quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: um Itamaraty verde? Marina Silva como "chancelera" de Aecio? A ver...

Já ouvi todos os tipos de boatos sobre um futuro governo Aécio Neves, inclusive que Joaquim Barbosa seria seu ministro da Justiça.
Esta ainda não tinha ouvido, e penso que não tem fundamento, a acreditar na falta de crédito do jornalista (ops!), mas para cada notícia, ou fofoca, tem de haver algum fundamento, sob risco de perda de crédito total...
Paulo Roberto de Almeida

TERÇA, 07/10/2014, 09:15

Por apoio no segundo turno, PSDB sinaliza convite a Marina ao Ministério das Relações Exteriores

Kennedy Alencar, CBN
 
Se eleito, a ideia de Aécio Neves é que a ex-senadora seja uma espécie de chanceler verde do Brasil. Além disso, o Itamaraty daria menos foco ao Mercosul para negociar mais com os EUA e a União Europeia, diferentemente do PT.
A ideia do PSDB é que Marina lidere a diplomacia verde do Brasil no mundo. Com Aécio e Marina, o Itamaraty daria menos foco ao Mercosul e mais a tentativas de negociar em blocos com os Estados Unidos e a União Europeia.
No entanto, Aécio e Marina ainda decidem sobre fim da reeleição, proposta da candidata do PSB que seria condição para apoio a Aécio.
Já Dilma se reúne com políticos aliados em Brasília e tenta reforçar sua candidatura na região Sudeste, que reúne os maiores colégios eleitorais do país. No Rio de Janeiro, Michel Temer conversou com Pezão e pediu apoio a Dilma, numa tentativa de evitar a chapa “Aezão”. Em São Paulo, a situação é mais complicada. Haverá uma reunião de prefeitos do PMDB e do PT – partidos adversários na eleição estadual - para tentar afinar parceria. Em Minas Gerais, a responsabilidade vai ficar com Fernando Pimentel (PT), governador eleito no primeiro turno, já que Aécio tenta virar o jogo em seu estado.
Marina Silva durante debate da TV Globo (Crédito: Marcelo Carnaval / Agência O Globo)Marina Silva durante debate da TV Globo
(Crédito: Marcelo Carnaval / Agência O Globo)
duração: 03:50

Leia mais: http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/kennedy-alencar/2014/10/07/POR-APOIO-NO-SEGUNDO-TURNO-PSDB-SINALIZA-CONVITE-A-MARINA-AO-MINISTERIO-DAS-RELACOES-E.htm#ixzz3FWRJtIhc

Bibliografia seletiva (e pessoal) sobre RI e PExt do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Contendo, inclusive, diversas análises sobre a diplomacia companheira, a começar por este último artigo, de onde, aliás, retirei esta bibliografia:

A política externa companheira e a diplomacia partidária: um contraponto aos gramscianos da academia, por Paulo Roberto de Almeida

Lista seletiva de trabalhos do autor sobre política externa do Brasil:

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: coisas bizarras na Republica Degenerativa da Companheirada

Não estou acusando a Justiça Eleitoral, não estou contestando o processo de votação, mas desde o domingo 5, logo pela tarde, comecei a ler relatos sobre problemas que ocorreram com vários eleitores, de dois tipos:
1) Eleitores foram votar e descobriram que alguém já tinha votado por eles antes; pode ter sido engano do presidente da mesa e dos mesários que examinaram os documentos e podem ter digitado errado, e o "eleitor" substituto não reparou, ou preferiu não fazer nada; mas também pode ter sido fraude deliberada: afinal de contas, poucos dias antes das eleições, a polícia prendeu um sujeito em GO que tinha mais de 30 títulos falsos consigo. O mesmo pode ter ocorrido em outras circunstâncias e com outros "eleitores" fantasmas.
2) Eleitores foram votar e depararam com uma urna eletrônica rebelde: ditavam um número, aparecia outro, ou simplesmente não confirmava, mas dava por encerrado o processo. Curioso que eu não vi nenhuma reclamação de algum petista reclamando que fez o 13 e deu o 45, ou 40, mas ouvi, ou li, vários casos de gente que colocou 45 e deu 13. Deve ser uma mania dessas urnas.
Abaixo um dos relatos colhidos ao acaso, mas eu li algumas dezenas de outros nos últimos 3 dias.
Suprimi os nomes aqui, mas tenho os registros dos demais casos...
O caso vai passar sem investigação?
Paulo Roberto de Almeida

