sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um governo ladrao: adivinhem qual?

Fui consultar meu extrato bancário, hoje, e descobri uma coisa extraordinária: o governo está roubando o meu dinheiro -- como sempre está, aliás, mas teoricamente para prestar algum serviço em contrapartida.
Desta vez não: se trata de um roubo gratuito, deliberado, criminoso, eu diria.

Transferi, como faço ocasionalmente, um dinheiro para uma pessoa da família, tudo dentro do mesmo banco -- esse que o governo usa para fazer demagogia, tendo mesmo constituído um soi-disant "Banco do Povo", que só gastou dinheiro com propaganda, e provavelmente com corrupção, também, e depois fechou, sem a propaganda inicial -- e sem maiores burocracias, tudo feito online, portanto sem nenhuma despesa ou favor desse governicho.
Eis o que encontro agora:
01/09/11  Cobrança de juros 0,09
01/09/11  Cobrança de IOF  0,26

Ou seja, apenas por isso, o governo me rouba 35 centavos, e suponho que esteja roubando também de outros correntistas, de qualquer correntista, de qualquer banco, que faça uma operação implicando transferência de recursos de um CPF a outro.
Bandidos! Assaltantes!
Será que o governo quer me fazer usar dinheiro vivo, agora?
Ladrões de casaca! (talvez nem usem casaca...)
Paulo Roberto de Almeida

Uma opiniao sobre o momento politico - Joao Bosco Leal


Responsabilidades políticas
João Bosco Leal
8/09/2011

Tenho percebido, claramente, um pequeno despertar da sociedade brasileira com as ocorrências políticas dos últimos anos. Convocações para marchas e manifestações começam a surgir sistematicamente, com algumas sendo realizadas, principalmente contra a corrupção.
Algumas propostas de desobediência civil também já aparecem, mas por ser radicalmente contra, sequer discuto o mérito da questão, pensando ser esse caminho, o daqueles que continuam com idéias baseadas em princípios ideológicos guerrilheiros, que já foram testados e fracassaram em diversas partes do mundo.
O país precisa, pelo contrário, de brasileiros que, legalmente, se candidatem e assumam todos os cargos públicos que estiverem aptos a executar e, com isso, realizar uma verdadeira faxina nesse país, pois entendo que a mudança precisa ser em todos os níveis, de todos os poderes, Executivo, Judiciário e Legislativo.
Não se pode mais conviver com a situação atualmente posta, quando José Sarney está em seu quarto mandato como presidente do Senado, sua família há décadas comanda politicamente o Maranhão, estado mais pobre e atrasado do país, mas, quando acusado, não poder ser tratado "como qualquer um", como disse o ex-presidente Lula, por já haver sido Presidente da República.
Nos últimos dez anos a corrupção tomou proporções jamais vistas no país, tanto que atualmente já estamos vendo até ministros e senadores se dirigirem a um quarto de hotel para audiências com aquele que o Procurador Geral da República acusa de "Chefe da Quadrilha" do Mensalão do PT.
Alguns afirmam que a corrupção sempre existiu e que não se pode responsabilizar um determinado governo ou partido, mas o que facilmente se constata, até por notícias recentemente publicadas, é que nenhum ex-presidente do chamado "regime militar" saiu do governo com algum bem material a mais do que quando entrou. Todos eram e continuaram sendo homens de poucas posses e assim morreram. Literalmente, isso não é o que recentemente assiste a população brasileira.
Não estou defendendo o regime militar, simplesmente fazendo constatações e, sem dúvida, essa foi a época em que mais se investiu na infraestrutura brasileira, como pode ser facilmente comprovado pela época das construções de todas as nossas principais hidrelétricas, rodovias, ferrovias e hidrovias. Após décadas sem investimentos e com as manutenções insuficientes, o que vemos atualmente no país é um verdadeiro fracasso, quando se refere aos investimentos nessas áreas fundamentais para qualquer projeto de crescimento.
Enquanto os cidadãos conscientes da população brasileira não se rebelarem e, como verdadeiros donos do poder, remover de seus cargos essas pessoas, como estão fazendo nos países árabes com seus tiranos e aqui já fizemos com o Presidente Collor, essa situação não será alterada.
Porém, como não vejo cidadãos brasileiros dispostos a assumir os cargos públicos hoje dominados pelos corruptos, penso que a questão fundamental a ser tratada é a conscientização política da população e o incentivo à introdução dos homens de bem na vida pública.
Derrubar os corruptos sem que cidadãos patriotas e bem intencionados assumam seus postos, certamente provocará um caos ainda maior no país, com pessoas mais inescrupulosas assumindo esses cargos.
Precisamos mudar o quadro atual, colocando os corruptos em seu devido lugar, a cadeia, mas, além disso, precisamos de um projeto duradouro, de longo prazo, para que o país não volte a ter pessoas assim, com cargos em nenhum dos poderes constituídos.
Só exterminaremos definitivamente a corrupção nos cargos públicos, com a entrada, na vida pública, de homens de bem, com intenções exclusivamente patrióticas, como alguns que já governaram este país.
João Bosco Leal        www.joaoboscoleal.com.br

