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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

O golpe dos Trapalhões: gente bronca no comando do país -Maria Cristina Fernandes (Valor)

 MARIA CRISTINA FERNANDES - DECISÃO DE MORAES ATESTA GOLPISMO DE MILITARES DA ATIVA

Valor Econômico

Decisão coloca em xeque as declarações do ministro da Defesa, José Múcio, de que as Forças Armadas “como um todo” não queriam um golpe

A decisão que fundamentou a Operação “Tempus Veritatis” (hora da verdade), da Polícia Federal, atesta a participação, na tentativa de golpe de Estado, de militares da ativa que permaneceram em seus cargos e foram até promovidos pelo atual comando do Exército.

Ao envolver o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, na trama golpista, a operação tem potencial ainda de afetar as eleições municipais. Além de uma minuta do golpe, apreendida no escritório do ex-presidente na sede do PL, ficou evidenciada a relação entre o técnico Élder Balbino, contratado por Valdemar para atestar fraude nas urnas, e Fernando Cerimedo, um dos responsáveis pela difusão de notícias falsas durante a campanha. Valdemar foi preso durante a operação de busca e apreensão, pela posse ilegal de arma e de uma pepita de ouro não registrada.

E, finalmente, ao apreender o passaporte de Jair Bolsonaro, a Polícia Federal indica que o desfecho do inquérito sobre a participação do ex-presidente nos atos golpistas está próximo. Em mensagem de Cid, supostamente ao general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, o ex-ajudante de ordens diz que Bolsonaro estava com um decreto, supostamente a minuta golpista, para respaldar participação das Forças Armadas no golpe.

O oficial de mais alta patente arrolado no inquérito é o general Theophilo Gaspar de Oliveira, que hoje está na reserva, mas à época estava à frente do Comando de Operações Terrestres (Coter) e integrava o Alto Comando do Exército. O general permaneceu nesta função até 30 de novembro do ano passado.

A decisão se baseia no vídeo de uma reunião com o ex-presidente, nas informações obtidas da delação de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, e no conjunto de mensagens arroladas no inquérito. Nas mensagens de WhatsApp entre Cid e outro coronel, Bernardo Corrêa Neto, o general Theophilo aparece como adesão certa ao golpe, desde que Bolsonaro assinasse a minuta de decreto golpista.

Em outra troca de mensagens, desta vez entre Cid e o próprio general, Theophilo lhe garante que vai falar com o general Julio Cesar Arruda, ex-comandante do Exército, para que uma eventual prisão do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro não se concretizasse. A interação com os golpistas não o inibiu a propor a reunião de vários tropas sob seu comando (operações especiais, artilharia, defesa cibernética e comunicação) ao longo dos 11 meses em que permaneceu em suas funções sob o novo governo. A proposta, confirmada pelo Exército, não chegou a ser acatada pelo Alto Comando.

A decisão do ministro Alexandre de Moraes fundamenta ainda a participação do coronel Bernardo Corrêa Neto, então lotado no Comando Sul, no aliciamento de oficiais para a subscrição da “Carta ao comandante do Exército de oficiais superiores da ativa do Exército brasileiro”. A despeito desta atuação, o coronel foi transferido para o Colégio Interamericano de Defesa, em Washington. A transferência foi assinada em 30/12/2022, segundo a decisão de Moraes, e em 2021, segundo o Exército. No Informex, porém, boletim oficial, a transferência tem como data o “terceiro trimestre de 2023” com permanência de dois anos.

A carta, cuja minuta foi enviada por Corrêa Neto, a Mauro Cid, visava a pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes, a aderir ao golpe. O coronel cumpria, por delegação de Cid, a tarefa de aliciar oficiais para a empreitada golpista.

Como antecipado pelo Valor, em 21 de setembro de 2022, o almirante Almir Garnier, comandante da Marinha, aderiu incondicionalmente ao golpe, o comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista, resistiu, e coube a Freire Gomes, comandante do Exército, se opor abertamente.

O então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, é identificado como um eloquente defensor de um golpe antes das eleições — “Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições”. Diz ainda ter pedido ao diretor-adjunto da Abin, Vitor Carneiro, para infiltrar agentes nas eleições. Neste momento, segundo o relato que consta da decisão, interrompe Heleno e diz que tratarão do assunto “em particular”. A manifestação indica que as ações ilegais moviam a própria Abin e não uma “Abin paralela”.

Nas mensagens reproduzidas constam aquelas que foram trocadas pela rede interna de comunicação do Exército, Una. Apesar disso, o atual comando do Exército informa que não teve conhecimento de nenhuma das informações contidas na decisão e que, por isso, não poderia ter evitado que os oficiais citados tivessem permanecidos em suas funções, fossem promovidos e que transferências determinadas pelo comando anterior fossem efetivadas. A assessoria do general Tomás Paiva informa ainda que há “informações pessoais” na troca de mensagens desta intranet e que, por isso, a rede não é monitorada pelo Centro de Informações do Exército.

O tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, encarregado por Cid de dar apoio logístico ao acampamento golpista em frente ao QG do Exército e ao deslocamento de golpistas, foi promovido já sob o atual comando. Desde o fim do segundo turno de 2022, a troca de informações entre os dois girou em torno do apoio para a realização de manifestações cujos alvos seriam o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal. “O que demonstra que os protestos convocados não se originavam da mobilização popular, mas, sim, da arregimentação e do suporte direto do grupo ligado ao então presidente Jair Bolsonaro”, diz a decisão. É assim que Moraes contesta a linha de defesa militar de que a conivência com os acampamentos visava a não se contrapor a “manifestações populares”.

