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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

À CNN, ministro Mauro Vieira rebate críticas sobre força da China nos Brics - CNN Brasil

 À CNN, ministro Mauro Vieira rebate críticas sobre força da China nos Brics

CNN Brasil Online
27 de agosto de 2023

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O ministro das Relações ExterioresMauro Vieira, rebateu as críticas de que a expansão dos Brics teria fortalecido os interesses da China sem que o Brasil tivesse benefícios com a decisão."Não concordo com esse tipo de análise. Primeiro, porque as decisões dos Brics são por consenso. Então, os cinco países concordaram. Se algum deles fosse contra a expansão era só ter se declarado e não haveria a expansão", disse o ministro com exclusividade à CNN.O Itamaraty sempre afirmou que o Brasil não era contra a expansão, mas que defendia, antes, a adoção de alguns princípios para determinar que nações poderiam aderir ao bloco - e em que momento.

"Desde o princípio dissemos que precisaríamos ter critérios para adesão de novos países. E essa expansão com seis novos países, que a partir do ano que vem vão fazer parte do grupo, não está fechando o grupo No futuro, outros países vão se candidatar e decidiremos se poderão ser incluídos também", afirmou o ministro. Segundo o chanceler, pelo menos três critérios defendidos pelo Brasil foram adotados pelos Brics na cúpula de líderes do bloco, realizada na semana passada em Joanesburgo, na África do Sul, para esta e futuras expansões. O primeiro é o comprometimento de todos os candidatos com reformas do sistema de governança global, especialmente a ONU e o seu Conselho de Segurança. Como parte das negociações com a própria China, a maior interessada na expansão do bloco para atender aos seus interesses na disputa geopolítica contra os Estados Unidos, os Brics concordaram no comunicado final da cúpula em incluir uma mensagem explícita de que Brasil, Índia e África do Sul deveriam ter mais poder e espaço dentro do Conselho de Segurança da ONU. Embora não seja uma declaração explícita de que Pequim apoia a entrada desses países como membros com assento permanente no Conselho, o Itamaraty considera que houve uma mudança positiva expressiva na postura chinesa

O segundo ponto diz respeito à implantação de um mecanismo para que o comércio intrabloco seja feito em moedas locais, reduzindo a dependência do dólar em importações e exportações. "Colocamos algumas propostas (durante a cúpula dos líderes), como o estudo pelos ministros das Finanças de cada um dos países sobre encontrar um mecanismo que permita que o comércio bilateral de cada país com os outros países do grupo seja feito nas moedas nacionais. Isso é um passo muito importante, muito rápido. Isso vai agilizar o comércio internacional entre os países do bloco e também baratear as operações", disse o ministro à CNN. Por fim, a menos polêmica das propostas: o Brasil defende que qualquer expansão leve em consideração o equilíbrio regional. Por isso, o Itamaraty defendeu em todas as negociações a inclusão da Argentina no bloco. Não está claro, no entanto, se o país vizinho irá de fato aderir ao grupo em caso de vitória da oposição ao governo do peronista Alberto Fernandez nas eleições deste ano. Fernandez é amigo de Lula, que citou o presidente argentino na Cúpula ao dizer que os dois países atuariam juntos em mais um fórum global."Tivemos um importante avanço na colocação de prioridades e critérios para a reforma da governança global. Foi aceito pelos cinco países dos Brics a necessidade de reforma do Conselho de Segurança da ONU, em ambas as categorias, com menções específicas aos demais três países dos Brics que não são membros permanentes do Conselho de Segurança, que são Brasil, Índia e África do Sul. Então, são duas importantes conquistas e depois a ampliação do grupo trazendo seis novos países sendo mantida a representatividade regional", afirmou o ministro.

domingo, 27 de agosto de 2023

Sobre a expansão do Brics para países pouco recomendáveis - Paulo Roberto de Almeida

Pensando com meus botões (que já foram “diplomáticos” em boa parte da vida):

Imagino que TODOS os diplomatas brasileiros, sendo pessoas inteligentes, preparadas intelectualmente, democratas verdadeiros, defensores dos DH, devam se sentir logrados com essa tal de expansão do Brics, aceita pela atual “diplomacia presidencial”. 

Duro ter de defender essa nova porcaria, não é mesmo, colegas? 

Sorry por desvendar o pensamento sincero da imensa maioria do corpo profissional da diplomacia brasileira.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 27/08/2023


O nosso “Dia da Infamia”: vereadores de Porto Alegre criam o “dia do patriota idiota” - Manifesto da Confraria PAZ

 Um manifesto que já circula em Porto Alegre ao qual aderi, por vinculos familiares com a capital gaúcha:

