O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Relações Internacionais: Temas Clássicos, Rodrigo Gallo (org.); Prefácio: Paulo Roberto de Almeida; livremente disponível em pdf

Relações Internacionais: Temas Clássicos

Rodrigo Gallo (organizador)

Boa Vista: Editora Iole, 2021

ISBN: 978-65-993757-3-6

DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.4657531%20




Sinopse:

Este livro foi organizado para atender à formação dos internacionalistas: articular, em uma mesma obra, capítulos que possam suprir as necessidades de conhecimentos específicos, porém, já aplicados às particularidades dos cursos de Relações Internacionais (RIs).

A proposta deste livro não é renovar o debate teórico, mas oferecer subsídios para que os estudantes consigam enfrentar alguns dos principais temas essenciais para as RIs. Ao invés de apresentarmos ideias novas, optamos por debater os pilares elementares, para que, a partir daí, cada um possa se especializar na área de sua preferência.

É essencial ressaltar que os capítulos deste livro não dispensam a leitura dos textos clássicos e consagrados da área: nosso projeto apresenta aos leitores um manual de Relações Internacionais, que não os exime da necessidade de buscar a literatura original como forma de aprofundar seus conhecimentos.

 

Formato eletrônico, livremente disponível

http://editora.ioles.com.br/index.php/iole/catalog/view/14/24/39-1


Volume 1: organização Rodrigo Gallo 

 

1. Teoria do Estado e sistema internacional (Rodrigo Gallo)

2. Política Externa e Análise de Política Externa (Ivan Fernandes, professor da UFABC)

3. Organizações Internacionais (Mariana Maia Ruivo, professora visitante da USP Leste e Uninove)

4. Economia Internacional (Mayra Coan, professora da Fundação Santo André, e Pedro Godeguez, professor do IBMEC)

5. Sistemas Financeiros e Monetários Internacionais (Rodrigo Maschion, professor da Universidade Anhembi Morumbi)

6. Direitos Humanos (Marco Aurélio Moura, professor da FMU)

 

Prefácio


Relações Internacionais: temas clássicos e contemporâneos (vol. 1)

 

Prefácio de Paulo Roberto de Almeida

 

Qualquer analista, seja ele um diplomata ou um pesquisador acadêmico, das relações internacionais contemporâneas, ou seja, esta que se desenvolve sob nossos olhos, não deixa de enfrentar certo desconforto se por acaso fosse chamado a distinguir, segundo a terminologia do subtítulo deste livro, quais seriam os temas clássicos da disciplina e quais os distintivamente contemporâneos. 

Os temas clássicos adivinhamos empiricamente quais sejam: os das relações entre estados soberanos, nas linhas da estrutura westfaliana que já é velha de quase 400 anos; o da guerra e da paz entre as nações, segundo a obra, por si só clássica, de Raymond Aron; as questões do colonialismo, surgidas com os Descobrimentos, e as do imperialismo, em sua moldura europeia do século XIX; a sucessão de preeminências hegemônicas no cenário internacional, partindo da partilha do mundo entre as duas coroas ibéricas, seguida pelo avanço das demais potências europeias nas latitudes periféricas; sem descurar a emergência de uma economia mundial, já bem entrada a segunda revolução industrial, no terço final do século XIX. 

As relações entre estados soberanos são basicamente bilaterais, eventualmente pontilhadas por encontros mais amplos, do tipo do multilateralismo precoce, mas ainda oligárquico, experimentado no Congresso de Viena (1815). As guerras “clássicas” eram, primeiro, as mercenárias, depois as levadas a efeito por exércitos nacionais, segundo o modelo clausewitziano ainda vigente na era dos conflitos napoleônicos, para finalmente encontrarem um limite aos enfrentamentos globais com a mecanização e a nuclearização dessas disputas bélicas entre grandes potências; as que sobraram são conflitos interestatais, e mais frequentemente civis, nas nações periféricas. Colonialismo e imperialismo deixaram a fase da dominação direta e dos tratados desiguais para assumir novas formas, mais do lado dos investimentos e do livre comércio. A famosa disputa hegemônica, por fim, não deve mais passar por algum conflito global – dada a devastação que poderia produzir, ameaçando a própria sobrevivência da Humanidade – e sim pela sucessão de “Estados comerciais”, como já analisado por Rosencrance e Gilpin em obras igualmente clássicas. 

A Guerra Fria geopolítica sepultou, possivelmente, a era das relações internacionais clássicas, que vinha da Grande Guerra (1914-18) e que se prolongou no segundo pós-guerra; agora, entramos na era das relações internacionais contemporâneas, que talvez seja marcada por uma espécie de Guerra Fria econômica, que deve estender-se pelo resto do século XXI, segundo linhas de tensão, de fricção e de cooperação ainda não de todo definidas neste início da terceira década do século. E do que serão feitas as relações internacionais contemporâneas? Possivelmente, por todos os temas que comparecem neste primeiro dos dois volumes de uma obra muito bem vinda no cenário ainda relativamente rarefeito da literatura especializada dos cursos acadêmicos da área, e por mais alguns temas complementares ou emergentes.

As relações entre estados soberanos continuarão no horizonte das possibilidades históricas pelos próximos 150 anos pelo menos, em que pese os temores paranoicos dos “antiglobalistas”, os alquimistas tresloucados do presente momento, depois que os “antiglobalizadores” já se cansaram de protestar contra as iniquidades do sistema internacional capitalista e se retiraram discretamente do cenário, depois de insistirem durante mais de uma década sobre o impossível “outro mundo possível” que eles pediam ruidosamente, com todas os gadgets das multinacionais. Se as relações bilaterais são cada vez mais complementadas, e até substituídas, pela diplomacia multilateral das organizações internacionais – a bête noire dos malucos do antiglobalismo –, as manobras nacionais não deixam de existir, daí a necessidade da análise voltada especificamente para a política externa, como comparece igualmente neste volume. 