O ex-ministro da Casa Civil general Braga Netto tem mensagens de WhatsApp em que critica com termos de baixo calão os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica. A decisão reproduz suas queixas contra o atual comandante do Exército, general Tomás Paiva. Em mensagem por WhatsApp, Braga Netto dá conta de uma visita do general ao ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas e diz que ele, Tomás Paiva, tem se insurgido contra as atividades golpistas de Theophilo e do ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Oliveira — “nunca valeu nada”.

A decisão coloca em xeque as declarações do ministro da Defesa, José Múcio, de que os acampamentos em frente ao quartel general do Exército eram democráticos e que as Forças Armadas “como um todo” não queriam um golpe. O despacho do ministro Alexandre de Moraes ainda evidencia que esta omissão em relação ao acampamento em frente ao QG era parte do planejamento dos atos de 8/1.

Passados 13 meses dos atos golpistas, 1.430 pessoas foram presas e 28 já foram condenadas. Enquanto isso, o Exército abriu quatro Inquéritos Policiais Militares e quatro processos administrativos até aqui, mas nenhum crime foi admitido. O Exército puniu dois militares de baixa patente por infração disciplinar.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

There is No Place for the Palestinians of Gaza to Go - Vijay Prashad (Counterpunch)

 On January 29, 2024, the UN special rapporteur on the right to adequate housing, Dr. Balakrishnan Rajagopal wrote a strong essay in the New York Times called “Domicide: the Mass Destruction of Homes Should be a Crime Against Humanity.

There is No Place for the Palestinians of Gaza to Go

 

 

On February 9, 2024, Israel’s prime minister Benjamin Netanyahu said that his army would advance into Rafah, the last remaining city in Gaza not occupied by the Israelis. Most of the 2.3 million Palestinians who live in Gaza had fled to its southern border with Egypt after being told by the Israelis on October 13, 2023, that the north had to be abandoned and that the south would be a “safe zone.” As the Palestinians from the north, particularly from Gaza City, began their march south—often on foot—they were attacked by Israeli forces, who gave them no safe passage. The Israelis said that anything south of Wadi Gaza, which divides the narrow strip, would be safe, but then as the Palestinians moved into Deir-al-Balah, Khan Younis, and Rafah, they found the Israeli jets following them and the Israeli troops coming after them. Now, Netanyahu has said that his forces will enter Rafah to combat Hamas. On February 11, Netanyahu told NBC news that Israeli would provide “safe passage for the civilian population” and that there would be no “catastrophe.”

Catastrophe

The use of the word “catastrophe” is significant. This is the accepted English translation of the word “nakba,” used since 1948 to describe the forced removal that year of half of the Palestinian population from their homes. Netanyahu’s use of the term comes after high officials of the Israeli government have already spoken of a “Gaza Nakba” or a “Second Nakba.” These phrases formed part of South Africa’s application to the International Court of Justice (ICJ) on December 29, 2023, alleging that they are part of the “expressions of genocidal intent against the Palestinian people by Israeli state officials.” A month later, the ICJ said that there was “plausible” evidence of genocide being conducted in Gaza, highlighting the words of the Israelis officials. One official, the Israeli Defense Minister Yoav Gallant said, “I have released all restraints” (quoted both by the South African complaint and in the ICJ’s order).

Netanyahu saying that there would be no “catastrophe” after over 28,000 Palestinians have been killed and after two million of the 2.3 million Palestinians in Gaza have been displaced is puzzling. Since the ICJ’s order, the Israeli army has killed nearly 2,000 Palestinians. The Israeli army has already begun to assault Rafah, a city with a population density now at 22,000 people per square kilometer. In response to the Israeli announcement that it would enter Rafah city, the Norwegian Refugee Council (NRC)—one of the few groups operating in the southern part of Gaza—said that such an invasion “could collapse the humanitarian response.” The NRC assessed nine of the shelters in Rafah, which are housing 27,400 civilians and found that the residents have no drinking water. Because the shelters are operating at 150 percent capacity, hundreds of the Palestinians are living on the street. In each of the areas that the NRC studied, they found the Palestinian refugees in the grip of hepatitis A, gastroenteritis, diarrhea, smallpox, lice, and influenza. Because of the collapse of this humanitarian response from the NRC, and from the United Nations—whose agency UNRWA has lost its funding and is under attack by the Israelis—the situation will deteriorate further.

Safe Passage

Netanyahu says that his government will provide “safe passage” to the Palestinians. These words have been heard by the Palestinians since mid-October when they were told to keep going south to prevent being killed by the Israeli bombing. Nobody believes anything that Netanyahu says. A Palestinian health worker, Saleem, told me that he cannot imagine any place of safety within Gaza. He came to Rafah’s al-Zohour neighborhood from Khan Younis, walking with his family, desperate to get out of the range of the Israeli guns. “Where do we go now?” he asks me. “We cannot enter Egypt. The border is closed. So, we cannot go south. We cannot go into Israel, because that is impossible. Are we to go north, back to Khan Younis and Gaza City?”