Pela imediata revogação da lei infame

Confraria Plínio Alexandre Zalewski (PAZ)*

O Parlamento é expressão da democracia ou nada é. Deve servir à Constituição e, nessa missão, integrar o sistema de garantias fundamentais que consagram os direitos humanos. Se, pelo contrário, o Poder Legislativo viola a Constituição e se alinha aos que propõem a ruptura do Estado Democrático de Direito, então temos um Poder corrompido e imprestável.
Nós, cidadãos e cidadãs de Porto Alegre, alguns já homenageados pela Câmara Municipal, conclamamos nossos representantes à revogação imediata da Lei 3.530/2023, que instituiu a data de 8 de janeiro como o “Dia do Patriota”, dia em que um grupo de radicais de extrema direita tentou um golpe de Estado no Brasil e vilipendiou as sedes dos Poderes da República.
A repulsa aos golpes de Estado, a defesa das prerrogativas das nossas instituições e o apreço pelo debate respeitoso une os democratas de todos os matizes político-ideológicos.
A proposição da violência, o ataque às instituições e o ódio caracterizam as posições radicalizadas que devem ser contidas e responsabilizadas por seus crimes, não homenageadas. Que o Parlamento de Porto Alegre tenha permitido que uma homenagem ao golpismo tenha se transformado em Lei Municipal é algo que já nos assegurou posição destacada no anedotário nacional. Que esse mesmo Parlamento se
recuse a rever esse ato de deboche, é algo que inscreverá o nome de Porto Alegre na história universal da infâmia.

1. Afonso Armando Konzen - Procurador de Justiça aposentado.
2. Alceu Terra Nascimento - Educador, presidente da Fundação Gerações.
3. Antonio Carlos Brites Jaques - Mestre em Economia, ex-presidente da CEEE, do Conselho de Administração do Banrisul e ex-secretário de Estado da Fazenda/RS.
4. Ana Severo - Economista, auditora fiscal aposentada.
5. Antônio Hohlfeldt – Prof. PPG Comunicação Social e PPG Letras, PUCRS – ex-vereador,
ex-vice-governador do RS, cidadão emérito de Porto Alegre.
6. Carmen Lícia Palazzo - Historiadora e economista, integrante do Instituto Histórico e Geográfico do DF (IHG-DF).
7. Daniela Sallet - Jornalista, vice-diretora depto de Política Ambiental da ARI.
8. Elton Bozzetto - Teólogo, jornalista e presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Bem-Estar e do Desenvolvimento Social (SENALBA/RS).
9. Flávio Ferreira Presser- Engenheiro civil e ex-Diretor-Geral do DMAE.
10. Gunter Axt – Historiador.
11. Hilda de Souza - Bacharel em direito, professora universitária e deputada estadual constituinte.
12. Juliano Corbelini - Doutor em Ciência Política.
13. Leda Lucia Camargo – Embaixadora aposentada.
14. Leo Voigt – Cientista político e cidadão benemérito de Porto Alegre.
15. Luciano Bruxel - Frade Franciscano, militante da defesa dos direitos da Criança e do Adolescente, cidadão emérito de Porto Alegre.
16. Luiz Inácio Germany Gaiger- Doutor em Sociologia, pesquisador do CNPq.
17. Marco Antônio Vargas Villalobos – Jornalista.
18. Marcos Rolim - Prof. PPG Direitos Humanos UniRitter, ex-deputado estadual e federal, cidadão emérito de Porto Alegre.
19. Maria Carmen Silveira Barbosa – Prof. PPG Educação da UFRGS.
20. Nelnie Viale Lorenzoni - Advogada e mediadora; vice-presidente da Associação Brasileira de Mulheres de Carreiras Jurídicas/RS (ABMCJRS).
21. Paulo Roberto de Almeida – Diplomata.
22. Simone Mariano da Rocha - Procuradora de justiça.
________________
* Coletivo formado em 2016 por um grupo independente de intelectuais gaúchos, com posições político-ideológicas distintas, que se reúne para debater temas de interesse público, da política, da cultura e da ciência, em torno dos ideais democráticos e republicanos.


Problemas Públicos, Soluções Privadas? Nem sempre, não necessariamente (2016, 2023) - Paulo Roberto de Almeida

Em 2016, muita gente achava que eu era um liberal completo, ou seja, em quaisquer circunstâncias, e sob chuvas e marés, o que nunca fui, a despeito de aceitar que o estatismo conduz a soluções no mais das vezes ineficientes, sendo mais adequadas respostas que se coadunem com as condições gerais de uma economia livre.

Tendo recebido um convite de estudantes liberais para que eu me expressasse com base no título desse trabalho, sem a interrogante, eu acrescentei o ponto de interrogação e passei a responder de acordo com minha percepção dos problemas, no que posso ter desagradado muita gente que esperava que eu respondesse sempre pela afirmativa. Nunca fui de agradar meus anfitriões, concordando com tudo o que eles pensam, e sempre fui de me guiar por minhas próprias percepções, com base em muito estudo e muita observação da realidade, o que me permite ter reflexões próprias e soluções ad hoc, para os problemas das políticas públicas.

Por isso, posto novamente o que eu dizia sete anos atrás, sem mudar uma virgula do que escrevi.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 27/08/2-023

 

3039. “Problemas Públicos, Soluções Privadas? Nem sempre, não necessariamente”, Brasília, 12 setembro 2016, 9 p. 

