O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 4 de outubro de 2022

War and Gold by Kwasi Kwarteng : leituras recomendadas

 Já que esse intelectual ascendeu a funções executivas no novo governo britânico – o que é extremamente perigoso, sempre – vejamos o que eu já tenho no meu blog sobre ele, leituras de vários anos atrás: 


sexta-feira, 20 de março de 2015

Protecionismo comercial: os EUA na vanguarda (depois do Brasil) - Kwasi Kwarteng


 

Já li esse livro, retirado da biblioteca pública de West Hartford, e recomendo. De fato, os democratas eram os liberais econômicos, no passado (e os mais racistas), e os republicanos de Abraham Lincoln os supostos inimigos da escravidão, mas protecionistas tradicionais. Depois de Roosevelt, nos anos 1930, a situação se inverteu, com os democratas fazendo aliança com os sindicatos, e os republicanos se aliando aos racistas no sul.
Mas os EUA não eram os mais protecionistas no século 19, nem no 20: eles perdiam amplamente para o Brasil e vários outros países latino-americanos.

O livro não é porém sobre comércio, e sim sobre moeda, ou mais especialmente ouro, e as guerras, desde a era moderna até a atualidade. Ao final, ele tem uma tabela com os valores atualizados do ouro nos diversos países desde o século 19, e os principais estoques nos países detentores do metal como reserva de valor.
Paulo Roberto de Almeida 

Today's selection -- from War and Gold by Kwasi Kwarteng. America today is largely an advocate of free trade, and the Republican party is usually the standard-bearer of that policy. However, the Republican party of Abraham Lincoln was highly protectionist, and the U.S. grew to be the world's economic colossus with a consistently high level of protectionism. It was only in the late nineteenth and early twentieth centuries, after its manufacturing supremacy was well established, that the U.S. began to selectively adopt a free trade policy as a means of expanding its markets on a country-by-country basis:

"Contrary to what is commonly believed today about the efficacy of free markets and trade as an instrument of development, the United States continued throughout the second half of the nineteenth century to be a strongly protectionist country. 'The extreme protective system, which had been at the first a temporary expedient for aiding in the struggle for the Union ... gradually became accepted as a permanent institution.' High protection became a 'dogma'. Indeed, 'The restraint of trade with foreign countries, by means of import duties of forty, fifty, sixty, even a hundred percent, came to be advocated as a good thing in itself ...' Ideas of this kind 'were no longer the exploded errors of a small school of economists; they became the foundation of the policy of a great people'.


"The Republican Party, the victorious party of the Civil War, the party of the great quasi-martyr Abraham Lincoln, won election after general election in the forty-eight-year period from 1864 to 1912. In thirteen elections, the Democrats managed only three victories, the last of which occurred in 1912. The only other years in which the Democrats won were 1884 and 1892, both of which were (uniquely in US history) won by the same candidate, Grover Cleveland, who is known as both the twenty-second and the twenty-fourth President of the United States. The Republicans established themselves as a party of national economic might. Their programme 'threw the entire weight of the federal government behind the expansion of northern industry'. Republican policy naturally supported a 'protective tariff for industry', and it was in these years that the tariff became 'exclusively and distinctively a protective measure', shorn of any idea that it was needed for revenue-raising purposes on the part of the federal government." 


War and Gold: A Five-Hundred-Year History of Empires, Adventures, and Debt
Author: Kwasi Kwarteng
Publisher: Public Affairs
Copyright 2014 Kwasi Kwarteng
Pages 73-74

Mais uma razão para não recomendar o BRICS: Lula e Bozo são a favor - Leonardo Cioni (Terra)

 Putgrilla, como diria o fradinho...

Isolado no Ocidente, Bolsonaro encontra apoio no BRICS

Por Leonardo Cioni 

Terra, 30/09/2022

https://www.terra.com.br/noticias/brasil/isolado-no-ocidente-bolsonaro-encontra-apoio-no-brics,025eea8532610b65d07ec4d2d6aa5a16m4db5b8g.html

Se quase todo o Ocidente, dos Estados Unidos à Europa - com pouquíssimas exceções -, não esconde que está torcendo contra a reeleição de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2 de outubro no Brasil, o líder de direita encontra apoio na China e na Rússia, parceiros importantes na frente comercial e membros do grupo BRICS.

    Esta é a convicção de muitos especialistas ao analisar os quatro anos de governo do ex-capitão do Exército caracterizados por alguns deslizes no campo diplomático, mas também por muito pragmatismo no campo econômico.

    Por exemplo, Bolsonaro foi um dos poucos chefes de Estado a tomar partido abertamente contra as sanções contra a Rússia, decididas pela comunidade internacional após a invasão da Ucrânia. Com isso, conseguiu manter intactas as importações de fertilizantes agrícolas, dos quais Moscou é o principal fornecedor.

