segunda-feira, 9 de julho de 2012

Politica Externa Bisonha - Marcelo de Paiva Abreu


Política externa bisonha

Marcelo de Paiva Abreu
O Estado de S. Paulo - 09/07/2012


Em meu último artigo, escrito horas antes de eclodir a crise paraguaia, usei metáfora futebolística para caracterizar a ação do Itamaraty nos últimos tempos: defesa mais que razoável; ataque bisonho. A defesa se referia à postura defensiva do Ministério das Relações Exteriores no campo político. O ataque, às propostas brasileiras no terreno econômico.
Com base no primeiro ano e meio do lado político da diplomacia do governo Rousseff, sublinhei as virtudes do afastamento em relação a Teerã e Caracas. O Itamaraty parecia ter sido capaz de se distanciar dos excessos a que se havia exposto na época da tríade Amorim-Guimarães-Garcia. Com otimismo, Rio Branco ameaçava voltar a se sobrepor à diplomacia de grêmio estudantil que tanto agradava a Lula.
Em contraste, no terreno propositivo, especialmente na esfera econômica, eu havia mencionado a pobreza das propostas brasileiras no quadro multilateral. Primeiro, na Organização Mundial do Comércio (OMC), enfatizando a necessidade de que negociações comerciais levassem em conta flutuações cambiais, assunto em relação ao qual até o Fundo Monetário Internacional, como agência multilateral especializada em finanças, se revela relativamente impotente. E também no G-20, ao propor nova rodada de negociações comerciais multilaterais na OMC, a despeito de o Brasil ter-se tornado um dos grandes delinquentes em matéria de escalada do protecionismo no passado recente.
Havia ventilado como bastante provável a hipótese de que o Itamaraty estivesse sendo posto à margem do processo decisório de política comercial. De fato, é difícil crer que possam ter bom trânsito no Palácio dos Arcos iniciativas que desgastam o bom nome brasileiro acumulado desde a Rodada Uruguai até os vitoriosos contenciosos do algodão e do açúcar. As impressões digitais do eixo Fazenda-Planalto são visíveis.
Na verdade, devo agora reconhecer que minha avaliação sobre a vertente política da diplomacia brasileira estava equivocada. Não havia bola de cristal disponível para prever as trapalhadas da diplomacia do Brasil no quadro da crise política paraguaia. Em especial, a propensão a repetir erros do passado. O que se conclui agora é que, na política exterior brasileira, não é só o ataque que é bisonho, a defesa também o é.
O Paraguai foi censurado por seus companheiros do Mercosul por açodamento na aplicação de rito de impeachment previsto na Constituição, embora não seja claro qual teria sido o timing aceitável pelos críticos da deposição de Fernando Lugo. No passado, o preciosismo do governo brasileiro na avaliação dos ritos processuais foi bem menos marcado na apreciação das peripécias eleitoreiras de Hugo Chávez na Venezuela. Certamente, um caso de dois pesos e duas medidas.
É sabido que o Itamaraty tentou mitigar a impetuosidade presidencial e houve sucesso em impedir tresloucadas sanções econômicas ao Paraguai, que contavam com a simpatia do eixo Buenos Aires-Caracas. Mas a presidente Dilma, a julgar por revelações de dirigentes uruguaios, teve papel ativo e decisivo quando foram consideradas as consequências da suspensão do Paraguai como membro do Mercosul, com possível remoção do obstáculo à admissão da Venezuela, cujo ingresso dependia de voto favorável do Senado paraguaio. Suspenso o Paraguai, admita-se a Venezuela. A pressa em resolver o assunto, em benefício da postulação venezuelana, contrasta com a censura à pressa paraguaia em aprovar o impeachment de Lugo. A melhor justificativa encontrada pelo Itamaraty - "é a Venezuela que está sendo admitida no Mercosul, e não Chávez" - é ridícula, para dizer o mínimo.
Fica claro que a política externa brasileira hoje tem sido formulada e implementada em grande medida ao arrepio do Itamaraty. A perspectiva de curto prazo tem prevalecido sobre qualquer visão estratégica sobre o papel político e econômico que o País possa desempenhar em escala global. É uma versão um tanto inusitada de diplomacia presidencial, com o presidente tornando-se o principal formulador da política externa.
Não se discute que a política externa brasileira tenha como pilar a manutenção de relações cordiais com seus vizinhos. De fato, a secular convivência pacífica com os vizinhos é um dos aspectos mais positivos da tradição diplomática do Brasil, configurando um contraste positivo com diversos outros emergentes. Essa prioridade explicaria as acomodações que têm marcado a postura do País diante de Caracas e Buenos Aires. Mas o preço da manutenção de tal postura tem aumentado desmesuradamente à medida que "se va la mano de los hermanos", especialmente no caso da Argentina, onde prospera o primitivismo peronista. Certamente haverá limites para a capacidade brasileira de fazer vista grossa às decisões argentinas prejudiciais ao Brasil e, também, aos destemperos chavistas.
Que credibilidade global pode ter um Brasil a reboque de Argentina e Venezuela? Não só o Mercosul fica ainda mais estigmatizado como parceiro comercial preferencial das economias desenvolvidas, mas também a postulação brasileira ao Conselho de Segurança da ONU, emblemática do anseio por um papel global, torna-se despropositada.


