O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Continuando a mentir e a manipular os dados da realidade: um "academico" sectario...

Atenção: estou respondendo a um fraudador da realidade e a um mentiroso contumaz
Paulo Roberto de Almeida

Este blog se destina, precipuamente, ao debate de ideias, como esclarecido acima, se possível inteligentes, como também alertado.
De vez em quando, porém, somos levados a comentar ideias "desinteligentes", quando não estúpidas, ou então mentiras deliberadas, quando elas assumem tal proporção de publicidade nestes meios que são os nossos, que correm o risco de deformar os dados da realidade, pela manipulação deliberadamente falsa da história passada, o que pode induzir ao erro muitos jovens que não dispõem da informação correta ou do instrumental analítico para se precaverem contra os muitos fraudadores que pululam em nossas universidades (em constante processo de deterioração, como já escrevi aqui).

Pois bem, como este blog também tem essas funções didáticas, de esclarecimento e de instrução aos mais jovens, vou me permitir abusar da paciência de vocês -- eu sei que é chato lidar com mentirosos, mas por vezes é necessário fazê-lo -- para responder e continuar desmantelando as ideias falsas, os erros deliberados e as fraudes declaradas com que me deparo ocasionalmente.
É inacreditável que esse tipo de mentira com os dados da realidade passe impune na academia, o que apenas revela a degradação moral, o total desregramento ético a que estamos assistindo nos últimos anos, certamente a marca registrada dos nossos tempos.

A história é a seguinte: eu havia lido uma "Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso" -- supostamente entre colegas sociólogos, mas na verdade de um acadêmico mentiroso a um ex-presidente -- que apresentou tal deformação dos dados da realidade, contra o Plano Real, contra as políticas econômicas do período FHC, contra os simples dados da realidade, que me senti obrigado a comentar as afirmações mais deliberadamente falsas, os dados mais obviamente fraudados. Deixei de lado os "argumentos" de natureza subjetiva, pois existem sempre interpretações diferentes de itinerários econômicos, para me concentrar apenas no que era falso, no que era fraude, no que era desinformação factual, no que ia contra os dados da história recente.
Meu post é este aqui:


Distorcendo estatisticas e deformando a historia: um academico mentiroso

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Não preciso dizer que não enviei ao mentiroso em questão, mas simplesmente o postei neste blog. Um dos leitores deste meu post, pretendendo fazer um favor ao acadêmico que não merece esse nome, compareceu com um "comentário" neste post, tentando oferecer, como ele disse, um "contraponto ao [que eu afirmei]... para os leitores deste [meu] blog" . Ele o fez, porém, de forma anônima, sem dizer, aproveitando um outro comentário que o acadêmico mentiroso fez em seu blog tentando responder a questionamentos de um outro leitor, confuso quanto aos "dados" e "argumentos" propostos pelo próprio acadêmico mentiroso.
Sinceramente, eu volto a dizer que não entendo como, num país democrático como o nosso, tantas pessoas, em lugar de debater abertamente, escolher postar comentários como "Anônimos", o que não entendo e me parece uma contradição nos termos. Quem tem ideias próprias e acha seus argumentos sólidos, basta expô-los e assumir responsabilidade pelo que escreve. (Enfim, as pessoas são livres para continuar escrevendo como "anônimas" no meu blog, mas eu também sou livre para julgar se esses comentários merecem ou não ser publicados; em princípio, anônimos já começam com uma prevenção "contra", da minha parte).

Em todo caso, para retirar esse "comentário anônimo subscrito" de uma simples "nota de rodapé", pouco vista ou lida pelos visitantes e frequentadores deste blog, decidi transcrevê-lo por inteiro aqui, o que faço in fine, antecedendo-o, porém, de novos comentários de minha parte, já que as novas afirmações do acadêmico  mentiroso merecem novos comentários de minha parte. É o que faço agora.


Continuando a desmantelar inverdades e fraudes deliberadas:
(Para fins de identificação, faço as seguintes distinções: Acadêmico Mentiroso = AM; Paulo Roberto de Almeida = PRA)

AM: Eu não disse que o plano real não derrubou a inflação e sim que se situou dentro de uma tendência deflacionária da economia mundial.
PRA: Não disse explicitamente que o Plano Real (com maiúsculas, pois que já faz parte da história econômica destepaiz), mas queria sim dizer, indiretamente, que a derrubada da inflação no Brasil teve a ver com uma fantástica "tendência deflacionária da economia mundial".
Desafio o acadêmico mentiroso a provar que havia essa tal de "tendência deflacionária da economia mundial", com base em dados, em números verificáveis. Está lançado o repto.
Se ele quiser, que aproveite a dica que eu lhe dei, e vá ver os números. Estão aqui, nesta tabela insuspeita pois que construída a partir dos dados oficiais dos institutos de estatística nacionais de cada um dos países, reponderados, quando é o caso, por "number crunchers" isentos como são os da OCDE.
Este é o link: http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/1999/01/data/#top.
O AM (acadêmico mentiroso) delira, obviamente, pois TODOS, rigorosamente todos os países avançados (que na época ainda eram responsáveis por mais de 60% do PIB mundial) tinham inflações abaixo de 5%, geralmente entre 2 e 4%.
Apenas o Japão apresentava tendências deflacionárias ANTES e portanto não pode ter influenciado NENHUMA tendência deflacionária no começo dos anos 1990, como escreve AM.
O que ele repete é simplesmente uma MENTIRA, uma fraude completa, só explicada pelo seu desejo obsessivo, doentio, de diminuir o Plano Real, que ele confunde com "tendência deflacionária".

Ora, QUANDO um plano concebido e arquitetado para desmantelar todo o aparato da indexação generalizada num país -- este nosso infeliz país, convivendo com taxas de inflação de 500% ao ano -- e para TROCAR A MOEDA, todo o meio circulante, e fazer várias outras coisas mais, pode ser identificado com uma "tendência deflacionária mundial"???!!!
Isso é simplesmente delírio completo, uma fraude consumada, uma desinformação que o AM não hesita em perpetrar mais uma vez.
Não por acaso um dos comentaristas em seu blog escreveu o seguinte:
"Puxa, O Plano Real não foi o responsável pela derrubada da inflação?
Hiperinflação mundial ? Eu lembro, era 230% na Holanda, 317% no Canadá, 86% na Inglaterra, 477% no Chile e 118% na França.
Aí, por razões conjunturais mundiais, todas caíram abaixo de 10%, como em uma epidemia. Devo ser o Eremildo (personagem do golpista Elio Gaspari).
"
Ou seja, o AM se submete a gozações de quem conhece os números e não deixa passar em branco essa deformação completa por parte de quem só sabe mentir.
Não vou me dar ao trabalho de transcrever os dados reais das taxas de inflação no mundo. O AM pode fazer isso nos documentos que figuram em meu link.

AM: TODOS os países terminaram com a inflação neste período e não fizeram um plano real.
PRA: MENTIRA. A maior parte dos países responsáveis já tinham cuidado da inflação desde a primeira metade dos anos 1980, depois que os impactos do primeiro e do segundo choques do petróleo (1973-74 e 1979-1980) conseguiram ser absorvidos por MEDIDAS MONETARISTAS, de um lado (isto é, aumento da taxa de juros) e de AJUSTE ESTRUTURAL, por outro lado (isto é, reconversão produtiva num sentido de fazer a base industrial trabalhar com menor conteúdo de petróleo, o que foi obtido de maneira notável, AUMENTO de PREÇOS dos combustíveis, e uma série de outras medidas no setor real da economia).
É simplesmente ridículo dizer que TODOS os países "terminaram com a inflação" -- vejam bem, no começo dos anos 1990, o que é simplesmente ERRADO -- e o fizeram não através, NOTEM, "de um plano real", como se os países fizessem revoluções em sua macroeconomia assim, todos os dias, ou ao sabor da conjuntura.
Decerto esse AM deve imaginar que os responsáveis econômicos de TODOS os países devam decidir algo deste gênero: "Vejamos, será que vamos fazer um 'plano real' (sic) agora, ou vamos deixar para depois? Não, plano real não!; é um estelionato eleitoral; vamos esperar uma tendência deflacionária mundial e aí, muito melhor, a gente não precisa fazer nenhum esforço, é só navegar na crista da onda das tendências deflacionárias mundiais e, zut, voilà, está feito o serviço. Vamos deixar esses 'planos reais' para esses coitados do Brasil..."
O que o AM está dizendo simplesmente não faz sentido e NÃO BATE COM A REALIDADE. Ou seja, trata-se de um fraudador contumaz e repetido. Ele pretende ofender a nossa inteligência e se contrapor aos dados da realidade.

AM: "Contudo, ao manter a moeda sobre valorizada e ao não tomar medidas estruturais contra a inflação e sobretudo ao elevar absurdamente os juros, a equipe econômica manteve a nossa inflação entre as mais altas do mundo."
PRA: MENTIRA mais uma vez. O Plano Real não manteve a moeda sobrevalorizada e não pretendia fazer isso. Não sei se o AM sabe disso, mas a primeira versão do Plano Real previa um forte ajuste fiscal -- o que era desejável, necessário e mesmo indispensável, em visto do descontrole dos gastos públicos e do total irrealismo dos orçamentos públicos até então -- o que não foi feito por oposição do presidente Itamar Franco, que não queria ajustes fortes que seriam, necessariamente, temporariamente recessivos. TODO plano de ajuste estrutural, em TODO o mundo, possui um componente recessivo, até porque se tem de quebrar a espinha da realimentação inflacionária. O Brasil foi o ÚNICO país no mundo que efetuou todo um processo de estabilização sem QUALQUER EFEITO RECESSIVO.
Ora, o preço pelo não ajuste é a necessidade de se manter taxas de juros mais elevadas. Foram essas taxas de juros que foram responsáveis pela sobrevalorização do real -- que teve sua paridade estabelecida, mas não fixada, no mesmo nível do dólar, em julho de 1994 -- ao atrairem fluxos de capitais. Em economia não existem medidas que produzam efeitos em uma única direção: se a escolha foi por um ajuste SEM RECESSÃO, então o preço a pagar são juros altos.
Por outro lado, a sobrevalorização do real, temporária como foi, serviu para diminuir mais rapidamente a inflação, esta sim, o principal inimigo dos pobres. Com uma taxa de câmbio "desvalorizada" como preferem esses economistas simplórios, o resultado teria sido um ritmo menor de queda na inflação.
Concluo disso, que os economistas que proclamam, a exemplo do AM, que a moeda deveria ter sido desvalorizada -- por meios compulsórios entenda-se, pois essa gente adora controlar tudo -- são a favor da inflação, a favor de que os pobres sofram mais um pouco.
Ora, o Plano Real foi a mais fantástica redistribuição de renda que se fez na história econômica do Brasil, ao permitir a eliminação rápida do imposto inflacionário, aquele que mais atinge os pobres.
Somos levados a concluir, assim, que o AM e seus amigos são contra os pobres e amigos da inflação.
Dispenso-me de comentar o resto da frase do AM, pois ele não parece entender de economia monetária, ao fazer uma conexão direta entre juros altos e inflação alta: qualquer economista principiante, mesmo os mais renitentes keynesianos, sabe que alta de juros faz diminuir a inflação, não o contrário.
Isso apenas prova o quão pobre, eu diria miserável, é o "raciossímio" econômico do AM.

