O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Economia brasileira (2): ops!, uma ma' notícia...


Se ouso apenas comentar um aspecto, seria este: o tal de Fundo Soberano não é bem um fundo, nem é sequer soberano, pois não resulta nem de superávit fiscal, nem de transações correntes, e sim dinheiro retirado do orçamento e usado dessa forma, para manipular as contas públicas. Diga-se de passagem que ele foi seriamente diminuído pelas más aplicações que o governo fez num único cesto de ovos: a Petrobras.

Paulo Roberto de Almeida 

Governo manobra contas públicas com antecipação de dividendos de 2013

Caixa antecipou pagamentos de dividendos para o governo poucos dias depois de ter recebido um aporte de capital de R$ 1,5 bilhão 

Adriana Fernandes, de O Estado de S. Paulo
05 de setembro de 2012 | 22h 49

BRASÍLIA - Sem alarde, o governo colocou em curso uma manobra para facilitar o cumprimento da meta de superávit primário (diferença entre receitas e despesas não financeiras) das contas do setor público em 2012. Um decreto e duas portarias publicados nos últimos dias permitiram que a Caixa Econômica Federal e o BNDES transferissem R$ 4,5 bilhões aos cofres do Tesouro Nacional em agosto, a título de resgate antecipado de títulos que venceriam em 2027 e 2035.
Esses títulos foram usados para que os dois bancos públicos pagassem antecipadamente dividendos à União que, na prática, só deveriam ser recolhidos no ano que vem. Assim, as receitas que ingressaram nos cofres do Tesouro no mês de agosto de 2012 receberam um reforço de R$ 4,5 bilhões, contribuindo para elevar o superávit. A Caixa entregou R$ 1,49 bilhão e o BNDES mais R$ 3,06 bilhões de papéis.
No caso da Caixa, a antecipação de dividendos ocorreu poucos dias depois de o banco haver recebido um aporte de capital de R$ 1,5 bilhão. O dinheiro para isso saiu do Fundo Soberano, onde estão aplicados recursos do Tesouro. Do ponto de vista contábil, essa operação não foi registrada como nova despesa, portanto não reduziu o superávit. Assim, o dinheiro da União foi para a Caixa e voltou, mas de uma forma que aumentou o resultado fiscal.
Com essa antecipação de receitas futuras, a equipe econômica volta a tirar "coelhos da cartola" para conseguir receitas adicionais e tentar fechar o ano com o cumprimento da meta integral de superávit primário, de R$ 139,8 bilhões – compromisso que vem sendo defendido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para facilitar a queda dos juros pelo Banco Central.
Para possibilitar a manobra, a presidente Dilma Rousseff editou um decreto na semana passada, flexibilizado as regras para a União receber mais dividendos do BNDES. O decreto permitiu que a conta do BNDES que era destinada apenas ao aumento de capital fosse também usada para pagar dividendos ao Tesouro. Até então, os dividendos eram retirados somente do resultado do lucro apurado.
"Fator de ajuste". O governo já havia avisado que usaria o recolhimento de dividendos das estatais como "fator de ajuste" das receitas, após a arrecadação federal haver ficado abaixo do esperado nos primeiros meses do ano. A despeito da perspectiva de menor lucratividade das estatais, a previsão das receitas com dividendos em 2012 foi elevada de R$ 19,8 bilhões para R$ 26,5 bilhões. Até julho, no entanto, o governo havia recebido R$ 10,3 bilhões em dividendos ante R$ 11,8 bilhões arrecadados no mesmo período do ano passado.
A prática de fazer ajuste no superávit com os dividendos tem sido comum nos últimos anos. Mas agora os superdividendos ocorrem num cenário em que as três principais empresas geradoras dessas receitas para a União – BNDES, Banco do Brasil e Petrobras – tiveram quedas fortes nos seus lucros no primeiro semestre, diz o economista Fernando Montero, da Convenção Corretora. "Trata-se de uma manobra", afirmou. Ele acrescentou que os dividendos, sozinhos, não serão suficientes para permitir ao governo atingir a meta.
Montero diz ainda que as manobras corroem o efeito sobre expectativas que Mantega tanto insiste obter com o cumprimento da meta fiscal. Para o economista, há pouca diferença entre chegar ao fim do ano atingindo o objetivo à custa desse tipo de expediente ou entregar um resultado um pouco menor, complementado com o abatimento dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do conjunto de despesas, como prevê a lei.
Procurado pela reportagem do Estado, o Ministério da Fazenda não quis se manifestar.

