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quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Recuperação do Itamaraty pós-Bolsonaro será maior desafio para Mauro Vieira, dizem especialistas - Ana Rosa Alves e André Duchiade (O GLobo)

 Recuperação do Itamaraty pós-Bolsonaro será maior desafio para Mauro Vieira, dizem especialistas

Outras missões que novo chanceler terá incluem a crise venezuelana, as tensões sino-americanas e a reconstrução de laços na América Latina

Por Ana Rosa Alves e André Duchiade 

O Globo, 09/12/2022


O experiente embaixador Mauro Vieira, que voltará para o comando do Ministério de Relações Exteriores a partir de 1º de janeiro, terá como desafio imediato a recuperação de um Itamaraty que perdeu espaço e protagonismo e foi descaracterizado durante os quatro anos em que o presidente Jair Bolsonaro esteve no Palácio do Planalto. Para analistas ouvidos pelo GLOBO, outros pontos-chave incluirão uma saída negociada para a crise venezuelana, navegar pelas tensões sino-americanas e a reconstrução de laços na América Latina e em organismos multilaterais. 

A nomeação de Vieira, que já havia ocupado a pasta durante o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, foi confirmada pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira. Para o embaixador aposentado Roberto Abdenur, que chefiou a embaixada em Washington durante a primeira passagem de Lula pelo Planalto, a principal missão do novo chanceler é "reconstruir a política externa demolida no governo Bolsonaro, particularmente durante a passagem de Ernesto Araújo pelo Itamaraty": 

— Integro um grupo de embaixadores que se reúne para pensar nos rumos da política externa brasileira. Ele se divide em dois grupos. Alguns acreditam que o Brasil só poderá se recuperar muito em longo prazo. Outros, me incluindo, entendem que o país pode dar a volta por cima muito rapidamente — afirmou ele, dizendo que o Brasil "perdeu completamente a respeitabilidade e a confiança" durante o atual governo e viveu o maior isolamento internacional de sua História. 

Ex-embaixador do Brasil em Londres (1994-1999) e em Washington (1999-2004), Rubens Barbosa concorda que o desafio central será "restabelecer o papel do Itamaraty como principal formulador e executor" da política externa brasileira. Segundo o presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), que classificou Vieira como um dos diplomatas mais bem-sucedidos de sua geração, o novo chanceler terá a "responsabilidade histórica" de manter o Itamaraty acima de interesses ideológicos e partidários" após os últimos quatro anos. 

Atualmente embaixador do Brasil na Croácia, o sucessor de Carlos França já ocupou alguns dos principais postos no exterior, como a embaixada na Argentina, em Washington e a representação do Brasil nas Nações Unidas, em Nova York. O vasto currículo do "discreto" Vieira, disse Dawisson Belém Lopes, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), faz com que tenha as credenciais necessárias para pôr ordem: 

— O Lula não precisa efetivamente de um chanceler que vá carregar grande simbolismo porque a bandeira é o próprio Lula — disse ele. — Mauro Vieira será um chanceler da porta para dentro, será útil na organização do ministério, da burocracia do Itamaraty, muito desgastado depois dos quatro anos de Bolsonaro e que já vinha em um processo difícil antes — completou, afirmando crer que a missão principal será "reerguer o ministério e elevar o moral da tropa" diplomática. 

Multilaterismo e meio ambiente 

Para o internacionalista da UFMG, a missão central será "reestabelecer o perfil universalista do Brasil nos foros globais" após Bolsonaro "estreitar o horizonte diplomático" ao se relacionar com um leque menor de países e eleger aliados ideologicamente próximos. A professora de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), Monica Herz, aponta para desafios parecidos: 

— Uma reinserção do Brasil no sistema multilateral e na América Latina, uma recolocação do Brasil no debate sobre a disputa sistêmica entre a China e os Estados Unidos. O país esteve completamente marginalizado nesses processos de negociação, discussão, construção de normas, nestes últimos quatro anos — disse ela, afirmando ver como tarefa fundamental "reativar a energia criativa dentro do Itamaraty” após “quatro anos de adormecimento”. 

A questão climática também volta a ser prioritária para a política externa brasileira a partir do ano que vem, após quatro desastrosos anos para a política ambiental brasileira. Os primeiros indícios vieram com a ida do presidente eleito à COP27, a conferência ambiental da ONU que aconteceu em novembro na cidade egípcia de Sharm el-Sheikh, e com o concorrido pronunciamento que ele fez por lá

— Vieira terá que implementar a decisão do presidente eleito de pôr o meio ambiente e a mudança do clima no centro da política externa. Se ele for bem-sucedido nisso, ele muda a política externa do Itamaraty, que sempre teve comércio exterior, desenvolvimento, investimento como pautas principais — disse Barbosa, que conhece o novo chanceler há quatro décadas. 


América Latina e EUA

Os especialistas chamaram atenção para os desafios na esfera regional, também escanteada nos últimos quatro anos — temas que vão da crise no Haiti à redemocratização da Venezuela, passando pelo fortalecimento de organismos multilaterais, a criação de novas alianças e a reconstrução dos laços com a Argentina. Para Herz, o retorno brasileiro é chave pois é "muito difícil avançar mecanismos de cooperação na região sem a presença brasileira fazendo coordenação". 

Com relação à situação venezuelana, a especialista disse já ver sinais de mudança com o alívio das sanções americanas ao petróleo venezuelano, aproximação que aumentou após a guerra na Ucrânia. Com o aumento do preço do combustível, o produto da Venezuela, dona da maior reserva de petróleo do mundo, tornou-se atraente para Washington. 

— Precisamos negociar a participação da Venezuela para uma participação nos fóruns multilaterais e um regime mais democrático — disse ela. — É uma via de duas mãos: por um lado, podemos contribuir para a redemocratização venezuelana e sua reinserção regional e, se isso acontece, fortalecemos os projetos regionais. Precisamos lembrar que a decadência da Unasul e dos projetos regionais estão claramente associados à impossibilidade dos países acordarem sobre a Venezuela. 

Outra questão-chave, disseram os especialistas, será uma equidistância nas tensões sino-americanas, algo que abre oportunidades para o país recuperar sua credibilidade no exterior. Nas relações bilaterais com Washington, afirmou Belém Lopes, há "uma janela de oportunidade" e boa vontade neste momento, menos de uma semana após a visita do conselheiro de Segurança Nacional de Biden, Jake Sullivan, ao Brasil: 

— O Lula era o candidato preferível para Casa Branca diante da extrema direita de Bolsonaro. Apesar de já ter sido visto com desconfiança, não fez nenhuma loucura, não é aventureiro e governou o Brasil de maneira centrista anteriormente — disse ele. — Mas também por razões internas americanas. Seria muito ruim para o Biden que a maior economia latino-americana fosse governada por um líder que gosta de se vender como o Trump dos trópicos. 