AM: "Trata-se de comparar a inflação do período FHC com a inflação de todos os outros países. E a nossa inflação foi mais de 5 vezes mais alta que os casos mais bem sucedidos."
PRA: O AM talvez não saiba mas pelo menos um terço da inflação no Brasil é "encomendada" pelo Estado, ao manter tarifas para certos serviços públicos e contratos com concessionárias indexados ao índice de inflação oficial. E por que se fez isso, em lugar de simplesmente desindexar toda a economia?
Porque ao fazer o Plano Real, num patamar de hiperinflação de 2.700% ao ano (ou mais, mas neutralizada em parte pelos mecanismos generalizados de correção monetária), não se tinha certeza de que tudo iria funcionar, e assim uma parte da economia continuou a funcionar com preços revistos e corrigidos.
O outro fator, obviamente, era o descontrole das contas públicas e a total orgia de gastos nos estados e municípios, que tiveram de ser primeiro contornados com as renegociações de dívidas estaduais e municipais de 1995 a 1998 -- o que custou os olhos da cara à União -- e depois tentativamente engessados pela Lei de Responsabilidade Fiscal, lei que os amigos e aliados do AM tentaram barrar no Supremo Tribunal Federal.
O AM tampouco lembra que a União trocou todas as dívidas estaduais e municipais por títulos federais, assumindo um pesado encargo de juros, e limitando os pagamentos dos devedores por títulos de menor taxa de juros, a 30 anos, mas com a obrigação de comprometer certo percentual dos orçamentos (de 10 a 15% segundo os casos) com o seu repagamento (o que é o mínimo que se poderia esperar).
Em conexão com isso, a acusação de que o governo FHC aumentou enormemente a dívida pública, SEM CONSIDERAR esse prêmio feito aos estados e munícipios, é de uma enorme má-fé, na verdade de um mau-caratismo impressionante.
O governo FHC colocou as contas públicas em ordem, restabeleceu a verdade dos orçamentos, reduziu a inflação para níveis civilizados, e o AM vem colocar em dúvida tudo isso? É preciso muita desfaçatez para deformar assim os dados da história.

AM: "Que teoria econômica pode considerar uma baixa inflação uma alta de preços 5 vezes maior que a do resto da economia mundial?"
PRA: O AM não sabe escrever, pois sua frase acima não faz nenhum sentido. Em primeiro lugar, porque não há nenhuma teoria econômica envolvida e sim medidas de política econômica. No caso, as metas de inflação estabelecidas em 1999, para dar uma perspectiva referencial de preços aos agentes econômicos. A inflação em 1998 já se situou abaixo de 3%, e poderia estar nesse patamar atualmente, se os amigos e aliados do AM não insistissem em MANTER O PATAMAR EM 4,5%, quando o Conselho Monetário Nacional poderia ter estabelecido uma meta menor. Se o AM quiser, posso transcrever diversas declarações do atual Ministro da Fazenda, antes e DEPOIS de assumir o cargo, em que ele se pronuncia CONTRA um patamar mais baixo para a meta de inflação.
O Brasil tem, sim, uma inflação duas a três vezes maior (não cinco) superior à médias mundiais (mas apenas duas vezes maior que a dos países emergentes). Isso se deve exclusivamente aos gastos públicos excessivos, à permissividade fiscal, todas de responsabilidade dos amigos do AM.

Fico por aqui, pois os argumentos do AM são tão pobres que me constrange ter de aulas de economia, e pior, LIÇÕES DE HISTÓRIA a um acadêmico que não merece esse nome.
Confesso que sinto vergonha pela academia brasileira e tenho pena dos alunos desse fraudador contumaz e desse mentiroso sectário.

Termino dizendo que em nenhum momento coloquei este "debate" no âmbito das eleições e dos candidatos. Não tenho nenhum e não estou tratando aqui de suas plataformas econômicas futuras.
Eu estava apenas interessado em restabelecer a VERDADE DOS FATOS, e recolocar a história em seu devido lugar.
Não tenho nenhuma ilusão de que o AM venha a se retratar por suas afirmações fraudulentas.
Mas isso faz parte do caráter dessa gente.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 28.10.2010)


Comentário transcrito por um "anônimo visitante", em nome, ou a favor, do acadêmico mentiroso em meu post supra-citado
Palavras do Acadêmico Mentiroso:
"Eu não disse que o plano real não derrubou a inflação e sim que se situou dentro de uma tendência deflacionária da economia mundial. TODOS os paises terminaram com a inflação neste período e não fizeram um plano real. Contudo, ao manter a moeda sobre valorizada e ao não tomar medidas estruturais contra a inflação e sobretudo ao elevar absurdamente os juros, a equipe econômica manteve a nossa inflação entre as mais altas do mundo. Não se trata de comparar a inflação do período Fernando Henrique com a fase que, em entrevista para os 40 anos do CEBRAP, Serra chamou de “superinflação” para distinguir de uma tendência ao crescimento infinito da inflação que seria considerada uma ”hiperinflação”. Trata-se de comparar a inflação do período FHC com a inflação de todos os outros paises. E a nossa inflação foi mais de 5 vezes mais alta que os casos mais bem sucedidos. Dizer que isto é sectarismo ou má analise econômica é demonstrar um delírio teórico insensato. Que teoria econômica pode considerar uma baixa inflação uma alta de preços 5 vezes maior que a do resto da economia mundial? É elementar exceto para quem está com a mente obliterada por uma propaganda absurda."  http://theotoniodossantos.blogspot.com/2010/10/o-debate-sobre-carta-aberta-fernando.html

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Meu novo livro: quase saindo do forno: Globalizando

Bem, já bati o martelo quanto à ilustração da capa, que não deverá, portanto, mudar. Mas, meu mais recente livro ainda não está pronto, pois ainda falta ser impresso.
Em todo caso, já corrigi as provas e ele deverá estar pronto em pouco tempo mais.
Os interessados em seu conteúdo e prefácio, podem consultar este link.

Transcrevo aqui, seu sumário:


Paulo Roberto de Almeida:
Globalizando: Ensaios sobre a globalização e a antiglobalização
Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2010, xx+272p.; ISBN: 978-85-375-0875-6 

Uma compilação de ensaios recentes e mais antigos sobre a questão central das relações econômicas internacionais contemporâneas.

Sumário:
À maneira de prefácio:
O altermundialismo, uma enfermidade infantil da globalização


Parte I
Globalização
1. O Brasil e os primeiros 500 anos de globalização capitalista
2. Contra a corrente: treze idéias fora do lugar sobre as relações internacionais
3. A globalização e as desigualdades: quais as evidências?
4. Três vivas ao processo de globalização: crescimento, pobreza e desigualdade
5. Distribuição mundial da renda: evidências desmentem concentração e divergência
6. O Brasil e os impactos econômicos e sociais da globalização
7. Globalização perversa e políticas econômicas nacionais: um contraponto

Parte II
Antiglobalização
8. Contra a anti-globalização: Contradições, insuficiências e impasses do movimento
9. A globalização e seus descontentes: um roteiro sintético dos equívocos
10. A globalização e seus benefícios: um contraponto ao pessimismo
11. Fórum Social Mundial: nove objetivos gerais e alguns grandes equívocos
12. Um outro Fórum Social Mundial é possível… (aliás, é até mesmo necessário)
13. Fórum Social Mundial 2008: menos transpiração, mais inspiração, por favor...
14. Fórum Surreal Mundial: pequena visita aos desvarios dos antiglobalizadores
15. Uma previsão marxista...

16. Perguntas impertinentes a um amigo anti-globalizador
17. Fórum Social Mundial 2010, uma década de embromaçãoÀ guisa de conclusão:
Se, nouvelle manière (ou as qualidades do homem na globalização)

Obras de Paulo Roberto de Almeida

Pausa para aulas de "portugueis"... ou para simples divertimento (voces escolhem)

Não sei, e confesso que hesito, quanto a opção a ser assinalada acima.
Em todo caso, são momentos de puro enlevo gramatical, exemplo de oratória, sintaxe bizarra, whatever...

http://www.youtube.com/watch?v=bSBO-XLZRoc

(desculpem manter segredo, mas o segredo é a alma do negócio, dizem alguns...)

Minha posicao sobre o voto nulo - Paulo R. Almeida


Contra o Voto Nulo: meus critérios de escolha

Paulo Roberto Almeida

Existe uma controvérsia pairando sobre as comunicações que circulam na internet nessas épocas eleitorais: a do voto nulo, justificado ou não “filosoficamente”. Provavelmente, existe mais de uma controvérsia eleitoral, mas esta é a que me foi dado examinar e me pronunciar recentemente sobre ela, talvez de modo superficial e ligeiro (o que quer dizer exatamente a mesma coisa, mais passons). Sem pretender possuir a posição “correta” – que simplesmente não existe em se tratando de escolhas políticas, embora existam, sim, posições erradas, absoluta e relativamente, nessa área, e elas tem a ver com a diminuição do “grau” de democracia no sistema político – gostaria de me manifestar a respeito de forma mais clara do que já o fiz até agora.

Existem basicamente três formas de “não” escolher qualquer candidato, para qualquer cargo, nas eleições: a abstenção, o voto nulo ou o voto em branco. A única diferença entre o voto nulo e o voto em branco, em face da maquineta de votação, é que a dita cuja contempla um botão branco, para o voto idem. Suponho que os que pretendem anular seu voto teclem outros números, admitindo-se que a máquina aceite, e confirmem esse número “errado”. Seria então um voto nulo. Num caso, como no outro, se trata de uma “não escolha”, assim como a de não comparecer no local de votação no dia marcado. Essas são, portanto, as formas de anular o seu voto: votando “errado”, deixando em branco, ou deixando de comparecer. Votou nulo ou em branco, ou deixou de votar, pronto: está feita a recusa de participação numa escolha solicitada (na verdade, requerida, exigida, porque o voto é obrigatório no Brasil).
Os que são indiferentes à política ou ao governo, qualquer governo, os que “não agüentam” mentiras de políticos (e algumas são realmente difíceis de engolir), aqueles que simplesmente não se interessam pelas mensagens dos partidos e dos candidatos, os que, finalmente, são preguiçosos demais para se deslocar no dia das eleições, simplesmente exercem o seu direito democrático de “não escolher”. Eles não costumam ficar preocupados com isso: simplesmente desligam essa “área cerebral” e seguem em frente, nas suas vidinhas pacatas e desinteressadas. Poucos se dão ao trabalho de justificar a “não escolha”. Melhor não se comover com o assunto, ponto.
Diferente é a situação de acadêmicos ou pretensos intelectuais, que pretendem justificar a sua não escolha mediante elegantes construções, com citações de frases de escritores, argumentos sobre o caráter de manada das “massas votantes”, alegações quanto às fraudes deliberadas cometidas pelos partidos, enfim, um sem número de escusas para sustentar a posição em favor do voto nulo ou abstenção. Este meu texto está, portanto, dirigido aos que assim praticam a não escolha com tentativa de justificação. Como considero tal posição “absurda”, vou também me manifestar a respeito, com argumentos que espero sejam racionais e contra-argumentáveis.

Para todos os efeitos práticos, abstenção, voto nulo ou branco se confundem nos seus resultados futuros: o cidadão votante, o contribuinte pagador de impostos se exime de fazer uma escolha entre os representantes – legisladores ou executivos – que decidirão como será gasto o seu dinheiro – recolhido por tributos compulsórios – nos projetos e obras votados nas assembléias e parlamento e implementados pelos poderes executivos. Esta é, se ouso resumir, a essência de minha contrariedade contra todas essas formas de invalidar o seu voto, a sua escolha, a sua decisão de eleitor.
Devo também dizer, preliminarmente, que sou contra o voto obrigatório. Este deve ser um direito, não uma obrigação, pois o que prima, para mim, é a liberdade do indivíduo, não a imposição do Estado. Reconheço que essa posição pelo voto livre pode parecer contraditória com a postura de considerar “absurda” a não manifestação de preferências por ocasião do escrutínio, já que a não obrigatoriedade estimularia, e muito, a abstenção, como observamos nos países nos quais o voto é um direito, não uma obrigação (cerca de metade, apenas, da população americana habilitada a votar comparece nas eleições gerais a presidente, ao que parece; os “patriotas” brasileiros enchem o peito de orgulho, ao mencionar nosso número de votantes, o que me parece sumamente ridículo, pois a democracia americana é tão vigorosa, em suas bases, que dispensa, justamente, esse tipo de participação “federal”).

