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sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Como a China escapou da terapia de choque (titulo equivocado) - Isabella M. Weber (A Terra é Redonda)

https://aterraeredonda.com.br/como-a-china-escapou-da-terapia-de-choque/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=novas_publicacoes&utm_term=2023-08-10 

Como a China escapou da terapia de choque



Renê Burri, Antigo Palácio de Verão. Flores de lótus mortas no lago Kunming. Pequim, 19

Por ISABELLA M. WEBER*

Introdução do livro recém-lançado

A China contemporânea está profundamente integrada ao capitalismo global. No entanto, o estonteante crescimento chinês não levou o país à completa convergência institucional com o neoliberalismo. Isso desafia o triunfalismo do pós-Guerra Fria, que previa a “vitória incondicional do liberalismo econômico e político” em todo o mundo. Embora a era da revolução tenha terminado em 1989, isso não resultou na aguardada universalização do modelo econômico “ocidental”. Acontece que a mercantilização gradual facilitou o crescimento econômico da China sem que isso a levasse à assimilação generalizada. A tensão entre a ascensão da China e essa assimilação parcial define nosso momento atual e encontra suas origens na abordagem das reformas de mercado pela China.

A literatura sobre as reformas da China é ampla e diversificada. As políticas econômicas que o país adotou em sua transformação a partir do socialismo de Estado são bem conhecidas e investigadas. Muito negligenciado, no entanto, é o fato de que a mercantilização gradual e guiada pelo Estado chinês foi tudo menos uma conclusão inevitável ou uma escolha “natural”, predeterminada pelo excepcionalismo chinês. Na primeira década da “reforma e abertura”, sob Deng Xiaoping (1978-1988), o modo de mercantilização da China foi cinzelado em um debate acirrado. Economistas que defendiam uma liberalização ao estilo da terapia de choque lutaram pelo futuro da China contra aqueles que promoviam a mercantilização gradual a partir das margens do sistema econômico. Por duas vezes, a China tinha tudo preparado para um “big bang” na reforma dos preços. Por duas vezes, absteve-se de implementá-lo.

O que estava em jogo no debate da reforma de mercado é ilustrado pelo contraste entre a ascensão da China e o colapso econômico da Rússia. A terapia de choque – a prescrição política quintessencialmente neoliberal – havia sido aplicada na Rússia, o outro ex-gigante do socialismo de Estado. O prêmio Nobel Joseph Stiglitz atesta “um nexo causal entre as políticas da Rússia e seu fraco desempenho”. As posições da Rússia e da China na economia mundial inverteram-se desde que implementaram modos diferentes de entrada no mercado. A participação russa no Produto Interno Bruto (PIB) mundial caiu quase pela metade – de 3,7% em 1990 para cerca de 2% em 2017 –, enquanto a participação da China aumentou quase seis vezes – de apenas 2,2% para cerca de um oitavo da produção global (ver figura 1).

A Rússia passou por uma drástica desindustrialização, enquanto a China se tornou a notória fábrica do capitalismo mundial. A renda média real de 99% dos russos foi menor em 2015 que em 1991, enquanto na China, apesar do rápido aumento da desigualdade, esse número mais que quadruplicou no mesmo período, superando o da Rússia em 2013 (ver figura 2). Como resultado da terapia de choque, a Rússia teve um aumento de mortalidade acima de qualquer experiência anterior em um país industrializado em tempos de paz.

Dado o baixo nível de desenvolvimento da China em comparação com o da Rússia no início da reforma, a terapia de choque provavelmente teria causado um sofrimento humano em escala ainda maior. Teria minado, se não destruído, as bases para o crescimento econômico chinês. É difícil imaginar como seria o capitalismo global hoje se a China tivesse seguido o caminho da Rússia.

Apesar de suas importantes consequências, o papel fundamental que o debate econômico desempenhou nas reformas de mercado na China é amplamente ignorado. O famoso economista do desenvolvimento Dani Rodrik, professor de Harvard, representa a profissão de economista de forma mais geral quando responde a sua própria pergunta se “alguém [pode] nomear os economistas (ocidentais) ou [foi] a pesquisa que desempenhou um papel fundamental nas reformas da China” afirmando que “a pesquisa econômica, pelo menos como convencionalmente entendida”, não desempenhou “um papel significativo”.

Figura 1. Participação da China e da Rússia no PIB mundial (1990-2017)

Fonte: Banco Mundial, “GDP (Constant 2010 US$)”. The World Bank Data, 2019.

Figura 2. Renda média por adulto na China e na Rússia por quantis populacionais (1980-2015)

Nos capítulos seguintes, volto à década de 1980 e pergunto quais razões intelectuais desviaram a China da terapia de choque. Revisitar o debate acerca da reforma de mercado revela a economia da ascensão da China e as origens das relações entre o Estado e o mercado chineses.

O desvio da China em relação ao ideal neoliberal reside não no tamanho do Estado chinês, mas principalmente na natureza de sua governança econômica. O Estado neoliberal não é pequeno nem fraco, mas forte. Seu objetivo é fortalecer o mercado. Em termos básicos, isso significa proteger a liberdade de preços como mecanismo econômico central. Em contraste, o Estado chinês usa o mercado como ferramenta na busca de seus objetivos mais amplos de desenvolvimento.

Como tal, preserva um grau de soberania econômica que protege sua economia contra o mercado global – como demonstraram de forma contundente a crise financeira asiática de 1997 e a crise financeira global de 2008. Abolir essa forma de “isolamento econômico” é um objetivo de longa data dos neoliberais, e nossa atual governança global foi projetada para acabar com a proteção nacional contra o mercado global. O fato de a China ter escapado da terapia de choque mostrou que o Estado manteve a capacidade de isolar os setores estratégicos da economia – aqueles mais essenciais para a estabilidade e o crescimento econômico – à medida que se integrava ao capitalismo global.

Para estabelecer as bases de minha análise da escapada da China, primeiro recapitularei brevemente a lógica da terapia de choque.

A lógica da terapia de choque

A terapia de choque estava no centro da “doutrina de transição do Consenso de Washington”, propagada em países em desenvolvimento, Europa oriental e central e Rússia pelas instituições ligadas aos acordos de Bretton Woods. Em aparência, tratava-se de um amplo pacote de políticas que seriam implementadas de uma só tacada, para causar um choque nas economias planejadas, transformando-as de uma só vez em economias de mercado. O pacote consistia de: (i) liberalização de todos os preços em um único big bang; (ii) privatização; (iii) liberalização do comércio; e (iv) estabilização, na forma de políticas fiscais e monetárias rígidas.