 

 

Ukraine’s resilience sets a global standard - By Ishaan Tharoor, with Sammy Westfall (WP)

 Ukraine’s resilience sets a global standard

By Ishaan Tharoor, with Sammy Westfall 
The Washington Post, December 14, 2022

A year ago, Ukrainian President Volodymyr Zelensky was a somewhat unpopular leader in Kyiv, viewed by his critics as a lightweight jokester. Now, in the wake of Russia’s February invasion, the wartime president is a global icon, a Ukrainian national hero, the world’s prolific video-conferencer and, yes, the least surprising figure in recent memory to receive the designation of Time’s Person of the Year.

The international admiration for Zelensky is ultimately about much more than the man himself. His stoicism and courage seems to project the spirit of a nation that has withstood the Russian onslaught for close to 10 months at hideous cost in lives and resources. It’s now hunkering down for a possibly punishing winter, as Russia has carried out targeted strikes on the country’s energy infrastructure. At any given moment, by some measures, at least 2 million and as many as 10 million Ukrainians are living without electricity, plunged in a cold, enveloping darkness. As my colleagues reported, even then, many Ukrainians are not letting their Kremlin-inflicted woes darken their mood.

Since the conflict flared, Zelensky and his allies have insisted their battle is not simply a defense of their own territory, but of a larger civilizational struggle, pitting their liberal aspirations and fledgling democracy against the tyranny and authoritarianism embodied by Russian President Vladimir Putin’s Russia.

“We are dealing with a powerful state that is pathologically unwilling to let Ukraine go,” Zelensky told Time’s Simon Shuster, suggesting that the Kremlin could not countenance a Ukraine that rejected its sphere of influence. “They see the democracy and freedom of Ukraine as a question of their own survival.”

Zelensky echoed what he and many other Ukrainians have been saying for months, that they were fighting on the behalf of other democracies vulnerable to Russia’s predations: “If they devour us, the sun in your sky will get dimmer.”

On Tuesday, dozens of nations at an international conference in Paris rallied around Ukraine. They pledged more than $1 billion in additional aid to support Ukraine in the near term, including to help boost its battered energy grid and other aspects of its civilian infrastructure.
“Over $440 million of the total aid pledged is expected to be directed to Ukraine’s energy network. French officials said the final amount would likely rise,” my colleagues reported. “In a video address earlier on Tuesday, Zelensky urged the international community to make maintaining the country’s energy supply a priority, calling for over at least $850 million in aid for the sector.”

French President Emmanuel Macron hailed Ukraine’s “bravery and determination,” and said that the work of the conference in the French capital is “tangible evidence that Ukraine is not alone.”

Kyiv is still adamant that it needs more arms and weapons to repel Russia’s offensives and reclaim more of its lost territory. “Given the scale of the war and Russia’s unwillingness to accept the reality and withdraw from Ukraine, we will need to fight through the winter,” Ukrainian Foreign Minister Dmytro Kuleba told reporters. He added that Russia’s strikes on civilian targets and Ukraine’s energy infrastructure was a mark of its broader military failure.

“Such barbarism is Russia’s response to losing the war on the battleground,” Kuleba said. “They have suffered a number of humiliating defeats.”

Ukraine has also been on the receiving end of a mammoth flow of Western weapons and military aid. On Tuesday, my colleagues reported that the Biden administration was preparing to send the Patriot missile system — its most sophisticated air defense technology — to Ukraine.

Western support for Kyiv is holding, no matter fears over war fatigue of many countries that was deepened by the wider economic impact of the war and the energy sanctions placed on Russia’s economy.

“Among the many miscalculations that Putin has made is his bet that the invasion of Ukraine would strain relations among his adversaries,” wrote German Chancellor Olaf Scholz in a recent op-ed for Foreign Affairs. “In fact, the reverse has happened: the EU and the transatlantic alliance are stronger than ever before.”

Thousands of miles away, officials from another country facing up to a revanchist neighbor are taking notes. The war in Ukraine has echoed in the island state of Taiwan, which is constantly in the shadow of China and subject to an escalating series of provocations from the mainland. The leadership in Beijing, not dissimilarly from Putin’s stance on Ukraine, view Taiwan as an illegitimate state bound to return to the Chinese fold.

To Taiwan, Ukraine’s defiance of Russia is a source of inspiration and a template for their own survival. “Ukraine showed very great determination to defend their territory and it’s clear that Ukrainians have a very resilient civil society, which helped resist invasion,” Taiwanese Deputy Foreign Minister Ming-Yen Tsai told me on the sidelines of a major international security conference in Halifax, Canada, last month. He added that watching Ukraine’s struggle has inspired Taiwan to implement major long-term military reforms, including extending the period of compulsory military service expected of its citizens.

While a Chinese maritime invasion of Taiwan would look very different than Russia’s land campaigns in Ukraine, Taiwanese officials have seized the moment as one to galvanize international support for their cause and sound the alarm over the challenges confronting them.

“We are already facing warfare without gun smoke on a daily basis,” Tsai said, pointing to China’s “hybrid warfare” tactics, its use of escalating forms of military intimidation through naval exercises and aerial incursions, as well as cyberstrikes and online disinformation campaigns.

“If we do not hold ground at this point,” Tsai said, “China will test the bottom line, step by step, to create a new normal, and step by step, keep changing the status quo” until Taiwan’s sovereignty will be all the more fragile.

The experience of Russia’s invasion of Ukraine, Tsai said, “shows that authoritarian countries have no qualms invading other countries’ territory, revising national borders and challenging the rules-based international order.” He added that, for Taiwan, the lesson is to prepare now for an invasion rather than when it’s too late.

A diplomacia do Eixo Alemanha-Japão-Itália, 1940-1945 - Christian Goeschel, reviewed by Sarah Panzer (H-Diplo)

 

H-Diplo Article Review 1151- Panzer on Goeschel. “Performing the New Order: The Tripartite Pact, 1940-1945"

by christopher ball

H-Diplo Article Review 1151

13 December 2022

Christian Goeschel. “Performing the New Order: The Tripartite Pact, 1940-1945.” 

Contemporary European History (2022): 1-17. DOI: https://doi.org/10.1017/S0960777322000340.

https://hdiplo.org/to/AR1151

Editor: Diane Labrosse | Commissioning Editor: Masami Kimura 

Production Editor: Christopher Ball

Review by Sarah Panzer, Missouri State University

Until recently, the concept of fascist diplomacy may have struck many as an oxymoron. After all, fascist regimes are historically not known for playing well with others, and the longstanding assumption among historians has been that this belligerence extended even to their presumptive allies. At best the Axis was an “alliance without allies.”[1] At worst, it was a “long and uneasy engagement, maintained long past the hope of eventual union.”[2] An ongoing historiographic re-evaluation of the relationships between fascist parties and regimes, however, has challenged the older paradigm and offered a new perspective on fascism as a global project to deconstruct and replace the liberal world order.[3]

In Christian Goeschel’s most recent contribution to the field, he makes a persuasive case for taking tripartite diplomacy seriously as more than just the means by which Germany, Italy, and Japan hoped to construct a racialized new order, indeed as a mirror of fascist political sensibilities more generally. Whereas previous scholarship interpreted the lack of substantive military cooperation between the regimes as evidence of their disinterest in ‘real’ diplomacy, Goeschel argues that it was the performative displays of the alliance’s power, “mass spectacles of unity and strength,” which animated the alliance (2). Tripartite diplomacy may have been “carefully stage-managed political theatre,” but that did not make it any less effective in binding together regimes that were collectively intent on restructuring the global political order (5). Goeschel thus constructs a compelling new interpretation of fascist diplomacy as the point of convergence between style and political substance, where the representative and the substantive mutually reinforced each other. 

