sexta-feira, 12 de abril de 2013

BRICS demais, bricks de menos... - Dani Rodrik

O que o mundo precisa dos Brics?


Por Dani Rodrik

Em 2001, Jim O'Neill1, do Goldman Sachs, cunhou celebremente o termo Bric para referir-se às quatro maiores economias em desenvolvimento - Brasil, Rússia, Índia e China. Mais de dez anos depois, no entanto, o único fator em comum desses países é que são as únicas economias entre as 15 maiores do mundo (ajustadas pela paridade do poder de compra) a não fazer parte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Os quatro países têm estruturas econômicas muito diferentes: Rússia e Brasil baseiam-se nas commodities; a Índia, no setor de serviços; e a China, na indústria. Brasil e Índia são democracias, enquanto China e Rússia, definitivamente, não o são. E, como escreveu Joseph Nye2, a Rússia é uma superpotência em declínio, enquanto a China e (em menor medida) os outros dois estão em ascensão.
Ainda assim, em um raro caso em que a vida imita a imaginação, os Brics (os quatro originais mais a África do Sul, que passou a fazer parte do grupo posteriormente) formaram um grupo real entre eles, com encontros periódicos e iniciativas comuns de política econômica. A ideia mais ambiciosa até agora é a criação de um banco de desenvolvimento do grupo.
 Em sua reunião em Durban, em março, os líderes dos cinco países anunciaram que seu "Novo Banco de Desenvolvimento" vai ter foco em investimentos em infraestrutura de países em desenvolvimento, que, segundo eles, veem-se limitados por "investimentos externos diretos e financiamentos de longo prazo insuficientes". Eles comprometeram-se a fazer uma contribuição inicial de capital ao banco que seria "substancial e suficiente para o banco atuar no financiamento à infraestrutura".
Uma segunda iniciativa anunciada em Durban foi a criação de uma linha de crédito contingente de reserva de US$ 100 bilhões para lidar com "pressões de liquidez de curto prazo".
O fato de as maiores economias em desenvolvimento do mundo conversarem periodicamente e estabelecerem iniciativas comuns só pode ser motivo de aplausos. Ainda assim, é decepcionante que tenham escolhido o financiamento à infraestrutura como foco para sua primeira grande área de colaboração conjunta.
Essa abordagem representa a ideia de desenvolvimento econômico dos anos 1950, que há muito foi substituída por uma perspectiva mais diversificada, que aborda a multiplicidade de limitadores - desde a baixa governança até as falhas do mercado - cujo grau de gravidade varia de país a país. Seria até possível dizer que a economia global de hoje sofre de financiamento demais entre fronteiras e não de menos.
O que o mundo precisa dos Brics não é mais um banco de desenvolvimento, mas uma maior liderança quanto às grandes questões mundiais do momento. Os Brics são lar de cerca da metade da população e de grande parte do potencial econômico não explorado no mundo. Se a comunidade internacional deixar de enfrentar seus desafios mais graves - desde a necessidade de uma arquitetura econômica mundial sólida até as mudanças climáticas - os que vão pagar o maior preço serão os Brics.
Até agora, no entanto, esses países desempenharam um papel bastante tímido e pouco criativo nos fóruns internacionais, como o Grupo dos 20 (G-20) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Quando declararam alguma posição, foi em grande parte em busca de interesses nacionais estreitos. Será que eles realmente não têm nada de novo a oferecer?
A economia mundial até agora operou sob um conjunto de ideias e instituições que emanaram dos países avançados no Ocidente. Os Estados Unidos deram ao mundo a doutrina do multilateralismo liberal baseado em regras - um regime cujos vários defeitos acabam por destacar os nobres princípios segundo os quais o sistema funcionou em termos gerais. A Europa trouxe os valores democráticos, solidariedade social e, apesar de todos seus problemas atuais, o feito mais impressionante de engenharia institucional do século, a União Europeia.
Essas velhas potências, contudo, não têm a legitimidade nem o poder para sustentar a ordem global no futuro, enquanto as novas potências ascendentes ainda precisam demonstrar que valores vão articular e promover. Elas precisam desenvolver seu ponto de vista sobre uma nova economia global, um ponto de vista que vá além das queixas sobre sua estrutura de poder assimétrica. Infelizmente, ainda não está claro se elas estarão propensas a ir além de seus interesses imediatos para enfrentar os desafios em comum do mundo.
A experiência com seu próprio desenvolvimento torna países como China, Índia e Brasil avessos ao fundamentalismo de mercado e defensores naturais da diversidade institucional e da experimentação pragmática. Eles podem aproveitar essa experiência para articular uma nova história global que enfatize a economia real acima das finanças, a diversidade política acima da harmonização, a esfera da política nacional acima das restrições externas e a inclusão social acima do elitismo tecnocrático.
Mas precisam deixar de ser suplicantes e agir como verdadeiros líderes, compreender que os demais, incluindo também os países avançados, deparam-se com problemas que algumas vezes exigem políticas que coloquem sua economia doméstica em primeiro lugar. E os Brics precisam trabalhar para manter os princípios fundamentais que serviram tão bem à economia mundial - e a eles próprios - tão bem nos últimos 60 anos: multilateralismo e não discriminação.
Em última análise, porém, os Brics também precisam ser líderes dando o exemplo. As práticas de direitos humanos na China e Rússia, assim como a supressão da oposição política são incompatíveis com a nova liderança mundial. Esses regimes autoritários precisam reformar-se dentro de casa se quiserem exercer qualquer tipo de reivindicação moral no exterior.
Dani Rodrik professor de Economia Política Internacional na Universidade de Harvard, é autor de "The Globalization Paradox: Democracy and the Future of the World Economy (O paradoxo da globalização: a democracia e o futuro da economia mundial).