As quatro medidas da terapia de choque, implementadas simultaneamente, deveriam, em teoria, formar um pacote abrangente. Uma análise mais atenta revela que a parte desse pacote que podia ser implementada de uma só tacada resume-se a uma combinação dos itens 1 e 4: liberalização de preços e austeridade estrita.

David Lipton e Jeffrey Sachs falaram pelos proponentes da terapia de choque de forma mais geral quando admitiram complicações com relação à velocidade da privatização na prática. Eles reconheceram a magnitude da tarefa de privatização em uma economia com propriedade principalmente pública. Comparando o grande número de empresas estatais nas economias socialistas com o histórico de privatizações no Reino Unido, apontaram que “Margaret Thatcher, a maior defensora mundial da privatização”, havia liderado a transferência de apenas algumas dezenas de empresas estatais para o setor privado no decorrer da década de 1980.

Assim, observaram que o “grande enigma é como privatizar uma vasta gama de empresas de maneira equitativa, célere, politicamente viável e suscetível de criar uma estrutura efetiva de controle corporativo”. Recomendaram vagamente que “a privatização talvez deva ser feita por muitos meios” e que o “ritmo deve ser rápido, mas não desenfreado”. O relatório conjunto sobre a economia da União Soviética também alerta contra o avanço muito rápido da privatização, “quando os preços relativos ainda não estão estabilizados”. Da mesma forma, a liberalização do comércio aos olhos dos defensores da terapia de choque tem como precondição a liberalização dos preços internos. Um big bang na liberalização dos preços aparece, assim, como condição tanto para a privatização quanto para a liberalização do comércio e constitui o verdadeiro “choque” da terapia de choque.

O que foi apresentado como um amplo pacote de reformas acabou sendo uma política extremamente enviesada para apenas um elemento da economia de mercado: a determinação de preços pelo mercado. No entanto, essa unilateralidade não foi mero resultado de viabilidade. A razão mais profunda do viés voltado para a liberalização de preços está no conceito neoclássico do mercado como um mecanismo de preços que se abstrai das realidades institucionais. De modo mais geral, na visão dos neoliberais, o mercado é a única forma de organizar racionalmente a economia, e seu funcionamento depende de preços livres.

De acordo com a lógica da terapia de choque como a entendem, por exemplo, Lipton e Sachs, a liberalização de todos os preços “de uma só vez” corrigiria os preços relativos distorcidos, que, em consequência da herança stalinista, eram muito baixos para a indústria pesada e os bens de capital e muito altos para a indústria leve, os serviços e os bens de consumo.

De maneira similar, o relatório conjunto sobrea economia da União Soviética realizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pelo Banco Mundial, pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (Berd) advertiu: “Nada será mais importante para a realização de uma transição bem-sucedida para uma economia de mercado do que a liberação dos preços para orientar a alocação de recursos. A liberalização ampla e antecipada dos preços é essencial para acabar com a escassez e os desequilíbrios macroeconômicos que afligem cada vez mais a economia”.

Essa liberalização generalizada dos preços precisaria ser combinada com uma política de estabilização para controlar o nível geral dos preços. Desde que macromedidas complementares fossem implementadas, a liberalização dos preços “poderia levar a um salto único nos preços, mas não a uma inflação contínua”, alegaram os defensores da terapia de choque. Segundo eles, as verdadeiras causas da inflação persistente nas economias socialistas estatais eram o excesso de demanda (em razão dos grandes déficits orçamentários), a “restrição orçamentária branda”, as políticas monetárias frouxas e os aumentos salariais resultantes da política de desemprego zero. Na visão deles, esses problemas poderiam ser aliviados com uma “forte dose de austeridade macroeconômica”, pois eram, em essência, monetários e não estruturais.

O “salto único nos preços” que se esperava como resultado da liberalização generalizada dos preços era bem-vindo, pois “absorveria o excesso de liquidez” e, desse modo, reforçaria a austeridade. Em outras palavras, um aumento no nível geral de preços desvalorizaria a poupança e, assim, reduziria o excesso crônico de demanda agregada que se experimentava nas economias socialistas. O custo de privar os cidadãos da modesta riqueza que haviam acumulado sob o socialismo de Estado era considerado um mal necessário. Com efeito, tratava-se de uma redistribuição regressiva que beneficiava as elites detentoras de ativos não monetários. A redistribuição de baixo para cima fazia parte da terapia de choque desde o início, desde a reforma monetária e de preços do pós-guerra na Alemanha ocidental, sob Ludwig Erhard. Forçar relações de mercado na sociedade da noite para o dia dependia da imposição de uma maior desigualdade.

A natureza e as estruturas das instituições predominantes que comporiam a nova economia de mercado não receberam muita atenção dos defensores da terapia de choque. O pacote recomendado por Lipton, Sachs e muitos outros, entre eles economistas do mundo socialista da época, não “criava” uma economia de mercado, como sugere o título do importante estudo desses economistas sobre a Polônia. Ao contrário, esperava-se que a destruição da economia de comando desse automaticamente origem a uma economia de mercado. Era uma receita para a destruição, não para a construção. Uma vez que a economia planificada estivesse “morrendo sob o choque”, esperava-se que a “mão invisível” operasse e, de maneira um tanto milagrosa, permitisse o surgimento de uma efetiva economia de mercado.

Essa é uma perversão da famosa metáfora de Adam Smith. Smith, um observador atento da Revolução Industrial, que se desenrolava diante de seus olhos, viu a “propensão humana a intercambiar, permutar e trocar uma coisa por outra” como o “princípio que dá origem à divisão do trabalho”, mas imediatamente advertiu que esse princípio era “limitado pela extensão do mercado”. O mercado, de acordo com Smith, desenvolvia-se devagar, à medida que eram construídas as instituições que facilitavam as trocas de mercado. Nesse processo, a mão invisível entraria em jogo apenas gradualmente e, com ela, o mecanismo de preços. Em contrapartida, a lógica da terapia de choque nos leva a crer que é possível um país “saltar para a economia de mercado”.