    E no futuro poderá receber grandes descontos em petróleo e gás, segundo disse Bolsonaro recentemente, referindo-se a conversas "muito cordiais" com Vladimir Putin durante sua visita ao Kremlin, pouco antes do início da guerra.

    Mesmo com Pequim, o presidente brasileiro colocou questões práticas diante de divergências ideológicas: a China é o primeiro parceiro comercial do Brasil, do qual compra principalmente matérias-primas (carne, trigo e soja) e para quem, por sua vez, vende produtos estratégicos, em especial máquinas para a indústria e tecnologia avançada.

    Por outro lado, Bolsonaro não opôs, por exemplo, resistência particular ao avanço da empresa de telecomunicações Huawei (interessada em implementar seu 5G), chegando a contrariar o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, seu grande aliado, notoriamente contrário à expansão chinesa no território americano.

    Se por um lado ainda é desconhecido o real papel que a ex-União Soviética poderá desempenhar em relação ao Brasil, dada a continuidade da guerra com Kiev, por outro, as relações de Brasília com Pequim estão destinadas a crescer.

    Em vez de abraçar definitivamente um discurso anti-chinês, pensando no negócio, Bolsonaro surpreendentemente favoreceu o gigante asiático em detrimento dos países regionais, arriscando, entre outras coisas, pular definitivamente a ratificação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

    Para a China, em suma, a derrota de Bolsonaro nas mãos de Luiz Inácio Lula da Silva pode representar um obstáculo à sua expansão: o ex-presidente de esquerda é bem visto pelas principais potências ocidentais, que buscarão uma reaproximação com o Brasil, ameaçando o crescente protagonismo de Pequim.

    Bolsonaro está isolado dos EUA, de Joe Biden, e de quase todas as nações latino-americanas vizinhas e do bloco europeu quase completo, apesar do apoio da Hungria, do premiê Viktor Orbán, e muito poucos outros.

    Por isso, o líder de direita tenderá a continuar a focar sua política externa nos BRICS, sem medo de ser esnobado.

    Em suma, a reeleição de Bolsonaro, embora não represente o cenário ideal, paradoxalmente pode trazer ganhos concretos ao "País do Dragão". A de Lula, por outro lado, significaria reabrir as portas do Brasil para organizações internacionais como a OCDE, e a China arriscaria ter que competir com mais concorrentes na tentativa de ampliar sua influência política e econômica na América Latina. 


A guerra nuclear de Putin contra a Ucrânia - Igor Gielow (FSP)

 Rússia mobiliza 200 mil e divulga treinamento para guerra nuclear


Kremlin segue usando ameaça, que Alemanha diz ser uma chantagem a ser levada a sério

Folha de S. Paulo, 4.out.2022 às 9h20
Igor Gielow

O Ministério da Defesa da Rússia disse nesta terça (4) que já alistou 200 mil dos 300 mil reservistas que pretende usar na Guerra da Ucrânia em uma contestada mobilização, e passou a divulgar ostensivamente que eles estão sendo treinados para lutar num ambiente de guerra nuclear, química ou biológicas.

"O pessoal das unidades formadas [desde 21 de setembro] está sendo treinado em 80 campos e seis centros", afirmou o ministro Serguei Choigu em um evento em Moscou. Nele, foram repassados números de destruição de equipamento ucraniano, mas não foi dita uma palavra sobre as controfensivas de Kiev no leste e no sul do país invadido em fevereiro.

A perda das áreas ocupadas em Kharkiv (nordeste), de um bastião russo em Donetsk (leste) e o rompimento das defesas num ponto de Kherson (sul) têm preocupado a linha dura do governo Vladimir Putin, que passou a fazer críticas públicas à condução da guerra e sugerir o uso de armas nucleares táticas, de menor potência, para deter Kiev.

Militarmente, não parece fazer muito sentido, mas esta é uma carta que o Kremlin tem usado com frequência desde o começo do conflito. Ao decretar a anexação de quatro áreas ucranianas em que não tem controle total, Putin elevou a aposta, dizendo que elas seriam defendidas com "todos os meios possíveis" —e isso inclui o maior arsenal atômico do mundo.

Com efeito, desde domingo (2) o Ministério da Defesa passou a postar no seu canal no Telegram imagens e relatos de treinamento de recrutas, incluindo como lidar com terreno contaminado por armas nucleares, químicas ou biológicas. É rotina, claro, em especial em um país com as capacidades que a Rússia tem, mas a visibilidade ao tema não é casual.

A Alemanha, rival histórica da Rússia que passou a ser sua parceira energética nos anos que precederam a guerra, disse nesta terça que as ameaças nucleares de Putin podem ser para valer. "Não é a primeira vez que ele recorre a tais ameaças, que são irresponsáveis e nós devemos levá-las a sério", disse a chanceler Annalena Baerbock.