Pois bem, o que eu teria a dizer contra o voto nulo, em branco ou a abstenção? Os que assim procedem costumam alegar o seguinte: “o meu voto não faz diferença nenhuma, pois se trata de apenas um voto, no meio de milhões de outros votos, e não é ele que vai determinar quem será eleito para a presidência”. Eu diria, de imediato, que faz, sim, uma enorme diferença, e não apenas para presidente, pois qualquer forma de abstenção ou “nulificação” do voto atinge muito mais o corpo representativo da nação, ou seja, parlamentos e assembléias sub-nacionais. A grande diferença está expressa diretamente no próprio ato: o agente social, o votante, o cidadão contribuinte se exime de expressar uma opinião, a sua opinião sobre os candidatos em liça. Trata-se, obviamente, de uma decisão puramente individual, totalmente legítima no plano individual, mas carregada de consequências práticas no plano social, no âmbito nacional, no futuro da comunidade nacional. Elaboro um pouco mais a esse respeito.
O ato de não votar, ou de votar nulo ou em branco, significa, simplesmente, que o indivíduo “não votante” será necessariamente representado por alguém, obrigatoriamente e inapelavelmente, mesmo que o “não votante” não faça absolutamente nada e sequer se interesse pelo processo legislativo ou pelos mecanismos de decisão em curso nos executivos locais ou nacional. Esse representante “eleito” – e ele o é também pelo “não voto”, pois o número de válidos determinará o chamado quociente eleitoral para o cálculo das bancadas proporcionais – terá legitimidade para impulsionar políticas com as quais o “não votante” eventualmente possa não estar de acordo, ou a que ele resolutamente se opõe: digamos, entregar dinheiro público a banqueiros falidos, a capitalistas protecionistas ou a invasores de terras, quando não a mafiosos sindicais.
Se o “não votante” se eximiu de expressar o seu voto contrário a um representante qualquer que pode decidir por qualquer das ações acima, é evidente que o “representante não escolhido” possui, sim, a faculdade de influenciar a vida do “não votante” contra a vontade deste (ou melhor, com a sua “colaboração”). Contra o argumento pouco filosófico de que “um voto não faz a diferença” podemos confirmar que faz, sim, enorme diferença, que é a de eleger ou deixar de eleger alguém que pode se aproximar, que seja minimamente, de nossas posições, contra aqueles que delas se afastam deliberadamente, ou que defendem políticas que rechaçamos absolutamente.
Em qualquer hipótese, a renúncia de ação por parte do “não votante” pode redundar numa usurpação de representação por parte do representante efetivamente eleito, aquele que vai decidir para onde vai o meu, o seu, o nosso dinheiro. Ela é, me parece uma “solução” de menor democracia do que a participação, ainda que a contragosto, do cidadão eleitor. Gostaria de compreender a posição daqueles que julgam ser muito complicado ou aborrecido penetrar nos detalhes das posições de cada candidato sobre cada tema de interesse cidadão, ou coletivo. Mas eu sou daqueles que não renunciam a uma única parcela de responsabilidade na comunidade política. E que não me venham falar de “indivíduos” que não gostam de ser misturados ou confundidos com a massa: todos nós vivemos em coletividade, todos nós somos parte da “massa”, qualquer que seja ela.

Pois bem, venho agora aos critérios de escolha, pois o assunto foi veiculado em comentário a um dos meus posts – aquele em que protesto contra o manifesto desonesto dos reitores das universidades públicas em favor da candidata oficial (mas eu protestaria igual se o manifesto fosse em favor do candidato da oposição) – que, aparentemente, chamou a atenção de alguns jovens universitários (ver aqui). Como me perguntou um desses jovens, leitor desse meu post: “Gostaria de saber então qual argumento é válido para declarar o voto neste ou naquele candidato.”
Eu diria o seguinte: o voto em qualquer candidato é válido, mas eu o faria acompanhar da seguinte nota de caução. Toda e qualquer escolha, eleitoral ou não, precisa ser feita de forma consciente quanto aos efeitos e consequências dessa nossa escolha, devemos sempre tentar visualizar as implicações de nossa escolha e examinar seu impacto futuro em nossas vidas e no itinerário provável de nossa comunidade.
Suspeito, ou suponho, que todos desejem viver num país “normal”, ou seja: com prosperidade, segurança, livre de corrupção, desenvolvido, organizadinho, limpinho, agradável, de preferência com altos salários e trabalho garantido, educação e saúde abundantes e a preços abordáveis – se possível gratuitos – e com plena liberdade de informação, de circulação, de expressão, sem envolvimento em confusões externas e vivendo num ambiente de paz interna (estou sendo muito exigente ou utópico?). Se queremos tudo isso, e temos o direito de pelo menos aspirar a algumas dessas coisas em nossas vidas, vamos ter de fazer algo para obter todos esses “direitos”.
Uma das maiores utopias – e inconsequências – da Constituição brasileira está, justamente, em prometer todo esse mundo de bondades róseas, sem jamais dizer como tudo isso poderá ser obtido. Existe até um senador – que eu respeito no plano individual, mas que nesse particular considero um perfeito idiota – que pretende colocar na Constituição o “direito à felicidade”, como se isso fosse fazer qualquer diferença no plano instrumental, ou prático. A constituição é cheia de direitos e quase nenhum dever; ou melhor, todos os direitos são dos cidadãos, todos os deveres são do Estado, essa entidade impessoal que segundo alguns deveria ser uma “mãezona” a zelar pela felicidade de todos e cada um: “A educação (ou saúde) é um direito dos cidadãos e um dever do Estado...”, assim reza a Constituição em diversas passagens. Faltou dizer quem vai pagar por tudo isso, onde está a produtividade (uma palavra que não existe ali) que vai sustentar esse mundo de benesses infinitas.
Independentemente, porém, de como serão resolvidas essas questões, está claro, pelo menos aos meus olhos, que os que prometem sempre tudo isso e um pouco mais estão incorrendo nessa terrível falácia constitucional que consiste em jogar com promessas futuras sem jamais dizer quem pagará por tudo isso. A demagogia eleitoral é o pior pecado que pode existir em qualquer época ou lugar. A inconsistência no uso do dinheiro público é o segundo pior pecado político que pode existir numa comunidade de cidadãos conscientes.
Por isso mesmo, meu simples critério eleitoral é o enfrentamento destas simples verdades: prometeu isto, diga de onde vai sair o dinheiro, quem vai sustentar, como serão aplicados os recursos e que benefícios esperados advirão dessa escolha, e não de outras? Em economia – e tudo se resume, em última instância, a uma questão de economia, como queria o velho barbudo – sempre existem alternativas, mas as escolhas sempre são políticas, independentemente de seus fundamentos econômicos.
O cidadão que vota nulo, ou branco, ou que se exime de escolher, está, pura e simplesmente, jogando o seu dinheiro no lixo. Ou melhor: entregando-o a alguém “mais esperto”, que saberá utilizá-lo em função de seus próprios critérios preferenciais. Sabemos que os “mais espertos” não são necessariamente os mais honestos e confiáveis, pois eles geralmente se utilizam da mentira e da mistificação para conseguir cargos políticos. Em resumo, votar consciente é votar inteligente. Renunciar a isso é não só um absurdo, como evidencia uma atitude pouco inteligente. Desculpem-me os “filosoficamente” a favor do voto nulo, mas é isto o que penso.
Boas escolhas a todos, ou corrigindo-me: a escolha “menos pior” possível.

Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 2215: 27-28.10.2010

Contra a mentira e a manipulacao - Ruth Rocha

Sempre admirei a Ruth Rocha (que não era do meu tempo de menino, mas foi do tempo dos meus filhos): eu comprava seus livros para ler para as crianças pequenas, geralmente na hora de dormir.
Uma grande escritora e uma grande personalidade. Gostaria de ter o dom que ela tem para escrever de forma simples e descomplicada. Infelizmente não tenho, e meus leitores são obrigados a conviver com a minha prolixidade horrível no estilo da escrita, frases longas demais, apostos, complementos, enfim, esses monstros metafisicos que poluem o meu texto e fazem alguns leitores desistir de me ler.
O que vou fazer? Eu não nasci Ruth Rocha e não aprendi a escrever como ela. Ruim para mim.
No meio do meu caminho, tinha várias pedras, claro, mas também tinha uma coisa chamada Escola Paulista de Sociologia, que comecei a ler desde muito cedo. Aí, infelizmente, fiquei com esse jeito florestânico de escrever que é uma praga de construção verbal, um estilo horrendo e prolixo, justamente.
Mais, passons.
Não comecei a escrever este post para falar de estilos literários.
Atualmente andamos mal de estilos, com um sujeitinho que polui o ambiente com suas frases estropiadas e seu estilo que não tem nem nome: é dele só, e espero que nos livremos rapidamente, pois já não aguento mais ler ou ouvir esse estilo se espalhando nas minhas notícias.
Mais, passons, à nouveau...

O que eu queria era simplesmente transcrever um texto da Ruth Rocha, que achei digno e necessário. Elegante, educado, mas firme e decidido.
Ela está nesse jogo por algo maior do que a escolha de um (ou uma) candidato(a). Ela pretende, como eu, simplesmente defender a verdade, ser contra as manipulações da história, e ser independente.
Comme il faut...
Paulo Roberto de Almeida

Carta à candidata Dilma
Ruth Rocha

Meu nome foi incluído no manifesto de intelectuais em seu apoio. Eu não a apóio. Incluir meu nome naquele manifesto é um desaforo! Mesmo que a apoiasse, não fui consultada. Seria um desaforo da mesma forma. Os mais distraídos dirão que, na correria de uma campanha... “acontece“. Acontece mas não pode acontecer. Na verdade esse tipo de descuido revela duas coisas: falta de educação e a porção autoritária cada vez mais visível no PT. Um grupo dominante dentro do partido que quer vencer a qualquer custo e por qualquer meio.

Acho que todos sabem do que estou falando.

O PT surgiu com o bom sonho de dar voz aos trabalhadores mas embriagou-se com os vapores do poder. O partido dos princípios tornou-se o partido do pragmatismo total. Essa transformação teve um “abrakadabra” na miserável história do mensalão . Na época o máximo que saiu dos lábios desmoralizados de suas lideranças foi um débil “os outros também fazem...”. De lá pra cá foi um Deus nos acuda!

Pena. O PT ainda não entendeu o seu papel na redemocratização brasileira. Desde a retomada da democracia no meio da década de 80 o Brasil vem melhorando; mesmo governos contestados como os de Sarney e Collor (estes, sim, apóiam a sua candidatura) trouxeram contribuições para a reconstrução nacional após o desastre da ditadura.

Com o Plano Cruzado, Sarney tentou desatar o nó de uma inflação que parecia não ter fim. Não deu certo mas os erros do Plano Cruzado ensinaram os planos posteriores cujos erros ensinaram os formuladores do Plano Real.

É incrível mas até Collor ajudou. A abertura da economia brasileira, mesmo que atabalhoada, colocou na sala de visitas uma questão geralmente (mal) tratada na cozinha.

O enigmático Itamar, vice de Collor, escreveu seu nome na história econômica ao presidir o início do Plano Real. Foi sucedido por FHC, o presidente que preparou o país para a vida democrática. FHC errou aqui e ali. Mas acertou de monte. Implantou o Real, desmontou os escombros dos bancos estaduais falidos, criou formas de controle social como a lei de responsabilidade fiscal, socializou a oferta de escola para as crianças. Queira o presidente Lula ou não, foi com FHC que o mundo começou a perceber uma transformação no Brasil.

E veio Lula. Seu maior acerto contrariou a descrença da academia aos planos populistas. Lula transformou os planos distributivistas do governo FHC no retumbante Bolsa Família. Os resultados foram evidentes. Apesar de seu populismo descarado, o fato é que uma camada enorme da população foi trazida a um patamar mínimo de vida.