Doutor em Economia pela Universidade de Cambridge; é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio 

Filosofia do jornal O Estado de S.Paulo

Missão Editorial do Grupo Estado A missão editorial do Grupo Estado está em grande parte inspirada nos princípios fundadores do jornal Província de São Paulo. Figura na declaração inaugural de propósitos de 4 de janeiro de 1875. No entanto, sensível às mudanças históricas e aos avanços da ética, o Grupo acrescentou ao compromisso com a democracia, a luta pela defesa da liberdade de expressão e de imprensa, a promoção da livre iniciativa, da justiça e a permanente busca da verdade. Comprometido com os valores proclamados na Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Grupo Estado está sintonizado com o presente e o futuro dos brasileiros, com a defesa de seus valores culturais, éticos e históricos e a preservação do seu patrimônio natural. Como grupo empresarial do setor de comunicação e informação, persegue a eficiência, a modernidade, a criatividade e a rentabilidade, pré-requisitos da sua independência informativa e editorial. Ademais, comunga com os princípios das empresas socialmente responsáveis: geração de riqueza com sensibilidade social e respeito ao meio ambiente.

A frase da semana: principios do Wall Street Journal

We speak for free markets and free people, the principles, if you will, marked in the watershed year of 1776 by Thomas Jefferson's Declaration of Independence and Adam Smith's "Wealth of Nations." So over the past century and into the next, the Journal stands for free trade and sound money; against confiscatory taxation and the ukases of kings and other collectivists; and for individual autonomy against dictators, bullies and even the tempers of momentary majorities.

domingo, 8 de julho de 2012

Plano Real: 18 anos, a despeito dos entraves - Pedro Malan

Tive a oportunidade de ler, hoje mesmo, artigo que o atual ministro da Fazenda, então simples militante partidário, escreveu sobre o Plano Real,  em julho de 1994, publicado na página de Opinião da Folha de S.Paulo.
Quem estiver interessado em conhecer o imenso leque de bobagens afirmadas por ele, pode consultar este link: 


A comparação com o artigo abaixo do ex-ministro da Fazenda, que foi o responsável pela montagem do Plano Real, quando era presidente do Banco Central, nos faz corar de vergonha, pelo atual ministro da Fazenda. Não pelo que ele disse na época, pois isso pode ser debitado à conta do fundamentalismo político e da desonestidade intelectual. Mas pelo que ele está fazendo hoje, de concreto, na economia brasileira.