Economia brasileira (1): ufa!, uma boa notícia...


WORLD ECONOMIC FORUM
THE GLOBAL COMPETITIVENESS REPORT 2012 - 2013
WEF, 05/09/2012

BRASIL SOBE 5 POSIÇÕES EM RANKING DE COMPETITIVIDADE GLOBAL
PAÍS FICOU NA 48ª POSIÇÃO, APÓS TER SUBIDO OUTROS 5 POSTOS EM 2011
SUÍÇA LIDERA RANKING HÁ 4 ANOS
EUA PERDEM POSIÇÃO PELO 4º ANO SEGUIDO

O Brasil repetiu o crescimento do ano passado e voltou a subir cinco posições no ranking de competividade global neste ano, para o 48º lugar, divulgado nesta quarta-feira (5) pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). Apesar do crescimento, o país segue atrás de países como a China, no 29º, Chile, no 33º e Panamá, no 40º. A Suíça lidera a lista pelo quarto ano consecutivo, aponta o Relatório Global de Competitividade, que no Brasil é feito em parceria com o Movimento Brasil Competitivo e a Fundação Dom Cabral. Cingapura permaneceu em segundo lugar e a Finlândia subiu para a terceira posição, ultrapassando a Suécia, que ficou em quarto. A Holanda subiu da 7ª para a 5ª posição das economias mais competitivas. Entre o grupo países emergentes, o Brics, a China aparece em primeiro lugar no ranking, na 29ª posição, apesar de ter recuado três postos, seguida do Brasil. A África do Sul aparece na 52ª posição, a Índia, na 59ª, e a Rússia, na 67ª. Entre os Brics, apenas o Brasil subiu de posição neste ano, segundo o estudo. Na América Latina, o Chile (33º) mantém a liderança. Entre demais países que também registraram melhoria na sua competitividade estão Panamá (40º), o México (53º) e o Peru (61º).

CRISE NA EUROPA 
Apesar de a Suíça e os países do norte europeu consolidarem seu forte posicionamento competitivo desde a crise financeira de 2008, países do sul da Europa, como Portugal (49ª posição), Espanha (36ª posição), Itália (42ª posição) e principalmente a Grécia (96ª posição), continuam a sofrer com a fragilidade competitiva em termos de desequilíbrios macroeconômicos, pouco acesso a financiamentos, mercados de trabalho rígidos e um déficit de inovações.

ESTADOS UNIDOS
Os Estados Unidos perderam posição pelo quarto ano, caindo do 5º para o 7º lugar no ranking. Além do aumento das vulnerabilidades macroeconômicas, aspectos do ambiente institucional do país continuam aumentando a preocupação entre os líderes empresariais, particularmente a pouca confiança pública nos políticos e uma perceptível falta de eficiência do governo. Por outro lado, o país continua sendo uma potência global em termos de inovação e seus mercados funcionam de forma eficiente.

ÁSIA E ÁFRICA
Economias asiáticas apresentam forte desempenho entre as 20 primeiras posições: Cingapura (2ª), Hong Kong (9ª), Japão (10ª), Taiwan (13ª), China (29ª) e Coreia (19ª). No Oriente Médio e no norte da África, o Qatar (11ª) é líder na região, enquanto a Arábia Saudita continua entre os 20 primeiros colocados (18ª).  Na África Subsaariana, a África do Sul (52ª) e as Ilhas Maurício (54ª) aparecem na metade superior da classificação.

METODOLOGIA DO RANKING
O ranking do Relatório Global de Competitividade é baseado no Índice de Competitividade Global (GCI, em inglês), desenvolvido para o Fórum Econômico Mundial e introduzido em 2004, diz o WEF. O modelo engloba 12 categorias consideradas os pilares da competitividade. Juntas, elas oferecem uma ampla descrição da paisagem competitiva de um país. Os pilares são: instituições, infraestrutura, ambiente macroeconômico, saúde e educação primária, educação superior e capacitação, eficiência no mercado de bens, eficiência no mercado de trabalho, desenvolvimento do mercado financeiro, prontidão tecnológica, tamanho de mercado, sofisticação de negócios e inovação. Para o relatório deste ano, mais de 14 mil líderes empresariais de todo o mundo foram entrevistados, em 144 países, um recorde.