Saleem remembers that when he arrived in al-Zohour, the Israelis targeted the home of Dr. Omar Mohammed Harb, killing 22 Palestinians (among them five children). The house was flattened. The name of Dr. Omar Mohammed Harb stayed with me because I recalled that two years ago his daughter Abeer was to be married to Ismail Abdel-Hameed Dweik. An Israeli air strike on the Shouhada refugee camp killed Ismail. Abeer was killed in the strike on her father’s house, which had been a refuge for those fleeing from the north. Saleem moved into that area of Rafah. Now he is unsettled. “Where to go?” he asks.

Domicide

On January 29, 2024, the UN special rapporteur on the right to adequate housing, Dr. Balakrishnan Rajagopal wrote a strong essay in the New York Times called “Domicide: the Mass Destruction of Homes Should be a Crime Against Humanity.” Accompanying his article was a photo essay by Yaqeen Baker, whose house was destroyed in Jabalia (northern Gaza) by Israeli bombardment. “The destruction of homes in Gaza,” Baker wrote, “has become commonplace, and so has the sentiment, ‘The important thing is that you’re safe—everything else can be replaced.’” That is an assessment shared across Gaza amongst those who are still alive. But, as Dr. Rajagopal says, the scale of the destruction of housing in Gaza should not be taken for granted. It is a form of “domicide,” a crime against humanity.

The Israeli attack on Gaza, Dr. Rajagopal writes, is “far worse than what we saw in Dresden and Rotterdam during World War II, where about 25,000 homes were destroyed in each city.” In Gaza, he says, more than 70,000 housing units have been totally destroyed, and 290,000 partially damaged. In these three months of Israeli fire, he notes, “a shocking 60 to 70 percent of structures in Gaza, and up to 84 percent of structures in northern Gaza, have been damaged or destroyed.” Due to this domicide, there is no place for the Palestinians in Rafah to go if they go north. Their homes have been destroyed. “This crushing of Gaza as a place,” reflects Dr. Rajagopal, “erases the past, present, and future of many Palestinians.” This statement by Dr. Rajagopal is a recognition of the unfolding genocide in Gaza.

As I speak with Saleem the sound of the Israeli advance can be heard in the distance. “I don’t know when we can speak next,” he says. “I don’t know where I will be.”

This article was produced by Globetrotter.

Vijay Prashad’s most recent book (with Noam Chomsky) is The Withdrawal: Iraq, Libya, Afghanistan and the Fragility of US Power (New Press, August 2022)

Vem ai uma nova, super, grandiosa nova corrida nuclear, que vai arrastar novos candidatos... - Scowcroft Center for Strategy and Security

 O mundo – ou melhor, o mundo das grandes potências, onde talvez a Europa queira entrar – se prepara para iniciar uma nova, grande, louca corrida nuclear, digna do Dr. Strangelove, dos tempos da MAD, a destruição mutuamente assegurada. Vão torrar bilhões de dólares, para finalmente não dar em nada, apenas perda de tempo, de dinheiro, de desenvolvimento social. 

Não é dissuasão, não será: apenas construção de armas que nunca serão usadas... (PRA)


The Scowcroft Center for Strategy and Security's Forward Defense program is excited to share our new report, "Requirements for nuclear deterrence and arms control in a two-nuclear-peer environment." Historically, the United States faced only Moscow as its nuclear peer, but the rapid and ongoing expansion of Beijing's nuclear arsenal threatens to upend the status quo and confront Washington with the problem of deterring two nuclear peers by the 2030s. How should the United States conceptualize its requirements for deterring two nuclear peers? What possible avenues for arms control and risk reduction are still viable under these conditions? In this report, former Deputy Director for Strategic Stability for the US Joint Staff J5 Gregory Weaver and Atlantic Council Nonresident Senior Fellow Amy Woolf examine the future of US nuclear strategy in a two-peer nuclear environment.

This compendium includes one paper focusing on nuclear posture from Greg Weaver and one paper focusing on arms control from Amy Woolf. With the backdrop of Russia's ongoing nuclear modernization and China's continued nuclear expansion, Weaver warns that the US force structure is not presently prepared for a second nuclear peer. He emphasizes the possible risk of opportunistic or cooperative aggression by the two revisionist powers, which seek to upend the US-led, rules-based international order. His paper argues that, should the United States desire a larger or different force to address this challenge, policymakers need to take urgent action to enable those solutions in future years.

Woolf casts doubt on the future of numerically limiting, legally binding nuclear arms control but explains why policymakers should not expect such arrangements in the early period of responding to the two-nuclear peer environment. Noting the decades of negotiations between Moscow and Washington before treaties like START came into place, she suggests that China and the United States will not immediately begin negotiations with formal, numerically limiting arms control treaties. She argues that communication and risk-reduction measures may, instead, be a more successful avenue in reducing nuclear dangers and heading off a nuclear arms race.