"Mas isso é também uma forma de nos chantagear", disse ela, dando nome ao que está na mesa. Baerbock sabe que a população europeia, particularmente a alemã, antevê um inverno de dificuldades sem gás russo para aquecer os lares e mover a indústria, e que o temor de um conflito nuclear ainda é presente nas gerações que viveram a Guerra Fria.

No cálculo do Kremlin, presumido obviamente, a ameaça pode desestimular o apoio europeu, já bem menos coeso e volumoso do que o americano, a Kiev.

Também nesta terça, o Pentágono fez vazar a repórteres a avaliação de que nada indica que Putin esteja prestes a mobilizar suas forças nucleares. Isso é possível devido ao monitoramento de movimentos em bases por satélites e informação colhida por espiões.

Mas o emprego de uma arma tática traz complicadores, com por exemplo o fato de que algumas são muito pequenas, facilmente transportáveis. Enquanto isso, a especulação em torno do tema só aumenta, dando uma vitória ao Kremlin.

Na segunda (3), por exemplo, o jornal britânico The Times publicou reportagem dizendo que os russos estariam enviando material nuclear para sua fronteira ocidental. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse nesta terça que não comentaria porque "não quero fazer parte do exercício ocidental em retórica nuclear".

Há especulação acerca uma detonação de intimidação sobre o mar Negro, talvez até atacando a ilha da Cobra, rochedo estratégico que os russos ocuparam e perderam. O problema é que o local é muito próximo da Romênia, e parece inevitável que a radiação chegaria a um membro da Otan (aliança militar ocidental), disparando uma resposta.

Da mesma forma, o uso de uma arma tática contra forças ucranianas demandar o emprego de diversas ogivas para ter efeito, o que potencializaria o risco de contaminação da própria Rússia. Para os soldados, há o treinamento de proteção pessoal e descontaminação de blindados e caminhões depois, mas não há o que fazer com uma nuvem radioativa.

Adeus política externa ativa? - Oliver Stuenkel (Estadão)

 Resultado das eleições torna menos plausível política externa assertiva do Brasil

Oliver Stuenkel
04/10/2022 | 10h00
Estadão

As numerosas vitórias de candidaturas bolsonaristas nas corridas para Senado, Câmara Federal e governos estaduais terão um profundo impacto na política externa brasileira ao longo dos próximos anos. Quem acreditava que a possível eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva permitiria que o Brasil pudesse simplesmente retomar uma agenda externa ambiciosa verá suas expectativas frustradas.

O ativismo externo do Brasil entre 1995 e 2013 só foi possível devido a um raro período de estabilidade política doméstica e consolidação democrática que começou com o Plano Real e terminou com a onda de manifestações de junho de 2013. A atuação internacional da época, que viu o Brasil liderar uma negociação de paz entre Peru e Equador em 1995, evitar um golpe no Paraguai em 1996, chefiar uma missão de paz no Haiti em 2004 e virar membro fundador do grupo Brics nos anos seguintes, só foi possível porque os presidentes podiam dar-se ao luxo de não se preocupar permanentemente com as tensões políticas internas que viraram regra ao longo da última década. Sem estabilidade política doméstica, nenhum presidente brasileiro tem como assumir a liderança no plano internacional.

Se Lula for eleito em 30 de outubro, é provável que enfrente uma resistência política enorme do Legislativo desde seu primeiro dia de mandato, demandando atenção redobrada ao cenário político interno. Liderar grandes iniciativas globais – seja no âmbito da saúde global, seja da crise de refúgio na Venezuela, seja qualquer outra área que requeira diplomacia presidencial – será bem mais difícil.

Da mesma forma, o forte desempenho de candidatos como Ricardo Salles, um dos deputados mais votados no Estado de São Paulo, dificultará as tentativas de um possível governo Lula de tornar o Brasil em um dos atores globais no combate ao desmatamento. Não passou despercebido no exterior que Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, persona non grata em Washington, Berlim e Oslo, ganhou muitos mais votos do que Marina Silva, ícone mundial no combate às mudanças climáticas, e que outros candidatos ambientalistas, como a deputada Joenia Wapichana, primeira mulher indígena eleita para a Câmara, não conseguiram se reeleger. Ricardo Galvão, ambientalista conhecido no exterior, também não se elegeu.

Se Bolsonaro conseguir a reeleição, mesmo um cenário político interno estável não levará a grandes iniciativas internacionais: tanto como o trumpismo, o bolsonarismo não vê nos fóruns multilaterais uma oportunidade para defender o interesse nacional brasileiro. Pelo contrário: na leitura do presidente, instituições como a ONU representam uma ameaça à soberania brasileira, o que explica o Brasil ter abraçado uma posição antimultilateral, levando a uma perda inédita da influência brasileira no âmbito externo.


Putin usará uma arma nuclear tática: consequências devastadoras para a Ucrânia - Signal Newsletter (GZero)

SIGNAL - The GZero Newsletter

 Will Putin drop a nuke on Ukraine?