O núcleo central dessas RI contemporâneas não é tanto a competição guerreira entre Estados de primeira grandeza e sim a concorrência econômica entre as potências tecnológicas, que podem ser, inclusive, anões militares, daí a importância do estudo da economia internacional, dos sistemas monetários e financeiros, como também aqui figura. Estamos no limiar do declínio do dólar enquanto moeda mundial? Se isso ocorrer, será ainda muito gradual, à medida da transposição da moeda digital chinesa em criptomoeda conversível e com pretensões universalistas, crescentemente operada por sistemas funcionando segundo princípios da inteligência artificial, que a China já domina amplamente. Outras questões se apresentam na interface dos temas globais, direitos humanos, meio ambiente, crime transnacional, sustentabilidade planetária e exploração extraplanetária, energias renováveis e o velho tema do desenvolvimento. 

Estas são as questões, várias das quais encontram-se dissecadas e analisadas nos estudos e ensaios aqui incluídos, cujos autores são professores especialistas nos temas a que se dedicam, com um perfeito conhecimento das demandas de seus alunos em salas de aula. Sejam bem vindos a elas, e comecem desde já a pensar nos novíssimos temas, aqueles que nos ocuparão, academicamente e praticamente, pelo resto do século.


Especulações sobre a evolução da ordem global do século XXI, à luz do Direito Internacional e da Política Mundial - Paulo Roberto de Almeida

Especulações sobre a evolução da ordem global do século XXI, à luz do Direito Internacional e da Política Mundial

Brasília, 1 abril 2021, 18 p. 

Palestra Magna no Curso de Pós-Graduação em Direito Internacional oferecido pela Faculdade CEDIN, a convite do professor Leonardo Nemer e da professora Amina Guerra.

5/04/2021, 19hs, via Sympla.


DESCRIÇÃO DO EVENTO

O curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Internacional do CEDIN tem por finalidade promover uma análise profunda das relações jurídicas internacionais, de modo a desenvolver nos alunos maior capacidade de compreensão dos modos de formulação de políticas e ações jurídicas de inserção internacional, capacitando os futuros especialistas a operar com o instrumental normativo das Relações Internacionais. Desde 2005, seu primeiro ano, a especialização em Direito Internacional conta com professores altamente qualificados, tratando de temas relevantes e atuais, organizados em quatro módulos, cujos conteúdos estão centrados no estudo de temas do Direito Internacional Público e Privado.

Especulações sobre a evolução da Ordem Global do Século XXI, à luz do Direito Internacional e da Política Mundial, com o Embaixador Paulo Roberto de Almeida.

The New China Shock - Mark Leonard (Project Syndicate)

  

Project Syndicate, Praga – 31.3.2021

The New China Shock

Like China's accession to the World Trade Organization in 2001, the country's new strategy for achieving economic self-reliance and geopolitical dominance poses an unprecedented challenge to the West. The difference this time is that Western leaders are no longer committed to a fanciful vision of "reciprocal engagement."

Mark Leonard

 

Berlin - Some months ago, the Chinese authorities approached some of the biggest foreign companies in the country and asked them to tap a representative to participate in a small closed-door gathering on China’s new economic strategy. The meeting was to be with a senior official at an undisclosed time and location, and, according to two people with direct knowledge of the matter who insisted on anonymity to discuss it, companies were asked to send only ethnic Chinese representatives. In both content and form, the episode captured China’s eagerness to make its economy more recognizably Chinese, developing its own technologies and energy sources while relying on domestic consumption rather than on foreign demand. 

Chinese President Xi Jinping’s new strategy centers on the concept of “dual circulation.” Behind the technical-sounding phrase lies an idea that could change the global economic orderInstead of operating as a single economy that is linked to the world through trade and investment, China is fashioning itself into a bifurcated economy. One realm (“external circulation”) will remain in contact with the rest of the world, but it will gradually be overshadowed by another one (“internal circulation”) that will cultivate domestic demand, capital, and ideas.

The purpose of dual circulation is to make China more self-reliant. After previously basing China’s development on export-led growth, policymakers are trying to diversify the country’s supply chains so that it can access technology and know-how without being bullied by the United States. In doing so, China will also seek to make other countries more dependent on it, thereby converting its external economic links into global political power.

The shift to a dual-circulation strategy raises the specter of a new “China shock” that could dwarf the impact of the first one, which struck Western economies after China’s accession to the World Trade Organization in 2001. Although China’s inclusion in the WTO generated a huge amount of wealth and lifted millions of Chinese out of poverty, it also created losers in places like the American Rust Belt and the United Kingdom’s “red wall” districts, setting the stage for the UK’s Brexit referendum and former US President Donald Trump’s election in 2016.

The West’s political class took a long time to wake up to the China shock, because it had committed to a strategy of “reciprocal engagement,” whereby Western consumers would benefit from low-cost Chinese imports, and Western companies would profit from China’s economic growth by tapping its massive market. These dynamics, it was assumed, would pressure China into opening up its market and society even more. But this assumption has not been borne out.

The new China shock’s impact on the West will differ fundamentally from the first one. For starters, the dual-circulation strategy will affect different parts of the economy and society. Rather than endangering legacy industries, the goal is to dominate cutting-edge sectors and compete with legal and financial firms in the City of London, automakers in Baden-Württemberg, and biotech firms in Sweden.

Specifically, Xi’s 2015 “Made in China 2025” plan emphasizes sectors such as artificial intelligence, semiconductors, batteries, and electric vehicles, and aims to increase the domestic content of core technological components to 40% by 2020, and to 70% by 2025. The goal is to use state subsidies, export controls, and controls on data to allow Chinese firms to replace foreign ones – or to make the foreign firms more Chinese. If Xi’s plan succeeds, the new China shock could hollow out as many high-paid jobs in tech and services as the first one did in heavy industry and textiles.