A destruição prescrita pela terapia de choque não se atém ao sistema econômico. Uma segunda condição deve ser cumprida: uma “mudança revolucionária nas instituições”. Ou, como disseram Lipton e Sachs, o “colapso do regime comunista de partido único era a condição sine qua non para uma transição efetiva para uma economia de mercado”. De fato, foi necessário o colapso do Estado soviético e do regime comunista de partido único em dezembro de 1991 para que o big bang pudesse ser implementado; o presidente russo Boris Iéltsin eliminou quase todos os controles de preços em 2 de janeiro de 1992. Sob o secretário-geral Mikhail Gorbatchov, a reforma radical dos preços estava na agenda desde 1987, mas nunca foi realizada, pois os cidadãos russos reclamavam em massa e os intelectuais alertavam sobre uma possível inquietação social. Gorbatchov tentou o gradualismo ao estilo chinês, mas em vão.

Prometendo ganhos de longo prazo, o big bang prescrevia males de curto prazo que afetavam imediatamente os interesses dos trabalhadores e das empresas, bem como dos departamentos governamentais. A liberalização radical dos preços tornou-se politicamente viável apenas após a dissolução do Estado soviético. “O colapso do regime comunista de partido único” acabou sendo, de fato, “a condição sine qua non” para o big bang, mas o big bang não conseguiu alcançar “uma transição efetiva para a economia de mercado”. Em vez do aumento pontual previsto no nível dos preços, a Rússia entrou em um longo período de inflação altíssima, queda na produção e baixas taxas de crescimento (ver figura 3).

Quase todos os países pós-socialistas que implementaram alguma versão da terapia de choque experimentaram uma recessão longa e profunda. Além da devastação documentada pelos indicadores econômicos (ver figura 2), a maioria dos indicadores de bem-estar, como acesso à educação, ausência de pobreza e saúde pública, entrou em colapso.

*Isabella M. Weber é professora de economia na University of Massachusetts Amherst, EUA.

Referência


Isabella M. Weber. Como a China escapou da terapia de choque. Tradução: Diogo Fernandes. Revisão técnica: Elias Jabbour. São Paulo, Boitempo, 2023, 476 págs (https://amzn.to/447aDoD).

Odette de Carvalho e Souza: a poderosa embaixadora, enfrentou o machismo no Itamaraty - Folha de S. Paulo

 Anticomunista ferrenha, 1ª embaixadora do Brasil teve cargo poderoso no Itamaraty 


Odette de Carvalho e Souza chefiou postos no exterior e soube navegar em ambiente masculino apesar de resistências Odette de Carvalho e Souza foi a primeira mulher promovida a ministra de primeira classe no Brasil, em 1956, quando também se tornou diretora do Departamento Político e Cultural (DPC) do Itamaraty. Poderoso, o órgão lidava com relações bilaterais e organismos multilaterais durante a expansão da então recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU). Na prática, segundo a estrutura do ministério à época, o posto fazia de Odette a número 3 da pasta, abaixo apenas do chanceler e do secretário-geral. A diplomata também foi chefe dos Serviços de Estudos e Investigações do Ministério das Relações Exteriores a partir de novembro de 1937, quando Getúlio Vargas iniciou o Estado Novo (1937-1945). Mais tarde, já na chefia do DPC, participou do controle de atividades políticas de funcionários da casa. Os Serviços de Estudos e Investigações tinham por objetivo "tratar da obra de repressão ao comunismo, mediante estudo especializado da doutrina marxista, sua infiltração no nosso país e meios de combatê-la de maneira prática e eficiente", segundo memorando escrito por Odette como argumento para a criação do órgão, após a Intentona Comunista de 1935, e acessado pela pesquisadora Adrianna Setemy. Nessa época, Odette lidou com autoridades de segurança, como Filinto Müller, chefe da polícia política do período repressivo sob Vargas e senador na ditadura militar pela Arena, sigla que sustentava o regime. Na Suíça durante a Segunda Guerra Mundial, ela chamou a atenção como conselheira técnica e secretária de delegações do Brasil em conferências internacionais de trabalho e paz. Nesse período, também foi representante do país na Entente Internacional Anticomunista. Embora seu papel na organização ainda não esteja claro, seu trabalho sugere que ela se conectava com grupos anticomunistas para além da atuação pública no ministério e na imprensa, para os quais escreveu com regularidade artigos sobre esse e outros temas, assinando "O. de Carvalho e Souza". Se, por um lado, sua presença destacada no país europeu mostra como ela desbravou território até hoje muito masculinizado, ela reflete também as dificuldades das mulheres na diplomacia naquele período. Odette articulara para trabalhar na representação brasileira em Londres, mas viu a designação publicada no Diário Oficial perder efeito antes que assumisse o posto devido à atuação do próprio embaixador no país, Raul Regis, que sugeriu a Odette o cargo na Suíça. "Num país [Reino Unido] que expressamente condenou a entrada de mulheres para o corpo diplomático, e numa corte de tradições conservadoras, só lhe adviriam inúmeros embaraços decorrentes da sua inclusão na lista diplomática. A aparição dessa senhora, como única mulher [...], a quanto comentário irônico não nos iria expor", escreveu Regis. A forma com que era chamada exemplifica o sexismo refletido na justificativa. "Dona Odette" estava em funções semelhantes ou hierarquicamente superiores a homólogos homens, que recebiam o título de seus cargos antes de seus nomes. A ela, porém, muitas vezes eram destinadas outras formas de tratamento, como "dona", "senhora" e "senhorita". Também sobravam comentários sobre sua aparência física, por vezes acompanhados de elogios a seu profissionalismo, humor e inteligência. "Quando o nome dela é mencionado no Itamaraty, normalmente isso é feito como galhofa, dizia-se que era uma pessoa que perseguia os outros. No máximo é isso que se fala, não do legado profissional dela: quem era, o que fez de bom e de ruim", diz a diplomata Carolina von der Weid, autora, com Eduardo Uziel, do capítulo sobre Odette no livro "DiplomatAs: Sete Trajetórias Inspiradoras de Mulheres Diplomatas". E, a despeito de suas ideias, ou talvez em parte devido a elas —a embaixadora defendia o lugar central da mulher na família, com abordagem conservadora em que tomava distância das discussões sobre liberdade sexual, por exemplo—, Odette soube navegar em um ambiente pouco afeito às mulheres. "A presença dela no ministério fez com que eu não tivesse a ideia de que ali pudesse ser uma casa machista quando ingressei no Instituto Rio Branco. Ela era respeitada. As pessoas que encontrei em Bruxelas tinham carinho por ela", afirma a embaixadora Thereza Quintella, primeira mulher egressa do Instituto Rio Branco a alcançar o cargo —ela também foi pioneira na direção da escola de diplomatas. Odette começou a atuar profissionalmente sem passar pelo instituto; na Bélgica, chefiou a delegação do Brasil junto à Comunidade Econômica Europeia, para onde foi Quintella quando a embaixadora já havia deixado o posto. Além dos cargos em Israel e Bélgica, Odette chefiou postos na Costa Rica e em Portugal. Há, entretanto, poucas publicações sobre a trajetória da diplomata, que vem sendo resgatada recentemente em livros, artigos e documentários. Sua relação (ou a ausência dela) com movimentos feministas de seu tempo, diante de seu pioneirismo, e seu papel na organização internacional anticomunista são exemplos de facetas da embaixadora que ainda carecem de estudos mais detalhados. "Odette era sábia para jogar com os grupos da época. Independentemente da filiação política, ela deixava clara sua ambição e tinha proeminência. Chama a atenção o silenciamento de seu legado", afirma Weid. Odette de Carvalho e Souza foi aposentada em 2 de outubro de 1969, por ter completado 65 anos de idade. Faleceu no ano seguinte, aos 66, na cidade do Porto, em Portugal. Não deixou filhos.