Não me cabem considerações próprias a estudiosos em geral, jornalistas, economistas ou cientistas políticos. Meu discurso é outro: é a democracia que permite a transformação do país. A dinâmica democrática favorece a mudança das prioridades. Todos os indicadores sociais melhoraram com a democracia. Não foi o Lula quem fez. Votando, denunciando e cobrando foi a sociedade brasileira, usando as ferramentas da democracia, quem está empurrando o país para a frente. O PT tem a ver com isso. O PSDB também tem assim como todos os cidadãos brasileiros. Mas não foi o PT quem fez, nem Lula, muito menos a Dilma. Foi a democracia. Foram os presidentes desta fase da vida brasileira. Cada um com seus méritos e deméritos. Hoje eu penso como deva ser tratada a nossa democracia. Pensei em três pontos principais.

1) desprezo ao culto à personalidade;

2) promoção da rotação do poder; nossos partidos tendem ao fisiologismo. O PT então...

3) escolher quem entenda ser a educação a maior prioridade nacional.

Por falar em educação. Por favor, risque meu nome de seu caderno. Meu voto não vai para Dilma.

SP, 25/10/2010

Ruth Rocha, escritora
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/

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Addendum (necessário), mas emprestado de um colega de lista:

Entrei no blog do Noblat, para ler os comentários sobre a carta da Ruth Rocha, e fiquei estarrecido. Apesar de não ter lido todos (já são mais de 100), constatei que há dezenas de comentários destratando a Ruth Rocha como se ela fosse uma bandida por se queixar do uso indevido de sua assinatura. As pessoas perderam completamente a noção do que é certo, do que é decência. Antigamente, um peão de fazenda analfabeto sabia que não se pode agir assim com alguém, atentando contra a sua vontade, tanto que palavra dada era documento. Hoje, depois de meio século de pregação esquerdizante, a honradez individual foi assassinada — só existe a tal "ética" do grupo, de quem grita mais alto. O problema do Brasil já não é mais político — é civilizacional. Estamos chafurdando na barbárie.

Comento eu (PRA):
De fato, eu também me dou ao hábito, que me toma um tempo indevido em face de minhas leituras e outras obrigações, de ler comentários de leitores, cartas de leitores nos jornais impressos, ou mensagens enviadas no seguimento de uma coluna ou matéria postada num site ou blog.
Confesso que fico estarrecido. As cartas em jornais são filtradas, e portanto evitam a linguagem chula, as expressões ofensivas, os exemplos mais deletérios de paixões incontidas. Já não é o caso das mensagens não moderadas dessas matérias de jornal ou colunas assinadas em blogs: é inacreditável como a educação se degradou no Brasil.
Além de palavrões escabrosos, que apenas revelam a indigência mental de seus autores, existem argumentos tão raivosamente enviesados que me confirmam, sim, que o Brasil está irremediavelmente dividido entre os a favor ou contra este ou aquele candidato. A violência verbal é tamanha que me faz imaginar um desses enfrentamentos reais, caso a oportunidade se apresente, similar às brigas de gangues de torcidas organizadas de futebol, um exemplo supremo de que, como naqueles países dominados por tribos fanatizadas por alguma crença qualquer, também temos nossos energúmenos para provocar mortes e destruição.
Infelizmente, parece que vamos continuar descendo na escala da civilização, o que é triste, muito triste.
PRA (28.10.2010)

Pausa para o cinema: Back to the Future, again...

Um dos meus filmes preferidos...agora numa caixa em BlueRay, e DVD, of course:

Bonus Points: DVD Reviews

Going 'Back to the Future' again, after 25 years


Back to the Future
"Back to the Future" on Blu-ray: The 88 miles-per-hour saga makes its high-def debut in honors of its 25th anniversary. (Universal PIctures)
Washington Post Staff Writer
Tuesday, October 26, 2010; 10:09 AM
Most of us didn't learn what we know about time travel from physicists or the writings of H.G. Wells. We learned it all from "Back to the Future," the 1985 blockbuster that introduced us to flying DeLoreans, flux capacitors and the plucky Marty McFly (Michael J. Fox) , a wannabe rock guitarist who inadvertently befriends the teenage versions of his parents after zooming back to 1955.
As further proof that time (and time travel stories) inevitably marches on, the much-beloved Robert Zemeckis movie celebrates its 25th anniversary this year, a milestone that Universal has commemorated with the release of "Back to the Future: The 25th Anniversary Trilogy," a DVD ($49.98) and Blu-ray ($79.98) set that includes the original "Future," the pair of less compelling sequels it spawned and a wealth of bonus material that reveals many of the behind-the-scenes secrets involved in crafting this complex franchise. (And before you ask, no, it's not possible to purchase each of these releases individually. If you want "Back to the Future I," you've got to take II and III as well.)
The extra that has garnered the most attention from the "Future" fan base is the newly included, never-before-seen footage of Eric Stoltz, the actor who was originally cast as Marty and completed a substantial portion of the film before being fired because, as director Zemeckis explains, his comic sensibilities didn't suit the material. During a new six-part documentary about the trilogy, we finally get to see Stoltz in character and appearing in scenes that eventually were reshot with Fox, who ultimately catapulted to mega-fame as a result of his work in the film. The clips, which leaked online before the box set even released, are fascinating but far too brief. Perhaps out of respect for the actor, the DVD doesn't include any of Stoltz's scenes in their entirety with audio, so we never get a feel for what he may have brought to the role.
That said, the documentary -- one of a only few new extras included among the multitude of deleted scenes, outtakes, featurettes and commentary tracks that appeared on previous "Back to the Future" releases -- does an excellent job of exploring the evolution of the franchise. In addition to the glimpses of Stoltz, the doc touches on other elements that were ultimately abandoned (the time-traveling DeLorean came dangerously close to being a time-traveling refrigerator), "Back to the Future's" cultural impact (Ronald Reagan? Huge fan!) and explains why some actors from the first movie didn't make the journey to the second two. (The filmmakers note that Crispin Glover, who doesn't appear in the special features, got sliced out of the ensuing films because the actor made unreasonable demands, including asking for a sizeable raise. "That is the reason George McFly is a tombstone in Part II," says co-writer and producer Bob Gale.)
It's a thorough, highly watchable making-of that that will please "Future" fans and provides the primary attraction in this collection, although there are a couple of other reasons to consider purchasing it. One is the never-before-seen look at the original, storyboarded version of the movie's climax, in which Marty and Doc Brown rely on an explosion at a nuclear test facility -- rather than the power of a lightning bolt -- to get the jolt of energy needed to speed back to 1985. The other is the enhanced experience that, on Blu-ray, comes from watching the films in high-def. The movies, making their debut in the format, all look sharper and come with improved functionality that makes it possible to toggle between commentaries and pop-up trivia tracks with seamless ease. Ultimately, though, it's the enduring affection for these films that will motivate fans to buy. Despite the elements that date the "Back to the Future" franchise as a product of the '80s (see jokes about Pepsi Free and all those Huey Lewis and the News songs) the movies, especially the original, continue to charm because -- like Frank Capra's "It's a Wonderful Life," whose small town of Bedford Falls clearly serves as a model for "Future's" Hill Valley -- they force their characters to ask whether, if given the chance, they would radically alter their own lives. The conclusions Marty McFly and Doc Brown reach may differ somewhat from those of George Bailey. But their values -- which stress the importance of pursuing one's ambitions without losing an appreciation for home and family -- are remarkably similar. And, the era-jumping powers of that tricked-out DeLorean aside, remarkably timeless.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Estupidez nacional: existe algum limite a sua expansao?

Quando eu tomo conhecimento de notícias assim, eu me questiono se o Brasil não está involuindo mentalmente. OK, sem pretender ser grosseiro, mas sendo, eu me pergunto se esses juízes do RS não estão contribuindo ativamente para o aumento da estupidez nacional.
Ou seja: acabou a responsabilidade individual. Agora, qualquer coisa que aconteça, a responsabilidade sempre é do Estado, da empresa, da coletividade. O "pobre" do indivíduo precisa ser assistido, compensado, indenizado, quase diríamos que ele precisa de um constante serviço de baby-sitter por parte do Estado, para não fazer nenhuma bobagem contra ele mesmo.
Acho que caminhamos rapidamente para o, se já não estamos no, subdesenvolvimento mental.
Paulo Roberto de Almeida

Gerente de lanchonete que engordou no trabalho deve ser indenizado
Consultor Jurídico, 26.10.2010
Uma franquia de uma rede internacional de fast food está obrigada a indenizar um ex-gerente que engordou mais de 30 quilos durante os 12 anos em que trabalhou para a empresa. A decisão unânime é da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. Os desembargadores confirmaram parcialmente a sentença do primeiro grau. Apenas reduziram o valor da indenização de R$ 48 mil para R$ 30 mil por danos morais. Cabe recurso.
De acordo com os autos, o empregado entrou na lanchonete pesando entre 70 e 75 kg e saiu com 105 kg. Para a 3ª Turma do TRT gaúcho, a franquia contribuiu para que o autor chegasse ao quadro de "Obeso 2", resultando em problemas de saúde. Conforme o desembargador João Ghisleni Filho, relator do acórdão, as provas indicaram que o ex-gerente era obrigado a degustar produtos da lanchonete - alimentos reconhecidamente calóricos, como hambúrguer, batata frita, refrigerante e sorvetes.
Além disso, no horário de intervalo, a empresa fornecia um lanche composto de hambúrguer, batatas fritas e refrigerante. De acordo com testemunhas, na loja em que o autor trabalhou a maior parte do tempo, a lanchonete não permitia a troca deste lanche por dinheiro ou vale-refeição.
O relator reconheceu que fatores genéticos e o sedentarismo possivelmente também foram causas da obesidade. Porém, na sua opinião, isso não exime a responsabilidade da empresa. "Mesmo que a adoção de alimentação saudável fosse uma escolha do reclamante, havia imposição para que fossem consumidos os produtos da reclamada como a refeição no intervalo intrajornada e, ainda, para degustação, mesmo que eventualmente, ou duas vezes ao dia, como se extrai da prova", afirma o acórdão. 

Com informações da Assessoria de Imprensa do TRT-RS.
R.O. 0010000-21.2009.5.04.0030
Revista Consultor Jurídico, 26 de outubro de 2010

Balancos e avaliacoes - artigos Paulo R. Almeida

Meus mais recentes artigos publicados:


997. “Balanço do governo Lula, 2003-2010: uma avaliação não complacente”, portal de Economia do iG em 26.10.2010 (link: http://economia.ig.com.br/balanco+do+governo+lula+20032010+uma+avaliacao+nao+complacente/a1237812318976.html). Relação de Originais n. 2188.

996. “Qual a melhor política econômica para o Brasil?: algumas opções pessoais”, Ordem Livre (25 de outubro de 2010; da série Volta ao mundo em 25 ensaios: 21; link: http://ordemlivre.org/textos/1136). Relação de Originais n. 2095.

995. “Brasil: o que poderíamos ter feito melhor, como sociedade, e não fizemos?”, Ordem Livre (4 de outubro de 2010; da série: Volta ao mundo em 25 ensaios: 20; link: http://www.ordemlivre.org/textos/1120/). Relação de Originais n. 2094.