In discussing the trajectory of the tripartite pact from its signing in 1940 to its suspension in 1945, Goeschel frames his analysis around the official performances staged by the three regimes celebrating the pact and what they represented about fascist politics and diplomacy. The article’s first section thus understandably discusses the spectacle surrounding the signing of the pact, while the second and third analyze the performative staging of the alliance as a simulacrum of fascist mass politics. Ultimately, Goeschel argues that events marking the anniversary of the pact continued late into the war, even in the face of increasingly certain defeat, because the logic and momentum of tripartite diplomacy demanded that the three regimes continue to perform strength and unity until the bitter end. 

The tripartite pact was a major victory for German Chancellor Adolf Hitler; not only did it commit Japan to an alliance with Germany, a development Hitler saw as strategically useful in discouraging US involvement with the war in Europe, it also symbolically clarified Italian Prime Minister Benito Mussolini’s increasingly subordinate position vis-à-vis Germany. The ceremonial signing of the pact, held in Berlin in recognition of Germany’s dominant role within the Axis, was an elaborately staged event performed as much for the benefit of foreign journalists as it was for the crowds lining the route to the Reich Chancellery. As Goeschel notes, the version of the pact signed by the foreign ministers of the three regimes was not printed in German, or even in French—the traditional language of diplomacy—but in English, and the ceremony was carefully choreographed for maximum dramatic impact as newsreel footage (8). Observers at the time commented upon the performativity of the spectacle, but the media campaign accompanying the pact’s signing created its own political momentum and reinforced the underlying political project at the heart of the tripartite pact. 

Spectacle was central to the practice of fascist diplomacy, just as it was to the carefully choreographed performance of fascist power domestically. Fascism’s aestheticized approach to politics, which was first theorized by Walter Benjamin in 1935, has been a dominant theme in scholarship on the Axis regimes individually for some time now, and Goeschel is particularly persuasive in analyzing how fascist tactics of mass mobilization were adapted in order to legitimize and animate tripartite diplomacy.[4] In annual celebrations of the pact staged across the Italian, German, and Japanese empires, crowds were mobilized as essential ‘supporting cast’ for the various speeches, pronouncements, and statements of support delivered by fascist dignitaries. More than just providing a visually striking tableau, the “presence of the masses” was integral to the performance of fascist diplomacy in what it communicated about how the tripartite regimes sought to distinguish themselves from the “furtive bureaucratic diplomacy of the bygone age of liberal democracy… In tripartite diplomacy, crowds stood not only for the unity between leader and nation, but also for closed ranks between empire and leader” (11). This choice to frame the alliance as a performance of strength and unity—both within and between the tripartite regimes—was in the end a double-edged sword; in the absence of any meaningful military coordination, the regimes were forced to keep up appearances long past the point that defeat became a certainty, lest they risk losing credibility and undermining the alliance. 

Although framed as an analysis of tripartite diplomacy, Goeschel’s article relies principally on German archives. This is not necessarily a fatal flaw with respect to his conclusions, especially given Germany’s dominant role in constructing and maintaining the alliance, but it would be interesting to consider how the inclusion of more Italian and Japanese perspectives might offer a more nuanced understanding of how the pact was not just performed, but also translated for multiple audiences across the diverse spaces of the Axis empires. 

A more substantive critique of Goeschel’s analysis might be made, however, of his choice to focus exclusively on the more rigidly “stage-managed” performances of the alliance. Goeschel repeatedly cites Daniel Hedinger’s work on the Axis, yet Hedinger argues that engagement between Germany, Italy, and Japan created the conditions for a process of “cumulative radicalization” within the alliance, as each regime observed the others in action and modeled new policies in response.[5] Goeschel’s model of the alliance, by contrast, is somewhat static, an endless feedback loop in which repeated performances of the pact’s anniversaries functioned mainly to preserve the “credibility” of the alliance as worthy of celebration (16). While this certainly may have been the case with regards to the official events commemorating the pact, given the significant planning and resources that they required, Goeschel’s choice to exclusively focus on these carefully choreographed performances of unity naturally leads him to depict the alliance as endlessly replicating itself, rather than acknowledging the possibility that it might also have been evolving and adapting. 

For all of these resources that were devoted to monopolizing media access within their borders, fascist states were never able to entirely control how their propaganda was received, even by their own citizens. An internal memorandum circulated within the Security Division of the SS in 1942, to give one example, raised concerns that German propaganda about Japanese victories in the Pacific had been too effective, with the unintended consequence that an “inferiority complex” had recently emerged among Germans vis-à-vis their allies.[6] Although the memorandum’s author was discomforted by the realization that the German public had read far more into the regime’s propaganda than intended, he concluded that this unexpected development could be exploited, albeit with some minor adjustments to the press coverage of the Pacific War moving forward. On the one hand this episode confirms Goeschel’s basic argument regarding the innately performative nature of tripartite diplomacy, wherein the representative and the substantial were frequently indistinguishable from each other, and yet it also reminds us that the success of any performance depends more on its reception by its intended audience than on the skill of its actors. Although it is entirely understandable that Goeschel does not address the question of reception in the context of this particular article, one hopes that he or another historian will take up this challenge in the near future. 

In providing both a clear synthesis of the current “state of the field” and a persuasive re-evaluation of the performative essence of fascist diplomacy, Christian Goeschel’s new article simultaneously maps the topic’s historiographic trajectory and points to where it might be headed next. Clearly written and persuasively argued, it will be of interest to scholars working in a variety of fields, including global fascism, twentieth-century diplomatic history, and the Second World War

 

Sarah Panzer is Assistant Professor of Modern European History at Missouri State University. Her dissertation “The Prussians of the East: Samurai, Bushido, and Japanese Honor in the German Imagination, 1905-1945” (University of Chicago) won the 2015 Fritz Stern Dissertation Prize. Her recent publications include “The Archer and the Arrow: Zen Buddhism and the Politics of Religion in Nazi Germany,” Journal of Global History (2022) and “Death-Defying: Voluntary Death as Honorable Ideal in the German-Japanese Alliance,” Central European History (2022). She is currently finishing her first monograph, which examines the German-Japanese relationship during the first half of the twentieth century as an alternative or counter-modernity. 

 

[1] Ernst L. Presseisen, Germany and Japan: A Study in Totalitarian Diplomacy, 1933-1941 (New York: Howard Fertig, 1969), 281-320. See also, Gerhard Krebs and Bernd Martin, eds., Formierung und Fall der Achse Berlin-Tōkyō (Munich: Iudicium, 1994); Bernd Martin, Deutschland und Japan im Zweiten Weltkrieg: Vom Angriff auf Pearl Harbour bis zur deutschen Kapitulation (Göttingen: Musterschmidt, 1969). 

