O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Tipologia dos regimes políticos segundo a Universidade de Gotemburgo - Relatório 2021

 A CLASSIFICAÇÃO DOS REGIMES POLÍTICOS DO V-DEM (UNIVERSIDADE DE GOTEMBURGO) 

Quatro grupos: 

(A) Democracias Liberais (LD): 32 países

(B) Democracias Eleitorais (ED): 60

(C)  Autocracias Eleitorais (EA): 62

(D) Autocracias Fechadas (CA): 24


In:

DEMOCRACY REPORT 2021. 

Produced by the V-Dem Institute at the University of Gothenburg.

https://www.v-dem.net/files/25/DR%202021.pdf

 

 No ranking geral (p. 34-35 do Relatório), a Dinamarca aparece em primeiro lugar em 179 países, os Estados Unidos apenas em 31, depois do Uruguai (16), da Coreia do Sul (17) e do Chile (25). 

O Brasil em 56. lugar, sendo que dos seus "companheiros" do Brics, a classificação é a seguinte:


África do Sul: 52

Índia: 97

Rússia: 153 

China: 174


See also: 




A LISTA DOS PAÍSES


DEMOCRACIAS LIBERAIS

1)    Austria LD

2)    Belgium LD

3)    Costa Rica LD

4)    Estonia LD

5)    Finland LD

6)    France LD

7)    Germany LD

8)    Ireland LD

9)    Israel LD

10) Japan LD

11) Luxembourg LD

12) Netherlands LD

13) New Zealand LD

14) Spain LD

15) Sweden LD

16) Switzerland LD

17) Taiwan LD

18) United Kingdom LD

19) USA LD

20) Australia LD–

21) Barbados LD– 

22) Canada LD–

23) Cyprus LD–

24) Denmark LD–

25) Ghana LD–

26) Greece LD–

27) Iceland LD–

28) Italy LD–

29) Latvia LD–

30) Norway LD–

31) South Korea LD–

32) Uruguay LD–

 

DEMOCRACIAS ELEITORAIS

1)    Botswana ED+ 

2)    Chile ED+ 

3)    Lesotho ED+

4)    Lithuania ED+ 

5)    Malta ED+

6)    Mauritius ED+ 

7)    Namibia ED+

8)    Portugal ED+ 

9)    Senegal ED+

10) Seychelles ED+ 

11) Slovakia ED+ 

12) Slovenia ED+ 

13) South Africa ED+ 

14) Trinidad and Tobago ED+

15) Vanuatu ED+

16) Argentina ED

17) Brazil ED

18) Bulgaria ED

19) Burkina Faso ED

20) Cape Verde ED

21) Colombia ED

22) Croatia ED

23) Czech Republic ED 

24) Dominican Republic ED

25) Ecuador ED

26) El Salvador ED

27) Georgia ED

28) Guatemala ED

29) Indonesia ED

30) Jamaica ED

31) Kosovo ED

32) Liberia ED

33) Maldives ED

34) Mexico ED

35) Moldova ED

36) Mongolia ED

37) Nepal ED

38) North Macedonia ED

39) Panama ED

40) Paraguay ED

41) Peru ED

42) Poland ED 

43) Romania ED

44) S.Tomé & P. ED

45) Solomon Islands ED

46) Sri Lanka ED 

47) Suriname ED

48) Timor-Leste ED

49) Tunisia ED 

50) Albania ED–

51) Bhutan ED–

52) BiH ED–

53) Gambia ED– 

54) Guinea-Bissau ED– 

55) Guyana ED–

56) Malawi ED–

57) Niger ED– 

58) Nigeria ED– 

59) Sierra Leone ED–

60) Ukraine ED–

 