Distorcendo estatisticas e deformando a historia: um academico mentiroso

Eu já tinha lido o material em questão, de um acadêmico conhecido, que vive, nos últimos 50 anos, de uma equivocadíssima "teoria da dependência" que até seu mentor intelectual pediu que esquecêssemos (ele diz que não disse, mas eu sustento que sim).
Eu não pretendia responder a esse lixo que desonra a academia. Mas aí começaram aquelas correntes de militantes da causa e de aluninhos ingênuos, que obviamente ignoram a história e, sobretudo, desconhecem as estatísticas corretas, e que passam a disseminar o lixo em questão como se fosse um materia fiável.
Como tenho horror à mentira e à desonestidade intelectual (que como já disse também fica sendo só desonestidade), permiti-me perder meu tempo de leitura e de estudo para redigir um desmentido a esse lixo acadêmico.
Segue abaixo. Os interessados em ler o lixo acadêmico podem encontrá-lo neste link. De minha parte, continuarei fustigando os que perpetram mentiras.
Paulo Roberto de Almeida

Distorcendo a história real: o caso patético do “teórico da dependência”
Paulo Roberto Almeida (www.pralmeida.org)

Épocas eleitorais são propícias, como se sabe, às simplificações políticas e às manipulações de dados econômicos. É normal, é o esperado, sobretudo por parte dos próprios candidatos e dos seus “conselheiros” de campanha. Não deveríamos nos inquietar além conta, uma vez que, decidida a eleição, ultrapassadas as pequenas emoções e transpirações do período eleitoral, o novo chefe do executivo tem de se haver, não com as fantasias construídas ao longo da campanha, mas com os dados frios do orçamento e os números mais sérios do balanço de pagamentos. A partir daí, ele não pode mais enganar a ninguém, a não ser ele mesmo, se insistir em desconstruir as realidades do país e do mundo e ignorar os fatos econômicos mais elementares. Quem senta na cadeira decisória não atua mais com base em ideologias e idealizações acadêmicas, e sim com base em dados reais, com vistas a adotar as melhores decisões requeridas pela situação enfrentada.
Mais preocupante, contudo, é a situação de acadêmicos – cuja função primária seria a pesquisa honesta em torno da verdade dos fatos e sua transposição para o ambiente didático das salas de aula – quando, em lugar de esclarecer e informar, eles se dedicam a obscurecer e a deformar a história real. Claro, sempre se encontram aqueles que, motivados pelas paixões eleitorais, se deixem contaminar pelo ambiente de slogans superficiais e de comparações levianas, comprometendo sua credibilidade na mesma manipulação de dados que deveria ser atribuição exclusive dos políticos. Tenho encontrado alguns no curso da campanha de 2010, mas o caráter tosco de seus argumentos apenas confirma a irrelevância dessas mensagens passageiras, destinadas à lata de lixo da política conjuntural uma vez passada a campanha eleitoral.
Diferente é o caso de um soi-disant teórico da dependência, que rompeu todas as regras da decência acadêmica ao deformar completamente os dados da realidade em recente “carta aberta a Fernando Henrique Cardoso”. Ele se refere ao presidente, não ao sociólogo, classificando seu mandato de um dos maiores fracassos na história política do Brasil. Até aí nada de mais, pois seria apenas mais um desses ataques dos conhecidos fundamentalistas da academia. Não contente, porém, com uma acusação simplória como essa, o acadêmico em questão – cujo texto bilioso vem sendo divulgado nos conhecidos pasquins de sua tendência política – pretende revolucionar a história conhecida, reconstruindo uma versão fantasiosa, que deve ser rechaçada como perfeita mentira que é. Com efeito, ele não hesita em escrever o seguinte:

Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.

O acadêmico em questão não apresenta nenhum dado para sustentar suas afirmações mentirosas. Por isso seria preciso lembrá-lo que a economia mundial JAMAIS viveu em hiperinflação; ocorreu um período, subsequente aos choques do petróleo dos anos 1970, no qual a inflação em países da OCDE chegou, sim, próxima de 10% ao ano, após o que esses países deram início a vigoroso esforço anti-inflacionário, desde o início dos anos 1980, o que trouxe o ritmo do aumento do custo de vida para patamares inferiores a 10% logo em seguida.
Apenas para ficar num exemplo: a inflação nos Estados Unidos era de 3,27% em 1972; foi para 11% em 1974 (como decorrência do primeiro choque do petróleo em 1973), mas já tinha decaído para 5,7% em 1976; ela ascendeu novamente para 11% em 1979 (em função do segundo choque do petróleo), para decair para algo em torno de 3,5 a 4% no decorrer dos anos 1980, e atingir patamares ainda menores durante os anos 1990: de 2 a 3%. Se considerarmos as duas outras maiores economias planetárias, Alemanha e Japão, as taxas são ainda menores: a Alemanha alcançou 7% apenas em 1973 e 1974, situando-se bem abaixo disso durante todo o período; no caso do Japão, altamente dependente do petróleo, os choques foram realmente impactantes em meados dos anos 1970, mas depois disso, suas taxas de inflação raramente ultrapassaram 3%. Onde está a hiperinflação mundial do acadêmico mentiroso?
Sua informação de que todas as economias do mundo convergiram para patamares inferiores a 10% em meados dos anos 1990 também carece de qualquer comprovação. A verdade é, exceto países notoriamente desregrados nos planos fiscal e monetário – o que inclui, por exemplo, Israel nos anos 1980, pelos pesados encargos da situação de guerra –, a maior parte dos países do mundo já conhecia níveis inflacionários bastante moderados desde os anos 1980, com a notável e notória divergência dos latino-americanos e vários africanos. Se o autor precisar conferir, eu posso lhe indicar todas as estatísticas de inflação (e dados macroeconômicos de maneira geral), numa fonte insuspeita de distorções estatísticas (já que dados fiáveis são a base de seu trabalho analítico): o FMI. O link para a base de dados é este aqui: http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/1999/01/data/#top.
Em qualquer hipótese, não existe convergência planetária em matéria de inflação, uma vez que esta – excluindo-se os fatores causais externos, que soem ser conjunturais, como a já mencionada alta nos preços do petróleo – depende basicamente da política monetária interna a cada país. Não preciso relembrar nossa história de desregramento monetário e fiscal e de fracassos nas tentativas de estabilização ao longo dos anos 1987-1992 para refrescar a memória do acadêmico enviesado. Que ele não goste do sociólogo e do presidente FHC é admissível, mas que também tente deformar os dados econômicos para diminuir o sucesso do Plano Real já é um caso de obsessão doentia e de impossibilidade de conviver com a realidade.
As afirmações desse “acadêmico” com respeito aos dados cambiais e fiscais do governo FHC também são do mesmo teor altamente irresponsável na transcrição dos dados reais; elas vêm carregadas de tanta desinformação que seria custoso reapresentar aqui todas as estatísticas corretas quanto à evolução dos dados macroeconômicos nos dois mandatos daquele presidente. Na verdade, todas as suas “informações” econômicas possuem o mesmo rigor demonstrado pelas afirmações sobre a inflação mundial, acima indicadas, comprovando uma capacidade de deformar os dados reais raramente visto nos anais da academia.
Se as universidades brasileiras multassem os professores que manipulam grosseiramente os dados como fez esse acadêmico, seu próximo contra-cheque viria seriamente diminuído, talvez ultrapassando o valor do salário (não merecido, pelo menos não pela missão de desinformação politicamente motivada). É triste constatar que a academia brasileira, que certamente não estimula a adesão de seus membros à mentira e à deformação estatística, abriga um acadêmico que, não contente de se rebaixar à função de cabo eleitoral, ainda pretende reescrever a história com dados fantasiosos e argumentos totalmente equivocados.

Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 2213, 26/10/2010

Brasil-Venezuela: fim de uma bela amizade?

Corrijo imediatamente: não se trata, exatamente, da amizade entre o Brasil e a Venezuela, ou entre os povos do Brasil e da Venezuela, essa sim inquebrantável, destinada a grandes realizações no presente e no futuro, amarrada por laços de cooperação e de integração jamais vistos no continente, e todo esse blá-blá-blá costumeiro, enfim, o bullshit habitual transposto num diplomatês mais correto...
Não, se trata da amizade entre dois líderes populistas, ops, populares, que se amavam muito, tanto que um defendia o outro, chegando um a dizer que "nunca se viu tanta democracia num só país" (vejam vocês que sinceridade em nome da verdadeira amizade), dois caudilhos, ops, estadistas que sempre fizeram o maior grande bem -- desculpem a linguagem, estou apenas seguinda a gramática usada nessa amizade -- a seus respectivos povos, a todos os povos do continente, à integração verdadeira, sem tutelas do império e outras interferências espúrias em nossa soberania ativa e altiva...
Parece que os dois referidos agitadores, ops, animadores da integração bilateral, plurilateral, continental e internacional (com os aliados certos, entenda-se), que por um momento disputaram a primazia regional, a liderança política neste continente vazio de líderes, já não se bicam mais. Pelo menos é o que diz esse jornalista venezuelano em seu site de fofocas políticas.
Paulo Roberto de Almeida

EL HERMANO LULA
Por unas declaraciones en las que supuestamente cuestionaba algunas acciones del Gobierno venezolano y más en particular algunas actitudes del comandante-presidente fue que el caudillo no quiso recibir una nueva visita del brasilero a Caracas. Lula habría conversado además con otros colegas presidentes los que informaron a sus ministros y por allí se fugó una confidencia muy dura contra las "palhaçadas" e "improvisações" del "reizinho" venezolano...

Da coluna Runrunes
do jornalista
NELSON BOCARANDA SARDI
El Universal, martes 26 de octubre de 2010

E por falar em farsas e mentiras...

Limito-me a transcrever três artigos recentes, que refletem o clima de divisão no país, divisão aliás estimulada pelo presidente da república (com "r" minúsculo, em seu governicho).
Paulo Roberto de Almeida

O estilo desfaz o homem
Dora Kramer
O Estado de São Paulo, 24 de Outubro de 2010

Daqui a oito dias, no próximo domingo antes das 9h da noite, o presidente Luiz Inácio da Silva começará a vivenciar o passado, as urnas apontem a eleição de Dilma Rousseff ou de José Serra para lhe suceder na chefia da Nação.

É inexorável: eleito, as atenções se voltam para o novo, o próximo, aquele que de fato traduz mais que uma expectativa, representa o poder em si. Político baiano da velha guarda, Afrísio Vieira Lima tem a seguinte filosofia: “Ninguém atende ao telefone ou à porta perguntando quem foi, todo mundo quer saber quem é.”

Pois é. Face à evidência de que a natureza humana não falha, o mundo político não foge à regra. No momento seguinte à proclamação do resultado, o País – quiçá o mundo – voltará toda a sua atenção para a fala, os planos, os gestos, as vontades, os pensamentos, a biografia, a família, os amigos e tudo o mais que diga respeito à pessoa que a partir do primeiro dia de 2011 dará expediente no principal gabinete do Palácio do Planalto.

Quando a gente vê um presidente tomar a iniciativa de se desmoralizar em público apenas porque não resiste ao impulso de insultar o adversário, a boa notícia é que falta pouco tempo para que esse estilo comece a fazer parte de referências pretéritas.

Abstraindo-se juízo de valor a respeito de Dilma e Serra, chegará ao fundo do poço que o presidente Lula se deu ao desfrute de frequentar na semana passada. Pela simples razão de que é impossível.

A novidade não esteve na distorção dos fatos – isso já faz parte da rotina. O ineditismo foi o desmantelo da farsa. Melhor dizer, das farsas, pois foram duas: uma engendrada com vagar, outra montada às pressas. Ambas malsucedidas, não duraram 24 horas.

No começo da semana, quando já se anunciara o adiamento do fim da sindicância da Casa Civil sobre Erenice Guerra para depois das eleições, eis que a Polícia Federal ressuscitou o caso da quebra do sigilo fiscal de parentes e correligionários do candidato Serra, anunciando a identificação do responsável: Amaury Ribeiro Jr., jornalista que à época do crime trabalhava no jornal Estado de Minas.

O PT tentou legitimar, assim, uma versão que fazia circular desde junho quando se descobriu que os dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, apareceram em um dossiê que chegou ao jornal Folha de S. Paulo como originário do PT.

A versão – não de todo inverossímil, diga-se – era a de que as informações haviam sido reunidas por Amaury a serviço do Estado de Minas para municiar Aécio Neves de dados contra José Serra, que, por sua vez, mandara investigá-lo.

Segundo um delegado e o superintendente da PF, Amaury dissera em seu depoimento que o trabalho visava a “proteger” Aécio. Antes da entrevista dos dois, o presidente da República anunciava que naquele dia a Polícia Federal teria novidades.

Pois no dia seguinte, sabe-se que nem Amaury estava a serviço do Estado de Minas na ocasião nem citara no depoimento o nome de Aécio Neves. Ou seja, o presidente Lula comandara uma falácia e a PF aceitara se prestar ao serviço, acrescentando que as investigações estavam encerradas.

