O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

A frase da semana: nao desistir, sempre perseguir os seus sonhos...

QUOTATION OF THE DAY

"I have three messages. One is we should never ever give up. Two is you never are too old to chase your dreams. Three is it looks like a solitary sport but it takes a team."
DIANA NYAD, upon completing a swim from Cuba to Florida after five attempts over 35 years.
The New York Times, September 3, 2013

Creio que a frase se aplica a qualquer outro empreendimento, inclusive os puramente intelectuais, como os a que eu me dedico.
Paulo Roberto de Almeida

Em tempo: Diana Nyad tem 64 anos...

Ainda a novela bolivariana... cada vez mais enrolada, e deprimente - Augusto Nunes

Sem comentários...

Augusto Nunes, 2/09/2013

“O caso da retirada de um senador de uma embaixada brasileira e sua condução sem garantias ao território brasileiro é um fato grave e que está sendo apurado”, miou o novo chanceler Luiz Alberto Figueiredo nesta sexta-feira, ao baixar no Suriname para acompanhar a presidente Dilma Rousseff na reunião da Unasul. Fato grave foi o desprezo pelas convenções internacionais reiterado por Evo Morales, que se negou a emitir o salvo-conduto devido a um político oposicionista asilado na embaixada brasileira. Fato grave foi a submissão do Planalto à insolência de um tiranete que trata o Brasil como um grandalhão pusilânime. Previsivelmente, o ministro das Relações Exteriores acha que fato grave foi a libertação de Roger Pinto Molina ao fim de 15 meses de clausura num cubículo.
Na abertura da coluna publicada na edição de VEJA, o jornalista J. R. Guzzo faz um brilhante resumo da ópera (irretocavelmente analisada no restante do texto, que pode ser lido na revista). Confira a introdução. Volto em seguida.

O servidor público mais detestado pelo governo da presidente Dilma Rousseff no presente momento é um tipo de ser humano raríssimo de encontrar no mundo de hoje ─ um homem de bem. Seu nome é Eduardo Saboia. Sua profissão é diplomata de carreira, em serviço no Itamaraty. Tem 45 anos de idade, mais de vinte na ativa e era, até a semana passada, encarregado de negócios na Embaixada do Brasil em La Paz, na Bolívia. Não há, na sua ficha criminal, nenhuma nota de reprovação.
Ele acaba de ser afastado do posto, vai responder a uma comissão de inquérito no Itamaraty e tem pela frente, provavelmente, uma sucessão de castigos que promete mantê-lo num purgatório profissional até o dia em que se aposentar. Não podem botá-lo na rua, como gostariam, porque exerce função de estado e a lei não permite que seja demitido ─ mas entrou para a lista negra da casa e parece improvável que saia dela enquanto valores como justiça, decência e integridade continuarem vetados no Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Saboia cometeu um delito que Dilma, seu assessor internacional Marco Aurélio Garcia, intendente-geral do Itamaraty, e os principais mandarins do PT não perdoam: teve a coragem de cumprir um dever moral. 

Aí está, em sua essência, a explicação para os chiliques presidenciais que começaram no dia 24, quando Dilma soube da operação que enfureceu o Lhama-de-Franja, e atravessaram a última semana de agosto. O surto de cólera atingiu sucessivamente o chanceler Antonio Patriota, o embaixador Marcel Biato, o senador Pinto Molina e, com especial intensidade, o diplomata que ousou desafiar o companheiro Evo Morales. Por não ter descoberto e abortado o resgate, Patriota foi rebaixado a chefe da representação na ONU. Por ter acolhido o parlamentar boliviano quando comandava a embaixada em La Paz, Marcel Biato viu cancelada sua iminente transferência para Moscou. Por ter chegado ileso ao país que lhe garantira a sobrevivência, o senador boliviano foi punido com a cassação do status de asilado político.
E Saboia, por ter feito o que devia, vai percorrendo as estações do calvário previsto no artigo de J. R. Guzzo. Cumprir um dever moral é mais que perigoso. Segundo o estatuto do grande clube dos cafajestes, é crime hediondo. Em vez de averiguar as patifarias jurídicas e diplomáticas de Morales, uma comissão de sindicância montada pelo governo federal caça pretextos para implodir a carreira de Saboia. Na cabeça despovoada de neurônios, o homem decente é um traidor da causa. E o vilão merece o tratamento de herói ultrajado, informou o encontro entre Dilma e Morales no sarau em Paramaribo.
Vejam a foto. A presidente brasileira contempla o vigarista de estimação com o olhar da debutante prestes a dançar a valsa com o padrinho que aparece toda noite na novela da Globo. O casal segura dois bonecos manufaturados que Morales deu de presente a Dilma. Ela retribuiu com um quadro e, na conversa a dois, com a cena de vassalagem explícita pressurosamente divulgada pelo chanceler Figueiredo. Assim que as portas se fecharam, contou o novo porta-voz de Marco Aurélio Garcia, a presidente manifestou ao parceiro seu “repúdio” à operação arquitetada e conduzida por Eduardo Saboia. “Repúdio completo”, acrescentou o chanceler. Para tamanha vileza, só um substantivo não basta.
Os  afagos retóricos desnudaram de novo a rainha de araque. O que Dilma e Morales queriam era induzir Pinto Molina a compreender que seu cativeiro só seria interrompido pelo suicídio, pela loucura ou pela rendição. Teriam vencido se não surgisse em seu caminho um diplomata sem medo. Foram derrotados por um homem disposto a cumprir seu dever. Não conseguirão devolver o senador ao governo boliviano. Quem promoveu a asilado político um Cesare Battisti, assassino condenado à prisão perpétua na Itália democrática, não se atreverá a entregar um perseguido sem direito a um julgamento justo. Resta a Dilma Rousseff, sempre orientada por seu chanceler portátil Marco Aurélio Garcia, insistir no cerco a Eduardo Saboia.

A dupla deixaria de sonhar com vinganças se fosse homenageada com uma exclusiva, pessoal e intransferível manifestação de rua. Mas ninguém sabe onde andam os indignados de junho

Para terminar a noite: cada coisa que eu recebo...

Perdida:


professor sou aluna de contabilidade 3 semestre faculdade evangelica de Xxxxxxxx faltei a primeira aula, gostaria de saber o que é pra ser feito com as apostilas que foram enviadas para os alunos, por favor me responda, faltei a primeira aula.

Essas coisas só acontecem comigo?
Paulo Roberto de Almeida 

Pausa para... Alerta! Terroristas no cenario. Preparar prontidao...

ALERTS TO THREATS IN 2013 EUROPE
From JOHN CLEESE

The English are feeling the pinch in relation to recent events in Syria and have therefore raised their security level from "Miffed" to "Peeved." Soon, though, security levels may be raised yet again to "Irritated" or even "A Bit Cross." The English have not been "A Bit Cross" since the blitz in 1940 when tea supplies nearly ran out. Terrorists have been re-categorized from "Tiresome" to "A Bloody Nuisance." The last time the British issued a "Bloody Nuisance" warning level was in 1588, when threatened by the Spanish Armada.

The Scots have raised their threat level from "Pissed Off" to "Let's get the Bastards." They don't have any other levels. This is the reason they have been used on the front line of the British army for the last 300 years.

The French government announced yesterday that it has raised its terror alert level from "Run" to "Hide." The only two higher levels in France are "Collaborate" and "Surrender." The rise was precipitated by a recent fire that destroyed France 's white flag factory, effectively paralyzing the country's military capability.

Italy has increased the alert level from "Shout Loudly and Excitedly" to "Elaborate Military Posturing." Two more levels remain: "Ineffective Combat Operations" and "Change Sides."

The Germans have increased their alert state from "Disdainful Arrogance" to "Dress in Uniform and Sing Marching Songs." They also have two higher levels: "Invade a Neighbour" and "Lose."

Belgians, on the other hand, are all on holiday as usual; the only threat they are worried about is NATO pulling out of Brussels ..

The Spanish are all excited to see their new submarines ready to deploy. These beautifully designed subs have glass bottoms so the new Spanish navy can get a really good look at the old Spanish navy.

