign investment. Since then, the world economy has been transformed irrevocably.
But not everything, of course, has changed. The major decision-making institutions are still the same, with the same distribution of voting rights. IMF and World Bank are in the middle of their travails to find a new distribution of quotas. The collective voting power of China, India and Brazil is 20% less than that of Belgium, Netherlands and Italy, despite the fact that the joint GDP of the former countries is four times greater the size of their European counterparts; they have a population 29 times greater. Those are the reasons for this new economic Cold War.
How to manage those new realities in the economic realm, having as political leverages the same old structures of the decision-making process? That’s a tricky question, with no clear answer to the dilemma. To manage the world economy is a pretension that even the old G7 never reached to attain in its glorious days. Developed countries controlled then a big proportion of the world’s GDP, trade and financial flows. But they were never capable of coordinating their macroeconomic policies among themselves; never mind establishing rules and goals for the rest of the world.
Nowadays, with a painful free-fall in advanced economies, it is difficult to see what could be done to restore growth rates from their stagnating levels. Besides the cyclical problems affecting major economies, with the possible exception of China, India and a few other countries, we still have global challenges ahead, like poverty in less developed countries, decisions to be made regarding environmental matters, human rights violations in non-democratic countries, and many other relevant issues.
One single strategy would be the establishing of just one big goal for the world community: that has to be the promotion of global development, not exactly through assistance (the traditional Official Development Assistance), but primarily through real trade liberalization, especially in the farm sector, the only real possibility for the less-developed countries to become integrated into the world economy. The United States and European Union have a main responsibility in this domain.
It is highly unlikely that consensual proposals concerning global development could be arising from such a large body as the financial G20, too heterogeneous to be able to reach common positions. Perhaps, the best hope would be to have an evolution from the current G8 to a new G13. That means joining the leaders of the G8 together with five other big countries, namely Brazil, China, India, South Africa, and, either Indonesia or Mexico. Experience shows that small, informal bodies are more likely to deliver something meaningful than large institutionalized groups that get involved in bureaucratic foot-dragging and political entanglements.
New Prospects
What is to be done? The biggest problem in this approach of a G20-minus is acquiring the legitimacy that is involved in the act of speaking for the whole world community from the starting point of only 13 countries. To solve this quandary implies that the political leaders of these 13 countries would have to find a terrain of reciprocal confidence between them that has to be compatible with the representation at large they would be pretending to have from the whole community of nations.
Finding common grounds is a hard task to achieve. It will quite difficult to attain a perfect coordination of agendas between the big advanced and emerging countries and, together, among them and the international institutions. The world is simply not as globalized as required to attain this kind of interaction. Disparities of interests, differences of levels of development, imbalances between countries, many factors collude to render almost impossible this exercise of coordination.
A modest approach could be a more frequent interaction – once a year – between the leaders of the new G13. Sherpas of a special quality, meeting twice a year, could then be mobilized to discuss trade matters, environmental affairs, human rights protection, UN peace-keeping missions and the like, with specific mandates from their political leaders. But, don’t look at the UN for the organization of their agenda. It is difficult to implement anything through the UN, a too large and chaotic a body. Better to rely of the coordination of agendas of the three more important agencies for globalization: IMF, World Bank and WTO.
The main task of the “new sherpas” is to look for international economic coordination around relevant issues for the global community. A possible suggestion would be to try to establish a “global new deal”, exchanging extensive protection to investments and to proprietary riches (patents and the like), as well as other good microeconomic conditions for productive activity, from the side of developing countries (the recipients of FDI), against extensive licensing and effective investments and trade liberalization by rich countries and investors alike. This kind of deal, by extending property rights for the rich, could entail the strengthening of trade, financial and investment flows to the poor, giving a pretty little boost to globalization.
Traditional assistance for development, because it is ineffective, should be replaced, essentially, by a focus on educational improvements, that is, an extensive program for human resources qualification. Assistance as such should be limited to the implementation of a consistent program for eradicating most of infectious diseases in African countries and in some other developing countries. The main reason for the persistence of poverty in those countries is not the lack of resources, but the absence of governance and their non-integration into the world economy through trade links.
Assuming that the questions of democratic governance and human rights protection can be a conundrum for countries like China, or perhaps even Russia, the main target for the agenda of the new G13 could be the adoption of high standards for public governance in the technical meaning of this expression. It is a little too early to make democratic governance and respect for the human rights the decisive criteria for bilateral and-or multilateral cooperation. But these should be the ultimate goals of any kind of new global governance.
* Paulo Roberto de Almeida
Brazilian Diplomat, International Political Economy; Professor at University Center of Brasilia (Uniceub); (www.pralmeida.org)
[Shanghai, October 12, 2010]
Economic Cold War: Warnings of Currency Conflict
Paulo Roberto de Almeida
Economist Raghuram Rajan Warns of Currency Conflict
Der Spiegel, October 12, 2010
In a SPIEGEL interview, renowned Chicago-based economist Raghuram Rajan discusses the dangers of a global currency war, the risks of persistently low interest rates and the growing income and wealth inequality in the United States
http://www.spiegel.de/international/business/0,1518,722520,00.html#ref=nlint
Brasilianistas: uma lista de obras "classicas"
Fiz uma página especial para ele, neste link.
Também linkei a reportagem da revista VEJA sobre o livro, neste link.
Mas, o mais interessante (e eu havia completamente esquecido) é que eu tinha mandado para a Veja uma relação de obras importantes dos brasilianistas, que está linkada na matéria da Veja, mas não imediatamente disponível em minha página.
Creio que vale conferir (sabendo que é um levantemento de quase dez anos atrás):
http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/010502/brasilianismo.html
O Brasil dos Brasilianistas: um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000
Paulo Roberto de Almeida, Marshall C. Eakin e Rubens Antonio Barbosa (editores)
(São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002, ISBN: 85-219-0441-X)
Sumário:
Perfil dos autores
Apresentação: Os estudos brasileiros nos Estados Unidos: um projeto em desenvolvimento - Rubens Antonio Barbosa
1. Introdução: Uma certa idéia do Brasil: as afinidades eletivas dos brasilianistas - Marshall C. Eakin e Paulo Roberto de Almeida
Primeira Parte
Desenvolvimento geral dos estudos brasileiros nos Estados Unidos
2. Tendências e perspectivas dos estudos brasileiros nos Estados Unidos, 1945-2000 - Paulo Roberto de Almeida
3. Pesquisa: fontes e materiais de arquivos, instituições relevantes, abordagens - Robert M. Levine
4. Ensinando o Brasil: uma revisão dos programas sobre o Brasil nos Estados Unidos - Theodore R. Young
Segunda Parte
Pesquisa disciplinar e produção seletiva publicada, 1945-2000
5. Língua portuguesa e estudos brasileiros - Carmen Chaves Tesser
6. Literatura e cultura - K. David Jackson
7. Artes e Música - Jose Neistein
8. História - Judy Bieber
9. Antropologia - Janet Chernela
10. Economia - Werner Baer
11. Ciências Sociais - Marshall C. Eakin
12. Relações internacionais - Scott D. Tollefson
13. Geografia - Cyrus B. Dawsey III
14. Brasiliana nos Estados Unidos: referências e fontes documentais - Ann Hartness
Terceira Parte
Informação sobre a produção acadêmica brasilianista, 1945-2001
15. Uma cronologia das relações Brasil-EUA e da produção acadêmica, 1945-2001 - Paulo Roberto de Almeida
16. A contribuição britânica ao brasilianismo acadêmico - Leslie Bethell
17. Desenvolvimento comparado do estudo do Brasil nos Estados Unidos e na França - Edward A. Riedinger
18. Bibliografia seletiva - Paulo Roberto de Almeida
Apêndices:
Informação sobre outros colaboradores
AOS HISTORIADORES: Guia dos Arquivos Americanos sobre o Brasil
Guia dos Arquivos Americanos sobre o Brasil: Coleções documentais sobre o Brasil nos Estados Unidos
(Shanghai, 12 outubro 2010, 231 p.)
Revisão completa do trabalho n. 1125 (Washington, 28 set. 2003, 247 pp.), este, por sua vez, versão corrigida do trabalho n. 966 (Washington, 11 out. 2002, 226 p.), que tinha sido circulado entre especialistas e pesquisadores, em seminário de estudos brasileiros em Washington; longo processo de negociação com editoras interessadas em edição, agora a cargo da Funag-MRE. Em fase de revisão. Relação de originais n. 2200.