DOCUMENTO: http://www.weforum.org/issues/global-competitiveness


1 - Suíça
2 - Cingapura
3 - Finlândia
4 - Suécia
5 - Holanda
6 - Alemanha
7 - Estados Unidos
8 - Reino Unido
9 - Hong Kong
10 - Japão
...
48 – Brasil
(essa posição é uma boa notícia?)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Planejando a corrupcao (inclusive para tras) - Inacreditavel sofisticacao dos companheiros

Apenas transcrevendo: 


Denúncia de Ayres Brito
Newton Carlos
Tribuna da Imprensa, 03/09/2012

É grave a denúncia de Ayres Britto sobre alteração feita em projeto para favorecer mensaleiros.
Quando menos se esperava, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, surpreendeu o plenário e milhares de telespectadores, ao afirmar que um projeto de lei foi alterado propositalmente para influenciar o julgamento do mensalão e beneficiar alguns dos réus.
O ministro referia-se à lei 12.232, sancionada pelo então presidente Lula em 2010 e que trata da contratação de publicidade por órgãos públicos. Durante a tramitação na Câmara o projeto foi alterado por deputados do PT e do PR, partidos com interesse em defender os réus do mensalão.
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Como se sabe, no processo do mensalão o Ministério Público acusou a empresa de Marcos Valério de ficar com R$ 2,9 milhões de bônus que deveriam ser devolvidos para o Banco do Brasil, contratante da empresa, e o dinheiro foi desviado para abastecer o esquema de compra de votos no Congresso.
COINCIDÊNCIA
Por coincidência, mera coincidência, é claro, a tentativa de blindar os réus do mensalão começou em 2008, quando o então deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) apresentou o projeto. O texto original de Cardoso regulava, entre outras coisas, os repasses do “bônus-volume”, que são comissões que as agências recebem das empresas de comunicação como incentivo pelos anúncios veiculados. A proposta permitia que as agências ficassem com o bônus, mas era clara: a lei só valeria para contratos futuros.
No entanto, uma emenda feita na Comissão de Trabalho estendeu a regra a contratos já finalizados. O relator do projeto na comissão foi o deputado Milton Monti (SP), do PR, partido envolvido no mensalão e que tem um dos seus principais dirigentes, o deputado Valdemar da Costa Neto, que está sendo julgado no Supremo.
Durante a discussão, o então deputado Paulo Rocha (PT-PA), também réu no caso do mensalão, pediu uma semana para analisar o texto. Logo depois, Monti abriu prazo para emendas.
Também por mera coincidência, o deputado Cláudio Vignatti (PT-SC) apresentou sugestões, entre elas a que estendia a aplicação da lei a licitações abertas e a contratos em execução. Monti não só acatou a sugestão como incluiu também os contratos encerrados.
O texto seguiu a tramitação e virou lei, que foi usada em julho pelo Tribunal de Contas da União para validar a ação de Valério de ficar com os R$ 2,9 milhões. A posição do TCU, porém, foi contestada, o caso tomou ares de escândalo e a decisão foi suspensa pelo próprio TCU.
UM ATENTADO
Para o ministro Ayres Britto, a manobra “é um atentado veemente, desabrido, escancarado” à Constituição. Ele disse que a redação “foi intencionalmente maquinada” para legitimar ação pela qual réus eram acusados. Comentou que a mudança no projeto de lei é “desconcertante”. E definiu: “Um trampo, me permita a coloquialidade, à função legislativa do Estado.”
O esquema, realmente, foi montado com planejamento e precisão. Em entrevista à Folha, os deputados Milton Monti (PR-SP) e Cláudio Vignatti (PT-SC) negaram relação entre a alteração na lei e o julgamento. Vignatti disse que sugeriu mudanças a pedido de Monti para atender a Frente Parlamentar da Comunicação Social, presidida por Monti. “Não tive intenção de prejudicar ou beneficiar alguém.”
Monti confirmou que a mudança no texto foi pedida pelo setor de publicidade, porque as agências já retinham o bônus-volume: “Era uso e costume. O foi que foi feito antes estava errado? Então foi botado na lei”. Dalto Pastore, ex-presidente da Associação Brasileira das Agências de Publicidade, veio em socorro dos deputados e afirmou que a entidade pediu que a nova lei também atingisse contratos anteriores.
Detalhe: o deputado Milton Monti dá tanta importância à tal Frente Parlamentar da Comunicação Social que nem é membro titular do órgão técnico que cuida dos assuntos desse setor, a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. Parece brincadeira, mas é verdade.