Australia, meanwhile, has raised its security level from "No worries" to "She'll be right, Mate." Two more escalation levels remain: "Crikey! I think we'll need to cancel the barbie this weekend!" and "The barbie is cancelled." So far no situation has ever warranted use of the last final escalation level.

Regards,
John Cleese ,
British writer, actor and tall person

And as a final thought - Greece is collapsing, the Iranians are getting aggressive, and Rome is in disarray. Welcome back to 430 BC.

A grande polemica: insubordinado ou heroi? - uma reportagem cheia de falhas de Zero Hora

Quem escreveu a matéria conhece pouco o Itamaraty e os procedimentos diplomáticos: cheia de falhas, só vai transcrita aqui para fins de registro, não porque tenha qualidade...
Paulo Roberto de Almeida

Zero Hora, 31/08/2013 | 15h05

Atuação de Eduardo Saboia na remoção de Roger Pinto divide o Itamaraty
Colegas do pivô de crise se opõem entre quem vê ação humanitária e quem critica quebra de regras

Muito mais do que crise, o Itamaraty vive, neste momento, aquilo que no Rio Grande do Sul se convencionou chamar pelo neologismo de "grenalização" — uma intensa polarização.
O foco da polêmica a dividir nossa diplomacia tem nome, idade e profissão definidos, mas situação indefinida: o diplomata Eduardo Saboia, 46 anos, que é alvo de sindicância do governo.
O que fez Saboia? Retirou o senador oposicionista Roger Pinto da Bolívia, supostamente sem avisar seus superiores. Pinto estava havia um ano e três meses refugiado na embaixada do Brasil em La Paz. Percorreu 1,6 mil quilômetros, em 22 horas, até chegar ao Brasil, onde pretende se asilar e viver junto à família, que já está em Brasileia (AC). Responde a 20 processos, incluindo corrupção e até homicídio. Foi também quem incomodou autoridades ao vinculá-las com o narcotráfico. Por isso, se diz um perseguido.
O episódio se presta a polêmicas. A primeira que surgiu, de ordem semântica, foi: Pinto é foragido ou refugiado? A Bolívia diz que é foragido. As autoridades brasileiras estudam o caso para estabelecer a definição mais apropriada. A outra se centra na figura do diplomata brasileiro. Colegas dele até brincam com seu sobrenome, que se antecipou à reforma ortográfica da língua portuguesa — Saboia sem acento — assim como ele se antecipou à tibieza do Itamaraty.
Há dois grupos basicamente divididos desta maneira em relação à atuação de Saboia no "caso Pinto":
1) Positiva: Pinto estava havia muito tempo trancafiado na embaixada brasileira em La Paz. Deprimido, falava em suicídio. O governo boliviano se recusava a dar-lhe salvo-conduto para se asilar no Brasil. Havia uma situação-limite, e imperava o imobilismo. Saboia diz que agiu como agiu por questões superiores, humanitárias. Muitos diplomatas creem que, com isso, resgatou a altivez do Itamaraty.
2) Negativa: Saboia descumpriu princípios básicos da conduta diplomática ao agir de forma isolada e temerária, supostamente colocando a vida de Pinto em risco. Não teria consultado seus superiores para pegar o carro com o senador e ainda se fez acompanhar de dois fuzileiros navais, a fim de retirá-lo da embaixada. Isso abriria um precedente perigoso. Mais: provocou uma crise com a Bolívia.
Foi Saboia e Pinto colocarem seus pés do lado brasileira da fronteira, e se instaurou a polêmica pelos corredores nervosos do Itamaraty. Ouviam-se, quase que imediatamente, as expressões "corajoso", "Dom Quixote", "exemplo" e "herói". E uma recriminação à cúpula da diplomacia nacional: o nome de Saboia não deveria ter sido divulgado em nota à imprensa, contrariando o costume de omitir a identidade do diplomata para não expô-lo. Horas depois, as decisões do governo provocaram mais desconforto e comentários de corredores no Itamaraty. Primeiro, a demissão do chanceler Antonio Patriota. Depois, a criação de uma comissão mista para tocar adiante a sindicância. A comissão será presidida pelo auditor fiscal Dionísio Carvalhedo Barbosa com os embaixadores Clemente de Lima Baena Soares e Glivânia Maria de Oliveira.
A insatisfação com a saída de Patriota foi grande, e a comissão mereceu críticas quanto à forma e ao mérito. Assim que saiu a portaria número 9 com a designação da equipe investigadora, veio o comentário em relação à forma, com a pergunta: por que um auditor-fiscal? Quanto ao mérito, diplomatas comentavam, à boca pequena, que Saboia vivia um impasse em razão da falta de respostas oficiais ao pedir instruções dos seus superiores, em Brasília — ele inclusive esteve diversas vezes em Brasília pedindo orientações expressas dos seus superiores.
Pressionado, ele ficava entre o Planalto (na figura do assessor internacional para a presidência Marco Aurélio Garcia) e a Comissão de Relações Exteriores, que sabatina e interpela embaixadores. Vivia momentos de tensão, acompanhando a rotina de Roger Pinto e não recebendo orientações para um desfecho, enquanto o governo boliviano se recusava a dar o salvo-conduto com a clara preocupação de não ceder frente a um oposicionista que, réu em diversos processos, havia acusado autoridades de vínculo com o narcotráfico.
Organização abre campanha pelo diplomata
Por uma atitude que parcela da diplomacia e da opinião pública considera heroica e outra condena, o diplomata Eduardo Saboia, cuja trajetória inclui passagens por postos no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial, era encarregado de negócios em La Paz e, de lá, provavelmente pularia para assumir alguma embaixada. O encarregado de negócios é uma espécie de "vice-embaixador". Agora, pode ter sua carreira abreviada com a marca da fuga cinematográfica de Roger Pinto.
Neste momento, a ONG Avaaz realiza campanha para que ele não seja punido, no seguinte endereço: http://zhora.co/14LnFYu. Argumenta que Saboia agiu com "consciência e coragem", dando "fim à situação que já se apresentava como descabida e insustentável de cárcere privado" do senador.
No período em que conviveu com a situação de Pinto, recluso durante 15 meses no espaço de 20 metros quadrados de uma sala da embaixada, Saboia viajou oito vezes a Oruro, onde 12 corintianos estavam presos sob a acusação de terem se envolvido na morte do adolescente Kevin Espada, atingido por um rojão em jogo pela Taça Libertadores. Chegou a comprar comida com o dinheiro do próprio bolso para a infraestrutura e a alimentação dos brasileiros presos, e ao mesmo tempo prestava solidariedade à família de Espada. Entre outras honrarias, o diplomata foi condecorado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a medalha da Ordem do Rio Branco.
Amigos e familiares do diplomata dizem: entre o estrelato e a consciência, sempre optou pela última.

Pressão a Patriota causa constrangimento entre diplomatas
A respeito de Patriota, um homem de "linhagem" na carreira diplomática (irmãos e pai diplomatas), o respeito pelo seu trabalho é, aí sim, dominante, sem maiores ressalvas. Tido como "excelente funcionário" e cumpridor das liturgias, sabe-se no Itamaraty que ele vinha batendo de frente com a presidente em diversos temas. Chegou a circular um abaixo-assinado da iniciativa de embaixadores aposentados, em que se enumeravam razões para ele pedir a própria exoneração. Motivo: os "desmandos e humilhações" impostos por Dilma e Garcia, que interferiam na "diplomacia itamaratiana".

A expectativa é de que nada mude, em razão da formação de carreira do novo chanceler, Luiz Alberto Figueiredo Machado. Não bastasse isso, Figueiredo tem temperamento forte, o que faz colegas acharem que será menos complacente com interferências.

Ainda assim, há na diplomacia a desconfiança de que a própria demissão de Patriota se constitui num novo ato do "teatro" para os governos brasileiro e boliviano darem veracidade à ideia segundo a qual nada sabiam a respeito da atuação de Saboia. Mais um elemento que reforça essa tese: Patriota "caiu para cima". Exercerá um dos cargos mais ambicionados na carreira diplomática, a missão junto à Organização das Nações Unidas (ONU). Qual a especialidade de Patriota? Multilateralismo. Qual a nacionalidade de sua mulher, Tania Cooper Patriota? Americana. Trabalha para quem? Para a ONU. Ou seja, Patriota foi "presenteado" com a punição. No jargão diplomático, ocupará um posto de "escadas e corredores". Ficará mais perto da mulher. Tudo em casa.