October 4, 2022

   

Vladimir Putin isn't exactly losing the war in Ukraine, but he's definitely not winning it either. 

Although Russia has more territory now than before the invasion, things aren't going well. Putin has had to call up reservists, his annexation of four Ukrainian regions was immediately challenged, and he's on the hook now for selling to the Russian people the idea that they are at war with NATO and the West. 

Putin's push to win at all costs might soon force him to make one very serious and potentially scary choice. He needs to land a big blow, so what bigger blow than the biggest of them all: nuclear weapons. Russia's president has already hinted at the possibility, while Washington and NATO are sorting through what they might do in response.

Let's look at why he might, or might not, pull the trigger to launch what is known as a tactical nuke, a low-yield atomic warhead designed to take out military targets, not entire cities.

The sheer destructive capacity of a nuclear weapon could turn the tide of the war in Russia’s favor. Even a small nuclear strike could wipe out entire units of Ukraine's army in minutes. It would also give the Russians time to regroup their forces to push back against the ongoing Ukrainian counteroffensive and appease hardliners gripingabout Russia not doing enough to win in Ukraine.

Putin still has some other options. He could order cyberattacks, the sabotage of European energy links, or more intense conventional strikes on Ukrainian cities and infrastructure. But none of those have the shock value of a single nuke, which might just scare Kyiv into accepting Russia’s terms for “peace” — such as the recent land grab of 15% of Ukraine.

Also, Putin perhaps thinks he can get away with it (relatively) unscathed. In other words, the US and NATO will respond, but probably not in kind. 

Aside from warning of somewhat vague "catastrophic consequences," the West hasn't been very clear on what it would do if Putin pushed the nuclear button. Doing nothing at all is a non-starter, yet the US and its NATO allies, wary of a dangerous escalation with nuclear-armed Russia, might only toughen sanctions and send more advanced weapons to Ukraine — a best-case scenario for Putin.

Putin might even test a tactical nuke just to bait NATO into attacking Russia, which he's been daring the alliance to do since his invasion began. It would give him an excuse to say he was right all along about the West trying to encroach on Russia’s sphere of influence.

Still, for Russia, a non-nuclear Western response might be almost as bad as a nuclear one. US airstrikes could wipe out most of Russia's forces inside Ukraine and sink its entire Black Sea fleet in one fell swoop. Putin might back down if he thinks the price would be too high — even if it went against his own grievance-fueled narrative.

Dangerous escalation? Perhaps. But it hasn’t been ruled out by retired senior US officials.

Putin might lose his two most powerful friends if he pushes the button. Although we know both China’s Xi Jinping and India’s Narendra Modi are unhappy about how the war is going, we don't know what they recently told Putin about how they’d react to a Russian nuclear strike. But Putin does, and his decision-making will surely factor in how it'll go down in Beijing and New Delhi.

The Chinese or Indian response could be anything from a reprimand at the UN to cutting economic ties with Moscow right when the Russian economy is reeling from sanctions despite a strong ruble. Just the threat of turning down Russian oil and natural gas — which Putin needs to sell to keep his war machine going — should give the Russian leader pause.

There's no turning back. If Putin crosses that line, all other options cease to exist. He loses control of the narrative because he's done the unthinkable. Then again, perhaps the Russian leader has already backed himself into a corner, and it's all just a question of not if but when he orders the first nuclear strike since World War II.

What do you think Putin will do? Let us know here.

Lula pretende continuar apoiando o tirano de Moscou?

 Do Bozo eu Não Espero NADA! Mas dos companheiros anti-imperialistas se esperava um mínimo de comportamento ético nessa guerra de agressão do imperialismo russo.

Paulo Roberto de Almeida 

Soldado ucraniano com fuzil na mão dentro de uma trincheira no sul da Ucrânia

Ucrânia avança em território anexado ilegalmente pela Rússia

 

Forças ucranianas dizem ter retomado áreas ao longo da margem ocidental do rio Dnieper, em Kherson. Moscou admite que "inimigos conseguiram penetrar defesa".

https://wwwdw.com/pt-br/ucr%C3%A2nia-avan%C3%A7a-em-territ%C3%B3rio-anexado-

As forças ucranianas relataram que conseguiram recapturar cidades ao longo da margem oeste do rio Dnieper, no sul da Ucrânia, perto da cidade de Kherson, capital da província de mesmo nome – uma das quatro regiões anexadas ilegamente por Moscou.

O comunicado sobre novas conquistas territoriais das tropas ucranianas foi divulgado na segunda-feira (03/10), poucos dias depois que Kiev tomou o principal centro logístico de Lyman – o ganho no campo de batalha mais significativo da Ucrânia em semanas.