[2] Johanna Meskill, Hitler and Japan: The Hollow Alliance (New York: Atherton, 1966), 3.

[3] Hans-Joachim Bieber, SS und Samurai: Deutsch-japanische Kulturbeziehungen, 1933-1945 (Munich: Iudicium Verlag, 2014); Reto Hofmann, The Fascist Effect: Japan and Italy, 1922-1952 (Ithaca, NY: Cornell University Press, 2015); Ricky W. Law, Transnational Nazism: Ideology and Culture in German-Japanese Relations, 1919-1936 (Cambridge: Cambridge University Press, 2019); Benjamin G. Martin, The Nazi-Fascist New Order for European Culture (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2016).

[4] Walter Benjamin, Das Kunstwerk im Zeitalter seiner technischen Reproduzierbarkeit (Frankfurt a.M.: Sukrkamp, 2006). See also, George Mosse, The Nationalization of the Masses: Political Symbolism and Mass Movements in Germany from the Napoleonic Wars through the Third Reich (Madison, WI: University of Wisconsin Press, 2023); Simonetta Falasca-Zamponi, Fascist Spectacle: The Aesthetics of Power in Mussolini’s Italy (Berkeley: University of California Press, 1997); Alan Tansman, The Aesthetics of Japanese Fascism (Berkeley: University of California Pess, 2009); Julia Adeney Thomas and Geoff Eley, eds., Visualizing Fascism: The Twentieth-Century Rise of the Global Right (Durham, NC: Duke University Press, 2020).

[5] Daniel Hedinger, Die Achse Berlin-Rom-Tokio 1919-1946 (Munich: CH Beck, 2021), 13.

[6] “Die Sicht Japans in der Bevölkerung.” Security Division Report (No. 306), August 6, 1942. Heinz Boberach, ed. Meldungen aus dem Reich 1938-1945. Die geheimen Lageberichte des Sicherheitsdienstes des SS. Vol. 11 (Herrsching: Pawlak Verlag, 1984), 4043.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Êxodo de 250 mil pessoas para os EUA amplia risco de colapso populacional em Cuba - The New York Times

Cuba, a ilha da miséria se torna uma ilha declinante estruturalmente, sendo abandonada pela sua força de trabalho mais capacitada. Sanções americanas poderiam ser contornadas por relações com quaisquer outros países. Por que não ocorrem? Cuba não tem nada a oferecer; vive de subsídios dos seus filhos emigrados. 

ÊXODO DE 250 MIL PESSOAS PARA OS EUA AMPLIA RISCO DE COLAPSO POPULACIONAL EM CUBA!

The New York Times - O Estado de S.Paulo, 10/12/2022 

Cerca de 250 mil pessoas fugiram de Cuba em direção aos Estados Unidos neste ano, segundo dados do governo americano. O êxodo, provocado por uma combinação entre o impacto do colapso da reaproximação entre Havana e Washington no governo Donald Trump, o bloqueio econômico e a alta global dos preços trazida pela pandemia e a guerra na Ucrânia, pode levar, segundo analistas, a uma redução populacional e da força de trabalho na ilha.

A mulher do motorista de táxi Joan Cruz Méndez é uma destes cubanos. Em março, Cruz, 41 anos, comprou uma passagem de avião para sua esposa voar para o Panamá e usou suas economias para pagar US$ 6.000 a um contrabandista para levá-la aos Estados Unidos, onde ela pediu asilo político. Ela está trabalhando em uma loja de autopeças em Houston.

Ainda em Cuba, de onde tentou sair três vezes, o taxista dá a dimensão da crise que afeta dos cubanos. “Acho que grande parte da população perdeu a esperança, que é a última coisa que você pode perder”, disse. Em uma dessas tentativas, ele navegou por 50 km no estreito que separa Cuba da Flórida, mas teve de voltar.

Quando o mar está calmo, Cruz e seus vizinhos esperam que o contingente local da Guarda Costeira cubana termine seu turno, antes de carregar as embarcações improvisadas em seus ombros pela cidade e sobre rochas escarpadas antes de baixá-las suavemente na água e tentar mais uma vez.

Fuga de cérebros
Mesmo para uma nação conhecida pelo êxodo em massa, a onda migratória atual é que as que a antecederam. Cerca de 3 mil pessoas partiram do porto de Camarioca em 1965 e 125 mil partiram de Mariel em 1980. Em 1994, protestos de rua levaram a um êxodo de cerca de 35.000 pessoas, que deram à costa da Flórida em boias e embarcações precárias.

A onda atual não tem fim à vista e ameaça a estabilidade de um país onde a expectativa de vida é de 78 anos e tem cada vez mais idosos na sua população.

“Esta é a maior fuga de cérebros quantitativa e qualitativa que este país já teve desde a revolução”, disse a antropóloga Katrin Hansing, da Universidade da Cidade de Nova York. “São os melhores, os mais brilhantes e os que têm mais energia.”

A partida de muitos cubanos mais jovens e em idade de trabalhar augura um futuro demográfico sombrio para o país. Atualmente, o governo comunista mal consegue pagar as magras pensões de que a população mais velha do país depende.

“A saída de cubanos de sua terra natal é nada menos que “devastadora”, disse Elaine Acosta González, pesquisadora associada da Florida International University. “Cuba está se despovoando.”

Sanções e pandemia
A fuga da ilha ficou mais fácil no ano passado, quando a Nicarágua deixou de exigir visto para a entrada de cubanos no país. Milhares de cubanos venderam suas casas e pertences e voaram para Manágua. Ali, recorreram a coiotes para percorrer os 2,7 mil quilômetros que separam o país da fronteira dos EUA com o México.

As condições de vida em Cuba sob o regime comunista há muito são precárias, mas tanto a pandemia como as sanções impostas pelo governo Trump foram devastadoras para o turismo, a principal fonte de recursos de Cuba. Nos últimos três anos, as reservas financeiras de Cuba diminuíram. As importações – principalmente alimentos e combustível – caíram pela metade. A comida ficou mais cara e escassa, assim como os remédios. Até o fornecimento de energia elétrica foi afetado.

Os apagões são constantes e a situação é tão terrível que a companhia elétrica do governo se gabou neste mês de que o serviço elétrico funcionou ininterruptamente naquele dia por 13 horas e 13 minutos.

A chegada de milhares de cubanos à fronteira sul americana tornou-se um problema para o governo de Joe Biden. Analistas dizem, no entanto, que Washington enfrenta um problema que ajudou a criar.

Para atrair os eleitores cubano-americanos no sul da Flórida, o governo Trump descartou a política de reaproximação do presidente Barack Obama, que incluía restaurar as relações diplomáticas e aumentar as viagens à ilha. Essa política foi substituída por uma campanha de “pressão máxima” que aumentou as sanções e limitou severamente quanto dinheiro os cubanos poderiam receber de suas famílias nos Estados Unidos, uma importante fonte de receita, Com isso, para milhares de cubanos a solução foi emigrar.