Pequeno retrato da eficiencia governamental (ou de certos governistas)

Certos governistas anônimos (et pour cause) ficam furiosos com alguns comentários que coloco neste blog, precedendo a simples transcrição de matérias de imprensa, em princípio apenas informativas e razoavelmente objetivas.
Eles se apressam em me criticar, e me xingar também, ainda que de maneira enviesada, apenas porque me permito -- o que é um direito que me é assegurado pela Constituição -- de criticar o governo que está aí, mesmo sendo um funcionário do Estado.
Pois é: tem gente que não suporta sinceridade, ou independência de espírito e de opinião. Se pudessem ele amordaçariam todos os descontentes, desviantes e dissidentes.
Bem, vamos ver o que esses governistas anônimos têm a dizer -- em defesa do governo, quero dizer -- a respeito da matéria que vai abaixo.
Vão me acusar de ser do contra.
Pode ser...
Paulo Roberto de Almeida

Portal G1, 8/09/2011
Auditoria especial da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou 66 irregularidades em 17 processos de licitações e contratos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Valec, estatal do setor ferroviário.
De acordo com o resultado da auditoria, anunciado nesta quinta-feira (8), as irregularidades identificadas “apontam prejuízo potencial de R$ 682 milhões”. Essa cifra representa 13,3% do valor total fiscalizado, de R$ 5,1 bilhões (leia aqui resumo da auditoria divulgado no site da CGU).
A fiscalização dos contratos foi determinada pela presidente Dilma Rousseff e pelo ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Ele foi um dos quase 30 demitidos após a revelação, em junho, de um suposto esquema de superfaturamento de obras e direcionamento de licitações.
No relatório, a CGU aponta que o encarecimento das obras é fruto da “precariedade” dos projetos de engenharia.
“É possível constatar a precariedade dos projetos de engenharia - fato reiteradamente apontado pela CGU - e o modo como essas deficiências contribuem para a geração de superestimativas nos orçamentos de referência da própria Administração, daí para o sobrepreço nos contratos, e como, por fim, podem levar, ao superfaturamento das obras, com prejuízo aos cofres públicos”, diz nota publicada pelo órgão nesta quinta.
Outra causa, diz a CGU, é “o grande número de projetos antigos em estoque, que acabam sendo licitados já defasados em relação ao volume médio diário de tráfego, ao nível de serviço, às localizações de jazidas e às necessidades de desapropriações, o que, inevitavelmente, conduz à necessidade de aditivos contratuais, consequência das necessárias revisões de projeto em fase de obra”.
O relatório afirma que “raríssimos são os empreendimentos em que não há acréscimos de custos, muitos dos quais se aproximam do limite legal, algumas vezes até superando-os, tornando sem efeito os descontos obtidos nos processos licitatórios”. Pela Lei de Licitações, as obras não podem encarecer mais que 25% do preço original.
Propina
A CGU, no entanto, ressaltou que a auditoria não apurou denúncias sobre  pagamento e recebimento de propina. Segundo o órgão, esse trabalho cabe aos órgãos policiais, e depende de autorizações judiciais. A fiscalização feita, diz, é uma “etapa prévia” para essa investigação.
“O trabalho da auditoria constitui, nesses casos, uma etapa prévia, que chega até a identificação das condições que podem gerar as ’sobras’ (as chamadas ‘gorduras’), que podem decorrer de licitações direcionadas, fraudadas, de orçamentos superestimados, de superfaturamento, de pagamento por serviços mal feitos ou não realizados etc.”.
As informações, informou a CGU, serão agora encaminhadas ao Ministério dos Transportes, Dnit e Valec, Casa Civil, Ministério Público, Tribunal de Contas da União, Ministério da Justiça e Polícia Federal, Advocacia-Geral da União e à Comissão de Ética Pública.