Transcrevo abaixo o Índice desse volume:
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS 13
APRESENTAÇÃO AO VOLUME 15
APRESENTAÇÃO GERAL DO PROJETO RESGATE 23
Esther Caldas Bertoletti, Biblioteca Nacional - IHGB
PREFÁCIO 29
Embaixador Rubens Antonio Barbosa
INTRODUÇÃO
Paulo Roberto de Almeida e Francisco Rogido Fins 31
1. NATIONAL ARCHIVES AND RECORDS ADMINISTRATION 51
1.1. Informações gerais 52
1.2. Principais Record Groups relacionados com o Brasil 56
1.2.1. RG 39 – Department of Treasury, Bureau of Accounts 56
1.2.2. RG 40 – Department of Commerce 56
1.2.3. RG 43 – International Conferences, Commissions and Expositions 56
1.2.4. RG 59 – Department of State 57
1.2.5. RG 63 – Committee on Public Information 57
1.2.6. RG 65 – Federal Bureau of Investigation 57
1.2.7. RG 84 – Foreign Service Posts of the Department of State 57
1.2.8. RG 90 – Public Health Service 58
1.2.9. RG 122 – Federal Trade Commission 58
1.2.10. RG 166 – Foreign Agricultural Service 58
1.2.11. RG 169 – Foreign Economic Administration 58
1.2.12. RG 229 – Office of Inter-American Affairs 58
1.2.13. RG 263 – Central Intelligence Agency 58
1.2.14. RG 275 – Export-Import Bank of the United States 59
1.2.15. RG 333 – International Military Agencies 59
1.3. Materiais referentes ao Brasil 59
1.3.1. Disponíveis no Brasil 59
1.3.2. Disponíveis nos EUA 61
2. BIBLIOTECAS PRESIDENCIAIS 65
Materiais históricos doados 66
Arquivos presidenciais 66
Materiais históricos presidenciais da Administração Nixon 67
2.1. Herbert Hoover Library 68
2.1.1. Informações gerais 68
2.1.2. Materiais referentes ao Brasil 69
2.2. Franklin D. Roosevelt Library 71
2.2.1. Informações gerais 71
2.2.2. Materiais referentes ao Brasil 73
2.3. Harry Truman Library 76
2.3.1. Informações gerais 76
2.3.2. Materiais referentes ao Brasil 77
2.4. Dwight D. Eisenhower Library 79
2.4.1. Informações gerais 79
2.4.2. Materiais referentes ao Brasil 80
2.5. John F. Kennedy Library 85
2.5.1. Informações gerais 85
2.5.2. Materiais referentes ao Brasil 85
2.6. Lyndon B. Johnson Library 89
2.6.1. Informações gerais 89
2.6.2. Materiais referentes ao Brasil 89
2.7. Nixon Presidential Materials Staff 97
2.7.1. Informações gerais 97
2.7.2. Materiais referentes ao Brasil 98
2.8. Gerald R. Ford Library and Museum 99
2.8.1. Informações gerais 99
2.8.2. Materiais referentes ao Brasil 100
2.9. Jimmy Carter Library 104
2.9.1. Informações gerais 104
2.9.2. Materiais referentes ao Brasil 105
2.10. Ronald Regan Library 107
2.10.1. Informações gerais 107
2.10.2. Materiais referentes ao Brasil 107
2.11. George Bush Library 112
2.11.1. Informações gerais 112
2.11.2. Materiais referentes ao Brasil 113
2.12. William J. Clinton Presidential Library and Museum 117
2.12.1. Informações gerais 117
2.12.2. Materiais referentes ao Brasil 118
2.13. George W. Bush Presidential Library 119
2.13.1. Informações gerais 119
2.13.2. Materiais referentes ao Brasil 119
3. OUTRAS BIBLIOTECAS E INSTITUIÇÕES 121
3.1. Library of Congress – Washington, DC 122
3.1.1. Informações gerais 123
3.1.2. Materiais referentes ao Brasil 124
3.2. Oliveira Lima Library – Washington, DC 133
3.2.1. Informações gerais 134
3.2.2. Materiais referentes ao Brasil 135
3.3. Benson Latin American Collection – Austin, TX 138
3.3.1. Informações gerais 139
3.3.2. Materiais referentes ao Brasil 139
3.4. John Carter Brown Library – Providence, RI 141
3.4.1. Informações gerais 141
3.4.2. Materiais referentes ao Brasil 142
3.5. Columbus Memorial Library – Washington, DC 145
3.5.1. Informações gerais 145
3.5.2. Materiais referentes ao Brasil 146
3.6. Yale University – New Haven, CT 147
3.6.1. Informações gerais 147
3.6.2. Materiais referentes ao Brasil 148
3.7. Howard-Tilton Memorial Library – New Orleans, LA 150
3.7.1. Informações gerais 150
3.7.2. Materiais referentes ao Brasil 151
3.8. Joseph Mark Lauinger Library – Washington, DC 152
3.8.1. Informações gerais 152
3.8.2. Materiais referentes ao Brasil 153
3.9. Newberry Library – Chicago, IL 154
3.9.1. Informações gerais 154
3.9.2. Materiais referentes ao Brasil 155
3.10. Smithsonian Institution – Washington, DC 156
3.10.1. Informações gerais 156
3.10.2. Materiais referentes ao Brasil 157
3.11. New York Public Library – New York, NY 166
3.11.1. Informações gerais 166
3.11.2. Materiais referentes ao Brasil 167
3.12. National Security Archive – Washington, DC 168
3.12.1. Informações gerais 168
3.12.2. Materiais referentes ao Brasil 169
3.13. Center for Research Libraries - Latin American Microform Project 170
3.13.1. Informações gerais 170
3.13.2. Materiais referentes ao Brasil 171
4. APÊNDICES 173
4.1. RG 59 – General Records of the Department of State 175
4.1.1. Microfilmes disponíveis no Brasil 175
4.1.2. Microfilmes disponíveis nos EUA 202
4.2. RG 263 – Central Intelligence Agency 210
4.3. Chefes de Missão dos Estados Unidos no Brasil, 1825-2010 216
4.4. Chefes de Missão do Brasil nos Estados Unidos, 1824-2010 218
4.5. Modelo de carta para recurso ao FOIA 220
4.6. Recursos para pesquisa online 221
4.7. Feriados nacionais nos Estados Unidos 222
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 223
NOTAS SOBRE OS ORGANIZADORES 229
Link para download desta versão para editoração, que poderá ser imediatamente consultado pelos Interessados.
Brasil: cooperacao ao desenvolvimento - Rubens Antonio Barbosa
RUBENS BARBOSA
O Estado de S.Paulo, 11 de outubro de 2010
Um dos aspectos da política externa que pouco têm merecido a atenção dos analistas e estudiosos é o da assistência técnica e financeira prestada pelo Brasil a dezenas de países, especialmente da África e da América Latina. Trata-se de um dos desdobramentos da política Sul-Sul desenvolvida nos últimos oito anos pelo governo brasileiro.
Sem chamar muito a atenção, e gradualmente aumentando seu soft power, o Brasil está se tornando um dos maiores doadores e prestadores de assistência técnica e financeira para os países de menor desenvolvimento relativo. Por meio de diversas formas de ajuda, o Brasil, somente em 2010, ter-se-ia comprometido com mais de US$ 4,5 bilhões.
Neste espaço pretendo examinar as motivações dessa ação governamental no exterior, o volume e as fontes dos recursos transferidos aos países mais pobres.
Reforçar a solidariedade com gestos políticos do Brasil no mundo é a explicação oferecida pelo Itamaraty. Na realidade, algumas das motivações que explicam a diplomacia da generosidade na América Latina e na África são a busca de prestígio para o Brasil e para o presidente Lula, o esforço para obter apoio para nossa pretensão de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e interesses comerciais de abertura de mercado para serviços de empresas brasileiras na competição com o governo e companhias, sobretudo, da China.
Como ocorre com a China, o Brasil não impõe condições aos países que recebem a ajuda, mas também não leva em consideração valores que defendemos internamente, como democracia e direitos humanos, deixando prevalecer a ideia de que "negócios são negócios".
Segundo informações coligidas recentemente pela revista britânica The Economist, os recursos utilizados nessa ação externa sobem a US$ 1,2 bilhão, superando o Canadá e a Suécia, tradicionais doadores e prestadores de ajudas aos países em desenvolvimento. Os recursos são oriundos da Agência Brasileira de Cooperação do Itamaraty, com cerca de US$ 52 milhões. De outras instituições de cooperação técnica, como Embrapa e Conab, saem US$ 440 milhões; para ajuda humanitária a países afetados por desastres naturais, US$ 30 milhões; recursos para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), US$ 25 milhões; para o programa de alimentação da FAO, US$ 300 milhões; de ajuda para a Faixa de Gaza, US$ 10 milhões; e para o Haiti, US$ 350 milhões. Implantamos escritório de pesquisas agrícolas em Gana, fazenda-modelo de algodão no Mali, fábrica de medicamentos antirretrovirais em Moçambique e centros de formação profissional em cinco países africanos.