AUTOCRACIAS ELEITORAIS

1)    Armenia EA+

2)    Hungary EA+ 

3)    India EA+ 

4)    Kenya EA+

5)    Lebanon EA+ 

6)    Madagascar EA+ 

7)    Mali EA+ 

8)    Montenegro EA+ 

9)    Afghanistan EA

10) Algeria EA

11) Angola EA

12) Azerbaijan EA

13) Bangladesh EA

14) Belarus EA

15) Benin EA 

16) Bolivia EA 

17) Burundi EA

18) Cambodia EA

19) Cameroon EA

20) CAR EA

21) Chad EA

22) Comoros EA 

23) Congo EA

24) Djibouti EA

25) DRC EA

26) Equatorial Guinea EA

27) Ethiopia EA

28) Fiji EA 

29) Gabon EA

30) Haiti EA

31) Honduras EA

32) Iran EA

33) Iraq EA

34) Ivory Coast EA

35) Kazakhstan EA

36) Kyrgyzstan EA

37) Malaysia EA

38) Mauritania EA

39) Mozambique EA

40) Myanmar EA 

41) Nicaragua EA

42) Pakistan EA

43) Palestine/West Bank EA

44) Papua New Guinea EA

45) Philippines EA 

46) Russia EA

47) Rwanda EA

48) Serbia EA 

49) Singapore EA

50) Somaliland EA

51) Tajikistan EA

52) Tanzania EA 

53) Togo EA

54) Turkey EA 

55) Uganda EA

56) Venezuela EA

57) Zambia EA 

58) Zanzibar EA

59) Zimbabwe EA

60) Egypt EA–

61) Guinea EA–

62) Turkmenistan EA–

 

AUTOCRACIAS FECHADAS (NÃO-ELEITORAIS)

1)    Kuwait CA+

2)    Uzbekistan CA+ 

3)    Vietnam CA+

4)    Bahrain CA

5)    China CA

6)    Cuba CA

7)    Eritrea CA

8)    Eswatini CA

9)    Hong Kong CA

10) Jordan CA

11) Laos CA

12) Libya CA

13) Morocco CA

14) North Korea CA

15) Oman CA

16) Palestine/Gaza CA

17) Qatar CA

18) Saudi Arabia CA

19) Somalia CA

20) Sudan CA 

21) Syria CA 

22) Thailand CA 

23) UAE CA

24) Yemen CA

 

Cf. Autocratization Turns Viral DEMOCRACY REPORT 2021. Produced by the V-Dem Institute at the University of Gothenburg.

 

Varieties of Democracy (V-Dem) produces the largest global dataset on democracy with almost 30 million data points for 202 countries from 1789 to 2020. Involving over 3,500 scholars and other country experts, V-Dem measures hundreds of different attributes of democracy. V-Dem enables new ways to study the nature, causes, and consequences of democracy embracing its multiple meanings.

 

Mini reflexão sobre os true believers e os muito crédulos (de vários lados) - Paulo Roberto de Almeida

Mini reflexão sobre os true believers e os muito crédulos (de vários lados)

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

 

“Homem ganha na Justiça direito de se tratar da Covid com Ivermectina e morre nos EUA” (O Globo).

A família tem o direito de processar o juiz na terra da liberdade? 

Ou de publicar nos jornais uma nota chamando-o de Grande Idiota? 

Aqui tem demais gente assim, começando pelo alto!

O surpreendente, no Brasil, não é que já tenha 60% de gente que não acredita em mais nada do que diz o psicopata do poder. É o fato que AINDA temos 20% de gente que acredita em tudo o que o energúmeno estúpido e boçal afirma (desculpem as redundâncias, mas ele merece).

Não gostaria de chamar de idiotas essa última tropa, mas juro que tenho a maior curiosidade para saber (já não digo entender) o que se passa na cabeça dessas pessoas, muitas delas diplomadas, até doutores, tendo todos os meios de informações à disposição, e ainda aderindo a um depravado perverso, sem moral e sem caráter, corrupto, ladrão e mentiroso, como fica evidente TODOS OS DIAS, em quaisquer meios de comunicação (menos na Jovem Panos, claro).

A mídia deveria ouvir as “razões” dessa gente, para podermos entender melhor esse apoio: será tudo raiva do Lula, nojo da megacorrupção dos lulopetistas, horror da Grande Destruição Econômica de Madame Pasadena, desgosto com a grande aliança que eles fizeram com o que há de mais podre na política brasileira (o que também é feito atualmente), enfim, rejeição absoluta de tudo o que havia antes?

Vejam que até a BBC, recentemente, no programa Hard Talk, deu a palavra àquele idiota do ex-chanceler acidental, que continuou insistindo nas mesmas bobagens que dizia antes, e que justamente causaram a sua desgraça (ufa? já não era sem tempo, eu me bati contra o Beato Salu desde antes da posse).