Desde a saída de Palocci, estamos assistindo à lenta e decidida erosão dos três pilares da política econômica instalada em 1999: desprezo pelas metas de inflação; abandono prático da flutuação suja por um sistema de bandas situadas ao redor de R$2/US$1; e comprometimento progressivo das metas fiscais, pelo descuido com o superávit primário e maquiagem das contas do Tesouro.
Infelizmente, todos pagaremos por isso, sob a forma de inflação persistente, mais deterioração das contas públicas e um menor crescimento econômico, ademais do comprometimento da inserção global, com o protecionismo tosco que vem sendo implantado, um atraso de pelo menos meio século em nosso itinerário econômico. 
O Brasil se atrasa, certamente, mas nas mãos dos companheiros, ele se atrasa muito mais mentalmente do que materialmente.
Paulo Roberto de Almeida

A maioridade do Real e os próximos 18 anos

Pedro Sampaio Malan

O Estado de S.Paulo, 8/07/2012

Há exatamente uma semana o Real completou os primeiros 18 anos do que espero seja a longa vida de uma moeda que veio para ficar como um dos símbolos do avanço institucional do País. Os brasileiros que tinham 18 anos em 1994 - e, portanto, todos os que estão hoje na faixa dos 36-40 anos - provavelmente não têm nenhuma lembrança pessoal significativa, isto é, vivida, da marcha da insensatez que foi a evolução do processo inflacionário no Brasil pré-Real.
Vale lembrar: no meio século que vai de meados dos anos 40 a meados dos anos 90, o Brasil só teve três anos de inflação inferior a 10% (nos anos 40). Entre 1950 e 1980 a taxa média de inflação foi da ordem de 25%-30% ao ano. Do início dos anos 80 (quando chegou a 100%) até o Real, a taxa média anual foi superior a 600%, passando dos 1.000% em 1989 e chegando a quase 2.500% em 1993. Na literatura econômica há uma palavra para isso: hiperinflação.
Ainda era muito precária, à época, a percepção, que hoje felizmente existe, de que a inflação é um imposto. E o mais injusto de todos, porque incide principalmente sobre os mais pobres. Não é por acaso que os indicadores de concentração de renda e riqueza no Brasil nas últimas décadas - sejam os índices de Gini, sejam as parcelas de renda apropriadas pelo 1% mais rico e pelos 20% mais pobres - mostram que os piores anos de desigualdade na concentração de renda no Brasil foram ao final dos anos 80 e início dos anos 90.
O povo brasileiro entendeu, muito rapidamente, que o controle da inflação propiciado pelo Real era algo que redundava em seu benefício. E hoje a inflação baixa é vista como um objetivo da sociedade e como obrigação de qualquer governo minimamente responsável. Não é um fim em si mesmo, como sempre afirmamos, mas uma condição indispensável para que outros objetivos econômicos e sociais possam ser alcançados. Afinal, com inflação alta, crônica e crescente não há possibilidade alguma de verdadeira inclusão social, tampouco de crescimento sustentado.
O que quero dizer com isso? Que a importância e o significado do Real, que ora atinge sua maioridade, transcende de muito a derrota da hiperinflação em 1994. E que a agenda do Brasil pós-hiperinflação se confundia com a própria agenda do desenvolvimento econômico e social do País, que pôde, sem a zoeira da inflação, começar a alargar seus horizontes e procurar tornar-se um país mais normal, mais previsível, mais confiável, mais competitivo. Um país talvez capaz de crescer de forma sustentada, com inflação sob controle, com maior justiça social, menos pobreza, com as finanças públicas em ordem, infraestrutura decente, melhor educação e maior eficiência nos setores público e privado.
Como sabemos, 18 anos são pouco para a magnitude dessa empreitada. Mas o Brasil não começou com o Real e já havia avançado muito em períodos anteriores, apesar de aparências em contrário. Agora é preciso contemplar os próximos 18 anos. Afinal, 2030 está logo ali adiante, quando os que chegaram à sua maioridade com o Real - como meu filho mais moço - terão dobrada sua idade.
Quem viver até lá acompanhará as tentativas do governo atual, e os labores dos governos que se lhe seguirão, de lidar com as urgências constantemente postas e repostas pelo sempre fugidio "momento presente" - que exigem respostas no curto prazo da parte dos responsáveis por políticas públicas. Respostas que serão tão mais adequadas quanto mais levem em conta objetivos de longo prazo: políticas de Estado, e não apenas do governo de turno; para a próxima geração, e não somente para a próxima eleição.
Como procurou fazer o governo FHC, nessa área de respostas a problemas que precisavam ser encarados com firmeza - e o foram. Exemplos: a resolução de problemas de liquidez e solvência no sistema bancário nacional, privado e público; a reestruturação das dívidas de Estados e municípios então insolventes do ponto de vista fiscal e desde então sem problemas mais sérios nessa área; a Lei de Responsabilidade Fiscal, de maio de 2000, marco de mudança histórica nas finanças públicas brasileiras; o reconhecimento de que as necessidades de investimentos do País (não do governo) superavam de muito a capacidade do setor público e de suas empresas, exigindo mudanças, até mesmo constitucionais, que abrissem espaço ao investimento privado, doméstico e internacional.
É verdade que o ex-presidente Lula nunca reconheceu de público o quanto seu governo se beneficiou desses avanços. Ao contrario, preferiu caracterizá-los como herança maldita, algo que não  engrandece. Mas não importa, a presidente Dilma fez tal reconhecimento de público de maneira muito explícita em mais de uma ocasião, desde seu relevante discurso de posse. Como antes haviam feito importantes ministros de Lula, como Antônio Palocci e Paulo Bernardo.
A propósito, é importante reconhecer que o governo Dilma, à diferença de seu antecessor, que nem sequer tentou (ou porque não quis, ou porque não pôde, ou talvez porque o extraordinário vento a favor que pegou da economia mundial lhe permitiu evitar incorrer em custos políticos domésticos), está procurando enfrentar certas "urgências do gradualismo", para as quais deveria ter apoio de quem pensa no longo prazo, como a mudança do insustentável regime de previdência do setor público e as "inexoráveis" concessões ao setor privado em áreas de infraestrutura, por exemplo. Para não falar nas necessárias resistências do Executivo às insaciáveis demandas de sua vastíssima "base de apoio" por contínua expansão dos gastos públicos no curto, no médio e no longo prazos.
Debates desse tipo são fundamentais quando se olha à frente. Afinal, teremos nada menos que cinco eleições presidenciais nos próximos 18 anos.
PEDRO S. MALAN, ECONOMISTA, FOI MINISTRO DA FAZENDA NO GOVERNO FHC. E-MAIL: MALAN@ESTADAO.COM.BR 