A CGU diz que as informações da auditoria deverão agora subisidiar processos disciplinares em andamento ou a serem abertos dentro do próprio Ministério dos Transportes contra servidores suspeitos. Como são administrativos, esses processos podem levar somente à demissão definitiva dos funcionários, já que vários foram apenas afastados das funções que ocupavam.
Obras
A CGU informou que, além de obras com supostas irregularidades noticiadas pela imprensa, fiscalizou também “casos considerados emblemáticos e representativos”. Além das obras em estradas da BR-280 (SC), BR-116 (RS), e da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, foram auditadas também obras da BR-101 (PE) e obras do Contorno de Vitória (ES).
Em Pernambuco, a obra de de restauração e duplicação do lote 7 da BR-101 apresentou 14 diferentes tipos de irregularidades, como deficiências no projeto executivo, serviços de terraplenagem superestimados, superfaturamento, pagamento por serviços não realizados, além de execução de serviços sem cobertura contratual, segundo a CGU. Os prejuízos teriam alcançado cerca de R$ 53,8 milhões e o valor total da obra passou para R$ 356 milhões.
No projeto, o traçado da rodovia passava dentro de um açude da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), que abastece a cidade de Ribeirão.
Na Valec, a auditoria encontrou mais problemas na licitação da Ferrovia Integração Oeste-Leste, como restrição à competitividade e superestimativa de R$ 52,2 milhões no orçamento de referência para os lotes 01, 02 e 03.
O órgão investigou ainda supostas irregularidades em unidades estaduais do Dnit, no Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Além disso, foi analisada licitação para estruturação de Postos de Pesagem Veicular, contratação de empresas terceirizadas pelos órgãos, contratação de empresa para fornecimento de trilhos, e construção da Ferrovia Norte-Sul.

Minusculo tratado da cara de pau (ou a moral dos imorais) - Reinaldo Azevedo

O título acima é meu, e tem pouco a ver com o que vai transcrito abaixo.
Os que acompanham os meus trabalhos, sabem que eu tenho uma série de... digamos, trabalhos -- que eu chamaria, na verdade, de "divertimentos" -- que eu chamei de minitratados, querendo com isso significar que constituem pequenas sínteses sobre questões divertas que simplesmente me dão prazer de elaborar.
Quem estiver interessado, pode olhar neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/04/minitratados-um-exercicio-ludico.html
Creio que o último é este aqui: 
Minitratado do Inusitado


O que vai abaixo, entretanto, não é um minitratado meu, mas um pequeno tratado de um jornalista conhecido, que resume, provavelmente de maneira irrespondível, a moral dos imorais, ou seja, dos desonestos e fraudadores contumazes, que pretendem roubar um pouco da dignidade do povo brasileiro, justificando roubalheiras e falcatruas que cometem, cometeram e ainda cometerão, em nome de sua causa que só não é totalitária porque não permitimos, mas que é certamente autoritária e eticamente abjeta.
Fica o meu protesto, registrado, assinado, reiterado.
Governistas anônimos: não se dêem o trabalho de criticar ou de protestar.
Desonestidade não tem justificação aqui neste blog, nem hipocrisia ou mentiras.
Paulo Roberto de Almeida 



Reinaldo Azevedo, 08/09/2011 16:29:10

Além de a rede petralha organizada na Internet fazer pouco das ações de protesto contra a corrupção, seus próceres indagam: “E não havia corrupção nos governos anteriores?” Ora, claro que sim! E também havia  protestos… CONTRA A CORRUPÇÃO, de que  UNE, CUT e movimentos sociais eram parte ativa. Hoje, os dinheiristas estão calados. Não é que fossem contra a corrupção; eles se opunham à corrupção dos seus adversários.