[A C L] Estou chegando do Cartório eleitoral, no Jardim Botânico. Estou INDIGNADA, IRRITADA, COM GANA DE ESTAPEAR ALGUÉM POR TANTA INDIGNAÇÃO. VOTEI NO AÉCIO E NÃO APARECEU A FOTO E NEM O NÚMERO DELE. APARECEU IMEDIATAMENTE A FAIXA DE PREENCHIMENTO TIPO DOWNLOAD E DEU COMO ENCERRADA A MINHA VOTAÇÃO. Reclamei e me mandaram para o cartório eleitoral registrar a ocorrência.

  • Essas urnas estão roubando voto, porque soube que um rapaz votou na Marina e aconteceu a mesma coisa, em outra zona eleitoral da zona sul.
     [M F O] No caso, o PSDB divulgou esse comentario (e aconselho você a fazer isso pelo bem do Brasil):

    Caso alguma situação diferente tenha ocorrido com você, por favor, avise o mesário e mande uma mensagem para aeciocampanha2014@gmail.com ou para o Whatsapp (11) 95210-4827, com seu nome e telefone, para fazermos contato.
  • Fukuyama completa sua obra sobre a ordem politica pos-Huntingtoniana (NYT Book Review)


    Global Warning
    Francis Fukuyama’s ‘Political Order and Political Decay’
    By SHERI BERMAN
    The New York Times Book Reviews, September 11, 2014 