Uma indisfarcavel inclinacao pelas ditaduras - Sergio Fausto

O titulo acima é meu, e apenas exprime uma constatação, não uma opinião: entre uma democracia liberal e uma ditadura comunista, os companheiros vão inevitavelmente escolher esta última, já que isto faz parte de seu DNA. 
Registro apenas que certos regimes na região, e fora dela, apoiados pelos companheiros, não são de esquerda, ou o são apenas em aparência, tão somente nas exterioridades dos gritos contra o império e na proclamação de supostas metas socialistas.
Na verdade, eles são profundamente fascistas, na forma e no conteúdo.
Cada vez que vejo certo coronel falando, a imagem que me vem à mente, dos filmes e fotos, é a do ditador Benito Mussolini. Igualzinho, até pelos gestos histriônicos e clima de ópera bufa, que vai terminar em desastre.
Alguns daqui gostariam de ser como Stalin: felizmente ainda não existe Gulag, e posso escrever o que penso aqui mesmo. Mas sei que eles gostariam de me intimidar e me calar, o que não vão conseguir fazer.
Paulo Roberto de Almeida 

Democracia na América do Sul: perguntas incômodas



Sergio Fausto
O Estado de S.Paulo, 7 de julho de 2012
Por que a destituição do presidente Fernando Lugo mereceu resposta tão contundente dos países da região, quando agressões, se não à lei, ao menos ao espírito da convivência democrática, foram recebidas com silêncio obsequioso por parte dos que hoje se insurgem contra "o golpe das elites paraguaias"?
Seria o impeachment de Lugo mais grave do que o desrespeito de Hugo Chávez aos resultados do referendo de dezembro de 2007? Esqueceram-se de que no ano seguinte o presidente venezuelano promoveu, por decreto, parte das mudanças rejeitadas pela maioria do eleitorado do país naquela que Chávez considerou "una victoria de mierda" das oposições ao seu governo?
Seria mais grave o rito sumário que marcou a destituição de Lugo do que a aprovação da nova Constituição da Bolívia, em novembro de 2007, num quartel militar cercado por tropas e militantes fiéis a Evo Morales, sem a presença dos parlamentares da oposição? Seria o ato do Congresso paraguaio mais grave do que a decisão tomada por Rafael Correa, no início de seu mandato, permitindo à futura Assembleia Constituinte, onde estava seguro de ter a maioria, dissolver o Parlamento recém-eleito, onde se encontrava em minoria?
Por que tanta presteza em condenar o Paraguai, quando há anos se assiste sem protesto algum à sistemática deformação das instituições democráticas na Venezuela sob o rolo compressor de Chávez, processo replicado em maior ou menor medida na Bolívia e no Equador? O que representa maior ameaça à democracia na região, um episódio confinado às fronteiras nacionais do mais pobre país da América do Sul ou a vocação expansiva da "revolução bolivariana", cujo epicentro é um país com uma das maiores reservas de petróleo do mundo e um líder com recursos e disposição para pisotear o princípio da não intervenção nos assuntos domésticos de outros países?
Para justificar tão surpreendente zelo com a pureza do espírito democrático se elaborou às pressas a teoria de que a destituição de Lugo representaria o ensaio local de uma nova modalidade encontrada pelas elites da região para se livrar de governos nacional-populares. A ideia de que o "neogolpismo" é uma espécie de hidra, com várias cabeças, serve aos interesses maiores de Chávez, Correa e Evo. Presta-se a legitimar o acosso a que submetem os seus adversários internos, tratados como inimigos do povo e lacaios da elite, quando não fantoches do "império" (os Estados Unidos). Nada como inflar ou fabricar ameaças para justificar arbitrariedades. Não foi para se defender dos supostos planos de invasão americana que Chávez armou uma milícia popular sob seu comando direto, com a distribuição de milhares de fuzis, sem que tal aberração merecesse sequer um reparo dos zelosos democratas de hoje?