“Não é difícil de entender: se você devastar um país a 90 milhas de sua fronteira com sanções, as pessoas virão à sua fronteira em busca de oportunidades econômicas”, disse Ben Rhodes, que atuou como vice-conselheiro de segurança nacional no governo de Obama e foi a pessoa de referência nas conversações com Cuba.

Embora o presidente Biden tenha começado a recuar em algumas das políticas de Trump, ele demorou a agir por medo de irritar a comunidade cubana na Flórida e incorrer na ira do senador Robert Menendez, um democrata e poderoso cubano-americano que preside o Comitê de Relações Exteriores do Senado, disse William M. LeoGrande, professor da American University, que escreveu extensivamente sobre as relações EUA-Cuba.


Carta do jornalista Jamil Chade para um certo JB

 Carta para Bolsonaro

Jamil Chade 11/12/2022

Jair,

Sabe quem é o presidente da Suíça?

Fique tranquilo. Essa não é uma pegadinha. Muitos aqui na Suíça, de onde eu escrevo, tampouco sabem. E sabe o motivo? Aqui, as instituições são mais relevantes que o líder. A democracia sempre vence e o estado de direito está assegurado.

Já dizia Aldous Huxley que, enquanto os homens venerarem personalidades como Cesar ou Napoleão, tais líderes vão sempre surgir para tornar a vida desses homens miserável.

Você é um deles, guardadas obviamente as distâncias entre esses dois nomes com lugar garantido na história e teu destino para a sombra fria da irrelevância.

O seu desgoverno está terminando. Mas isso não significa que suas responsabilidades estejam terminadas. Você nos deve explicações. Muitas.

Confesso que não sei exatamente para onde enviar esta carta. Não entendi se está trabalhando ou não. Ou se apenas ocupa um cargo político, como parece ter sido o caso nos últimos 30 anos de sua vida. Escrevo, ainda assim, para cobrar um esclarecimento.

Você trouxe para dentro do Palácio do Planalto de uma República e para os demais ministérios, nestes últimos anos, a escória dos teóricos da conspiração, torturadores, charlatães e alguns dos movimentos mais perigosos da extrema direita mundial.

Alguns dos quais envolvidos até mesmo com movimentos que têm simpatizantes entre golpistas detidos em outras partes do mundo, negacionistas e entidades sob o monitoramento por representarem ameaças à democracia.

Nesta semana, na Alemanha, 25 pessoas foram detidas, acusadas de planejar um golpe contra o estado. Mas, sabe, alguns desses extremistas de direita eram simpatizantes de um movimento cujos integrantes você, seu filho Eduardo e Damares Alves receberam de braços abertos, o Querdenker.

Antes, você recebeu uma parlamentar alemã que não consegue ser recebida por nenhum líder democrático do mundo. Sabe o motivo? Ela é a herdeira de um dos ministros mais poderosos do nazismo e braço direito de Adolf Hitler. Hoje, faz parte de um partido de extrema direita que está sob o monitoramento das autoridades alemãs por ameaçar a democracia.

Você e seus lacaios ainda foram alguns dos poucos no mundo democrático que hesitaram em condenar a invasão do Capitólio. Você e seus lacaios repetiram mentiras sobre uma suposta fraude na eleição americana.

Você passou meses anunciando que apenas Deus te tiraria da presidência, enquanto incentivava apoiadores a atacar qualquer um que pensasse de forma diferente.

Enquanto seu filho diz que vai supostamente entregar um pendrive no Qatar e ocupa os camarotes da elite mundial, seus apoiadores cegos ainda acreditam em Papai Noel diante dos quartéis. Quando é o que o senhor vai contar a verdade para eles?

Num país que registrou 2 mil novas armas por dia apenas entre setembro e novembro graças a suas iniciativas e numa sociedade que abriu mil clubes de tiro durante o seu mandato, temos o direito de exigir explicações sobre seu papel para a rede globalizada da extrema direita.

No Brasil do século 21, não iremos tolerar mais anistias. Você deve explicações. Mas não a mim. Para a Justiça.

Saudações democráticas,

Jamil

Itamaraty: repressão política na gestão do chanceler acidental - Jamil Chade, Joice Hasselman

 Reproduzo de tuite da deputada Joice Hasselman (13/12/2022):

“ 🚨O Itamaraty abriu sindicância p/ investigar a relação dos diplomatas c/ Jamil Chade, após o jornalista publicar sobre o alinhamento do Brasil a países islâmicos, ignorando o projeto na ONU p/ proteger mulheres!

Memória:

Foi também na gestão de Araújo, em 2020, que os olavetes Allan dos Santos e B. Küster foram contratados como palestrantes na Fundação Alexandre Gusmão— Funag.

MRE informou que os gastos com as conferências foram de R$151.465, referentes a 4 eventos presenciais e 36 virtuais.“


Os funcionários receberam questionário dte gestão Ernesto Araújo!




segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

ADB: Associação dos diplomatas diz que trabalhará com novo ministro - Guilherme Waltenberg (Poder 360)

 De: Associação dos Diplomatas Brasileiros 

Enviado: sexta-feira, 9 de dezembro de 2022 15:59

Assunto: Notícias de maior repercussão 9 de dezembro - Tarde

 

Seguem os assuntos que mais repercutiram na mídia e redes:

Associação dos diplomatas diz que trabalhará com novo ministro

Presidente do grupo, a embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues destacou a trajetória de Mauro Vieira como diplomata

GUILHERME WALTENBERG 

Poder 360, 09.dez.2022 (sexta-feira) - 14h02

A ADB (Associação dos Diplomatas Brasileiros) publicou nota dando as boas vindas ao futuro ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. O diplomata foi anunciado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da SIlva (PT) nesta 6ª feira (9.dez.2022).

“A ADB dá as boas-vindas ao chefe da diplomacia brasileira no próximo governo, com quem buscará manter diálogo fluido e aberto, bem como aportar ideias em prol do fortalecimento institucional, da diversidade e da modernização“, disse a embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues, presidente da ADB.

Maria Celina disse que os diplomatas irão trabalhar em parceria com o novo ministro. Diplomatas são críticos ao teor da diplomacia sob o atual governo, de Jair Bolsonaro (PL).

“Contribuiremos para uma temporada vindoura, próspera e pacífica, como rezam os valores da diplomacia brasileira“, disse.

Uma das principais pautas dos diplomatas brasileiros é derrubar a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 34, que permite a deputados e senadores assumirem embaixadas sem perder o cargo. Hoje, eles são providos por lei. Para serem titulares de uma embaixada têm que abrir mão do mandato.

Segundo Maria Celina, a eventual aprovação dessa PEC irá tornar o Brasil um “pária” nas relações exteriores.

Leia a carta na íntegra:

Associação dos Diplomatas / Boas-vindas ao novo chanceler A Associação e Sindicato dos Diplomatas Brasileiros (ADB/Sindical) parabeniza o Embaixador Mauro Luiz Iecker Vieira pela nomeação a Ministro das Relações Exteriores.