    Political Order and Political Decay: From the Industrial Revolution to the Globalization of Democracy
    By Francis Fukuyama
    Illustrated. 658 pp. Farrar, Straus & Giroux. $35.
    In 1989, Francis Fukuyama published an essay in The National Interest entitled “The End of History?” that thrust him into the center of public debate. Although often misunderstood and maligned, its central argument was straightforward and sensible: With the collapse of Communism, liberal democracy stood alone as the only form of government compatible with socio­-economic modernity. Over the years since, Fukuyama has continued to argue the case, and has now summed up his efforts with a two-­volume magnum opus that chronicles global political development from prehistory to the present. A quarter-century on, he remains convinced that no other political system is viable in the long run, but concludes his survey with a sobering twist: Liberal democracy’s future is cloudy, but that is because of its own internal problems, not competition from any external opponent.
    Fukuyama began the first volume, “The Origins of Political Order,” which appeared in 2011, by stating that the challenge for contemporary developing countries was how to “get to Denmark” — that is, how to build prosperous, well-governed, liberal democracies. This, in turn, required understanding what “Denmark” — liberal democracy — actually involved. Drawing on the insights of his mentor Samuel Huntington, Fukuyama argued that political order was all about institutions, and that liberal democracy in particular rested on a delicate balance of three distinct features — political accountability; a strong, effective state; and the rule of law. Accountability required mechanisms for making leaders responsive to their publics, which meant regular free and fair multiparty elections. But elections alone were not enough: A true liberal democracy needed to have its institutions of accountability supplemented by a central government that could get things done and by rules and regulations that applied equally to everyone.
    Fukuyama showed how throughout human history these three factors had often emerged independently or in various combinations. China, for example, developed a state long before any existed in Europe, yet did not acquire either the rule of law or political accountability. India and much of the Muslim world, by contrast, developed something like the rule of law early on, but not strong states (or, in much of the Muslim world, political accountability). It was only in parts of Europe in the late 18th century, Fukuyama noted, that all three aspects started to come together simultaneously.
    “Political Order and Political Decay” picks up the story at this point, taking the reader on a whirlwind tour of modern development from the French Revolution to the present. Fukuyama is nothing if not ambitious. He wants to do more than just describe what liberal democracy is; he wants to discover how and why it develops (or does not). So in this volume, as in the previous one, he covers a vast amount of ground, summarizing an extraordinary amount of research and putting forward a welter of arguments on an astonishing range of topics. Inevitably, some of these arguments are more convincing than others. And few hard generalizations or magic formulas emerge, since Fukuyama is too knowledgeable to force history into a Procrustean bed.
    Thus he suggests that military competition can push states to modernize, citing ancient China and, more recently, Japan and Prussia. But he also notes many cases where military competition had no positive effect on state building (19th-century Latin America) and many where it had a negative effect (Papua New Guinea, as well as other parts of Melanesia). And he suggests that the sequencing of political development is important, arguing that “those countries in which democracy preceded modern state building have had much greater problems achieving high-quality governance than those that inherited modern states from absolutist times.” But the cases he gives as examples do not necessarily fit the argument well (since Prussia’s state eventually had trouble deferring to civilian authorities and the early weakness of the Italian state was probably caused more by a lack of democracy than a surfeit of it). In addition, he surely understands that authoritarianism is even more likely to generate state weakness than democracy since without free media, an active civil society and regular elections, authoritarianism has more opportunities to make use of corruption, clientelism and predation than democracies do.
    Perhaps Fukuyama’s most interesting section is his discussion of the United States, which is used to illustrate the interaction of democracy and state building. Up through the 19th century, he notes, the United States had a weak, corrupt and patrimonial state. From the end of the 19th to the middle of the 20th century, however, the American state was transformed into a strong and effective independent actor, first by the Progressives and then by the New Deal. This change was driven by “a social revolution brought about by industrialization, which mobilized a host of new political actors with no interest in the old clientelist system.” The American example shows that democracies can indeed build strong states, but that doing so, Fukuyama argues, requires a lot of effort over a long time by powerful players not tied to the older order.
    Yet if the United States illustrates how democratic states can develop, it also illustrates how they can decline. Drawing on Huntington again, Fukuyama reminds us that “all political systems — past and present — are liable to decay,” as older institutional structures fail to evolve to meet the needs of a changing world. “The fact that a system once was a successful and stable liberal democracy does not mean that it will remain so in perpetuity,” and he warns that even the United States has no permanent immunity from institutional decline.
    Over the past few decades, American political development has gone into reverse, Fukuyama says, as its state has become weaker, less efficient and more corrupt. One cause is growing economic inequality and concentration of wealth, which has allowed elites to purchase immense political power and manipulate the system to further their own interests. Another cause is the permeability of American political institutions to interest groups, allowing an array of factions that “are collectively unrepresentative of the public as a whole” to exercise disproportionate influence on government. The result is a vicious cycle in which the American state deals poorly with major challenges, which reinforces the public’s distrust of the state, which leads to the state’s being starved of resources and authority, which leads to even poorer performance.
    Where this cycle leads even the vastly knowledgeable Fukuyama can’t predict, but suffice to say it is nowhere good. And he fears that America’s problems may increasingly come to characterize other liberal democracies as well, including those of Europe, where “the growth of the European Union and the shift of policy making away from national capitals to Brussels” has made “the European system as a whole . . . resemble that of the United States to an increasing degree.”
    Fukuyama’s readers are thus left with a depressing paradox. Liberal democracy remains the best system for dealing with the challenges of modernity, and there is little reason to believe that Chinese, Russian or Islamist alternatives can provide the diverse range of economic, social and political goods that all humans crave. But unless liberal democracies can somehow manage to reform themselves and combat institutional decay, history will end not with a bang but with a resounding whimper.

    Sheri Berman teaches political science at Barnard College, Columbia University.

    A version of this review appears in print on September 14, 2014, on page BR1 of the Sunday Book Review with the headline: ‘Political Order and Political Decay’. Order Reprints|Today's Paper|Subscribe


    Eleicoes 2014: a divisao do Brasil, o projeto dos companheiros, enfim realizada (não como eles queriam...)

