quinta-feira, 29 de março de 2012

A pergunta do dia: companhias estrangeiras, ideias estrangeiras...

Recebi um comentário de um leitor de um dos meus posts -- sobre cadeia de produção da soja e o fato de que multinacionais processem a soja que os agricultores brasileiros produzem e vendem os produtos derivados -- concordando com o professor que primeiro se espantou com esse "horror econômico".
Daí fiz o seguinte comentário: 



"Está proibido multinacionais agregarem valor a commodities brasileiras?
Brasileiros estão proibidos de agregar valor a suas próprias commodities?
(...)
Por que é que os brasileiros são tão estúpidos que deixam apenas os gringos agregarem valor?
Mas, por que não competimos com ele?"

E terminei com a pergunta do dia:

Por que professores sempre tem preconceito contra companhias estrangeiras e nenhum preconceito contra todas as teorias estrangeiras -- francesas, alemãs, inglesas -- que eles importam e usam o tempo todo?
Que burrice não é?
Paulo Roberto de Almeida

Economia verde no Brasil: onde, como, quando, de verdade? - Rubens Ricupero

Parece que não só o Brasil, mas a própria ONU, e todos os demais personagens dessa comédia de erros, andam atarantados sobre o que fazer, como fazer, como despachar essa coisa que inventaram, a Rio+20, e que vai ser realizada sem que nada, ou quase nada, além de uma modesta declaração exortativa, com muito bullshit diplomático, seja aprovado dentro de poucos meses no Rio.
Abaixo uma crítica de alguém engajado no processo, mas decepcionado com a pobreza, a penúria, a escassez completa de resultados tangíveis.
Paulo Roberto de Almeida

rio+20
ENTREVISTA / RUBENS RICUPERO
Governo brasileiro e ONU diluíram agenda da Rio+20
CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, Ciência, segunda-feira, 13 de março de 2012, pág. C11

PARA O EX-MINISTRO, AUSÊNCIA DE METAS VEM DO RECEIO DE EXPOR AS CONTRADIÇÕES ACERCA DAS QUESTÕES AMBIENTAIS
Leticia Moreira/Folhapress

O ex-ministro Rubens Ricupero, em São Paulo

O governo brasileiro é atrasado em matéria de economia verde e, por isso, tem sido cúmplice das Nações Unidas na diluição da agenda da conferência Rio+20. Quem acusa é o embaixador e ex-ministro do Meio Ambiente (1993-1994) Rubens Ricupero.
Um dos principais negociadores brasileiros na Rio-92, Ricupero, 74, coordena um grupo de políticos, intelectuais e cientistas que deve encaminhar ao governo um documento que critica as baixas ambições do país nessa área, especialmente em comparação com China e Coreia, e pede a criação de um ministério da economia verde.
Em entrevista à Folha, ele manifesta o temor de esvaziamento da Rio+20. "Se você faz uma agenda modesta, está dando argumentos para que o pessoal não venha."