Reflexões de um liberal contrarianista para palestra organizada pelos Estudantes Pela Liberdade, capítulo de Belo Horizonte, em 20 de setembro, tentando demonstrar a importância de não ser fundamentalista de mercado no encaminhamento de questões de interesse relevante para a sociedade. Palestra divulgada no site dos Estudantes Pela Liberdade. Texto disponibilizado na plataforma Academia.edu (13/09/2016; link: https://www.academia.edu/s/e4d696a571/3039-problemas-publicos-solucoes-privadas-nem-sempre-nao-necessariamente-2016). Divulgado no blog Diplomatizzando (13/09/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/09/problemas-publicos-solucoes-privadas.html). Nova postagem em 27/08/2023, incorporando comentários efetuados por leitores no momento da primeira publicação, em 2016. Nova postagem na plataforma Academia.edu (27/08/2023; link: https://www.academia.edu/105988712/3039_Problemas_Públicos_Soluções_Privadas_Nem_sempre_não_necessariamente_2016_2023_).

Problemas Públicos, Soluções Privadas?

Nem sempre, não necessariamente!

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

 [Palestra para Estudantes Pela Liberdade-BH, 20 de setembro de 2016]

Texto disponibilizado inicialmente na plataforma Academia.edu (13/09/2016; link: https://www.academia.edu/s/e4d696a571/3039-problemas-publicos-solucoes-privadas-nem-sempre-nao-necessariamente-2016). Divulgado em primeira mão no próprio dia, no blog Diplomatizzando (13/09/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/09/problemas-publicos-solucoes-privadas.html). Foi objeto de comentários de leitor na plataforma Academia.edu, transcritos ao final do texto.

 

 

Nos últimos anos, tive o privilégio de participar de diversos eventos promovidos por capítulos regionais dos Estudantes Pela Liberdade, em algumas cidades do Brasil. Acabo justamente de oferecer algumas reflexões sobre o populismo econômico e a ‘destruição destrutiva’ na América Latina em evento organizado pelo EPL de Brasília, no último dia 16 de setembro (texto publicado em Mundorama, 9/09/2016; link: http://www.mundorama.net/2016/09/09/populismo-economico-e-destruicao-destrutiva-na-america-latina-por-paulo-roberto-de-almeida/). Digo privilégio porque este tipo de iniciativa seria muito difícil de ser realizado até alguns anos atrás, e impensável quando de minha graduação universitária, entre o final dos anos 60 e a primeira metade dos 70. 

A despeito do regime militar, supostamente de direita – na verdade, ele era tão, ou mais, estatizante e nacionalista quanto se pretende ainda hoje uma esquerda que sugere e promove políticas econômicas muito semelhantes àquelas da era militar – as escolas públicas, em geral, e as universidades, em especial, já eram dominadas por essa fauna bizarra que eu denomino de “gramscianos de academia”, o que não quer dizer que seus representantes tenham lido Gramsci ou Marx, no máximo cartilhas muito sintéticas ou aquelas vulgatas simplistas que exigem poucos neurônios no esforço de leitura.

Entendo que eu esteja recebendo estes convites dos Estudantes Pela Liberdade na suposição otimista de que eu integre as correntes liberais, faça parte de movimentos libertários, ou que eu seja, de alguma forma, identificado com posturas políticas que caracterizam “pessoas de direita”. Sinto decepcionar os que assim acreditam, mas não me defino absolutamente por qualquer rótulo político muito estrito, ainda que na juventude – e lá se vão várias décadas – eu me pretendia marxista; mas eu acrescentava logo em seguida: marxista, mas não religioso. O que eu quero dizer com isto? Eu lia, sim, o meu Marx, o meu Lênin, e vários outros socialistas, mas ao lado deles eu também lia Raymond Aron, Roberto Campos e muitos teóricos e pensadores liberais, bem como de quaisquer outras tendências políticas. Sempre fui eclético em minhas leituras e em minhas tomadas de posição em relação aos principais problemas da sociedade: depois de sair do Brasil, no período mais duro do regime militar, viajei muito e li muito; visitei todos os socialismos existentes, os reais e os surreais, assim como conheci todos os tipos de capitalismo, dos ideais aos esquizofrênicos; também frequentei todas as bibliotecas abertas à minha curiosidade insaciável. Parto do princípio de que a gente aprende sobretudo mediante dois métodos de estudo e de observação: nos bons livros (e até em alguns maus, também) e no contato com a realidade, em viagens, em conversas com todo tipo de gente, sobretudo as inteligentes. 

Pelos livros, na observação atenta do modo de funcionamento dos mais diversos tipos de países, fui aperfeiçoando minhas concepções políticas e econômicas, até chegar a esta não definição atual: não me considero um liberal, ou libertário, pois não creio nos rótulos reducionistas. No máximo eu poderia ser classificado de liberal contrarianista, ou então como um racionalista, ou seja, alguém que sempre procura definir problemas nos seus próprios termos, examinando as questões pela sua substância, ou sua essência, antes que por algum princípio genérico e invariável. Sempre tento formular respostas a desafios concretos, não teóricos, segundo as melhores armas do pensamento crítico, o que sempre envolve um alto grau de ceticismo sadio em relação a respostas prontas a problemas que invariavelmente são sempre mais complexos do que nossa capacidade analítica, de diagnóstico ou de tipo prescritivo. 