Também na Argentina se vê a captura do Estado por um grupo político que atribui a si próprio um papel redentor do povo e da nação, confrontando adversários como quem combate inimigos. Comum a todos esses líderes redentores é a utilização do discurso maniqueísta povo versus elite, o que não os impede de ser ou pretender ser, além de heróis do povo, chefes de uma nova elite que se vai erguendo politicamente e enriquecendo financeiramente sob as asas de seus governos.
Há mais do que afinidades políticas na aliança entre esses quatro líderes políticos. Existe entre eles uma ampla zona cinzenta em que se misturam negócios, assistência governamental e financiamento de campanha. Morales financiou o programa "Bolívia Cambia, Evo Cumple" (e sabe-se lá o que mais) com recursos transferidos por Chávez sobre os quais nem este nem aquele prestam contas a ninguém. Em meio à primeira campanha de Cristina Kirchner para a presidência, uma mala com US$ 800 mil em dinheiro vivo foi encontrada em mãos de um empresário próximo ao governo chavista, num avião fretado em que viajavam funcionários de alto escalão da petroleira venezuelana, PDVSA, e da estatal argentina de energia, Enarsa. Cinco anos e três juízes depois, a Justiça argentina ainda não esclareceu o caso.
Que Chávez, Evo, Correia e Cristina se lancem à condenação do Paraguai não é difícil de entender. Mais complicado é compreender a posição do Brasil. Marcamos diferença importante ao não embarcar na canoa das sanções econômicas. Mas patrocinamos a manobra oportunista que permitiu incorporar a Venezuela ao Mercosul na esteira da suspensão do Paraguai.
O Brasil perdeu uma oportunidade para marcar, sem alarde, fisionomia própria em matéria de compromisso com a democracia na região. Bastava não aceitar o ingresso da Venezuela nessas circunstâncias. De pouco vale ter mais da metade do PIB da região se na hora de exercer liderança política nos apequenamos.
Presidentes deixam sua marca na política externa em horas assim. Dilma poderia ter-se diferenciado de seu antecessor, sempre solicito no apoio político aos companheiros da vizinhança. Mas isso suscitaria comparações com Lula e irritaria o PT.
A questão não é só de política externa. Vale ler o artigo assinado pelo secretário-geral do partido, Elói Pietá, publicado no site oficial da legenda logo após o impeachment de Lugo. A chamada do artigo é eloquente: "Mesmo com toda a sua força e grandeza, o Brasil também sofreu as tentações de um golpe do Congresso Nacional contra o Presidente Lula". Sobre o "neogolpismo das elites" o secretário-geral explica: "As elites ricas, onde hoje não controlam o Executivo, voltaram a ter no Parlamento Nacional seu principal ponto de sustentação institucional. Além disso, através da poderosa mídia privada, seu principal guia ideológico e voz junto ao povo, elas continuamente instigam a opinião pública contra os governos populares".
A decisão brasileira de punir o Paraguai para premiar a Venezuela é tributária dessa visão de mundo. Uma é inseparável da outra.
SERGIO FAUSTO, DIRETOR EXECUTIVO DO iFHC; É MEMBRO DO GACINT-USP. E-MAIL: SFAUSTO40@HOTMAIL.COM -