Mesmo diplomatas mais experientes e ex-chanceleres brasileiros se dividem quanto à decisão do então encarregado de negócios da embaixada em La Paz, Eduardo Saboia, de trazer, à revelia de Brasília, o senador Roger Pinto Molina, que estava asilado na representação para o país havia 15 meses. Ex-chanceler, Celso Lafer disse ter "apreço" pela "coragem" de Saboia, que assumiu a responsabilidade numa "situação-limite" e não se prendeu à burocracia. Ex-embaixador em Washington, Rubens Barbosa vê uma "arriscada e insólita" quebra de hierarquia, mas que teria "resolvido o problema para o Brasil".

Ex-chanceler, Luiz Felipe Lampreia classifica a atitude como de "total insubordinação", o que pode fazer a diplomacia nacional se tornar "uma bagunça". Enfim, mesmo entre os mais experimentados diplomatas, a polêmica se mantém viva.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A grande fuga: versao boliviana - adrenalina garantida, repeteco nem pensar - revista IstoE

A escapada pelos abondes
ISTOÉ revela os bastidoresu da fuga que constrangeu o País e provocou a troca de comando no Itamaraty. Como foi a aventura do embaixador brasileiro e do senador boliviano, que saíram da embaixada em La Paz e atravessaram a fronteira
Claudio Dantas Sequeira, Izabelle Torres e Josie Jeronimo
IstoÉ, 1/09/2013

PROTAGONISTAS
O então chanceler Antonio Patriota, o embaixador Eduardo Saboia e o senador
boliviano Roger Pinto Molina (da esq. para a dir.) envolveram-se na rumorosa fuga
La Paz, sexta-feira 23 de agosto, 15h. O sol a pino e a baixa umidade reforçam a sensação térmica da primavera boliviana e embalam a tradicional sesta local. No horário em que boa parte dos moradores está cochilando, as ruas livres do tráfego servem como corredor de fuga a dois veículos 4x4 Nissan Patrol, com placas diplomáticas. A bordo de um deles, o senador boliviano Roger Pinto Molina confere o relógio e olha para o alto com um leve sorriso de satisfação. “Foi a primeira vez que pude ver o sol claramente. E de uma perspectiva diferente”, lembra, em referência aos 454 dias que passou asilado numa pequena sala da embaixada do Brasil. Durante esse tempo, Molina jamais teve direito a um salvo-conduto, documento legal que poderia ter sido fornecido pelo governo boliviano para garantir sua saída com tranquilidade em direção ao país no qual decidiu se refugiar. Planejada ao longo de três meses, com o conhecimento de algumas autoridades do governo brasileiro e uma mal disfarçada tolerância do governo do presidente Evo Morales, que enviou vários sinais a Brasília de que não faria oposição à saída de Molina, desde que não pudesse ser acusado de proteger um inimigo com 22 processos no currículo, a “operación libertad” foi cercada de uma série de preparativos, inclusive medidas de proteção pessoal e monitoramento de riscos. No momento em que se preparava para entrar no automóvel, Molina contou com o auxílio de um fuzileiro naval, adido militar na embaixada, para vestir o colete à prova de balas.

Três dias antes de partir, Roger Molina falou do plano de fuga à sua filha Denise Pinto Bardales, carinhosamente chamada pelo pai de “Talita”, sugerindo que ela fosse para Brasileia, no Acre, onde a mãe, Blanca, vive há um ano com as outras duas filhas do senador, um genro e quatro netos menores de idade. Num gesto revelador das relações próximas entre autoridades dos dois países, a família Molina foi abrigada no Brasil pelo governador Tião Viana (PT/AC), seu amigo. Além de Talita, sabiam da “operación libertad” o embaixador Marcelo Biato, o conselheiro Manuel Montenegro e o encarregado de negócios da embaixada Eduardo Saboia, que assumiu a responsabilidade pela fase final da operação, que era retirar Molina da Bolívia e levá-lo, são e salvo, para o Brasil. Há pelo menos um mês, a operação chegou aos ouvidos de políticos, advogados e empresários que partilham informações e interesses nas relações entre Brasil e Bolívia. Um plano alternativo chegou a ser elaborado, na verdade, envolvendo uma operação triangular. Numa primeira etapa, Molina seria levado de avião para o Peru. Depois, seria conduzido ao Brasil. Ao verificar que o envolvimento de um país que nada tinha a ver o caso poderia ampliar as complicações de um plano já complicado, decidiu-se pela viagem de automóvel entre La Paz e Corumbá.

Escondidos na neblina Na segunda-feira 19, num gesto que seus superiores no Itamaraty interpretariam como bisonha tentativa de despistar sua participação na operação, o embaixador Biato saiu de férias e coube a Saboia organizar todos os detalhes finais e fazer a viagem. Na quinta-feira 22, dia anterior à fuga, Molina recebeu a visita de um médico do Senado boliviano, que produziu um laudo atestando que ele enfrentava problemas de saúde, inclusive depressão. Substituindo Biato em sua ausência, naquele mesmo dia, Eduardo Saboia enviou uma cópia do laudo para o Itamaraty e, no mesmo despacho, observou que a situação pedia uma intervenção sem demora em auxílio do senador, afirmação vista como uma senha para o início da “operación libertad.”

Ao deixar, na sexta-feira 23, a garagem do edifício Multicentro, complexo empresarial onde funciona a sede diplomática brasileira, o comboio seguiu em velocidade pela avenida Arce rumo à autopista El Alto, na saída da capital boliviana. A orientação era fazer meia-volta e retornar à embaixada ao menor sinal de que autoridades bolivianas pretendessem criar embaraços ao comboio. Lembrando que chegou a passar mal no trajeto, Molina conta: “Se eu fosse para um hospital, corria o risco de ser preso. Então decidimos seguir”. Depois de seis horas de estrada, o grupo chegou a Cochabamba, na região do Chapare, uma das principais bases eleitorais do presidente Evo Morales. Ali, milhares de famílias de agricultores plantam a folha da coca, tradicional ingrediente da cultura boliviana, que em grande parte é desviada para servir ao narcotráfico. Em Cochabamba, a avenida Blanco Galindo corta a cidade. O comboio levou três horas para atravessar a região, sob neblina espessa. A tensão não deixava ninguém cochilar. “Se fossemos detidos ali, seria a morte ou algo parecido”, afirma o senador. Em mais de um contato com o governo brasileiro, quando enviou uma emissária em audiência com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o governo de Evo Morales já havia deixado claro que gostaria de ver Roger Molina fora do País, desde que jamais pudesse ser acusado por seus próprios eleitores de proteger um político acusado de corrupção pela Justiça. “É loucura!”, reagiu Dilma ao ser consultada sobre a operação, deixando claro que o Brasil não poderia aceitar uma proposta que não tinha garantia contra riscos, inclusive possíveis ameaças à vida de Molina. Convencida de que o governo brasileiro fizera sua parte, ao garantir asilo para o senador boliviano, Dilma esperava que, incomodado com o desgaste que Molina causava a Morales, este tomasse a única medida cabível, que era dar o salvo-conduto.

Fugitivos de fraldas Pano de fundo daquela viagem dramática, as relações entre Dilma e Evo Morales atingiram um momento especial quando ambos se encontraram durante uma viagem à África. Evo pediu uma “bilateral” à presidenta brasileira e aproveitou o encontro para denunciar que o senador estava tendo um comportamento inapropriado, chegando a fazer reuniões políticas. Em seguida, Dilma determinou ao chanceler Antonio Patriota que verificasse as queixas de Morales, pedindo ao ministro que se encarregasse pessoalmente de resolver o caso com as autoridades bolivianas. Quan­­­­do Patriota lhe disse que pretendia escolher um responsável para tocar a missão, Dilma reagiu de forma dura, conforme relatou um assessor palaciano: “Você deve cuidar de tudo pessoalmente”.