Este posicionamento preliminar tem importância para esta minha palestra a vocês, nesta noite. Fui convidado pelo capítulo de Belo Horizonte dos Estudantes Pela Liberdade sob a sugestão de que eu poderia falar alguma coisa em torno deste binômio: “problemas públicos, soluções privadas”. Parece claro, transparente, unilateral, o que justamente desperta meus instintos contrarianistas, ainda que de corte liberal. O que eu tento fazer, em todos os meus escritos e palestras, é demonstrar a importância de não ser um fundamentalista de mercado, pelo lado econômico, ou um principista político, no terreno doutrinal, no encaminhamento de questões de interesse relevante na sociedade. É, portanto, com base nestas considerações de ordem geral que eu me disponho a tentar formular algumas reflexões pessoais sobre o público e o privado enquanto mecanismos supostamente antagônicos para a definição de soluções privadas a problemas públicos, ou coletivos. Não creio que se possa partir dessa dicotomia para encaminhar de modo adequado soluções efetivas a uma infinidade de problemas com que nos defrontamos nas sociedades completamente urbanizadas e altamente complexas que são as nossas.

 

Pois bem, o que poderíamos dizer a propósito dessa fórmula aparentemente sedutora que me foi oferecida como tema de palestra: problemas públicos, soluções privadas? Em primeiro lugar que ela pode ser um bom slogan, e até um bom princípio organizador, de caráter geral, para a definição inicial e um encaminhamento muito preliminar de quaisquer problemas detectados e que requerem soluções criativas, em função dos recursos disponíveis e da dimensão das populações envolvidas. Mas ela é também redutora, no sentido em que pretende enfeixar problemas necessariamente diferentes num mesmo cesto unidirecional de respostas, apontando para o polo oposto ao do problema, ou seja, sair do público, considerado talvez como pouco eficiente, para caminhar resolutamente em direção das soluções privadas, supostamente as melhores.

Pode ser que seja assim, ou talvez deva ser assim na maior parte dos casos, mas uma regra de bom senso, ou de precaução, recomendaria que adotássemos uma postura de questionamento completo, integral, de um problema específico considerado, para a partir daí começar a examinar esse problema de todos os ângulos possíveis, e com todas as informações disponíveis, para só então formular respostas tentativas, talvez parciais, de caráter eminentemente pragmático, ao desafio em causa. Vamos examinar, a título exemplificativo, alguns casos de problemas brasileiros, e suas soluções possíveis, sempre tentando adequar essas questões aos critérios que me foram oferecidos como uma espécie de guia de ação para seu encaminhamento satisfatório, ou seja: problemas públicos, soluções privadas. Serei sintético na exposição e nas prescrições.

Quais são, em minha opinião, os maiores problemas brasileiros, públicos, portanto, ou coletivos, e quais seriam as supostas soluções privadas a esses mesmos problemas? Minha lista, não exaustiva, cobre uma dúzia de problemas “coletivos”, os quais vou discutir sumariamente segundo o mesmo formato: breve exposição de qual seria o problema, proposta de solução, natureza da solução pela dicotomia proposta. 

 

1) Problema: Peso excessivo do Estado brasileiro para a economia e a sociedade.

Solução: Redução radical do peso do Estado na vida da nação, começando pela diminuição à metade do número de ministérios, com a redução ou eliminação concomitante de uma série de outras agências públicas. 

(...)


Ler a íntegra neste link: 


https://www.academia.edu/105988712/3039_Problemas_Públicos_Soluções_Privadas_Nem_sempre_não_necessariamente_2016_2023_


sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Ascensão e queda, e morte, na Rússia de Putin - Centre for Defence Strategies (CDS)

 The story of the Wagner PMC, a quintessentially Russian narrative, has reached its conclusion. 

Employing infernal symbolism, Vladimir Putin orchestrated the demise of Yevgeniy Prigozhin, a one-time loyal supporter turned renegade, marking the beginning of the failed mutiny two months ago. This event draws striking parallels to the assassination of Anna Politkovskaya, an independent Russian journalist and vehement critic of Vladimir Putin, who was murdered on Putin's birthday seventeen years ago. Putin's reputation is rooted in ruthless actions and rancour. Among those observing Kremlin affairs, few doubted that the leader of Wagner was doomed.

The tradition of absolute power runs deep in Russia's history, tracing back to Muscovite rulers like Ivan the Terrible and even earlier. In this system, a czar holds complete authority over all subjects, treating them as possessions regardless of their social status – whether nobles with recognized rights or serfs with limited freedoms. The ruler retains the authority to bestow official positions or property as he pleases, without temporal restrictions. The ruler's “jurisdiction” extends to the appropriation of his subjects' possessions, freedoms, and even lives, at his sole discretion and timing. Concepts like the Magna Carta and Habeas Corpus remain foreign to Russia, up to the present day.

The FSB, a successor to the KGB, intricately blurred the lines between the state and the criminal underworld. Yevgeniy Prigozhin, a convicted criminal, has been a recurring figure in Vladimir Putin's realm since the tumultuous 1990s. Back then, Putin, serving as an aide to the mayor of St. Petersburg, was involved in a web of corrupt dealings and more serious transgressions. After consolidating his power and dismantling the oligarchic circle around "retired" President Boris Yeltsin, Putin assumed dominion over virtually all facets of Russia—its assets, entities, and populace.