Essa é a grande diferença. Os que protestam agora não são petistas, tucanos ou sei lá o quê. São pessoas sem partido — e aí está sua força e também a sua fragilidade; já  explico —, que se opõem a qualquer corrupção. Como não têm de justificar seus aliados nem obrigação de combater seus adversários, podem se apegar ao aspecto moral e ético da questão: roubar é feio, roubar é inaceitável, roubar é injustificável.

O que começa a surgir — é ainda incipiente, e, reitero, não sei aonde vai dar — é a consciência de que não há causa boa que justifique o assalto aos cofres públicos. Pessoas comuns se deram conta de que não há causa social que explique a roubalheira, entenderam? Essa gente não agüenta mais olhar para a cara de Lula a abençoar todas as lambanças dos seus amigos, atribuindo tudo quanto é falcatrua a governos passados — como se, exceção feita aos oito anos de governo FHC — ele não fosse hoje aliado de TODOS OS GOVERNOS PASSADOS!

Então voltamos à questão: “Mas foi o PT, por acaso, que inventou a corrupção?” Claro que não! Quer dizer que, porque não foi invenção do PT, os petistas e petralhas podem, então, ser seus alegres usuários, afirmando simplesmente: “Ah, foram eles que começaram!”?
Não! O PT não inventou a corrupção, não! A obra do PT é de outra natureza. Adhemar de Barros, Paulo Maluf e Fernando Collor — para usar exemplos tornados clássicos de certo tipo de coisa — não ousaram chegar aonde os petistas chegaram: TRANSFORMAR A CORRUPÇÃO NUMA ÉTICA DE RESISTÊNCIA! Aí está a originalidade do método petista.

Se roubam, é para o bem do país e para combater os reacionários.
Se cobram propina, é para o bem do país e para combater os reacionários.
Se tentam comprar o Congresso com o mensalão, é para o bem do país e para combater os reacionários.
Se recorrem a aloprados, é para o bem do país e para combater os reacionários.

Ora, já chega a quantidade de mentiras que esses caras contaram sobre si mesmos e sobre os outros, não é? Para ser extremamente sintético:

- posam (vocês sabem como Emir Sader escreveria isso…) de autores da estabilidade, quando, de fato, a sabotaram;
- posam de pais dos programas sociais, quando, de fato, os chamavam de “esmola”.
E tentam agora naturalizar a corrupção como desdobramento necessário e até óbvio de seu amor pelo povo?

Não dá! Qual será o alcance dessa nova consciência que começa a surgir? Não sei! O que sei é que é crescente o número de pessoas que repudiam essa abordagem, que desprezam os setores da imprensa condescendentes com esse ponto de vista e que vêem com suspeição os setores da oposição que chamam de “diálogo maduro” o adesismo, a falta de combatividade e a falta de coragem.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Obras de Paulo Roberto de Almeida em Mandarim

Por acaso, encontrei a lista abaixo de títulos de livros e de trabalhos meus (neste link), traduzidos para o chinês. Descobri que a lista foi feita por meu amigo Zhou Zhiwei, secretário do Centro de Estudos Brasileiros (neste link), do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Chinese Academy of Social Sciences, em Beijing, onde estive duas vezes, fazendo palestras, quando me encontrava residindo em Shanghai, em 2010...
Agradeço ao Zhou Zhiwei, e coloco-me à disposição para eventualmente receber mais trabalhos meus traduzidos para o Mandarim. Sempre é bom conservar registro de tudo o que sai publicado no exterior sobre suas obras. Sinal de que elas podem servir para algo útil de conhecimento do Brasil no exterior.
Meu abraço ao Zhou Zhiwei.
Paulo Roberto de Almeida