Margareth Thatcher e o euro - Jorge Costa

In memoriam: Thatcher, o euro e a devastação  
Jorge Costa, Jornalista
Negócios on-line, 12 Abril 2013

Margaret Thatcher sobe ao poder em 1979 e anuncia: "Não sou um político de consensos, sou de convicções". Depois foram 12 anos de demonstração do que isso queria dizer, com uma intensidade e consistência talvez sem paralelo. Uma estadista cuja principal marca era o rigor doutrinário? Não só. O que fez dela o ser memorável que agora lembramos foi também o seu extremo pragmatismo, isto é, uma agudíssima capacidade de compreender a realidade e agir em consequência. Os termos parecem antitéticos. Salvo se estivermos perante Margaret Thatcher: uma estadista excepcional.
Ser pragmático quer dizer que também se pode perder em toda alinha. Basta que o entendimento da realidade, com a noção dos perigos que ela comporta, esteja em choque com o dos pares e, além disso, se conserve pela verdade e as fronteiras do inegociável mais cuidado do que amor pelo poder. Thatcher foi a primeira vítima do euro. Por ele não perdeu a alma nem o juízo. Mas perdeu o controlo do partido conservador e acabou por sair.

Thatcher opunha-se radicalmente à ideia de União Económica e Monetária (UEM). Em entrevista a Robert Lenzner, da Forbes, já retirada, em 1992, explica como Maastricht, ao dar o salto de uma comunidade de mercado para uma união política ameaçaria de morte a democracia inglesa: "Sob Delors, 80% das decisões económicas da Grã-Bretanha serão tomadas em Bruxelas". Nem pensar. A Inglaterra nunca entrou, mas a resistência de Thatcher ao consenso que se começava a formar no país a favor da entrada ditou o fim da sua carreira política.

O que hoje mais nos interessa foi o que aconteceu pouco antes desse fim. No Verão de 1990, recorda Thatcher no primeiro volume das suas autobiografias, "Downing Street Years" (1993), ela ainda acalenta a esperança de convencer os restantes 11 países da CEE do desastre que a todos espera do lado de lá do salto para União Monetária. Explica a John Major, seu ministro das Finanças, acomodatício e favorável a um tratado que contemplasse a possibilidade de cada um decidir entrar ou ficar de fora, que não. "Rejeitei isso. Disse-lhe que seria psicologicamente errado pormo-nos numa atitude mental em que aceitássemos a inevitabilidade do passo em direcção à UEM, em vez de atacarmos o conceito na íntegra". Como? "Tínhamos argumentos que poderiam persuadir tanto alemães – que ficariam preocupados com o enfraquecimento das políticas anti-inflacionárias – como os países mais pobres – a quem se deve dizer que não serão salvos das consequências da moeda única, que devastará, em consequência, as suas economias ineficientes" (realce meu).

É na já referida entrevista, de 92, fresca ainda a tinta do tratado, que Thatcher elabora melhor o que, aparentemente, só para ela era uma evidência: "Todas as taxas de câmbio fixas acabaram por ruir. Estamos em diferentes níveis de desenvolvimento económico. Alguns países, pura e simplesmente não conseguirão estar à altura das exigências de uma moeda única. Esta acabaria por significar subsídios suplementares maciços da nossa parte ou maciços movimentos migratórios deles para os nossos países". Thatcher sabia o que era, e levava a sério, a teoria das zonas monetárias óptimas.