Diplomata de carreira, atual Embaixador do Brasil em Zagreb, chefiou anteriormente as missões diplomáticas brasileiras em Washington (EUA), Buenos Aires (Argentina) e junto às Nações Unidas (em Nova York).

Na qualidade de representantes desta carreira de Estado, reafirmamos o nosso compromisso, integridade e respeito para servir o povo brasileiro, na defesa de seus interesses e da soberania nacional.

Contribuiremos para uma temporada vindoura, próspera e pacífica, como rezam os valores da diplomacia brasileira, historicamente reconhecida pelo seu compromisso com o País e pela excelência no trato dos temas associados às relações internacionais com vistas à construção de uma sociedade mais justa, solidária e democrática.

A ADB dá as boas-vindas ao chefe da diplomacia brasileira no próximo governo, com quem buscará manter diálogo fluido e aberto, bem como aportar ideias em prol do fortalecimento institucional, da diversidade e da modernização das capacidades do Itamaraty para lidar com um mundo cada vez mais desafiador e complexo.

Embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues

Presidente da ADB

https://www.poder360.com.br/governo/associacao-dos-diplomatas-diz-que-trabalhara-com-novo-ministro/

Nova política externa de Lula é velha - Demetrio Magnoli (Globo)

Nova política externa de Lula é velha


Mensagem central do petista na campanha foi voltar à idade de ouro

Demétrio Magnoli
O Globo, 12/12/2022

Restauração — o retorno à “idade de ouro”. Na campanha eleitoral, foi essa a mensagem central de Lula. O Brasil embarcaria numa máquina do tempo, voltando à era supostamente gloriosa dos mandatos lulistas anteriores. A nomeação de Mauro Vieira para o Itamaraty indica que o discurso era para valer.

O martelo, porém, só foi batido após uma disputa subterrânea no círculo mais próximo do presidente eleito. Vieira, último ministro de Relações Exteriores de Dilma Rousseff, pertence à facção liderada por Celso Amorim, o chanceler de Lula 1 e Lula 2. Amorim preferia voltar à cadeira que ocupou entre 2003 e 2010 ou, ao menos, entregá-la à embaixadora Maria Laura Rocha, sua subordinada direta entre 2008 e 2010. Mas a escolha de Lula, um insucesso tático, evitou-lhe uma derrota estratégica.

A verdadeira alternativa à facção de Amorim era Jaques Wagner. O ex-governador da Bahia e ex-ministro da Casa Civil de Rousseff representava uma contestação dos paradigmas ideológicos que, no passado, orientaram a política externa lulista. No fim, apesar de tudo, prevaleceu o impulso de restauração.

As linhas gerais da nova/velha política externa de Lula 3 já estão escritas no muro. São quatro sinais, que formam um desenho.

1. Sabotagem da candidatura de Ilan Goldfajn ao BID
A operação fracassada foi conduzida publicamente pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, mas derivou de articulação oculta de Amorim. Goldfajn, um economista que preza os fundamentos e despreza a inflação, não fará do BID uma plataforma econômica para a ideia terceiro-mundista da unidade latino-americana.

2. Adiamento da visita de Lula a Washington
Nesse caso, ao contrário da sabotagem a Goldfajn, a facção de Amorim aparentemente prevaleceu. Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, veio ao Brasil com a missão de promover um encontro entre Lula e Joe Biden ainda em dezembro, antes da posse.

A meta era oferecer um inequívoco respaldo americano ao desenlace eleitoral, ajudando a secar os delírios golpistas que circulam num setor minoritário das Forças Armadas. Ao mesmo tempo, tratava-se de reativar a cooperação EUA-Brasil, assentando-a na política climática. O adiamento da visita presidencial veicula uma mensagem: o governo Lula não está interessado numa parceria estratégica com os Estados Unidos. Prefere, no lugar dela, o caminho que conduz ao “Sul Global” — na prática, o fórum do Brics, com destaque para China e Rússia.

3.Reforma do Conselho de Segurança da ONU
O Conselho da ONU, com seus cinco integrantes permanentes e direito a veto, nasceu da Segunda Guerra Mundial. A ideia de reforma entrou na agenda internacional na década de 1990, mas nunca decolou, devido à ausência de algum consenso mínimo: não se cede poder à toa.

Hoje, sob as nuvens de chumbo da rivalidade EUA-China e da guerra na Ucrânia, inexiste espaço para a retomada do debate. Mesmo assim, Amorim apressou-se em recolocar o tema no centro da agenda da política externa brasileira. A insistência obsessiva não se destina a descortinar novos horizontes, mas a fabricar um discurso “anti-imperialista” de denúncia das potências (ocidentais) e da ordem internacional.

4. Guerra e paz na Ucrânia
Na campanha, Lula colocou um sinal de equivalência entre Putin e Zelensky —entre a potência agressora e a nação agredida. Circula a ideia de que o novo presidente almeja desempenhar um papel de protagonista numa iniciativa internacional para encerrar a guerra na Ucrânia. Fala-se, no entorno lulista, em “negociações” e “paz”, mas nunca na integridade territorial ucraniana.

Paz sem desocupação: a fórmula coincide, exatamente, com os objetivos imediatos de Putin, que pretende congelar temporariamente o conflito, interrompendo a contraofensiva da Ucrânia e ganhando tempo para reorganizar as forças invasoras assediadas. Nesse ponto, Lula segue os passos de Bolsonaro, adotando uma espécie de “neutralidade pró-Rússia” que viola os princípios explícitos inscritos em nosso texto constitucional.

Restauração: “O tempo passou na janela e só Carolina não viu”.

https://oglobo.globo.com/opiniao/demetrio-magnoli/coluna/2022/12/nova-politica-externa-de-lula-e-velha.ghtml 

No fim do governo Bolsonaro aparecem os “resistentes anônimos” - Por um observador anônimo

 Não estou entre eles. Eu fui um resistente aberto desde 2018, apontando todas as incongruidades da futura diplomacia do governo eleito em outubro daquele ano e isso está documentado neste blog Diplomatizzando. Continuei em 2019, e logo fui sancionado com perda de cargo — diretor do IPRI, da Funag — e, mais adiante com pesadas punições financeiras, aplicadas diretamente pelo chanceler acidental e seu autoritário chefe de gabinete. Antes, durante e depois das punições, publiquei cinco livros contra o bolsolavismo diplomático: Miséria da Diplomacia (2019), O Itamaraty num Labirinto de Sombras (2020); Uma Certa Ideia do Itamaraty (2020), O Itamaraty Sequestrado (2021) e Apogeu e Demolição da Política Externa (2021), cujos sumários e links (vários deles livremente disponíveis) figuram neste blog.

Paulo Roberto de Almeida 

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OCORREU UMA ILEGALIDADE NO ITAMARATY?


[Autor anônimo]


Segundo artigo publicado por Jamil Chade, UOL, 07.12.2022, um grupo de diplomatas brasileiros vangloriou-se de haver cometido os seguintes atos durante o governo Bolsonaro:

1.Montou um esquema de contatos diretos com governos estrangeiros, sem ter de passar pela cúpula do Itamaraty e com o objetivo de desarmar crises diplomáticas. 