Além da confirmação oficial pela Ucrânia, fontes russas reconheceram que uma ofensiva de tanques ucranianos penetrou dezenas de quilômetros ao longo da margem oeste do rio Dnieper. Vários vilarejos foram recapturados ao longo do caminho.

O porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia. Igor Konashenov, disse que, "com unidades de tanques superiores na direção de Zolotaya Balka, Aleksandrovka, o inimigo conseguiu penetrar nas entranhas de nossa defesa".

No entanto, ele acrescentou que as tropas russas "ocuparam uma linha defensiva previamente preparada e continuam a infligir danos maciços de artilharia" às forças ucranianas.

"A informação é tensa, vamos colocar dessa forma, porque, sim, houve avanços, de fato", disse Vladimir Saldo, líder russo instalado na província de Kherson, em entrevista à emissora estatal russa. "Há um assentamento chamado Dudchany, bem ao largo do rio Dnieper, e ali mesmo, naquela região, houve um avanço. Há assentamentos ocupados por forças ucranianas."

Rob Lee, membro sênior do instituto de pesquisa Foreign Policy Research Institute, citou blogueiros militares russos informando que as tropas de Moscou haviam recuado até Dudchany – 40 quilômetros rio abaixo de onde estavam estacionados no dia anterior.

"Quando tantos canais russos estão soando o alarme, geralmente significa que eles estão com problemas", escreveu Lee em sua conta no Twitter.

Sucessos recentes de Kiev

O avanço no sul da Ucrânia reflete os sucessos recentes das forças de Kiev no leste – e que mudaram a maré na guerra contra a Rússia.

Essa guinada ocorre apesar de Moscou tentar aumentar as apostas ao anexar ilegalmente território ucraniano, ordenar uma mobilização parcial e ameaçar com uma retaliação nuclear. Os avanços militares ucranianos prepararam o terreno para avanços destinados a cortar ainda mais as linhas de abastecimento das forças russas.

Kherson tem sido um dos campos de batalha mais difíceis para os ucranianos. Na semana passada, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou tratados de anexação de Kherson e outras três regiões, após a realização de pseudorreferendos orquestrados pelo Kremlin. A medida foi ratificada pelo Parlamento russo.

Nações ocidentais condenaram a ação de Moscou e classificaram os "referendos" como uma farsa, conduzidos sob a mira de armas.  

pv/ek (DPA, AFP, Reuters, AP)


Na Ucrânia, faltou logística às forças russas; os ucranianos exploraram muito bem esse lado - Paul Schwennesen (Law and Liberty)

Putin calculou um breve passeio militar para invadir e ocupar toda a Ucrânia. Os soldados ficaram entregues a si mesmos. Esta a principal razão do fracasso. 

“An Army,” it is famously said, “marches on its stomach.” In the streets and trenches of Lyman, east of Kharkiv, the Russian army was reminded of this timeless maxim. Ukrainian forces (some of whom I know personally) “tightened the noose” around the village, controlling its supply lines, on the way to another major victory in the north. It might even have been Ukraine’s Saratoga moment—the logistical vanquishing of an overstretched invader which ultimately turns the tide of war. Unfortunately, while the moral victory is indisputable, occuring in the midst of Putin’s farcical annexation of eastern territories, an opportunity was lost for a more thumping defeat. 

Lyman, a dusty little village along the Donets River, had become something of a bastion—first for Russia’s advance and then its retreat—which makes its recapture a touchstone for northern operations and for Ukraine’s theater-wide strategy as a whole. I bought carrots from a farmer there as I left Kharkiv last time, and was stunned when it fell to the Russian advance. I’m therefore thrilled to hear of its recapture. Personal attachments aside, the Lyman operation illustrates a larger strategy of “Logistic Leapfrogging” (flanking, then cutting the supply umbilical—leaving enclaves of Russian forces isolated, demoralized, and no option but surrender). It is an investment strategy I had loudly pleaded for as I stood on the frontlines of the battle of Kyiv—a missed strategic opportunity when tens of thousands of Russian troops might have been cut off in their retreat north to Belarus. 

Freshly abandoned lines near Zurivka, east of Kharkiv in April. Flimsy shelter materials and low-quality personal gear exemplify the logistical weakness of Russian operations (Courtesy of author)

The Leapfrog strategy leverages the advantages of Ukrainian internal supply lines and is infinitely better than playing to Russian advantages in a grinding, incremental, frontal assault to recapture territory. The opportunity, I was heartened to see, presented itself again in Lyman, as Russia seems incapable or unwilling to learn from its past. The Leapfrog strategy may become an enduring theme of the entire war—for, as Napoleon adjured, “One must never interrupt your enemy when he is making a mistake.”