Folha - O governo tem dito que a Rio+20 não pode ser comparada à Eco-92. Isso é medo de criar expectativa demais?
Rubens Ricupero - É receio de desapontamento e expressão das contradições que existem no governo em matéria de definições ambientais.
Como o governo é pouco claro nisso, procura acentuar mais temas econômicos e sociais. Você nota isso no desejo de inserir a Bolsa Família como um dos êxitos brasileiros na luta contra a desigualdade, que estaria em um dos três pilares da conferência. Não deixa de ser verdade, mas é preciso levar em conta que, no desenvolvimento sustentável, dois pilares, o econômico e o social, são definidos em função do ambiental. A Bolsa Família é meritória, mas não tem muito a ver com ambiente.
De outro lado, há o receio de não conseguir repetir aquele êxito extraordinário. Em 1992, a conferência começou com a assinatura de duas convenções-quadro da ONU, a de mudanças climáticas e a de biodiversidade, coisas que você não pode repetir toda hora. Não me surpreenderia saber que muitos chefes de Estado talvez não venham.
Mas o próprio desenho modesto da agenda da conferência não torna a Rio+20 à prova de fracasso, e portanto atrativa para os chefes de Estado?
Se você tem medo de que não dê certo e por isso começa a diminuir a expectativa e faz uma agenda modesta, está dando argumentos para que o pessoal não venha.
É difícil que essas figuras que estão batalhando com a crise do euro venham se a conferência for só uma declaração. Talvez esse formato de reunião já condene a um anticlímax. Uma comemoração nunca é a mesma coisa, é uma evocação, não uma repetição do fato.
Então não havia como a agenda da conferência ser mais ambiciosa do que ela é?
Você poderia fazer uma coisa honesta. Admitir que a conferência talvez não conseguisse resolver todos os problemas, mas dizer: nós não vamos varrer para debaixo do tapete os problemas que nos ameaçam, que são a questão climática e a do ritmo acelerado de extinção da biodiversidade. Uma maneira de fazer isso foi aventada pelo ex-senador americano Tim Wirth [que era subsecretário de Estado dos EUA na Eco-92].
A ideia era adiar a Rio +20 para o fim do ano, e que ela fosse antecedida pela Convenção do Clima e a da Biodiversidade. O pessoal ficou apavorado (risos). Com medo de que elas dessem em nada.
Nos documentos que o Pnuma [Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente] preparou para uma reunião há duas semanas, havia um sobre como medir avanço ou retrocesso em tudo: camada de ozônio, tóxicos, aquecimento, extinção. Isso permitiria saber para onde as coisas estão indo.
Indicadores de desenvolvimento sustentável.
É. Se tivesse havido coragem, poderiam ter preparado uma reunião que não escamoteasse a gravidade dos problemas. O que se está procurando fazer, e não somos só nós -a conferência é da ONU- é disfarçar isso.
Como isso se manifesta?
Uma das formas é a diluição da agenda. O governo brasileiro diz uma coisa que é difícil de criticar em si: que o desenvolvimento sustentável tem três pilares, o ambiental, o econômico e o social. Mas a forma como isso está se traduzindo é que tudo entra na agenda, até a reforma do sistema financeiro. O problema ambiental, que na verdade é a razão principal, acaba sendo um entre 678.
Houve sequestro da agenda da conferência pela agenda do governo brasileiro?
Não. A ONU baixou o nível de expectativa. O Brasil só se aproveitou disso. O governo é atrasado no tema de economia verde, a maioria das pessoas nem compreende esse conceito, há contradições.
O maior exemplo é o Código Florestal. Estamos na véspera da conferência com esse pessoal ruralista querendo votar uma coisa que é a negação da conferência. Como o governo tem essas contradições, a saída é diluir.
A ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) disse que ninguém tem mais credenciais verdes do que o Brasil.
Isso é em parte verdade, por causa do etanol, das hidrelétricas. Mas tem outro lado. Estão fazendo mais termelétricas. O governo nunca conseguiu fazer um plano de transição para uma economia de baixo carbono.
A única medida de política econômica que eu conheço que o Brasil tomou nos últimos anos com um conteúdo ambiental foi o favorecimento a produtos de linha branca [eletrodomésticos] que economizavam energia.
O que você não tem é um projeto de país, de governo, em direção à economia verde, como a China está fazendo, com investimentos pesados em inovação. No dia em que eles tornarem a energia solar competitiva, vamos ter de comprar deles, porque eles estão investindo, nós não.
Por que não?
Falta um lugar onde se possa pensar essa política, porque isso não é uma política do Ministério do Meio Ambiente. Você precisa integrar o conceito de baixo carbono no planejamento econômico. Mas você tem planejamento econômico no Brasil onde?

Raio-X - Rubens Ricupero
NASCIMENTO
1º de março de 1937, em São Paulo
FORMAÇÃO
Direto (USP, 1959). É diplomata de carreira
ATUAÇÃO
Foi embaixador do Brasil em Genebra, Washington e Roma e coordenou o grupo de finanças da conferência Eco-92, que deu origem ao GEF (Fundo Global para o Ambiente); foi ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal (1993-1994) e da Fazenda (1994), secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento) e subsecretário-geral da ONU (1995-2004); hoje é professor da Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo.

O MEC confirma a pior das expectativas: sao as sauvas freireanas...


