domingo, 4 de janeiro de 2015

Itamaraty: "diplomacia de resultados"? Deixa eu me lembrar onde e quando eu ouvi isso...

Já lembrei: foi quando o Dr. Olavo Setubal, banqueiro liberal, que apoiou a transição do regime militar para o governo democrático de Tancredo Neves, e que, em lugar de ganhar a Fazenda, como talvez fosse seu desejo -- ela foi dada de presente ao sobrinho de Tancredo, Fransciso Dornelles, que em seis meses conseguiu dobrar a inflação, a despeito do recado, do aviso, e da ordem do tio de que "era proibido gastar" -- acabou indo parar no Itamaraty, talvez um prêmio de consolação para sua personalidade de executivo.
Quando entrou deve ter achado tudo muito estranho, todo aquele pessoal cheio de boas maneiras, falando de forma elegante, mas sem muita noção de custo-oportunidade, e dos retornos à sociedade e ao país que deveria trazer a atividade diplomática dos "punhos de renda". Foi aí que ele proclamou a tal de "diplomacia de resultados", pensando que fosse mudar alguma coisa.
Logo que entrou, percebeu que não iria mudar nada, e foi assim que começou a forçar a barra. Na primeira reunião do sistema multilateral de comércio, então reduzido simplesmente ao GATT e alguns poucos acordos plurilaterais de adesão voluntária, acabou concordando, contra as posições do Itamaraty -- sempre unctadianas, sempre cepalianas, sempre protecionistas, sempre reticentes -- com a abertura de negociações em serviços, propriedade intelectual e investimentos, o que deixou mais de um diplomata de cabelo em pé (enfim, os que tinham).
Mas, o Dr. Setubal, picado pela mosca azul da política, saiu em pouco mais de onze meses, ou algo assim, para tentar ser eleito prefeito de São Paulo pelo que então era um partido "progressista", supostamente liberal, mas igual a todos os outros. Enganado pelos cardeais do partido, que tomaram o seu dinheiro e o deixaram falando sozinho, acabou sendo derrotado, e foi ganhar dinheiro contra o nosso bolso, enriquecendo com a sua Itautec e a lei de reserva de mercado para a informática.
Foi a última vez que se ouviu falar em diplomacia de resultados no Itamaraty.
Vamos ver se desta vez dá mais certo, mas para ter resultados é preciso primeiro ter metas...
Metas, é o que falta para o Itamaraty. E cobrança, claro, sem o que não há resultados.
Paulo Roberto de Almeida
   
Novo chanceler defende diplomacia de resultados
EBC, 2/01/2015

Novo chanceler, Mauro Vieira defende diplomacia de resultados

  • 02/01/2015 20h22
  • Brasília
Danilo Macedo - Repórter da Agência Brasil/EBC Edição: Stênio Ribeiro
O novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, recebe o cargo de seu antecessor, Luiz Alberto Figueiredo Machado, em solenidade no Palácio Itamaraty (Valter Campanato/Agência Brasil)
Novo ministro das Relações Exteriores promete se empenhar por uma diplomacia de resultados, atuante em todos os mercados - Valter Campanato/Agência Brasil
O novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse hoje (2) que a "linha mestra" de atuação do Itamaraty, no segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, será abrir e consolidar o acesso do Brasil a todos os mercados, ajudando a captar investimentos sempre que possível. Vieira disse que a presidenta deixou claro ontem (1º), em seu discurso de posse, que a diplomacia brasileira terá o papel de servir como instrumento de apoio e impulso das políticas públicas do governo, começando pela macroeconômica.
“Redobraremos esforços na área de comércio internacional, buscando desenvolver ou aprimorar as relações com todos os mercados externos. Assim, uma linha mestra da atuação do Itamaraty, no segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, será colaborar intensamente para abrir, ampliar, consolidar o acesso mais desimpedido possível do Brasil a todos os mercados, promovendo e defendendo o setor produtivo brasileiro, coadjuvando suas iniciativas e ajudando, onde for possível, a captar investimentos”, disse o ministro.
O novo chanceler disse que o discurso da presidenta valoriza a agenda internacional do Brasil, e a encara com sentido de pragmatismo e projeto nacional. Ele ressaltou a importância da diplomacia de resultados: “Terei sempre em mente que não basta estarmos presentes no mundo, é preciso sermos atuantes. O valioso simbolismo da presença não pode substituir uma diplomacia de resultados – de resultados que se medem com números, se obtêm com consciência da missão, com ação, com engajamento, com meios, enfim.”
Vieira reconheceu as dificuldades enfrentadas por representações do Estado brasileiro fora do país, e garantiu que estará atento às necessidades de cada posto no exterior e suas prioridades de atuação, assim como as instruções que precisarão receber em seu “papel insubstituível” na estratégia externa que o país deve seguir. “Ao olhar para o mundo, o Itamaraty vê antes de tudo os cidadãos brasileiros. Cabe a ele [Itamaraty] zelar pelo bem-estar de nossos nacionais que estão no exterior, em caráter permanente ou temporário. Vou empenhar-me para que a política consular brasileira receba recursos humanos e materiais para responder adequadamente à crescente demanda por serviços e assistência decorrente do aumento significativo do número de brasileiros que vivem no exterior ou circulam a turismo, trabalho, estudo ou tantas outras razões”, acrescentou.
O chanceler disse ainda que o Brasil continuará a exercer seu papel de ator global, mantendo relações com todos os países e blocos do mundo, pois esse papel corresponde à sua realidade e às aspirações profundas do seu povo. Ele agradeceu a oportunidades de ter trabalhado, em 40 anos de carreira, com alguns dos diplomatas mais destacados das últimas décadas, como Celso Amorim, Samuel Guimarães e Luiz Felipe de Seixas Corrêa, e disse esperar contar com os conselhos de seu antecessor, Luiz Alberto Figueiredo, que passará a ocupar o posto de embaixador do Brasil em Washington, ocupado até agora por Vieira.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Aventuras diplomaticas com o Iran, livro de Luis Felipe Lampreia - resenha de Marcos Guterman

