domingo, 22 de setembro de 2013

Across the whale in a month (6): da planicie a montanha, da religiao aos cassinos...

Percorremos, Carmen Licia e eu, mais de mil milhas nos últimos três ou quatro dias, das planícies da caipirolândia americana, onde se roda centenas de milhas com milho dos dois lados (literalmente), até o lago salgado dos mormons, e os cassinos dos pecadores de Reno, Nevada, depois de cruzar montanhas e mais montanhas, entre Utah e este estado de virtudes burguesas, embora não as melhores.
Eu ainda tinha ficado devendo, nos meus posts 4 e 5 desta série, uma descrição do trajeto entre o estado de Nebraska e Utah, bem no coração dos Estados Unidos.
Carmen Lícia e eu tínhamos saído de Kansas City, no dia 18, quarta-feira, com duas paradas no caminho, em direção a Salt Lake City, Omaha, a mais populosa cidade do estado de Nebraska, e sua pequena capital, Lincoln, de que já falei no post 4 da série. Acabamos tendo de parar numa cidadezinha de cowboys, Ogallala, porque estávamos recebendo mensagens de inundação. De fato, ao lado do nosso hotel (onde chegamos de noite, e nem percebemos), o rio estava subindo, com águas recebidas do Colorado, onde as inundações foram de fato destruidoras. Por isso, aliás, desistimos totalmente de ir a Denver e Boulder, como planejado anteriormente, e subimos do Missouri direto para o Nebrasca, com uma pequena incursão no Iowa, contornando totalmente o estado do Colorado, pobrezinho.
De Ogallala viajamos todo o dia de quinta-feira, 19, cerca de 600 milhas, até chegar na capital do Utah, Salt Lake City, já pela noite. Atravessamos por inteiro o estado do Wyoming, cuja capital, Cheyenne, visitamos. Em várias paradas do caminho, atravessando o estado, foi comum encontrar homens de botas com esporas, mesmo dirigindo suas imensas camionetas. A cultura do cavalo, do chapéu de cowboy e de certos símbolos ligados à conquista do Oeste são visíveis, mesmo em crianças pequenas. Afinal de contas, estamos no Oregon trail.
Saímos das planícies do Middle West para as montanhas de Utah, subindo várias vezes, até descermos para as margens do grande lago salgado que dá o nome à cidade, capital do estado.
Postei, sob número 5, a foto da imensa catedral (não visitável) dos Mormons, no Temple Square, onde estivemos na sexta-feira, 20/09/2013, visitando vários outros prédios da Igreja dos Santos dos Últimos Dias, a denominação oficial.
Aqui vai outra foto (feita com os recursos limitados do meu iPhone) da imensa catedral, de 1895, construída com imensos sacrifícios pelos mormons, numa fase em que a cidade era quase uma aldeia.
Os mormons são muito simpáticos, prestativos, sorridentes, agradáveis, na sua missão incansável, mas não intrusiva, de converter incautos e outros tementes a Deus, o que não é o meu caso. Mas eles não grudam, nem incomodam, como certos evangélicos chatos que se encontram em todas as partes, principalmente no Brasil.
Em todas as partes, pelo menos no Temple Square, você encontra duplas femininas, entre 18 e 25 anos, jovens de todas as partes do mundo, carregando materiais de informação, e uma bandeira na lapela, com o nome e a bandeira do país que representam, sempre sorridentes, solícitas, dispostas a ajudar com qualquer informação. Os mais velhos conversam sobretudo, e inevitavelmente perguntam de onde viemos, e se precisamos de algo.

Impressionante as construções da cidade: modernas, bonitas, estilo executivo. Já os edifícios religiosos são igualmente modernos, com exceção da catedral e de outra igreja local, mas os centros de recepção de "turistas" poderiam ser assinados por qualquer arquiteto de primeira linha, com a exceção de praxe: interiores kitsch, absolutamente brega, Jesus Cristo estilo final do século 19 e várias pinturas que estão entre o tosco e o naïf.
Toda a cidade é muito limpa, incrivelmente organizada, ordeira, pacífica, com um comércio excelente (visitamos o Shopping, que parece ter participação acionária dos mormons) e almoçamos num restaurante italiano-americano. Parece que 80 por cento da população do estado é mormon, mas ao que sei a poligamia já foi banida há muito tempo, desde o final do século 19, e os que a praticam não tem nenhuma condescendência da Igreja ou de seus chefes.
Não encontrei livrarias, pelo menos daquelas que eu gosto, o que já diminuiria meu ímpeto de mudar-me para Salt Lake City, mas sob todos os demais critérios a cidade é extremamente agradável. Fomos à Universidade, um campus moderno, muito bem construído, ao museu de História Natural, e ao imenso Capitólio. Passeio proveitoso, durante todo o dia. Recomendo pela cidade, e o templo é um extra, estilo curiosidades culturais...

Sábado, 21, foi mais um dia de estrada, desde Salt Lake City até Reno, já na extremidade do Nevada, quase chegando à California. Foram mais de 500 milhas de estrada impecável, numa paisagem monótona pelos seus "desertos", ma verdade, uma vegetação rasteira o tempo todo, colinas com escassa vegetação, e muita montanha. Antes, porém, o imenso, enorme, gigantesco lago salgado, onde Carmen Lícia fez esta foto minha, posando na beira do lago salgado, ao fundo um barquinho singrando nas águas azuis.
Não apenas em volta do lago, mas em diversas outras pequenas lagoas salgadas, a indústria predominante é... obviamente, a do sal, com grandes pirâmides brancas e outros depósitos acumulados ao longo da estrada, durante muitas milhas.
Depois, é só montanha (não Himalaia, pois já estamos ao norte das Rochosas, mas ainda assim montanhas razoáveis, com vários passos e cartazes para o uso de correntes ou pneus de neve). Estada reta, com poucas curvas (nas subidas de montanhas) e paradas ao estilo americano do interior: rústico, sem o charme das estradas europeias, sobretudo sem o refinamento da gastronomia europeia.
Quem não tem cão, caça com gato, no caso hamburguers, wraps e saladas.
Reno é, provavelmente, a antípoda de Salt Lake City: voltada para os cassinos, para todos os vícios, ao que parece, e com fama de fazer casamentos em 20mns, sem muitas perguntas.
Ainda não descobrimos a cidade, com exceção de um rápido passeio pelo centro, com todos os cassionos iluminados atraindo milhares de jogadores de aventura ou viciados.
Não pretendo apostar um níquel, sequer um penny em qualquer máquina que seja, mas nunca se deve dizer nunca. Pode ser que a sorte me tente, rapidamente resultando no azar, o que acontece invariavelmente com 99pc dos apostadores.
A ver, neste domingo 22, se por acaso, tivermos disposição para tanto.
A intenção seria entrar na Califórnia rapidamente, para espairecer um pouco nos vinhedos de Napa Valley e nas margens do Pacífico.
A viagem continua...