Acadêmicos reclamam que orçamento de Lula gasta mais com Defesa do que com a pesquisa

 Nota da ABRI,  ABEPSS, SOCICOM, ABRALIC, ABPI e ANPOLL sobre o novo PAC

Nós, da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI), da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), da Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (SOCICOM), da Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC), da Associação Brasileira dos Professores de Italiano (ABPI) e da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística ( ANPOLL)  manifestamos publicamente nossa grande preocupação com a forma de alocação de investimentos do Novo PAC do Governo Federal. 

O Novo PAC foi lançado pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, nesta sexta-feira, dia 11 de agosto. Conforme as informações divulgadas, o programa tem um orçamento total de R$ 1,7 trilhão, sendo que os recursos do Orçamento Geral da União são de R$ 371 bilhões; o das empresas estatais, R$ 343 bilhões; financiamentos, R$ 362 bilhões; e setor privado, R$ 612 bilhões.

Ainda que a iniciativa de grandes recursos públicos em áreas estratégicas seja muito bem-vinda, a forma com que os investimentos foram distribuídos revela problemas que persistem no Brasil. Em particular, o investimento em DEFESA de R$ 53 bilhões, o que supera os investimentos em SAÚDE, de R$ 31 bilhões, e em EDUCAÇÃO, de R$ 45 bilhões, é algo que chama nossa atenção.

A priorização de investimentos em DEFESA em detrimento de outras áreas mais prioritárias e necessitadas revela um descompasso com uma sociedade que ainda luta para se tornar menos desigual, mais plural e mais democrática. Nós, enquanto associação de estudiosas e estudiosos de Relações Internacionais, manifestamos nosso profundo pesar com a desconexão dessa decisão com os interesses nacionais e internacionais do Brasil. As brasileiras e os brasileiros precisam de mais emprego, educação, saúde e menos desigualdade e pobreza, sobretudo após terrível quadra histórica que o país enfrentou nos últimos anos. 

Nossa preocupação é ainda mais candente em um cenário em que membros das Forças Armadas manifestaram suas opiniões e práticas anti-democráticas. Sem uma reforma institucional que considere o papel constitucional das Forças Armadas e as relações civis-militares como base de uma sociedade democrática, o autoritarismo continuará à espreita 

Nos somamos a outras associações como a ABED, ANPOCS e ABCP em nosso apelo ao Governo Federal. Esperamos que a alocação de recursos no Novo PAC seja reconsiderada e que haja mais diálogo com as representações da sociedade civil no futuro. 

Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI),

Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS)

Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (SOCICOM)

Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC)

Associação Brasileira dos Professores de Italiano (ABPI)

Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Letras e Linguística ( ANPOLL)

17 de agosto de 2023


Associação Brasileira de Relações Internacionais
https://www.abri.org.br/

Banco Central Europeu e bancos centrais nacionais

 O SEBC (Sistema Europeu de Bancos Centrais) é constituído pelo BCE (Banco Central Europeu) e pelos BCN (Bancos Centrais Nacionais) de todos os Estados-Membros da UE, independentemente de terem adotado, ou não, o euro.

 

Em vista doa acima exposto todos os Bancos Centrais dos países membros do euro continuam existindo, conforme estudo abaixo:

 

BCE, SEBC e Eurosistema

 

Desde 1 de janeiro de 1999, o BCE é responsável pela condução da política monetária na área do euro – a maior economia do mundo, a seguir aos Estados Unidos.

 

A área do euro tornou-se uma realidade quando a responsabilidade pela política monetária foi transferida dos bancos centrais nacionais (BCN) de 11 Estados‑Membros da União Europeia (UE) para o BCE, em janeiro de 1999. A Grécia aderiu à área do euro em 2001, seguindo-se a Eslovénia em 2007, Chipre e Malta em 2008, a Eslováquia em 2009, a Estónia em 2011, a Letónia em 2014, a Lituânia em 2015 e a Croácia em 2023. A criação da área do euro e de uma nova instituição supranacional, o BCE, constituiu um marco histórico no longo e complexo processo da integração europeia.

 

Para aderirem à área do euro, os países tiveram de cumprir os critérios de convergência, assim como terão de o fazer os restantes Estados-Membros da UE antes de adotarem o euro. Os critérios de convergência estabelecem as condições prévias em termos económicos e jurídicos para que os países possam participar, com êxito, na União Económica e Monetária (UEM).

 

Missão do BCE

 

Banco Central Europeu

 

A base jurídica subjacente à política monetária única é o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia e os Estatutos do Sistema Europeu de Bancos Centrais e do Banco Central Europeu. De acordo com os seus estatutos, o BCE e o Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC) foram instituídos em 1 de junho de 1998, tendo o BCE sido definido como o núcleo do Eurosistema e do SEBC. O BCE e os BCN executam, em conjunto, as funções que lhes foram atribuídas. Ao abrigo do direito público internacional, o BCE tem personalidade jurídica.