Dissenters found themselves met with a choice between assassination, incarceration, or banishment from the Russian landscape. From that juncture, the so-called oligarchs were granted the liberty to misappropriate and squander resources, exercising unrestrained control. However, they had to satisfy the actual proprietor through bribes—whether channeling funds towards his caprices at the Gelendzhik palace or endowing various opulent superyachts. Moreover, they were mandated to fund a spectrum of intelligence operations and exert influence campaigns abroad on behalf of the Kremlin. It's important to highlight that they never held control over Putin's decisions, which excludes them from being classified as genuine oligarchs..

The so-called Wagner Private Military Company (bearing in mind that formal mercenary endeavors are proscribed within Russia) has functioned as a valuable instrument for the Kremlin, offering a shroud of plausible deniability. Prigozhin evolved into a well-established operator in Africa with some 5,000 mercenary forces deployed across the continent. A sophisticated network of companies established and run by Yevgeniy Prigozhin generated profit from the mercenary business serving various regimes. This endeavor not only yielded financial gains but also facilitated access to coveted resources encompassing precious minerals such as gold and diamonds, as well as fossil fuels like oil and gas.

Parallel to the inflow of untraceable financial resources, the operations conducted by the Wagner PMC bolstered the Kremlin's capacity to wield influence beyond its apparent heft, in the competitive arena of African influence vis-à-vis more resource-abundant entities from the free world and China. Before the extensive involvement in Ukraine, the Wagner PMC had already gained infamy due to its involvement in war crimes in Africa and Syria.

While the Wagner PMC momentarily captured headlines with its audacious march towards Moscow during in June, the Kremlin's propaganda machine skillfully revealed that the company's autonomy was less substantial than it seemed. Notably, the company received significant military contracts totaling $2 billion between May 2022 and 2023. Concurrently, a sophisticated propaganda network associated with Wagner, including entities like the Internet Research Agency (previously implicated in U.S. electoral interference), secured an astonishing $20 billion in government contracts.

The Kremlin discarded its facade of plausible deniability by orchestrating the destruction of a civilian aircraft carrying the chieftain and his key subordinates. In doing so, the Kremlin effectively eliminated former collaborators and operatives who had displayed disloyalty. It's worth noting that Yevgeniy Prigozhin was destined for doom even without the staged mutiny, a fate shared by numerous other figures who fought in Ukraine since 2014, often portrayed in propaganda as local "miners and tractor drivers" in the so-called civil war narrative.

Speculation has arisen regarding Yevgeniy Prigozhin's rumored possession of a collection of Kompromat, potentially containing compromising information about Vladimir Putin and other senior regime figures. This alleged leverage was reportedly intended for release in case of Prigozhin's untimely demise. Some of his mercenary forces, motivated by loyalty, issued threats to retaliate against those deemed responsible (Vladimir Putin and/or military leadership) for the assassination of their revered chieftain.

The Russian Volunteer Corps, a military unit operating within the Ukrainian Armed Forces, extended an invitation to Wagner PMC members who had refrained from participating in war crimes during their time in Ukraine—although such instances appeared quite rare. The offer was for them to join their ranks and confront Putin and the Russian military. 

Those Russians, often holding fascist and imperialistic views, who are now setting up improvised memorials for Yevgeniy Prigozhin in various Russian cities or engaged in the war have learned that the next mutiny or coup d'état must result in Vladimir Putin's demise. He, they argue, bears responsibility for the catastrophic war in Ukraine, having breached agreements with Prigozhin. However, the feasibility of these threats remains questionable, as the Wagnerites were disarmed (heavy armaments and artillery), bereft of significant resources, and severed from their influential leader's connections within both the ruling hierarchy and criminal circles.

While their capabilities remain restricted, it's conceivable that dissatisfied individuals could become involved in future insurrections, especially if a coup d'état orchestrated by elements within the regime occurs, or if Russian forces experience a collapse in Ukraine leading to internal turmoil. However, these individuals might also become targets of mid and low-tier purges following actions by higher echelons of power. Russia's non-democratic framework impedes crisis resolution through elections, and Putin's inability for criminal-like dealings within the elite was starkly demonstrated as unviable. Putin doesn't obey either formal agreements or his words, which is also a lesson for the Western partners willing to find a diplomatic solution to the "Ukrainian war."

The Russian military has lost a formidable and highly effective (within Russian context) fighting force, bolstered by considerable resources. The legacy of the Wagner enterprise is now being taken up by both established and emerging loyalists. It wouldn't be surprise if figures like Viktor Bout, dubbed the "Merchant of Death," are positioned to secure substantial African assets—his conspicuous presence at the recent Russia-Africa summit lends credence to this prospect. Nevertheless, it's unlikely that Putin will repeat the mistake of allowing an individual or faction to amass resources that could potentially threaten his personal authority.

Wagner's striking ability to achieve outcomes that the conventional Armed Forces struggled with highlights the clear inefficiencies of the existing governance model. Putin, invested billions into his war apparatus and attempted reforms on multiple occasions, obsessively cultivating an image of Russia as a potent state fortified by a formidable military. Yet, the mutiny's occurrence and its resolution exposed the limitations of Putin's authority, eroding his portrayal as an invincible strongman—an element pivotal within Russian political culture.