Paulo Roberto de Almeida
Reno, 22/09/2013


Politica externa paralela, diplomacia partidaria, amizades ditatoriais: Mr Lula goes to Harare...

Do blog de Rodrigo Constantino, em 21/09/2013:

21/09/2013
 às 12:14 \ Socialismo

BNDES libera quase US$ 100 mi para Mugabe. É o pobre brasileiro ajudando o rico ditador corrupto africano

Ditador Robert Mugabe e o ex-presidente Lula
Deu na Folha: Brasil libera crédito a ditador do Zimbábue
O Brasil está concedendo uma linha de crédito de US$ 98 milhões (cerca de R$ 215 milhões) do BNDES para o governo do ditador Robert Mugabe no Zimbábue (África).
O recurso é parte do programa Mais Alimentos Internacional do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Com esse crédito, o governo do Zimbábue poderá comprar equipamentos agrícolas (tratores, máquinas, material de irrigação, terraplenagem) de indústrias brasileiras e repassar a agricultores do país.
Entidades de direitos humanos apontam para o histórico de corrupção do governo Mugabe, há 33 anos no poder, e o perigo de o crédito brasileiro dar sustentação a um regime cujas eleições recentes foram contestadas.
Ele confiscou sem indenização as terras de agricultores brancos, que historicamente tinham uma concentração desproporcional da propriedade fundiária.Além disso, a agricultura familiar do Zimbábue está no centro da polêmica e violenta reforma agrária que Mugabe iniciou no ano 2000.
Grande parte foi repassada a aliados políticos sem experiência no campo.
O processo teve vários episódios de violência contra fazendeiros. E o resultado foi uma queda significativa nas safras do país, que passou a importar alimentos e depender de ajuda externa.
Um dos principais problemas foi que, sem títulos de propriedade da terra, os agricultores não conseguiam acesso a crédito para comprar equipamentos agrícolas.
Dentro do Mais Alimentos, também receberão crédito Senegal (US$ 95 milhões), Gana (US$ 95 milhões)e Cuba (US$ 210 milhões).
Um total de US$ 470 milhões do BNDES, modalidade do Proex (Programa de Financiamento à Exportação), foi aprovado para o Mais Alimentos Internacional.
É o governo do PT destinando quase meio bilhão de dólares para regimes falidos, ditadores corruptos, tudo em nome da “justiça social”.
A reforma agrária de Mugabe representou um total abuso dos direitos individuais, inclusive com o uso de bastante violência, em boa parte perpetrada pela milícia de esquerda, nos moldes do nosso criminoso MST. A expropriação de terras, sob a desculpa da “justiça social”, foi enorme, lançando o país na miséria total.
A produção despencou, os investimentos sumiram e o caos foi total. Os produtores brasileiros de fumo agradecem, já que o Zimbábue era importante vendedor mundial, e depois da reforma cedeu vasto espaço para a concorrência. Tudo pela “igualdade”.
Mugabe adotou novas leis para forçar que o controle dos ativos minerais ficasse com negros. Vale lembrar que o Zimbábue possui vastos recursos, incluindo diamantes, ouro, carvão, níquel e platina, cuja reserva representa cerca de 15% da mundial. A cor da pele passou a ser mérito para ser dono desses recursos.
Não tão diferente do nosso querido Brasil, onde o fato de ser índio, mesmo que bem adaptado ao mundo moderno, com celulares, carros importados e parabólicas, também permite o controle sobre vasto e rico território, como as reservas de Rondônia. Ou a cor da pele, que já é passe de entrada em universidades, e até de empregos também.
O Zimbábue de Mugabe é apenas mais um exemplo, entre tantos, do fracasso socialista. É o retrato do que aconteceria com o Brasil se o MST assumisse o poder de vez (hoje ele tem poder indireto por meio do PT). Mas eis que o governo petista resolve destinar quase US$ 100 milhões, via BNDES, para esse regime nefasto.
Essas “ajudas” de governo para governo acabam sempre significando o seguinte: os pobres dos países que emprestam ajudam os ricos dos países que recebem o financiamento. É o favelado carioca ou o pobre do Acre bancando Mugabe e sua turma corrupta.
Pode isso, Arnaldo? Infelizmente, no Brasil o PT pode tudo. Não temos uma oposição firme o suficiente que consiga levar ao povão a mensagem do que isso representa de fato. E fica tudo por isso mesmo…

Multinacionais brasileiras (sem precisar do governo, muito pelo contrario) - Valor