 

Sistema Europeu de Bancos Centrais

 

O SEBC é constituído pelo BCE e pelos BCN de todos os Estados-Membros da UE, independentemente de terem adotado, ou não, o euro.

 

Eurosistema

 

O Eurosistema é constituído pelo BCE e pelos BCN dos Estados-Membros da UE que adotaram o euro. Coexiste com o SEBC enquanto houver Estados‑Membros da UE que não façam parte da área do euro.

 

Área do euro

 

A área do euro compreende os Estados-Membros da UE cuja moeda é o euro.

 

Estudo completo clique abaixo:

 

https://www.ecb.europa.eu/pub/pdf/other/escb_pt_webpt.pdf

 

EDITORIAL DO PONTOCRITICO

 

 

BANCOS CENTRAIS

 

Pois, a título de informação, notadamente aos leitores da colunista, me valho do oportuno comentário do pensador-economista Ronald Hilbrecht, esclarecendo que o EQUADOR, PANAMÁ E PORTO RICO NÃO TÊM BANCOS CENTRAIS. Mais: ALEMANHA, FRANÇA, ITÁLIA, ESPANHA E OUTRO PAÍSES QUE COMPÕEM A UNIÃO EUROPEIA, também ACABARAM com seus Bancos Centrais duas décadas atrás. Atenção: nenhum desses países se tornaram ASSUSTADORES, como refere a lamentável e despreparada colunista -petista-.

 

Editorial completo clique abaixo:

 

https://pontocritico.com/artigo/narrativa-equivocada

 

Itamaraty diz que 22 países oficializaram pedido para entrar no Brics (Valor Econômico)

 Itamaraty diz que 22 países oficializaram pedido para entrar no Brics


Número foi apresentado nesta quarta-feira (16) pelo secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty, Eduardo Paes Saboia

Por Agência Brasília, Valor — Brasília
17/08/2023 01h15  Atualizado há 14 horas

O Ministério das Relações Exteriores informou que 22 países já manifestaram formalmente interesse em integrar o Brics, grupo formado “até o momento” por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O número foi apresentado nesta quarta-feira (16) pelo secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty, Eduardo Paes Saboia, durante um briefing sobre a viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará para África do Sul, Angola e São Tome e Príncipe.

Em Joanesburgo, África do Sul, Lula participará, entre os dias 22 e 24 de agosto, da 15ª Cúpula do Brics. De lá, segue para Angola nos dias 25 e 26. Na sequência, visitará no dia 27 São Tomé e Príncipe, onde participará da 14ª Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Brics
De acordo com o embaixador Saboia, a reunião de cúpula do Brics contará com a participação de 40 chefes de governo ou de Estado dos continentes africanos e asiático, além de América Latina e Oriente Médio. Todos com presença já confirmada para esta que será a primeira reunião presencial pós-pandemia. Saboia disse que apenas o presidente da Rússia, Vladimir Putin, participará de forma virtual do encontro.

O embaixador destacou algumas questões que deverão pautar a reunião entre os representantes do bloco. Uma delas, relativa à entrada de novos integrantes. “Serão discutidos critérios e princípios a serem adotados para embasar a entrada de novos membros no grupo”, disse.

Saboia lembra que este não é um tema novo. “Desde 2011 discute-se como seria a interação com países de fora do bloco. Foi então observada a necessidade de se organizar e estabelecer critérios”.

A guerra entre Rússia e Ucrânia, segundo o embaixador, deverá ser discutida apenas internamente, durante o chamado “retiro”, quando os chefes de Estado e de governo do Brics se encontrarão de forma fechada. “Certamente o tema será discutido de forma mais aprofundada do que [deverá constar] na declaração [ao fim do evento]”, antecipou Saboia.

Outra questão a ser discutida pelo grupo será o uso de moedas locais ou de uma eventual unidade de referência do Brics para transações comerciais.

“É provável que haja algum resultado nessa área”, antecipou Saboia, referindo-se aos planos para o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), mais conhecido como Banco do Brics. “Este é um ativo muito importante do bloco”, segundo Saboia.

Angola e São Tomé
Sobre a viagem a Angola, o embaixador disse que o encontro reforçará a parceria estratégica entre os dois países, que se desdobra em vários setores. “A Angola é um país importante no contexto africano, com o qual desde 2010 temos parceria estratégica e densidade de relações”.

Estão previstos encontros com o presidente angolano, João Lourenço; e com empresários angolanos e brasileiros. “Sessenta empresas brasileiras já confirmaram presença em um evento empresarial”, informou Saboia. Além disso estão previstas as assinaturas de atos e memorandos nas áreas de agricultura, processamento de dados, saúde e educação.

Em São Tomé, Lula participará da 14ª Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Saboia destacou o apoio mútuo que os países d

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

A política externa enquanto política pública - Paulo Roberto de Almeida (Revista Crítica e Controle)

 A revista Crítica & Controle, da UFRGS e do TCE-RS anuncia um novo número deste periódico, que tem uma colaboração minha:

1519. “A política externa enquanto política pública: questões conceituais e operacionais da diplomacia brasileira”, revista Crítica & Controle (vol. 1, n. 3, agosto 2023, p. 138-179; ISSN: 2965-0151; link da revista: https://seer.ufrgs.br/index.php/criticaecontrole/issue/current; link do artigo: https://seer.ufrgs.br/index.php/criticaecontrole/article/view/133011/89503). Relação de Originais n. 4405.



A política externa enquanto política pública: 

questões conceituais e operacionais da diplomacia brasileira

 

External policy as a public policy: 

conceptual and operational issues of the Brazilian diplomacy

 

Resumo: Ensaio sobre as bases ideais, nos planos conceitual e operacional, de uma política externa como uma das políticas públicas, vinculando métodos, procedimentos e atuação a diferentes exercícios práticos da diplomacia brasileira, e alguns exemplos de outras diplomacias no cenário global contemporâneo. Depois de breve recapitulação histórica sobre a diplomacia brasileira, o ensaio examina primeiro os fundamentos de uma política externa focada estritamente no interesse nacional, em suas diferentes modalidades de implementação, para depois considerar os elementos práticos, teoricamente aplicáveis ao Brasil, ao seguir resumidamente o itinerário da sua política externa e as diplomacias que se sucederam nas duas últimas décadas.

 

Palavras-chave: Política externa; diplomacia brasileira; fundamentos conceituais; bases operacionais; rupturas e continuidades.