Portugal, duas décadas depois. O diferencial de inflação que a economia portuguesa acumulou, entre 1995 e 2012, em relação à Alemanha traduziu-se numa apreciação de 31,3%. A perda de competitividade expressa nessa tendência díspar dos preços relativos, sem mecanismos de reequilíbrio cambial, devastou literalmente a competitividade externa do país. Endividado para além de todos os limites razoáveis e condenado a uma desvalorização interna alternativa, afunda-se numa depressão, cujas consequências estão ainda longe de estar totalmente materializadas. As maciças transferências do Norte revestem a forma – até ver – de créditos do Bundesbank e pacotes de resgate. A emigração acelera.

Thatcher não convenceu e saiu vencida. Agradeço-lhe quase tudo. Inclusive a coragem de ter lutado até perder. Tenho a certeza de que ainda não percebemos a dimensão da derrota, dela e nossa. A ela desejo-lhe paz. E a nós que não nos percamos no cansaço da aprendizagem pela devastação.

Brazilian grad student researchers needed - Research in US archives

Subject: FUNDS: Brazilian grad student researchers needed
From:  "Felipe Fernandes Cruz" <ffcruz85@gmail.com>
Date:   April 11, 2013

A Brazilian governmental organization will be conducting research at a variety of US archives this coming fall. We need a team of graduate student researchers to help find, sort and digitize a large amount of documents from the US National Archives and various presidential libraries.
At the moment, we are looking to hire eight Brazilian grad students to aid in this project. While specifics of this research project are still being worked out, most of the work should be done in the fall of 2013.
While a definite amount cannot be guaranteed at the moment, as it is pending bureaucratic approval, remuneration should include the salary for an equivalent teaching appointment in a Brazilian university, plus a Capes fellowship, plus per diem. All travel and lodging expenses will be
covered.
Here are some requirements:
- Must be a Brazilian citizen
- PhD Candidate preferred (but MA students are also encouraged to apply)
- Must be able to travel in the fall 2013 (students in Atlanta, Boston, Albany NY, Abilene KS, Los Angeles, Austin TX and Washington DC could get appointments to work in their current location)
- Historians are preferred, but any candidate with good archival research experience is welcome to apply. Experience in the US national archives and presidential libraries would be a plus.
- Due to the sensitive nature of the research, researchers must sign a non disclosure agreement and agree to work within the guidelines of our data security plan.
If you are interested, please email me at ffcruz85@gmail.com - include an attached CV, a brief statement of your availability in the fall and your archival research experience (what archives, what type of documentation and for what period).
Due to the sensitive nature of the project, more details will only be furnished over a phone interview, after signing a standard non-disclosure agreement.
Best regards,
Felipe Fernandes Cruz
PhD Candidate
History Department
The University of Texas at Austin

Programa Minha Casa, Meu Desespero; fazendo agua...

VALE MOFO

 
Dilma manda pôr cerâmica em imóvel do Minha Casa, Minha Vida
SHEILA D'AMORIM - VALDO CRUZ/BRASÍLIA