The shock will not end there. Today’s main geopolitical contest is not just about enforcing global rules; it is about who makes them. Whereas the West previously struggled to secure Chinese compliance with the trade, investment, and intellectual property (IP) frameworks it had crafted, China is now also seeking to make and enforce the rules. There are already or have been Chinese heads at the International Telecommunication Union, the International Organization for Standardization, and the International Electrotechnical Commission, and Chinese companies are increasingly trying to define the future of technology. Huawei alone holds more than 100,000 active patents, particularly in 5G technology, where it is competing with Western companies like Ericsson and Nokia to set global standards.

Moreover, today’s competitive tensions are no longer contained within a bilateral Western-Chinese relationship. With its Belt and Road Initiative, China has already established a network of economic ties with more than 100 countries, and it will not hesitate to use these channels to export Chinese standards along with its model of state capitalism and state subsidies. Soon (if not already), Western companies will face the same uneven playing field in third markets as they do in China itself.

One implication of the new China shock is that the new rules on data, research and development, and standards will force prominent Western companies to acquire Chinese characteristics, unless they withdraw from China altogether. As one well-placed private-sector observer put it to me, “China’s idea is that if companies like Daimler or Volkswagen want to work in China, they will have to move services, R&D, and new products there. Beijing hopes that dual circulation will transform them into Chinese companies.”

Needless to say, the new China shock demands a different set of responses than the old one did. Rather than trying to transform China or make inroads into the Chinese market, the West’s priority must be to transform itself, not least by developing industrial and investment policies to spur innovation and protect its IP.And to ensure that their economic “champions” have access to economies of scale, Western countries must establish shared standards for privacy, data protection, carbon pricing, and other issues. Ideally, this cooperation would formalize new trade agreements, investment packages, financing, and regulations to expand the share of the global economy that is open to non-Chinese technologies and frameworks.

Europeans, for their part, will need to enact domestic reforms to protect themselves from economic coercion in a world of gated globalization and weaponized interdependence. While much of the attention now is on China’s crackdown in Hong Kong and repression of the Uighur minority in Xinjiang, there is an even bigger shockwave approa

 

Mark Leonard is Co-Founder and Director of the European Council on Foreign Relations.

Celso Amorim sobre os militares e a antidiplomacia bolsolavista - Deutsche Welle

O ex-chanceler de Itamar e de Lula e ex-ministro da Defesa de Dilma, e eterno candidato a voltar ao Itamaraty, caso Lula volte ao poderá diz algumas quantas mentiras nesta entrevista à Deutsche Welle, mas acerta na maior parte das vezes em que critica a antidiplomacia e a não-política externa do desgoverno do genocida e seu patético chanceler acidental... PRA

ENTREVISTA, Deutsche Welle, 1/04/2021

"Nosso erro foi ter tido condescendência", diz Celso Amorim

Ex-ministro da Defesa no governo Dilma faz autocrítica sobre a falta de uma postura mais firme em situações de desrespeito de generais à prevalência do poder civil. "Eu não teria indicado o Villas-Bôas."

Celso Amorim

Celso Amorim chefiou Ministério da Defesa entre 2011 e 2015, no governo Dilma, e pasta das Relações Exteriores entre 2003 e 2010, sob Lula

O ex-ministro da Defesa Celso Amorim, que ocupou a pasta no primeiro mandato de Dilma Rousseff, acredita que os governos petistas erraram ao ter "condescendência” com posturas consideradas inadequadas de generais da ativa.

Sem especificar quais teriam sido os comportamentos acima do tom, Amorim defende que uma posição mais firme deveria ter sido tomada em situações de desrespeito à prevalência do poder civil.

"Deixaram pessoas com uma visão menos afinada com a prevalência do poder civil. É uma dificuldade intrínseca deles, que se expressou não por ser governo do PT”, afirma, em entrevista à DW Brasil.

Em entrevista à DW Brasil, o ex-ministro afirma que não teria indicado o general Villas-Bôas para o comando do Exército. A nomeação ocorreu em fevereiro de 2015, quando já havia deixado o cargo.

"Menos por uma percepção política de que ele ia fazer o que fez, e mais por eu ver nele uma pessoa que queria aparecer um pouco demais”, comenta. "Acho que a discrição é uma qualidade de um general. O militar não pode falar muito, pois está armado”.

Aos 78 anos, Amorim acompanha com preocupação o movimento "arriscado” do presidente Jair Bolsonaro que resultou na saída conjunta dos três comandantes das Forças Armadas. Ressaltando a dificuldade de decifrar as movimentações internas dos militares, ele não vê qualquer sinalização golpista entre os generais até agora.

Tendo chefiado o Itamaraty entre 1993 e 1995, no governo Itamar Franco, e nos dois mandatos do governo Lula, o ex-ministro diz acreditar que levará muito tempo para que o Brasil consiga reconstruir sua imagem internacional após os danos diplomáticos provocados no governo Bolsonaro, assim como se observou no pós-ditadura.

"Agora, o problema é mais grave, porque se trata de um governo eleito. Certas posições afetam a credibilidade do país. Quando um representante nosso, seja um jovem embaixador ou secretário, levanta a plaquinha nas assembleias, ali não está escrito ‘governo Bolsonaro', está escrito ‘Brasil'”.

DW: O livro de memórias do general Villas-Bôas explicita que havia um desconforto interno com os governos petistas, que atingiu seu ápice com a Comissão Nacional da Verdade. Isso era sentido por você à frente da Defesa?

Celso Amorim: A Comissão da Verdade realmente mexeu muito com as pessoas da reserva, sobretudo por ser um tema que lida com relações humanas e parentesco. Tem muitos formados da mesma família, às vezes o professor. Sem querer de forma alguma justificar, foi um assunto que pegou nervos expostos em vários setores. Eu não sentia nos comandantes uma oposição à Comissão. Obviamente que eles talvez não fossem elogiar. Mas a questão principal deles era a barganha por um equilíbrio a partir da Lei de Anistia, de investigar a verdade sem punir. A lei que criou a Comissão da Verdade reafirma a Lei de Anistia. Eu acho que eles absorviam, mas sofriam pressões externas, de ex-chefes, e deixavam a coisa delicada.