Confesso que sempre quis entender esses grandes mistérios da vida. Alguns dizem que o planeta, todos os países possuem uma cota fixa de idiotas irrecuperáveis.

Será mesmo verdade?

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4050: 18 dezembro 2021, 1 p.

 

Sobre o mito Lula e questões conexas - Paulo Roberto de Almeida

Sobre o mito Lula e questões conexas

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com) 

 

Ao que tudo indica, Lula virou, não exatamente uma ideia (pois para isso é preciso ter um mínimo de coerência e clareza, e isso ele não tem nenhuma), mas um mito, como sempre aspirou ser, do alto da sua megalomania arrogante. Depois do General De Gaulle, parece ser o único a falar de si mesmo na terceira pessoa (“Ah, o Lula disse”, o “Lula fez”), e realmente não precisa mesmo da esquerda para se eleger. Para que precisaria, quando pode contar com os oportunistas de sempre, os grandes capitalistas e os chefetes políticos regionais? Não existe político em ascensão que não seja logo cercado pelos oportunistas de sempre, os donos do dinheiro e os demagogos habituais.

Acho que ele nem precisa fazer campanha, e o PT pode entregar os seus 600 milhões do Fundo Eleitoral — essa excrescência pornográfica contra o povo pobre — para a Assistência Social (mas os chefetes petistas talvez prefiram premiar os marqueteiros e propagandistas amigos).

Mitos, como se sabe, são imortais, como provado ainda hoje por dois cadáveres eternos na vida argentina, Evita e o próprio Perón. Eu me pergunto se teve outro demagogo que fez mais mal à Argentina do que esse casal de empulhadores. 

Lula fez boas coisas pelos pobres brasileiros, isso é certo, mas de uma maneira provavelmente não sustentável, a não ser parcialmente (isto é, retirando de outras fontes, em lugar de aumentar a produtividade) e não exatamente “eliminando a pobreza”, mas sim subsidiando o consumo dos mais pobres. Isso movimentou a demanda, está claro, daquela maneira keynesiana que deveria ser só emergencial, e não politica de desenvolvimento, e acabou por criar distorções no mercado de trabalho que também são prejudiciais aos mais pobres.

Mas quem sou eu para ficar criticando um mito do tamanho do Lula, apenas um sociólogo aprendiz com mania de ser iconoclasta, contra todos os demagogos e mentirosos, como geralmente os mitos são? Minhas palavras ou escritos não têm a menor importância em face de mitos tão poderosos quanto Lula, são apenas o resultado trivial de um cético sadio, de um contrarianista que está sempre buscando o outro lado da coisa, aquilo que não se vê, como diria o Bastiat.

Essa campanha de 2022 promete ser uma das mais aborrecidas de todas as da redemocratização, pois seu resultado já parece ter sido garantido, a menos que o Marreco de Maringá (desculpem os moristas, mas não consegui resistir à atração simpática desse apelido, que não é desrespeito, apenas um toque de humor numa conjuntura miserável que nos trouxe o psicopata no poder) consiga convencer um número suficiente de eleitores — e, claro, antes dos eleitores, os capitalistas e donos do dinheiro, assim como políticos profissionais, mas estes nunca gostaram da luta contra a corrupção — que ele merece ir para o segundo turno, o que talvez nem seja necessário: os brasileiros estão cansados de campanhas eleitorais e, sobretudo, de pagar por elas, dupla ou triplamente, sem que nada mude de fato. 

Pode ser que a maioria, convencida ou cansada, resolva liquidar toda a fatura de uma única vez, sem desconto. Evitaria aquela chatice de ter de ouvir mais mentiras uma segunda vez e de ter de se deslocar mais um domingo para as filas dos locais de votação. Vamos acabar logo com isso: pelo menos teve crescimento e oportunidades nos tempos do sapo barbudo, nosso Perón de botequim. Acredito que este possa ser o raciocínio de boa parte de pessoas que antes nem cogitavam votar pelo Guia Genial do Povo, nas que já acham isso inevitável e querem logo terminar com a chatice. 