Brasil-Cuba: afinidades afetivas? - Financiando o calote futuro...

Interessante a matéria abaixo, de uma agência de imprensa também detentora de afinidades eletivas, como diria Goethe.
Mas algumas precisões devem ser feitas: 
O Brasil está financiando a fundo perdido, ou seja, esses empréstimos nunca serão pagos, embora se possa dizer que o financiamento é feito em causa própria (mas sempre fica uma parte de fornecimento local, e o fato é que o dinheiro nunca vai retornar ao Brasil). Fornecimento alimentar, por princípio, é gasto corrente, ou seja, vai apenas permitir que os cubanos comam um pouco melhor do que a magra ração da sua penúria habitual das "libretas de racionamento", uma realidade dos últimos 50 anos, sem que haja, portanto, qualquer investimento produtivo. Não é certo, portanto, que o financiamento gere recursos para ser pago mais adiante. Aliás, o certo é que ele NUNCA vai gerar recursos novos para que ele seja pago, e talvez a intenção, das duas partes, seja essa mesma. Ou seja, é um "empréstimo de desespero", apenas isso.
Não é certo, por outro lado, que esse porto de Mariel venha a ser um hub local, uma vez que as relações comerciais entre o Caribe, a América central e o império estão muito bem assentadas em portos e centros comerciais muito bem estabelecidas. Cuba perdeu o bonde da história, e ficou totalmente isolada dos vínculos comerciais, como resultado do auto-isolamento das últimas décadas. Só o Brasil acredita que Mariel será um centro de comércio regional. 
Podem me cobrar dentro de poucos meses, mas já antevejo o que vai ocorrer...
Paulo Roberto de Almeida 

O presidente cubano, Raúl Castro, e o ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, acertaram nesta quinta-feira um crédito de 200 milhões de dólares de Brasília ao programa alimentar de Cuba, informou a TV estatal em Havana.
              
Raúl Castro e Fernando Pimentel conversaram "sobre o desenvolvimento ascendente das relações bilaterais e reafirmaram o propósito de trabalhar por seu contínuo fortalecimento", destacou a TV cubana.
          
Pimentel firmou com o ministro do Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro, Rodrigo Malmierca, o crédito de 200 milhões de dólares para importações do programa alimentar da Ilha.
             
"Estes recursos serão liberados em três partes - a primeira durante 2012 - e as demais em 2013, para financiar a exportação de máquinas e equipamentos agrícolas brasileiros".
             
Pimentel também visitou as obras de ampliação do porto de Mariel, 50 km a oeste de Havana, e ofereceu a Malmierca "assistência jurídica para construir o marco regulatório desta zona especial".

A ampliação do porto de Mariel é a maior obra de infraestrutura empreendida por Raúl Castro. O terminal de contentores não atenderá apenas o comércio cubano, mas a outras nações da bacia do Caribe.
              
"Temos todo o interesse em colaborar na definição deste modelo para trazer o máximo possível de empresas brasileiras", destacou Pimentel Malmierca declarou que a experiência jurídica brasileira é importante para uma maior integração das empresas do Brasil em Cuba.
              
"Oferecemos transferência tecnológica em troca de investimentos em fábricas e (a zona especial de) Mariel poderá servir para isto", disse o ministro cubano.
              
As operações portuárias devem começar em Abril de 2013, antes da conclusão das obras, fixada para Outubro do mesmo ano.
              
O Brasil financia 85% as obras - que totalizam 800 milhões de dólares - por meio do Banco de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES).

Brincando de Brics, brocs, brucs - Marcelo de Paiva Abreu


Brics, bricões e briquinhos
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 3.9.2012