Os empréstimos do BNDES e agora do Banco do Brasil aos países em desenvolvimento, de 2008 ao primeiro trimestre de 2010, subiram a mais de US$ 3,5 bilhões, em projetos na América do Sul, no Haiti, na Guiné-Bissau, em Cabo Verde, na Palestina, no Camboja, no Burundi, Laos e em Serra Leoa.
O Tesouro Nacional, por sua vez, aumentou sua exposição com o incremento da contribuição do Brasil à Corporação Andina de Fomento para US$ 300 milhões e ao Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul, que sobe hoje a US$ 470 milhões, acrescido de US$ 100 milhões por ano, 70% representados por contribuições do Brasil.
Por outro lado, além de créditos de difícil recuperação concedidos a alguns países africanos, a Cuba e à Venezuela, o governo brasileiro, nos últimos anos, perdoou dívidas do Congo, de Angola, Moçambique, Bolívia, Equador, Paraguai, Suriname e, agora, Tanzânia.
Até dezembro, coincidindo com o final do atual governo, segundo se noticia, o governo brasileiro vai doar US$ 300 milhões em alimentos (milho, feijão, arroz, leite em pó) a, entre outros, Sudão, Somália, Níger e nações africanas de língua portuguesa. Serão igualmente beneficiados a Faixa de Gaza, El Salvador, Haiti, Cuba. Segundo a Coordenação-Geral de Ações Internacionais de Combate à Fome do governo federal, também receberam ajuda brasileira África do Sul, Jamaica, Armênia, Mali, El Salvador, Quirguistão, Saara Ocidental, Mongólia, Iraque e Sri Lanka.
Pensando mais em considerações de política externa e menos nos interesses de alguns setores industriais afetados pela competição chinesa, pelo custo Brasil e pelo câmbio apreciado, o Itamaraty, na área comercial, procura ajudar os países mais pobres pela iniciativa de abrir o mercado brasileiro para produtos desses países com tarifa zero e sem cota. O setor têxtil, por exemplo, seria seriamente atingido pelas importações de Bangladesh, que exporta para o mundo mais de US$ 70 bilhões. Na mesma linha de abertura de mercados para os países em desenvolvimento, o Itamaraty está negociando a ampliação e o aprofundamento do Sistema Geral de Preferências Comerciais (SGPC), que, menos radical que o programa unilateral anterior, oferece rebaixas tarifárias com cotas para os países mais pobres.
No tocante à assistência técnica e à abertura de créditos para obras públicas em países africanos e sul-americanos, a exemplo do que ocorre com os países desenvolvidos, as empresas brasileiras poderão vir a se beneficiar, ganhando concorrências para a prestação de serviços e exportando produtos brasileiros.
A generosidade externa é, pelo menos, controvertida. Enquanto a taxa de investimento interno é baixa, ao redor de 17%, o perdão dessas dívidas não está de acordo com a legislação brasileira. Sendo duvidosa a viabilidade de recuperação dos empréstimos do BNDES, não seriam esses recursos mais bem aplicados em programas de infraestrutura, de habitação, de energia, de alimentos e de tantos outros setores carentes de recursos?
A discussão sobre a prioridade do governo brasileiro nessa área fica para um próximo artigo neste espaço.
PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP
Pausa para a piada... do brasileiro... em Portugal
Enquanto isso, em Portugal...
Em Lisboa, um português pergunta ao conterrâneo :
- Sabes a última do brasileiro?
- Não.
- Para votar vale qualquer documento, exceto o Título de Eleitor.
Complementando: para tirar qualquer outro documento: passaporte, entre outros, é obrigatório o titulo de eleitor. Menos para votar...
É, acho que os portugueses têm razão de darem risadas da gente...
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Educacao: um comeco de diagnostico, possiveis solucoes - Claudio Moura Castro
Paulo Roberto de Almeida
Entrevista
Educação é ensinar a pensar
Cláudio de Moura Castro economista e especialista em educação, 72
Jornal O TEMPO, 10/10/2010
Conselheiro de Ciência e Tecnologia da Presidência da República, além de membro de órgãos consultivos de instituições como Inhotim, CNI e Fiesp, esse carioca criado em Minas Gerais é crítico mordaz do sistema educacional brasileiro, além de frasista da melhor qualidade. Para Cláudio, o grande gargalo da educação brasileira é a chatice - matérias que nada têm a ver com o aluno - e, por isso, uma reforma é urgente.
Temos hoje no Brasil alguns cientistas reconhecidos internacionalmente. São casos isolados ou bons frutos do sistema educacional brasileiro? Veja bem, o caso brasileiro é parecido com a Índia, onde a taxa de analfabetismo é da ordem de um terço da população, e os que estão frequentando escolas estão em instituições tão ruins ou piores do que as brasileiras. Não obstante, a Índia tem sete institutos federais de tecnologia que são padrão de grandes universidades e recrutam dentro do bilhão de habitantes. Cria-se um filtro dentro do filtro e acaba com gente extremamente competente e dedicada. A comparação é válida porque mostra que se pode ter um sistema educacional muito ruim e bons doutores. Essa solução não é boa, nem no Brasil, nem na Índia. Bom seria que partisse de uma base muito maior. Veja a Suíça, que tem uma grande produção de prêmios Nobel com uma população de 7 milhões.
Por que o sistema brasileiro é ruim? Porque começamos com vários séculos de atraso. Em 1450, apenas 15% da população da Europa era alfabetizada. Em 1.500, com Guttemberg, passou para 30%. Em 1900, 15% da população de Portugal era alfabetizada - estava no nível da Europa pré-imprensa -, e nós herdamos esse sistema educacional. No Brasil de 1900, 10% da população era alfabetizada. Há 50 anos, as estatísticas educacionais brasileiras eram bem pior do que as do Paraguai, Bolívia, Equador, para não falar da Colômbia. Começamos atrás desses países, já os passamos e estamos nos aproximando de Argentina, Uruguai e Chile, que são os melhores na América Latina.
Qual a razão dessa - comparativamente - rápida alfabetização por aqui? A economia brasileira cresceu mais em termos de PIB bruto do que qualquer país no mundo entre 1870 e 1980. A melhoria da educação do Brasil é fruto dessa demanda do setor produtivo que precisa de gente mais competente. Muito mais do que um voluntarismo de um setor público iluminado como houve por exemplo na França.
O que é necessário para melhorar a educação no país? Pesquisa recente mostrou que 70% dos pais estão satisfeitos com a escola no Brasil. Ou seja, não estão dispostos a brigar por uma escola melhor, e os políticos não vão brigar por isso porque não têm o apoio da sociedade. Esse é o maior entrave: a falta de percepção de que não basta ir para a escola e passar um monte de anos como hoje, pois o aluno não aprende.
O currículo escolar brasileiro é ruim em relação ao de outros países? De uma maneira geral, a estrutura é muito parecida. Em todos os lugares tem direito, medicina, engenharia etc. Há um primeiro e segundo graus que têm a mesma cara. O grande problema é que tentamos ensinar mais do que aluno dá conta de aprender. Os currículos são frondosos, exagerados. Em Cingapura, um livro de matemática da quarta série tem oito tópicos. O livro brasileiro tem 56. Cingapura está lá em cima no índice Pisa da OECD (Programa para Avaliação Internacional de Alunos, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, nas siglas em inglês). Isso mostra que o brasileiro vai ouvir falar dos 56 tópicos e não vai aprender nenhum.
Mas, nas últimas reformas curriculares, aumentou-se esse currículo, com aulas de cultura negra, filosofia, sociologia, línguas. Estamos no caminho errado? Cada vez mais se torna mais remota a possibilidade de se aprender realmente. Quando se ensina assunto demais, o aluno aprende de menos (sic). Educação não é entupir o aluno com datas, lugares e eventos. Educação é ensinar a pensar, e isso se consegue com foco, tempo para praticar estilos de pensamento e se exercitar isso, o que não é possível com a avalanche curricular que temos, sobretudo no ensino médio, que é um desastre monumental.
Qual seria a alternativa? Reduzir o número de matérias, e a maneira de fazer isso é criar um currículo mínimo. Todos têm de fazer ciência, história, matemática português e deixar que as escolas completem o currículo com coisas que são de interesse e estão ao alcance dos alunos. Deveríamos eliminar a ideia de um currículo único para todos.
O grande gargalo na educação brasileira ainda é a seleção para o curso superior? Não. O grande gargalo chama-se chatice, no ensino médio, que é supremamente aborrecido, saturado de matérias desinteressantes. São matérias distantes do mundo do aluno e impossíveis de serem apreendidas. Os alunos estão saindo no meio e a deserção do ensino médio é alarmante, um terço apenas termina. A taxa de aproveitamento do médio para o superior no Brasil é das maiores do mundo - cerca de 80% daqueles que se formam no colégio vão para a faculdade. As escolas particulares têm mais vagas do que alunos. Hoje, o que não tem é aluno para o ensino superior.