 

Abstract: Exploratory essay on the ideal basis of an external policy as one of the public policies, on conceptual and operative grounds, connecting its methods and its practical implementation to the actual Brazilian diplomacy, with some references to other foreign policies in the current global context. After a brief description of the historical itinerary of the Brazilian diplomacy, the essay deals at first with the founding elements of an external policy strictly based on the national interest, taking support on a discussion over its practical enforcement, as ideally connected with the Brazilian case, exploring the various actual examples of Brazil’s foreign policies over the last two decades. 

 

Keywords: Foreign policy; Brazilian diplomacy; conceptual elements; operative basis; stability and discontinuities. 

 

Introdução

 

A análise desta política setorial interdisciplinar que trata das relações externas do Estado implica, primeiramente, um foco em suas bases conceituais – isto é, os fundamentos políticos e até filosóficos sobre os quais ela se apoia, seguido de uma avaliação prática de sua implementação, o que significa examinar o seu processo decisório, para poder constatar seus resultados efetivos. No plano operacional, também cabe uma distinção quanto aos métodos, isto é, os procedimentos adotados pela diplomacia (que nada mais é do que uma ferramenta), e quanto à substância mesma da política externa, que deve ser implementada pelo seu instrumento básico, a instituição diplomática. De maneira a repassar todos os aspectos dessa importante política pública no caso concreto do itinerário da diplomacia e da política externa brasileira, cabe começar esse exercício com breve relato histórico de seu desenvolvimento, o que permitiria registrar algumas fases da construção dessa importante política estatal, para bem situá-la nos contextos nos quais elas evoluíram. O presente ensaio não comporta citações ou remissões bibliográficas vez que se estrutura a partir da experiência pessoal do autor como agente diplomático atuante em várias frentes de trabalho durante mais de quatro décadas, em especial nos terrenos das relações econômicas internacionais e dos problemas da integração regional. 

 

1.    De onde viemos, onde estamos?

 (...)


Ler a íntegra neste link: 


https://seer.ufrgs.br/index.php/criticaecontrole/article/view/133011/89503


ou neste outro link da plataforma Academia.edu: 


 https://www.academia.edu/105703823/4405_A_política_externa_enquanto_política_pública_questões_conceituais_e_operacionais_da_diplomacia_brasileira_2023_



quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Entre tenente-coronel intelectual e general reconhecido, o tropeço na roubalheira da família presidencial: o tenente coronel Mauro Cid

 Olhem o que achei hoje, na Biblioteca do Itamaraty, ao selecionar livros de pesquisa sobres as interações entre a política externa e a defesa nacional. Este livro, de um general respeitado, que se conspurcou na roubalheira do ladrãozinho que ocupou, para nossa maior vergonha, a cadeira presidencial: 

O livro foi publicado recentemente, 2022, por uma editora ironicamente chamada Dialética, e tem prefácio elogioso do então chanceler Carlos França, além de contar com uma apresentação do Prof. Paulo Visentini, especialista gaúcho da UFRGS em temas de defesa. Nada a ver com o ajudante de ordens, que obedecia cegamente qualquer ordem, mesmo aquelas totalmente ilegais, mas também criminosas.

Trata-se do pai do infeliz, general, mas que fez uma tese quando era Tenente Coronel, tornando-se Doutor em Ciências Militares pelo IMM/ECEME, sendo especialista em guerra irregular (talvez tenha se envolvido também em atividades irregulares).

Esse distinguido militar atuou como Observador Militar e Oficial de Ligação da Missão de Paz das Nações Unidas no Chipre entre 2012 e 2013. O tenente coronel Mauro Cid contribuiu para o planejamento do envio de militares brasileiros para a Força das NU no Líbano (Unifil), em 2014.

O livro é um esforço bem sucedido e uma minuciosa análise das estratégias no âmbito da Política Externa Brasileira, dos interesses do Brasil no Oriente Médio. O livro apresenta uma análise da interação entre a Política Externa e a Política de Defesa do Brasil, ou seja, trata-se de obra de superior qualidade.

Ora, como um militar dessa qualidade foi tornar-se serviçal de um LADRÃO, chegando a comer CRIMES para satisfazer a CUPIDEZ desse personagem menor, um "mau militar", como disse o Geisel, e que conseguiu PERVERTER, CONTAMINAR, CONSPURCAR as outrora respeitadas Forças Armadas brasileiras???? 

É algo INACREDITÁVEL que esse militar respeitado, intelectual, tenha sujado completamente a sua reputação ao servir de maneira SERVIL um ladrão que merece cadeia por vários anos. Nada falo do seu filho, que provavelmente não tem as qualidades do pai, apenas a devoção submissa ao degenerado que envergonhou o cargo presidencial. 

Vou ler o livro do hoje general, apreciá-lo, certamente, e LAMENTAR que ele tenha servido de cadeia transmissora dos CRIMES cometidos pelo boçal delinquente que afundou o Brasil e as FFAA.

Paulo Roberto de Almeida

Simon Schwartzman homenageia José Murilo de Carvalho, um grande historiador

 

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José Murilo de Carvalho

By Simon on Aug 13, 2023 10:54 am

Triste a perda de José Murilo hoje. Fomos colegas do curso de sociologia e política da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, completamos os estudos de doutorado na mesma época, convivemos por anos como professores do IUPERJ no Rio de Janeiro, com ele se vai mais um pedaço importante de nossa história. De um jeito tímido, calado, Murilo olhava com desconfiança as pretensões e devaneios teóricos e filosóficos dos colegas, e se aferrava ao chão firme dos fatos. Sua tese de doutorado, na Universidade de Stanford, foi uma pesquisa histórica sobre a formação das elites imperiais brasileiras, e a partir daí foi se desenvolvendo com um dos principais historiadores do país. Quando, nos anos 70, eu coordenava uma pesquisa sobre a história da ciência no Brasil, lhe pedi que fizesse um trabalho sobre a Escola de Minas de Ouro Preto, e o resultado foi, como tudo que fazia, uma joia de documentação e interpretação histórica.

Murilo escreveu muito sobre a República brasileira, que sempre via com olhar crítico, e admirava os grandes estadistas do Brasil imperial, dos quais falava como se os tivesse conhecido pessoalmente. Escreveu um livro dedicado ao Imperador D. Pedro II, de cujos méritos (do Imperador, não do livro) nunca chegou a me convencer. Quando, em 1993, houve o plebiscito para que o país escolhesse entre parlamentarismo e presidencialismo, ele foi um dos poucos que defenderam a monarquia. Perguntei a ele, na época, por que a defendia, e resposta foi que, afinal, alguém precisava fazer isso.