Muitos analistas têm sublinhado a heterogeneidade dos países que compõem o Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com toda a razão, quando se trata do desempenho nas últimas décadas: enquanto o cerne do grupo, Índia e China, tem crescido a 8% ou 10% ao ano, as demais economias crescem a metade ou um terço disso. Fazer parte do Brics pode satisfazer a vaidade brasileira e alimentar esperanças quanto a articulações diplomáticas, mas é um erro tratar o grupo como homogêneo no que se refere aos temas essenciais.
Há, entretanto, lições úteis a extrair da comparação entre as experiências dos Brics e que explicam a heterogeneidade do seu desempenho. Nos quatro países, a estratégia econômica ao longo da história foi calcada em dois pilares fundamentais. De um lado, a ideia de que faria sentido reduzir a dependência do mundo exterior e dar prioridade à substituição de importações. De outro lado, a crença de que o Estado deveria jogar papel fundamental na economia não apenas como regulador, mas também como provedor de bens e serviços.
Na Rússia, a ênfase em autarquia e Estado precedeu a União Soviética. Já na Rússia czarista, a partir do final do século 19, o modelo econômico foi calcado em ação do Estado e substituição de importações. Depois de 1917, essa ênfase foi levada ao extremo. Na Índia, após período relativamente liberal entre a independência, em 1947, e a morte de Nehru, no início da década de 1960, o modelo enfatizou os mesmos alicerces até o fim dos anos 1980. Na China pré-1980, o modelo socialista ortodoxo combinava em versões extremas a intervenção do Estado e a autarquia. O isolamento da África do Sul sob o apartheid implicou que, antes de 1994, a estratégia econômica dependesse da minimização à exposição externa e de alto grau de interferência do Estado na atividade econômica.
No Brasil, a partir de meados do século 19, houve continuidade na estratégia econômica que combinava autarquia e intervenção estatal. Desde cedo no Império, as tarifas de importação eram muito altas, inicialmente justificadas por razões fiscais, mas depois claramente protecionistas. Na Primeira República, as políticas públicas deixaram de ter como alvo a correção de falhas de mercado em relação à atração de imigrantes e investimento direto estrangeiro e partiram para a administração dos preços de café, explorando o poder de mercado brasileiro. Com a grande depressão, somou-se o controle cambial à tarifa alta. Em 1944, na famosa controvérsia Gudin-Simonsen prevaleceu, na prática, a visão de Simonsen - a despeito de suas fragilidades analíticas - quanto à centralidade dos pilares calcados em autarquia e Estado.
Essa visão sobreviveu galhardamente ao golpe militar e começou a ser erodida na década de 1980 em meio de altíssima inflação combinada à estagnação. As reformas de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, baseadas em visão crítica da potencialidade de longo prazo dos pilares tradicionais, promoveram a abertura comercial e a privatização. Mas o que se tem visto desde 2003, e ainda mais desde 2011, é uma regressão às visões mais primitivas de estratégia econômica calcada em proteção alta e aumento do peso do Estado.
Nas economias mais dinâmicas do Brics - Índia e China -, o que se vê é exatamente o contrário da experiência brasileira no período recente. Na Índia, desde o final dos anos 1980, e na China, desde o final da década de 1970, houve verdadeiras revoluções quanto à abertura dos mercados, a expansão das exportações, atração de capitais estrangeiros e redução do peso do Estado na economia. Nos dois casos houve aumento significativo da formação bruta de capital fixo e, consequentemente, das taxas de expansão do PIB. A formação bruta de capital fixo na Índia tem sido da ordem de 35% do PIB, saindo de um patamar, nos anos 1980, apenas um pouco melhor do que os atuais míseros 17% do Brasil. Na China, o número estaria em torno de 45%, embora haja significativas distorções de medida provavelmente significativas. Mesmo nos membros do Brics menos bem-sucedidos, Rússia e África do Sul, nos quais a abertura das economias e a redução do peso do Estado mereceram ênfase bem menor, a formação bruta de capital fixo tem sido da ordem de 23%. Além disso, sempre é bom relembrar que a tara nacional com relação à manutenção de altos índices de conteúdo nacional nas compras feitas, diretas ou indiretamente, pelo governo faz com que aos baixos níveis de investimento corresponda expansão da capacidade ainda mais limitada, em vista do encarecimento dos bens de capital.
Impressiona a teimosia do Planalto em deixar de reconhecer que a atual estratégia brasileira de crescimento apenas assegura que a economia alterne voos de galinha com pousos forçados. A estratégia que poderia superar a mediocridade do desempenho econômico do País deveria, com o benefício das lições que podem ser extraídas das experiências da China e da Índia, ser baseada na retomada da abertura gradual do mercado brasileiro, na reversão da nova onda estatizante e no aumento da poupança doméstica. Só então seria possível pensar em deixarmos de ser briquinho.

*Doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio

Bolsas nos EUA: doutorandos em Humanidades

Edital do Programa - ESTÁGIO DE DOUTORANDO DAS CIÊNCIAS HUMANAS, CIÊNCIAS SOCIAIS, LETRAS E ARTES NO EUA: 2013-2014.