        O governo Dilma estuda conceder um "vale-cerâmica" às famílias que receberam imóveis a custo praticamente zero na primeira fase do programa Minha Casa, Minha Vida, medida que pode atingir mais de 400 mil unidades. 
        A determinação veio da própria presidente Dilma Rousseff, após ela constatar que as residências não dispunham de revestimento cerâmico em todos os cômodos. Editoria de Arte/Folhapress
        As regras em vigor no lançamento do programa não exigiam a instalação de cerâmica em todo imóvel destinado a família com renda até R$ 1.395, mas apenas nas áreas molhadas, como banheiro e cozinha. Nessa situação estão 418.969 imóveis, contratados de 2009 a 2010.
        Agora, técnicos da Caixa e dos ministérios das Cidades e da Fazenda analisam como cumprir a ordem presidencial, viabilizando a colocação de cerâmica em todos esses imóveis, inclusive nos já entregues. Ainda não há estimativa de custo e muitos problemas foram levantados.
A ideia inicial era que as construtoras fizessem o serviço e fossem remuneradas pelo governo com um acréscimo no valor do contrato original.
        Mas se questiona essa solução por causa dos transtornos para as famílias que já residem nos imóveis e também por dificuldades técnicas.
Foi sugerido, então, que o governo adquirisse o material e o entregasse às famílias.
Aí o problema apontado é que muitas já fizeram o serviço por conta própria e não precisam mais do piso.
        A proposta que vem ganhando mais força na área técnica é criar uma espécie de vale que cubra o custo de instalação das cerâmicas. Ele seria entregue a todas as famílias que já moram no imóvel.
        Para as unidades ainda em construção -estima-se que sejam apenas cerca de 50 mil-, as próprias construtoras providenciarão a colocação do revestimento.
        CUSTO MENOR
        Na primeira fase do Minha Casa, sob Lula, o governo decidiu não exigir cerâmica em todos os cômodos a fim de baratear a construção dos imóveis que são bancados a fundo perdido pela União (as famílias beneficiadas pagam apenas um valor simbólico).
        Essa regra foi alterada em 2011, quando, já no governo Dilma, foram aprovadas as exigências para a construção de mais 2 milhões de imóveis, na segunda fase do programa.
        A decisão da presidente de rever o padrão estabelecido para os imóveis que foram contratados antes da mudança nas normas foi tomada após visita, no início deste ano, a um conjunto habitacional do programa.
        Ela foi levada a uma unidade preparada para receber a comitiva oficial, com cerâmica em todos os cômodos.
        O que os organizadores do evento não contavam era que a presidente pediria para ver o resto do conjunto habitacional e iria se surpreender ao comparar a qualidade das diferentes unidades.
        INDIGNAÇÃO
        Dilma reagiu indignada e exigiu que todos os imóveis tivessem aquele padrão mais elevado. Aí começou a dor de cabeça dos técnicos do governo e das construtoras.
        O problema é que, dos 936.608 imóveis contratados dentro do Minha Casa 1, 418.969 foram destinados a famílias de renda até R$ 1.395, que, por não terem condições financeiras, recebem as unidades praticamente de graça.
        Nesse universo, 268.621 foram entregues e as famílias já moram nos imóveis.
        Para complicar ainda mais, das 150.348 unidades que não foram entregues ainda, a grande maioria já está pronta, faltando apenas desenrolar questões burocráticas, como registro em cartório, ou a instalação de energia e água para serem distribuídas.

Brasil recua no comercio internacional (posicao sempre foi modesta)

Brasil perde espaço no comércio internacional, mostra OMC
Por Assis Moreira
Valor Econômico, 12/04/2013

GENEBRA - Relatório da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostra que o Brasil perdeu espaço no comércio mundial. O país foi atingido nas exportações pela menor demanda global e nas importações pela desaceleração da economia e proteção adotada pelo governo.

Em termos reais, ou seja, no volume do comércio, as exportações brasileiras de mercadorias caíram 1,2% em 2012, comparado a crescimento de 3,1% em 2011 em relação ao ano anterior.

Por sua vez, as importações brasileiras caíram 2,1% em volume, ante a alta de 8,5% importado em 2011.

Essa situação é mais negativa quando se leva em conta que as exportações mundiais cresceram 2,1% e as importações subiram em 1,9% em volume - nos dois casos, menos do que o crescimento em volume de 5,1% do ano anterior.

As exportações brasileiras vêm sofrendo o impacto da menor demanda de matérias-primas da China, que por sua vez não pode exportar no mesmo ritmo para mercados em recessão, como os da União Europeia.

Em valor, a posição do Brasil como grande exportador de commodities também sofreu. Afora petróleo, os preços de commodities em geral declinaram em 2012, derrubando os ganhos do país.

Assim, em valor as exportações brasileiras também caíram mais do que a média mundial em 2012. Enquanto as trocas globais baixaram 2%, as exportações brasileiras declinaram 5% em relação ao ano anterior. O país ficou na 16ª posição entre os exportadores e sua fatia na exportação global caiu de 1,8% para 1,7%.

Do lado das importações, em valor, o Brasil também perdeu terreno, caindo uma posição para 16ª. O montante das compras externas, de US$ 233 bilhões, foi inferior em 2% ao ano anterior.

A expectativa na OMC é de que os preços das commodities em geral vão se estabilizar este ano, portanto freando a queda registrada no ano passado nos resultados do comércio.

Com relação ao comércio de serviços, as exportações brasileiras aumentaram 5% e as importações 7% em valor - muito abaixo dos crescimento de 20% do ano anterior.