SUSTO NA FRONTEIRA
A polícia boliviana parou a comitiva e solicitou documentos. Atemorizado,
o senador Roger Pinto pensou em sair correndo a pé do carro
Às 4h30 da madrugada do sábado 24, já em Santa Cruz de La Sierra, o comboio fez uma parada técnica para “esticar as pernas”. Antes e depois, o combinado era seguir caminho de qualquer maneira. Para não perder tempo com refeições, levaram-se garrafas de água mineral, barras de cereais, frutas e biscoitos. Para não irem ao banheiro, usavam fraldas geriátricas. Antes do amanhecer, já estavam na estrada rumo a Puerto Suarez. Percorreram mais 660 quilômetros pela Rodovia 4, cruzando San José de Iquitos e outros três pequenos municípios. Na rota de saída do território boliviano, passaram por cerca de 12 postos de controle, chamados “trancas”. A cada parada, o motorista no veículo da frente identificava o comboio diplomático: “Estamos em missão diplomática, deixem-nos passar”. Os viajantes jamais foram submetidos a qualquer controle que, mesmo em operação de rotina, poderia detectar alguma falha nos documentos portados pelo senador, político conhecido no país inteiro.

TERRITÓRIO INIMIGO
O momento mais difícil e perigoso da fuga ocorreu quando a comitiva passou
por Chapare (foto), região cocaleira dominada por aliados de Evo Morales
Perto das 12h30, o grupo chegou a Puerto Suarez, fronteira com Corumbá. A luz amarela intermitente no painel do veículo alertava para o baixíssimo nível de combustível. Foi então que Saboia, católico praticante, abriu a “Bíblia” em Salmos e rezou baixo com Molina, evangélico. A tensão aumentou ao pararem no último posto policial na fronteira boliviana. Embora Saboia tivesse plena ciência do interesse de Morales em permitir que Molina deixasse o país, havia o temor de um imprevisto. “Se o primeiro carro fosse bloqueado, teríamos que jogar o nosso no acostamento e passar. Ou eu desceria e sairia correndo para cruzar a fronteira a pé”, revelou o senador boliviano. Após o trajeto de 22 horas, Molina disse, como um desabafo: “Senti um conforto emocional muito grande, após tanta pressão durante 22 horas e meia e 1,6 mil quilômetros. Foram momentos dramáticos e emocionantes”, desabafou Molina.

Cercados no hotel Minutos depois, já no Brasil, eles tiveram que fazer outra parada, desta vez no posto da Polícia Federal. Estavam em Corumbá. Dois policiais fardados pediram que Saboia e Molina aguardassem no interior do veículo, enquanto eles faziam algumas ligações. Cerca de 40 minutos depois, cinco policiais à paisana chegaram ao local. Cumprimentaram a todos e disseram ter ordens superiores para fazer a escolta do grupo. Apreensivos e bastante cansados da tensão da viagem, Molina e seus acompanhantes receberam um tratamento regular, diante das circunstâncias. Foram levados ao hotel Santa Mônica. Ainda no carro, Molina ligou para o senador Ricardo Ferraço (PMDB/ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores, que almoçava despreocupadamente com a esposa em sua casa, em Vitória (ES). Ao atender, Ferraço ouviu Molina gritar do outro lado da linha. “Estou no Brasil! Necessito de ajuda para chegar a Brasília.” Ferraço primeiro tentou contato com o presidente do Senado, o peemedebista Renan Calheiros (AL). A ideia era dar um caráter mais oficial à acolhida de Roger Molina. “Vai que ele oferece um avião da FAB? Era uma questão humanitária”, diz. Sem conseguir falar com Renan, ele procurou empresários e, duas horas depois, conseguiu um avião para levar o senador até a Capital Federal.

Às 14 horas do sábado 24, o senador Molina adentrou ao hotel com Saboia e o resto do comboio. Foi direto para seus aposentos, no quarto andar. Os próprios policiais fizeram o check-in. Numa medida para evitar a presença de desconhecidos e monitorar o que se passava no quarto do senador, bloquearam todos os apartamentos daquele andar. O boliviano tomou um banho, trocou de roupa e tirou uma foto com celular. Anexou a imagem a um SMS que enviou para a filha. “Cheguei em Corumbá. Avise a todos que estou bem!” Funcionários do hotel ouvidos por ISTOÉ afirmam que o trânsito de autoridades na fronteira é comum. Por isso não suspeitaram da missão até o fim da tarde, quando “um ministro” ligou querendo falar com Saboia.

O prefeito de Corumbá, Paulo Duarte (PT), foi acionado no início da noite. O primeiro contato partiu do Itamaraty, o segundo de uma autoridade que ele prefere proteger. “Pediram que eu descobrisse se alguém com o nome de Roger Pinto Molina havia entrado em algum hospital da cidade”, relata. Funcionários da Secretaria de Saúde do município foram tirados de casa para fazer a varredura. Como não acharam ninguém, tentaram os hotéis. O Santa Mônica foi a primeira opção. Ao comunicar que havia encontrado Molina, Duarte foi orientado a achar um médico de confiança para examiná-lo. O médico encontrou o senador boliviano com um quadro agudo de desidratação e taquicardia. Ele foi medicado e orientado a repousar.

Às 20h, Ferraço desembarcou no aeroporto local. Seguiram-se, então, novos momentos de tensão. Pelo que ficara combinado, era nesse horário que ele deveria resgatar Molina. Não encontrou ninguém e ligou para o senador. Tentou também o diplomata Eduardo Saboia, mas ambos estavam incomunicáveis. “Foram horas de preocupação. Não sabia o que ia acontecer”, afirmou Ferraço. Uma hora depois, um agente da PF chegou ao aeroporto e avisou ao senador que ia buscar Molina. Às 22h, os agentes da PF montaram guarda na recepção do hotel, para impedir movimentos de entrada e saída, ação que ficou registrada nas câmeras de circuito interno de tevê do hotel. 
Conselhos do governador No aeroporto, Saboia e Roger Molina se despediram dos policiais e embarcaram. “Estou aliviado em estarmos no Brasil. Só estou preocupado com a minha família, que ficou na Bolívia”, afirmou um emocionado Saboia a Ferraço. A esposa de Saboia também é diplomata, lotada em Santa Cruz, e estava em casa com o filho. No trajeto, os dois contaram a Ferraço que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, havia telefonado para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, pedindo que um médico credenciado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) fosse até o hotel atender Molina. Era 1h20 quando o avião desembarcou em Brasília. O senador boliviano pediu, então, para que o carro oficial do senador Ferraço o levasse para a casa do advogado Fernando Tibúrcio, que possui vários contatos com a oposição boliviana. É amigo, inclusive, do empresário Tito Quiroga, que já foi candidato a presidente e é adversário de Evo Morales. Um pouco depois, Molina deu um longo depoimento ao documentarista Dado Galvão, que se aproximou de integrantes da oposição ao governo Dilma durante a patrulha petista contra a dissidente cubana Yoani Sánchez.

Ao descobrir que diplomatas brasileiros organizaram um plano que ela havia condenado de forma clara e definitiva, a presidenta demitiu Antonio Patriota de um cargo que ele conseguia conservar com dificuldades imensas, apesar da vitória inédita representada pela conquista da direção geral da Organização Mundial de Comércio por um candidato brasileiro. Submetido a uma investigação para apurar suas responsabilidades, o próprio Saboia foi removido de seu posto em La Paz e, em qualquer caso, só poderia contar com oportunidades de promoção na carreira em nova combinação política. O destino do senador Roger Molina parece encaminhado para que ele permaneça no País, desde que tenha disposição para manter uma postura discreta, longe de manifestações políticas, comportamento que se costuma pedir a quem pretende assumir a condição de refugiado. Foi por essa razão que, após conselhos do senador Jorge Vianna (PT-AC), ele cancelou depoimentos públicos nos quais seria chamado a criticar Evo Morales e, por tabela, fazer referências negativas à diplomacia do governo Dilma.