Este ano o programa é direcionado para estudantes de doutorado no Brasil nas áreas das ciências humanas, ciências sociais, letras e artes. Os candidatos, de comprovado desempenho acadêmico, deverão apresentar projetos de pesquisa de excelência para serem desenvolvidos, parcialmente, em uma instituição norte-americana. O programa prevê a concessão de até 30 bolsas, com duração de nove meses, entre agosto/setembro de 2013 e abril/maio de 2014.

A Comissão Fulbright poderá oferecer um curso de língua inglesa nos EUA, segundo o nível de proficiência de inglês do bolsista. Esta avaliação é feita pela Comissão Fulbright.

Link do Edital:

Responsável pelas informações:

Comissão Fulbright
Ed. Casa Thomas Jefferson
SHIS QI 09, Conj. 17, Lote L
Brasília-DF, 71.625-170
Fone: (61) 3248-8614
Fax: (61) 3248-8610

Aprofundando o protecionismo: aumentam tarifas de 100 itens

O governo é realmente engraçado: ele autoriza, diretamente, o aumento dos preços dos produtos e depois diz que vai monitorar para não haver aumento.
Alguém acredita nisso?
A razão alegada é para proteger a produção local. Ou seja, o governo pune os consumidores, que somos todos nós, para que fiquemos contentes, ufanistas e patrioteiros, consumindo produtos brasileiros mais caros.
Que gracinha de governo...
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil eleva Imposto de Importação para 100 produtos

Guido Mantega afirmou, contudo, que os preços desses itens serão monitorados e, se houver reajuste de preços, o governo derrubará imediatamente as alíquotas que foram aumentadas

04 de setembro de 2012 | 17h 59
Renata Veríssimo, da Agência Estado
BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou a elevação do Imposto de Importação para 100 produtos. No entanto, ele afirmou que os preços domésticos desses itens serão monitorados e, se houver reajuste de preços, o governo derrubará imediatamente as alíquotas que foram majoradas. Entre os setores beneficiados estão o de siderurgia, petroquímica, química fina, medicamentos e bens de capital, disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. 
"Se houver aumento de preços, vai criar inflação. E não queremos isso", afirmou Mantega. Ao ser questionado se a medida seria suficiente para ajudar os setores afetados pela concorrência internacional, o ministro da Fazenda destacou que o Brasil já tem o câmbio mais favorável, tem promovido redução de tributos, além de juros menores. De acordo com ele, o aumento das alíquotas do Imposto de Importação se soma a estes outros fatores e se espera que a indústria produza mais. A alíquota, no geral, vai a 25%.
Em função da crise internacional, os países do Mercosul aprovaram a criação de uma lista de exceção à Tarifa Externa Comum (TEC) para proteger os mercados domésticos da concorrência dos importados. O Brasil aprovou hoje os primeiros 100 produtos, mas em outubro deve concluir a lista, atingindo os 200 itens permitidos.
Entre os produtos, estão pneus, batata, tijolos, vidros, vários tipos de máquinas, reatores para lâmpadas ou tubos de descarga, aparelho de raio x, vagões de carga, disjuntores, centros de usinagem, cordas e cabos, móveis, e alguns princípios ativos para medicamentos.
Este lista de exceção, por ser uma medida protecionista, só permite a elevação do Imposto de Importação. Paralela a ela, cada país do Mercosul continuará com outra lista de exceção de 100 produtos, pela qual cada nação pode elevar ou reduzir o Imposto de Importação cobrado de produtos de países fora do bloco.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Venezuela: caudilho generoso (com o dinheiro dos cidadaos)


Elecciones Presidenciales 2012

Venezuela: Capriles dice que Chávez “regaló” a otros países casi 170.000 millones de dólares