Entre os Brics, sempre levando-se em conta resultado em valor, somente a África do Sul teve pior desempenho que o Brasil, com queda de 11% nas exportações. A China aumentou suas vendas em 8% e manteve-se como a principal nação comerciante com US$ 2,049 trilhões.

A Índia e a Rússia também exportaram mais que o Brasil em valor, o primeiro com US$ 293 bilhões e o segundo com US$ 529 bilhões. As vendas brasileiras alcançaram US$ 243 bilhões.

As exportações do Mercosul caíram 4% em valor as importações 3%. Já países da Ásia mantiveram as vendas com alta de 1% e as importações aumentando 6%.

Revista Moncoes: numero especial sobre politica externa brasileira (artigo de P.R.Almeida)

Com um artigo deste blogueiro:


 Publicada na Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD
(MS: Universidade Federal da Grande Dourados; vol. 1, n. 2, jul.-dez. 2012, p. 40-51; ISSN: 2316-8323)
Link para o número da revista:  http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/moncoes/issue/view/93/showToc
Relação de Originais: n. 2418; Publicados n. 1085.

Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD, Dourados.
(http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/moncoes/issue/view/93/showToc).
Vol. 1, No 2 (1)

O Brasil no Mundo: a política externa brasileira em debate

Sumário
Expediente v. 1, n.2 – jul./dez. 2012, I-II

Apresentação do Dossiê
Brasil no mundo: a política externa brasileira em debate.
Tomaz Espósito Neto, 4-6

Palestras ou Conferências
Conferência de Abertura do V Encontro de Estudos da Realidade Brasileira promovido pelo POLITHICULT/PUC-SP de 10 a 12 de Setembro de 2012 - “O BRASIL E A SEGUNDA GUERRA: 70 ANOS DEPOIS”
Oliveiros Silva Ferreira, 7-18

Entrevista
Entrevista com o Professor Dr. André Luiz Reis da Silva (UFRGS), 19-23

Artigos Dossiê - Brasil no mundo: a política externa brasileira em debate.
O Brasil e a Bacia do Prata: interesses e divergências
Shiguenoli Miyamoto, 24-39
Uma grande estratégia para o Brasil: elementos propositivos
Paulo Roberto Almeida, 40-51
Forças Armadas e Relações Internacionais no Cone Sul
Carlos Eduardo Riberi Lobo, 52-66
Cooperação Sul-Sul e desenvolvimento integrado como diretrizes da política externa brasileira: uma análise do plano de ação conjunta Brasil-China
Alexandre César Cunha Leite, 67-85
A política externa brasileira para o FMI no nacional desenvolvimentismo
Rodrigo Oliveira De Lima, 86-95
As relações do Brasil com os países Sul-americanos nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Lula (1995-2010): “hegemonia consensual” e seus limites
Fábio Borges, 96-117
A política externa brasileira para o meio ambiente: antecedentes e evolução da agenda até a RIO+20
Rodolfo Ilário Silva, 118-139
De Receptor a Doador: Os desafios da cooperação para o desenvolvimento na política externa brasileira sob a ótica da relação estado/sociedade civil
Rui Mesquita Cordeiro, 140-163
Ideias e Política Externa Brasileira: uma tênue relação na nova república
Lucas Mesquita, 164-187

Artigos
Lições metodológicas para o estudo das relações bilaterais do Brasil
Thiago Gehre Galvão, 188-212
A política de direitos humanos do Brasil e da África do Sul: o vínculo entre os fatores domésticos e a política externa
Danielle Costa da Silva, 213-235

A “Ascensão do Resto” e o Declínio dos Estados Unidos: Ansiedades e Perspectivas
Gustavo Mendonça, 236-257
A União Europeia e o Acervo de Schengen: entre a evolução criativa e a fragmentação destrutiva
Marc Antoni Deitos, 258-271

Globalização e Identidade: Questões de Fronteira
Valdir Aragão do Nascimento, 272-283
Brasil e mediação de conflitos internacionais: um debate teórico para a construção do poder do Estado no século XXI
Danielle Jacon Ayres Pinto, 284-303

Resenhas Bibliográficas
Resenha - Política Externa Brasileira: a busca da autonomia, de Sarney a Lula
PDF
Reinaldo Alencar Domingues, 304-307

Banco de Resumos, 308-328

Edição Completa
Acesso à Edição Completa v.1, n.2 jul./dez. (2012)
PDF

Comissao da Verdade descumpre a lei - Marco Antonio Balbi

COMISSÃO DA VERDADE DESCUMPRE A LEI
Marco Antonio Esteves Balbi
(Recebido em 10/04/2013)

​Com o título acima o cientista político e especialista em assuntos militares Eliézer Rizzo de Oliveira escreveu na página de opinião de jornal de circulação nacional.