The public's support for the Wagnerites and the popularity of figures like Yevgeniy Prigozhin reveal the deep-rooted discontent prevailing within society. Escalating internal contradictions coupled with the progressively evident catastrophe triggered by the ongoing war foreshadow a monumental upheaval, unparalleled in recent Russian history. This convulsion might be catalyzed by domestic triggers or, more likely, by the inevitable successes of the Ukrainian Armed Forces. Though more robust and swift support from the West to Ukraine has been dragged back by the fear of Russia’s collapse, it’s highly likely to came about. It’s better for Ukraine and its partners to turn to contingency planning.

Centre for Defence Strategies (CDS) is a Ukrainian security think tank. We operate since 2020. 

A grande ilusão do Brics e os caminhos erráticos da diplomacia partidária do Brasil - Editorial do Estadão

 O título desta postagem é meu, já sinalizando o que penso do bloquinho que aumentou 120% nesta cúpula na África do Sul.

PRA

Brics “antiocidental” é triunfo diplomático para Pequim e desafio para Brasil

Editorial Estadão, 25/08/2023

A expansão do grupo Brics, anunciada durante a 15ª cúpula dos líderes em Johannesburgo, dá início a um novo capítulo do bloco, que agora passará a incluir o Egito, a Etiópia, o Irã, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. A Argentina também foi convidada, mas sua adesão ainda está incerta: Javier Milei, primeiro colocado nas recentes primárias argentinas, promete diminuir os laços diplomáticos com a China, enquanto Patricia Bullrich, cuja coalizão obteve o segundo maior número de votos, deixou claro que se opõe à adesão do país ao Brics. Porém, é possível que qualquer um dos dois, uma vez eleito, adote uma postura mais pragmática para não antagonizar a China, o segundo maior parceiro comercial da Argentina. O convite feito aos seis países representa uma vitória para a China, que há anos vem tentando ampliar o grupo, mas encontrava resistência por parte de Nova Deli e Brasília, que temiam uma perda de influência no bloco. Porém, diante do papel dominante de Pequim no grupo – a economia chinesa é maior do que as de todos os outros membros somadas – era uma questão de tempo até que Xi Jinping alcançasse seus objetivos. De certa forma, é natural que a China, país com ambições globais, queira construir instituições que possam formalizar seu status de superpotência, da mesma forma que as organizações criadas depois da Segunda Guerra Mundial até hoje refletem a distribuição de poder daquela época. A adesão do Irã, da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e do Egito mostram claramente que a China busca fortalecer sua influência no Oriente Médio, região que considera vital para seus interesses estratégicos. A inclusão de países como a Indonésia, por exemplo, que possui laços amigáveis tanto com os EUA quanto com a China, não teria produzido um impacto significativo para o Brics. Convidar o Irã, porém, traz consequências geopolíticas relevantes, inclusive para o cenário geopolítico sul-americano e a política externa brasileira e argentina. sto porque a inclusão do regime de Teerã, que tem uma postura explicitamente antiocidental que fornece drones para Moscou para apoiar sua invasão à Ucrânia, mudará a forma como analistas ao redor do mundo, mas sobretudo no Ocidente, enxergam o grupo Brics. Até hoje visto, acima de tudo, como um ‘clube dos emergentes’, a inclusão do Irã faz com que o Brics seja visto como uma aliança antiocidental liderada por Pequim e Moscou. Isso deve ficar particularmente evidente no ano que vem, quando o presidente russo presidirá o Brics e organizará a cúpula dos líderes na cidade de Kazan para mostrar que as tentativas ocidentais de isolá-lo fracassaram. A emergência de um Brics mais antiocidental terá implicações significativas para países como o Brasil, a Argentina (e também a Índia e a África do Sul), à medida que tentam posicionar-se como atores neutros ou “não-alinhados” no meio das crescentes tensões entre o Ocidente, por um lado, e o bloco sino-russo do outro. A Índia, vista como um dos principais aliados do Ocidente na Ásia, atualmente busca estabelecer maiores laços militares com a Europa e os Estados Unidos para alcançar essa equidistância entre Pequim e o Ocidente. Da mesma forma, o Brasil e a Argentina devem adaptar-se a um novo contexto geopolítico que torna cada vez mais difícil articular uma posição que seja, em termos gerais, equidistante das duas superpotências. Tal recalibração pode envolver, por exemplo, a adesão argentina e brasileira à OCDE, a fim de compensar a inclinação cada vez mais antiocidental do grupo Brics. Numerosos analistas enxergam a expansão dos Brics como algo de pouca relevância, ignorando que ser país membro envolve um número grande de reuniões anuais intra-Brics, não apenas de presidentes, mas de numerosos ministros, burocracias governamentais, agências reguladoras e organizações da sociedade civil. O impacto imediato de tais encontros pode não ser fácil de quantificar, mas é inegável que o BRICS tornou-se um elemento-chave da identidade da política externa do Brasil. Há poucas dúvidas de que a adesão da Argentina ao Brics, portanto, alteraria as realidades geopolíticas na América do Sul, obrigando os governos dos dois países a ajustarem sua política externa.