Brasileiras rumam para o Vale do Silício

 Martha Funke | Para o Valor, de São Paulo, 21/09/2013

Benjamin Quadros, presidente da BRQ, que atende a Bolsa de Valores de Nova York: "A internacionalização permite experimentar modelos diferentes"
Na contramão de multinacionais que trazem ao Brasil áreas de desenvolvimento e inovação, um punhado de brasileiras ruma principalmente em direção ao Vale do Silício para chegar mais perto da inovação tecnológica mundial. Entre elas, alinham-se desde marcas tradicionais da TI nacional, como Totvs e Módulo, até especialistas em áreas novidadeiras como games ou mobile.
A presença internacional da TI brasileira começou há tempos. Na área de serviços, tem expoentes como a Stefanini, com mais de 20 escritórios espalhados pelo mundo. A BRQ é outro exemplo. Em 2008, comprou a americana ThinkInternational e hoje atende clientes como Nyse (a Bolsa de Valores de Nova York), Citibank e Cable Vision com cerca de 100 funcionários em Nova York. "A internacionalização permite experimentar modelos diferentes", diz Benjamin Quadros, presidente da empresa cujo faturamento este ano deve chegar a R$ 520 milhões - no ano passado, foram R$ 435 milhões.
Outros estão mais preocupados com desenvolvimento. A Totvs tem produtos localizados para 25 nacionalidades e vende tecnologia no exterior há tempos, mas no ano passado apostou em um centro de tecnologia no Silicon Valley, onde hoje tem um grupo multinacional de 20 engenheiros. "Estamos mais perto do que ainda vai surgir e com novas culturas vamos conseguir ser referência global", diz Weber Canova, vice-presidente de Tecnologia e Quality Assurance. A primeira missão do grupo foi fechar convênios com universidades como Stanford e San Jose. Também já foi liberada para o mercado nova versão da solução de gestão de identidade produzida lá.
A Exceda, fornecedora de soluções para melhoria de performance na internet, investiu R$ 6 milhões para estar presente em Nova York, Virginia, Flórida, Boston, Texas e Califórnia, onde se instalou em Palo Alto para buscar competência em tecnologia de nuvem. No fim do ano, lança solução de análise e gerenciamento de carga das aplicações de clientes desenhada com ajuda do novo CTO (chief technology officer) David Reisfeld. "Lá criamos os módulos, aqui, os códigos", diz Claudio Marinho, sócio da empresa que tem escritórios também na Argentina e no Chile e, em cinco anos, pretende ter metade de seu faturamento, de R$ 95 milhões em 2013, proveniente de clientes americanos.
Embora seja brasileiro, o diretor de produtos da Modulo também fica nos Estados Unidos. Há quatro anos, a empresa especializada em governança, risco e compliance (GRS) tem escritório em Atlanta com 30 funcionários - também presente no Canadá, México, na Inglaterra e Índia e, entre 600 clientes, uma centena é de fora do Brasil e cerca de 60 são norte-americanos. "A presença local dá visão melhor sobre ambiente competitivo, visão de mercado, grau de maturação e demanda dos clientes", diz CEO Sergio Thompson, cuja meta de crescimento é de 35% este ano, quando os negócios devem somar R$ 80 milhões, e 70% em 2014.
Já a Hive, desenvolvedora de games e fornecedora de soluções de mídia social, já investiu R$ 1,5 milhão na filial de São Francisco para estimular negócios e se aproximar do ambiente de inovação. Os quatro funcionários locais são encarregados de participar de eventos, estreitar parcerias e falar com quem precisa. Um dos exemplos é a plataforma Swarm, cuja capacidade de oferecer conteúdo personalizado com base em redes sociais e geolocalização exige integração com serviços como Waze e Foursquare. "Se quero falar com o cara que desenvolve o algoritmo, tem de ser lá", diz o CEO Mitikazu Koga Lisboa, o Miti. A Hive faturou no ano passado R$ 7 milhões e este ano deve chegar a R$ 9 milhões.
No caso da Movile, fornecedora de plataformas e aplicativos para dispositivos móveis com 250 funcionários, a chegada ao Vale do Silício coroa estratégia de globalização iniciada há seis anos e reforçada com aporte do MIH, braço de investimento do sul-africano Napster - a empresa já está presente na Argentina, Colômbia, Venezuela e no México. "O mercado da mobilidade trabalha muito rápido. Participar de eventos, competir com startups, conversar com empreendedores e empresas rende aprendizado", diz o co-fundador da empresa e head dos Estados Unidos, Eduardo Henrique, cuja presença local já rendeu parceria com a Boingo para expansão do localizador de redes Wi Fi gratuitas FreeZone.
A Predicta também buscou investidores depois que sua plataforma de tecnologia de segmentação comportamental BTBuckets ganhou versão na nuvem e, em 12 meses, chegou a mais de 100 países. "Isso deu exposição a demandas de clientes e formas de fazer negócios diferentes da nossa", conta o CEO Marcelo Marzona. A venda de fatia majoritária para a RBS, em 2011, permitiu buscar nos Estados Unidos profissional de desenvolvimento de negócios e desenvolver mais recursos e integrações na ferramenta para aproveitar a base instalada de parceiros como datacenters de hospedagem, que atuam como canais de distribuição.

Mesmo uma presença mais ligeira, colabora com a veia inovadora. A ContaAzul, sistema de gestão oferecido como serviço para micro e pequenas empresas, ganhou, além do capital inicial, quatro meses de mentoria em métricas, distribuição online e design quando se tornou a primeira brasileira a participar da iniciativa de aceleração 500 Startups. A experiência rendeu melhor visão do modelo de negócios e de financiamentos - a empresa teve apoio da Anjo do Brasil e do fundo Monashees, entre outros. Um dos aprendizados foi relacionado à criação da experiência do usuário. "Hoje os designers vão para a rua observar o comportamento do cliente, filmam o que ele fala e a gente faz uma seção pipoca para entendê-lo e melhorar a funcionalidade", diz o CEO Vinícius Roveda.

Ogro famelico estatal, com a cumplicidade do Congresso, impoe novo imposto aos empresarios - Editorial Estadao

Vamos ser absolutamente claros: o governo, que é o principal violador da lei, da legalidade, da Constituição, neste país do nunca antes, nunca antes tinha chegado ao despautério de impor um novo imposto sem chamá-lo pelo nome, e sem precisar passar pelo processo legislativo, o único legal, de criação de um novo tributo (que não é imposto, e portanto, não vai ser dividido na federação, mas vai ser apropriado inteiramente pelo Executivo). Essa violência, essa ilegalidade, essa violação de princípios, preceitos e dispositivos constitucionais, acaba de ser cometida contra o conjunto dos empresários do país -- que, covardes, pusilânimes e idiotas, não ousam se mobilizar contra o Estado extrator -- com a plena cumplicidade dos congressistas, esses outros seres apalermados que só sabem arrecadar e gastar em seu próprio favor.
Inacreditável como o Brasil caminha rapidamente para o fascismo corporativo, pela mão de um governo que comete ilegalidades toda semana, praticamente todos os dias, e que tosquia todos os brasileiros impunemente.
Só se pode ser pessimista com o futuro do país...
Paulo Roberto de Almeida

Editorial O Estado de S.Paulo, 20/09/2013

Em mais um ato desmoralizante para o Congresso, senadores e deputados curvaram-se e acataram o veto presidencial ao projeto de extinção da multa especial por demissões imotivadas ─ uma cobrança injustificável pelo menos desde junho do ano passado, quando sua finalidade foi plenamente cumprida. Com essa decisão, instituíram de fato um novo imposto, porque estava esgotada a razão de ser da multa, como informaram há mais de um ano os gestores do FGTS. Essa manobra garantirá ao governo mais de R$ 3 bilhões anuais para fechar rombos causados pela gastança e pela péssima gestão das contas públicas.