Fotos: André Ribeiro; Marcos Boaventura/Folhapress; Paulo Yuji Takarada; Joel Rodrigues/FRAME
Fotos: Michel Filho/Agência O Globo; Leon Neal/afp photo
Fotos: Martín Alipaz/EFE; Pedro santana/afp; Alan marques/folhapress

Viva o MEC, viva a inguinoranssia dos bandidos; que todos continuem assim...

Eu sei que não foi por querer, já que o MEC só faz c......s.
Eu sei que o mérito não é desse dinossauro da má educação nacional.
Mas mesmo assim precisamos cumprimentá-lo.
Afinal de contas, não se consegue aperfeiçoar a ruindade sem algum esforço e dedicação.
Ao manter esse sistema tão ruim de ensino, ao continuar patrocinando a pedagogia duzoprimudus, ao permitir que os candidatos a delinquentes saiam analfabetos da escola, o MEC nos ajuda, mesmo sem querer, ao garantir que autores de golpes como o que vai abaixo, sejam tão canhestros no seu Portugueis, que mesmo um idiota distraido acabe se safando de uma pegadinha dessas.
Viva o MEC, que continue assim.
Abaixo a educação de qualidade, vamos manter os bandidos ignorantes, com a ajuda do MEC, claro.
Mesmo se todos os outros sejam prejudicados, e não consigam ler direito. Ops!
Enfim, melhor assim, para nós.
Paulo Roberto de Almeida

Subject: 


Departamento da Polícia Federal.

Atendendo a uma reclamante foi gerado uma queixa de crime em seu cpf / email, estamos entrando em contato
para a apresentacao da mesma. Para maiores esclarecimentos do Boletim de Ocorrencia de Nº 48976551A5568BD58074EEA2/2012,
na qual a sua pessoa terá que efetuar o comparecimento.

Na data e local especificado. Com os documentos de identificacao.
Confira na Ocorrencia os Documentos.
Registro de Ocorrencia
(...)

Ultimatum brasileiro aos EUA: espionagem inaceitavel...

Dilma dá prazo de uma semana para EUA explicarem espionagem

Por Luciana Lima - iG Brasília  - Atualizada às 

Proposta brasileira de acesso a dados de cidadãos sob investigação foi rejeitada por autoridades americanas

O governo brasileiro deu o prazo de uma semana para que o governo dos EUA esclareça as denúncias de espionagem feitas pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês). A cobrança pelo monitoramento, que teria atingido até mesmo a presidente Dilma Rousseff e seus principais assessores, foi feita pelo ministro de Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, durantereunião com o embaixador dos EUA no Brasil , Thomas Shannon, na manhã desta segunda-feira.
AP
Chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo Machado (D), fala ao lado de ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, durante coletiva no Itamaraty, Brasil
De acordo com o ministro, na conversa o embaixador americano comprometeu-se a entrar em contato ainda nesta segunda-feira com a Casa Branca para comunicar a exigência do governo brasileiro. O embaixador evitou falar sobre a visita como chefe de Estado que Dilma está prevista para fazer em outubro  a Washington. “Não vou tratar da viagem agora”, disse.
A viagem, que havia sido confirmada pelo Itamaraty e pelo Planalto, está sendo reavaliada por Dilma, que ficou irritadíssima com as denúncias de que também foi vítima de monitoramento por parte do governo americano. “O tipo de reação dependerá do tipo de resposta”, disse o ministro, que evitou falar sobre as medidas que poderão ser tomadas pelo Brasil. A denúncia de espionagem foi feita no domingo pela TV Globo com documentos vazados por Edward Snowden, ex-funcionário de uma prestadora de serviços dos EUA.
Acordo
A possibilidade de Dilma ter tido seus contatos monitorados foi a gota d’água em uma relação que já andava difícil entre os dois países. Na semana passada, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, chegou a se reunir com autoridades americanas para propor um acordo que regulamentasse o acesso aos dados de pessoas dos dois países em casos de investigação de atos ilícitos.
O acordo proposto pelo Brasil previa que a quebra de sigilos deveria ser autorizada pelo Poder Judiciário dos dois países. A proposta, de acordo com Cardozo, não foi aceita pelo governo dos EUA. “Queríamos um acordo que respeitasse a Constituição dos dois países. A Constituição americana é do século 17. A do Brasil é de 1988. Mas os brasileiros amam a sua Constituição assim como os americanos amam a deles”, comentou Cardozo, que chegou na sexta-feira da viagem dos EUA.
“Partindo do pressuposto de que somos soberanos e parceiros, surgiu a proposta de que se fixassem em termos muito claros os limites para a investigação. Propusemos que se pedisse aos nossos tribunais o acesso a nossas informações se houvesse atos ilícitos e indícios de situações ilícitas. Se nós, brasileiros, também quiséssemos, poderíamos solicitar. Seria um protocolo que respeitasse a soberania dos dois países. Os EUA disseram que não aceitavam e estavam dispostos a dialogar”, contou.
Conversas
Após a reunião de emergência convocada por Dilma na manhã desta segunda-feira, o Itamaraty deu início a uma série de conversas com outros países com o objetivo, segundo o ministro, de buscar uma regulamentação no âmbito mundial que “proíba a exposição dos dados” de cidadão e de governantes.
“Estamos conversando com diversos parceiros, desenvolvidos ou em desenvolvimento, principalmente com os países do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul) para saber como se protegem e para podermos elaborar ações conjuntas a ser tomadas em relação a um caso grave como esse”, disse Figueiredo.
“A imprensa fala em intercepção de dados telefônicos, internet, espionagem física. O governo brasileiro entrará em contato com vários países, inclusive os membros dos Brics, porque acreditamos que envolve a todos e afeta a todos. Precisamos de uma governança internacional que proíba a exposição dos cidadãos. Não é uma regulamentação para cercear direitos, mas para proteger direitos”, ressalvou Figueiredo

Paraguai, moderado, de volta ao Mercosul e a Unasul - ABC Color

ABC Color, 02 DE SETIEMBRE DE 2013 13:34


“Ya estamos en el Mercosur”

El canciller paraguayo Eladio Loizaga dijo que Paraguay “ya está en el Mercosur”, solamente que con una participación limitada. Reconoció que hubo avances en la relación con Venezuela.
“Nosotros ya estamos en el Mercosur, nuestra participación solo tiene una limitación del Congreso”, expresó hoy el ministro de Relaciones Exteriores.
Dijo que tras la cumbre de Unasur de jefes de Estado en Surinam, Paraguay logró fortalecer las relaciones diplomáticas con los países que no asistieron a la asunción del presidente Horacio Cartes, especialmente con Venezuela.
Loizaga destacó la actitud del mandatario venezolano Nicolás Maduro, lo que significó un avance para ambos países. Adelantó que próximamente se tendrán otras reuniones para “seguir avanzando”.
“Aquí no se abdicó ningún principio ni se compensó la dignidad paraguaya con nada, eso quiero dejar bien claro”, manifestó el canciller en contacto con Radio Ñandutí. Dijo que lo último que se agotará es el diálogo, y que se buscará la vía más prudente para reestablecer las relaciones.
Cartes participó en su primera actividad como mandatario en el exterior en la cumbre de la Unión de Naciones Suramericanas (Unasur) y oficializó su reingreso al bloque, del que fuera suspendido tras el juicio político a Fernando Lugo.
Paraguay fue suspendido por la misma causa del Mercado Común del Sur (Mercosur). Luego, sin su participación, se aprobó el ingreso de Venezuela como país miembro, hecho que se retrasaba por la oposición del Congreso paraguayo.

Big Brother, small brothers, como os franceses, por exemplo, igualmente espionados...