    O Brasil, como queriam os companheiros, se descobre dividido. Sempre existiram desigualdades regionais e iniquiucanosdades sociais, o Brasil rico e o Brasil pobre, não com essa nitidez, mas num continuum, como ocorre em qualquer sociedade.
    O que os companheiros fizeram foi acenturar as diferenças: nos e eles, as elites e o povo, os pobres e os ricos, os negros e os brancos, os progressistas e os conservadores, nós e os tucanos, enfim, sempre dividindo o país, e insistindo nessas divisões.
    Pois eles conseguiram.
    Agora vai ser preciso unir o país outra vez.
    Paulo Roberto de Almeida


    Um olhar atento para o mapa eleitoral
    Luiz Carlos Azedo

    É grande a ressaca no alto comando petista, que pela segunda vez precisa mudar de tática na campanha eleitoral: a primeira, após a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, quando Marina passou Aécio; a segunda, agora, com o desfecho do primeiro turno, no qual o tucano se recuperou e ameaça abalar o favoritismo de Dilma Rousseff, tomando-lhe o lugar de liderança no segundo turno. À beira de um ataque de nervos, a petista aguarda as primeiras pesquisas dessa semana para saber se Aécio parou de crescer ou não.
    Ontem, estrategistas das duas campanhas se reuniram com os candidatos para fazer um balanço do resultado das urnas e decidir o que fazer. Uma análise prospectiva leva à conclusão óbvia: o resultado das urnas foi melhor para Aécio do que se esperava. Dilma trabalhou na reta final para ganhar a eleição no primeiro turno, mas não atingiu o objetivo porque aconteceu o que parecia impossível: perdeu votos para o tucano. Para quem estava perdendo em Minas Gerais e enfrentou dificuldades para consolidar sua candidatura em São Paulo, Aécio Neves saiu no lucro. E que lucro!
    Em São Paulo, estado no qual o tucano Geraldo Alckmin foi eleito com folga no primeiro turno (57,31% do total de votos) e José Serra teve uma votação consagradora para o Senado (58,49%), Aécio Neves teve 43, 7% dos votos; Dilma, 26,1%; e Marina 23,9%. Dificilmente os votos de Marina migrarão para a petista, sobretudo por causa dos duros ataques que sofreu durante a campanha. A captura desses votos por Aécio pode decidir a eleição a seu favor, caso consiga também reverter a situação eleitoral em Minas Gerais e abrir a porteira do Nordeste, com o apoio do clã Arraes em Pernambuco. Essa é a grande encruzilhada da eleição.
    Dilma venceu em 15 estados, três a menos do que na eleição do ano passado, com destaque para o Piauí, Maranhão e Ceará, onde obteve mais de 70% dos votos. Aécio venceu em nove estados, sendo São Paulo, com 44% dos votos, o determinante para sua ida ao segundo turno. A maior vantagem de Dilma foi na Bahia, com 3 milhões de votos a mais do que Aécio. Em termos político, sua vitória mais expressiva foi a eleição de Fernando Pimentel (PT) em Minas Gerais, terra de Aécio Neves, mas eleitoralmente essa vantagem é muito relativa, por causa da votação apertada em relação ao tucano (43% a 39%), que pode reverter o resultado porque foi para o segundo turno. A mesma situação se repete do Rio Grande do Sul, onde Dilma venceu também por estreita margem: 43% a 41%, com Marina recebendo 12% dos votos.