Segundo a desculpa oficial, o dinheiro será destinado ao programa Minha Casa, Minha Vida. Um projeto estabelecendo essa vinculação foi enviado ao Congresso, em mais uma tentativa de justificar a voracidade fiscal de uma administração inepta e perdulária.
A multa especial de 10% havia sido instituída em 2001, mediante um grande acordo político, para cobrir a perda causada ao FGTS pelos planos Verão, de 1989, e Collor 1, de 1990. Essa função se esgotou no ano passado. Durante todo o tempo os trabalhadores demitidos sem justa causa continuaram – e continuam – recebendo normalmente a indenização de 40% prevista em lei. Os 10% eram destinados ao Fundo.
Como a motivação da multa desapareceu, a consequência normal e previsível ─ este ponto é essencial ─ seria sua extinção. É insustentável, portanto, uma das principais justificativas do veto presidencial. Segundo o texto, os autores do projeto deixaram de indicar estimativas de impacto orçamentário e as “devidas medidas compensatórias”.
Não tem sentido a referência a “medidas compensatórias”, porque a cobrança dos 10% era excepcional e provisória. O governo jamais poderia, exceto por uma distorção administrativa, tê-la incluído em seu planejamento como fonte normal e rotineira de receita. A referência a planejamento, no caso deste governo, pode soar como brincadeira ou sarcasmo, mas é relevante para realçar o absurdo. O veto foi redigido como se a existência da multa fosse independente de sua finalidade e essa arrecadação fosse tão justificável quanto qualquer outra.
Para um governo gastador e pouco preocupado com a responsabilidade fiscal, qualquer dinheiro pode ir para o caixa comum das despesas gerais, pouco importando a motivação formal de seu recolhimento. Segundo informação publicada na terça-feira pelo Estado, o Tesouro devia em junho deste ano R$ 8,4 bilhões ao FGTS. Eram R$ 4,4 bilhões relativos à multa especial e R$ 4 bilhões referentes a antecipações de recursos para o programa habitacional. O Tesouro, portanto, estava administrando aquele dinheiro segundo critérios e interesses próprios. O Executivo havia deixado de levar em conta, havia muito tempo, a motivação particular da multa.
O projeto vetado pela presidente havia sido aprovado por unanimidade no Senado. Na Câmara, houve 315 votos favoráveis, 95 contrários e 1 abstenção. Ao sacramentar a extinção da multa, uma considerável maioria de parlamentares havia ─ pelo menos aparentemente ─ seguido o caminho mais razoável e mais compatível com os padrões normais de legalidade e com os interesses da economia nacional. Cumprida a finalidade daquela receita, restaria eliminar sua cobrança e, com isso, extinguir um componente relevante do custo empresarial.
Não se tratava de atender a interesses unicamente empresariais ou de ceder ao lobby de empregadores, mas simplesmente de cumprir uma tarefa necessária, previsível e útil ao País. Redução de custos desnecessários e injustificáveis é uma forma de favorecer a competitividade, a atividade produtiva e a criação de empregos produtivos. A multa jamais serviu para proteger os trabalhadores, até porque sua finalidade era outra: gerar uma receita extra e temporária para o FGTS.

Custos excessivos, no entanto, limitam a criação de postos de trabalho. Parlamentares negligenciaram esse ponto, ao acatar o veto à extinção de uma cobrança vencida e injustificável há mais de um ano.

Liberalismo: desfazendo equivocos, iluminando a doutrina - Rui Albuquerque

Devo a meu amigo e colega blogueiro, Orlando Tambosi, companheiro quilombola (como eu) da resistência intelectual contra a irracionalidade, o sectarismo e a gana totalitária dos "cumpanheros", o ter me chamado a atençao para este excelente artigo do Ordem Livre, onde fui buscá-lo por completo, mas fazendo-o preceder de sua introdução sintética, objetiva e claríssima.
Paulo Roberto de Almeida 
Na América Latina em geral - e especialmente no Brasil -, pouca gente conhece a filosofia do liberalismo. Do ensino básico à universidade, quase ninguém ouve falar em Locke (imagem), Hume, Smith, Montesquieu ou Tocqueville. Herdeiros de uma cultura toscamente ideológica e autoritária,  demonizamos as ideias liberais, que nem sequer conhecemos - e sem as quais, aliás, o mundo se reduziria hoje ao nazi-fascismo e ao comunismo. Uma das deturpações mais tolas é a de que o liberalismo preconiza o fim do Estado ou do governo. Artigo de Rui Albuquerque:

Regressar ao liberalismo clássico

Rui Albuquerque
Ordem Livre, 21/02/2013
I.
O liberalismo clássico é uma filosofia sobre a limitação da soberania e do governo e não sobre a extinção do governo. Não conheço nenhum autor dos séculos XVII e XVIII que possa ser considerado próximo do liberalismo e tenha advogado a inexistência do governo, ou tampouco desconsiderado a necessidade de instituições representativas dotadas de poder soberano. A preocupação de filósofos como Locke, Hume, Adam Smith, Montesquieu, Burke, Ferguson, Tocqueville, entre outros, não era a de demonstrar uma eventual inutilidade do estado e das instituições governativas, mas a de lhes encontrar uma legitimidade fundada nos valores da liberdade individual, da segurança e da propriedade privada, e, uma vez determinadas as razões que levaram à necessidade da sua instituição, criar as condições para que essas causas originárias não fossem ultrapassadas pela natural vontade expansionista que é característica de todo o poder político. No seu The Constitution of Liberty, Hayek confirma esta ideia, escrevendo, sobre os grandes autores do liberalismo clássico, que “eles nunca defenderam uma posição antiestatal, ou anárquica, que é consequência lógica da doutrina racionalista do laissez-faire; eles admitiam tanto funções adequadas para o Estado, como a instituição de limites à ação estatal”. E mais recentemente, seguindo esta mesma orientação, David Boaz, um liberal clássico do nosso tempo, tomava o seguinte apontamento no seu livro Libertarianism: A Primer [O manifesto libertário] (1997):
Não há dúvida de que, como Locke e Hume afirmavam, criamos o governo para melhorar o nosso bem-estar em tudo quanto seja possível. Mas entende-se que esta melhoria depende da possibilidade que tenhamos de viver numa sociedade civil, na qual a nossa vida, a liberdade e propriedade estejam protegidas, e onde nos sintamos livres para perseguir a nossa felicidade.
II.
Nesta medida das coisas, a leitura de Locke, eventualmente o fundador do liberalismo moderno, é elucidativa quanto ao que pensam os liberais da necessidade do abandono do estado de natureza, da instituição da sociedade política e do governo, e ainda sobre a consequente necessidade da criação de mecanismos que refreiem a tentação natural da soberania de ultrapassar as cláusulas do contrato social originário. Locke inspira-se nos escolásticos tardios de Salamanca (Molina, Mariana, Soto, Suarez) no que se refere às funções e à legitimidade do estado, bem como quanto à necessidade de impor limites à sua actuação, e, sobretudo, à ideia da existência de um direito natural inerente aos indivíduos que justifica as suas prerrogativas perante a autoridade dos poderes públicos e que deverá fixar o alcance daqueles limites.
Sobre o estado de natureza e o contrato social, Locke, ao invés de outros contratualistas, não dramatiza as condições que terão levado os homens a abandonar o primeiro e a firmar o segundo, rejeitando tacitamente a “guerra de todos contra todos” de Hobbes, embora reconheça que existem vantagens nas instituições políticas representativas, tendo em vista que elas podem assegurar mais eficazmente a propriedade, a segurança e a administração da justiça do que sucedia no estado anterior à sociedade política. O abandono do estado de natureza não se justifica, assim, segundo Locke, pela suposta incapacidade das pessoas de viverem pacificamente em sociedade, mas porque existem ganhos concretos para elas na criação de instituições que as representem e substituam nalgumas dimensões da vida social. Isto não excluiu, bem pelo contrário, a necessidade de conter o poder do estado para além da simples objetivação finalista da sua existência (que seria, mais tarde, assegurada pela Constituição escrita do estado de direito). Não basta, por conseguinte, declarar que ao estado cabe a garantia e a criação de condições para a viabilização dos direitos fundamentais dos indivíduos para que ele se restrinja a esse âmbito de atuação. Para isso, Locke concebeu a separação de poderes (ainda que, segundo Hayek, tenha sido John Lilburne — o famoso “Freeborn John” —, em 1645, que tenha tratado pela primeira vez o tema) e, dentro desse arquétipo, a autonomia integral da justiça perante a política. Anos depois e noutro continente, as ideias de Locke e de outros liberais clássicos (principalmente de Montesquieu) iriam inspirar a fundação e a organização política dos EUA, onde os pais fundadores se preocuparam com as questões da natureza do estado, dos fins do governo e da limitação da soberania, preocupações essas que resultaram evidentes dos Federalist Papers e que ficaram consagradas no resultado da Convenção de Filadélfia, que foi a Constituição de 1787.
III.
Esta é, portanto, a tradição liberal clássica. Quem nela procurar vestígios da negação da necessidade do contrato social e da sociedade politicamente organizada, procurará sem resultados. O liberalismo clássico reconhece a validade das instituições políticas e a sua necessidade, e atribui-lhes mesmo uma natureza e um fundo moral, na medida em que elas foram instituídas por homens para servirem os homens e garantirem os seus direitos fundamentais, num espírito de livre cooperação e não de coação: “Deus desejou que houvesse ordem, sociedade e governo entre os homens”, sintetizava, a este propósito, Locke no seu Opúsculo Latino (ou Segundo Tratado sobre o Governo, de 1662). Quanto às garantias desses direitos fundamentais, operam positivamente, fazendo com que as instituições públicas fiscalizem e punam aqueles que os infrinjem, e negativamente, ao obrigar o próprio estado a abster-se de quaisquer atos que os ponham em causa.
É bom que se tenha então presente que o que vai daqui, por exemplo, à crítica que Murray Rothbard moveu às ideias de “governo limitado” e da “Constituição” (vd. The Ethics of Liberty, principalmente o capítulo 23, parte III, The Inner Contradictions of the State), que ele considera, inspirado por Spooner e Nock, “uma irrealista e inconsistente ‘Utopia’”, é uma distância imensa, que não resolve coisa nenhuma, já que a alternativa à realidade dos fatos dificilmente passará por um mundo e uma ordem social que nunca existiram. Por outro lado, foi a esta tradição liberal clássica que se socorreram os melhores liberais do século passado, entre eles e com particular destaque Mises e Hayek, para renovar a filosofia liberal, tendo em particular atenção a necessidade crescente de conter o poder do estado e do governo, num século de expansionismo estatal preocupante.
Apesar de ser evidente a necessidade de repensar os parâmetros da teoria clássica do liberalismo (“A experiência dos últimos cem anos ensinou-nos muitas coisas que Madison ou Mill, Tocqueville ou Humboldt não puderam perceber”, escreveu Hayek no prefácio à edição americana do The Constitution of Liberty), a função essencial do liberalismo permanece igual à do passado: “A tarefa de uma política de liberdade deve consistir, portanto, em minimizar a coerção ou os seus efeitos negativos, ainda que não possa eliminá-la completamente”, concluiu Hayek na obra citada. Então, a tarefa prioritária do liberalismo consistirá, essencialmente, em contribuir para a racionalização do poder, a determinação das suas finalidades, e a sua limitação dentro de regras que evitem os seus abusos e que permitam aos indivíduos viverem as suas vidas com o mínimo possível de coação estatal.
IV.
Acresce, por outro lado, que o liberalismo clássico se preocupa também por entender as origens das instituições políticas. A sua existência não lhe poderá ser irrelevante ou relegada para um segundo plano, fazendo delas tábua rasa, como se não tivessem origem em necessidades individuais e sociais ponderáveis. O governo, os tribunais, os parlamentos ou câmaras representativas, em suma, a dinâmica do poder e a sua organização, chamemos-lhe o “estado” ou o “princípio governativo”, existem desde sempre, em qualquer local onde encontremos sociedades humanas, e ignorar esta realidade julgando que a podemos modificar ao sabor das nossas convicções não é avisado, nem prudente. Sobretudo, não será realista, e só poderá conduzir a pesadas frustrações, por parte dos seus defensores, e à rejeição da opinião pública, por óbvia inutilidade.
V.
Há, todavia, que ter em conta que limitar o crescimento do estado e do governo é uma tarefa difícil, tendo em vista a desigualdade de posições relativas entre a soberania e a sociedade civil, e que esse exercício se tem visto também prejudicado pela eclosão de novas tecnologias invasivas da individualidade, por preocupações securitárias crescentes (a exploração, por parte dos governos, dos sentimentos de medo e de carência de proteção das suas populações serve, quase sempre, para reduzir as liberdades fundamentais dos indivíduos), e por uma teia de dependências perante o estado que têm sido laboriosamente urdidas, ao longo dos anos, pelo chamado estado social. Em boa medida, há que reconhecer que o constitucionalismo liberal — que tão bons resultados conseguiu na transição das monarquias absolutistas para o estado de direito —, se encontra hoje em muitos aspectos revogado por um constitucionalismo social que permite que o estado e o governo possam ultrapassar os limites originariamente impostos no contrato social.
VI.
A subversão do constitucionalismo liberal começou muito cedo, praticamente ao mesmo tempo em que o movimento constitucional dava os seus primeiros passos. Na origem da sua aplicação moderna, isto é, a partir do começo do século XVIII, o termo “Constituição” designava a ideia de “poder limitado”. O problema era, à época, o de dar uma forma ao aparelho de estado e do governo que se não esgotasse na vontade soberana do princípe, para onde o absolutismo europeu o havia encaminhado, e que o submetesse ao cumprimento de regras gerais e abstractas emanadas por assembleias representativas da comunidade.