Click below to read the full findings of how the United States might think about deterrence and arms control in the emerging two-nuclear-peer environment.
https://www.atlanticcouncil.org/in-depth-research-reports/report/requirements-for-nuclear-deterrence-and-arms-control-in-a-two-peer-nuclear-peer-environment/?mkt_tok=NjU5LVdaWC0wNzUAAAGRI4pNq9R8Abj3LwQedKSDZbpJ3fR4QQIKF1KwFXF1X4xNfXLcFtZ8UXZC3bRpIg8m8ySisiEpFkR6pBsLEeV7Tk3KA4ZgBCKiXUmbtAOA_esY

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Falta de resolução em acordo entre Mercosul e União Europeia pode ser sinal vermelho para o Brasil - Giovanna Castro (Money Times)

 

Falta de resolução em acordo entre Mercosul e União Europeia pode ser sinal vermelho para o Brasil

Por Giovanna Castro

Money Times, 09 fev 2024, 9:45 atualizado em 09 fev 2024, 9:45


O acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul começou a ser negociado em 1999, prevendo isenção ou redução na cobrança de impostos na importação entre bens dos blocos. Entretanto, ele pode estar por um fio, causando problemas ao Brasil.

Na quarta-feira (07), o vice-presidente executivo da União Europeia, Maros Sefcovic, afirmou que “as condições necessárias para a conclusão do tratado com o Mercosul não foram atendidas”.

Anteriormente, ainda em dezembro, o presidente da FrançaEmmanuel Macron, afirmou que houve o acréscimo de frases ao acordo, para agradar o país, mas que ele não era bom para ninguém.

Para a professora de Relações Internacionais da ESPM e especialista em União Europeia Carolina Pavese, a demora no processo é explicada pela complexidade do bloco europeu, formado por 27 países, e a falta de um calendário concreto de quando as medidas deverão ser realizadas.

A falta de uma concretização seria negativa por mostrar uma inabilidade dos blocos em chegarem a um acordo, mostrando também um fracasso na política externa brasileira.

O que os países da União Europeia pensam sobre o acordo?

O cenário na França é acompanhado por grandes tumultos. Agricultores do país realizam protestos por entender que o acordo é prejudicial para o setor, colocando em foco as importações mais baratas dos países do Mercosul, que não precisam atender a uma série de padrões ambientais da Europa.

O movimento se estende para outros países do continente europeu, como ItáliaGrécia e Bélgica, cujos agricultores lutam para que um acordo entre blocos não seja efetivado, fazendo com que os produtos europeus continuem sendo os preferidos.

Ao contrário da França, a Alemanha é um dos países que participam do bloco europeu e que apoia a união. Para o país, que é beneficiado na questão industrial, haveria um maior acesso ao mercado de países do Mercosul.

Também há o interesse de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, na concretização do acordo.

Para Demétrius Pereira, especialista em temas da União Europeia, a posição da presidente é explicada pela importância que a assinatura do acordo durante sua gestão representaria, elevando o status internacional do bloco europeu.

Quais são os benefícios e malefícios para o Brasil?

A realização do acordo seria um sucesso politicamente, por simbolizar a força do bloco Mercosul em um momento de descrença. A professora da ESPM também afirma que o acordo é importante num momento em que o Brasil quer afirmar o seu papel de protagonismo como uma liderança das Américas do Sul e Latina.

Por um lado, a concretização significaria um aumento de até US$ 3 bilhões nas exportações de produtos industrializados brasileiros nos quatro primeiros anos, de acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e de Investimentos (ApexBrasil).

Os benefícios seriam principalmente na exportação de produtos como sojaarrozcana-de-açúcar e carne bovina. Mas Pavese ressalta que esses benefícios seriam atingidos principalmente por grandes produtores, que teriam a estrutura para atingir o acordado.

A pauta ambiental também entra na equação, com a falta de uma cláusula que coloque em foco os danos causados ao ambiente por conta de um avanço maior no agronegócio brasileiro com o contrato entre os blocos.

Já por outro, sindicatos nacionais rejeitam a proposta. Entre eles, de acordo com a BBC Brasil, está a Central Única dos Trabalhadores (CUT), que entende que a oficialização colocaria em risco empregos industriais, por conta das empresas brasileiras não serem tão competitivas em relação às europeias.

“Isso é potencialmente negativo porque vai aumentar a concorrência da indústria brasileira durante um processo histórico de desindustrialização e de queda da participação da indústria nas exportações brasileiras”, afirma Pavese.

A situação é comparada com um cenário de novo colonialismo, no qual países da América Latina continuarão sendo grandes exportadores de commodities, enquanto a Europa continuaria investindo em suas indústrias.

Por Giovanna Castro

Estagiária

Jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (ECA-USP). Apaixonada pela escrita e pelo audiovisual, ingressou no Money Times em 2023.

giovanna.pereira@moneytimes.com.br

 

Os árabes otomanos no Brasil, 1850-1940: livro de Jose D. Najar: Transimperial Anxieties: The Making and Unmaking of Arab Ottomans in Sao Paulo, Brazil, 1850-1940

 Greetings Paulo Roberto Almeida,

A new Review has been posted in H-LatAm.

Os primeiros 400 dias de Lula III - Pedro Malan (O Estado de S. Paulo)

Os primeiros 400 dias de Lula III 

 Pedro Malan* 

O Estado de S. Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2024


Neste domingo de carnaval, vale lembrar a marchinha ‘Recordar é viver’ (1955), a propósito do programa Nova Indústria Brasil


O Brasil foi descoberto no dia 21 de abril, “dois meses depois do carnaval”, dizia a marchinha que encantou foliões no carnaval de 1934. Tudo, metaforicamente, ficaria para depois da grande festa nacional. Mas não foi assim este ano, em que ações da Polícia Federal ocuparam as primeiras páginas dos jornais, iluminando a importância de elucidar os eventos que levaram ao surreal 8 de janeiro de 2023. As rodas da economia e da política tampouco deixaram de girar com Executivo e Congresso em estado de alta tensão por causa da disputa sobre fatias do Orçamento.