Foi desmentida em seguida pelo Ministério Público, que avisou que a polícia não estava autorizada a determinar o rumo e os prazos das investigações.

Não satisfeito, depois da pancadaria promovida por petistas contra uma passeata do candidato tucano no Rio, o presidente resolveu acusar o adversário de ser um farsante. Precipitou-se, insultou o candidato em termos zombeteiros, desqualificou um médico de respeitável reputação, foi de uma falta de modos ainda pior que o habitual.

Isso tudo para quê? Para ser logo em seguida desmentido pelos fatos exibidos no noticiário de televisão com a maior audiência do País, o Jornal Nacional.

Tudo isso sem necessidade, pois pelas pesquisas sua candidata está com 12 milhões de intenções de voto de vantagem sobre o adversário.

Tudo isso pelo exercício de um estilo abusivo que não conhece limites, mas que daqui a oito dias começará a perceber que o poder passa e a ausência dele dói.

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Brincadeira tem hora
Dora Kramer
O Estado de São Paulo, 24 de Outubro de 2010

Em primeiro lugar, o presidente Luiz Inácio da Silva é a última pessoa com autoridade moral para falar em farsas ou em “mentira descarada”, visto que é protagonista da maior delas: a falácia segundo a qual recebeu uma “herança maldita” e que a estabilidade econômica, a abertura do Brasil para o mundo, o crescimento e a entrada de milhões do mercado consumidor deve-se exclusivamente ao seu governo.

Há pouco seu governo inteiro junto com sua candidata à Presidência produziram “mentiras descaradas” ao repudiarem as denúncias de que havia na Receita quebras de sigilo fiscal de adversários políticos e que um esquema de tráfico de influência e corrupção estava montado a partir da Casa Civil.

Lula também se precipitou ao atribuir as quebras de sigilo a uma “briga de tucanos”. Baseava sua tese no fato de o mandante ser repórter do Estado de Minas sem saber que à época Amaury Ribeiro estava em férias a serviço de outrem.

O presidente da República dá razão ao antecessor que o chama de “chefe de uma facção”, quando escolhe insuflar a violência no lugar de contribuir para apaziguar os ânimos.

É o que faria um estadista.

Justiça se faça, Lula não ficou só em sua tentativa de ridicularizar o episódio. Muitos na imprensa partiram para ironias, achando um exagero a reação de José Serra atingido, afinal, só por “uma bolinha de papel”.

Foram duas imagens captadas em dois momentos diferentes, comprovou-se ao longo do dia. Mas, ainda que o candidato tucano tenha feito drama, continuam sendo inaceitáveis os ataques de militantes contrariados com a passagem do tucano pelas ruas de Campo Grande (RJ). Brincar com isso é má-fé, tratar como banal a violência eleitoral e, sobretudo, não entender o valor em jogo.

Impedir um ato de campanha com tumultos é violência. Bem como foi violência atirar um balão cheio de água sobre o carro onde estava a candidata Dilma Rousseff ontem em Curitiba. O balão não a atingiu, mas poderia ter atingido. Ainda assim resta a intenção: agredir.

O presidente da República condenará uma violência, mas aprovará a outra? Ou dirá que estava apenas condenando o “teatro” do adversário? Nisso não é crítico autorizado.

É partícipe e mesmo condutor de uma caminhada em direção ao retrocesso: a nos tornarmos permissivos com o uso da violência na política, assim como já estamos no rumo de revogar a integralidade do preceito do livre pensar.

Ovos da serpente
É assim que começa: a Assembleia Legislativa do Ceará aprovou projeto de um conselho para atuar entre outras funções no “exercício fiscal sobre a prática da comunicação”.

Em Goiás, a TV Brasil Central, do governo do estado, não pode entrevistar adversários políticos.

O projeto de controle da mídia foi iniciativa de uma deputada estadual do PT cearense, aprovado por unanimidade, e ainda precisa passar pelo crivo do governador Cid Gomes.

A censura foi denunciada, num gesto inédito, ao vivo pelo jornalista Paulo Beringhs, proibido de entrevistar o candidato ao governo Marconi Perillo (PSDB), chamado no dia anterior de “mau-caráter” pelo presidente Lula em palanque.

Liberdade e luta
Já que Chico Buarque puxou o assunto ao manifestar seu encanto com o fato de o governo Lula “não falar fino com Washington nem falar grosso com Bolívia e Paraguai”, vamos ao fato: o governo brasileiro não deveria é falar fino com ditaduras.

Aliás, o mundo da cultura, que sofreu pesadamente os efeitos da durindana local, nos últimos anos não se incomodou – se o fez não foi em voz alta – com a maleabilidade das vértebras do presidente Lula diante de tiranos.

A complexidade das relações exteriores não cabe em um jogo de palavras. Já a condenação aos crimes das ditaduras às quais o Brasil se dobra para espanto do mundo requer apenas dois atributos: coerência e solidariedade.

Independentemente da opinião eleitoral.

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Sobre farsas
Merval Pereira
O Globo, 24 de Outubro de 2010

Não satisfeito de ter transgredido todas as normas legais relativas à campanha eleitoral no afã de eleger a candidata que tirou da cartola, o presidente Lula na reta final da eleição perdeu qualquer vislumbre de constrangimento que porventura ainda tivesse e passou a fazer campanha política 24 horas por dia, antes, durante e depois do expediente oficial de presidente da República, em todas as dependências oficiais do governo.

E participou diretamente nos dois últimos dias de duas das mais vergonhosas tentativas de farsas políticas da história recente do país.

Ontem, ele se despiu dos rigores do cargo e assumiu o papel do cabo eleitoral mais energúmeno que possa haver.

(Antes que algum petista desavisado ache que estou xingando Sua Excelência, devo esclarecer que utilizo o termo energúmeno no sentido de “fanático”. A palavra parece um palavrão, mas não é.

Na coluna de ontem, escrevi que Serra fora atingido por um “artefato” e houve petistas exaltados que vissem no termo um sentido alarmante que ele não tem. Usa-se a palavra para definir “qualquer objeto manufaturado”. Como não sabia o que havia atingido o candidato tucano, usei a palavra. E acertei, como veremos).

Voltando ao caso, o cabo eleitoral Lula da Silva disse que a agressão sofrida por Serra era uma “mentira descarada”.

Segundo ele, depois de ver imagens das redes Record e SBT, ficou convencido de que Serra fora atingido por uma bolinha de papel e seguiu caminhando por mais 20 minutos, quando recebeu um telefonema “de algum assessor da publicidade da campanha que sugeriu parar de caminhar e pôr a mão na cabeça para criar um factoide”.

Para encerrar o festival de irresponsabilidades, Lula comparou o caso ao do goleiro chileno Rojas, que fingiu ter sido atingido por um rojão num jogo contra o Brasil.

Ontem, o Jornal Nacional demonstrou, com o auxílio de um perito, que quem criou um factoide com claros objetivos políticos foram as reportagens que montaram dois momentos diferentes como se fossem uma sequência, tentando desqualificar o que foi uma atitude política digna dos regimes fascistas.

Serra foi atingido, sim, por uma bobina de papel crepe (o tal “artefato”) que, arremessado com força, pode provocar danos graves na pessoa atingida.

A agressividade dos cabos eleitorais petistas em si mesma já era motivo para preocupação, pois em democracias não é aceitável que grupos tentem impedir outros de se manifestar.

Desse ponto de vista, é lamentável o que ocorreu ontem em Curitiba, quando a candidata oficial foi recebida com bolas de água jogadas de cima de prédios. Se atingissem alguém, elas seriam tão perigosas quanto o “artefato” que atingiu Serra.

O que não é comparável é a origem dos dois fatos. O primeiro foi uma ação política orquestrada com a intenção de agredir o candidato oposicionista. A outra é uma irresponsabilidade.

Na quarta-feira, Lula havia anunciado para os jornalistas a conclusão de um inquérito que a Polícia Federal realizou sobre a quebra de sigilo fiscal de parentes e pessoas ligadas ao candidato da oposição José Serra.

O próprio presidente, depois de ter tentado desqualificar as denúncias sugerindo que se tratava de uma ação eleitoreira de Serra, viu-se obrigado a convocar a Polícia Federal para investigar o caso.

Soube em primeira mão o resultado do inquérito e pareceu satisfeito, tanto que anunciou aos jornalistas, sem que fosse perguntado, que a Polícia Federal iria revelar “a verdade dos fatos”, que nada tinha a ver com “as versões”.

De fato, a Polícia Federal retirou todo caráter político da investigação, e anunciou que o responsável pela compra dos sigilos quebrados era o jornalista Amaury Ribeiro Junior quando ainda trabalhava no jornal “Estado de Minas”.

O PT passou então a espalhar a versão de que se tratava de uma briga interna dos tucanos, e que o serviço sujo fora feito para ajudar Aécio Neves na disputa interna com Serra pela indicação a candidato do partido a presidente.

A suposição era de que o jornal “Estado de Minas” mantinha estreita ligação com Aécio e designara seu repórter investigativo para devassar a vida de seu adversário.

O próprio Amaury Ribeiro Junior disse que fizera os levantamentos “para proteger Aécio”, mas em nenhum momento afirmou que fora designado pelo jornal para tal tarefa, apenas insinuava o vínculo.

Não bastou que o jornal e Aécio desmentissem essa hipótese, a rede de intrigas petista passou a anunciar como verdade o “fogo amigo” tucano como gerador da quebra dos sigilos fiscais.

Pois ontem a verdade veio à tona: o jornalista não estava mais trabalhando para o “Estado de Minas” quando encomendou a quebra de sigilo dos parentes de Serra e de pessoas ligadas a ele no PSDB, e agora acusa o petista Rui Falcão, coordenador da campanha de Dilma, de ter roubado os dados de seu computador.

Esses dados, juntamente com a informação de que havia sido criado um grupo de espionagem dentro da campanha, foram vazados para a imprensa em decorrência de uma disputa de poder entre Fernando Pimentel, responsável pela contratação dessa equipe de “jornalistas investigativos” para trabalhar no “setor de inteligência” da campanha, e Rui Falcão.

Agora a Polícia Federal tem a obrigação de prosseguir nas investigações para saber quem financiou o jornalista Amaury Ribeiro Junior desde a compra dos sigilos até que surgisse oficialmente como membro da campanha dilmista no tal “setor de inteligência”.

Do jeito que as coisas ficaram, a sensação é de que a Polícia Federal foi usada pelo governo para revelar, às vésperas do segundo turno da eleição, apenas informações que prejudicassem o campo oposicionista.

A nota indignada do diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, repudiando o uso político das investigações, só pode ser considerada se a atitude da Polícia Federal corresponder a ela, o que não aconteceu até agora.