Verdadeiramente, essas preocupações constitucionais não se limitaram à necessidade de refrear poderes centralizados, mas também de encontrar uma fundamentação transpessoal para o poder e para o seu exercício, que residisse numa ordem natural eminentemente humanista e individualista. Daí que as duas primeiras preocupações da conformação da soberania pelo direito e pela Constituição residissem na proclamação de um elenco de direitos fundamentais do homem (dos indivíduos) e do cidadão (dos indivíduos considerados na sua relação com a civitas), por um lado, e na consagração do aparelho de poder e das regras do seu funcionamento, por outro. Isto é: definir quais serão os direitos individuais que a acção do estado deverá garantir e criar uma organização do poder soberano que o divida funcional e organicamente, determinando com clareza as suas competências e funções. Este último aspecto não é de somenos importância, porque convém ter sempre presente que, como assinala David Boaz na obra acima citada, “O valor de uma Constituição escrita radica em que se estabelece com precisão quais são os poderes do governo e, ao menos por omissão, se indicam os que não são”. Por outras palavras, uma Constituição que não determine os poderes que, por ela, a comunidade delega no estado, não será uma verdadeira Constituição, mas um mero documento formal para legitimar um poder sem regras.
VII.
O que sucedeu posteriormente à eclosão do primeiro constitucionalismo, período que tem o seu término no fim do século XIX e, sobretudo, nas preocupações sociais bem patentes na Constituição que inaugura o constitucionalismo social, a Constituição de Weimar, de 1919, foi a progressiva corrupção do sentido da ideia original de Constituição, que passou de um documento eminentemente orgânico, equilibrador e refreador dos vários poderes soberanos, para um documento programático, com conteúdo ideológico e que pode variar (e frequentemente varia) ao sabor das modas de ocasião. Esta foi, portanto, a fase que se seguiu à do Constitucionalismo Liberal, a qual podemos designar de Constitucionalismo Social, e que se caracteriza pela apropriação da Constituição orgânica e garantística pela ideologia do intervencionismo social estatista.
Este novo modelo de Constituição representou verdadeiramente a corrupção da ideia de Constituição, porquanto esta só será um documento que contratualize a transição do estado de natureza para a sociedade política se for ideologicamente neutra, se não tomar posições políticas, de modo a poder criar um denominador comum entre o maior número possível de cidadãos, instituindo regras gerais e abstractas que cumpram uma finalidade arbitral entre as várias apetências individuais e tensões sociais, em vez de representar uma visão da sociedade que será sempre e em todos os casos parcial. Quando a Constituição abandona a sua neutralidade teleológica para impor um modelo de sociedade, está, então, a caracterizar-se ideologicamente, pondo de lado a sua função de pactum societatis, para passar a assumir uma natureza de mero programa político-partidário.
VIII.
A Constituição evoluiu, deste modo, na generalidade das democracias ocidentais, de um documento orgânico para um estatuto programático, o que lhe retirou a neutralidade que fazia dela a norma jurídica fundamental sobreposta e conformadora dos demais poderes, para passar a ser um mero instrumento inspirador dos circunstancialismos momentâneos, ditados pelo sufrágio universal, dos poderes legislativo e executivo. O processo pelo qual se operou esta transformação foi, uma vez mais, o da exploração das fragilidades humanas, fazendo crer aos cidadãos que o estado, dado o seu múnus e as suas prerrogativas de soberania, podia garantir e satisfazer, sem dificuldade, todas as necessidades da existência individual.
A consagração constitucional dos chamados direitos sociais à educação, saúde, segurança social, emprego, ambiente, etc., como direitos fundamentais de segunda e terceira geração, perverteu a natureza da Constituição e permitiu que o estado e o governo se ingerissem na vida social privada de forma abusiva e praticamente ilimitada. A Constituição serve hoje para “garantir” o pleno emprego, as leis laborais protecionistas, a educação universal e gratuita, a segurança social, e para impor limites à propriedade, estatuir fins políticos e ideológicos para o governo (veja-se, por exemplo, o que sucedeu com inúmeros textos constitucionais europeus – entre eles, o português de 1976 – africanos e sul-americanos promulgados nas décadas de 70 e 80 do século passado). Perdeu o seu carácter neutral, sem o qual perde efetivamente a sua identidade e boa parte da sua utilidade. Neste permeio, a Constituição acabou por garantir menos eficazmente, os verdadeiros direitos fundamentais dos indivíduos, relativizando-os face à “importância” e “magnitude” dos direitos sociais, sendo muitas vezes até argumento para os pôr em causa, sobretudo quando, em nome destes últimos e do “interesse público” supostamente neles plasmados, permite a grosseira violação de muitos dos primeiros.
IX.
Será, todavia, um erro afirmar-se que o que falhou foi o constitucionalismo liberal, que cumpriu exemplarmente a sua tarefa de garantir os verdadeiros direitos fundamentais dos cidadãos, que são os de primeira geração (vida, propriedade, liberdade, justiça universal e fundada na lei, etc.). O que não foi conseguido foi a preservação desse espírito do primeiro constitucionalismo, permitindo-se que ele tivesse evoluído para patamares que não deviam ser os seus. Mas isso foi consequência do êxito do constitucionalismo e do liberalismo na sua missão de refrear o poder público e de criação das condições para a afirmação da liberdade individual e para a prosperidade pessoal e social, que levou a que se admitisse que, uma vez resolvidos esses problemas essenciais, seria possível tratar de outros a partir de Constituições programáticas e de governos com mais capacidade de intervenção. Felizes com o sucesso alcançado por esse primeiro momento, que ocasionou prosperidade e bem estar nos países onde vigorou, pensou-se poder ir mais além e garantir por via da política e do governo o que compete aos indivíduos tentarem alcançar pelo uso das suas capacidades e pelo exercício da sua responsabilidade individual. Por conseguinte, do que agora importa cuidar cuidar é de voltar a pôr o estado e o governo dentro dos limites originários do contrato social liberal, o mesmo é dizer do Estado de Direito característico de uma sociedade livre.
X.
Não será, contudo, fácil consegui-lo. Na verdade, muitos são já os anos de vigência do modelo do constitucionalismo social, como muitos foram os interesses e dependências entretanto gerados pelo crescimento do estado social, assim como foi imensa a expansão do estado e das prerrogativas legais da atuação do governo verificada ao longo das últimas décadas. Todavia, ensina a História que o melhor modo de levar um poder a ceder e a se retrair é pela constatação prática de que ele se encontra esgotado. Todas as grandes transformações políticas ocorridas ao longo da História ocorreram menos pelo sucesso e pela força das novas soluções do que pelo fracasso e esgotamento das que se veem substituídas. Veja-se, a este propósito, os processos que levaram à derrocada de regime tirânicos, como o soviético, ou à substituição de regimes ditatoriais e autocráticos na Europa e na América do Sul, no fim do século passado.
XI.
Assim, e sem pretender praticar qualquer gênero de futurologia, há que ter em conta que os resultados atuais do modelo social seguido à sombra desse tipo de constitucionalismo e de modelo social são os piores, estando a ter consequências dramáticas um pouco por todo o mundo, principalmente nos países da União Europeia e nos EUA, onde se enveredou por uma deriva intervencionista e ultraestatista nos últimos anos. Para um liberal que não acredita na viabilidade e na sustentabilidade de um modelo social estatista, que reduz a liberdade individual e econômica e que empobrece drasticamente os países onde se aplica, a crise a que estamos a assistir, e que tem sido engenhosamente vendida como a crise do “mercado”, é verdadeiramente a crise do estado e do constitucionalismo social, e ela mesma se encarregará de obrigar os estados e os governos a abandonarem muitas das funções ditas sociais de que se encarregaram nas últimas décadas. Ao longo destes anos mais próximos, o intervencionismo secou a economia das nações onde se instalou para garantir a viabilidade das contas públicas, isto é, da despesa do estado. Hoje, as contas públicas continuam completamente deficitárias, agravando o seu déficit a cada segundo que passa, e a economia vegeta no meio de impostos absurdos para encher os cofres públicos e de regras burocrátricas que a asfixiam e levaram ao descalabro. Isso mesmo é o que está a suceder em países como a Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda, que são os casos mais flagrantes, ou na Alemanha, em França e na Itália, onde os estados estão obrigados a reduzir drasticamente as suas despesas, retirando-se, assim, de áreas sociais onde investiram fortemente nos últimos anos, confessando a sua incompetência para as gerir. A consequência inevitável desta “desapropriação” funcional será a privatização desses domínios e o regresso deles à sociedade civil.
O que tem sucedido recentemente nos EUA, com a derrota eleitoral da Administração Obama nas últimas eleições para o Congresso e o abrandamento da execução de alguns programas sociais que já estavam anunciados (vg. a reforma do sistema de saúde, incrementando a sua estatização), também leva a crer que o novo paradigma será de regresso ao princípio do primado do privado sobre o público. Isto só se fará, no entanto, se o estado reconsiderar as suas funções e limites de atuação, e se o fizer pela via constitucional, entre outros aspectos, considerando os direitos ditos “fundamentais” de segunda e terceira geração (já para não referir os de quarta…) como direitos a serem socialmente promovidos, em vez de “realizados” por via política e estatal. No fim de contas, o estado tem que determinar, com precisão, onde e ao que se destinará o dinheiro que tem para gastar. E, como não dispõe de dinheiro para quase coisa nenhuma, terá de abandonar a maioria das rúbricas do seu orçamento. Apesar de ser um caminho ínvio, a elevada probabilidade da falência do estado social poderá nos levar no sentido do regresso aos velhos princípios do liberalismo e do constitucionalismo clássico.
* Publicado originalmente por OrdemLivre.org em 24/11/2010