Mas nunca perdemos o diálogo a esse respeito. Eu fui intermediário entre a Comissão e eles em alguns momentos. A coisa me parecia bem manejada, mas isso tudo aflorou porque as instituições civis se debilitaram, sobretudo com o impeachment da Dilma. Uma parte importante da elite econômica e da mídia brasileira foi atrás deles, aí eles apoiaram. Não acho que nasceu lá. Podia haver descontentamento, mas, pouco antes do fim da Comissão, os jornais trouxeram como manchete um documento muito importante, em que eles admitem que violações de direitos humanos podem ter ocorrido nas organizações militares. Não é tudo, quem conhece um pouco de psicanálise sabe que a não negação é o primeiro passo para você chegar ao entendimento.

Houve ingenuidade dos governos petistas em relação aos militares e ao próprio general Villas-Bôas, nomeado comandante do Exército pela então presidente Dilma?

Não vou criticar a Dilma nem meus sucessores, mas eu não teria indicado o Villas-Bôas. Menos por uma percepção política de que ele ia fazer o que fez, e mais por eu ver nele uma pessoa que queria aparecer um pouco demais.

O comandante do Exército naquela época, assim como o chefe do Estado Maior e o comandante de Operações Terrestres eram pessoas muito discretas. E acho que a discrição é uma qualidade de um general. O militar não pode falar muito, pois está armado. Mas é uma questão de julgamento, as pessoas podem errar, assim como podem ter visto outros méritos que eu pessoalmente não veria. Ao mesmo tempo, não teria certeza, não diria "não ponha de jeito nenhum”. Não tivemos qualquer problema pessoal. Quando ele era comandante da Amazônia e eu tiver que ir lá, fui muito bem tratado.

Fui surpreendido quando o general Sérgio Etchegoyen assinou um manifesto contra a inclusão do pai dele no relatório da Comissão, sem por o nome como general, e sim como familiar. Deixaram pessoas com uma visão menos afinada com a prevalência do poder civil. É uma dificuldade intrínseca deles, que se expressou não por ser governo do PT. Acho que muitos realmente guardaram um ranço, mas o governo do Lula e da Dilma investiram muitíssimo. É só pegar projetos como o submarino nuclear, os caças Gripen, tudo aconteceu no governo do PT. Não houve falta de atenção na tarefa organicamente importante deles que é defender o país. 

No conjunto da obra, sem pensar em uma ação específica, acho que o nosso erro foi ter tido um pouco de condescendência nesses aspectos. Não em temas como a remuneração e condições adequadas para defender o país. Isso é justo e tinha que ser reivindicado. Mas, em algum momento, você tem que adotar uma posição mais firme.

Como ex-ministro de duas pastas importantes em que ocorreram trocas no início da semana, como você observa essas mudanças?

Pensando internacionalmente, até, eu não me lembro de ver a demissão dos ministros da Defesa e das Relações Exteriores no mesmo dia. São dois pilares do Estado. E ainda trocaram o ministro da Justiça, o terceiro pilar. Este foi numa espécie de dança de cadeiras, mas não deixa de ser um fato importante. É um movimento muito ousado, que deve ser lido com atenção.

O Bolsonaro é uma pessoa que luta principalmente pela sobrevivência. Seu objetivo, como ele mesmo enunciou, é desconstruir a realidade. Não é só contra os governos petistas. O chanceler que acaba de sair critica a política externa dos últimos 45 anos, do período Geisel para cá já não serve. O presidente fala o que agrada ao clã. Ele fez isso num momento em que se sentiu enfraquecido, com o manifesto dos banqueiros, a volta do Lula, os efeitos da pandemia e a derrubada do ministro das Relações Exteriores pela unanimidade do Senado. Era uma pessoa de quem ele gostava, e não teve uma voz que se levantasse para o defender.

Com esse movimento super arriscado, o Bolsonaro pode achar que ganha tempo. E, talvez, tenha razão. Para ele chegar a 2022, tem que passar pelos meses que faltam. Nesse período, pode ser que a pandemia arrefeça, por força da natureza ou avanço da vacinação. A economia mundial pode progredir, já há um crescimento da China e há muita expectativa sobre os EUA. Tudo isso pode fazer o preço das commodities subir, o que já está ocorrendo. Na expectativa dele, pode ser que a situação não seja tão ruim após uns cinco, seis meses.

Com que grau de preocupação você acompanha a crise entre o comando das Forças Armadas e o presidente Bolsonaro?

É complicado, entrar lá exige uma senha especial. Como estive lá por três anos e meio, tive alguns desses códigos, mas é sempre um pouco difícil. Por exemplo, eu não tenho certeza sequer se eles foram demitidos porque se sabia que iriam renunciar, ou se renunciaram porque sabiam que seriam demitidos. É uma coisa intrincada. Seja como for, é uma crise muito grande. Nunca houve um fato como este na história do Brasil.

Ele sentiu que precisava ter uma iniciativa, numa área que para ele é fundamental, a da segurança. O Bolsonaro tem muita confiança que poderá usar as polícias e outras forças que possam surgir. Ele próprio mencionou que poderia haver no Brasil um episódio como a invasão do Capitólio, nos EUA. O Bolsonaro precisa das Forças Armadas para agirem em seu favor, em face de uma dessas situações, ou para ao menos estarem neutralizadas. Foi esse conjunto de coisas que o levou a esse gesto totalmente inusitado, que não ocorreu nos governos militares nem em qualquer governo civil.

Você concorda com a leitura de que o comando das Forças Armadas sinalizou que não haverá endosso a iniciativas golpistas?