Foi numa virada de fevereiro para março, logo após o carnaval de exatos 30 anos atrás, que o governo de então lançou a Unidade Real de Valor (URV). Essa unidade de conta era o embrião da nova moeda, que chegaria quatro meses mais tarde sob o nome de real e que viria a consolidar-se – esperemos – como a definitiva moeda nacional.

Neste início de fevereiro, o governo Lula completou seus primeiros 400 dias. Pode parecer pouco, mas o tempo da política não é igual ao tempo cronológico. Na política, como na guerra, dias podem valer semanas; semanas, meses; meses, anos. Foi também de 400 dias, por exemplo, o período decorrido entre o momento em que o presidente Itamar Franco nomeou FHC seu (quarto) ministro da Fazenda e o lançamento do Real. Aqueles 400 dias valeram por anos.

O governo Lula parece apostar que os efeitos dos seus primeiros 400 dias também se projetarão por anos à frente e contribuirão para seu (legítimo) projeto de permanecer no poder, vencendo as eleições de 2026. Como estamos em pleno domingo de carnaval, vale lembrar outra marchinha dos carnavais de outrora, Recordar é viver (1955), a propósito do programa Nova Indústria Brasil, anunciado ao final de janeiro.

O programa evoca três lembranças. A primeira é uma declaração da então presidente Dilma Rousseff, dez anos atrás, a poucos meses das eleições. “Só em 2014 estão em construção ou contratados para serem construídos aqui, no Brasil, 18 plataformas, 28 sondas de perfuração e 43 navios tanque (...) Graças à política de compras da Petrobras (...), renasceu uma indústria naval dinâmica e competitiva, que irá disputar o mercado com as maiores indústrias navais do mundo.” Quem é minimamente informado sabe no que deu.

A segunda lembrança é uma imperdível entrevista concedida a este jornal (2/1/2013) por Bernardo Figueiredo, por muitos anos braço direito de Dilma Rousseff para assuntos de infraestrutura. “Se a gente pegar os planos nacionais de logística de transporte e de logística portuária e outros estudos do governo, teremos de investir perto de R$ 400 bilhões em cinco anos. Vamos dizer que tenho de investir outros R$ 20 bilhões por ano para não gerar novo passivo e ser preventivo. Então, a necessidade de investimento seria de R$ 100 bilhões por ano. Resolvendo isso, posso dizer que em cinco anos não teríamos mais problemas de infraestrutura.”

A terceira lembrança é também de uma entrevista – ainda mais imperdível, porque reveladora do pensamento de Lula sobre a arte de governar (Valor Econômico, 17/9/2009). “Tenho cobrado sistematicamente da Vale a construção de siderúrgicas no País. A Vale não pode se dar ao luxo de exportar apenas minério de ferro.” “Convoquei o Conselho da Petrobras para dizer: olha, este é um momento em que não se pode recuar. Que a Petrobras construa refinarias, estimule a construção de estaleiros (...). Este é o papel do governo.” “Não conheço ninguém que tenha a capacidade gerencial da Dilma.”

A julgar pelos primeiros 400 dias de Lula III, o pensamento de 15 anos atrás perdura. “Se der superávit zero, ótimo, se não der, ótimo também” (8/2/2024). O País está sendo informado de que haverá simultaneamente um plano trienal de ação (2024-2026) e um Plano de Aceleração do Crescimento (novo PAC). Em ambos há referências a metas aspiracionais cujo horizonte estende-se até um ponto não especificado nos anos 30.

Quando, como é nosso caso, o Estado já se sobrecarregou de obrigações que testam os limites de sua capacidade – de tributar, de gastar, de se endividar, de reformar, de gerir e de investir –, a realidade impõe, pelo lado da oferta doméstica, restrições a ambiciosos processos de expansão. E exige claras definições de prioridades. Porque, ao dispersar demais suas atividades, o Estado fica mais suscetível a ceder a interesses isolados, a persistir em promessas que não pode cumprir. A assumir metas e objetivos inalcançáveis, que redundam em dívidas por equacionar. Principalmente quando receitas não recorrentes são utilizadas para financiar gastos que se tornam permanentes – e crescentes –, como vimos em experiências recentes.

Ao longo dos próximos três anos será fundamental, de maneira clara e crível, sinalizar para agentes econômicos que existe um sistema de regras de responsabilidade fiscal que represente compromisso firme em assegurar a sustentabilidade da trajetória de finanças públicas do País. Como temos nos regimes monetário e cambial e como ainda nos falta na área fiscal, a despeito dos esforços do ministro Fernando Haddad, contra intenso fogo amigo. Porque uma política fiscal insustentável pode impedir o desenvolvimento econômico e social sustentado no longo prazo. 

*Economista, foi ministro da Fazenda no governo FHC

 

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Darwin no Brasil: Livro ilustrado explica impacto brasileiro na vida e obra do naturalista - André Aubert (Estadão)

 ESTADAO, 13fev24

 

Darwin no Brasil: Livro ilustrado explica impacto brasileiro na vida e obra do naturalista

Escala em Galápagos ficou mais famosa, mas Darwin passou pelo Brasil, viveu por alguns meses no Rio, se encantou por insetos de Botafogo e se horrorizou com escravidão. Nova editora compila histórias; conheça

Por André Aubert


É mais do que conhecida a hecatombe provocada por Charles Darwin (1809-1882) com seu A Origem das Espécies, de 1859, o livro que revolucionou a maneira como entendemos a evolução da vida em nosso planeta.