SOBRE O AUTOR

Rui Albuquerque é doutor em Ciência Política e CEO do Grupo Lusófona - Brasil.

sábado, 21 de setembro de 2013

Governo promove e estimula a inflacao - Rolf Kuntz

O principal responsável pela inflação no Brasil não é o tomate, nem o petróleo, nem o câmbio. Tem nome e endereço: chama-se governo brasileiro e mora (pelo menos enquanto durar este) no Palácio do Planalto, e sua obra nefasta em FAVOR da inflação tem a ajuda de keynesianos de botequim, que estão espalhados pela Esplanada dos ministérios, com o apoio entusiasta de milhares de outros keynesianos de araque espalhados pelas faculdades de economia do Brasil afora.
O governo indexou a economia, prometendo aumentos do salário além e acima das taxas de inflação e dos ganhos de produtividade (que são poucos, é verdade, mas estimados pelo governo generosamente e de forma geral para todos os setores da economia, independentemente do seu comportamento efetivo).
O governo concede reajustes tarifários para suas empresas monopolistas e outros carteis privados, em lugar de obrigar as empresas a reduzir preços para os consumidores, com base em ganhos de produtividade, que toda empresa sempre deve buscar (e o governo também).
O governo continua estimulando o consumo, pela via do crédito e outros subsídios pornográficos, em lugar de estimular o investimento e a produção.
O governo taxa demasiadamente, obrigando as empresas a remarcar preços para poder conservar margens de lucro.
O governo protege a economia exageradamente, permitindo que os industriais domésticos cobrem sobrepreços dos consumidores obrigados.
Enfim, o governo gasta demais consigo mesmo, com seus mandarins e marajás, com suas dezenas de milhares de aspones que contribuem para o partido totalitário, com seu intervencionismo nefasto na economia, com suas bolsas-isso e bolsas-aquilo.
O governo é o principal promotor da inflação no Brasil. E o principal violador da legalidade constitucional.
O governo é o principal obstáculo ao crescimento econômico, e a uma vida normal, sem corrupção...
Pronto, já disse o que tinha a dizer, agora podem ficar com o artigo.
Paulo Roberto de Almeida