Sim, eu sei, eu escrevo coisas horriveis sobre o MEC, mas nenhuma que não tenha alguma justificativa nos fatos, e nos processos, que contemplo, à distância, como um espectador interessado no triste espetáculo da educação brasileira, uma tragédia anunciada muitos anos atrás, e que vai se prolongar pelo futuro indefinível vários anos à frente, para maior desgraça do Brasil.
Abaixo, transcrevo o que escrevi algumas meses atras, a propósito da posse do novo (des)ministro da Educação (talvez com "e" minúsculo seria melhor), aproveitando um editorial do Estadão, postado logo em seguida. Acho que preciso ratificar, e para pior, o que escrevi abaixo. E por que isso?
Bam, acaba de ser nomeado para uma das secretarias do MEC um militante da causa dos companheiros que sequer conseguiu terminar um curso superior (não importa qual), desde 21 anos que se inscreveu pela primeira vez numa universidade federal.
O fidelíssimo companheiro das causas justas deve ter ficado fazendo política companheira durante esse tempo todo, e agora é premiado com um cargo para a qual a competência técnica deveria primar, mas isso é o que menos importa para a política companheiro não é verdade?
No lugar da competência e da expertise, o que temos é a fidelidade companheira, sabuja, disciplinada, a todos os propósitos do gramscianismo anacrônico, na perfeita linha do comitê central (na mais pura tradição bolchevique, claro).
Aliás, o fato de que tenha sido designado um companheiro para uma secretaria do MEC, em lugar de um acadêmico competente, está de pleno acordo com a fraude que já presidiu à nomeação de seu chefe como primeiro ministro de Ciência e Tecnologia do atual governo, atual ministro da (des)educação, e que montou uma banca expressamente dedicada a atribuir-lhe, ao arrepio das mais elementares regras da moralidade acadêmica, uma titulação doutoral que desonra a UniCamp e todos os que participaram dessa verdadeira farsa (com perdão pela contradição nos termos, mas ela se aplica, cada vez que tratamos desse tipo de "coisa").
Creio que isso confirma que estamos afundando cada vez mais em matéria de educação. Com vocês, um post anterior, que merece upgrade e lifting, para empregar uma língua odiada pelos companheiros.
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Paulo Roberto de Almeida

sábado, 18 de fevereiro de 2012
MEC: um antro de sauvas freireanas e de "perdidos no espaço"

Acho que este editorial do Estadão, transcrito abaixo, peca por condescendência.
O novo ministro da Educação não é o novo regente do MEC, no máximo um ocupante desocupado, e um passageiro de ocasião, sem qualquer noção do que deve ser feito, e como deve ser feito.
O MEC, hoje, é uma montanha dessas fofas, construídas pelas formigas, neste caso uma espécie particular, as saúvas.
Lembram-se de Monteiro Lobato, aquele que dizia, 90 anos atrás, que "ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil"?
Pois bem, as saúvas não acabaram com o Brasil, pois a agricultura se modernizou e liquidou as malvadas.
Mas poucos sabem que as saúvas -- uma nova espécie, resistente -- se mudaram todas, de mala e cuia, se ouso dizer, para o MEC, e lá proliferaram de modo extraordinário; essas são mais duras de serem extirpadas: são as saúvas freireanas, ou seja, aquelas pedagogas -- e pedagogos também, pois idiotas é um adjetivo que não tem gênero -- que seguem o besteirol do supremo mestre idiota de todas as bobagens pedagógicas que fomos capazes de oferecer ao mundo desde os anos 1960, Paulo Freire, e que hoje ainda continua infernizando a vida de alunos, de mestres, de pais, de todo o Brasil.
Pois eu digo que, ou o Brasil acaba com as saúvas freireanas, ou elas vão acabar com o Brasil, como já estão acabando, há muito tempo, e prometem continuar fazendo estragos pelas próximas gerações, se deixarmos. Acho que vamos deixar...
Sou moderadamente pessimista quanto à economia brasileira, como sempre digo: acho que vamos continuar crescendo a taxas medíocres, graças à despoupança estatal e a todo o custo Brasil, que hoje se resume numa única palavra: o Estado. Sim é o Estado que se tornou um obstrutor do crescimento no Brasil, como constata qualquer um que tenha dois neurônios para observar a realidade brasileira.
Mas, sou ABSOLUTAMENTE pessimista quanto aos destinos da educação brasileira: acho que ela não só vai continuar ruim, péssima, horrivel, como vai piorar muito mais, tendente ao horripilante! A mediocridade tende a se instalar em todos os níveis, do kindergarten à pós-graduação.
Não digam que eu não avisei...
Paulo Roberto de Almeida 

O novo regente do MEC
Editorial O Estado de S.Paulo, 16 de fevereiro de 2012 

Desde que assumiu o Ministério da Educação (MEC), há três semanas, o ministro Aloysio Mercadante já deu várias entrevistas sobre as reformas que pretende promover numa das mais estratégicas áreas da máquina federal. Nessas entrevistas, ele falou muito e deixou claro que não tem projeto de gestão definido nem critérios técnicos para justificar a fixação de prioridades.