O “novo” Brics não faz sentido, segundo Jim O’Neill - Entrevista (Estadão)

‘Estou quase a ponto de dizer que o Brics acabou’, diz economista que batizou o bloco

Economista Jim O’Neill afirma não ver sentido na escolha dos novos membros do grupo, chama ideia de oposição ao G7 de ‘estúpida’ e volta a dizer que Brasil ‘padece da maldição das commodities’

O Estado de S. Paulo, 25/08/2023

Criador há cerca de 20 anos do acrônimo BRIC, que juntava as iniciais de países grandes em extensão territorial, população e potencial de liderar o crescimento global, o ex-economista do Goldman Sachs Jim O’Neill diz estar “quase a ponto de dizer que o Brics acabou”. O “quase” só não caiu da frase porque O’Neill diz, rindo, que é “seu acrônimo”, mas que o bloco, agora, não faz muito sentido.

Inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia e China, o grupo incorporou posteriormente a África do Sul, que não entrava nos conceitos iniciais. Agora, acaba de adotar mais seis membros: Arábia Saudita, Argentina, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia.

O’Neill diz não ver sentido na escolha dos países e que a entrada do Irã, pelo histórico de conflito com o Ocidente, pode trazer problemas ao bloco. Para ele, as adesões deixaram qualquer consenso entre 11 países bem mais difícil. Elas também não trarão qualquer benefício ao grupo.

Para o economista Jim O'Neill, líderes brasileiros fizeram coisas grandiosas nas últimas décadas, mas nunca conseguiram entregar totalmente as promessas

Professor honorário de economia da Universidade de Manchester, ele se diz surpreso com o fato de o Brasil ter aceitado as novas adesões, já que elas diminuem a relevância do País no grupo. “Eu encorajaria a nova liderança sob Lula a tentar não ter inimigos no Ocidente por causa dos Brics”, diz ele.


A seguir, os principais trechos da entrevista:


Como o sr. vê a entrada dos novos países ao Brics?


Estou um pouco atordoado. Não tenho certeza sobre o racional que foi usado. Este ano, escrevi um trabalho bem detalhado, quase acadêmico, com sugestões de que essa inclusão deveria ser feita com critérios bastante transparentes. Se olharmos para os novos países, não é óbvio o que eles têm efetivamente, seja de maneira individual ou para adicionar ao grupo. E, mais importante: por que esses países e não outros? No contexto da América Latina: por que a Argentina e não o México? Por que a Etiópia e não a Nigéria? Particularmente por causa do Irã, parece que o simbolismo do Brics está ficando mais e mais sem sentido. Porque obviamente olhando o status do Irã com relação ao Ocidente é uma situação bastante problemática. Para mim, está muito, mas muito distante mesmo, dos princípios econômicos que eu pensei, 20 anos atrás.


Mas o sr. vê algum benefício nessa entrada? Os países falam em liderar uma nova força econômica que inclua os países associados…


Não. Desde que a visão política dos Brics começou, em 2010, os países foram muito ineficazes em atingir qualquer meta — e agora será ainda mais difícil. Estou surpreso de que o Brasil tenha concordado com isso porque provavelmente diminui a própria relevância do País no grupo. O fato de a Arábia Saudita fazer parte é interessante, mas não acho que faz muito sentido.


Haverá prejuízos para os países, como um eventual aumento de endividamento por causa do banco dos Brics?


Em primeiro lugar, tirando a Arábia Saudita, nenhum desses outros cinco países é particularmente grande. Eles não estão se expandindo globalmente. Depois, para o banco dos Brics será bastante complicado porque já houve uma grande perda com a questão da Rússia (na guerra contra a Ucrânia). Há ainda a posição muito, muito difícil, das relações dos países ocidentais com o Irã, que pode causar problemas futuros politicamente. Em adição, há ainda países no Brics que não estão no G20 (o que deixa o cenário mais confuso).


Como criador do acrônimo, o sr. se sente como um pai de um filho que não deu certo?


Estou quase a ponto de dizer que o Brics acabou. O bloco está cada vez mais distante dos princípios que embasaram a teoria. Os Emirados Árabes Unidos têm uma população muito pequena. Eles têm petróleo, mas qual é o racional para ter esse país no bloco? Por outro lado, a Nigéria já é maior do que a África do Sul. Se fosse para trazer outro país do continente, por que a Etiópia e não a Nigéria? Por outro lado, se fosse para olhar todos os países por legítimo direito (de acordo com a teoria por trás do acrônimo), por que não a Indonésia? Ela já é uma das 20 maiores economias do mundo e tem grandes chances de, em 2050, ser maior do que o Brasil e a Rússia. Eu realmente não entendo o que estão tentando fazer. Quase por definição, ter 11 países, em vez de cinco, deixa cada vez mais e mais difícil de se concordar com qualquer coisa.


O sr. disse que está ‘quase’ dizendo que os Brics acabaram. O que falta para o ‘quase’ cair?


Obviamente porque é meu acrônimo (rindo). Mas em termos de lógica, não faz sentido.


O Brasil deve persistir no Brics?


Eu encorajaria a nova liderança sob Lula a tentar não ter inimigos no Ocidente por causa dos Brics. A ideia dessa oposição entre o G7 e o Brics é estúpida e eu diria que seria mais interessante tentar fortemente se inspirar no que a Índia fez com muito sucesso em relação ao Ocidente.


Entre os países do Brics, a Índia está sendo o mais bem-sucedida neste momento?