O Enem melhorou o ensino brasileiro? Não tivemos tempo para saber se o novo Enem cumpre o que prometeu. Tivemos uma aplicação extremamente conturbada e não temos uma avaliação da prova. E o Enem foi mudado há um ano, pois antes era uma prova só de raciocínio e precisou de um pouco mais de currículo escolar para servir como vestibular. A ideia é perfeita, mas, se a dose curricular foi exagerada, eu não posso dizer e não há consenso hoje.
Sobre educação infantil, como lidar com a chamada geração Y, que chega à escola sabendo computação e por vezes tem mais informação do que o professor sobre determinado assunto? Se informação fosse educação, é esse o aluno que deveria dar aula para o professor. Mas educação é saber usar o conhecimento. É fazer sentido desse colosso de informação que está aí. Isso o aluno não sabe. O que o professor tem de fazer é botar o aluno para pensar disciplinadamente, usando problemas do nosso cotidiano.
Como o professor pode colocar limite nessas crianças? Ele deve oferecer um ensino relevante e não ser envergonhado em relação à disciplina. Hoje o professor tem vergonha de mandar no aluno. A escola tem vergonha de disciplinar. Essa confusão entre autoridade e autoritarismo faz com que as coisas se precipitem, até que o professor tem de usar sua autoridade para que a casa não venha abaixo, mas aí já está em um conflito.
Seria a volta da palmatória? Irrelevante, não estou pregando isso. Estou pregando que o professor tem de aceitar exercer a autoridade sobre o aluno desde o primeiro dia de aula e não achar que autoridade é autoritarismo. Uma pesquisa com os dez melhores alunos do Enem mostrou que todos vieram de escolas com disciplina muito forte e rígida. Essas são as pessoas que estão indo para as melhores universidades e tendo melhor desempenho.
Se o professor ganhar melhores salários, a educação no país melhora? Impacto zero. Se pegar os 27 Estados brasileiros e botar salários de um lado e desempenho do outro, seja Ideb ou Prova Brasil, a correlação é zero. Não há nenhuma associação entre o nível de salário dos professores e o desempenho do Estado.
O professor brasileiro é bem formado? Esse é o desastre. Se tivesse de mexer em alguma coisa seria na formação do professor, porque as faculdades de educação, públicas e privadas, têm uma reputação muito ruim e recrutam os alunos mais fracos, na média. Depois, essas faculdades viraram redutos ideológicos, e as pessoas ficam estudando luta de classe ou então teorias pedagógicas muito rarefeitas e complicadas. O que eles fazem é aprender as palavras, mas não aprendem nem o conteúdo nem a dar aula
Saude: um sistema perfeito de atendimento - segundo o presidente
Empresa sem o dono
FERREIRA GULLAR
Folha de S.Paulo, 10.10.2010
Há um desinteresse da parte das autoridades de saúde e dos médicos por cumprir suas obrigações
EDMILSON É um cidadão carioca que vive com dificuldade, ganhando pouco, tendo que sustentar um filho inválido de 12 anos que não fica em pé e nem mesmo consegue sentar-se. Haja força para levá-lo ao banheiro, banhá-lo e vesti-lo.
Edmilson, de poucos músculos e fumante inveterado (deixou de fumar faz pouco), não goza de boa saúde, de modo que, frequentemente, procura médico em algum hospital público e nada consegue, claro.
Faz alguns meses, sentindo dificuldade de respirar, uma dor no peito, decidiu ir a um hospital público relativamente próximo de sua casa, que fica em Anchieta, zona oeste do Rio. Entrou na fila às oito da manhã, recebeu um número e esperou pacientemente até ser chamado.
Isso ocorreu às três da tarde, ou seja sete horas depois. Informaram-lhe de que não podia ser atendido porque o médico cardiologista estava de férias. Voltou para casa assustado, certo de que sofreria um infarto a qualquer momento.
Ao tomar conhecimento disso, perguntei-me se o serviço público de saúde está entregue a sádicos que têm prazer de torturar o paciente. Do contrário, por que deixá-lo na fila de espera durante horas e horas, sabendo que não há médico para atendê-lo? Isso, de um lado; de outro, como pode o cardiologista de um hospital público entrar de férias sem que se providencie outro médico para substituí-lo?
Pois bem, isso foi há muitos meses, mas, agora, há pouco mais de uma semana, Edmilson, sentindo dor num dos ouvidos, foi aconselhado a buscar um serviço médico de emergência porque poderia ter contraído uma infecção ou até mesmo estar com um tumor no ouvido.
A opção pelo serviço de emergência veio porque, se fosse a um hospital público normal, dificilmente seria atendido, como já se viu. E o caso era urgente.
Saiu de casa bem cedo para não ter que esperar o dia todo e, de fato, não esperou muito; aliás, não esperou nada, pois logo soube que ali, naquela emergência, não havia médico otorrino. "E a senhora pode me dizer em que emergência há médico otorrino?", perguntou à funcionária, que lhe disse desconhecer alguma emergência com esse tipo de médico. E Edmilson voltou mais uma vez para casa sem ser atendido pelo serviço médico do Estado que sustentamos com nossos impostos. E o que vai ser dele, tendo um enfisema no pulmão e um tumor no ouvido?
Edmilson é apenas um entre milhões de brasileiros que não têm atendimento médico, embora, agora mesmo, durante a campanha eleitoral, os políticos tenham dito que o Brasil tenha um dos melhores serviços de saúde pública do mundo. É muita cara de pau!
Claro que eles mesmos não acreditam nisso e não desejam tomar conhecimento do que efetivamente ocorre nessa área. Há, sem dúvida, carência de meios para atender à demanda de cem milhões de pessoas ou mais.
Não é fácil dar atendimento satisfatório a tanta gente, mas o que se observa é que, afora a carência de meios, há também um desinteresse da parte das autoridades de saúde e dos médicos mesmo por cumprir suas obrigações, o que se traduz em ausência de espírito público.
O chefe, em vez de exigir dos servidores o cumprimento de suas tarefas, dá mole, faz vista grossa para suas faltas e sua displicência.
Isso ocorre no serviço público de modo geral e também, claro, na área da saúde, em que assume maior gravidade. Fazer cumprir as normas, ao que tudo indica, é visto hoje como uma atitude autoritária e o que impera é o espírito de camaradagem, que termina por anular a autoridade dos que têm por função gerir a coisa pública.
Soube recentemente do caso de um médico que, nas noites de plantão, tranca-se num dos quartos do hospital e dorme a sono solto, morra quem morrer.
Não admite ser acordado, já que a noite foi feita para dormir. E fica por isso mesmo, já que pega mal denunciar um colega...
Isso ocorre por muitas razões e talvez a principal delas seja mesmo o fato de que o serviço público é uma empresa, cujo dono, o povo, está ausente e os que estão ali para representá-lo, os diretores e chefes de serviço, ou não têm consciência disso ou, como os demais, aproveitam a ausência do dono para usá-lo em função de seu próprio interesse. É a casa da mãe joana.
Contra a desonestidade intelectual, simples verdades - a origem do Bolsa Familia
Não existe coisa pela qual eu tenha maior desprezo do que a desonestidade intelectual, apesar de que o uso do adjetivo "intelectual" seja altamente desaconselhado no caso de certas pessoas.
Não tenho opções, nem paixões políticas. Tenho, sim, opiniões e posições políticas, não em torno de pessoas ou partidos, mas em função das melhores políticas públicas a favor do desenvolvimento do Brasil e da prosperidade de seu povo.
Por isso mesmo considero especialmente desonesto (ponto) essa apropriação indébita de políticas passadas como se fossem suas; considero totalmente condenável a mentira a serviço próprio.
Não vou debater com ninguém, vou apenas postar aqui o que deve ser postado:
LEI No 10.836, DE 9 DE JANEIRO DE 2004.
Art. 1º. Fica criado, no âmbito da Presidência da República, o Programa Bolsa Família, destinado às ações de transferência de renda com condicionalidades.
Parágrafo único. O Programa de que trata o caput tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do Governo Federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação - Bolsa Escola, instituído pela Lei nº 10.219, de 11 de abril de 2001, do Programa Nacional de Acesso à Alimentação - PNAA, criado pela Lei n o 10.689, de 13 de junho de 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima vinculada à Saúde - Bolsa Alimentação, instituído pela Medida Provisória n o 2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás, instituído pelo Decreto nº 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e do Cadastramento Único do Governo Federal.
Nada é tão desmistificador quanto a verdade...
Paulo Roberto de Almeida
Venezuela: exchange The Guardian vs Venezuela Ambassador to UK
Essa capacidade de ocupar espaços no jornalismo informativo e analítico talvez se deva às boas qualidades das políticas mudancistas do socialismo do século 21, como gostariam de acreditar os chavistas e outros aderentes (inclusive no Brasil) à revolução do coronel de Caracas.