O novo ministro prometeu mudar a metodologia do Enem, adotando critérios mais rigorosos para a correção da prova. Disse que a escola não está "interessante" e que concederá bônus para as que alfabetizarem os alunos até os 8 anos. Também defendeu o uso de tecnologia digital pela rede pública de ensino fundamental e afirmou que o "arranjo social da sala de aula" e o quadro negro são do século 18, os professores são do século 20 e os alunos do século 21. "Nós, professores, somos analógicos e imigrantes digitais. Os alunos são nativos digitais. Não queremos um apartheid digital, como tivemos um apartheid educacional no passado."
Além disso, declarou-se favorável à aplicação de uma prova nacional de docentes, que definiu como instrumento de motivação dos professores que trabalham em redes municipais de ensino com baixo desempenho e em áreas de risco. Contudo, foi evasivo sobre o futuro do Plano Nacional de Educação (PNE), que está parado no Congresso há mais de um ano. A prova nacional é prevista pelo PNE, que estabelece diretrizes do setor para a década de 2010. Quanto a metas, o ministro disse que compartilha "a forma de ver" da presidente Dilma Rousseff. "Ela diz que sempre precisamos estabelecer metas como quem lida com arco e flecha: mira um pouco mais acima para acertar o alvo" (sic).
Questionado sobre as fontes de financiamento do setor educacional e sobre a reivindicação de associações de docentes, que pedem a elevação do investimento público em ensino para 10% do Produto Interno Bruto, Mercadante lembrou que o dinheiro poderá vir do pré-sal. "O que nós temos de novo para poder dar um salto é o pré-sal. Os royalties são para você preparar a economia pós-petróleo. Porque o pré-sal é uma energia não renovável. As futuras gerações não terão acesso. O que podemos fazer era vincular pelo menos 30% dos recursos do pré-sal para educação, ciência e tecnologia e fazer um grande pacto de que pelo menos durante uma década a prioridade vai ser investir em educação" (a citação do ministro da Educação é textual, segundo a versão do jornal O Globo da entrevista).
Com declarações vagas como essas, o novo ministro da Educação mostrou não ter o preparo necessário para o exercício do cargo, deixando os especialistas em pedagogia perplexos. Segundo eles, o País - que hoje tem cerca de 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola e padrões de ensino muito ruins - não pode esperar pelos dividendos da exploração do pré-sal para melhorar a qualidade de seu sistema educacional. Em outras palavras, condicionar o aumento do financiamento da educação ao pré-sal é apenas uma forma de furtar-se a uma definição sobre a questão fundamental do aumento dos investimentos de que o setor educacional tanto necessita. Por enquanto, eles deverão permanecer como hoje - ou seja, muito abaixo dos padrões necessários a uma economia competitiva e capaz de ocupar espaços cada vez maiores no mercado mundial.
Na realidade, a ideia de condicionar qualquer fonte de recursos para a educação ao pré-sal é absurda - a começar pelo fato de que os primeiros lucros da exploração desse tipo de petróleo demorarão décadas para aparecer. Até lá, se o Executivo não financiar com recursos próprios projetos de melhoria do ensino fundamental e do ensino médio, o Brasil terá perdido pelo menos uma geração. Além disso, Mercadante parece não compreender - o que demonstra surpreendente despreparo - que se o governo não começar a preparar desde já as crianças em idade pré-escolar, elas não terão a formação necessária para aprender matemática e ciências, os requisitos básicos de uma mão de obra capaz de trabalhar na exploração do pré sal e nos projetos de inovação científica e tecnológica inerentes àquele projeto.

Progressos linguisticos no Brasil: incorporando novidades

Não, infelizmente a matéria não tem nada a ver com melhorias na qualidade da educação no Brasil, o que eu espero ardentemente, mas que infelizmente não verei em minha vida útil, e tem a ver apenas, não com avanços na própria língua, e sim com adições vocabulares, digamos assim, nestes casos, para maior vergonha nossa e para deterioração geral da moralidade pública, já que correspondendo a vocábulos absolutamente nefastos do ponto de vista da ética pública.
Enfim, isso apenas comprova o dito que diz que nada está tão ruim que não possa ainda melhorar...
Paulo Roberto de Almeida 



Reinaldo Azevedo, 28/03/2012
Como vocês sabem, o “Grande Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa” (Editora Nova Geração), do professor e lexicógrafo Luiz Antônio Sacconi, passou a registrar a palavra “petralha”.
Pois bem. Na mais recente edição do dicionário, houve uma atualização do conteúdo. O verbete ficou assim:


Como viram, o professor teve a gentileza de dar a autoria do vocábulo. A obra é excelente. Um dicionário não pode registrar todos os neologismos e gírias que surgem por aí. Mas o dicionarista competente tem de ter a sensibilidade de identificar as palavras que vão ficar, que serão incorporadas à língua.
Alguém tem, por exemplo, alguma dúvida de que o “mensalão” veio para ficar? Será uma referência para os historiadores no futuro — e, infelizmente, a prática nefasta continuará entranhada na vida púbica por muito tempo. No vocábulo “mensal”, Sacconi registrou a derivação “mensalão”, assim definido: “mesada paga a parlamentares, por membros do governo, em troca de votos a favor do governo”. Exato!
Sacconi é autor de mais de 70 livros na área de língua e gramática, incluindo o best seller “Não Erre Mais”.

Um dicionário atento à história e que, também por isso, cuida muito bem da língua.

Renuncia de soberania: o Estado brasileiro decide nao acatar suas proprias leis

Esta também poderia integrar a série que eu chamo de "biografia de um fora-da-lei: uma história do Estado brasileiro", ou seja, o Estado, no caso representado pelo governo, decide não respeitar a lei que ele próprio aprovou.
Neste caso é ainda pior, pois o Estado brasileiro renunciou ao exercício da soberania sobre seu próprio território, decidindo que uma entidade internacional é quem vai aplicar suas regras nos estádios em que terão lugar jogos da Copa do Mundo.
Como renúncia de soberania, certamente não é a primeira que vejo -- já ocorreu em diversos casos anteriores, como no da decisão sobre a construção de uma refinaria, em que foi um caudilho estrangeiro a decidir -- mas é sem dúvida a mais explícita renúncia de soberania a que assisti.
Que centenas de parlamentares consintam com esse ato explícito de subordinação a uma entidade estrangeira é propriamente extraordinário, mas a origem de tudo está no acatamento pelo presidente anterior de obrigações que se contrapunham frontalmente à legislação interna do país.
Se trata de ignorância, pura e simples, desprezo pela lei, irresponsabilidade no mandato presidencial, pura demência megalomaníaca, ou apenas a tradicional atitude despótica do "eu sou Rei, eu decido o que é bom para o país"?
Em todo caso, o Brasil se rebaixa a condição de simples república bananeira...
Paulo Roberto de Almeida 


Lei Geral da Copa aprovada

A Câmara aprovou nesta quarta-feira (28) o projeto de Lei Geral da Copa (PL 2330/11). Sob protestos do PSDB, o texto ratificado pelo plenário manteve a venda de bebidas alcoólicas nos estádios. O artigo do Estatuto do Torcedor que proíbe a comercialização será suspenso e caberá à Federação Internacional de Futebol (Fifa) negociar a questão diretamente com os estados-sede.

Dilma na India: um discurso na linha tradicional

Nenhuma inovação conceitual, ou refinamento analítico, neste discurso pronunciado pela presidente na Índia: o mais puro diplomatês, combinado aos temas tradicionais do desenvolvimentismo defensivo, misturando várias questões num pout-pourri do déjà-vu.

Publicada quarta-feira, 28 de março de 2012, às 12:18

Em viagem à Índia, Dilma ataca protecionismo ‘perverso’