O monarquismo de Murilo não passava, nem de longe, pela defesa da escravidão, nem era uma crença tola das virtudes do regime imperial. O que ele buscava destacar, nestes como em outros escritos, era o valor do espírito público e a admiração pelas pessoas que trabalhavam sem concessões pelas ideias e causas que julgavam justas. Como ele.

Que descanse em paz, Zé.


Saraiva Guerreiro foi um grande diplomata e um chanceler equilibrado: muito diferente de outros que estavam antes ou vieram depois - Elio Gaspari

O efeito Milei e o Itamaraty

Elio Gaspari

Folha de S. Paulo, 15.ago.2023 às 23h15 

 

A encrenca argentina é séria, mas não é inédita. Lá, o general Jorge Rafael Videla, ditador deposto em 1981, morreu num banheiro da cadeia em 2013. Em 2001, o presidente civil Fernando de la Rúa fugiu da Casa Rosada e em duas semanas o país teve três presidentes.

O governo do presidente Alberto Fernández está bichado. Cumpriu-se parcialmente uma profecia de Jair Bolsonaro, impropriamente enunciada durante a campanha eleitoral de los hermanos. Fernández e Lula aproximaram-se. Javier Milei, por sua vez, aproximou-se de Bolsonaro.

Com as cartas que estão na mesa, é forte o efeito gravitacional que levaria o Brasil a se meter na encrenca argentina. Se Bolsonaro não deveria ter se metido na campanha de 2019, o governo de Lula não deve se meter na disputa de 2023. À primeira vista isso parece impossível, até injusto. Seria como tirar o sapato sem tirar a meia.

Para diplomatas competentes, não só isso é possível, como em circunstâncias piores, o Itamaraty já fez a mágica.

Em 1982, os presidentes Leopoldo Galtieri e João Baptista Figueiredo eram bons amigos. Militares brasileiros sequestravam exilados argentinos no Brasil e militares argentinos sequestravam brasileiros em Buenos Aires. O general Galtieri (um bebum) teve sua ideia: invadir as ilhas Falklands, terras perdidas no meio do oceano, governadas pelos ingleses.

A primeira parte foi fácil e ele tomou as Malvinas. Restava a segunda: o que faria a Inglaterra, governada pela primeira-ministra Margaret Thatcher? No dia 23 de abril de 1982, o embaixador do Brasil em Londres, Roberto Campos, informava: "Especula-se que as propostas britânicas estariam divididas em três fases: retirada argentina, período de transição, onde o Reino Unido faria algumas concessões no sentido de uma administração partilhada, e de uma negociação da situação final das ilhas, inclusive da questão da soberania".

No dia seguinte, foi além: "Vários observadores vêm insistindo em que seria muito pouco provável que o Reino Unido inicie operações militares contra a Argentina enquanto estão em curso negociações".

Ilusão do doutor. Thatcher desceu a frota, retomou as ilhas e Galtieri, humilhado, foi mandado para casa. No Itamaraty, estava o chanceler Ramiro Guerreiro, de sapatos e meias. Ele sabia que a aventura militar acabaria em desastre. Tratava-se de dissociar-se da maluquice, sem colocar o Brasil na condição de aliado dos ingleses numa questão sensível para todos os argentinos.

Guerreiro conteve os ímpetos de Figueiredo e dos militares brasileiros aliados da ditadura argentina, com suas dezenas de milhares de mortos. O chanceler Guerreiro era um diplomata discreto. Seu colega Araújo Castro dizia que ele era a única pessoa capaz de dormir durante o próprio discurso.

Por calado, Guerreiro não deixou registro público da sua mágica. Seus detalhes estão nos arquivos do Itamaraty. Passados 41 anos, eles estão disponíveis para quem sente o impulso de se meter na encrenca argentina e na alma aventureira de Javier Milei.


Formação do diplomata brasileiro: uma obra em preparação - Paulo Roberto de Almeida

 Depois de já ter escrito sobre a formação da diplomacia econômica no Brasil, no século XIX, com alguma extensão para o século XX, estou agora empenhado na confecção de uma outra obra, desta vez sobre a formação do diplomata brasileiro, das origens à atualidade.

Como sempre recorro à história, pesquisando em arquivos ou lendo literatura a respeito. Por isso, gostaria de destacar alguma informação coletada no período recente, ou nem tão recente assim, em 2007 por exemplo, mas objetivo sempre perseguido de maneira constante. Começo pela citação de um prefácio, depois vou à exposição da pesquisa em arquivos, em duas épocas características: 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 16 de agosto de 2023


“A razão de Estado e a soberania nacional, como a segurança do povo ou a garantia das fronteiras, a defesa do interesse do país, a autonomia decisória dentro de seus limites territoriais, o combate aos inimigos da sociedade, a resistência às ameaças externas (e internas), a proteção dos direitos intrínsecos e ancestrais – tantos véus cuja dança frenética por vezes encobre um complexo jogo de poder e ambição, que camufla conflitos, rivalidades, egoísmos políticos e econômicos, competição comercial, pretensões territoriais, ódios seculares ou recentes, adversários reais ou pretendidos, que turvaram as relações intrassociais de um país e que contaminam a cena internacional.

A cada época, uma ou mais de uma ideologia política pesa sobre o comportamento dos atores, pessoas comuns ou protagonistas institucionais. A história permite-nos detectar a trilha ideológica sob cujo compasso a dança dos véus ideológicos volteia vertiginosamente, distorcendo e esgarçando o tecido social, fabricando tensões, estigmatizando pessoas, grupos, sociedades, países. 

(...) O Brasil não ficou infenso ao movimento que contaminou o mundo, numa mescla de expectativa e de temor, de sonho e pesadelo.” 


Retirado do Prefácio do Professor Estevão C. de Rezende Martins (UnB), ao livro de Adrianna Setemy: Sentinelas das Fronteiras: a diplomacia brasileira e a conexão repressiva internacional para o combate ao comunismo (Curitiba: Editora Prismas, 2018),  p. 9-10.