Muitos outros acreditam que é mais em função do desmantelamento das instituições do Estado e da lenta agonia da economia venezuelana.
De fato, olhando-se objetivamente a situação da Venezuela não se pode recusar a evidência prima facie de que a tensão política aumentou enormemente naquele país, com uma linguagem divisionista e vitriólica que não ajuda à paz social.
Por outro lado, olhando-se objetivamente a economia não se pode recusar o fato de que a inflação atingiu níveis inéditos no plano internacional, o diferencial entre câmbio oficial e paralelo se encontra em níveis estratosféricos (mais de três vezes a cotação oficial) e o desabastecimento e a fuga de capitais são evidentes.
Esse é o contexto da resposta a recente editorial do The Guardian -- um jornal normalmente simpático às causas ditas "progressistas" -- e o Embaixador da Venezuela junto ao Reino Unido.
Seguem as duas peças abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Venezuela: the price of victory
Editorial - The Guardian
Tuesday 28 September 2010
Demonising critics as traitors will not turn around an economy which is in deep trouble. Hugo Chávez needs to listen to his critics as well
In the end, Hugo Chávez did not find himself addressing a jubilant crowd from the balcony of the presidential palace, Miraflores, but tweeted his victory instead. It was still a performance that any leader who had been 12 years in power would have been happy to achieve, for his United Socialist party won at least 90 of the national assembly's 165 seats. But his supporters were subdued.
The share-out of seats to the ruling party will doubtless be put down to changes in electoral law earlier this year that favoured sparsely populated rural seats where the opposition are weaker. But this would leave the overall share of vote unaffected. If it turns out that the opposition won, as they claimed 52%, or a majority of the vote, or even if they came close to getting half of the vote, then Chávez's election slogan that the people hold power becomes a harder stretch of the imagination. We the people and we in the party become two different things. For a populist leader to lose a crushing majority is more of a blow than the fact that the opposition have secured one third of the seats (although this allows it to block critical legislation and the appointment of supreme court justices). If the criticism of Chávez is that he has hollowed out the institutions of state by packing them with friends and family, then he will be less in a position to do this now.
Chávez's revolution undoubtedly reflects the will of some of his people. He remains a powerful champion of the poor and the dispossessed, and the idea to import 30,000 Cuban health specialists into the country to bring free healthcare to millions and to train Venezuelan health workers who would replace them was a worthy one. The execution of the plan now in its eighth year has fallen somewhat short of the ideal. Community centres have closed; some of the Cubans have left; not enough Venezuelan health workers have been trained to replace them, and the hospitals are in dire straits. Chávez's reforms are undermined not so much by ideological opponents, although they exist, but by the inefficiency and waste with which they are carried out. Public services have got worse and crime is at an all-time high. An economy buoyed by high oil prices is in its second year of recession and inflation is running around 30%.
Chávez faces a polarised electorate. Even though he has been democratically confirmed time and again, he faces a bigger task as he heads towards a presidential election in 2012. This result shows that a large number of his supporters stayed away. Demonising critics as traitors to the national political movement will not turn around an economy which is in deep trouble. He needs to listen to his critics as well.
==============
Artículo de embajador venezolano Samuel Moncada dirigido a diario británico The Guardian
Luego de varias solicitudes de derecho a replica, el diario finalmente se negó a publicar articulo del Embajador
Cuando se analiza la democracia venezolana, ¿se deben usar criterios aplicables a países desarrollados? ¿O se debe pensar que es un caso típico de tercermundismo?
Esta pregunta es central para entender su editorial de fecha 28-09-10** sobre las elecciones en Venezuela del pasado domingo 26 de septiembre. En primer lugar, señalemos sus errores factuales: 1) el partido de gobierno no ganó 90 de 165 curules, como usted señala, sino 98 de 165 curules, y 2) la oposición no obtuvo, como usted se hace eco, el 52% del voto popular, sino el 47.4%.
De lo anterior se desprende que la mayoría parlamentaria se corresponde con la mayoría del voto popular, y este hecho no es más que una expresión democrática.
De modo que usted está equivocado cuando dice que “el lema electoral de Chávez de que el pueblo tiene el poder viene a ser un fuerte estiramiento de la imaginación”. Aun más, también se derrumba su afirmación de que la revolución de Chávez refleja la voluntad de “algunos de su pueblo” y no de la mayoría. Todo por creer la propaganda de la oposición política en Venezuela.
Del mismo modo, usted afirma que “el gobierno de Chávez ha vaciado las instituciones del Estado para llenarlas de amigos y familiares”. Si esto es cierto, ¿cómo es posible que una autoridad electoral llena de amigos del presidente, como usted afirma, realizó una elección perfectamente transparente? Todas las críticas contra los resultados electorales anteriores en Venezuela desaparecen cuando se cree que en esta oportunidad la oposición ganó las elecciones.
Usted dice que el gobierno, manejado por los amigos de Chávez, cambió la ley electoral para sobre representar en la Asamblea Nacional al gobierno, lo cual implica algún tipo de trampa tercermundista. En las elecciones del domingo en Venezuela, el gobierno obtuvo el 48,4% del voto popular y obtuvo 59,39% de los curules de la Asamblea Nacional. Sin embargo, en las elecciones parlamentarias del Reino Unido de 1997, el partido que ganó sacó 43% del voto popular y obtuvo 63% de los curules del Parlamento. ¿Hay trampa tercermundista en el Reino Unido?
Usted califica a Chávez de “líder populista” y nunca lo llama democrático, pero ésta es la elección número 15 en los últimos 11 años. ¿Cuándo será democrático en lugar de populista?
Usted dice que para Chávez “es un golpe que la oposición haya asegurado un tercio de los asientos más que haber perdido una mayoría aplastante”. Sin embargo, hasta el año 2005, el Presidente gobernó con una oposición que tenía 80 curules en la Asamblea Nacional. ¿Por qué hoy tiene que ser un “golpe” gobernar con una oposición que tiene apenas 65 curules en la Asamblea Nacional?
Usted afirma que Chávez ha perdido votos porque los trabajadores cubanos de la salud abandonaron sus puestos y los venezolanos no han sido capaces de reemplazarlos. Le informo que no son trabajadores de salud, sino doctores en medicina, con formación universitaria de seis años quienes atienden a los sectores más necesitados de la sociedad. Por esa razón, no se pueden sustituir a 30 mil doctores en un período de seis años, pero también le informo que existe un programa especial de formación médica comunitaria de donde han egresado 468 doctores, actualmente cursan estudios 24.962 ciudadanos y el próximo año se graduarán 8.581. Por tanto, el programa de medicina popular en Venezuela goza de buena salud.
En Venezuela hay problemas, pero los votantes no son masoquistas. Ellos votaron por un gobierno que redujo la pobreza de 49% en 1998 a 24,2% en 2009. Pero sobre todo, tuvieron la oportunidad de decidir en libertad entre el cambio social progresista y el neoliberalismo que quita los beneficios sociales a las mayorías.
Yo creo que los venezolanos eligieron correctamente. ¿Y usted qué criterios usará para juzgarnos?
Samuel Moncada, Embajador de la República Bolivariana de Venezuela ante el Reino Unido de Gran Bretaña e Irlanda del Norte / 11 de octubre de 2010
Contra a desonestidade intelectual, simples verdades - Pedro Malan
Mas existe um outro tipo de mentira que é especialmente viciosa e ultrajante: é aquela mentira deliberada, feita para enganar o eleitorado, distorcer os fatos reais e construir um sistema político baseado na divisão entre "nós" e "eles", entre os pobres e os ricos, entre os negros e os outros, enfim, entre os que se acham os únicos detentores naturais da verdade, da justiça e da igualdade e os demais, que acham que se pode construir um país sem esses maniqueísmos deletérios e esse sectarismo imbecil.
Abaixo um artigo que restabelece a verdade dos fatos.
Só posso dizer que lamento que um artigo desses tenha de ser escrito, pois afinal de contas, em lugar de um debate sobre políticas públicas, estamos tendo simplesmente acusações irresponsáveis e necessidade de respostas retificadoras do outro.
Pena que o ex-ministro Pedro Malan tenha de defender seu capital de realizações contra um celerado da política.
Mas esse é o Brasil.
Paulo Roberto de Almeida
Diálogo de surdos?
Pedro S. Malan
O Estado de S.Paulo, 10 de outubro de 2010
O presidente Lula, com uma arrogância por vezes excessiva, tentou transformar em plebiscito o primeiro turno desta eleição. Como se o que estivesse em jogo fosse seu próprio terceiro mandato (ainda que por interposta pessoa), um referendo sobre seu nome, uma apoteose que consagraria seu personalismo, seu governo e sua capacidade de transferir votos. Mas cerca de 52% dos eleitores votaram em José Serra e Marina Silva, negando a Lula a tão esperada vitória plebiscitária no domingo passado.