Tampouco se desconhece que, ainda que as conclusões tenham vindo depois, a viagem de cinco anos ao redor ao globo que o jovem Darwin fez a bordo do Beagle, um navio da Marinha Real, entre 1831 e 1836, foi essencial para que o cientista tivesse acesso direto a um gigantesco volume de informações e experiências que seriam essenciais para a construção de sua teoria.

Algumas etapas da viagem, como a escala em Galápagos, ficaram famosas. Por outro lado, são muito menos conhecidas as passagens do Beagle pelo Brasil e como contribuíram para as pesquisas de Darwin.

Os registros que o biólogo escreveu durante a expedição serviram de base para a publicação, em 1839, de um livro com o título de Diário e Comentários, mais tarde rebatizado como A Viagem do Beagle. Como foi editado algum tempo depois da expedição, não se tratava exatamente de um diário, mas de um relato instigante das reflexões de Darwin a partir das realidades com as quais se deparou. A Viagem mostra uma mente aberta, que não apenas observava, mas que pensava e criticava, jamais aceitando passivamente as verdades pré-estabelecidas.

Como a expedição do Beagle tinha caráter científico, as escalas com frequência eram longas, dando tempo para que fosse possível fazer pesquisas e se aprofundar nas características de cada lugar. No Rio de Janeiro, por exemplo, Darwin viveria por alguns meses, inclusive alugando uma casa com dois outros membros da tripulação.

O Brasil proporcionou escalas fundamentais para o Beagle – e para o pensamento de Darwin, aparecendo com destaque na Viagem. O que o cientista registrou a respeito de nossos antepassados e da terra em que viviam é nada menos que precioso.

É curioso passear, apenas para citar um exemplo, pelo que era chamado de povoado de Botafogo, então a cinco quilômetros da cidade do Rio de Janeiro, com sua profusão de árvores, samambaias, macacos e insetos. Chega a ser difícil acreditar que se trata do mesmo bairro de Botafogo de hoje.

Em outro trecho, estupefato com a quantidade de insetos com que se deparava, Darwin escreveu: “Se o que me foi dito em Londres é verdade, ou seja, que não há insetos minúsculos nas coleções dos trópicos, diga aos entomologistas que se preparem...”.

Ou ainda, confrontando a noção europeia então vigente de que planárias, semelhantes a lesmas, eram animais exclusivamente aquáticos, ele registrou: “Aquelas que descrevi foram encontradas nas partes mais secas da floresta, embaixo de troncos podres, dos quais acredito que se alimentam (...). Encontrei nada menos que 12 espécies distintas de planárias terrestres (...).”

‘Darwin no Brasil’

O problema é que, para o leitor brasileiro de hoje, embarcar na Viagem do Beagle não é uma tarefa fácil. Além de ser extensa, a obra tem inúmeras passagens com digressões sobre geologia, biologia e botânica que serão indigestas para um não especialista.

A lacuna com relação ao País é o que a bela edição Darwin no Brasil – A viagem de Charles Darwin ao Brasil e suas contribuições para a teoria da evolução (Editora Duas Aspas, 2023), realizada com financiamento coletivo, contribui para suprir. É a primeira publicação da Duas Aspas, que pretende entrar neste mercado de livros sobre ciência.

Traduzido e editado por Pedro Alencastro, o livro selecionou os trechos do relato que mencionam o nosso País, que aparecem intercalados com excelentes comentários do editor. A obra começa com uma breve biografia de Darwin antes do Beagle, na qual ficamos sabendo um pouco mais sobre a família, a infância e os anos de formação do autor.

'Darwin no Brasil – A viagem de Charles Darwin ao Brasil e suas contribuições para a teoria da evolução' (Editora Duas Aspas, 2023) Foto: Editora Duas Aspas/Divulgação

Em seguida, vêm os capítulos sobre a viagem. O primeiro fala da travessia atlântica e do contato inicial com o território brasileiro, no rochedo desabitado de São Pedro e São Paulo. Os seguintes mencionam Fernando de Noronha, Bahia, Rio de Janeiro, Botafogo e o Pampa gaúcho. O capítulo sete expande para a América do Sul e o oito trata do regresso, desde Galápagos, passando novamente pelo Brasil, rumo à Inglaterra.

No epílogo, destaca-se novamente a voz do editor, comentando a vida pessoal e profissional de Darwin após a viagem, já então uma pessoa amadurecida. Aí se fala do casamento, dos filhos, dos debates científicos e, finalmente, da publicação de A Origem das Espécies e da enorme polêmica provocada pelo livro (a qual, por incrível que pareça, ainda persiste, embora não na Ciência, por conta dos criacionistas).

Nem tudo são flores

A primeira escala do Beagle em solo continental brasileiro foi em Salvador, na Bahia, quando Darwin levou um verdadeiro susto com a exuberância e a variedade da natureza tropical:

O dia transcorreu deliciosamente. Mas esse talvez seja um termo pobre para expressar as emoções de um naturalista que, pela primeira vez, aventurou-se sozinho em uma floresta brasileira (...). Para quem ama história natural, um dia como este proporciona um prazer tão profundo que não se pode esperar sentir algo assim novamente.