 

Permito-me, acrescentar: nem o Brasil ficou infenso a esse movimento, nem alguns dos seus mais importantes “protagonistas institucionais”, como são os diplomatas, que tanto trouxeram de fora parte daqueles “véus ideológicos” circulando pelo mundo, informando seus pares da capital, como também podem ter repercutido o peso de alguma ideologia política no trabalho institucional de defesa dos interesses nacionais em face dos desafios do mundo exterior. Diplomatas são indivíduos como quaisquer outros, mas geralmente pertencentes a uma elite restrita da população, uma elite do saber, voltada justamente para as conexões entre o externo e o interno, entre a informação e a proposição, entre o saber e o fazer. Pretendo justamente tratar da formação do diplomata brasileiro em uma nova obra em preparação, ainda em fase de pesquisa e seleção de materiais, para as diversas etapas de uma evolução bissecular.

Paulo Roberto de Almeida


 

Permito-me acrescentar um ou dois parágrafos do livro da historiadora Adrianna Setemy sobre a postura dos diplomatas, não muito discrepante do que vieram a fazer depois, sob a ditadura militar de 1964, como informo mais abaixo: 

 

“A partir da análise dos telegramas que versavam sobre o problema do comunismo, trocados entre o Itamaraty e suas embaixadas no exterior, percebi que foi no luxo dos salões e repartições diplomatas que os chanceleres brasileiros, investidos da função de servidores, participam de maneira decisiva das atividades de segurança e repressão, a partir da execução de tarefas rotineiras, redigindo informes sobre as atividades de brasileiros exilados no exterior, sobre a presença ou passagem pelo Brasil de estrangeiros considerados suspeitos por suas ideia e atividades políticas, ou ainda, empenhando-se em defender nos foros internacionais a necessidade de ações repressivas conjuntas contra o perigo da infiltração comunista nos países do continente. O excesso de zelo com que alguns diplomatas desempenharam essas funções em alguns casos antecipando ou mesmo excedendo a própria iniciativa do Estado, são representativos de que dentro do Itamaraty, assim como dentro do aparelho do Estado como um todo, havia indivíduos que fizeram uso da posição pública que ocupavam para potencializar a aplicação de convicções pessoais, sem considerar a moralidade de seus atos. Apesar de não terem descido aos porões ou participado diretamente das prisões, das torturas e, em última instância, da morte de inimigos políticos do Estado, estes funcionários forma importantes agentes do processo de aceleração mórbida do maniqueísmo político.

... após as três vagas de exílio que se seguiram aos acontecimentos de 1935, 1937 e 1964, o Itamaraty teve papel de destaque nas negociações com os governos dos países de acolha, a fim de obter a cooperação das autoridades locais no controle das atividades de exilados brasileiros que representavam uma ameaça para ordem política e social do Brasil e do continente...” (p. 32-33)

 

A enorme pesquisa efetuada pela historiadora Adrianna Setemy se encerra no início do governo militar, mas o jornalista Claudio Dantas Sequeira efetuou uma pesquisa sobre desenvolvimentos ulteriores, a partir de registros agora depositados no Arquivo Nacional de Brasília sobre os documentos do CIEX, a unidade de informação do exterior do Itamaraty, e publicou suas descobertas em uma série de reportagens do Correio Braziliense no ano de 2007, “Os Serviços Secretos do Itamaraty”.


Suas matérias podem ser vistas de forma unificada nesta postagem "Os Serviços Secretos do Itamaraty - Claudio Dantas Sequeira, 2007 (Correio Braziliense)" do blog Diplomatizzando (23/07/2023; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/07/os-servicos-secretos-do-itamaraty.html).

 

 Agora toca terminar a minha obra...

Paulo Roberto de Almeida

 

 

 

BRASILIVROS, IHG-DF: livros dos membros do Instituto Histórico e Geográfico do DF

BRASILIVROS, IHG-DF: livros dos membros do Instituto Histórico e Geográfico do DF

Sábado, 19/08, 2023, 14h30 - 19h00

Os membros do IHG-DF convidam para a Feira do Livro, na qual estarão expostos e disponíveis seus livros como autores.



Uma avaliação do governo Lula (2003-2010): o que foi feito, o que faltou (2010) - Paulo Roberto de Almeida

Um balanço que fiz ao cabo dos dois primeiros mandatos do governo Lula, em 2010, que pode oferecer alguma base de comparação com o seu terceiro mandato.

Uma avaliação do governo Lula: o que foi feito, o que faltou

Paulo Roberto de Almeida

Beijing-Shanghai, 28/06/2010; Shanghai, 4 julho 2010, 16 p.


1. Considerações introdutórias sobre a natureza do exercício

Um governo, qualquer governo, de qualquer país pode – na verdade deve – ser submetido a uma avaliação de seus resultados efetivos, para fins de um balanço honesto das realizações registradas e para a confrontação destas às promessas feitas em seu início. Trata-se de um exercício democrático de controle, destinado a verificar se os recursos “entregues” ao governo foram transformados em resultados positivos para os cidadãos que produziram esses recursos repassados ao Estado – ou que deles foram despojados “involuntariamente” – sob a justificativa, ou a promessa, de políticas públicas visando ao maior bem-estar possível para o maior número.

Esse tipo de exercício costuma ser feito com o apoio de metodologias aferíveis quanto aos instrumentos mobilizados e na presença de números confiáveis, ou seja, de séries estatísticas organizadas de maneira coerente e honesta, a partir de bases de dados uniformes, homogêneas e... comparáveis, quando algum confronto é feito. As ferramentas quantitativas são, para esse efeito, as melhores possíveis, mas nem todas as políticas públicas – que previsivelmente se estendem a diversos setores de interesse coletivo, que não comportam, necessariamente, bens e serviços dotados de “preços de mercado” – se prestam a esse tipo de abordagem numérica. Em diversos casos, uma avaliação de natureza qualitativa é a mais indicada, embora ela possa estar sujeita a considerações de ordem subjetiva, isto é, dependente das posições políticas ou das preferências pessoais do avaliador. Trata-se de uma “distorção” inevitável no plano das ciências humanas, que pode ser, entretanto, minimizada pela utilização dos princípios weberianos conhecidos no campo das metodologias analíticas.

(...)

Ler a íntegra neste link: 

https://www.academia.edu/105634447/2162_Uma_avalia%C3%A7%C3%A3o_do_governo_Lula_o_que_foi_feito_o_que_faltou_2010_