Não é de hoje o desejo presidencial: "Lula quer uma campanha de comparação entre governos, um duelo com o tucano da vez. Se o PSDB quiser o mesmo... ganharão os eleitores e a cultura política do País." Assim escreveu Tereza Cruvinel, sempre muito bem informada sobre assuntos da seara petista, em sua coluna de janeiro de 2006. Não acredito que a "cultura política" do País e seus eleitores tenham muito a ganhar - ao contrário - com essa obsessão por concentrar o debate eleitoral de 2010 numa batalha de marqueteiros e militantes.
Afinal, na vida de qualquer país há processos que se desdobram no tempo, complexas interações de continuidade, mudança e consolidação de avanços alcançados. O Brasil não é exceção a essa regra. Como escreveu Marcos Lisboa, um dos mais brilhantes economistas de sua geração: "Não se deve medir um governo ou uma gestão pelos resultados obtidos durante sua ocorrência e, sim, por seus impactos no longo prazo, pelos resultados que são verificados nos anos que se seguem ao seu término. Instituições importam e os impactos decorrentes da forma como são geridas ou alteradas se manifestam progressivamente..."
Ao que parece, Lula e o núcleo duro à sua volta discordam e estão resolvidos a insistir numa plebiscitária e maniqueísta "comparação com o governo anterior". Feita por vezes, a meu ver, com desfaçatez e hipocrisia. Um discurso primário que, no fundo, procura transmitir uma ideia básica (e equivocada) ao eleitor menos informado: o que de bom está acontecendo no País - e há muita coisa - se deve a Lula e ao seu governo; o que há de mau ou por fazer - e há muita, muita coisa por fazer - representa uma herança do período pré-2003, que ainda não pôde ser resolvida porque, afinal de contas, apenas em oito anos de lulo-petismo não seria mesmo possível consertar todos os erros acumulados por "outros" governantes ao longo do período pré-2003.
Mas talvez seja possível, por meio do debate público informado, ter alguns limites para a desfaçatez e a mentira. Exemplo desta última: a sórdida, leviana e irresponsável acusação de que "o governo anterior" pretendia privatizar a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, entre outros. Algo que nunca, jamais, esteve em séria consideração. Mas a mentira, milhares de vezes repetida, teve efeito eleitoral na disputa pelo segundo turno em 2006 - por falta de resposta política à altura: antes, durante e depois.
Exemplos de desfaçatez: o governo Lula não "recebeu o País com a inflação e o câmbio fugindo do controle", como já li, responsabilizando-se o governo anterior. A inflação estava sob controle desde que o Real foi lançado no governo Itamar Franco, com Fernando Henrique Cardoso na Fazenda, e se aumentou para 12,5% em 2002 foi porque o câmbio disparou, expressando receios quanto ao futuro. Receios não sem fundamento, à luz da herança que o PT havia construído para si próprio, até o começo de sua gradual desconstrução, apenas a partir de meados de 2002. O PT tinha e tem suas heranças.
O governo Lula não teve de resolver problemas graves de liquidez e solvência de parte do setor bancário brasileiro, público e privado. Resolvidos na segunda metade dos anos 90 pelo governo FHC. Ao contrário, o PT opôs-se, e veementemente, ao Proer e ao Proes e perseguiu seus responsáveis por anos no Congresso e na Justiça. Mas o governo Lula herdou um sistema financeiro sólido que não teve problemas na crise recente, como ajudou o País a rapidamente superá-la. Suprema ironia ver, na televisão, Lula oferecer a "nossa tecnologia do Proer" ao companheiro Bush em 2008.
O governo Lula não teve de reestruturar as dívidas de 25 de nossos 27 Estados e de cerca de 180 municípios que estavam, muitos, pré-insolventes, incapazes de arcar com seus compromissos com a União. Todos estão solventes há mais de 13 anos, uma herança que, juntamente com a Lei de Responsabilidade Fiscal, de maio de 2000 - antes, sim, do lulo-petismo, que a ela se opôs -, nada tem de maldita, muito pelo contrário, como sabem as pessoas de boa-fé.
As pessoas que têm memória e honestidade intelectual também sabem que as transferências diretas de renda à população mais pobre não começaram com Lula - que se manifestou contra elas em discurso feito já como presidente em abril de 2003. O governo Lula abandonou sua ideia original de distribuir cupons de alimentação e adotou, consolidou e ampliou - mérito seu - os projetos já existentes. O que Lula reconheceu no parágrafo de abertura (caput) da medida provisória que editou em setembro de 2003, consolidando os programas herdados do governo anterior.
Outros exemplos. Sobre salário mínimo: não é verdade que tenha começado a ter aumento real no governo Lula, como quer a propaganda. Sobre privatização: o discurso ideológico simplesmente ignora os resultados para o conjunto da população - e, indiretamente, para o atual governo.
O monólogo do "nunca antes" não ajuda o diálogo do País consigo mesmo. O ilustre ex-ministro Delfim Netto bem que tentou: "A eleição de 2010 não pode se fazer em torno das pobres alternativas de ou voltar ao passado ou dar continuidade a Lula. A discussão precisa incorporar os horizontes do século 21 e a superação dos problemas que certamente restarão de seu governo."
ECONOMISTA, FOI MINISTRO DA FAZENDA NO GOVERNO FHC
O Brasil e Premio Nobel da Paz 2010: comentarios de jornalistas
Um silêncio covarde
Clóvis Rossi
Folha de S. Paulo, 09/102010
Brasil se cala novamente a respeito da proteção dos direitos humanos, agora no Prêmio Nobel da Paz
QUE ENSURDECEDOR - e triste - silêncio do governo brasileiro em relação à concessão do Nobel da Paz ao dissidente chinês Liu Xiaobo.
Nem precisava manifestar "grande alegria", tal como o fez, no ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se referir a idêntico prêmio para seu colega Barack Obama.
O Itamaraty alega que chefe de Estado premiado é uma coisa, dissidente é outra. É claro que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, mas parece-me muito mais digno manifestar alegria pela premiação de quem luta pelos direitos humanos do que pela do presidente de um país que estava -e continua- envolvido em duas guerras.
Para tornar ainda mais moral e eticamente inaceitável o silêncio, há o fato de que, na mensagem a Obama, Lula mencionara Martin Luther King e "sua luta pelos direitos civis". Ora, Liu também luta pelos direitos civis. Não merece idêntico respeito?
Convém lembrar também que o governo estaria obrigado até constitucionalmente a manifestar-se, posto que o artigo 4 da Constituição cita a "prevalência dos direitos humanos" entre os princípios a serem utilizados pelo Brasil em suas relações internacionais.
De que tem medo o governo Lula quando se trata de violações aos direitos humanos que envolvem ditaduras?
Os Estados Unidos mantêm com os chineses relações intensas, obtiveram deles até a aprovação das sanções ao Irã, gesto a que o Brasil se recusou.
Ainda assim, na mensagem que emitiu a propósito do Nobel para Liu, Obama ousou pedir ao governo chinês que "solte o sr. Liu o mais depressa possível".
Já o Brasil pediu ao Irã que libertasse a francesa Clotilde Reiss e, mais recentemente, uma americana, até por pedido do Departamento de Estado. Nem por isso, o Irã rompeu relações com o Brasil. Que custo teria já nem digo pedir a libertação de Liu mas, ao menos, soltar uma nota parabenizando-o?
Depois, as autoridades brasileiras resmungam quando o país é criticado por seu silêncio na questão de direitos humanos ou, pior ainda, por dar, mais de uma vez, a impressão de que apoia a repressão aos dissidentes no Irã ou em Cuba.
Crítica, de resto, feita até por acadêmicos que, no conjunto da obra, aplaudem a atuação da diplomacia brasileira.
Direitos humanos, convém repetir até a morte, não é uma questão interna de cada país. É universal.
Como pode um governo que paga indenizações a vítimas de uma ditadura - como, de resto, é justo que o faça- silenciar ante vítimas de outras ditaduras?
Apenas em nome dos negócios com a China? Não é eticamente aceitável, mas, ainda que o fosse, convém anotar cálculos de Kevin P. Gallagher, professor associado de Relações Internacionais da Boston University: para ele, 30% das exportações brasileiras de manufaturados estão sob ameaça direta da produção chinesa, pelo avanço desta nos mercados da América Latina e do Caribe, e mais 54% sob ameaça indireta, que é quando a fatia de mercado da produção latino-americana aumenta a um ritmo inferior ao da China.