巴西Paulo Roberto de Almeida教授捐赠的书单

1, Relações Brasil-Estados Unidos:Assimetrias e Convergências
巴美关系:不对称性和一致性
2, Mercosul, Nafta e Alca: A Dimensão Social
南共市、北美自由贸易区和美洲自由贸易区:社会视角
3, O Crescimento das Relações Internacionais no Brasil
巴西国际关系发展
4, Os Primeiros Anos do Século XXI: O Brasil e as Relações Internacionais Contemporâneas
21世纪初:巴西与当代国际关系
5, Relações Internacionais e Política Externa do Brasil
国际关系与巴西对外政策
6, O Estudo das Relações Internacionais do Brasil
巴西国际关系研究
7, Formação da Diplomacia Econômica no Brasil
巴西经济外交的形成
8, Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI), No.1, 2009
《巴西国际政治杂志》(2009年第一期)
9, Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI), No.2, 2009
《巴西国际政治杂志》(2009年第二期)
10, Interesse Nacional, No.6 2009.
《国家利益》(2009年第6期)



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Addendum em 9/09/2011: 
Mensagem recebida de meu amigo Zhou Zhiwei:
O senhor entende o que significa o titulo dessa lista: 巴西Paulo Roberto de Almeida教授捐赠的书单, se for traduzido em portugues, seria assim: A Lista dos livros doados pelo professor brasileiro Paulo Roberto de Almeida para Centro de Estudos Brasileiros, esse arquivo foi divulgado em site do Centro de Estudos Brasileiros(www.centrobrasil.com) que foi lancado em julho 2011. Eu acho que o senhor deve lembrar que o senhor me mandou alguns livros seus por meio da Embaixada do Brasil em Pequim durante seu estadia na China no inicio de 2010 (Expo Shanghai). Essa lista é a mesma da lista dos seu livro que o senhor doou ao CEB nessa vez. Eu só traduzi o título do seu cada livro de português a chinês para que os chineses possam entender o tema de cada livro, se alguém interessar em  algum livro,  o Centro de Estudos Brasileiros pode emprestá-lo. 

11 de Setembro: Fim da hegemonia americana? - Lionel Barber (FT)

Não estou tão seguro de que se trata do fim, ou mesmo do começo do fim, da hegemonia americana. Pode ser que seja o começo de uma retomada da liderança americana sobre o mundo como ele é.
Afinal de contas, os europeus estão em situação ainda pior (e sem necessariamente estarem dispostos a fazer os esforços requeridos para reassumir o papel que já foi o deles no "concerto mundial") e por mais que os chineses sejam os novos candidatos à preeminência imperial, quem é que gostaria de imitar (ou poderia, no caso) o seu, hum..., "modelo"?
Acho que Hollywood e Disneyworld ainda tem mais charme para o resto do mundo do que o Partido Comunista Chinês... (enfim, comida chinesa é ótima, mas o sistema que segue junto não é muito apetitoso).
Paulo Roberto de Almeida