Ainda que maravilhado com a natureza brasileira, nem tudo foram flores na relação de Darwin com o nosso País. No último capítulo, por exemplo, ele escreve: “No dia 19 de agosto, finalmente, deixamos o litoral do Brasil. Agradeço a Deus e espero nunca mais visitar um país escravocrata. Até hoje, quando escuto um grito distante, lembro com dolorosa clareza o que senti ao passar por uma casa perto de Recife. Eu ouvi os mais terríveis gemidos”.

“Perto do Rio de Janeiro, morei em frente a uma senhora que guardava torniquetes para esmagar os dedos de suas escravas. Vi ainda um menino de seis ou sete anos levar três chibatadas na cabeça com um chicote de açoitar cavalos (antes que eu pudesse interferir), simplesmente por ter me oferecido um copo de água que não estava limpo o bastante”, completa.

Darwin no Brasil é uma obra caprichada, com mapas e belas ilustrações, que se lê com prazer, trazendo uma importante contribuição para quem quer saber mais sobre Darwin e, principalmente, sobre como o Brasil impactou e influenciou o autor de A Origem das Espécies.

Conforme avançava pelas páginas desse livro, foi inevitável imaginar o que Darwin pensaria se, quase 200 anos depois, voltasse a nos visitar e encontrasse um País que devastou sem piedade a Mata Atlântica que tanto o fascinou e ensinou, e que evoluiu muito menos do que deveria na questão da injustiça social que o incomodava.

 

O que Darwin guardava em sua biblioteca? Acervo é revelado pela primeira vez

Catálogo detalha os milhares de livros, periódicos e documentos que moldaram o pensamento do pai da evolução 

Por Redação

Em um feito inédito, o público agora tem acesso ao catálogo completo da biblioteca pessoal de Charles Darwin. Este catálogo inclui desde estudos sobre porquinhos-da-índia epilépticos até os romances preferidos do cientista, como os de Elizabeth Gaskell. Quase duas décadas de investigação meticulosa permitiram localizar milhares de livros, periódicos, panfletos e artigos que constituíam a coleção do célebre naturalista. As informações são do The Guardian.

John van Wyhe, líder do projeto e acadêmico, destacou a amplitude e diversidade das leituras de Darwin, que abarcavam uma variedade surpreendente de temas. Van Wyhe salientou a natureza eclética de Darwin, evidenciada pela sua coleção que inclui desde recortes de notícias sobre espécies invasoras até importantes obras científicas.

O catálogo de 300 páginas, disponibilizado por Darwin Online, enumera 7.400 títulos e 13.000 itens, abrangendo jornais, panfletos e críticas. Alguns desses materiais remontam aos dias de escola de Darwin, revelando a profundidade de suas leituras desde a juventude. Registros de leilões desempenharam papel crucial na reconstrução da história de certos itens, como um artigo de 1826 de John James Audubon e um romance de Elizabeth Gaskell de 1880, este último um dos favoritos de Darwin.

Antes desse levantamento, apenas 15% do conteúdo real da biblioteca de Darwin era conhecido. A lista atual revela a gama de interesses do cientista, que vai de biologia a religião, passando por arte, história e geografia. Mais da metade das obras está em inglês, com o restante em línguas como alemão, francês e italiano, incluindo o primeiro registro fotográfico conhecido de bactérias e estudos sobre características animais atípicas.

Além de compilar os títulos, o projeto proporcionou uma reconstrução virtual da biblioteca de Darwin, com links para cópias gratuitas de 9.300 obras, reafirmando o impacto duradouro de Darwin no entendimento do mundo natural. A publicação do catálogo coincide com o aniversário de 215 anos de Darwin, realçando a vastidão de seu legado intelectual.

John van Wyhe refletiu sobre a importância do projeto, questionando a demora em realizar um levantamento tão abrangente, dada a ampla atenção dedicada a Darwin ao longo dos anos. Este esforço revela Darwin não apenas como um pioneiro da teoria da evolução, mas também como um erudito que construiu suas ideias com base em um vasto espectro de conhecimento.

 

A destruição da aliança atlântica por Trump - Ishaan Tharoor (WP)

 

Today's WorldView

A questão palestina - Rubens Barbosa (Estadão)

 A QUESTÃO PALESTINA

Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 13/02/2024

       

        Continua a crescer a pressão da opinião pública mundial por uma solução a médio e longo prazo para a dramática situação no Oriente Médio, a fim de evitar a escalada do conflito entre Israel e Hamas e de buscar um entendimento que permita a estabilização política, econômica e militar na região.

       Os altos custos do apoio militar para a Ucrânia e a aproximação da eleição presidencial nos EUA, com forte impacto negativo à candidatura de Biden, são agravados, no curto prazo, pela multiplicação dos incidentes militares, com o risco da situação sair do controle, e pela necessidade de garantir a segurança de Israel e a viabilização do Estado Palestino.

        Com esse pano de fundo, o governo de Washington lançou um balão de ensaio com o vazamento de um esboço de proposta por meio de comentários no New York Times e no The Economist, com grande repercussão.