Sim, mas só estou falando com base em informações que saem na imprensa. Não fico chateando os poucos militares que conheço, pois sei que é uma situação muito difícil para eles. Uma das coisas que dizem é que o Bolsonaro esperava uma manifestação da Defesa, do Alto Comando ou do Exército crítica ou manifestando preocupação sobre a decisão do Supremo que trouxe o Lula de volta ao cenário político. Aparentemente, teria havido uma negativa do general Pujol de ir nessa direção. Obviamente, é algo que o incomoda muito e denota o respeito à institucionalidade.

Por um lado, é verdade que muitos militares se deixaram envolver pelos cargos, benefícios, e isso obviamente acaba tendo um reflexo na postura deles, mas o Alto Comando teve a preocupação de manter uma certa independência. Minha leitura até agora é de que iria acabar como na fábula em que o coelho começa a bater para pegar o melado e, no final, acaba grudado no melado, sem ter mais como sair. Mas a visão que eu tenho com esses últimos acontecimentos é que ele não estava totalmente grudado.

Qual é o legado deixado pela política externa conduzida pelo ex-ministro Ernesto Araújo ao longo de mais de dois anos?

É um desastre absoluto, de qualquer ângulo que você puder olhar. A própria percepção do Senado, de que uma má diplomacia estava tendo efeitos danosos para a vida das pessoas, nunca se viu antes. Havia interesses específicos. Às vezes, a agricultura achava que você podia fazer uma coisa, e a indústria não. Mas nunca houve uma unanimidade como desta vez em relação ao efeito danoso. E este é só o efeito interno. Em termos de substância e posicionamentos internacionais, o Brasil vai levar muito tempo para recuperar a credibilidade. Eu digo isso com muito pesar, porque queria que recuperasse rápido. Mas não é assim, no dia seguinte.

Após a ditadura militar, até o Brasil voltar a ter um papel importante na área de direitos humanos e voltar a ter uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, levou um tempo. E olha que a ditadura, em matéria de política externa, não foi tão ruim assim, sobretudo do Geisel para cá. Basta lembrar o Acordo Nuclear com a Alemanha, à revelia dos EUA. Com um governo militar de direita, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer o governo auto-proclamado marxista-leninista em Angola, pensando nos seus interesses estratégicos com este país, entre outros aspectos.

Agora, o problema é mais grave, porque se trata de um governo eleito. Certas posições afetam a credibilidade do país. Quando um representante nosso, seja um jovem embaixador ou secretário, levanta a plaquinha nas assembleias, ali não está escrito "governo Bolsonaro”, está escrito "Brasil”.

A política externa adotada pelos governos petistas, na qual você teve papel central, também é apontada como "ideológica” por grupos mais moderados, de centro-direita. Como você reage?

Não se trata apenas de uma interpretação errada. É uma mentira. Dizem que o Brasil virou as costas para os EUA e a Europa. O Brasil assinou uma parceria estratégica com a União Europeia em 2007, a convite deles, uma coisa que a Europa só tinha com quatro ou cinco países.

Tomamos inciativas conjuntas com França,  Noruega, Portugal e Espanha. Mantivemos, ainda, uma excelente relação com a Alemanha. A Angela Merkel me recebeu para conversar sobre a Organização Mundial do Comércio (OMC). Vá perguntar quantas vezes um chefe de Estado da Alemanha recebeu um ministro brasileiro. Não deve ter havido muitas. Eu não tenho registros. É porque davam importância ao Brasil nas negociações da OMC. O Brasil era central em muitas coisas que estavam acontecendo no mundo.

Com relação aos EUA, o Bush veio aqui duas vezes nos seis anos de coincidência de mandato, uma frequência incomum. E convidou o Lula também duas vezes, além das demais ocasiões em que o presidente foi lá por outros motivos. Um dos convites foi para Camp David, casa de campo do presidente norte-americano. Eu nem ligo para esses símbolos, mas quando as pessoas dizem que a gente virou as costas, é preciso lembrar essas questões.

No governo Dilma, por um bom trabalho feito pelos meus sucessores e ela própria, reflexo de um capital acumulado, elegemos os diretores-gerais da OMC e também da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). São inclusive organizações que se chocam, mas do primeiríssimo time do sistema internacional. Se você olhar, não vai encontrar com frequência duas pessoas da mesma nacionalidade exercendo esses dois cargos ou equivalentes ao mesmo tempo. Isso reflete o peso imenso que o Brasil tinha entre os países da África, Ásia e América Latina, sem perder prestígio com a Europa.

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O capitão genocida como "porteiro de bordel" - Jorge Henrique Cartaxo (Política Real)

 Jorge Henrique Cartaxo


  • Política Real, 01/04/2021 

    Na Mesa do Truco

    Quase sempre numa linguagem tartamuda de porteiro de bordel, Jair, dando voltas na mesa do “Truco” em que ele reduziu a Nação, vociferava suas ameaças ao País e suas instituições.
Os jogadores de cartas - Paul Cézanne( Foto: Arquivo do colunista)

O Truco é um jogo de cartas muito comum no interior do País, sobretudo em Minas e Goiás. Sua origem é imprecisa, possivelmente moura, mas chegou ao Brasil pelas mãos dos imigrantes espanhóis, italianos e portugueses. Usualmente jogado, no Brasil, com baralho francês, o Truco é um jogo de “vaza”. Ou seja: é um método de jogos de cartas onde cada jogador, em rodadas diferentes, adiciona uma ou mais cartas à mesa formando, assim, uma “vaza”. Cada carta define uma pontuação que indicará o vencedor daquele turno. Mas o que caracteriza e faz a distinção do Truco é seu emocionante sistema de apostas. Ao contrário do pôquer – grave e silencioso – o Truco é barulhento, cheio de gritos, gestos inusitados, quase uma algaravia onde o blefe e o engano dão o tom do certame.