Acho que ninguém mais, ou pouca gente, acredita em políticos, depois de todas as patifarias que eles fizeram com o dinheiro público e depois de todo o rebaixamento de qualquer moralidade no trato das questões de Estado. As pessoas já parecem conformadas com a ideia de que o Brasil é o eterno país do futuro e sempre será. Por isso que um número crescente de jovens e, também, quadros formados, resolvem sair do Brasil, por vezes definitivamente. Isso é triste, porque revela que as pessoas já não mais acreditam em nosso país, em nossa capacidade de construir uma nação digna, decente, segura, com um mínimo de respeito por tudo o que pagamos como impostos, e que termina nos bolsos e nas contas dos oportunistas, dos corruptos, dos aristocratas do serviço público (e tem demais), dos que não merecem.

O brasileiro hoje é um descrente, um pessimista, ainda que muitos se agitem alegremente com a perspectiva da volta do mito, pois eles já sabem que tudo é muito frágil e, também, sabem que o mito andou metendo a mão no dinheiro, em conivência com ricaços e políticos. Mas, se é assim que tem de ser, que seja, logo, o mais rapidamente possível. Estamos cansados de conversa mole. Os políticos nos enganam, sabemos disso, mas eles são inevitáveis, como a morte e os impostos, já dizia o sábio Benjamin Franklin. 

Ficamos por aqui, que já está longo demais. Desculpem a chateação.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4049: 18 dezembro 2021, 2 p.

 


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Livro sobre o Visconde do Uruguai: Ideias e Diplomacia, de Paulo Fernando Pinheiro Machado; prefácio de Paulo Roberto de Almeida

Um livro de um colega diplomata, que me fez a honra de pedir o prefácio: 


Paulo Fernando Pinheiro Machado: 
Ideias e diplomacia: O Visconde do Uruguai e o nascimento da política externa brasileira – 1849-1853 
(Lisboa: Lisbon International, 2022; ISBN: 978-989-37-2189-6).

SUMÁRIO

 