==========
Brasília silencia; Garcia "torcia por Morales"
SIMONE IGLESIAS - DE BRASÍLIA
Folha de S. Paulo, 9/10/2010
O Itamaraty e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva silenciaram ontem sobre a escolha do dissidente chinês Liu Xiaobo para o Prêmio Nobel da Paz.
Até o fechamento desta edição, nenhuma nota ou comunicado oficial haviam sido divulgados pelo Ministério de Relações Exteriores e pelo Planalto; Lula e o chanceler Celso Amorim não fizeram comentários públicos.
Já o assessor especial para Assuntos Internacionais do governo, Marco Aurélio Garcia, disse desconhecer o dissidente chinês e que estava torcendo por outra pessoa.
"Não tenho a menor informação sobre ele. O meu candidato era outro, o presidente [da Bolívia] Evo Morales", disse Garcia.
Morales está sendo criticado na Bolívia por ter sancionado lei que define punições econômicas e até o fechamento de veículos de comunicação que publiquem conteúdo que seja considerado racista pelo governo.
Socialismo Agrario do seculo 21: ultimas noticias do front...
Nenhum outro país neste mundo (sorry detentor do copyright), nunca antes neste século (ops, esta é forçada), nenhum outro Estado minimamente organizado (mas existem muitos desorganizados), nenhuma outra direção política minimamente racional (mas todos tem direito de ser ilógicos em algum momento da vida), enfim, em nenhum outro lugar conhecido no planeta Terra, temos algum líder empenhado em construir o tal de socialismo agrário, que é uma variante, claro, do velho socialismo estatista do século 20, aplicado à produção primária.
Olhando para o que sobrou de socialismo no mundo, temos o seguinte: a ilha-prisão do mar do Caribe está ativamente empenhado em restabelecer as atividades privadas para estimular a produção (acho que vai dar errado no esquema atual, mas a intenção é mesmo a de desmantelar o socialismo agrário, justamente); o imenso gulag norte-coreano, onde o caro lider se empenha em regimes de emagrecimento forçados de sua população há muito tempo. Acho que não sobrou nada de experimentos em matéria de socialismo agrário. Ou quase...
Só poderia ser a terra do inefável coronel de boné e camiseta vermelha...
Um grande professor de economia, como tenho repetido aqui: tudo o que ele recomenda como organização produtiva, distribuição de produtos, repartição de renda, é para ser feito al revés, pois se trata simplesmente do maior professor de economia ao contrário que já conhecemos nos anais da história econômica mundial.
Seguem, pois, duas postagens sobre o tal de socialismo agrário, com um único comentário meu: nem segurança alimentar, nem abastecimento suficiente, nem racionalidade produtiva, nem satisfação dos consumidores, nada disso será assegurado aos venezuelanos como resultado do socialismo agrário sendo aplicado pelo coronel de Caracas.
Não sou de fazer previsões, pois isto é coisa de astrólogos e outros adivinhos. Mas neste caso ouso prever a decadência agrícola, a perda de equipamentos, o desabastecimento alimentar, mais inflação, mais crise, mais tragédias, enfim...
Lineas de Chávez n. 92
(...)
Lo digo en voz alta y clara: nada está por encima de los sagrados intereses de la Patria. Recuerdo aquellas palabras que escribiera Martí en 1873: “La Patria es comunidad de intereses, unidad de tradiciones, unidad de fines, fusión dulcísima y consoladora de amores y esperanzas”. Y nosotros queremos y estamos decididos a hacer vivas esas palabras.
Hago esta reflexión necesaria, a propósito de la decisión que asumimos el domingo pasado de expropiar a la compañía trasnacional Agroisleña, ya que algunos sectores se empeñan en tergiversar la medida con espurias motivaciones políticas.
El pueblo está consciente de los enormes esfuerzos que venimos realizando no sólo para hacer justicia en la tenencia de la tierra, sino también para conquistar nuestra soberanía alimentaria. Por todo ello, teníamos que impedir a toda costa que el oligopolio Agroisleña siguiera extorsionando a nuestros campesinos con sus precios y con el elevado interés de sus créditos, amén de imponernos un paquete agrotóxico y ecocida trasnacional que deteriora nuestros suelos con productos de alta incidencia ambiental. Tenemos, entonces, que esta empresa ejemplificaba todas las perversiones del capitalismo.
En varias ocasiones se les advirtió de la necesidad de acoplarse a los planes implementados por el Gobierno nacional, sin que estos llamados fuesen atendidos. Procedimos a expropiar por razones de interés nacional.
La nacionalización de Agroisleña va a contribuir tanto en el abaratamiento de los alimentos, y con ello a la disminución de la inflación, como a la salvaguarda ecológica de nuestros suelos.
Tengamos presente lo que bien señala el destacado agroecólogo venezolano Miguel Ángel Núñez: Agroisleña tiene numerosos pasivos sociales, labores y ambientales. En realidad y en verdad al nacionalizarla estamos comenzando a saldar una deuda histórica con el campo venezolano.
Quiero desde aquí expresarles a todas y todos los trabajadores de Agroisleña, que este Gobierno se hace responsable, como se ha responsabilizado siempre, de su estabilidad laboral y de la garantía de todos sus beneficios contemplados en nuestras leyes: contamos con ustedes para que la empresa crezca y rinda sus mejores dividendos al servicio del pueblo trabajador.
Agroisleña es ahora propiedad popular, propiedad patria. Y ese es precisamente el nuevo nombre que le damos desde ahora: Agropatria.
Sepan los latifundistas que se acabó este oligopolio del que tanto se beneficiaron: ahora es cuando la Revolución agraria va a acelerarse.
Digámoslo con el General Zamora:
“Tierras y Hombres Libres”
“Venceremos”
Hugo Chávez Frías / (Domingo 10/10/2010)
============
Presidente Chávez destaca que recuperación de tierras consolidará socialismo agrario
La recuperación de tierras consolidará el socialismo agrario en el país y permitirá convertir a Venezuela en una potencia agrícola, destacó este domingo el presidente de la República, Hugo Chávez Frías.
“Estamos golpeando la dictadura de los latifundistas. No debe quedar ni un hueso sano del viejo latifundio, hay que consolidar el socialismo y la democracia agraria”, sostuvo el jefe de Estado, durante la transmisión del Aló, Presidente número 364, realizado en el Proyecto Agrario Socialista Río Tiznados, estado Guárico.
El Presidente insistió en la necesidad de continuar rescatando tierras en todo el país para consolidar el socialismo económico y producir los alimentos que requiere el pueblo venezolano.
Chávez solicitó a los gobernadores de cada entidad, sobre todo la llanera, y también a la Fuerza Armada Nacional Bolivariana (FANB), unirse a esta tarea, hacer recorridos y donde se encuentre un latifundio reportarlo.
“Una de las tareas de las Fuerzas Armadas en Los Llanos es hacer reconocimiento terrestre aéreo, donde vean un latifundio, repórtenlo, y si ven que pasa mucho tiempo y no hay acciones me llaman directo a mi. Latifundio que haya, latifundio que vamos a tomar, para entregarlo liberado al pueblo”, enfatizó el mandatario.
Refirió que el latifundio es el gran culpable de la pobreza de los campos y que para revertir esta situación es necesario seguir rescatando tierras.
Chávez realizó un recorrido por el Complejo Agroindustrial Manuel Ibarra en la sabana de Guárico, que cuenta con 9 silos para almacenar el maíz que allí se produzca, y una capacidad cada uno de 3.800 toneladas, para un total de 34 mil 200 toneladas.
Dicho complejo está operando desde la semana pasada y ha recibido, hasta ahora, 400 toneladas de las unidades de producción social de la zona.
Asimismo, cuenta con una planta propia para la generación de energía, que suministra aproximadamente unos 2000 mil amperios. De este total se consume apenas la mitad (1000 amperios).
La estructura del complejo es de procedencia y tecnología italiana, en tanto que la maquinaria fue adquirida a través de un convenio con la República Popular de China, informó el ministro del Poder Popular para la Agricultura y Tierras, Juan Carlos Loyo.
AVN / 03 de octubre de 2010
============
Addendum (pequenas notícias sobre a atualidade venezuelana, apenas chamadas):
Venezuela: Chávez anuncia una ley orgánica para ocupar tierras urbanizables
El presidente venezolano, Hugo Chávez, anunció que presentará ante la Asamblea Nacional una ley orgánica que le permitirá al Gobierno “regularizar tierras urbanas” destinadas a la construcción de viviendas.
El Análisis de Infolatam, por Leonardo Vera
Salarios, consumo y votos: ¿Por qué Chávez está perdiendo el respaldo electoral?