2.Limitou-se a ler "a instrução que chegou de Brasília", em reuniões na ONU, OMS ou OEA, sem uma atuação de empenho para convencer os demais países a seguir o Brasil em suas posições. 

3.Copiou documentos que poderiam ser usados para defender um diplomata contra acusações e registrar a ilegalidade de certos atos do Planalto. 

4.Gravou reuniões de forma clandestina nas quais a cúpula bolsonarista ordenou a suspensão de termos de documentos ou o veto a determinadas resoluções que citassem a palavra "gênero" ou outros temas delicados. 

5.Vazou informações para a sociedade civil sobre o posicionamento do Brasil na esperança de que uma pressão pública fosse feita para impedir que um determinado ato fosse concretizado. 

6.Publicou artigos sob o nome de outra pessoa ou de um acadêmico. "Arrastou o pé", diminuindo o ritmo de trabalho na implementação de instruções estabelecidas pela cúpula bolsonarista. 

7.Enganou a chefia ou informou o que era absolutamente necessário, ocultando da cúpula situações ou posições por parte de outros governos. 

8.Realizou reuniões sem registros na agenda oficial, impedindo que certos temas ou debates entrassem no radar da direção do Itamaraty.


Esses funcionários preservaram o anonimato, provavelmente por acreditar que estavam infringindo as leis do país, o que é possível.


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LEI DO SERVIÇO EXTERIOR BRASILEIRO

Art. 27. Além dos deveres previstos no Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da União, constituem deveres específicos do servidor do Serviço Exterior Brasileiro:

III - manter comportamento correto e decoroso na vida pública e privada;

IV - dar conhecimento à autoridade superior de qualquer fato relativo à sua vida pessoal, que possa afetar interesse de serviço ou da repartição em que estiver servindo; e

V - solicitar, previamente, anuência da autoridade competente, na forma regulamentar, para manifestar-se publicamente sobre matéria relacionada com a formulação e execução da política exterior do Brasil.

Art. 29. Além das proibições capituladas no Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da União, ao servidor do Serviço Exterior Brasileiro é proibido:

I - divulgar, sem anuência da autoridade competente, informação relevante para a política exterior do Brasil, a que tenha tido acesso em razão de desempenho de cargo no Serviço Exterior Brasileiro;

V - utilizar, para fim ilícito, meio de comunicação de qualquer natureza do Ministério das Relações Exteriores.


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LEI DO SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

Art. 116.  São deveres do servidor:

I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;

II - ser leal às instituições a que servir;

III - observar as normas legais e regulamentares;

IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais;

Dos Deveres

VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de outra autoridade competente para apuração;    

VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição;

IX - manter conduta compatível com a moralidade administrativa;

Das Proibições

II - retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qualquer documento ou objeto da repartição;

O assunto mereceria um exame mais aprofundado, tanto pelo aspecto jurídico, como porque envolve a credibilidade da instituição, pois autoridades e membros de outras carreiras do serviço público brasileiro, além de interlocutores de governos estrangeiros, poderão hesitar em compartilhar informações sigilosas com os diplomatas se acreditarem que elas poderão ser utilizadas da forma descrita no artigo. 

Do ponto de vista da moral e da ética, atos de “resistência” dessa natureza às vezes são justificáveis, embora ilegais,quando se trata de defender a democracia e os direitos humanos em ditaduras, mas na vigência de um regime democrático não há circunstância atenuante possível, vale apenas o que está no Artigo 116,IV da Lei do Serviço Público: “cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais”. 

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ARTIGO DE JAMIL CHADE, UOL, 07.12.2022

Dois diplomatas entram em um café em uma capital europeia. Um deles é brasileiro e carrega informações ultrassecretas. Sua missão é desarmar uma bomba. Parece filme de espionagem, mas a cena é real e se repetiu no governo Bolsonaro.

Uma rede de resistência clandestina foi criada no Itamaraty para conter a política externa bolsonarista.

A rede não envolveria apenas alguns poucos nomes e, de fato, teria se espalhado por alguns dos principais departamentos da chancelaria.

Temas como mudanças climáticas, direitos humanos, a questão palestina ou mesmo a Guerra da Ucrânia foram tratados nesses encontros sigilosos, confirmados pelo UOL com 13 funcionários do Itamaraty, incluindo embaixadores e servidores administrativos, e em um amplo e ainda inédito estudo de pesquisadoras da FGV e de Oxford. A rede não envolveria apenas alguns poucos nomes e, de fato, teria se espalhado por alguns dos principais departamentos da chancelaria.

Os objetivos da rede clandestina eram: Permitir que o outro país tivesse tempo para reagir a mudanças na política externa do Brasil, sem que uma crise fosse estabelecida. Preservar a credibilidade do Brasil no exterior e salvar décadas de uma construção da diplomacia nacional.

Para diplomatas, a palavra correta seria resistência, que existiu "em nome da democracia e da soberania", e sempre ocorreu dentro de parâmetros da legalidade. No fundo, tais atos não eram nada mais que uma tentativa de "equalizar posições" diante daqueles que estavam destruindo as estruturas do Estado. A verdadeira sabotagem, neste sentido, era o que estava ocorrendo com o sequestro de décadas da diplomacia brasileira para atender aos objetivos da extrema direita. 

1.Montou um esquema de contatos diretos com governos estrangeiros, sem ter de passar pela cúpula do Itamaraty e com o objetivo de desarmar crises diplomáticas. 

2.Limitou-se a ler "a instrução que chegou de Brasília", em reuniões na ONU, OMS ou OEA, sem uma atuação de empenho para convencer os demais países a seguir o Brasil em suas posições. 

3.Copiou documentos que poderiam ser usados para defender um diplomata contra acusações e registrar a ilegalidade de certos atos do Planalto. 

4.Gravou reuniões de forma clandestina nas quais a cúpula bolsonarista ordenou a suspensão de termos de documentos ou o veto a determinadas resoluções que citassem a palavra "gênero" ou outros temas delicados. 

5.Vazou informações para a sociedade civil sobre o posicionamento do Brasil na esperança de que uma pressão pública fosse feita para impedir que um determinado ato fosse concretizado. 

6.Publicou artigos sob o nome de outra pessoa ou de um acadêmico. "Arrastou o pé", diminuindo o ritmo de trabalho na implementação de instruções estabelecidas pela cúpula bolsonarista. 

7.Enganou a chefia ou informou o que era absolutamente necessário, ocultando da cúpula situações ou posições por parte de outros governos. 

8.Realizou reuniões sem registros na agenda oficial, impedindo que certos temas ou debates entrassem no radar da direção. Itamaraty.

Um clima de medo, represálias e perseguição se instalou no Itamaraty nos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro.

Saíram de cena a tradição e as nomeações técnicas, que sempre guiaram de forma explícita desde a promoção de diplomatas até as posições do Brasil no exterior, e entraram as indicações políticas e o alinhamento ideológico compulsório ao núcleo bolsonarista.

As mesmas condições foram identificadas na pesquisa coordenada pela professora da FGV Gabriela Lotta, em parceria com Izabela Corrêa, de Oxford, e Mariana Costa, também da FGV. 