PREFÁCIO, Paulo Roberto de Almeida


INTRODUÇÃO

1. O PAPEL DAS IDEIAS NA POLÍTICA

    1.1 CATEGORIAS DE IDEIAS

    1.2 O IMPACTO DAS IDEIAS NA POLÍTICA


2. O CONTEXTO: O MUNDO RESTAURADO PÓS‑GUERRAS NAPOLEÔNICAS

    2.1 PAX BRITANNICA

    2.2 AS POTÊNCIAS DO CONCERTO EUROPEU

    2.3 A AMÉRICA ESPANHOLA E O RIO DA PRATA

    2.4 A POSIÇÃO DO BRASIL


3. ORIGENS E GESTAÇÃO DO PENSAMENTO DIPLOMÁTICO DO VISCONDE DO URUGUAI 

    3.1 ORIGENS FAMILIARES

    3.2 EDUCAÇÃO FORMAL

    3.3 RELAÇÕES SOCIAIS

    3.4 EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL


4. O PENSAMENTO POLÍTICO E DIPLOMÁTICO DO VISCONDE DO URUGUAI 

    4.1 O PENSAMENTO CONSERVADOR

    4.2 O PENSAMENTO POLÍTICO DO VISCONDE DO URUGUAI

    4.3 URUGUAI E O IMPÉRIO


5. A DIPLOMACIA COMERCIAL

    5.1 OS TRATADOS DESIGUAIS

    5.2 A REAÇÃO AO SISTEMA DE TRATADOS

    5.3 A DIPLOMACIA FINANCEIRA


6. A SITUAÇÃO FINANCEIRA NO PRATA EM MEADOS DA DÉCADA DE 1840

    6.1 A DIPLOMACIA FINANCEIRA DO VISCONDE DO URUGUAI

    6.2 LIMITES: A GRANDE POLÍTICA AMERICANISTA


7. A SITUAÇÃO NO MOMENTO DA INDEPENDÊNCIA

    7.1 A IDÉIA DE NACIONALIDADE NO BRASIL

    7.2 A POLÍTICA DE LIMITES ANTES DA GESTÃO DO VISCONDE DO URUGUAI

    7.3 A POSIÇÃO DO VISCONDE DO URUGUAI

    7.4 A POSIÇÃO DOS SUCESSORES DO VISCONDE

    7.5 AS RELAÇÕES COM A INGLATERRA: DO CONFLITO À PACIFICAÇÃO


8. UMA RELAÇÃO CONFLITUOSA: AS MÁGOAS DA INDEPENDÊNCIA

    8.1 A POSIÇÃO DO VISCONDE DO URUGUAI

    8.2 PRECURSORES E SEGUIDORES DA POLÍTICA DO VISCONDE

    8.3 O PRATA: DA NEUTRALIDADE À INTERVENÇÃO


9. O CONTEXTO GEOPOLÍTICO DA REGIÃO

    9.1 O CONTEXTO GEOPOLÍTICO DA REGIÃO

  9.2 A POLÍTICA DO IMPÉRIO PARA O PRATA ATÉ 1849: ABAETÉ E A DOUTRINA DA NEUTRALIDADE

   9.3 A POLÍTICA DO VISCONDE DO URUGUAI: A DOUTRINA DA INTERVENÇÃO

   9.4 A POLÍTICA PARA O PRATA DEPOIS DO VISCONDE


CONCLUSÕES

REFERÊNCIAS


Trechos do meu Prefácio:

A construção da diplomacia brasileira por um de seus pais fundadores

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor 

 

Paulino José Soares de Souza não figura entre os founding fathers da nação, inclusive porque, nascido em Paris, em 1807, só tinha 15 anos quando da declaração da autonomia, em 1822. Mas, ele foi, indiscutivelmente, um dos pais construtores do Estado brasileiro e um dos fundadores de sua diplomacia, tal como ela conseguiu se libertar de duas pesadas amarras da herança internacional portuguesa e passou a cuidar, verdadeiramente, dos interesses nacionais. Este livro, do eminente colega diplomata e distinto intelectual Paulo Fernando Pinheiro Machado, consolida toda a informação disponível sobre a atuação de Paulino como chanceler (duas vezes), tanto no plano conceitual, quanto no terreno da prática, tendo ele “encerrado” dois episódios que tinham ficado em aberto desde a independência, e dado a partida a uma política externa que será continuada por seus sucessores, com destaque para os dois Rio Branco, o visconde e o barão, cuja tradição de qualidade tornou-se um patrimônio da diplomacia republicana, prolongada até praticamente o período recente.

O Brasil nascente iniciou-se na vida internacional tendo de resolver três problemas herdados da política externa de Portugal, dos quais o primeiro foi contornado logo após a Restauração dos Bourbons na França pós-napoleônica e dois outros prolongados justamente até a atuação de Paulino, no começo dos anos 1850. Caiena, a futura Guiana francesa, que tinha sido ocupada por forças enviadas pelo príncipe regente D. João logo após a chegada da Corte portuguesa no Rio de Janeiro – uma forma de vingança contra Napoleão, que tinha mandado invadir Portugal em 1807 –, foi devolvida à França pelo tratado de Utrecht de 1817. Mas o problema do tráfico escravo, nas relações com a principal potência da época, a Grã-Bretanha, e a questão da Cisplatina – o futuro Uruguai, também invadido por forças portuguesas durante a presença da Corte no Brasil –, incorporada ao território do Império, e foco do nosso primeiro conflito com as Províncias “Desunidas” do Prata, permaneceram como dois focos imediatos de tensão nas relações exteriores da nova nação independente, ao lado e além do próprio reconhecimento diplomático do novo Estado pelas demais potências e vizinhos regionais, finalmente resolvido a partir de 1825. Essas duas questões só foram resolvidas, pelo menos nos seus aspectos mais cruciais, graças à atuação de Paulino na sua segunda encarnação como ministro dos Negócios Estrangeiros, antes mesmo que ele recebesse o título de Visconde do Uruguai, que só chegou em 1854, depois que ambos já tinha encontrado soluções satisfatórias, graças ao segundo melhor chanceler do novo Império do Brasil, depois do primeiro, José Bonifácio, um dos pais fundadores, também conhecido como o “patriarca da Independência”.