Esquerda e direita: uma discussao anacronica

Apenas uma pessoa obtusamente de "esquerda" -- entre aspas, pois o termo não se aplica, ele não significa nada -- consegue catalogar uma outra, que não tenha as suas posições, de "direita", o que é obviamente uma farsa.
No Brasil, ninguém que eu conheça -- talvez um ou outro apenas -- se classifica como sendo de direita. Reparem que seria normal, até esperado, que, existindo pessoas de "esquerda", outras, que pensam de maneira totalmente oposta, pudessem se classificar como sendo de "direita".
Não no Brasil, onde ser de direita passa por um pecado mortal, algo próximo de ser um doente de peste, contagioso, nocivo, pedófilo, assassino contumaz, enfim, as piores coisas que se possam imaginar.
Ninguém quer ser de direita no Brasil. E, no entanto, qualquer pesquisa de opinião, revelaria que a média da população está mais próxima de posições de "direita" -- com respeito à propriedade, à organização econômica, às liberdades individuais, à religião, etc. -- do que de posições supostamente de "esquerda", que seriam as próximas do socialismo, da propriedade coletiva ou estatal dos meios de produção, do ateismo militante, dos controles sobre bens, fluxos de capitais, movimento de pessoas, dos meios de comunicação, enfim, as conhecidas restrições à liberdade para garantir uma tal de "justiça social", "igualdade", direitos sociais e outras coisas do gênero. Já nem menciono a questão do partido único e do monopólio do poder por um grupo, pois a coisa é tão aberrante que nenhum militante de "esquerda" hoje em dia defende a ideia. Eles apenas acham que Cuba é obrigada a manter essas restrições por causa dos ataques do imperialismo, do embargo e outras bobagens.
O que eles fazem, em primeiro lugar é ofender a nossa inteligência.
Pois bem, já escrevi também algo a respeito, mas deixo vocês aqui com uma entrevista de Ferreira Gullar, que soube evoluir, com os fatos, com as evidências, o que outros indivíduos esclerosados não souberam fazer.
As perguntas devem ter sido pautadas por essa dicotomia entre esquerda e direita, daí a insistência do poeta na questão.
Posto aqui, graças ao meu amigo blogueiro Orlando Tambosi.
Paulo Roberto de Almeida

Ferreira Gullar: "Lula comprou os pobres do Brasil"
Blog do Tambosi, 26.10.2010

Longa entrevista com o poeta Ferreira Gullar no jornal Público, de Portugal. Ainda bem que nem todos os artistas estão cegos diante da realidade. A entrevistadora certamente é do Grotão lulista e, como quase todos os jornalistas reféns de ideologias retardatárias, apoia a bolivariana Dilma, confundindo democracia com socialismo (ainda presa, a coitada, à lenga-lenga "esquerda/direita") . Cito alguns trechos:

O escritor Ferreira Gullar vota José Serra. Vê Dilma como “uma marionete” e Lula como um “ignorante”, “mentiroso”, com “fome de poder”, que é “a vergonha do Brasil”.
(...)
Todo o mundo conhece o José Serra no Brasil. Ele tem quase 50 anos de vida pública, e nunca foi acusado de ser corrupto, safado, de se apropriar de dinheiro público, de entrar em falcatruas. Será que isso não é um crédito?
(...)
A Dilma de esquerda? Mas o PT não é de esquerda. É um partido corrupto. O PT de esquerda já acabou há muito.
O comunismo chegou ao fim. Nós todos, que participámos dessa aventura, somos obrigados a reconhecer isso. Cumpriu a sua tarefa, mudou o mundo, a relação de trabalho, as conquistas dos trabalhadores, tudo foi consequência de uma luta que começou com o Manifesto Comunista, de 1848. E esgotou a sua tarefa. Então se acabou a URSS, alguém sonha que vai fazer socialismo no Brasil? Só piada. Só o Hugo Chávez.
(...)
O PSDB se caracteriza por ser um partido pacífico. Não é que sejam santos. É que não é o estilo deles. No caso do PT, não. O PT é isto. Vem dos sindicatos, que são dominados por gangues. O Lula pertencia a um deles. São gangues, que ocupam as instituições, a máquina do Estado. A Petrobras hoje está infiltrada de gente do PT e dos sindicatos.
(...)
Eu tenho uma empresa. Porque o meu tio me disse que Maria é competente, sem ela nunca ter gerenciado nada, vou entregar a ela? Não entrego. Compreende? Essa é a situação. Não estou dizendo que o Serra é perfeito. O Serra tem mais que mostrar do que ela. Eu tenho mais confiança nele porque ele tem trabalho feito, e ela nenhum! A Maria da Conceição e o Chico Buarque só votam nessa coisa porque têm nostalgia da esquerda! Têm de abrir a cabeça para um mundo novo! O comunismo já era, acabou! Sem contar que foi uma besteira. O que é que é Cuba? Eu defendi Cuba, fiz poemas sobre Cuba. É um fracasso completo! Como podem defender uma sociedade em que as pessoas não têm o direito de sair de lá? Em troca de quê? Terá por acaso riqueza lá? Não. É miséria, subdesenvolvimento económico e falta de liberdade. Eu não vou defender isso, meu Deus. Quero ter o direito, se acho que o país é uma merda, de sair daqui na hora que eu quiser. Compro uma passagem e vou para Lisboa! Agora! Não tenho de pedir licença a ninguém! E o Chico e a Maria da Conceição defendem isso! Que moral têm essas pessoas para defender alguma coisa justa? Aí fica o Serra de direita? É de direita porque não concorda com isso. Ser de esquerda é o quê? Achar que as pessoas não têm o direito de sair do seu país quando quiserem? É isso que é ser de esquerda? Isso é uma besteirada. Tem de acabar com essa conversa. Eles têm medo de serem chamados de direita. Eu não tenho. Porque eu não sou. Tenho a certeza absoluta da minha entrega a uma luta a favor das pessoas, de uma sociedade melhor. Não tenho de dar explicação a ninguém. Mas o Chico tem medo de parecer que é de direita. Problema deles.
Quando é que o Serra foi de direita? Um cara que teve de ser exilado, que lutou contra a ditadura, que sempre defendeu posições a favor de uma sociedade mais justa, medidas a favor das pessoas mais pobres, e tomou medidas efectivamente. Quando o Serra conseguiu introduzir os genéricos, a minha mãe, estava em São Luís do Maranhão, doente. E sabe o que é que o PT espalhou? Que o genérico era falso, que era só farinha e terra, não era remédio. Eu mandava dinheiro para comprar remédio para minha mãe, e falei: “Comprem genérico.” E o meu irmão falou: “Ah, não, genérico é terra. O PT já nos explicou.” Isso é o PT . (Continua).

P.S. [Orlando Tambosi]: a propósito da dicotomia "esquerda/direita" - que aqui sempre grafei entre aspas -, chamo para um velho artigo meu: a democracia é o divisor de águas. À "direita" ou à "esquerda", só restam o autoritarismo ou, pior, e o totalitarismo. A realidade nos ensinou que não há alternativa ao mercado senão as ditaduras (e não falo no fim do Estado, não). Democracia é respeito às liberdades - todas!
(Gracias, CFE, sempre atento).

Nao sou a favor de candidatos; sou contra a mentira...

Vou postar, pela terceira vez creio, o link e a chamada para o manifesto em favor da democracia.
Gostaria de deixar muito claro que não expresso nenhuma preferência eleitoral e nenhum dos candidatos que sobraram -- enfim, apenas os dois da disputa presidencial -- receberia meu voto em circunstâncias normais, e contesto várias de suas posições econômicas ou políticas, mais de um lado do que de outro, é verdade. Sou reduzido a escolher o menos pior.
Mas o que não posso deixar de fazer é posicionar-me em relação a duas coisas: ataques à democracia e à liberdade de expressão, embutidos, se ouso dizer, no DNA de certos grupos políticos que são anacrônicos e obsoletos -- o que não os impede de conquistar e de exercer o poder, em função da mistificação propagandistisca e do baixo nível de educação política da maior parte da população -- e, por outro lado, todas essas manifestações mentirosas, descaradamente repetidas ao longo da campanha eleitoral, até com doses de vulgaridade e de violência verbal raramente vistas numa disputa desse tipo.
Apenas por isso -- mas já é muita coisa -- que decidi romper com um de meus princípios mais arraigados -- o de jamais assinar qualquer coisa desse gênero que eu mesmo não tenha negociado os termos -- e assinar e divulgar o

MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA

Acredito que a democracia está realmente em perigo e mais do que apoiar um candidato, o que estou fazendo é desapoiar um grupo, desautorizá-los em suas mensagens divisivas e confrontacionistas, fazendo a política do "nós" e "eles", dos "ricos" contra os "pobres", do "povo" contra as "elites", enfim, essa fragmentação política que reputo nociva para o Brasil.
Infelizmente, todas as mentalidades autoritárias têm essa necessidade de dividir a população, de jogar com os sentimentos de miséria e injustiça que certamente existem no seio da população mais humilde. Repudio esse tipo de atitude demagógica e divisiva. Sou pelo fortalecimento da democracia em bases representativas, não pela manipulação de grupelhos de militantes fundamentalistas sobre as instituições públicas.
Estas são as razões que me levaram a assinar o

MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA

Paulo Roberto de Almeida

Já somos 101 mil brasileiros unidos em defesa da Democracia, da liberdade de expressão, da verdade e da vida. Contra a corrupção, o uso de ardis para enganar a população, abuso do poder político, economico e da maquina publica. A postura inaceitável do chefe de estado em favor de um grupo.

Continuemos todos mobilizados. Divulgue a seus amigos o site www.defesadademocracia.com.br para mais assinaturas e para que conheçam depoimentos, notícias, artigos que evidenciam que nesta eleição só temos uma opção verdadeira e segura em favor dos valores da democracia.

Não deixe que as pesquisas decidam por você. Não deixe de convencer seus amigos e parentes do melhor caminho para o Brasil.

MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA

Por um Brasil de Verdades.

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Reproduzo aqui o teor do Manifesto:

Manifesto em Defesa da Democracia

Numa democracia, nenhum dos Poderes é soberano. Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.

Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.

É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.

É inaceitável que militantes partidários tenham convertido órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.

É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.

É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais em valorizar a honestidade.

É constrangedor que o Presidente não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há “depois do expediente” para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no “outro” um adversário que deve ser vencido segundo regras, mas um inimigo que tem de ser eliminado.

É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e de empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.

É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.

É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É deplorável que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.

Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para ignorar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.

Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.

Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Qual a melhor politica economica para o Brasil? - Paulo R. Almeida

Quem sou eu para ter a pretensão de preconizar a "melhor" política econômica para o Brasil? Pois é, nem economista eu sou. Mas creio ter alguma percepção do que funciona e do que não funciona, com base na simples observação da realidade, em bases comparativas, verificando, portanto, experimentos que foram melhor sucedidos do que outros.
Em todo caso, sujeito-me às críticas dos que teriam melhores políticas do que as que preconizo nesse mais recente artigo publicado:

Qual a melhor política econômica para o Brasil?: algumas opções pessoais
Paulo Roberto de Almeida
Ordem Livre, 25 de Outubro de 2010

A resposta a uma pergunta desse tipo depende, obviamente, da concepção geral de sociedade da qual está impregnado o respondedor. Keynes dizia que sempre somos prisioneiros de algum economista morto, o que não parece ser o meu caso, já que não exerço a disciplina profissionalmente e posso, assim, ostentar uma aparente independência em relação a escolas e tendências econômicas. Não me classifico como liberal em economia, apenas como racionalista, seja lá o que isso queira dizer. A razão é que não acredito que um governo qualquer, no mundo atual, possa se guiar por grandes princípios filosóficos ou concepções completas de sociedade, cabendo-lhe tão somente ser pragmático e tentar resolver os problemas concretos de administração da economia em meio a uma teia de constrangimentos internos e de limitações externas que circundam as (poucas) escolhas possíveis. Numa palavra: difícil ser totalmente livre para implantar um programa completo de reforma social e econômica, quando tantos compromissos foram sendo assumidos ao longo do tempo.

Pessoalmente, tendo vindo do pensamento socialista, manifesto minha atual preferência por um modo liberal de administração econômica, mas tenho plena consciência de que trade-offs têm de ser realizados no contexto concreto das políticas econômicas possíveis. Um caso: acredito que o monopólio de emissão de moeda pelo governo pode ser um custo a mais para a sociedade; mas, como no caso das drogas duras, fica difícil liberalizar essa área na ausência de outras condições que poderiam limitar os imponderáveis da liberalização e da competição entre as drogas (moedas). Acredito, por exemplo, que a taxa de juros de referência deveria deixar de ser fixada pelo governo, passando a ser a de equilíbrio dos mercados, como no caso do câmbio; mas aqui sabemos, também, que os governos intervêm no preço externo da moeda (seja para perseguir objetivos próprios, anti-inflacionários, por exemplo, ou a favor de certos lobbies, como o dos exportadores). Ponto para os juros livres, em todo caso...

Sou radicalmente a favor do corte (ou melhor, da eliminação) de impostos e, obviamente, da redução radical dos gastos do governo; mas sei que isso teria enormes dificuldades de implementação, dada a rede de programas legais já existentes, que obrigam o estado a ser um gastador compulsivo (tanto consigo mesmo, como com corporações que virtualmente assaltam o estado, como empresários, universitários, juízes e toda sorte de rentistas). Talvez se pudesse começar por eliminar a estabilidade no serviço público. Reconheço, porém, que esse é um passo difícil de ser dado.