O “governo” do Jair Bolsonaro – sempre acumpliciado com seus rebentos enrolados na Justiça – parece querer transforma o País e suas instituições numa imensa mesa de Truco, possivelmente numa varanda miliciana. Pelo menos tem sido assim desde o início dessa macabra gestão na sua assombrosa intimidade com a morte. No início foram os destemperos e o aparelhamento da polícia federal e dos órgãos de fiscalização, para proteger o seu filho 01, o senador Flávio, que responde ao já famoso processo das “rachadinhas”. Depois o seu estímulo e presença nas manifestações que pediam uma intervenção militar e o fechamento do STF. Com a pandemia, seu foco foi na promoção da expansão do vírus e na sua indiferença com as milhares de mortes de brasileiros. Boicotou as vacinas e o distanciamento social. De certa forma propugnou pela incerta e perigosa imunidade de rebanho. O resultado é o que estamos vendo agora: mais de 3 mil mortes por dia, o colapso do sistema de saúde e mais de 300 mil brasileiros mortos desde o início da pandemia.  Um horror! Em todos os momentos Bolsonaro, como na mesa de Truco, brandia o seu ZAP na manga – jamais apresentado – mas que sugeria ser as armas, a interdição das instituições, a violência e, no limite, os tanques, os fuzis, as metralhadoras e os generais do Exército brasileiro.

Apesar do silêncio cúmplice do Congresso, das idas e vindas do STF, do murmúrio intramuros de parte dos empresários, de banqueiros e do agronegócio, Bolsonaro, nos últimos dois anos, inundou o País com as advertências sonoras das arruaças dos seus coturnos. Quase sempre numa linguagem tartamuda de porteiro de bordel, Jair, dando voltas na mesa do “Truco” em que ele reduziu a Nação, vociferava suas ameaças ao País e suas instituições. Mas os ventos da nau desgovernada chamada Brasil começaram a mudar no início de março. Numa entrevista ao Jornal o Estado de São Paulo, o senador Tasso Jereissati deu a senha: “precisamos deter esse homem”, ponderou Jereissati. Desde então o cenário começou a mudar até o manifesto dos economistas, empresários e banqueiros, os encontros dos presidentes da Câmara e do Senado com a “elite” paulista e o discurso do Arthur Lyra, presidente da Câmara, advertindo que iria apertar o “botão da luz amarela”. Num átimo, Bolsonaro substituiu o ministro da Saúde, passou a defender as vacinas e despachou o alucinado ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Acuado em seu labirinto, Bolsonaro fez a sua maior aposta. Demitiu o ministro da Defesa, Fernando Azevedo Silva e determinou a exoneração dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Quis dar uma demonstração de força e, pelo que se entende, quer trazer, formalmente, as forças armadas para o seu projeto de poder. As repercussões dessa crise artificial na estrutura militar do País, antes de fortalecer, parece ter isolado ainda mais o Palácio do Planalto. O processo ainda está em curso e o presidente da República ainda não desistiu de mergulhar o País no caos, na violência e na desordem com o tempero sinistro da covid-19. A conferir!

Policy Planning na diplomacia britânica - Louise Kettle (H-Diplo)

Para quem se interesse por Policy Planning no serviço diplomático: 

H-Diplo Article Review 1026- "The Role of the Policy Planning Staff in British Foreign Policy"

by George Fujii

H-Diplo Article Review 1026

31 March 2021

Louise Kettle.  “The Role of the Policy Planning Staff in British Foreign Policy:  Historical Lessons and Contemporary Insights.”  Diplomacy & Statecraft 31:3 (2020):  487-508.  DOI:  https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/09592296.2020.1782675.

https://hdiplo.org/to/AR1026
Article Review Editors: Thomas Maddux and Diane Labrosse | Production Editor: George Fujii

Review by Andrew Ehrhardt, King’s College London

In the last decade there have been rather damning assessments of the United Kingdom’s ability to develop and implement strategy at the highest levels of government.  A 2010 Parliamentary inquiry into “Who does UK National Strategy” wrote of “the profoundly disturbing conclusion that an understanding of National Strategy and an appreciation of why it is important has indeed largely been lost.”[1]  The Foreign Office—now known as the Foreign, Commonwealth, and Development Office—has been the target of criticism as well.  A 2018 article in Prospect Magazine described the Foreign Office as “struggling to define its role” and disinterested in developing a strategy for life after the European Union.[2] More recently, Lord Peter Ricketts, former National Security Advisor and former Permanent Under-Secretary at the Foreign Office, has described strategy as a “lost art” among British policymakers.[3]

Despite these dire assessments, the study of strategy within the United Kingdom is arguably more popular than ever.  The Strategy and Security Institute at the University of Exeter and the Centre for Grand Strategy and King’s College London are two examples of dedicated university centres, while the establishment of undergraduate and postgraduate strategic studies programmes is indicative of its popularity among younger generations.  Scholars such as Catarina Thomson, David Blagden, Jamie Gaskarth, David Morgan-Owen and William James continue to drive the debate with notable scholarship, much of which is implicitly addressed to contemporary policymakers.[4] Scholar-practitioners such as Alexander Evans and John Bew are examples of writers who, having examined contemporary and historical case studies of British strategy, now find themselves in the halls of government themselves.[5]

Louise Kettle’s recent article on “The Role of the Policy Planning Staff in British Foreign Policy: Historical Lessons and Contemporary Insights” is a valuable addition to this wider body of literature and is a work which students, scholars and practitioners will turn to in the future.  Her focus is admittedly more specific than those studies which have examined ‘national strategy’ or ‘grand strategy,’ as it focuses on the evolution of a specific planning body within the Foreign Office from the 1950s onwards.  It is, as she argues early on, a body which has exercised an important influence on foreign policymaking—one which makes it an essential subject for scholars.  It is hard to dispute this claim given the centrality of the planning body to wider Foreign Office policy in the decades since its creation.  Its work, like the work of any Foreign Office department, deserves the attention of diplomatic historians and political scientists interested in British foreign policy. 