Este livro tem um título apropriado, “Ideias e diplomacia”, pois estes são os dois grandes conceitos em torno dos quais Paulo Fernando Pinheiro Machado organiza os seus argumentos substantivos, mas também traz, em seu subtítulo, uma afirmação mais do que apropriada: o “nascimento da política externa brasileira”. Com efeito, até o começo das Regências, a política externa do Brasil tinha sido quase “portuguesa”, e não só pelos problemas do Prata e do tráfico, mas também em função das tribulações de D. Pedro I com os assuntos da antiga metrópole: entre estas se incluem as desventuras de D. João VI de volta ao trono de Portugal, a ambição de D. Miguel, irmão de D. Pedro, este o herdeiro legítimo da coroa na morte (altamente suspeita) do pai em 1826, sua luta deste para fazer de sua filha, Maria da Glória, a legítima sucessora como futura D. Maria II, em benefício de quem abdicou da coroa portuguesa, o que só se efetivourealmente depois da verdadeira guerra civil que teve de travar contra o absolutista D. Miguel, já após sua própria abdicação como imperador do Brasil e volta definitiva a Portugal, em 1831. 

(...)


Senador do Império, ministro de Estado por duas vezes na Justiça e por três vezes na pasta dos Negócios Estrangeiros, embaixador em missão especial na França, para tratar do caso da Guiana – que só seria resolvido na República, pelo barão do Rio Branco –, Paulino José Soares de Souza não deixou um registro circunstanciado de seu imenso trabalho de gestor, de político, de chefe fundador de uma diplomacia verdadeiramente brasileira, mas ofereceu sua contribuição de estadista como autor de duas obras de direito administrativo. Seu neto, José Antonio Soares de Souza, deixou sobre ele um relato encomiástico, mas honesto, na obra A vida do visconde do Uruguai (1944), com ampla informação sobre cada uma de suas múltiplas atividades nos diversos cargos em que se desempenhou sempre de forma brilhante. Outros estudiosos importantes, como José Murilo de Carvalho, que organizou a reedição de suas principais obras (2002), ou Ilmar Mattos (1999), examinaram o seu trabalho como construtor do Estado imperial. Esta obra, de meu colega Paulo Fernando Pinheiro Machado, completa agora, pelo estudo de suas ideias e pelo acompanhamento de sua ação na diplomacia, o panorama virtualmente completo desse grande formador do Brasil na primeira fase de sua existência como nação independente. 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, dezembro de 2021





A finalização da destruição do orçamento pelo trio JMB-PG-Centrão - Paulo Roberto de Almeida

A finalização da destruição do orçamento pelo trio JMB-PG-Centrão 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

Sei que a coisa começou lá atrás, com as tais emendas parlamentares, que nada mais eram do que puro pork-barrel deformado, pois em lugar dos “restos para os porcos”, eram nacos de um orçamento superestimado no Congresso que serviam para atender à sanha da ratazana.

A “vantagem” do antigo sistema era que depois o ministro da Fazenda e o Tesouro “contigenciavam” a “fome” dos ratos, algo que nem era constitucional, apenas informal e à discrição dos guardiões dos recursos públicos.

Mas a chantagem era brava e recíproca e, sob o reinado do chefão mafioso, o que se fez foi comprar parlamentares e bancadas inteiras, com “fontes” diversas: cartão Visa e propaganda sob o Mensalão e, depois, aí sim, o grande assalto, cientificamente organizado, não só à vaca petrolífera e à caverna de Ali Baba da Petrobras, assim como a extorsão generalizada contra quaisquer empresas, estatais e privadas, como ocorreu no Petrolão (e aí entrou, tangencialmente, a Lava Jata, objeto do ódio eterno dos parlamentares corruptos). 

Mas a fome da ratazana não tinha mais limites, e eles aperfeiçoaram tremendamente o know-how meio rústico da cleptocracia companheira com novas ferramentas e tecnologia inédita de extração de recursos. Primeiro foi tornar as emendas compulsórias e incontigenciáveis, obra do supercorrupto Eduardo Cunha, o bandido que, sozinho, valia meio PT.

Depois, com a estúpida proibição de financiamento empresarial pelo STF, foi criado o Fundão Eleitoral, irmão siamês dessa outra excrescência e aberração orçamentária que é o Fundo Partidário, duas monstruosidades contra a nação.