O atentado que deu início ao fim da hegemonia dos EUA

Por Lionel Barber | Financial Times
Valor Econômico – pág. A12
08.9.11

Na manhã de 11 de setembro de 2001, o futuro dos Estados Unidos parecia tão radiante quanto o céu azul sobre Manhattan. O preço do petróleo do tipo Brent estava em US$ 28 o barril, o governo federal tinha superávit fiscal, a economia americana se recuperava do crash da bolha pontocom (embora que imperceptivelmente). A nação mais poderosa do mundo estava em paz.
Passados dez anos, o preço do petróleo ronda os US$ 115 o barril, os EUA deverão ter um déficit fiscal de US$ 1,58 trilhão em 2011, o maior de sua história; a economia continua com problemas graves após o crash financeiro de 2008; e os militares e o serviço de inteligência do país continuam em guerra, combatendo insurgências e o terrorismo islâmico radical, do Afeganistão e Paquistão, ao Níger e o Iêmen.
O almirante William Mullen, que está deixando o cargo de chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, descreveu a dívida nacional como a maior ameaça à segurança dos Estados Unidos. O rebaixamento da avaliação de crédito do país pela empresa Standard & Poor's parece confirmar o deslizamento contínuo da superpotência. E, embora não haja uma narrativa linear entre os ataques de setembro de 2001 e os atuais apuros econômicos dos EUA, o custo ajustado à inflação da "guerra global contra o terrorismo", de mais de US$ 2 trilhões, representa o dobro do que foi gasto na Guerra do Vietnã.
A resposta do ex-presidente George W. Bush aos ataques ao World Trade Center e ao Pentágono foi iniciar duas guerras, contra o Afeganistão e o Iraque, um unilateralismo belicoso à custa de alianças e da lei internacional e uma promoção quase evangélica da democracia liberal no Oriente Médio. As políticas com limites bem estabelecidos de sua administração fraturaram alianças na Europa e desencadearam uma grande queda da reputação dos EUA pelo mundo.
O erro de Bush foi deixar claro que a mudança de regime no Iraque era só um passo no que ele chamou de "eixo do mal"
No lado positivo, os EUA conseguiram evitar outro atentado terrorista em seu território. Outros não tiveram a mesma sorte. As bombas que explodiram em Bali (2002), Madri (2004) e Londres (2005) não chegaram à escala do 11 de Setembro, mas fizeram várias centenas de vítimas. A Al Qaeda foi enfraquecida, mas não totalmente eliminada. Dezenas de discos rígidos de computadores recuperados no esconderijo de Osama bin Laden em Abbottabad, no Paquistão, sugerem que o líder da Al Qaeda, morto em maio durante uma operação de uma força especial da Marinha americana, estava planejando outro atentado terrorista espetacular, talvez para coincidir com o aniversário do 11 de setembro neste fim de semana.
Além disso, a onda de protestos populares deste ano dissipou a noção de que o Oriente Médio - com exceção de Israel - é congenitamente incapaz de abraçar a democracia. Um a um, os autocratas da região, de Zine el Abidine Ben Ali, na Tunísia, a Hosni Mubarak, no Egito, estão sendo depostos por manifestantes que exigem dignidade, liberdade e empregos. É verdade que a queda de Muamar Gadafi na Líbia foi precipitada por rebeldes armados auxiliados pelos aviões de guerra da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan); mas o presidente Bashar al Assad, da Síria, poderá ser o próximo a sentir o hálito quente das ruas.
A questão é se o espinafrado Bush estava correto ao afirmar que o status quo autocrático do Oriente Médio criou uma incubadora de terroristas radicais islâmicos e, consequentemente, uma ameaça clara e presente para os Estados Unidos. Se a resposta for sim, então as falhas de seu governo se deveram menos a diagnósticos errados e mais a uma questão de execução.
Uma segunda questão relacionada é se a resposta militar do governo ao 11 de setembro representou um desvio de atenção caro e desproporcional, além de recursos, no momento em que o mundo estava sendo transformado pela ascensão de novos atores poderosos, sobretudo a China.
Logo após os ataques ao World Trade Center, um alinhamento geopolítico comparável aos de 1815, 1945 ou 1989 pareceu tomar forma. Os Estados Unidos formaram uma coalizão internacional contra o terrorismo que incluiu rivais como a Rússia e a China, além de párias do passado como Cuba, Irã e Sudão.
No lado positivo, os EUA conseguiram evitar outro atentado em seu território. Outros não tiveram a mesma sorte
A resposta militar foi igualmente eficaz. Depois de identificar os autores, os EUA realizaram uma campanha improvisada, mas brilhante, para tirar o Taleban do poder no Afeganistão. Forças especiais americanas combinadas com líderes militares locais e um poder aéreo devastador derrubaram o regime de Cabul em semanas. Embora os líderes, especialmente o mulá Omar e seu parceiro Bin Laden, tenham conseguido fugir, a rede Al Qaeda foi implacavelmente perseguida e desestruturada.