Intervencao nos assuntos internos de outros paises: Lula reincidente

O ex-presidente, quando presidente, imiscuiu-se em todas e cada uma das eleições ocorridas na região, além de ir além dela, na vergonhosa operação conduzida em Honduras. Quanto a Chávez, ele recebeu o apoio de Lula em todas as ocasiões e circunstâncias, até antes de tomar o poder, talvez para pagar apoio anterior ao seu partido.
Em todo caso, é lamentável que isso ocorra.
Paulo Roberto de Almeida 

Oposição venezuelana chama Lula de 'mercador' e critica apoio a Chávez

BBC Brasil,  7 de julho, 2012 - 21:06 (Brasília) 00:06 GMT
Lula e Chávez | Crédito da foto: AP
Para oposição venezuelana, apoio de Lula a Chávez foi ato de desespero.
A oposição venezuelana fez duras críticas neste sábado ao apoio expressado pelo ex-presidente Lula a Hugo Chávez, às vésperas das eleições presidenciais do país, marcadas para outubro.
Em nota, a coalizão de partidos opositores na Venezuela, a Mesa de Unidade Democrática (MUD) classificou as palavras do ex-presidente brasileiro de "infelizes", comparando-as às de um "mercador".
"O Brasil é um grande país e os brasileiros um grande povo. Não o julgamos (Lula) por essas palavras infelizes que mais que de um estadista, parecem com as de um mercador", disse a nota.
A crítica fazia alusão às declarações de solidariedade que Lula transmitiu a Chávez na última sexta-feira em um vídeo gravado durante o término do 18º Fórum de São Paulo, realizado em Caracas, capital da Venezuela.
"Chávez, conte comigo, conte com o PT, conta com a solidariedade e apoio de cada militante de esquerda, de cada democrata e de cada latino-americano. Tua vitória será nossa vitória", disse Lula no vídeo.
Edmundo González, membro da comissão internacional da coalizão opositora, afirmou à imprensa venezuela que o apoio do ex-presidente brasileiro causou mal-estar entre a oposição do país. Segundo ele, as palavras de Lula pareciam ter sido proferidas "por um agente comercial meloso, e não por um ex-governante".
"De verdade, deu pena vê-lo (Lula) prestar-se a esse papel, que revela mais interesse do que amor (à política)", afirmou González.