    Dois Brasis
    Mais uma vez o resultado das urnas mostra um país dividido: o governo tem sua principal base de sustentação nos estados do Norte e Nordeste, com exceção de Roraima e Rondônia, onde Aécio venceu, Acre e Pernambuco, territórios de Marina. Aécio foi vitorioso no Centro-Oeste, com exceção de Tocantins; no Sudeste, graça a São Paulo e Espírito Santo; e no Sul, com exceção do Rio Grande do Sul. Grosso modo, do ponto de vista das alianças, Dilma sustenta a reeleição na aliança com as oligarquias dos estados de menor dinamismo econômico, enquanto Aécio alavanca sua candidatura na classe média dos estados economicamente mais desenvolvidos.
    A política de transferência de renda para as populações mais pobres, que é feita pelas prefeituras municipais, cimenta essa aliança com forte base popular. Do ponto de vista do discurso eleitoral, logo após a apuração dos votos, a presidente Dilma Rousseff ensaiou o discurso do segundo turno, com duros ataques ao governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) e a reedição da estratégia do medo (do desemprego, do arrocho salarial, da perda dos direitos trabalhistas e a reversão dos programas sociais do governo). Essa é a velha cartilha petista contra o PSDB, a polarização ideológica direita versus esquerda e dos pobres contra os ricos, que costuma ser a marca registrada da retórica eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
    Um olhar atento para o mapa eleitoral do país mostra, porém, que o eixo da disputa eleitoral pode ser o moderno contra o atrasado, a social-democracia contra o populismo, a sociedade contra o Estado, a democracia contra o autoritarismo, a Federação contra a centralização, que tende a ser a lógica do discurso de Aécio contra Dilma. Aquele que estiver em mais sintonia com os sentimentos do eleitor levará a melhor.

    Geopolitica: A Nova Desordem Mundial - Victor Pou

    Um importante artigo, realista e ao mesmo tempo acadêmico. Ops, será que os acadêmicos não conseguem ser realistas? Talvez, para sim, e para o não...
    Paulo Roberto de Almeida