(Especial para Infolatam).- “… la economía venezolana no genera ya incrementos de ingresos suficientes para compensar tasas de inflación de 30% anual. En este ambiente, el consumo privado en términos reales se ha desplomado y en los últimos ocho trimestres ha crecido a una tasa promedio interanual de -1,2%. Una decisiva restricción en los ingresos ha conducido a este dramático ajuste. Esta es la pérdida de bienestar que para bien o para mal los venezolanos hipervaloran hoy día. El chavismo no ha permanecido inerte frente a esta realidad. Su desarrollada intuición para conocer el mercado político local le ha advertido la importancia que tiene mitigar los efectos de esta caída en el ingreso real de su clientela”.
Venezuela: Chávez anuncia que la expropiada Agroisleña se llamará Agropatria
El análisis, por Marta Colomina (El Universal)
La hiel de la “victoria”
“…Como no pudo convencer a nadie de su inexistente “victoria” el 26S, Chávez acelera su venganza contra todos los venezolanos, sean burgueses, proletarios o pobres de solemnidad…Chávez “radicaliza su socialismo”, es decir, el comunismo, como dijera Fidel a calzón quitao, y estatiza febrilmente las empresas y fincas agrícolas que aún quedan en pie…El último golpe constitucional que nos conduce al desabastecimiento y hambre colectivos, es la toma salvaje de la empresa Agroisleña”. (El Universal. Venezuela)
domingo, 10 de outubro de 2010
Ultimas noticias do Big Brother: para quando uma nota?
Mas, vamos à matéria.
Paulo Roberto de Almeida
Las autoridades chinas no permiten a la esposa del flamante Nobel de la Paz abandonar su apartamento en Pekín
AGENCIAS - Pekín - 10/10/2010
Retenida la esposa del Nobel Liu Xiaobo tras verle en prisión
España se suma a última hora a la demanda de excarcelación del disidente Liu
Las autoridades chinas retienen a Liu Xia, la esposa del flamente Nobel de la Paz chino Liu Xiaobo, en el interior de su apartamento en Pekín, según han informado las organizaciones Freedom Now y Human Rights in China. Liu Xia, que ha acudido hoy a la cárcel donse permanece reo su esposo desde 11 años por pedir al régimen democracia, no puede recibir la visita ni de sus familiares y amigos ni de los medios de comunicación. Liu Xia viajó custodiada hasta el penal de la provincia de Liaoning para comunicar al líder disidente chino la concesión del premio, según informaron los familiares.
La ONG Freedom Now ha denunciado en una nota que Liu Xia no puede tampoco usar su teléfono móvil. Esta organización ha detallado además que el premiado ha recibido la noticia de su galardón entre lágrimas y se lo ha dedicado a "los mártires de Tiananmen". Human Rights in China, ONG que habla de "arresto domiciliario", ha detallado que tras abandonar la prisión, Liu Xia fue seguida hasta su domicilio por agentes de seguridad. Según la información que la propia Lui Xia ha hecho llegar a la organización, tanto su móvil como el de su hermano han sido interferidos. Liu Xia ha pedido a los medios de comunicación que den noticia sobre su arresto domiciliario.
El hermano pequeño del galardonado, Liu Xiaoxuan, ha confirmado a sus allegados que el matrimonio se reunió esta mañana, según el diario taiwanés Ziyou Shibao (The Liberty Times). La ONG Centro de Información de Derechos Humanos y Democracia de China, con sede en Hong Kong, ha dicho también citando a familiares de los Liu que éstos se han reunido en la mañana de hoy "en un lugar secreto", lo que confirma informaciones previas.
Cita "en un lugar secreto"
Según esta fuente, Liu Xia y su hermano acordaron con las autoridades un encuentro en la prisión de Jinzhou con el disidente en la tarde del viernes, cuando se supo que Liu Xiaobo era el nuevo receptor del premio Nobel de la Paz y la esposa abandonó Pekín custodiada por la policía china. Los familiares han informado de que, según el acuerdo, Liu Xiaobo fue escoltado fuera de la prisión ayer, sábado, por la noche, y el matrimonio se pudo reunir esta mañana "en un lugar secreto".
El acceso a la prisión de Jinzhou está cortado desde ayer por la mañana, y algunos de los periodistas que han intentado acercarse fueron detenidos y obligados a abandonar la localidad. El régimen chino recibió con un rechazo frontal la concesión del Nobel de la Paz a Liu Xiaobo, al que considera un "delincuente" por reunir hace dos años 300 firmas para pedir la aplicación de los derechos fundamentales recogidos en la Constitución china.
Pekín ha censurado casi toda la información concerniente al Nobel en la prensa china, ha detenido a decenas de disidentes y amigos del matrimonio, y llamado a consultas al embajador noruego en la capital para expresar su enfado por el premio.
===========
Agora um comentário: eu conheço um governo, desses bastante ativos, que, ao menor sinal de convulsão em qualquer canto do planeta, sempre emite uma daquelas notas vasadas na mais pura linguagem diplomática, nas quais pede, com toda seriedade requerida pelos dramáticos acontecimentos em curso, comedimento das partes, respeito aos direitos humanos, sentido de justiça, preocupação com a violação de direitos fundamentais, enfim, o bullshit habitual, em diplomatês costumeiro. Estamos aguardando essa nota...
PRA
Brasil faz chantagem internacional com o Vaticano?
Paulo Roberto de Almeida
Lula amenaza revisar acuerdo con el Vaticano por caso Rousseff
BRASILIA, 07 Oct. 10 / 05:42 pm (ACI)
La agencia italiana ANSA informó que el secretario personal del Presidente Luiz Lula da Silva, Gilberto Carvalho, dijo a la cúpula de la Iglesia que si continúan los cuestionamientos contra la candidata Dilma Rousseff – debido a su postura favorable al aborto – puede ser revisado el acuerdo firmado con el Vaticano.
ANSA, que recoge una noticia de Valor Económico, señaló que Carvalho se reunió con miembros de la Conferencia Nacional de Obispos de Brasil y les comunicó que el gobierno puede volver a discutir el acuerdo que contempla el apoyo a escuelas católicas y otros beneficios.
Lula revisaría el acuerdo firmado por él mismo y el Papa Benedicto XVI en 2007 en Brasil, y ratificado en 2009 en el Vaticano, tras lo cual fue aprobado por el Congreso, donde fue cuestionado por congresistas evangélicos.
Copyright © ACI Prensa
===============
A retificação, ou desmentido, acabou chegando:
Brasil desmente ameaça de rever acordo do Vaticano
Luiza Damé e Gerson Camarotti
O Globo, 09/10/10
Notícia mencionava encontro de Gilberto Carvalho com bispos
O chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, negou ontem que tenha se reunido com integrantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e ameaçado revisar o acordo entre o Brasil e o Vaticano, caso não cessassem os ataques à presidenciável petista, Dilma Rousseff.
Ele afirmou que essa “é mais uma acusação mentirosa devido ao processo eleitoral”.
O secretário-geral da CNBB e bispo auxiliar do Rio de Janeiro, dom Dimas Lara Barbosa, também negou o encontro e a suposta ameaça.
Por meio da assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, Gilberto Carvalho repudiou a notícia — publicada por agências internacionais — e qualquer tentativa de criar uma situação de atrito entre o governo e a Igreja Católica. Ele disse ainda que o acordo foi aprovado pelo Congresso e não tem relação com a campanha eleitoral.
Para Marco Aurélio Garcia, estão fazendo terrorismo O acordo foi assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Papa Bento XVI, em 2008, e regulamenta aspectos jurídicos da Igreja Católica no país, incluindo isenções fiscais, liberdade de credos e ensino religioso nas escolas públicas.
Ao GLOBO, dom Dimas foi enfático ao negar que o chefe de gabinete tenha feito qualquer ameaça: — Eu não recebi nada a esse respeito. Fiquei surpreso com a notícia. Não houve ameaça.
Isso seria a última coisa que alguém anunciaria em plena campanha presidencial. Eu diria que esse seria um tiro no pé — disse.
Amigo de Gilberto, o secretáriogeral da CNBB informa que desde que começou a eleição não se encontrou com o chefe de gabinete. Foi Gilberto quem escreveu o perfil de Dimas, quando o bispo foi considerado pela “Época” um dos cem brasileiros mais influentes em 2009.
O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse que os acordos internacionais têm a chamada cláusula de denúncia, mas que o governo não tem qualquer intenção de revisar o tratado. Marco Aurélio disse que o Estado é laico e deve ser preservado dessa forma: — Isso que estão fazendo se chama terrorismo. E é muito grave porque fere o sentimento religioso da sociedade e introduz uma coisa que não temos aqui no Brasil, que é a divisão religiosa.
Ontem, a Catholic News Agency publicou em seu site que o Brasil ameaçava rever acordos com o Vaticano se a candidata do PT continuasse a ser pressionada sobre a questão do aborto. O texto citava uma nota da agência de notícias italiana Ansa, que por sua vez remetia ao “Valor Econômico”.