Se isto pode servir de consolo, bem magro, para os brios ofendidos de patriotas indignados, os franceses, aliados do Big Brother, também foram devidamente espionados.
Acho que só Deus escapou, mas não tenho muita certeza...
Paulo Roberto de Almeida


'Success Story': NSA Targeted French Foreign Ministry

French Foreign minister Laurent Fabius in Paris this month.Zoom
AFP
French Foreign minister Laurent Fabius in Paris this month.
Espionage by the US on France has already strained relations between the two countries, threatening a trans-Atlantic trade agreement. Now a document seen by SPIEGEL reveals that the NSA also spied on the French Foreign Ministry.
America's National Security Agency (NSA) targeted France's Foreign Ministry for surveillance, according to an internal document seen by SPIEGEL.
Dated June 2010, the "top secret" NSA document reveals that the intelligence agency was particularly interested in the diplomats' computer network. All of the country's embassies and consulates are connected with the Paris headquarters via a virtual private network (VPN), technology that is generally considered to be secure.Accessing the Foreign Ministry's network was considered a "success story," and there were a number of incidents of "sensitive access," the document states.
An overview lists different web addresses tapped into by the NSA, among them "diplomatie.gouv.fr," which was run from the Foreign Ministry's server. A list from September 2010 says that French diplomatic offices in Washington and at the United Nations in New York were also targeted, and given the codenames "Wabash" and "Blackfoot," respectively. NSA technicians installed bugs in both locations and conducted a "collection of computer screens" at the one at the UN.
A priority list also names France as an official target for the intelligence agency. In particular, the NSA was interested in the country's foreign policy objectives, especially the weapons trade, and economic stability.

US-French relations are being strained by such espionage activities. In early July, French President François Hollande threatened to suspend negotiations for a trans-Atlantic free trade agreement, demanding a guarantee from the US that it would cease spying after it was revealed that the French embassy in Washington had been targeted by the NSA."There can be no negotiations or transactions in all areas until we have obtained these guarantees, for France but also for all of the European Union, for all partners of the United States," he said at the time.
The NSA declined to comment to SPIEGEL on the matter. As details about the scope of the agency's international spying operations continue to emerge, Washington has come under increasing pressure from its trans-Atlantic partners. Officials in Europe have expressed concern that negotiations for the trade agreement would be poisoned by a lack of trust.

SPIEGEL/kla

O caso Saboia, por Rubens Ricupero: reconhecimento, nao castigo (FSP)


Rubens Ricupero,
Folha de S.Paulo, 2/09/2013

São raríssimos no Itamaraty e no Brasil casos como o de Eduardo Saboia, de funcionários que arriscam tudo por motivos de consciência. Só me lembro de dois em minha carreira: o do embaixador Jaime de Azevedo Rodrigues, que protestou contra o golpe de 64, e o de Miguel Darcy, que organizou rede para denunciar no exterior as torturas do regime militar.
É por isso que exemplos de coragem em defesa de princípios merecem medalha, não punições. Seria erro gravíssimo equiparar o ato de Saboia à insubordinação. Ele não agiu contra ordens do governo. Na verdade, não havia ordens e foi preciso agir no vazio calculado de instruções em que deixaram a embaixada.
A Convenção de Caracas sobre asilo diplomático é clara: compete ao país que concede o asilo julgar a natureza do delito e os motivos da perseguição, correspondendo ao governo local o dever de garantir imediatamente a saída do asilado do território. Tolerar que o governo boliviano recusasse o salvo-conduto por 15 meses é mais que condescendência culposa.
Trata-se de cumplicidade com o governo que já expropriou a Petrobras e ocupou suas instalações com tropas do Exército, recebendo em troca afagos, aumentos do preço do gás e apoio brasileiro na campanha eleitoral do presidente Morales.
Compare-se o silêncio frente à Bolívia com a indignação e a campanha pública do governo do Brasil no asilo do ex-presidente hondurenho Zelaya ou o desgaste do relacionamento com a Itália a fim de proteger criminoso condenado por vários homicídios. A diferença é que nesses dois casos os beneficiados eram companheiros de ideologia.
O que prova que, para este governo e o anterior, democracia, direitos humanos e asilo devem ser filtrados pelo prisma ideológico. Só valem se o favorecido pertence à mesma família ideológica.
Veja-se o contraste com o asilo, também na missão brasileira em La Paz, do presidente Hernando Siles, derrubado por golpe militar em 1930 e pai do futuro presidente Hernán Siles Zuazo.
Cercada a missão semanas a fio por turbas que exigiam a entrega do presidente, o então representante do Brasil temeu pela própria vida e quis deixar o posto. O Itamaraty, porém, exigiu que ele ficasse e defendesse o asilo com firmeza, obtendo finalmente a saída do asilado.
Desta vez, a decisão de retirar da Bolívia o senador perseguido foi tomada como medida extrema, depois de ter ficado claro pelas mensagens de e-mail que o empenho brasileiro pela libertação era um faz de conta. Se não tivesse feito nada e o asilado se suicidasse, como parecia iminente, o encarregado de negócios teria sido culpado de omissão de socorros.
Criminosos de guerra sempre alegaram que apenas cumpriam ordens. Nem o tribunal de Nuremberg, nem os posteriores, aceitaram a desculpa. Eichmann, exemplar funcionário do Holocausto, acabou enforcado. Valores como a vida, a liberdade e a proteção a perseguidos são incomparavelmente mais altos do que obedecer ordens. Se o governo se omite na sua defesa, cabe ao funcionário o dever de suprir a falha.

Ao mostrar ter a coragem que faltou a seus superiores, Saboia honrou os valores da Constituição e do povo brasileiro. Deve receber reconhecimento, não castigo.

Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Faap, foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), ministro da Amazônia e do Meio Ambiente, ministro da Fazenda (governo Itamar), embaixador em Genebra, Washington e Roma. Escreve quinzenalmente, aos domingos, na versão impressa de "Mercado".

Idiotice: manual de como evitar - Olavo de Carvalho (via Reinaldo Azevedo)

De fato, não li em qualquer resenha da imprensa, em qualquer comentário na internet, nos blogs mais comumente citados como fonte de informações, alguma informação sobre este livro de Olavo de Carvalho, que como costuma ser com todos os seus artigos apresenta-se de imediato como polêmico e corrosivo.
Já devo ter lido uma boa parte desses artigos, no site do autor, nos jornais onde ele publicou os textos, enviados por amigos e leitores, enfim, catados aqui e ali. Tê-los reunidos num único livro sem dúvida é uma boa solução, assim como já tinha sido seu primeiro livro que li, e gostei, "O Imbecil Coletivo", um ataque exemplar aos nossos "intelequituais" (como diria o Millor) de academia.
Vou tentar ler este também, quando puder.
Por enquanto transcrevo do blog de um outro jornalista igualmente polêmico, pois foi a única referência que encontrei.

Apenas acrescento: quando ouço alguma idiotice sendo dita, saco logo o meu Cervantes, que no seu Don Quijote já se ocupou de algumas idiotices maiores da raça humana, e isso com o humor e a boa graça de que era capaz. Eu, sem ter muita graça, já me interroguei se o número de idiotas estava aumentando no mundo (deve ter um artigo com um título parecido no meu site). Minha resposta: sim e não. Sim, está aumentando o número de idiotas no mundo, pois hoje, qualquer idiota, usando os meios que lhe é oferecido gratuitamente na internet, consegue ter uma vasta audiência à sua (in)disposição, e os idiotas que gostam de ficar famosos estão se esbaldando, como se diz. Não, porque em última instância, a ciência e o trabalho honesto de um punhado reduzido de abnegados tem impedido, felizmente, o bando muito maior de idiotas de fazerem alguma atos catastróficos para a humanidade. Sim, os poucos inteligentes tem salvo os idiotas, em maior número, de suas próprias idiotices, o que mostra que a humanidade ainda não está condenada a desaparecer.
Mas que, em algumas países, estejamos sendo submergidos por um bando de idiotas que chegou ao poder, disso não tenho a menor dúvida...
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 02/09/2013
 às 5:25

“O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”