Aposta em Teerã
Luiz Felipe Lampreia
Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2014

MARCOS GUTERMAN
O Estado de S.Paulo, 3/01/2015

Úbris é o termo grego que designa "excesso de confiança", e suas principais características são a imoderação e a arrogância. É a tal conceito que recorre o diplomata Luiz Felipe Lampreia, em seu recém-lançado livro Aposta em Teerã (Editora Objetiva), para qualificar a tentativa da diplomacia brasileira, em 2010, de negociar um acordo nuclear com o Irã.

Não é exagero afirmar que teria sido um feito histórico se naquela oportunidade o Brasil conseguisse arrancar do governo iraniano o compromisso firme de interromper o desenvolvimento de um processo técnico que, a certa altura, garantiria ao Irã a capacidade de fazer armamentos nucleares. No entanto, acreditar que um acordo dessa envergadura pudesse ser costurado por um país com escasso poder diplomático no âmbito das grandes querelas internacionais e sem nenhum envolvimento político relevante com o Oriente Médio demanda um voluntarismo e uma ingenuidade raras vezes vistos em negociações com esse grau de complexidade. Mas o presidente brasileiro na época era Luiz Inácio Lula da Silva, e isso explica tudo.

Lampreia é um narrador privilegiado. Na carreira diplomática desde 1963, foi secretário-geral do Itamaraty entre 1992 e 1993 e ministro das Relações Exteriores entre 1995 e 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Portanto, conhece de perto os limites da diplomacia brasileira e os riscos, para os reais interesses do País, de embarcar em aventuras que possam comprometer a imagem do Brasil.

Pode-se argumentar que, ao fazer críticas à diplomacia de Lula, Lampreia move-se por divergências políticas - afinal, trabalhou com FHC e, segundo a lógica binária atualmente em vigor no Brasil, teria necessariamente de ser antagonista da diplomacia petista. Mas não é isso o que se encontra no ensaio de Lampreia. Ao contrário: o ex-chanceler reconhece que, sob Lula, "nunca em nossa história estivemos em posição tão elevada na escala de prestígio internacional". Nenhum outro país, diz Lampreia, conseguiu em tão pouco tempo "um aumento comparável de estatura".

Talvez tenha sido em razão desse êxito inicial que Lula se deixou seduzir pela ideia de que o Brasil teria, sob seu governo, reunido condições de interferir nos grandes contenciosos internacionais. O líder petista tinha a pretensão de se apresentar ao mundo como o mediador capaz de resolver os impasses que ameaçam a segurança do planeta, pois o que faltava às partes em litígio, em sua visão, era simplesmente a vontade de sentar e conversar. Tal ingenuidade mal escondia a soberba do ex-metalúrgico que se acreditava capaz de triunfar onde os gigantes - especialmente os Estados Unidos - fracassaram.

Dessa forma, como mostra Lampreia, a aventura do Itamaraty em Teerã não pode ser condenada em si mesma, pois havia um sincero desejo, por parte dos diplomatas brasileiros, de encontrar uma solução para aquele perigoso impasse internacional. No entanto, o mesmo não se pode dizer das intenções ególatras de Lula.

Lampreia demonstra, em detalhes que normalmente são conhecidos apenas pelos protagonistas das negociações, de que maneira Lula se deixou iludir pelas circunstâncias. "Nunca antes um presidente brasileiro tinha jogado seu prestígio pessoal em uma operação de tão alto risco e com tão poucas chances de êxito", escreveu o ex-chanceler.

O Irã sempre afirmou que seu programa nuclear é pacífico, mas, fiel ao estilo ambíguo, pouco se esforçou para provar o que dizia, criando um clima crescente de confronto. Por essa razão, a comunidade internacional vem aprovando várias rodadas de sanções com o objetivo de forçar o país a abandonar seus planos - para Lampreia, não resta mais a menor dúvida de que o Irã quer a bomba.