    A nova desordem mundial 
    Víctor Pou
    Valor Econômico, 6/0\10/2014

    Víctor Pou é professor do IESE Business School

    Recentemente, completou-se o centenário do começo da Primeira Guerra Mundial, uma tragédia para o mundo e especialmente para a Europa. Embora hoje se argumente sobre a improbabilidade da repetição de uma hecatombe similar, comprova-se com preocupação uma rápida e perigosa deterioração da situação geopolítica mundial. O centro da deterioração não está na Europa, como em 1914, mas em sua vizinhança. Analistas prestigiados veem ecos inquietantes do verão europeu de 1914, diante da magnitude dos conflitos atuais na Ucrânia, Mediterrâneo e Oriente Médio, as áreas geográficas limítrofes com a Europa no leste e no sul.
    O grande paradoxo é que a economia e a política do mundo avançam por caminhos opostos: enquanto a primeira é global há décadas, a segunda retrocede para o tribalismo. O mundo vem se convertendo em um tabuleiro de grande complexidade e o jogo das relações internacionais remete ao equilíbrio de poderes do século XIX e princípios do XX que resultou na Primeira Guerra Mundial.
    De acordo com o presidente do centro de estudos Brookings Institution, de Washington, Strobe Talbott, existe perigo real de conflito entre grandes países. Na sua avaliação, os paralelos entre 1914 e 2014 são preocupantes. Talbott considera que hoje há três fenômentos perigosos: descontentamento mundial com os diferentes sistemas de governança; crescimento de novos nacionalismos radicais e acúmulo de conflitos concretos que ameaçam a estabilidade mundial.
    O veterano diplomata Henry Kissinger acaba de publicar o livro "World Order" (ordem mundial, em inglês), no qual explica a decomposição progressiva da velha ordem mundial estabelecida após a Segunda Guerra Mundial e avisa sobre as enormes dificuldades para tentar construir uma nova, que deveria estar baseada tanto em força quanto em legitimidade. O estrangulamento da velha ordem poderia conduzir a um novo período de anarquia e confrontação.
    É um estrangulamento que acredito já estar em curso, pela ação de quatro forças. A primeira consiste no declínio progressivo dos Estados Unidos (agravado pelos sucessivos erros do presidente Barack Obama na política exterior) e na persistente incapacidade da Europa em assumir um verdadeiro papel global. A segunda é a determinação do islamismo fanático e radical em impor seu totalitarismo em grande escala. A terceira é a estratégia da Rússia de Putin para recuperar espaços territoriais perdidos após o desmoronamento da antiga União Soviética. A quarta é o avanço da China em direção à liderança do mundo, primeiro de caráter econômico e, depois, global. A essas quatro forças, poderíamos adicionar os esforços do Irã para transformar-se em potência militar atômica e líder regional.
    Na avaliação de outros analistas de destaque, como José Ignacio Torreblanca, representante em Madri do centro de estudos European Council on Foreign Relations, as dificuldades que a velha ordem vêm enfrentando têm como foco principal o fator estatal. Por um lado, temos Estados que se desordenam e, por outro, temos Estados que negam a ordem internacional e suas normas, ou seja, que desordenam os demais.
    O primeiro problema, a desestabilização, é o padrão dominante nos conflitos no Oriente Médio. Por trás do denominado Estado Islâmico da Síria e do Iraque esconde-se uma verdade de consequências muito incômodas: na zona em que pretende edificar um califato islâmico, o Estado deixou de existir como forma de organização política e administrativa, dando lugar a uma violência sectária e religiosa de raízes tão profundas quanto difíceis de lidar. Além da Síria e do Iraque, outros Estados ficaram reduzidos a nada, como a Líbia, ou ainda querem nascer, como a Palestina. O segundo tipo de instabilidade provém dos Estados que desordenam ou pretendem desordenar, como Rússia, Irã e China.
    Depois da Segunda Guerra Mundial, o Ocidente fixou as regras da nova ordem mundial e, agora, sequer parece disposto a adaptar essas normas, além de não ter capacidade para impô-las, nem saber como persuadir os demais a aceitá-las, convertendo-se em espectador passivo de seu próprio declínio.
    A capacidade de impacto mundial da União Europeia continua centrada no campo econômico, mas pesa muito menos no político, no militar e no demográfico. Uma Europa ensimesmada, que não consiga assumir um verdadeiro papel global no curto prazo, está condenada à irrelevância no século XXI.
    Na UE abriu-se um novo ciclo, depois das eleições de maio para o Parlamento Europeu, presidido pelo alemão Martin Schulz, e da designação de uma nova Comissão Europeia, presidida pelo luxemburguês Jean-Claude Juncker. Também foram nomeados o novo presidente do Conselho Europeu, o polonês Donald Tusk, e a alta representante de Política Exterior e Segurança Comum, a italiana Federica Mogherini.
    Os principais desafios que se apresentam para os próximos cinco anos certamente são importantes. No plano interno, consistem em recuperar a confiança da cidadania, colocar em ordem a nova arquitetura do euro e evitar tendências centrífugas, como a possível saída do Reino Unido. Em termos internacionais, enfrentar a agressividade da Rússia, desenvolver uma nova política para o Mediterrâneo e Oriente Médio e afirmar-se como parte imprescindível na administração de assuntos globais.
    Os próximos cinco anos serão decisivos na vida da UE. Poderão ser testemunhas de uma reação necessária aos desafios mencionados ou testemunhas da continuidade da marcha rumo a sua própria irrelevância em um mundo cada vez mais desordenado. (Tradução de Sabino Ahumada)

    Projetos de pesquisa em Defesa Nacional: oportunidades para grupos de pesquisa na area de defesa

    Chamada CNPq/Pandiá Calógeras
    Programa Álvaro Alberto de Indução à Pesquisa em Segurança Internacional e Defesa Nacional 
    N º 29/2014

    O Instituto Pandiá Calógeras do Ministério da Defesa e o CNPq lançaram conjuntamente, no dia 06 de outubro de 2014, o Programa Álvaro Alberto de Indução à Pesquisa em Segurança Internacional e Defesa Nacional. A chamada pública tem por objetivo fomentar a pesquisa sobre Segurança Internacional e Defesa Nacional por meio da seleção de propostas para apoio financeiro a projetos de pesquisa sobre temas relevantes para a inserção internacional do Brasil e a gestão da defesa nacional, no campo das ciências humanas e sociais aplicadas, em duas linhas de pesquisa: Entorno Estratégico e Economia da Defesa.