A presidente Dilma Rousseff retomou nesta quarta-feira seu tema recorrente em torno da crise internacional, ao condenar “políticas expansivas que ensejam uma guerra cambial e introduzem no mundo novas e perversas formas de protecionismo”.
É uma alusão à catarata de recursos que os bancos centrais dos países ricos estão despejando em suas economias para destravá-las, o que provoca sobra de dinheiro e, por extensão, a invasão de mercados, como o brasileiro, que oferecem juros atrativos.
Dilma chegou ontem (27) à Índia, onde fica até o dia 31 – Foto: Agência Brasil
Dilma chegou ontem (27) à Índia, onde fica até o dia 31 – Foto: Agência Brasil
A consequência é a valorização do real, o que atrapalha as exportações brasileiras – daí a menção à “formas perversas de protecionismo”.
O discurso foi pronunciado na cerimônia de entrega do título de “doutor honoris causa” pela Universidade de Nova Délhi, a capital indiana.
Meras medidas de austeridade
Vestida com a capa tradicional vermelha com bordados dourados, Dilma voltou a atacar, como o faz a cada viagem, o modelo de combate à crise por meio de “meras medidas de austeridade, consolidação fiscal e desvalorização da força de trabalho”, predominante na Europa.
A visão desenvolvimentista de que Dilma é adepta prega que o ajuste fiscal não deve ser feito isoladamente sem o apoio de estímulos para o crescimento econômico.
O discurso todo foi a reafirmação de pontos caros à diplomacia brasileira. Dilma defendeu, por exemplo, “o diálogo e a diplomacia” e rejeitou “as ações unilaterais e as doutrinas que enfatizam o uso da força, as atitudes preconceituosas e intolerantes”.
Defendeu ainda a reforma das instituições de governança global, “inclusive o Conselho de Segurança” [das Nações Unidas], que é o coração do sistema internacional.
Cobrou “a presença permanente de Brasil e Índia nos organismos que deliberam sobre a paz e a segurança global”, o que seria, segundo ela, “um consenso entre aqueles que prezam o multilateralismo”.
O Brasil reivindica há anos um lugar entre os membros permanentes do CS, hoje restrito aos vencedores da 2.a Guerra Mundial (Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido). São os únicos que têm poder de veto, o que acaba amarrando o sistema.
Ciência e inclusão social
Assuntos internacionais à parte, Dilma tocou também nos seus projetos mais acariciados.
Citou o programa “Ciência sem Fronteiras”, pelo qual o Brasil está enviando 100 mil estudantes e pesquisadores para formação em centros no exterior, “de primeira linha”.
Festejou o fato de que o governo da Índia, “país conhecido pela excelência de seus cientistas e de seus inovadores tecnológicos”, se associou ao Brasil na iniciativa.
A própria Universidade de Nova Déli, em que Dilma discursou, pôs-se à disposição para receber estudantes e pesquisadores brasileiros.
Não faltou a menção de praxe à inclusão social no Brasil: “Os 40 milhões de homens e mulheres incorporados à produção e ao consumo no Brasil neste período [10 últimos anos] asseguraram também grande dinamismo a nossa economia”. O número usualmente citado tanto por Lula como por Dilma em atos do gênero era 32 milhões.
Terminou com palavras do poeta indiano Rabindranath Tagore (1861/1941): “Deixe meu país despertar num paraíso de liberdade, onde a mente é destemida e a cabeça se mantém erguida, onde o conhecimento é livre, onde o mundo não foi fragmentado por paredes estreitas, onde as palavras emanam das profundezas da verdade”. (Folha.com)


quarta-feira, 28 de março de 2012

Problemas da nossa era: como citar livros digitais?

Pois é, todos nós, que lemos no Kindle, no iBook, no iPad, no eBook, em ePub e diversos outros formatos eletrônicos temos essa dificuldade básica, num trabalho de tipo acadêmico: como citar adequadamente um trecho num livro eletrônico relativamente extenso?
Este posto do André Lemos, discute o problema:

Carnet de Notes

Cibercultura. Tecnologia, Comunicação e Cultura

André Lemos



Como citar usando um Kindle?



Como me tornei um usuário do Kindle (não, não quero um iPad, thanks!), comecei a comprar e a baixar livros eletrônicos em diversos formatos para alimentar o dispositivo. Tenho achado muitos livros acadêmicos e de ficção (free e pagos) nas línguas que leio e isso só tem aumentado a minha quantidade de leitura diária. Vejam post anterior sobre o assunto.
No que se refere aos livros acadêmicos, como citar as referências de um livro no Kindle se o mesmo não tem páginas, mas “locations”? Para a citação uma obra eletrônica (PDF, ou texto em sites), em geral, o que fazemos é colocar a referências como está no impresso, no site ou indicar o DOI. Por exemplo: “Lemos, André., Post—Mass Media Functions, Locative Media, and Informational Territories: New Ways of Thinking About Territory, Place, and Mobility in Contemporary Society., in Space and Culture, November 2010 13: 403-420, doi:10.1177/1206331210374144“. Nessa citação, há a referência à revista em papel e ao documento eletrônico, mantendo a paginação da revista impressa. Nesse outro caso: “Tuters, M., Varnelis, K. (2006). Beyond locative media, in http://networkedpublics.org/locative_media/beyond_locative_ media”, não há páginas e o texto é apenas eletrônico, indicando a URL. Caso citemos algum trecho, esse fica simplesmente sem páginas.