Sou contra cartéis, monopólios e políticas setoriais, que aumentam nossas faturas de luz, telefone, internet, crédito ao consumidor, tudo. A regulação estatal deveria ser no sentido da máxima abertura possível; mas mesmo isso é difícil de fazer, seja por pressão dos interesses constituídos, seja pelo problema sempre difícil da transição a outro regime; acredito, porém, que se possa caminhar nessa direção. Se eu disser, publicamente, que pretenderia acabar com BNDES, Banco do Brasil, Petrobras e outras empresas públicas, provavelmente vou ser crucificado em praça pública. Mas ainda assim vou dizer: que essas empresas sejam privatizadas e disputem mercado como quaisquer outras, em um ambiente totalmente aberto à competição. Estou absolutamente seguro de que o Brasil seria um país melhor sem qualquer tipo de dinossauro estatal, por mais produtiva ou "estratégica" que seja a empresa: de fato, isso não existe em economia e a única coisa verdadeiramente estratégica, na vida de uma nação, é a boa educação de todos os seus cidadãos.

Não preciso dizer que sou contra qualquer forma de protecionismo e a favor da maior abertura ao capital estrangeiro, sugestão passível de esquartejamento nas academias e nas praças. Provas existem de que os países mais abertos são, também, os mais prósperos e avançados no plano tecnológico e cultural. Os políticos conspiram contra esse objetivo, mas acredito que se deveria formar uma liga de economistas a favor da liberdade de mercados, como na Inglaterra vitoriana aquela a favor do livre comércio. Desconfio, porém, que não teríamos muitos aderentes, tão forte é a crença nos mitos keynesianos (equivocados, aliás, posto que Keynes era um liberal, tendo sido a favor das restrições ao livre fluxo de capitais no contexto da crise de moedas nos anos 1930 e dos desastres econômicos vividos então pela Grã-Bretanha).

No mesmo compasso, sou totalmente favorável à globalização e à interdependência econômica universal, mas também acredito que não teria sucesso qualquer chamado a uma manifestação a favor da globalização. Esse é, aliás, o aspecto que mais me choca nessas marchas de alternativos contra a globalização e a liberalização comercial: como é que pessoas medianamente educadas, ao menos todas alfabetizadas, algumas até universitárias, conseguem ser contra a universalização do progresso, e defender idéias regressistas e até reacionárias? Acredito que seja uma mistura de ingenuidade com ignorância, de um lado, e de má-fé e de manipulação de sentimentos, por outro, por parte dos órfãos do socialismo e das viúvas do comunismo. Ou seja: coisas absolutamente démodées e ancien régime. Esses jovens estão singularmente mal servidos de professores universitários, o que é uma pena.

Se ouso resumir meu mix ideal de políticas econômicas para o Brasil, minha receita poderia ser esta: liberdade cambial e de movimentos de capitais; juros de mercado (como norma legal, o que deixaria a autoridade monetária sem condições de manipular os juros, e também, portanto, sem poder criar essas bolhas que depois são atribuídas aos mercados livres); conversibilidade da moeda nacional; ausência completa de bancos públicos e de financiadores oficiais para setores que produzem bens de mercado, preservando-se o financiamento público para grandes obras de infraestrutura e alguns (poucos) projetos sociais; pouquíssimas políticas setoriais, limitadas à formação de recursos humanos, pesquisa de ponta (estritamente definida) e, claro, educação universal de boa qualidade; previdência unificada com base em um regime de capitalização (e não de repartição, como atualmente), anulação dos privilégios existentes, sem quaisquer regimes especiais; regulamentação da Lei de Responsabilidade Fiscal, que até hoje não possui um Conselho de aplicação de penas (a que muitos administradores já deveriam ter sido submetidos); eliminação dos subsídios (remanescentes) à agricultura e ampliação do seguro agrícola; abertura econômica (receptividade aos investimentos estrangeiros) e liberalização comercial, com negociação ampla de acordos de livre comércio, sem reciprocidade exigida de países da América do Sul (com redefinição do Mercosul); retomada da privatização e reforço das agências regulatórias (sobretudo assegurando-se sua independência em relação ao governo); autonomia legal do Banco Central e ampliação do Conselho Monetário para um seleto número de membros não governamentais, escolhidos dentre figuras eminentes do pensamento econômico (mediante prévia aprovação do Senado); desmantelamento de todo e qualquer cartel informal, sobretudo nas telecomunicações.

Finalmente, eu também acabaria com as televisões públicas (as educativas seriam geridas por fundações independentes), com a “Hora do Brasil” e com todo e qualquer gasto governamental em publicidade, extinguindo-se o “ministério da propaganda oficial” e todas as secretarias de comunicação de governos. A economia financeira talvez seja pequena, mas a despoluição comunicativa seria enorme.
Como se pode constatar, eu sou um sonhador incurável...

Debate enviesado: aborto e eleicoes - Sergio Fausto

Artigo sensato sobre um tema sensível. Pessoalmente, creio que deveria haver um pequeno avanço, controlado, nessa questão do aborto, mas reconheço a extrema sensibilidade do tema para certas correntes religiosas. Como, porém, acredito que dogmas religiosos não devem ser impostos ao conjunto da sociedade, entendo que o assunto deva ser exaustivamente debatido no local apropriado; ou seja: o Parlamento.
Os presidentes simplesmente não podem ter a sua opinião transformada em lei.
O "debate" atual, portanto, é totalmente inoportuno e indesejado.
Eu mesmo não tenho opinião formada sobre o que autorizar, em que etapa, sob quais condições. Eu seria pela continuidade do sistema atual, com assistência às grávidas para conduzir o processo já com adoção garantida do nascituro, ou seja, desde que uma mulher se inscrevesse num programa de "gravidez indesejada", ela não seria dirigida a uma clínica de aborto, e sim a um serviço de assistência à gravidez, já com o compromisso jurídico de perda do "pátrio poder" (neste caso poder materno) e a entrega imediata do bebê nascido a um casal inscrito para receber criança adotiva.
Eu seria por um programa desse tipo. Mas creio que o melhor é um debate ponderado a respeito, sem as vozes vociferantes dos que são contra ou a favor dogmaticamente.
Paulo Roberto de Almeida

Crença religiosa e manipulação política
Sergio Fausto
O Estado de São Paulo, 10 outubro 2010

Já na etapa final do primeiro turno e mais ainda neste início de segundo turno, há uma corrida para tranquilizar os eleitores evangélicos e católicos que temem a descriminalização do aborto. Fala-se em defesa dos “valores da vida”, expressão enigmática que visa a estigmatizar quem ouse pôr em dúvida um dogma religioso segundo o qual a vida tem início no ato da fecundação do óvulo por um espermatozoide.

Em nome desse dogma, produziu-se uma chantagem eleitoral: quem não rezar o credo da criminalização do aborto será punido com a perda de uma fatia de eleitores que pode ser decisiva para a vitória ou a derrota. Em cena patética, candidatos desdizem o que disseram ou se esmeram em reforçar supostas credenciais conservadoras na matéria. Um dos partidos, segundo a imprensa, se dispõe a rasgar parte do programa de sua candidata. Todos amedrontados pela ameaça do voto religioso, mais temível do que as próprias labaredas do inferno. Covardia cívica de quem anonimamente alimenta as baterias do dogmatismo e de quem se dobra e se desdobra para se ajustar ao figurino conservador, mesmo que lhe caia mal.

A manipulação de crenças religiosas para fins político-eleitorais é um veneno para a democracia e uma ameaça ao Estado laico. Crenças religiosas fundam-se em dogmas e sustentam valores absolutos. A liberdade humana, nessa esfera, restringe-se a aderir, pela fé, aos valores professados ou rejeitá-los. Se a religião é uma esfera de verdades absolutas, a democracia é um espaço de verdades parciais, sujeitas ao contraditório e ao compromisso entre valores e interesses distintos. O debate público democrático é permeado pela emoção, mas não se fecha à análise racional dos dilemas que surgem quando valores absolutos abstratos se chocam contra o chão duro da realidade. No caso em pauta, se, de um lado, não há evidência de que a descriminalização aumente o número de abortos realizados, de outro, sobram evidências de que os abortos feitos em clínicas clandestinas ou por conta própria são causa importante de morte, doença e esterilidade entre as mulheres mais pobres. De que lado estão os “valores da vida”?

A relativa separação entre a esfera da religião e a da política é uma conquista da civilização ocidental. Acreditava-se que estivesse consolidada na maioria dos países do Ocidente, mas a História recente mostrou que não, em especial nos Estados Unidos. Lá, a partir dos anos 80 do século passado, cresceram e organizaram-se politicamente as denominações evangélicas não tradicionais. Multiplicaram-se os “pastores eletrônicos” e seus programas nos meios de comunicação de massa. Os novos evangélicos passaram a representar cerca de 30% da população, com um peso ainda maior no eleitorado, dado o seu maior comparecimento às urnas. Conquistaram o Partido Republicano e elegeram um dos seus, George W. Bush, para a presidência da República. Na Casa Branca, ele congelou as verbas federais para pesquisas com células-tronco embrionárias, defendeu a reza na escola pública, atacou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, lançou o país a uma aventura no Iraque como se fosse um cruzado liderando a civilização cristã. Vinte anos antes, as denominações evangélicas fundamentalistas pareciam ser um fenômeno politicamente inofensivo…

No Brasil, é crescente a proporção de pessoas que se declaram evangélicas. Além de conforto espiritual, elas encontram na igreja uma comunidade religiosa que lhes oferece proteção contra as adversidades e as ajuda a progredir materialmente na vida, pela rede de relações que estabelecem. E isso é muito bom. Tenha-se ou não crença religiosa, nenhum de nós pode dispensar algum tipo de espiritualidade e inserção comunitária. Marx dizia que “a religião é o ópio do povo”, mas completava: “O suspiro da criatura oprimida, o calor de um mundo sem coração.”

Esse é o lado bom da história. O lado menos bom é o fato de que, ao contrário do catolicismo brando e sincrético da tradição brasileira, há maior fervor e dogmatismo religioso entre os evangélicos, em alguns casos com intolerância em relação às religiões afro-brasileiras, vistas como demoníacas. Pior ainda é o fato de que parte das igrejas evangélicas se tornou um obscuro e lucrativo empreendimento comercial, em que se misturam religião, política e negócio, em especial no setor dos meios de comunicação de massa.

Nos muitos programas evangélicos de televisão e rádio se ensina que o mundo se divide entre Deus, representado por Jesus, e o demônio, tão onipresente quanto aquele. Num mundo divido entre o Bem e o Mal, não há liberdade de escolha possível para as pessoas de bom caráter. Afinal, quem será pelo demônio? Só os maus.

Em matéria de liberdade de escolha, a Igreja Católica não fica atrás. Basta pensar na longa lista de interditos: preservativos, sexo antes do casamento, para não falar em casamento entre pessoas do mesmo sexo. Tudo isso em nome dos “valores da vida e da família”, como se vida e família não fossem construções humanas que admitem grande variação na forma como são vistas e vividas. O Estado laico e democrático existe para assegurar essa pluralidade e para permitir a convivência entre crenças e preferências diferentes.

O tema do aborto não foi trazido ao debate político para ser esclarecido e debatido a sério. Ninguém o propôs abertamente. Surgiu sub-repticiamente, por oportunismo eleitoral. E tem merecido uma resposta não menos oportunista. Pode ser que renda os frutos eleitorais pretendidos, pode ser que não. Substantivamente, trata-se de muito barulho por nada, já que nenhum presidente ou presidenta da República, não importa quão grande seja sua maioria no Congresso, terá condições de impor a sua opinião em matéria tão sensível.

Não quer dizer que ela não deva ser discutida. Mas não agora, não desse jeito.