Crítica

O deputador opositor Juan Carlos Caldera fez coro com González e disse que apoio de Lula foi uma "intromissão" nos assuntos venezuelanos.
Ele afirmou ainda que a atitude do ex-presidente brasileira revela o "desespero" de Chávez.
"O ex-presidente Lula não está no registro eleitoral dos venezuelanos. Ele não vai decidir a eleição presidencial. Quem vai fazê-lo são os venezuelanos e qualquer ato de solidariedade que tenha com Hugo Chávez ficará para a história, uma vez que ele (Lula) terá de se retratar com o perdedor", disse Caldera.
Depois de destacar "o respeito à soberania e aos venezuelanos", Caldera também criticou o apoio dado a Chávez por políticos de esquerda de diferentes países reunidos em Caracas para o 18º Fórum de São Paulo.
"Foi um ato de campanha do Partido Socialista Unido da Venezuela (partido de Chávez) e um compromisso claro do presidente com uma agenda comunista que nós, venezuelanos, vamos rechaçar no dia 7 de outubro", acrescentou Caldera.
Cerca de 19 milhões de venezuelanos devem comparecer às urnas nesta data para eleger o novo presidente do país.
Chávez, que está no poder desde 1999 e se recupera de um câncer, lidera entre os sete nomes de seu partido para concorrer à reeleição. O único candidato opositor é Henrique Capriles, de 39 anos, da MUD.

Maldita borracha - uma novela biografica de Vargas Llosa

A borracha está no centro das piores tragédias da passagem para o século XX, tanto no Congo (não belga, mas do rei belga), quanto no Peru, e provavelmente também no Brasil, mais especificamente no Acre, antes e depois de Rio Branco. Vargas Llosa captura o sentido dramático do engajamento na causa humanitária, e depois no envolvimento na causa irlandesa, por um herói trágico.
Paulo Roberto de Almeida 

Latin American fiction

A tragic hero’s tale

IN 1884 Roger Casement, an ascetic young Ulsterman, joined an expedition up the Congo river led by Henry Morton Stanley, believing that commerce, Christianity and colonialism would emancipate the dark continent. When he left Africa 20 years later, Casement was the leading figure in an international campaign to denounce the abuses committed by the Congo’s Belgian colonisers. As British consul, he published a report that detailed how the African population were beaten and mutilated to force them to supply rubber for export to Europe.
When news reached London that the rubber boom had prompted a similar reign of terror against the indigenous population in Putumayo, in the Peruvian Amazon, the British foreign secretary sent Casement to investigate with the words: “You’re a specialist in atrocities. You can’t say no.” His findings prompted the collapse of the Peruvian Amazon Company, the London-registered firm responsible. Casement was knighted, and the Times hailed him as “a great humanitarian”.
A passionate man of complex character, Casement is a tailor-made protagonist for Mario Vargas Llosa, a Peruvian writer who won the Nobel prize in literature in 2010. “The Dream of the Celt” is a meticulously researched fictional biography and a clever psychological novel.
Casement’s fame quickly turned to notoriety. Only a few years after his lauded success in Peru he was hanged in London’s Pentonville prison as a traitor. Having transferred his thirst for justice to the fight for Irish independence, he sought German military support for the cause during the first world war. Casement was caught in 1916 on an Irish beach during a foiled attempt to land 20,000 German rifles. His British captors sought to besmirch further his name by circulating diaries in which he detailed homosexual encounters with young men on several continents.
The strongest passages in the book are those in which the author skilfully interweaves scenes in Pentonville prison with details of Casement’s earlier life to trace the evolution of Casement’s consciousness. “The Dream of the Celt” is a moral tale. It is about the choice between denial or denunciation in the face of evil, and the fine line between activism and fanaticism. That makes an old story strikingly contemporary.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...