De novo uma gravidez pequena, mas nem tanto

ROLF KUNTZ - O Estado de S.Paulo, 21/09/2013

A velha comparação da inflação pequena com a pequena gravidez pode ser tão detestável quanto qualquer lugar-comum, mas lugares-comuns podem ser didáticos. Além disso, a inflação mensal brasileira, por enquanto próxima de 0,3% e com tendência de alta, só é pequena para um país acostumado a taxas muito maiores que as do mundo civilizado e, de modo especial, que as de seus concorrentes. Mas os sinais da gravidez são cada vez mais visíveis. A inflação volta a mover-se com vigor crescente, depois de uma breve e enganadora acomodação dos índices. Todos os principais indicadores pioraram nos últimos dois meses, enquanto a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continuaram alardeando a contenção da alta de preços.
O sinal de alerta mais recente veio com o IPCA-15, prévia do indicador oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Este é medido entre o começo e o fim de cada mês. O outro, entre o dia 16 de um mês e o dia 15 do seguinte. O IPCA-15, divulgado nesta sexta-feira, havia ficado quase estável em julho, com variação de apenas 0,07%. A taxa mais que dobrou em agosto (0,16%) e continuou a aumentar em setembro, quando atingiu 0,27%. A acomodação no meio do ano foi enganadora, para quem gosta de ser enganado, é claro, porque resultou de pequenos truques de um governo empenhado em jogadas eleitorais.
Durou pouco o efeito, nada mais que ilusório, da redução política das tarifas de transporte urbano. Em agosto, ainda em consequência desse lance, o custo dos transportes incluído no IPCA-15 recuou 0,3% Em setembro, cresceu 0,3%, apesar da queda de preços do etanol e da gasolina. O custo da alimentação subiu 0,04%, bem pouco, mas havia diminuído 0,09% no período anterior. A alta poderia ter sido maior, sem o sensível barateamento de hortaliças. Mas o ponto mais importante para a avaliação da política oficial é outro.
Não tem sentido cuidar da inflação como se a alta geral de preços fosse ocasionada por um ou outro aumento localizado. Há poucas imagens mais enganadoras que a do famigerado vilão da inflação. Num mês é o preço do tomate, em outro, o do petróleo, num terceiro, o conjunto das cotações internacionais dos produtos agrícolas. De vez em quando o culpado é o câmbio, um preço com potencial para afetar muitos outros.
Esse tipo de palavrório pode dar colorido ao noticiário dos meios de comunicação, mas ninguém deveria tomá-lo ao pé da letra. Todos os países, na maior parte em desenvolvimento, foram afetados pela alta das cotações internacionais dos alimentos, nos últimos anos, assim como foram atingidos, na maior parte de 2013, pelo recuo desses preços. Mas nem todos enfrentaram inflação tão alta quanto a brasileira, embora, em muitos casos, a alimentação seja um componente importante do custo de vida.
No Brasil, a escalação dos vilões tem mudado e a inflação nunca desapareceu. Por isso mesmo voltou a ganhar força, depois das intervenções eleitoreiras do governo, O índice de preços por atacado, componente mais importante do IGP-10, da Fundação Getúlio Vargas, aumentou 1,46% em setembro, muito mais velozmente que no mês anterior, quando havia subido 0,19%.
Os produtos agropecuários haviam ficado 0,45% mais baratos em agosto e aumentaram 1,83% em setembro. Os bens industriais também ficaram bem mais caros, com alta de 1,32%. Ainda no atacado, os preços dos bens finais diminuíram 0,02%, mas, excluídos alimentos in natura e combustíveis para consumo, sobrou uma alta de 0,63%, nada desprezível.
Nem sempre esses aumentos chegam ao consumidor final. Isso depende das condições da demanda - fatores como o nível de renda, a oferta de crédito, o grau de resistência aos aumentos, a possibilidade de substituição de bens ou serviços e, naturalmente, as expectativas dos indivíduos e das famílias. A taxa de juros e o controle do crédito são os principais instrumentos de administração da demanda, no Brasil e em muitos países, mas o gasto público também é um componente importante desse quadro. Se houver alguma dúvida quanto à importância da demanda, bastará consultar o encarecimento dos serviços, 0,61% em agosto e 0,62% em setembro, no IPCA-15. Além disso, houve aceleração em todos os núcleos calculados pelos economistas para eliminar a influência de componentes mais instáveis.
No fim de agosto de 2011 o Banco Central (BC) iniciou uma baixa de juros e manteve essa política até abril deste ano, embora a inflação tenha sido muito alta durante todo esse tempo e até superado o limite anual de 6,5%. Além disso, a expansão do crédito continuou - e ainda continua. O governo jamais conteve a gastança e ainda estimulou o consumo com redução de impostos sobre alguns produtos, sem cuidar do aumento da produção interna.
Sem as famigeradas intervenções pontuais - contenção dos preços dos combustíveis e redução das tarifas de transportes e de energia - os números teriam sido muito piores. Todos esses fatos tornaram ainda mais grotesca a tentativa, repetida várias vezes, de atribuir a inflação brasileira à alta das cotações internacionais dos produtos agrícolas.
A única demonstração de juízo nos últimos meses foi a elevação de juros iniciada em abril pelo BC. O resto do quadro interno pouco mudou, exceto por alguma retração dos consumidores e pela redução do emprego no setor industrial.
Mas o governo mostra-se pouco preocupado e a presidente repete sua ladainha. Segundo ela, a inflação continuará dentro da meta. Mas isso vale para qualquer resultado até 6,5% ao ano, o limite de tolerância para situações excepcionais. A meta, em sentido próprio, é 4,5%, um alvo pouco ambicioso. Nem esse alvo deve ser atingido até o segundo trimestre de 2015, segundo o BC.   
*JORNALISTA

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