Acima, na foto do trecho do livro Solar, de Ian McEwan, que estou lendo no Kindle, a citação dessa parte sublinhada seria assim? McEwan, Ian., Solar. São Paulo, Cia das Letras, 2010, Kindle Edition, Location 3732-40.
No caso do Kindle, o que se aconselha é que façamos a citação da obra no seu suporte livro ou revista e indiquemos que é uma versão do Kindle, como no exemplo acima. Quanto a citação de passagens retiradas, não há consenso, mas alguns falam de colocar a localização (como acima), ou o número do parágrafo (em alguns leitores que não o Kindle). Entretanto, no caso do Kindle, se eu aumentar a fonte no leitor, a localização muda. Assim sendo, só é possível manter a localização como referência se o leitor não alterar o tamanho da fonte padrão do “livro”. Outros sustentam a necessidade de uma nova classificação para os novos suportes e outros simplesmente defendem que o pesquisador busque a referência nos livros impressos na sua biblioteca, livrarias ou no Google Books (quando houver). Acho que, infelizmente, ainda, para os livros acadêmicos que tenham versão impressa, teremos que sair de casa e ir buscar na livraria ou biblioteca o livro, fuçar as páginas e localizar exatamente a passagem escolhida.
O problema é ainda maior já que há, cada vez mais, obras apenas eletrônicas, feitas em formatos específicos para específicos dispositivos. Como citar a obra e passagens da mesma quando ela não tiver uma versão impressa? Meus livros ‘Reviravolta” e “Caderno de Viagem” são e-books, sem versão impressa. Como leio os dois no Kindle, devo fazer a citação usando a localização e dizer que é no formato mobi para Kindle? E se for em formato e-pub, em um iPad, mantenho uma outra forma de indexação da passagem e digo que é no iPad? Cito assim para a referência completa:
Lemos, André. @re_vira_volta. Uma experiência em Twitteratura., e-book, Ed. Simplissimo, Porto Alegre., 2010. Disponível em http://www.simplissimo.com.br/store/atre-vira-volta.html. ISBN – 978-85-6365-422-9.
Lemos, André. Caderno de Viagem. Comunicação, Lugares e Tecnologias., Porto Alegre, Editora Plus, ISBN 978-85-62069-33-8., 2010. e-book
Para uma citação de uma passagem de um dos livros como faria? Assim?
Lemos, André. Caderno de Viagem. Comunicação, Lugares e Tecnologias., Porto Alegre, Editora Plus, ISBN 978-85-62069-33-8., 2010. Kindle Version, location 210-17.
Acho que seria agora o mais sensato. No entanto o problema deve ser solucionado de uma forma mais universal que desobrigue o leitor a procurar referências em um leitor eletrônico específico. Não é nada prático indexar uma citação à um dispositivo já que o leitor pode usar diferentes tipos de aparelhos e fontes. Uma discussão interessante foi travada recentemente na lista “air-l@listserver.aoir.org” da Association of Internet Researchers (http://www.aoir.org/), iniciada pelo Rich Ling. Vejam o que dizem alguns pesquisadores sobre o assunto:
Steve Hyzny : I just attended a Capella University colloquim and this was a topic that was raises. When referenceing and e-book since page numbers can adjust with font size and other issues is to use the Chapter/section title and paragraph number instead of page number.
Stacy Blasiola : Here’s what Purdue has to say about it: http://owl.english.purdue.edu/owl/resource/717/04/ . Electronic books are cited exactly as their print counterparts with the addition of a media marker at the end of the citation: Kindle edition, PDF e-book, Microsoft Reader e-book, Palm e-book, CD-ROM, etc. Books consulted online are also cited exactly as their print counterparts with the addition of a DOI (or URL) at the end of the citation. See also Books . Note: Stable page numbers are not always available in electronic formats; therefore, you may, instead, include the number of chapter, section, or other easily recognizable locator.
“Edward M. Corrado” : Obviously this, to some degree, depends on the citation style. For the 16′th editions. Chicago added some guidelines. Basically: “Note that electronic formats do not always carry stable page numbers (e.g., pagination may depend on text size), a factor that potentially limits their suitability as sources. In lieu of a page number, include an indication of chapter or section or other locator.” (rule 14.166) and: “Electronic sources do not always include page numbers (and some that do include them repaginate according to user-defined text size). For such unpaginated works, it may be appropriate in a note to include a chapter or paragraph number (if available), a section heading, or a descriptive phrase that follows the organizational divisions of the work. In citations of shorter electronic works presented as a single, searchable document, such locators may be unnecessary.” (rule 14.17)
jeremy hunsinger : direct quotes are less of a worry than providing reference, I’d think. One can search for a direct quote and usually find it. However, if someone is referencing an idea, we really do need the exact page or location of the item in question. My solution is simple, go to the library and find the page number. (…) granted, that in some scholarly topics there are unique citation traditions, such as in plato, aristotle, kant, etc. and one should stick with the tradition which is most commonly used centrally to the tradition, i’d guess.