One of the great contributions of the article is to trace, at times in exhaustive detail, the changing responsibilities of this Foreign Office Planning Staff, from its creation after the 1956 Suez Crisis through to the present day.  At various points in the last six decades, senior Foreign Office officials, reflecting on the mechanics of British foreign policy, have sought to expand or contract the brief of this Planning Staff.  The publication of the Plowden report in 1964 led to an increase in responsibilities, as did the crises in Iran and Afghanistan in the late 1970s and early 1980s, respectively.[6] At times, this grouping of officials has been instructed to think in broad and bold terms about the direction of British policy abroad, while elsewhere, their responsibilities have been reduced to plugging bureaucratic holes.  To be sure, tracking these bureaucratic and administrative changes does not make for the most entertaining reading, but nonetheless, it provides an important scholarly foundation for those studying the policymaking structures within the Foreign Office during the second half of the twentieth century.

The article succeeds in shining light on several important aspects relating to the mechanics of policymaking within the Foreign Office.  Three overarching responsibilities, the author points out, have allowed for the Planning Staff to exercise a degree of influence: long-term thinking, challenging key assumptions and giving attention to ‘cross-cutting’ issues.  Concerning the first of these tasks, the article highlights an especially relevant point, namely, that contemporary Foreign Office planners look ahead 12-36 months when seeking to outline policy for the future (494).  It is details such as this which provides invaluable insight for those studying and analysing contemporary British foreign policy, as well as those interested in the practice of strategic foresight. 

At various points, the article also describes what might be referred to as the ‘politics of strategy-making.’ The majority of this brand of politics is intragovernmental, whether within the Foreign Office or across government departments; and it is fair to say that, at times, this political game is often as important as the strategy itself.  Foreign Office planners during the Second World War, a grouping which will be discussed later, certainly understood this reality of bureaucracy.  Not only was the relationship with their Foreign Secretary, Anthony Eden, important, but his willingness to stand up to the Prime Minister—including a threat to resign if a major planning paper was not read—attests all too well to this unchanging characteristic of policymaking.[7] Thus, a key determinant of the Planning Staff’s influence, as the article rightly points out, is its relationship with the Foreign Secretary and Permanent Under-Secretary. 

While the article serves as a valuable overview of the structure and functioning of the Foreign Office Planning Staff, it offers less in the way of detailed evidenced as to how, and to what extent, this grouping of officials has actually influenced specific Foreign Office policies over the years.  The author’s assertions of the Planning Staff’s relevancy remains vague and stems largely from interviews with former officials and from documents which, though pulled from the archives, seem only to note that certain Planning Staff documents were taken up by more senior officials.  Though it is useful to understand whether a certain policy recommendation was pushed forward, this does not necessarily reveal the Planning Staff’s influence on future policy itself.  To take one example, the author writes that, “A 1970 paper on relations with Japan [prepared by the Planning Staff] formed the basis for fresh objectives given to the Embassy in Tokyo.” While intriguing, there is little detail given beyond that initial claim, a fact which makes it hard for the reader to accept that, as the author posits, “some planning papers had a significant impact on policy” (495).  Overall, the article may have benefitted from a more detailed engagement with one or two of the more successful policy recommendations put forward by the Planning Staff.

At times, the article also acknowledges but refrains from wading into larger, more fundamental questions, such as the way in which the Foreign Office, despite its planning staff, has had its influence on British foreign policy slowly eroded in the decades since the Second World War.  As David Reynolds has noted, “The twentieth century has seen an underlying struggle between three departments, with influence gradually shifting away from the Foreign Office and the Treasury towards the Cabinet Office.”[8] There are numerous reasons for this decaying influence—and they vary depending on the period—but in the last decade, one of the central issues has undoubtedly been the presence, since 2010, of the National Security Council. Though it is true that, since the council’s establishment, a number of National Security Advisors have come from senior positions within the Foreign Office, the fact that the National Security Council Secretariat is housed in the Cabinet Office is representative of influence which might be waning.[9] Thus, as the article examines the influence of policy planners within the Foreign Office, there remains a particularly important underlying question—namely, the Foreign Office influence over national strategy writ large.

For future scholars focusing on Foreign Office policy planning, it will be worthwhile to examine the extent to which the creation of the Planning Staff in the 1960s was rooted in earlier approaches, and crucially, whether these earlier practices provide any insight for those who take up the mantle of planning in the present day.  As the author briefly mentions, there is a clear lineage running from the Planning Staff back to the Permanent Under-Secretary’s Planning Committee in 1949, which itself was modelled on the earlier Russia Committee (established in 1946).[10] Tasked with developing policy towards the Soviet Union in the post-war period, the Russia Committee was unlike the Planning Staff which came after it, in that its brief was directed at addressing a specific challenge.  Given the interest in earlier iterations of a Foreign Office planning body, which the article under review certainly exemplifies, it is worth investigating whether, in the present day, planners might find increased success if tasked with more specific questions. 

Going back even further, one arrives at the work of the Economic and Reconstruction Department, a grouping which could be considered the first, and arguably the most profound, example of policy planning within the Foreign Office in the twentieth century.  Established in June 1942, the department was led throughout the war by Gladwyn Jebb, a diplomat who, despite the department’s original brief being restricted to relief and reconstruction questions, ensured that it was the body which assumed responsibility for, in his words, “long-distance schemes.”[11] British plans for the United Nations Organization and, to a certain extent NATO, have their origins in the papers produced by this department.[12]

Given such achievements, one might describe this period as a kind of ‘golden age’ for policy planning within the Foreign Office.  But the extent to which a number of officials in the period, including Jebb, were wary of official bodies designed for this purpose is surprising.  A debate among senior officials in 1945 found that many considered it mere “crystal-gazing,” a practice which was viewed as more of an intellectual exercise than a policy endeavour.[13] Writing years later, Jebb noted that the practice of ‘planning’ was a “debatable aspect of foreign policy since theory is not only difficult to formulate but often impossible to apply.”[14]

For a number of these earlier Foreign Office officials, a dedicated Planning Staff would likely have been viewed as a wasteful layer of bureaucracy.  Not only was it dangerous to look too far into the future, but there was an underlying expectation that the construction of strategy itself would be carried out within and between departments.  Importantly, the heads of departments, the Assistant Under-Secretaries, and the Permanent Under-Secretary, in conjunction with the Foreign Secretary, would engage in a process whereby assumptions were challenged, objectives were calibrated and policy was delivered.