É o título de uma coletânea de textos de autoria do filósofo sem carteirinha, crachá ou livro-ponto Olavo de Carvalho (foto), lançado há duas semanas pela Editora Record (615 páginas, R$ 51,90). Os artigos foram selecionados e organizados por Felipe Moura Brasil, um jovem de vinte e poucos — bem poucos — anos, que também cuida de notas explicativas e referências bibliográficas que remetem o leitor tanto à vasta obra do próprio Olavo como à teia de autores e temas com os quais seus textos dialogam ou polemizam. Moura Brasil informa que a seleção obedeceu a seu gosto pessoal e à necessidade de partilhar a sua experiência de leitor e estudioso da obra de Olavo. Esse moço é a prova de que a inteligência e a autonomia intelectual sobrevivem mesmo aos piores tempos. E os piores tempos podem não ser aqueles em que o amor à liberdade é obrigado a resistir na clandestinidade — afinal, resta a esperança no fundo da caixa —, mas aqueles em que a divergência se torna, por si, uma violência inaceitável. Nesse caso, a própria esperança começa a correr riscos. O livro, o que não chega a ser uma surpresa, provocou um enorme silêncio — que é uma das formas do moderno exercício da violência. Os leitores, no entanto, estão fazendo a sua parte, e ele já figura em 10º lugar na lista dos “Mais Vendidos”, na categoria “Não-Ficção”, na VEJA desta semana.
“O Mínimo…” reúne, basicamente, artigos que Olavo publicou em jornais e revistas, inclusive nas revistas “República” e “BRAVO!”, das quais fui redator-chefe — e a releitura, agora, em livro, me remeteu àqueles tempos. Impactam ainda hoje e podiam ser verdadeiros alumbramentos há 10, 12, 13 anos, quando o autor, é forçoso admitir, via com mais aguda vista do que todos nós o que estava por vir. Olavo é dono de uma cultura enciclopédica — no que concerne à universalidade de referências —, mas não pensa por verbetes. E isso desperta a fúria das falanges do ódio e do óbvio. Consegue, como nenhum outro autor no Brasil — goste-se ou não dele —, emprestar dignidade filosófica à vida cotidiana, sem jamais baratear o pensamento. Isso não quer dizer que não transite — e as falanges não o fustigam menos por isto; ao contrário — com maestria no terreno da teoria e da história. É autor, por exemplo, da monumental — 32 volumes! — “História Essencial da Filosofia” (livros acompanhados de DVDs). Alguns filósofos de crachá e livro-ponto poderiam ter feito algo parecido — mas boa parte estava ocupada demais doutrinando criancinhas… Há o Olavo de “A Dialética Simbólica” ou de “A Filosofia e seu Inverso”, e há este outro, que é expressão daquele, mas que enfrenta os temas desta nossa vida besta, como disse o poeta, revelando o sentido de nossas escolhas e, muito especialmente, das escolhas que não fazemos.
O livro é dividido em 25 capítulos ou macrotemas: Juventude, Conhecimento, Vocação, Cultura, Pobreza, Fingimento. Democracia, Socialismo, Militância, Revolução, Intelligentzia, Inveja, Aborto, Ciência, Religião, Linguagem, Discussão, Petismo, Feminismo, Gayzismo, Criminalidade, Dominação, EUA, Libertação e Estudo. Cada um deles reúne um grupo de textos, e alguns se desdobram em subtemas, como a espetacular seleção de textos de “Revolução”, reunidos sob rubricas distintas, como, entre outras, Globalismo, Manipulação e Capitalistas X Revolucionários.
Vivemos tempos um tanto brutos, hostis ao pensamento. Vivemos a era em que o sentimento de “justiça” ou o de “igualdade” — com frequência, alheios ou mesmo refratários a qualquer noção de direito — reivindicam um estatuto moralmente superior a conceitos como verdade e realidade; estes seriam, por seu turno, meras construções subjetivas ou de classe, urdidas com o propósito de provocar a infelicidade geral. Olavo demole com precisão e brilho a avalanche de ideias prontas, tornadas influentes pelo “imbecil coletivo” e que vicejam muito especialmente na imprensa — fenômeno enormemente potencializado pelas redes sociais.
Em 2003, o jornal “O Globo” ainda publicava textos como “Orgulho do Fracasso”, de Olavo. E se podia ler (em azul):
Língua, religião e alta cultura são os únicos componentes de uma nação que podem sobreviver quando ela chega ao término da sua duração histórica. São os valores universais, que, por servirem a toda a humanidade e não somente ao povo em que se originaram, justificam que ele seja lembrado e admirado por outros povos. A economia e as instituições são apenas o suporte, local e temporário, de que a nação se utiliza para seguir vivendo enquanto gera os símbolos nos quais sua imagem permanecerá quando ela própria já não existir.
(…)
A experiência dos milênios, no entanto, pode ser obscurecida até tornar-se invisível e inconcebível. Basta que um povo de mentalidade estreita seja confirmado na sua ilusão materialista por uma filosofia mesquinha que tudo explique pelas causas econômicas. Acreditando que precisa resolver seus problemas materiais antes de cuidar do espírito, esse povo permanecerá espiritualmente rasteiro e nunca se tornará inteligente o bastante para acumular o capital cultural necessário à solução daqueles problemas. O pragmatismo grosso, a superficialidade da experiência religiosa, o desprezo pelo conhecimento, a redução das atividades do espírito ao mínimo necessário para a conquista do emprego (inclusive universitário), a subordinação da inteligência aos interesses partidários, tais são as causas estruturais e constantes do fracasso desse povo. Todas as demais explicações alegadas — a exploração estrangeira, a composição racial da população, o latifúndio, a índole autoritária ou rebelde dos brasileiros, os impostos ou a sonegação deles, a corrupção e mil e um erros que as oposições imputam aos governos presentes e estes aos governos passados — são apenas subterfúgios com que uma intelectualidade provinciana e acanalhada foge a um confronto com a sua própria parcela de culpa no estado de coisas e evita dizer a um povo pueril a verdade que o tornaria adulto: que a língua, a religião e a alta cultura vêm primeiro, a prosperidade depois.
(…)
Retomo
Grande Olavo de Carvalho! Dez anos depois, com o país nessa areia, como ignorar a força reveladora das palavras acima? Olhem à nossa volta. O que temos senão um governo incompetente, que fez refém ou tornou dependente (com Bolsa BNDES, Bolsa Juro, Bolsa Isenção Tributária) uma elite não muito iluminada, combatido, o que é pior, por uma oposição que não consegue encetar uma crítica que vá além do administrativismo sem imaginação, refratária ao debate, que foge do confronto de ideias como Lula foge dos livros e Dilma da sintaxe?
O país emburrece. Eu mesmo, mais de uma vez, em ambientes supostamente afeitos ao pensamento, à reflexão e à leitura, pude constatar o processo de satanização do contraditório. É mais difícil travar com intelectuais (ou, sei lá, com as classes supostamente ilustradas) um debate racional sobre a legalização do aborto do que com um homem ou uma mulher do povo, de instrução mediana. E não porque aqueles tenham os melhores argumentos. Ao contrário: têm os piores. Olham para a sua cara e dizem, com certo ar de trunfo, como se tivessem encontrado a verdade definitiva: “É uma questão dos direitos reprodutivos da mulher”. Digamos que fosse… Esses tais “direitos reprodutivos” teriam caído da árvore da vida, como caiu a maçã para Newton, ou são uma construção? Por que estaria acima do debate?
Mais um pouco das palavras irretocáveis de Olavo (em azul):
Na tipologia de Lukács, que distingue entre os personagens que sofrem porque sua consciência é mais ampla que a do meio em que vivem e os que não conseguem abarcar a complexidade do meio, a literatura brasileira criou um terceiro tipo: aquele cuja consciência não está nem acima nem abaixo da realidade, mas ao lado dela, num mundo à parte todo feito de ficções retóricas e afetação histriônica. Em qualquer outra sociedade conhecida, um tipo assim estaria condenado ao isolamento. Seria um excêntrico.
No Brasil, ao contrário, é o tipo dominante: o fingimento é geral, a fuga da realidade tornou-se instrumento de adaptação social. Mas adaptação, no caso, não significa eficiência, e sim acomodação e cumplicidade com o engano geral, produtor da geral ineficiência e do fracasso crônico, do qual em seguida se busca alívio em novas encenações, seja de revolta, seja de otimismo. Na medida em que se amolda à sociedade brasileira, a alma se afasta da realidade — e vice-versa. Ter a cabeça no mundo da lua, dar às coisas sistematicamente nomes falsos, viver num estado de permanente desconexão entre as percepções e o pensamento é o estado normal do brasileiro. O homem realista, sincero consigo próprio, direto e eficaz nas palavras e ações, é que se torna um tipo isolado, esquisito, alguém que se deve evitar a todo preço e a propósito do qual circulam cochichos à distância.
Meu amigo Andrei Pleshu, filósofo romeno, resumia: “No Brasil, ninguém tem a obrigação de ser normal.” Se fosse só isso, estaria bem. Esse é o Brasil tolerante, bonachão, que prefere o desleixo moral ao risco da severidade injusta. Mas há no fundo dele um Brasil temível, o Brasil do caos obrigatório, que rejeita a ordem, a clareza e a verdade como se fossem pecados capitais. O Brasil onde ser normal não é só desnecessário: é proibido. O Brasil onde você pode dizer que dois mais dois são cinco, sete ou nove e meio, mas, se diz que são quatro, sente nos olhares em torno o fogo do rancor ou o gelo do desprezo. Sobretudo se insiste que pode provar.
Sem ter em conta esses dados, ninguém entende uma só discussão pública no Brasil. Porque, quando um brasileiro reclama de alguma coisa, não é que ela o incomode de fato. Não é nem mesmo que exista. É apenas que ele gostaria de que existisse e fosse má, para pôr em evidência a bondade daquele que a condena. Tudo o que ele quer é dar uma impressão que, no fundo, tem pouco a ver com a coisa da qual fala. Tem a ver apenas com ele próprio, com sua necessidade de afeto, de aplauso, de aprovação. O assunto é mero pretexto para lançar, de maneira sutil e elegante, um apelo que em linguagem direta e franca o exporia ao ridículo.
Esse ardil psicológico funda-se em convenções provisórias, criadas de improviso pela mídia e pelo diz que diz, que apontam à execração do público umas tantas coisas das quais é bom falar mal. Pouco importa o que sejam. O que importa é que sua condenação forma um “topos”, um lugar-comum: um lugar no qual as pessoas se reúnem para sentir-se bem mediante discursos contra o mal. O sujeito não sabe, por exemplo, o que são transgênicos. Mas viu de relance, num jornal, que é coisa ruim. Melhor que coisa ruim: é coisa de má reputação. Falando contra ela, o cidadão sente-se igual a todo mundo, e rompe por instantes o isolamento que o humilha.
Essa solidariedade no fingimento é a base do convívio brasileiro, o pilar de geleia sobre o qual se constroem uma cultura e milhões de vidas. Em outros lugares as pessoas em geral discutem coisas que existem, e só as discutem porque perceberam que existem. Aqui as discussões partem de simples nomes e sinais, imediatamente associados a valores, ao ruim e ao bom, a despeito da completa ausência das coisas consideradas.
Não se lê, por exemplo, um só livro de história que não condene a “história oficial” — a história que celebra as grandezas da pátria e omite as misérias da luta de classes, do racismo, da opressão dos índios e da vil exploração machista. Em vão buscamos um exemplar da dita-cuja. Não há cursos, nem livros, nem institutos de história oficial. Por toda parte, nas obras escritas, nas escolas de crianças e nas academias de gente velha, só se fala da miséria da luta de classes, do racismo, de índios oprimidos e da vil exploração machista. Há quatro décadas a história militante que se opunha à história oficial já se tornou hegemônica e ocupou o espaço todo. Se há alguma história oficial, é ela própria.
Mas, sem uma história oficial para combater, ela perderia todo o encanto da rebeldia convencional, pondo à mostra os cabelos brancos que assinalam sua identidade de neo-oficialismo consagrado — balofo, repetitivo e caquético como qualquer academismo. Direi então que açoita um cavalo morto? Não é bem isso. Ela própria é um cavalo morto. Um cavalo morto que, para não admitir que está morto, escoiceia outro cavalo morto. Todo o “debate brasileiro” é uma troca de coices num cemitério de cavalos.
Encerro
Leia esse livro de Olavo de Carvalho. Ninguém, no Brasil, escreve com a sua força e a sua clareza. Tampouco parece fácil rivalizar com a sua cultura, fruto da dedicação, do trabalho no claustro, da aplicação, não da busca de brilharecos. Leia Olavo: contra o ódio, contra o óbvio, contra os idiotas e a favor de si mesmo.
Por Reinaldo Azevedo