Alex Halavais : Actually, I think the solution jeremy dismisses is the obvious one: you should cite to a URI. It’s a shame that copyright laws make that… difficult. In some ways, I suspect a resource that was *like* Google Books, and provided a fragment with context, would be useful. So if I talk about reasons to cite sources I could drop a link (http://bit.ly/reasonstocite), and fulfill at least the findability function of the citation. But, of course, this raises its own problems. Not all books are in Preview or Full on Google Books (whether that is a good or a bad thing is, of course, an issue of hot debate), the traditional library system is nicely redundant and distributed, providing some reliability (though one could imagine a distributed alternative to Google Books without too much difficulty). Not to mention the issues of URI ugliness, shortener (like the bit.ly link above) longevity and obscurity, and the like. I disagree with the idea, however, that we should maintain page numbers as a form of due diligence. There comes a time when we have to get past horseless-carriage thinking, and recognize that when certain communities are reading more off the page than on, it’s time for a new standard.
“Gilbert B. Rodman” : Digital source or not, I think some sort of locator is still necessary/desirable for direct quotes. I’m not sure why those should be an exception to Jeremy’s love of page numbers (which I share, though I can imagine functional equivalents being used for paper-less sources). If I’m actually trying to find a quoted passage — because I’m curious, because I want to see the broader context from which the passage was pulled, because I want to cite the original source myself, because I’m shocked that such a passage exists in the work in question, etc. — I don’t want to have to hunt down the words in question in the middle of the full text. To be sure, there are instances where this isn’t a completely onerous burden: a 100-word passage from a 20-page journal article may be easy enough to find. Still, the goal of a good citation is to help your reader find the precise source for the cited words/ideas, not just the general location where your reader can go hunting for them.
Peter Timusk : You actually have to count the paragraphs, I believe. BTW this is hard work. I agree with Jeremy’s sentiment. I found after taking a full course on legal citation style for Canadian legal scholarship that the last and hardest job is citation in a paper. Often I had to drop sentences because I could not find the citation to the idea. I now try to blog everything I read so I don’t loose these things so much. Also there are still professors out there I am sure and thus reviewers who may prefer a citation to hard copy rather than electronic. That’s my understanding of the preference order.
Novos dispositivos, novas memórias, novos regimes de escrita e leitura.
Como vimos há um debate interessante a ser feito. Esse é um problema que devemos enfrentar rapidamente para normatizar as citações de obras que serão cada vez mais em formatos e-book (pdf, e-pub, mobi, etc.). Vemos aqui como uma mudança de dispositivo (os e-readers e tablets) mobiliza uma rede de problemas (memória, confiabilidade, referências, discussão, indexação) na produção e difusão de textos, alterando as formas de produção, difusão e estoque de informação. Há uma mudança, a longo prazo, nas formas de produzir, distribuir e armazenar o conhecimento.
O que é mesmo um página senão a materialidade do papel? O papel formou e conformou o nosso pensamento ao moldar formas de escrita e leitura. É justamente essa materialidade que está em questão sendo substituída, pouco a pouco, pela materialidade eletrônica do dispositivo. Aqui o papel de um códex, de uma obra final e acabada na edição, se transforma em realidade abstrata, em uma superfície profunda de onde emergem signos textuais de todos os livros que podem então ser indexados por links ou compartilhados em redes sociais (posso compartilhar trechos dos livros que leio no Kindle no Twitter ou ver o que outros leitores marcaram no livro que estou lendo).
Há aqui edição da obra pelo leitor e a formação de uma incipiente comunidade de leitores, de uma nova “República das Letras”. O Kindle é nesse sentido um “BIBLIO” (ver Derrida, “Papel Máquina”), um espaço/lugar de armazenamento de informação, de livros (que depois virou o próprio livro). Ele faz com que o editor (o “tipógrafo”) seja o próprio leitor (ver a esse respeito o livro “Desafios da Escrita” de R. Chartier) que pode mexer nas fontes e alterar as localizações das informações. Assim, não há mais páginas fixas. Ao contrário, só há textos e leitores móveis.
O que será que a nossa ABNT tem a dizer sobre o assunto, quando as referências tornam-se móveis, saem do suporte papel, desvinculam-se dos livros e prendem-se a dispositivos eletrônicos específicos

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