    As duas linhas de pesquisa incluem os seguintes temas prioritários:

    Entorno Estratégico

    • A defesa nas fronteiras terrestres da América do Sul: o processo de integração regional sul-americana e sua relação com iniciativas de cooperação na área de defesa e segurança.

    • Novas e velhas ameaças: a identificação de novas ameaças e os meios de combatê-las, em articulação com o enfrentamento das ameaças tradicionais, no marco do arcabouço legal vigente.

    • Segurança marítima no Atlântico Sul: a promoção da consciência situacional nos mares do Atlântico Sul; o combate à pirataria e a outros ilícitos no mar e a cooperação com países africanos sul-atlânticos para defesa e segurança marítima no marco da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (Zopacas).

    • Inserção internacional do Entorno Estratégico brasileiro: diálogos nos fóruns multilaterais; interesses de potências extrarregionais no Entorno Estratégico brasileiro; influência de atores não governamentais; ameaças cibernéticas e possíveis estratégias de cooperação para seu enfrentamento; áreas de fricção entre os países do Entorno Estratégico;

    • Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PAED): a adequação dos projetos estratégicos definidos pelo PAED aos possíveis cenários de sua aplicação.

    Economia da Defesa

    • Recursos humanos e defesa nacional: a formação de recursos humanos para gerir a defesa nacional, inclusive no campo da cooperação internacional.

    • Inovação e Defesa nacional: o Sistema de Inovação nacional brasileiro e as estratégias para fomentar a inovação e a revitalização da Base Industrial de Defesa brasileira - linhas de financiamento, garantias e peculiaridades do mercado de defesa.

    • PAED: adequação dos programas de equipamento das Forças Armadas às capacidades previstas pela END e demais documentos do setor; a formulação de projetos de Força e sua articulação com o PAED no longo prazo; efetividade dos instrumentos governamentais de fomento à Base Industrial de Defesa; credenciamento das Empresas Estratégicas de Defesa (EED), homologação dos Produtos Estratégicos de Defesa e o mapeamento das cadeias produtivas do setor.

    • Orçamento de defesa: estabilidade e projeções do fluxo orçamentário do MD e sua adequação às necessidades das Forças Armadas; a viabilidade política e econômica de se ampliar o percentual do PIB destinado ao orçamento de defesa; estratégias de reequilíbrio das contas orçamentárias visando diminuir ajustar dispêndios com pessoal, investimentos e custeio a projetos de força no longo prazo; critérios para vinculação do orçamento a segmentos estratégicos no País, inclusive via fundos setoriais, e sua aplicação ao campo da defesa; possibilidade de incremento orçamentário das Forças Armadas por meio de “royalties” oriundos de atividades relacionadas ou protegidas pelas Forças; adequação das infraestruturas críticas às necessidades de Defesa.

    • Cooperação internacional: possibilidades de integração das bases industriais de defesa no âmbito da UNASUL, no marco da integração produtiva de cadeias globais de valor e de políticas de offset; diversificação de fontes de recursos para as Forças Armadas.

    O programa disponibilizará o total de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais) para a elaboração de pesquisas sobre Segurança Internacional e Defesa Nacional, sendo que cada projeto poderá contar com, no máximo, R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) para o desenvolvimento das pesquisas durante 24 meses. O valor pode incluir a concessão de bolsas, a realização de viagens e eventos e, ainda, a aquisição de equipamentos, material permanente e material bibliográfico. Caberá ao proponente definir em seu projeto sobre a melhor forma de utilizar o recurso.

    O prazo para a apresentação de propostas é 05/11/2014.

    Mais informações e a chamada completa podem ser obtidos pelo link: http://www.cnpq.br/web/guest/chamadas-publicas?p_p_id=resultadosportlet_WAR_resultadoscnpqportlet_INSTANCE_0ZaM&filtro=abertas&detalha=chamadaDivulgada&idDivulgacao=5363

    Postagem em destaque

    Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

    Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...