​Fiquei entusiasmado. Não era a primeira pessoa que assim se manifestava. Mas, ledo engano, já no primeiro parágrafo a decepção: o autor afirma que o trabalho é muito relevante para “a construção da memória e da verdade histórica do nosso país.” Se este fosse o real propósito, a comissão deveria ser composta por historiadores isentos e não por ideólogos, todos com pretéritas relações com aqueles que lutaram pela implantação de uma ditadura nos moldes da cubano-sino-soviética.

​Após analisar alguns artigos da lei, o autor vai ao âmago da questão: a comissão não poderia, através de uma resolução, alterar a abrangência do universo dos que devem ser ouvidos, restringindo-se aos agentes do estado. Se apenas para ampliar o número de assessores foi necessário um decreto presidencial, uma limitação do quilate da estabelecida não poderia ter sido tomada por uma medida administrativa!

​Após exemplificar com os sempre citados países onde ocorreram trabalhos semelhantes, o autor aborda a necessidade de se dar publicidade aos atos praticados pelos guerrilheiros, terroristas, bandidos etc.

Entretanto, ao abordar a atuação dos agentes do Estado, o autor comete um grave equívoco. Transcrevo: “O que é mais conhecido é a repressão policial e militar - ilegal sempre, clandestina com frequência.” Na realidade não houve repressão, mas sim uma reação, até tardia e difícil, pois os agentes do estado foram surpreendidos por aquele tipo de guerra e não estavam preparados para ela. O treinamento, o adestramento foi no desenrolar dos acontecimentos. Ilegal? De jeito nenhum. Não deveriam reagir? Permitiriam a implantação da ditadura do proletariado? Clandestina muita das vezes, posto que é assim que se luta aquele tipo de guerra. Estranhas afirmações para um especialista em assuntos militares.

Prossegue: “Estruturas estatais foram criadas ou adaptadas para reprimir e matar, métodos provenientes do exterior associaram-se a práticas nacionais de tortura contra pessoas detidas e imobilizadas.” Realmente, após vários insucessos nas áreas de inteligência e operacional, houve necessidade de se criar estruturas que pudessem responder à nova situação. Mas, soluções nacionais, sem similares estrangeiros, e que muitas persistem até os dias atuais. O que vem a ser os centros de operação hoje praticamente existente em todas as cidades de porte médio e grande do país? Quanto ao matar, bem professor, quando se entra em combate, muita das vezes você tem que optar entre matar ou morrer.

O parágrafo seguinte do artigo é lastimável. Eleva o total dos “crimes” cometidos aos milhares (?), compara a atuação das forças do Estado ao nazismo(?) e afirma que os militares que dela participaram desonraram a farda(?) e que a honra militar só foi recomposta com o fim do regime de exceção. Militar, professor, como o senhor bem sabe, cumpre as ordens e os regulamentos. Achei o seu discurso estranhíssimo. Não sei em que dados ou fatos o senhor se baseou para chegar a estas conclusões.

Mas, alvíssaras, o articulista acerta na mosca ao final. “O motivo da Comissão da Verdade adotar a investigação unidirecional e ilegal é político: a perspectiva de revisão da anistia, objetivo estratégico do III Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), com o propósito de julgar e punir agentes públicos da repressão. Pois não seria válida a Lei da Anistia nos termos da Justiça de Transição e de deliberações judiciais internacionais.”

Aí está, pois, a conclusão que muitos outros analistas têm observado. Encontra-se em oportuna tramitação na Câmara dos Deputados, o projeto de lei de autoria da deputada petista Luiza Erundina que trata especificamente de alterar artigo da lei, retirando do guarda-chuva protetor os agentes do Estado, mantendo o status quo dos terroristas, guerrilheiros, sequestradores etc. Estes já foram beneficiados, inclusive, com polpudas indenizações pecuniárias, que em muito oneram os cofres públicos e manteriam suas condições de anistiados.

Lastimo que o cientista e especialista tenha apresentado uma opinião tão distorcida para os leitores. Mas, concordo com ele: o trabalho da Comissão da Verdade é ilegítimo, pois descumpre a lei que a criou.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...