Sem dúvida. Durante esta década, a Índia terá o crescimento mais forte entre os Brics e, em 2030, provavelmente estará próxima a ultrapassar o Japão e a Alemanha. Já a China está enfrentando uma série de problemas e tenho preocupações em relação a eles pela primeira vez, em muitos anos. A China deveria priorizar o crescimento ao se engajar com a atual ordem global, em vez de criar uma ordem global alternativa, que não é muito sensato.


Mas a Índia deveria ser uma inspiração para o Brasil?


De certa maneira, sim. Digo há muitos anos que o Brasil precisa, de alguma maneira, reduzir sua dependência de commodities. O Brasil padece da maldição das commodities. Aumentar o papel da tecnologia e dos produtos que não sejam commodities seria o caminho que eu buscaria, caso liderasse o País.


O Brasil é um dos poucos países que está passando pela aprovação de reformas estruturais. Isso pode ajudar nesse sentido?


Como tudo no Brasil, dependerá de quão sério e comprometidos os formuladores de políticas estão. No decorrer dos últimos 22 anos, os líderes brasileiros, num último sentido, fizeram coisas grandiosas, mas nunca conseguiram entregar totalmente as promessas.

 https://www.estadao.com.br/economia/entrevista-jim-oneill-lula-inimigos-ocidente-brics/

O doce encanto do Brics na visão acadêmica - Feliciano Guimaráes, Paulo Roberto de Almeida

 Meu comentário, mais abaixo, ao argumento acadêmico aqui exposto:

Feliciano Guimaráes, IRI-USP:

“ A ampliação dos BRICS é mais positiva que negativa ao Brasil no médio e longo prazos. A literatura sobre coalizões mostra isso, desde que o BRICS não cresça muito. No curto prazo haverá uma diluição da influência brasileira na coalizão porque mais países terão voz e veto. Mas no longo prazo os ganhos em ter mais membros irá compensar a perda de influência de curto prazo. 

A literatura sobre coalizões mostra que coalizões poderosas e longevas são aquelas que (1) mantém a coesão do objetivo comum (uma ordem global menos ocidental); (2) conseguem angariar mais membros para a causa comum ao longo do tempo (Argentina, Egito, etc.); (3) aumentam o agrupamento de recursos para permitir maior peso de negociação em outras esferas. Coalizões com mais membros têm muito mais força em suas demandas com países não-membros (demandas for reformas das inst. int. vindas dos BRICS terão mais força); (4) criam uma percepção de sucesso e ganhos internos acentuados aos seus membros. Estar dentro da coalizão é melhor do que estar fora (vinte países pediram para aderir ao BRICS e nenhum pediu para aderir ao G7); (5) produzem maiores efeitos interinstitucionais (Cross-institutional spillover effects). Uma coalizão ampla repercute mais em outras negociações multilaterais e bilaterais (o BRICS ajudou muito a ótima relação do Brasil com a Índia, p. ex.); (7) forçam os não-membros a incluí-las em seu processo decisório, fortalecendo o papel pivotal de alianças amplas (os EUA e Europa terão que incluir a posição dos BRICS em suas deciões); (8.) coalizões amplas com um centro hegemônico provedor de bens coletivos têm mais chance de sucesso que coalizões igualitárias (o argumento de que a China domina, na realidade, é fundamental para o sucesso dos BRICS - como os EUA para o G7 - e não o contrário. Mas para cada vantagem, existe uma limitação. Embora a agregação de recursos tenha uma lógica sólida, ela não se sustenta quanto maior for a coalizão. 

Ou seja, há um breaking point da eficácia das coalizões que crescem muito. Coalizões muito amplas perdem eficácia, pois geram custos muito altos de criação de consensos, abrindo espaço para o comportamento desviante. Por isso, o BRICS jamais deve se tornar um G77. A própria China parece estar ciente disso. O argumento de que o BRICS não dará certo porque não tem coesão ou homogeneidade interna (ditaduras vs. democracias) não se sustenta na literatura. Like-mindedness não é receita de sucesso. O fundamental é objetivo comum (ordem internacional menos ocidental). Este é o cimento dos BRICS.”

Livros referência sobre coalizões/alianças: "International Trade and Developing Countries: Bargaining coalitions in the GATT & WTO" da Amrita Narlikar; e "The Origins of Alliances" do Stephen Walt.

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PRA:

A suposição é a de que uma ordem ocidental menos ocidental seria melhor e mais benéfica aos paises em geral? 

Isso se sustenta? 

A China cresceu enormemente ao ser justamente integrada à ordem econômica “ocidental”: Bretton Woods, OMC, patentes, etc. 

Ou o socialismo lhe trouxe riqueza e bem-estar? 

O raciocínio sobre coalizões desperta muito subjetivismo. 

Por que tantos países querem integrar ou se associar à UE, uma entidade perfeitamente ocidental? 

Muitas dessas economias pedindo para ingressar no BRICS não estão exatamente mirando o “prestígio” do grupo, e sim comércio e investimentos chineses, no caso repetindo a velha história do império e sua periferia. 

É aliás o que motiva o próprio Brasil de Lula. 

Alguma dúvida quanto a isso?

Paulo Roberto de Almeida

Videocast Rio Bravo - As Instituições Estão Funcionando? | Gustavo Franco

 https://www.youtube.com/watch?v=NAAwin94lxQ