Ukraine, for its part, isn’t immune to mistakes either. It was dismaying to see Russian forces able to retreat through the supposed “encirclement” of Lyman—the crowning chance to capture possibly thousands of Russian fighters was squandered in what seems an uncoordinated rush to “take back” the city. Why could they not have waited, reinforcing supposedly “closed” escape routes with infantry? To be fair, Ukrainians cannot afford to lose manpower or materiel: it is fighting a Goliath ten times its size and feels losses disproportionately. The strain is already starting to show after months of sustained combat—soon it may quickly devolve into a crumbling capacity to resist Russian mass, regardless of how clumsily it is wielded. Just yesterday I was informed that five of my colleagues were ambushed in a building-clearing operation in newly liberated territory. In the maelstrom of machine gun fire and grenade shrapnel, all of them were wounded, two critically. The only thing that saved their lives was incoming Russian artillery “support” which caused the ambushers to scurry back to their retreating line. A lucky break at the tactical level, but this can’t go on indefinitely—Ukraine cannot long afford to put its fighting capacity into hospital bunks. 

That is why it is all the more important to continue to Leapfrog: cutting supply lines and enveloping swathes of Russians is the only way to equalize this inherently unequal campaign. Cautious flexibility, of course, is the name of the game: now that Russia’s top logistical officer, General Bulgakov, has been relieved of his post and replaced by 60-year-old Col. Gen. Mikhail Mizintsev, there is a good possibility that this strategy will require extra finesse. Mizintsev, known amongst Ukrainians as the “Butcher of Mariupol,” is likely to want to alter Bulgakov’s approach, if only to save his own neck. There is hope, however: while he is surely aware of his logistical disadvantages, if Mariupol is any indication he is unlikely to break from the basic paradigm of brute force backed by massive artillery support. Luckily, this kind of support requires thick conduits of ammunition transport which are increasingly vulnerable as Ukrainian resistance perfects techniques of light, rapid, flanking maneuvers and logistics interdiction. What’s more, Russian ammunition is not infinite. If abandoned ammunition is any indication, Russia is scraping deep into its stores of firepower:

1980’s vintage ammunition, May 2022 (Courtesy of author)

Could Ukraine’s “Saratoga moment”—cutting off an overstretched invading force from its supply lines—translate into a theater-wide strategy? Yes, and solid indications suggest that this is precisely the idea. With the success in Lyman, it is natural to suppose it will be repeated elsewhere. Crimea, for example, is a Yorktown waiting to happen: a bottled-up army, cut off from supplies of its “beans and bullets” cannot long endure. 

All of this is simply a reminder that this war has become, or more accurately has always been, a logistical one. As such, it is a race against depletion: every loss the Ukrainians incur must be offset by extracting ten times the cost to the Russian war machine. This is a desperately difficult challenge. Western support can fill the deficit to an extent, but it is not reasonable to expect it to fill the imbalance completely. The only real hope is in Ukrainian maneuverability (and patience!)—the capacity to isolate, invest, and pare off elements of the invading force that lie far ahead of its supply lines, leapfrogging and enveloping them in a trap of the Russian’s own making.

Lyman has focused international attention in much the way that Saratoga did for America’s Continental Army in 1777. In addition to a brilliant political blow to Putin’s supporters, the success helps highlight French and German reticence, goading them (for good or ill) into more meaningful involvement. Whether such involvement escalates the conflict into a low-grade nuclear slugfest, or perhaps pushes the more reluctant republics of the Russian Federation to finally make their break remains to be seen, but the fact remains: Lyman, like Saratoga, will be remembered historically as the moment the war turned.

Paul Schwennesen is completing a PhD dissertation on environmental history and Spanish conquest in the Arizona/New Mexico borderlands. He holds a Master’s degree in Government from Harvard University and degrees in History and Science from the United States Air Force Academy. He is a regular contributor to the Property and Environment Research Center and his writing has appeared at The New York Times, American Spectator, Claremont Review, and in textbooks on environmental ethics (Oxford University Press and McGraw-Hill). He is the father, most importantly, of three delightful children.

Novo embaixador da Bélgica no Brasil, Peter Claes, pretende fortalecer os laços com o Brasil (Diplomacia Business)

Bem-vindo ao novo embaixador da Bélgica no Brasil, país que eu considero como minha segunda pátria, pelo menos no plano intelectual, uma vez que meus três principais diplomas – graduação, mestrado e doutorado – são de universidades belgas.

Meus melhores votos a ele e toda a sua equipe em Brasília e nos demais postos no Brasil.

Paulo Roberto de Almeida


Embaixador da Bélgica pretende fortalecer os laços econômicos e acadêmicos de seu país com o Brasil

Peter Claes fala sobre seus planos em entrevista exclusiva

POR DIPLOMACIA BUSINESS - OUTUBRO 4, 2022

O novo Embaixador da Bélgica no Brasil, Peter Claes, chegou a Brasília, com sua família na semana passada. Oficial da reserva da marinha

O senhor já morou no Brasil no passado. Como vê o país em seu retorno, uma década depois?
Eu saí de São Paulo há dez anos, e conheço também um pouco do sul do Brasil. Meu trabalho no passado era com essas regiões, focando nas esferas comerciais e econômicas. Nunca tinha visitado Brasília, é minha primeira vez.  Também não conheço o norte e nordeste brasileiros. O trabalho de um embaixador é bem diferente das funções de um cônsul geral.