Big Brother, small brothers e escutas da NSA sobre presidentes do Brasil e do Mexico: alguma novidade?

A pergunta a ser feita aqui, sem qualquer hipocrisia, é esta:
Se o governo brasileiro tivesse a capacidade, a habilidade e a oportunidade, por meio dos seus arapongas da Abin, ou por qualquer outro meio, de ouvir, de ler, de saber o que Obama anda fazendo, lendo, falando, instruindo a seus auxiliares, ele deixaria de fazer isso, em nome de algum código de ética de sua agência de informações, ou apenas porque isso não se faz entre gente de bem?
Ele seria gentil a este ponto?
Perderia essa oportunidade apenas por pruridos éticos?
Bem, se me disserem que sim, concordo com os protestos. Se houver algum sorriso amarelo no meio de tudo isso, pode-se apenas dizer: much ado about nothing.
Paulo Roberto de Almeida

VEJA.com, 02/09/2013

Reportagem do Fantástico, da TV Globo, exibida na noite deste domingo afirma que as comunicações da presidente Dilma Rousseff foram alvo de espionagem por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos. A acusação foi baseada em um documento secreto obtido pelo jornalista americano Glenn Greenwald, do jornal inglês The Guardian. Greenwald foi um dos primeiros a revelar o sistemático esquema de espionagem eletrônica da agência americana e do governo Obama delatado pelo ex-analista da NSA Edward Snowden. O jornalista é namorado do brasileiro David Miranda, que foi detido no mês passado em Londres, quando transportava papéis entregues por Snowden. Greenwald disse que o material sobre a vigilância ao governo brasileiro também foi repassado a ele pelo ex-analista.
Segundo a reportagem exibida no programa, o nome de Dilma aparece em uma apresentação produzida internamente para funcionários da NSA e intitulada “Filtragem inteligente de dados: estudo de caso do México e do Brasil”. De acordo com o material, o objetivo do monitoramento ao Brasil seria “melhorar a compreensão dos métodos de comunicação” entre a presidente e seus assessores. No documento, o presidente mexicano Enrique Peña Nieto também é mencionado como alvo de vigilância. Datada de 20 de junho de 2012, quando Peña Nieto ainda era candidato, a apresentação mostra mensagens de texto interceptadas do celular do futuro presidente. Nelas, ele aparece especulando quais seriam os seus ministros caso viesse a ser eleito.
No caso de Dilma, o material exibido pelo Fantástico não indica o conteúdo de qualquer conversa ou texto que eventualmente tenha sido alvo de bisbilhotagem pela agência. Os trechos que citam a presidente mostram apenas organogramas de sua rede de assessores, que aparecem com os nomes apagados. A apresentação detalha que a coleta de dados para espionar os governantes seria feita pelo monitoramento de números de telefone, e-mails e IP (a identificação do computador).
Método
“Ficou muito claro, com esses documentos, que a espionagem já foi feita, porque eles não estão discutindo isso só como alguma coisa que eles estão planejando. Eles estão festejando o sucesso da espionagem”, analisa Greenwald na reportagem.
A apresentação interna termina explicando que o método de monitoramento consiste em uma filtragem de dados “simples e eficiente” e que sua execução pode vir a ser repetida. Segundo as conclusões da reportagem, a indicação de que o monitoramento pode vir a ser repetido significa que ele já foi usado uma vez. A reportagem do Fantástico afirmou que tentou entrar em contato com Snowden, mas o ex-analista, que atualmente está asilado temporatiamente na Rússia, disse que o governo local exigiu que ele não comente o conteúdo dos documentos.

Reação
A denúncia foi tema de reunião realizada domingo entre Dilma e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Ficou decidido que o Itamaraty vai convocar o embaixador dos Estados Unidos para cobrar explicações e que o governo brasileiro irá recorrer à ONU e a outros órgãos internacionais contra ações de espionagem. “Se forem comprovados os fatos, estaremos diante de uma situação inadmissível”, disse Cardozo ao Fantástico.