Mas em apenas um ano os Estados Unidos perderam a autoridade moral. O erro de Bush foi deixar claro que a mudança de regime no Iraque era apenas um passo no trato com o que ele descreveu como "eixo do mal", formado por Irã, Coreia do Norte e outros adversários suspeitos de abrigar ou patrocinar terroristas. Da noite para o dia, os Estados Unidos passaram a ser considerados uma nação malévola.
O temor aumentou com a publicação de uma doutrina de segurança nacional revista em 2002, que abandonou os conceitos de contenção e dissuasão da Guerra Fria. Em seu lugar, surgiu uma estratégia "voltada para o futuro" de ação militar preventiva, mudança de regimes e um novo tipo de guerra que justificava a tortura e negava os direitos da Convenção de Genebra a suspeitos de serem terroristas.
Assim, a guerra do Iraque foi combatida sem o apoio de aliados tradicionais, como o Canadá, a França e a Alemanha, sem o apoio do Conselho de Segurança das Nações Unidas e sem evidências conclusivas de que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa que representassem uma ameaça imediata aos EUA. Quanto aos aliados, o então premiê do Reino Unido, Tony Blair, forneceu uma cobertura política leal, embora Donald Rumsfeld, o então secretário de Defesa dos EUA, tenha declarado que as forças britânicas eram supérfluas em termos militares.
A Otan, que tinha invocado pela primeira vez o artigo 5, que exige que todos os membros se comprometam com a defesa coletiva, também foi deixada de lado. O lema de Washington era "a missão determina a coalizão". Mas as alianças seletivas funcionam em duas direções. No fim da década, os aliados europeus estavam usando advertências para sair das operações militares no Afeganistão, no Iraque e na Líbia. Daí o alerta feito este ano pelo secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, que estava deixando o cargo, de que a Otan estava se tornando irrelevante.
A Europa também emergiu, mas diminuída - e não só durante o conflito líbio, em que a Alemanha optou por ficar de fora e o Reino Unido e a França ficaram sem munição em questão de semanas. No começo do novo século, orgulhosos com o sucesso do lançamento de uma nova união monetária, líderes da Europa firmaram planos para tornar a União Europeia a zona econômica mais competitiva do mundo. Em retrospecto, a tão alardeada agenda de Lisboa marcou o ápice de ambições que coincidiu com o estouro da bolha pontocom.
Dez anos depois, o projeto original da União Monetária Europeia tem se mostrado fundamentalmente falho. Os mecanismos de imposição da disciplina orçamentária foram igualmente ignorados por membros pequenos e grandes, incluindo a Alemanha; economias periféricas, como Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, que cresceram muito nas costas dos juros baixos, estão se mostrando não competitivas. O contágio nos mercados de bônus agora ameaça se espalhar para a Itália, um membro "central" da zona do euro.
No segundo mandato de Bush, a retórica abrasiva deu lugar a uma postura mais moderada. Enquanto força de ocupação no Afeganistão e no Iraque, os EUA foram engolidos na reconstrução dessas nações, algo há muito ridicularizado por Rumsfeld. Numa confusão parecida, o presidente Barack Obama e o atual primeiro-ministro britânico, David Cameron, declararam que uma ou ambas as missões eram militarmente vitais e depois agiram como se elas fossem arbitrárias, estabelecendo um cronograma (político) para a retirada.
Especialistas calculam a conta coletiva das aventuras no Afeganistão e no Iraque em algo perto de US$ 2 trilhões (ajustados à inflação); mas Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial (Bird) e ex-subsecretário de Estado americano, afirma que um país tão rico quanto os EUA pode muito bem arcar com esse custo. Em 1948, diz Zoellick, o PIB médio per capita dos EUA era um quarto do de hoje. Mesmo assim, os americanos prontamente avalizaram a doutrina do presidente Harry Truman de apoiar as democracias na Europa e conter o comunismo ao redor do mundo, o que exigiu bilhões de dólares.
Se as sementes da transformação democrática criarão raízes no Iraque é algo mais discutível. A tão alardeada "tempestade" militar americana resgatou o país do caos e de um possível desmembramento, mas as relações entre os grupos étnicos do Iraque - curdos, sunitas e a maioria xiita - continuam precárias. Indiscutivelmente, a deposição de Saddam Hussein permitiu ao Irã se tornar a potência dominante da região, exercendo influência através do governo xiita em Bagdá. Enquanto isso, as ambições nucleares de Teerã continuam sem ser controladas.