O Brasil é um país democrático com fundamentos muito estáveis, o que é bom e muito importante. Também posso dizer que o Brasil é um parceiro e aliado da Bélgica, que continuou a se desenvolver, com modernidade, e que enfrenta desafios como os outros. É um país rico, com potencial enorme, e utiliza este potencial para se desenvolver, dando chances aos jovens e empresas. Estou muito feliz de voltar e reencontrar um país que eu amo, e desejo fomentar ainda mais as relações bilaterais.

Qual sua avaliação das relações Brasil-Bélgica e como elas podem ser estreitadas?
As relações são muito boas. No nível político, a Bélgica é um parceiro mais discreto. Atualmente, meu país está mais focado na definição de uma política europeia. Bilateralmente, temos diálogo e cooperação com o Brasil.

Como embaixador, trabalharei para fortalecer as relações bilaterais nos âmbitos econômico, acadêmico, tecnológico e reforçar a imagem da Bélgica como parceira do Brasil. Temos uma história de 150 anos de parceria em todas as áreas.

Meus antecessores fizeram um trabalho muito bom. Temos uma rede chamada “Great Brazil”, que é uma coisa fantástica. Ele reúne todos os nossos parceiros belgas, amigos da Bélgica no Brasil, e amigos do Brasil na Bélgica.

Uma das nossas iniciativas na área dos negócios é relacionada à diplomacia econômica. Temos 7 conselheiros brasileiros da embaixada da rede diplomática do Brasil para nos informar sobre dados econômicos, interpretação e oportunidades econômicas no Brasil.

Como somos parte da União Europeia, a política comercial é diferente, pois é uma competência europeia, não belga. A embaixada lida com tudo que está relacionado à importação, exportação, problemas institucionais das nossas empresas, contatos oficiais com o governo brasileiro a todos os níveis.

O mundo está saindo de uma pandemia e, mais recentemente, lidando com uma guerra que tem consequências diretas sobre a economia. Quais os caminhos apontados pela Bélgica para o futuro?
O Brasil é um país afortunado por ter tudo. A Bélgica e a Europa são muito dependentes de energia e matérias-primas. Somos ainda muito fortes nas áreas tecnológicas e de inovação, e nossas instituições de pesquisas estão trabalhando 24 horas, pois queremos um mundo globalizado e melhor para todos.

Por isso, defendemos cooperação internacional e multilateralismo em todos os níveis, e também cooperação entre pequenas empresas de vários países, entre instituições de pesquisa e universidades. Esses intercâmbios são essenciais, não somente para o desenvolvimento e parcerias econômicas, mas também para promover a paz no mundo.

Agora, com essa crise na Ucrânia, estamos em uma situação onde não há diálogo com a Rússia. Estamos em um momento difícil e a Bélgica e outros países europeus buscam alternativas para lidar com os desafios, cientes que a manutenção de diálogo entre os países é essencial.

Quais os projetos conduzidos pela embaixada da Bélgica atualmente, tanto no aspecto econômico quanto na área cultural?
Na área comercial e econômica, temos grandes empresas belgas aqui no Brasil.  Na área cultural colaboramos com iniciativas da União Europeia. A organização Benelux (Bélgica e Luxemburgo) promove ações no dia da consciência negra aqui no Brasil, e faremos um projeto cultural juntos. Além disso, temos projetos de LGBTQI+, em diálogos com a sociedade civil.

Gostaria de visitar Manaus, onde temos um grande projeto cultural em parceria com a Fundação Rainha Elizabeth na Bélgica, concurso de música clássica, piano e violão. Fazemos um tour no Brasil, em novembro, com concertos em Curitiba, Belo Horizonte, São Paulo e Manaus. Gostaria muito de assistir esse concerto no teatro de Manaus, que é muito bonito.

Qual a mensagem o senhor gostaria de deixar para os brasileiros?
O Brasil é um país fantástico, com uma história excepcional, muito potencial, talento, e um povo incrível com grande criatividade. Um dos motivos que adoramos este país é justamente por conta da criatividade brasileira em todas as áreas, principalmente no que diz respeito a cultura e tecnologia. O Brasil, com sua diversidade, povo e coexistência pacífica, pode servir de exemplo para o mundo.

 


Resenha de A outra Independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824, por Evaldo Cabral de Melo - Paulo Roberto de Almeida

 Uma resenha quase que pertencendo à categoria do "what if?", mas que tinha sido pouco divulgada na época, pois a revista do Ipea que a publicou já não existe mais.