E assim chegamos a praticamente QUATRO tipos de emendas, aperfeiçoadas nos últimos anos pelo Centrão — com a TOTAL conivência dessa “organização criminosa” (apud Celso de Mello), travestida de partido político — e que acabaram de submeter o desgoverno do capitão inepto, refém dos bandidos, além de ser, claro, um boçal completo, o último negacionista do planeta e um psicopata perverso.

A conclusão é uma só e se trata de uma constatação elementar: Não temos mais orçamento! O que temos é um assalto permanente aos recursos da cidadania transferidos aos cofres públicos e assaltados sistematicamente e “legalmente” por hordas de ratos esfaimados travestidos de parlamentares.

Ainda que isso só atinja 3 ou 5% do orçamento não carimbado, estamos falando não só de BILHÕES de reais — que poderiam estar indo para saúde, educação, infraestrutura e assistência social —, mas de uma destruição completa de qualquer noção de orçamento público, um processo de ESTUPRO CONTÍNUO dos recursos públicos. 

É o fim do Brasil, tal como o conhecíamos como nação e como Estado, e justo no ano do Bicentenário da Independência!

Tenho a impressão de que esse processo de Grande Destruição da Economia vai passar para os futuros livros de História, como a conjuntura de desmantelamento do Estado, quando o Brasil confirmou a sua fase de declínio estrutural e de retrocesso institucional: seria um pouco com se tivéssemos sofrido invasões contínuas, sucessivas, de mongóis, de hunos, de godos, visigodos, ostrogodos, vikings, piratas, corsários e todos os bárbaros reunidos. Nem Roma sofreu tanto. Só falta salgarem a terra, esses membros de elites predatórias, esses donos do poder que não têm nenhuma noção das responsabilidades associadas ao poder, apenas volúpia.

Como sempre, assino embaixo:

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4048: 17 dezembro 2021, 2 p.

 


E agora Paulo [Guedes] ? - Alfredo Bertini (Folha de Pernambuco)

 E agora Paulo [Guedes] ?

E Agora, Paulo?
O Banal "José" dos Versos de Drumond e o Poderoso "Paulo" dos Reversos da Economia
Por Alfredo Bertini
Folha de Pernambuco, 17/12/21
E agora, Paulo?
O modelo acabou,
a ideia apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, Paulo?
E agora, você?
você que fez seu nome,
mas zombou dos pobres,
você que fez promessas,
que reclama, protesta?
e agora, Paulo?
Está sem time,
está sem discurso,
está sem apoio,
já não pode perder,
já não pode sonhar,
articular já não pode.
Porque a noite esfriou,
o dia não veio,
a gasolina subiu,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo parou,
e agora, Paulo?
Com a chave na mão
quis abrir portas.
Mas, não existem mais portas.
Pensou em sair do planalto,
porque seu recanto se esvaziou;
E nem deu pra pensar no Rio,
porque o seu velho Rio não há mais.
Paulo, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
uma economia mais conveniente,
se você insistisse,
mesmo que você cansasse,
se você revisasse...as reformas viriam.
Mas você não planeja,
não insiste e nem revisa,
você é duro, Paulo!
Sozinho nesse escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, Paulo!
Paulo, para onde?
Obrigado ao poeta lá de Itabira, Carlos Drumond de Andrade, pelo primor do seu poema "José", escrito em 1942, São versos e letras que me inspiraram hoje nesta adaptação fiel. Qualquer semelhança não é coincidência. Só exerci em cópia assumida, um simples esforço de adaptação. Ou seja, traduzi o respeito intelectual que tenho pelo poeta, num ensaio demonstrativo que expressasse toda decepção pelo comando dos rumos econômicos do Brasil. Os resultados após 3/4 de governo falam por si.
Assim como o cidadão José do poema, o todo poderoso Paulo Guedes da Economia parece também demonstrar agira o sentimento de solidão e abandono, diante da instabilidade econômica. A sensação é de quem se encontra perdido e sem saber mais qual caminho a seguir. Igual a José.
Assim, renovo a tese de que a literatura pode tornar teoria econômica mais palatável. E, por conseguinte, seus condutores menos sisudos nos tratos e mais populares nos atos.

Erdogan, o sultão está nu, dizem seus opositores - Anthony Faiola (The Washington Post)

Um antigo correspondente na América Latina se ataca a um típico ditador latino-americano, com a peculiaridade dele ser turco...

The Washington Post
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