Thus, uncomfortable as it may seem, a question for scholars and practitioners in the present day is whether a dedicated strategy unit within the Foreign Office represents an essential or superfluous grouping.  The author’s useful findings suggest that at various points over the last sixty or so years, the Foreign Office hierarchy has reflected on this basic question, with senior leadership in the early 2000s even opting to disband the staff altogether.  Even where the article has offered tangible evidence of the impact of a Planning Staff between the years 1967 and 1971—the author points to recommendations concerning Anglo-French relations, the United Nations and the Anglo Japanese relations—it begs the question why, when there are regional and functional departments dedicated to developing policy towards countries and international organisations, is there a need for a strategy unit to deliver such proposals?  Should this not instead be the work of the departments and officials responsible for British policy towards these international actors?  More importantly, has the modern iteration of the Planning Staff—the Policy Unit—removed, to some degree, the responsibility for strategic thinking from rank and file Foreign Office diplomats?

To answer these questions it might help to expand on a significant point raised by the author, namely, that the “process of composing…drafts [is] as valuable as the product of the policy paper” (495).This reflection reveals an important, if often misunderstood, aspect of what many scholars and practitioners refer to as grand strategy. Far from the production of grand plans or comprehensive blueprints, grand strategy should be seen as a way of thinking about the international system and a country’s place within a particular political, economic or security order.  Crucially, grand strategic thinking should not be seen as a practice reserved for the high priests and priestesses of foreign policy but instead should pervade the rank and file.  Thus, while the author valiantly covers the attempts by the Foreign Office to create small, ‘highly regarded’ groupings responsible for this activity, the work also raises a larger, more fundamental question: are officials within this great department of state capable and willing, across all levels, to think grand strategically?

 

Andrew Ehrhardt is a Postdoctoral Fellow with the Centre for Grand Strategy at King’s College London.  He completed his Ph.D. in the Department of War Studies at King’s, where his research focused on the work of the British Foreign Office in the creation of the United Nations Organization.  He is currently working on a manuscript on the same subject.


Notes

[1] “Who Does UK National Strategy?”, House of Commons Public Administration Select Committee (London: The Stationary Office, 2010), 15.

[2] Steve Bloomfield, “An island apart: the inside story of how the Foreign Office is failing to prepare for Brexit”, Prospect Magazine, 15 October 2018.

[3] Peter Ricketts, “How British foreign policy lost the art of grand strategy”, New Statesman, 26 February 2020.

[4] Catarina Thomson and David Blagden, “A Very British National Security State: Formal and informal institutions in the design of UK security policy”, The British Journal of Politics and International Relations 20:3 (2018): 573–593; Jamie Gaskarth, “Strategy in a Complex World”, The RUSI Journal 160:6 (2015): 4-11; David Gethin Morgan-Owen, “History and the Perils of Grand Strategy”, The Journal of Modern History 92 (2020): 351-385; William James, “Grandiose Strategy?  Refining the Study and Practice of Grand Strategy”, The RUSI Journal 165:3 (2020): 74-83.

[5] Alexander Evans, “Organizing for British national strategy”, International Affairs 90:3 (2014): 509-524; John Bew and Gabriel Elefteriu, “Foreign Policy and National Security in the New Parliament”, Policy Exchange, September 2017.

[6] A committee chaired by Lord Plowden had been tasked in 1962 with reviewing “the purpose, structure and operation of the services responsible for representing the interests of the United Kingdom Government overseas.” Its main focus, however, was on the future of the Commonwealth Relations Office and the Commonwealth Service.  ‘The Plowden Report: Commonwealth Relations in Whitehall’, The Round Table: The Commonwealth Journal of International Affairs 54:215 (1964): 222-227, here 222.

[7] Oliver Harvey diary, 3 November 1942, in John Harvey, ed., The War Diaries of Oliver Harvey, 1941-1945 (London: Collins, 1978), 175-76.

[8] David Reynolds, Britannia Overruled: British Policy and World Power in the 20th Century [2nd edition] (London: Routledge, 2013), 45.

[9] Joe Devanny and Josh Harris, “The National Security Council: National security at the centre of government”, Institute for Government: Contemporary History of Whitehall, 4 November 2014.  When asked by the Foreign Affairs Committee who was “responsible for British grand strategy”, Jeremy Hunt, then Foreign Secretary, noted the presence and increased influence of the National Security Council, though he claimed that the Foreign Office was still the “conductor of the orchestra.” “Oral Evidence from the Foreign Secretary,” Foreign Affairs Committee, 31 October 2018.

[10] Ray Merrick, “The Russia Committee of the British Foreign Office and the Cold War, 1946-47”, Journal of Contemporary History 20:3 (1985): 453-468.

[11] Gladwyn Jebb to Orme Sargent, 20 June 1942, FCO 73/263/Misc/42/1.

[12] Sean Greenwood, Titan at the Foreign Office: Gladwyn Jebb and the Shaping of the Modern World (Leiden: Martinus Nijhoff Publishers, 2008), chapters 4 and 5.

[13] See for example a minute by Orme Sargent (later Permanent Under-Secretary at the Foreign Office from 1946 to 1949) from 28 June 1944.  FO 371/ 40741A/U6254.

[14] Gladwyn Jebb, The Memoirs of Lord Gladwyn (New York: Weybright and Talley, 1972), 227.