As pesquisadoras entrevistaram diplomatas em diferentes posições na carreira e que estão alocados em distintos países e setores do Itamaraty. Todo o levantamento é feito de forma sigilosa e anônima, para preservar a identidade dos entrevistados. Segundo os funcionários ouvidos a gestão Bolsonaro promoveu:

- Monitoramento de diplomatas sobre o que curtiam nas redes sociais, se eram membros de partidos políticos ou até com quem eram casados. Uma funcionária relatou que não foi promovida depois que "foi descoberto" que seu marido trabalhou em um governo anterior. 

-  Substituição de funcionários que se dedicavam a estudos de temas contrários à agenda de Bolsonaro como clima, meio ambiente, gênero e direitos humanos, por pessoas leais ao governo. Promoções e transferências para o exterior foram transformadas em moeda de troca e instrumento de ameaça.

- Palavras como "gênero", "Cuba" e "mudanças climáticas" foram vetadas, evitadas ou até apagadas de documentos oficiais do passado. Uma servidora admitiu que teve como função modificar portarias, discursos, informações no site oficial e telegramas. Mulheres e homossexuais foram especialmente alvo dessa nova fase. "Há uma masculinização e a volta de certas práticas, como piadas no corredor", contou Gabriela Lotta, a pesquisadora da FGV

O tamanho do estrago

Os relatos coincidem com quatro anos que transformaram o Brasil em um pária internacional. Para a professora da FGV Gabriela Lotta, o impacto não se limitou aos muros do Palácio do Itamaraty. "A diplomacia brasileira tem sua moral e influência construídas na tradição e expertise. O governo negou isso, prejudicou a política externa e enfraqueceu a diplomacia e a imagem do Brasil." Na opinião da pesquisadora e dos embaixadores e diplomatas ouvidos pelo UOL, resistir foi a saída encontrada para sobreviver a um dos momentos mais tenebrosos da democracia brasileira. Muitos, porém, pagaram um preço elevado, tanto profissionalmente como em relação à saúde mental.

Dados confirmados pelo UOL com 13 funcionários do Itamaraty, incluindo embaixadores e servidores administrativos, e em um amplo e ainda inédito estudo de pesquisadoras da FGV e de Oxford.“

domingo, 11 de dezembro de 2022

Futuro da energia, no Brasil e no mundo, por Adriano Pires

 Grato a Walmyr Buzatto pela transcrição:

“ Discordo da observação de que o discurso ambientalista tenha sido açodado. O tempo é precioso na conjuntura atual: cada ano perdido na substituição dos combustíveis fósseis compromete cada vez mais o futuro da humanidade. O que não foi previsto (e, portanto, ninguém antecipou algum movimento para conter Putin) foi a guerra na Ucrânia. Agora temos que viver com isso e mininizar o estrago. De resto, muito bons comentários de Adriano Pires.

(WB)

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Sem compromisso com o passado

Adri­a­no Pi­res

 Di­re­tor do Cen­tro Bra­si­lei­ro de In­fra­es­tru­tu­ra (CBIE)

O Estado de S. Paulo, 10 de dez. de 2022

Se o ano de 2021 foi marcado pelo sucesso das vacinas contra covid, criando uma expectativa do retorno do crescimento econômico, 2022 tem a marca da guerra Rússia-ucrânia, que trouxe de volta um cenário de instabilidade e pessimismo.

A guerra que todos apostavam que seria resolvida de forma rápida já dura dez meses, sem previsão de término. A ausência de grandes líderes mundiais tem feito com que a diplomacia não tenha sucesso em apresentar soluções que determinem acordos de paz e o fim do conflito. A guerra trouxe uma nova geopolítica da energia, traduzida numa volta do empoderamento da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e da Rússia, com a criação da chamada Opep+.

A guerra mostrou a fragilidade e os erros da política energética na Europa, que apostou nas fontes renováveis e no gás russo e descomissionou usinas nucleares na Alemanha. O preço do gás natural explodiu, chegando a números inimagináveis de US$ 60/MMBTU, e a Alemanha voltou a consumir carvão. Isso tem levado a duas constatações.

A primeira é que o discurso ambientalista de demonizar os combustíveis fósseis e a energia nuclear foi açodado, e a Europa está pagando uma conta cara. A segunda é que a globalização na oferta de energia foi colocada em xeque, e os países começam a olhar uma política de diversificação do fornecimento de energia à procura de uma autossuficiência, incentivando soluções locais.

Para 2023, com a continuidade da mudança da política de covid zero na China, teremos um novo boom de commodities e o preço do petróleo tende novamente a superar os US$ 100. Portanto, tudo leva a crer que em 2023 teremos um prosseguimento da crise de energia e é bem possível que o inverno de 2023/2024 na Europa possa ser pior que o atual em termos de escassez de energia. Outro movimento é a migração de empresas para países que possuem estabilidade política e matrizes energéticas limpas, como é o caso brasileiro.

E no Brasil? O ano de 2022 foi marcado pela campanha eleitoral polarizada, levando Lula da Silva de volta à Presidência da República. A grande notícia de 2022 foi a privatização da Eletrobras e o início do processo de transformar a Copel numa corporation.

O ano de 2023 ainda está em aberto, mas certas notícias não são boas, como a ideia de criar fórmulas de preço para os combustíveis, paralisar a venda de refinarias e rever a Lei da Eletrobras, que determinou leilões de 8 GW de térmicas.

Em 2023, a bola da vez deveria ser o gás natural, e o desafio será criar políticas e legislações que incentivem o crescimento da infraestrutura e reduzam a reinjeção, aumentando a oferta nacional. Diante do novo cenário geopolítico e geoeconômico mundial, não podemos perder a oportunidade de atrair investimentos para o Brasil. Portanto, não podemos ter compromisso com o passado. •

Receita para mais 30 anos de atraso - Paulo Roberto de Almeida

 Receita para mais 30 anos de atraso

Paulo Roberto de Almeida 

1) O estamento político brasileiro é geneticamente dependente da corrupção, sob todas as formas; ela já foi legalizada e devidamente inserida no orçamento público. Grandes nacos dos recursos coletivos vão continuar sendo transferidos para os espertos e privilegiados de sempre.

2) O populismo sedutor do subsídio ao consumo dos mais pobres faz o resto. Não se consegue eliminar a pobreza, mas pelo menos se garante uma poderosa alavanca eleitoral. Esse foi sempre o objetivo principal dos programas de ajuda social.

3) Estamos, portanto, condenados à pobreza persistente e à mediocridade do crescimento econômico por longos anos, pois, em lugar de ganhos de produtividade, o que se tem é a dependência institucional.

O Brasil conseguiu criar o moto perpétuo da estagnação na renda média e da manutenção das desigualdades sociais como característica essencial da nação.

Ou seja, pode durar mais do que 30 anos esse estacionamento na pobreza estrutural autoalimentada, pois romper com a gaiola de ferro da dominação elitista predatória é algo próximo do impossível.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11 de dezembro de 2022