        Segundo se noticia, estaria havendo conversas sigilosas no sentido de viabilizar um amplo plano de paz - hoje de difícil aceitação por todas as partes envolvidas -, mas que poderá, com concessões de todos, tornar possível vislumbrar uma luz no fim do túnel, caso a posição do governo norte-americano se mantenha firme e os entendimentos se intensifiquem.

        Assim, a política dos EUA em relação a região parece estar evoluindo. O presidente Biden anunciou inéditas sanções contra colonos israelenses que promovem violência contra palestinos na Cisjordânia. Thomas Friedman, no New York Times, prevê uma nova “Doutrina Biden” para o Oriente Médio. As linhas principais dessa nova política americana passariam por uma atitude firme em relação ao Irã, por uma forte pressão sobre Israel, para que aceite a criação de um Estado Palestino, e pelo fortalecimento da aliança com a Arábia Saudita, que reconheceria diplomaticamente Israel. The Economist acrescenta que, em meio a intensa ação diplomática, lideradas pelos EUA e Arábia Saudita, o plano estaria tomando forma, a partir das negociações para a liberação dos reféns em poder do Hamas, (Netanyahu recusou a  última proposta do Hamas), para modificar a política interna israelense e permitir a possibilidade de criação do Estado Palestino.

        O primeiro passo seria uma posição dura em relação ao Irã, incluindo uma retaliação militar robusta contra aliados e agentes do Irã na região (Houthis, ISIS e outros grupos) em resposta às mortes dos três soldados americanos em uma base na Jordânia, por um drone aparentemente lançado por uma milícia pró-Irã ativa no Iraque. O segundo eixo consistiria em uma iniciativa diplomática sem precedentes, para promover um Estado palestino, que envolveria alguma forma de reconhecimento pelos EUA de um Estado palestino desmilitarizado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que passaria a existir somente depois que os palestinos tivessem desenvolvido um arcabouço de instituições definidas e críveis, assim como capacidades de garantir que esse Estado seja viável e incapaz de ameaçar Israel. O governo norte-americano estaria mantendo consultas dentro e fora do governo americano a respeito das diferentes formas que esse reconhecimento do estatuto de Estado dos palestinos poderia assumir. O terceiro eixo seria uma aliança de segurança ampliada dos EUA com a Arábia Saudita que também envolveria a normalização das relações dos sauditas com Israel, com reconhecimento mútuo e com garantias de segurança respaldadas pelo governo norte-americano. Seria a retomada dos entendimentos entre a Arabia Saudita e Israel (acordo de Abraão) para o reconhecimento do Estado de Israel, se o governo israelense estiver preparado para aceitar um processo diplomático que leve a criação de um Estado palestino desmilitarizado, liderado por uma Autoridade Palestina fortalecida.

       A primeira fase está em curso com os ataques dos EUA aos grupos terroristas no Iraque, na Síria e no Yemen. Como nem os EUA, nem o Irã, nem os países do Golfo querem uma escalada da guerra na região, a fase inicial teria de ser concluída com o controle dos grupos terroristas financiados por Teerã. As conversas reservadas entre EUA, Arabia Saudita, Irã e Israel mostrarão se as duas etapas seguintes da estratégia serão viáveis a médio prazo.

         O ataque terrorista de 7 de outubro contra Israel e seus desdobramentos estão forçando uma reformulação fundamental na maneira como a questão do Oriente Médio deve ser tratada. Se vencer as resistências, a Doutrina Biden produzirá um equilíbrio geopolítico e políticas domésticas mais seguras. Essa estratégia poderia dissuadir o Irã, tanto militarmente, quanto politicamente, ao tirar a carta palestina de Teerã. Poderia promover o estatuto do Estado palestino em termos consistentes com a segurança israelense e, simultaneamente, criar condições para a normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita, em termos que os palestinos possam aceitar. Mas para que a questão seja bem-sucedida é indispensável que esses três eixos estejam assegurados e interconectados. O plano promete uma nova arquitetura econômica e de segurança no Oriente Médio. Essa estratégia poderia se tornar o maior realinhamento estratégico na região desde o tratado de 1979 em Camp David.

 

Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE) e membro da Academia Paulista de Letras

       

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Um golpe a cavalo? - Dorrit Harazim (O GLobo)

Não deu. Teria de ser com tanques, que desapareceram na hora aprazada.




PIB PPP das principais economias planetárias

 GDP, purchasing power parity:


🇨🇳 China: $35.04 trillion 

🇺🇸 USA: $27.97 trillion

🇮🇳 India: $14.26 trillion 

🇯🇵 Japan: $6.71 trillion 

🇩🇪 Germany: $5.72 trillion 

🇷🇺 Russia: $5.23 trillion 

🇮🇩 Indonesia: $4.72 trillion

🇧🇷 Brazil: $4.26 trillion 

🇫🇷 France: $4.01 trillion 

🇬🇧 UK: $3.98 trillion

🇹🇷 Turkey: $3.81 trillion 

🇲🇽 Mexico: $3.42 trillion 

🇮🇹 Italy: $3.29 trillion 

🇰🇷 South Korea: $3.06 trillion 

🇪🇸 Spain: $2.51 trillion 

🇨🇦 Canada: $2.47 trillion

Note: current international dollar. GDP comparisons using PPP are arguably more useful than those using nominal GDP when assessing the domestic market of a state because PPP takes into account the relative cost of local goods, services and inflation rates of the country, rather than using international market exchange rates, which may distort the real differences in per capita income.


According to IMF