Infolatam/Efe
Caracas, 3 de septiembre de 2012
Las claves
  • Según Capriles, Chávez entrega "alrededor de 7.000 millones de dólares (...) todos los años a otros países".
  • Criticó, igualmente, que la producción petrolera "no ha aumentado", a pesar de que, según dijo, el Gobierno había ofrecido que para esta fecha debía alcanzar alrededor de "5 millones de barriles de petróleo".
El candidato de la oposición a la Presidencia venezolana, Henrique Capriles, acusó al Gobierno del mandatario Hugo Chávez de haber “regalado” casi 170.000 millones de dólares a otros países sin pensar en los problemas de Venezuela.
“Estamos hablando de alrededor de 730.000 millones de bolívares (169.767 millones de dólares) en regalos a otros países”, puntualizó el aspirante de la oposición en un acto para presentar su propuesta para infraestructura y viviendas.
Capriles, un abogado y exgobernador de 40 años, consideró que “regalar” los “recursos del petróleo” es “inaceptable” con “todos los problemas” por resolver que hay en Venezuela y aseguró que si gana las elecciones del 7 de octubre no regalará “ni una gota”.
“En este país no se va a regalar en el futuro ni una gota de petróleo, aquí hay muchos problemas que resolver”, agregó el líder opositor, quien prometió que, de llegar al poder, cumplirá 22.000 obras de infraestructura en sus primeros 100 días de gestión.
Según Capriles, Chávez, de 58 años, en el poder desde 1999 y candidato a su tercera reelección consecutiva, entrega “alrededor de 7.000 millones de dólares (…) todos los años a otros países”.
“Con esos 7.000 millones de dólares que regala el Gobierno a otros países, que no los invierte en la solución de los problemas de los venezolanos, fíjese todo lo que hubiésemos podido hacer: 440.000 viviendas ó 2.100 escuelas ó 500 hospitales”, señaló Capriles.
Mencionó que “se le regalaron a Uruguay 20 millones de dólares para un hospital”, ambulancias a Bolivia, equipos para personas con discapacidad en Ecuador, “viviendas en otros países” y plantas eléctricas en Nicaragua por “223 millones de dólares”.
Criticó, igualmente, que la producción petrolera “no ha aumentado”, a pesar de que, según dijo, el Gobierno había ofrecido que para esta fecha debía alcanzar alrededor de “5 millones de barriles de petróleo”.
“Estamos produciendo menos que en los años 70″, agregó.
Al aludir a algunas deficiencias, Capriles afirmó que “cuatro millones de venezolanos no reciben regularmente agua directa”, que aproximadamente 700.000 jóvenes quedan fuera del sistema escolar por no tener escuelas y que el 70 % de las carreteras y 90 % de los puentes en el país se encuentran en mal estado.
Prometió, en ese contexto, que, de llegar al poder en caso de ganar las elecciones presidenciales del próximo 7 de octubre, impulsará “más de 22.000 obras sociales que se empezaran a ejecutar en los primeros 100 días de Gobierno”.

Un souvenir pour... Chateaubriand (bon anniversaire)

Um leitor amigo me lembra que hoje, 4 de setembro é o aniversário natalício do grande Chateaubriand, um personagem que aprendi a admirar, infelizmente, muito tarde. Mas nunca é tarde para começar a lê-lo, e a prestar-lhe esta singela homenagem.
Se ele estivesse vivo, estaria completando, hoje, 264 anos.
Feliz aniversário mon cher François-René.

Aqui o que já postei anteriormente sobre ele, quando estava em Paris, justamente: 


Quand je me regarde, je me désole...
Quand je me compare, je me console...


La vie me sied mal; la mort m'ira peut-être mieux.

Chateaubriand, Mémoires d'Outre-Tombe, Préface testamentaire de 1833.




'François-René de Chateaubriand', pintura de Anne-Louis Girodet de Roussy-Trioson

François-René de Chateaubriand (nome completo François René Auguste de ChateaubriandSaint-Malo4 de Setembro de 1768 — Paris4 de Julho de 1848), também conhecido como visconde de Chateaubriand, foi um escritor, ensaísta, diplomata e político francês que se imortalizou pela sua magnífica obra literária de carácter pré-romântico. Pela força da sua imaginação e o brilho do seu estilo, que uniu a eloquência ao colorido das descrições, Chateaubriand exerceu uma profunda influência na literatura romântica de raiz europeia, incluindo a lusófona. (Wikipedia)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Souvenirs de Paris (académiques, de travail)

Minha última aula em Paris, um dia antes de embarcar, na Maison des Sciences Économiques, no Boulevard de l'Hopital, perto da Place d'Italie, uma aula sobre os organismos econômicos internacionais, para um curso de verão para alunos estrangeiros em Paris.
Ganhei um livro sobre as obras de arte da Sorbonne espalhadas pelos museus de Paris.
Guillermo Hillcoat, um argentino vivendo em Paris desde várias décadas,  me presenteou.
Sai um pouco mais carregado (pois já tinha despachado 14 petits paquets com livros) e estava levando seis malas pesadas), mas contente.
À la prochaine...
Paulo Roberto de Almeida