O 11 de Setembro também não aumentou os esforços para resolver a outra ameaça séria à estabilidade regional: o conflito palestino-israelense. Bush e Barack Obama não conseguiram encontrar uma saída para a questão dos territórios ocupados na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e do status de Jerusalém. Sucessivos primeiros-ministros israelenses, de Ariel Sharon a Binyamin Netanyahu, vêm usando a guerra ao terror em proveito próprio, afirmando que concessões ameaçam a segurança de Israel e que entidades como o Hamas - que venceu com facilidade as eleições em Gaza em 2005 - são terroristas disfarçados de representante legítimos palestinos.
Apesar do foco na luta contra o terrorismo, os Estados Unidos ainda estavam alertas às tendências geopolíticas mais amplas. O progresso mais importante ocorreu entre EUA e a Índia, com a assinatura em 2008 do tratado 123 de cooperação nuclear civil. A nova parceria estratégica entre Washington e Nova Déli não só oferece um contrapeso à ascensão da China, como também ao Paquistão, que possui armas nucleares e é um aliado de longa data americano no sul da Ásia, apesar de cada vez mais difícil de ser controlado.
Em contrapartida, as relações sino-americanas são pouco mais que uma acomodação desconfortável. Pequim vê Washington (na melhor das hipóteses) como "nem amigo, nem inimigo", enquanto os EUA acordaram tardiamente para o desafio representado pela China ao seu domínio no Pacífico. Pequim vem, de má vontade, pressionando o ressentido regime vizinho da Coreia do Norte, mas o fervor nacionalista significa que a liderança continua nevrálgica em relação a Taiwan e muito sensível às disputas territoriais com Japão, Coreia do Sul e Vietnã.
Em última análise, o acontecimento geopolítico mais significativo dos últimos dez anos ocorreu não no campo de batalha, e sim no sistema financeiro. A crise bancária global teve origem na regulamentação falha e nos incentivos perversos aos bancos para que eles vendessem financiamentos imobiliários aos americanos pobres, que não tinham capacidade de pagá-los, além da alavancagem gigantesca do sistema financeiro. Essas distorções foram em parte criadas pelos desequilíbrios globais motivados pelo fato de os americanos estarem vivendo de crédito barato e de exportadores e poupadores chineses estarem contribuindo para a formação de um enorme superávit em conta corrente.
Até o Grande Crash de 2008, esse carrossel girou despreocupadamente. Graças à mão de obra barata, a China exportou deflação para o resto do mundo. A China financiou o déficit em conta corrente dos EUA reciclando seu próprio superávit nos bônus do Tesouro americano. Agora, com três anos de crise financeira, a economia mundial foi virada de cabeça para baixo. Os EUA estão diminuídos, a Europa ficou de lado, e a Ásia está em ascensão, ao menos por enquanto.
Considere as tendências históricas mais amplas. A participação da Ásia em desenvolvimento na economia global, em termos da paridade do poder de compra, subiu de forma constante, de 8% em 1980 para 24% no ano passado. Como um todo, os mercados de ações asiáticos agora respondem por 31% da capitalização do mercado global, à frente da Europa, com 25%, e bem perto da participação dos EUA, que é de 32%. No ano passado a China superou a Alemanha, tornando-se o maior país exportador do mundo. Os bancos chineses estão agora entre os maiores do mundo em valor de mercado.
Os números das importações são igualmente reveladores: o mundo em desenvolvimento está se tornando o motor da economia mundial. Do consumo de cimento ao de ovos, a China lidera o planeta; ela também acaba de superar os EUA como maior mercado automobilístico do mundo.
A apetite voraz da China por commodities está criando novas rotas comerciais, especialmente com potências emergentes como o Brasil. No ano passado, a China superou os EUA como maior parceiro comercial do Brasil. A América Latina, região outrora mais conhecida por sua instabilidade, emergiu da crise praticamente incólume. A pobreza está diminuindo, a classe média está crescendo e os mercados de ativos estão bastante aquecidos.
Condoleezza Rice, assessora de segurança nacional e depois secretária da Estado de Bush, certa vez descreveu a multipolaridade como uma teoria de rivalidade, um mal necessário. Em termos econômicos, a multipolaridade prega uma nova ordem em que a interdependência é a norma e os EUA, embora ainda decisivamente poderosos, não mais ocupam um papel hegemônico.
Quanto ao legado do 11 de Setembro, Gerard Lyons, principal economista do Standard Chartered Bank, diz que as três palavras mais importantes da última década não foram "guerra ao terrorismo", e sim "made in China". Pelas tendências do momento, acrescenta ele, as três palavras mais importantes desta década serão "propriedade da China".

livro "O dissenso de Washington" Embaixador Rubens Barbosa


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