História quase virtual do Brasil

 

Evaldo Cabral de Mello: 

A outra Independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824

(São Paulo: Editora 34, 2004, 260 p.; ISBN: 85-7326-314-8).

 

            Estamos tão habituados à versão tradicional da independência do Brasil, de cunho unitário e quase que “naturalmente monarquista”, que negligenciamos outros modos possíveis de desenvolvimento da nação ou de formação do Estado. Já não falo de uma história declaradamente virtual, que poria em confronto “o que efetivamente se passou”, segundo a visão rankeana, com possibilidades inesperadas ou puramente hipotéticas, como uma separação holandesa do Nordeste, em caráter permanente, ou um movimento inconfidente bem sucedido nas Gerais, de caráter republicano, ou ainda uma divisão de fato entre as várias províncias do norte e do sul no processo de independência, o que teria conformado um arquipélago de nações luso-parlantes na América do Sul (a exemplo da fragmentação hispano-americana na vertente andina). 

            Este novo livro do diplomata-historiador (ou vice-versa) Evaldo Cabral de Mello explora justamente essa última possibilidade, a de uma outra independência possível, não como hipótese virtual, mas como realização efetiva, tal como tentada nas cidades e nos campos da Bahia e de Pernambuco, entre a insurreição precoce de 1817 e a Confederação do Equador em 1824. Esses movimentos, junto com outros do Sul, ficaram agrupados sob o amálgama enganador de “separatismo”, ao passo que os construtores do Império, a partir do Rio de Janeiro, passaram para a história com o beau rôle de unitários e de nacionalistas. Essa é, porém, uma perspectiva equivocada, uma vez que, no momento da independência, o Brasil era tudo menos Brasil, e sim um ajuntamento de províncias que se relacionavam mais com a metrópole (ou com a África, por exemplo) do que entre si. Luiz Felipe Alencastro já tinha alertado para esse arquipélago de sistemas desvinculados entre si, sem unidade econômica real. 

            Este livro conta a história desse “destino não manifesto”, traduzido no desejo de algumas elites regionais, no caso as do Nordeste, de recuperar o poder local perdido quando da vinda da família real e a centralização operada em favor do Rio de Janeiro. O federalismo, segundo Evaldo, era uma possibilidade real, se alguns destes processos não tivessem ocorrido: a manutenção da dinastia bragantina no Rio, um tratamento mais conforme às aspirações das elites regionais pelas Cortes de Lisboa e a determinação da “administração” da Corte no Rio em preservar sua posição hegemônica. Mas foi uma luta bárbara, na qual a força foi mais importante do que a persuasão. A historiografia ulterior alimentou o “rio-centrismo”, descurando ou desvalorizando os “separatismos” regionais, uniformemente agrupados na rubrica contrária à unidade nacional, quando o que eles pretendiam, na verdade, era uma forma diferente de organização do Estado (e do equilíbrio entre as províncias), provavelmente mais conforme ao modelo proposto nos Estados Unidos poucas décadas antes. 

            A Bahia, como se sabe, ficou sob ocupação portuguesa no episódio da separação, razão pela qual coube eminentemente a Pernambuco a liderança federalista, quando na verdade ambas as províncias tinham condições econômicas de sustentar um modelo diferente, singularmente autonomista, de construir um Estado não centralizado, ainda que passavelmente unitário, sob a égide da monarquia (mesmo se muitos liberais fossem declaradamente republicanos). Longe de obedecerem a impulsos regionais anárquicos e anti-patrióticos, como a propaganda fluminense quis fazer acreditar (dando os exemplos caóticos dos estados hispano-americanos), os patriotas do Nordeste queriam a verdadeira liberdade e a igualdade, num regime de poderes compartilhados. 

José Bonifácio foi, neste caso, menos sábio do que o habitualmente afirmado, pois que, partindo da idéia de uma “peça majestosa e inteiriça desde o Prata até o Amazonas”, denegriu o projeto federalista, assimilando-o ao republicanismo e acusando seus líderes de pretenderem um “governo monstruoso”, para serem nas províncias “chefes absolutos, corcundas despóticos”. Os “bispos sem papa”, no dizer de Bonifácio, foram esmagados e assim o Brasil continua a ser até hoje, a despeito da ironia de carregar no nome o adjetivo federalista, a mais unitária das repúblicas americanas.

 

Paulo Roberto de Almeida (www.pralmeida.org)

Brasília, 1411: 20 março 2005

 

1411. “História quase virtual do Brasil”, Brasília, 20 março 2005, 2 p. Resenha de Evaldo Cabral de Mello: A outra Independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824 (São Paulo: Editora 34, 2004, p. 260; ISBN: 85-7326-314-8). Revista Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD, ano 2, nº 9, abril 2005, p. 71;). Republicada na revista Plenarium (Brasília: Câmara dos Deputados, Ano II, nº 2, novembro 2005, p. 343-344). Relação de Publicados nº 548.