Em 2010, às vésperas da adoção de novas punições, Brasil e Turquia decidiram tentar articular uma nova negociação com o Irã. A confiança brasileira se acentuou quando o presidente americano, Barack Obama, enviou uma carta a Lula na qual disse que Washington via com bons olhos um acordo como o que estava sendo negociado - o Irã deveria aceitar que um terceiro país enriquecesse seu urânio o suficiente apenas para fins médicos. Na avaliação de Lampreia, porém, a mensagem de Obama era um incentivo, mas não uma autorização para negociar em nome dos Estados Unidos.

O erro de interpretação da diplomacia brasileira resultou em um acordo no qual o Irã não aceitou incluir garantias reais para convencer as grandes potências de que não construiria um arsenal nuclear. Resultou também na constrangedora cena de Lula erguendo o braço do então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, "como um campeão de luta", conforme escreveu Lampreia, gerando repercussão negativa nos países que lutavam para enquadrar o Irã.

Pouco depois dessa cena em Teerã, que deveria servir como a imagem do triunfo pessoal de Lula, o Conselho de Segurança da ONU ignorou olimpicamente o acordo costurado por Brasil e Turquia e aprovou uma nova e dura rodada de sanções contra o Irã. O Itamaraty não podia dizer que não tinha sido avisado - o próprio governo da Rússia informara a Lula que a adoção de sanções era muito provável e teria o apoio de Moscou, que até então se alinhava a Teerã.

Para Lampreia, o "coração do problema" é que nenhum acordo como o oferecido pelo Brasil e a Turquia ao Irã seria suficiente para frear o programa nuclear - ao contrário, serviria apenas para que os iranianos ganhassem tempo. Os Estados Unidos, a Rússia e a China sabiam disso, e o Brasil deveria saber também, antes de embarcar nessa aventura embaraçosa, fruto de graves erros de percepção.

Lampreia considera que a principal lição desse caso é que a diplomacia brasileira deve considerar seus limites e buscar protagonismo somente nos setores em que o País é forte, como meio ambiente. Quando quer mostrar "que somos mais capazes do que as grandes potências de resolver importantes impasses internacionais", como escreve o ex-chanceler, a diplomacia lulopetista fracassa - e a úbris é punida com a nêmesis, castigo que recoloca o prepotente em seu devido lugar.

JORNALISTA E HISTORIADOR

Foreign Affairs: best books in International Relations in 2014


Foreign Affairs' Reviewers Make Their Picks
Every year, ten scholars review dozens of recently published academic and popular nonfiction books for Foreign Affairs. As this year came to a close, the editors asked each of the reviewers to choose the three best of 2014.
Here they are, along with the editors' own selections for the year.

As mais belas bibliotecas do mundo -- HuffPost Books (Korea)

Não concordo com o fotógrafo: ele só pegou algumas, e não são as melhores.
Em todo caso, aqui segue, tal como publicado neste link:
http://www.huffingtonpost.com/2014/12/29/most-beautiful-libraries_n_6391600.html
Paulo Roberto de Almeida

Gorgeous Photos of the World's Most Beautiful Libraries

Posted: Updated:
PARIS



Photographer and literary enthusiast Franck Bohbot captures the beauty of libraries in his photographs as he tours the world.
Bohbot, a French photographer currently living in New York, released the photographs of libraries in several cities including Paris and Rome as a part of his 2012 project “House of Books.” According to Bohbot, this is an ongoing project to record the libraries of the world.
Several awe-inspiring photos from this collection are below.
(h/t boredpanda)
  • Paris – France National Library (Bibliothèque Nationale de France)
  • Paris – Mazarine Library (Bibliothèque Mazarine)
  • Rome – Angelica Library (Biblioteca Angelica)
  • Boston – Boston Public Library (Boston Public Library)
  • Paris – Mazarine Library (Bibliothèque Mazarine)
  • Paris - François Mitterrand National Library (BNF Site François Mitterrand)
  • Paris - Sainte Geneviève Library (Bibliothèque Sainte Geneviève)
  • Paris – Sorbonne University Library (Bibliothèque Interuniversitaire de la Sorbonne)
  • Paris – Sorbonne University Library (Bibliothèque Interuniversitaire de la Sorbonne)
  • Rome – Vallicelliana Library (Biblioteca Vallicelliana)
  • Paris – Sénat Library (Bibliothèque du Sénat)
  • Paris – Sorbonne University Library (Bibliothèque Interuniversitaire de la Sorbonne)
  • Rome – Vallicelliana Library(Biblioteca Vallicelliana)
This post originally appeared on The Huffington Post Korea and was translated into English.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Petrobras: o roubo deliberado da mafia dos dirigentes (DPF, 5/05/2014)

Coloquei à disposição dos interessados, documento em pdf, contendo depoimento de funcionario da Petrobras (cujo nome não foi revelado), com data de 5 de maio de 2014, do Departamento da Polícia Federal em Curitiba, relatando a sucessão de crimes deliberados cometidos contra a companhia, pela máfia composta por seus próprios dirigentes.
Foi peça chave na definição da Operação Lava Jato, ainda em curso.
Impressionante a sucessão de crimes perpetrados pelos sanguessugas autorizados pelo partido de mafiosos que se apossou do Brasil.
Leiam, e como diria alguém: é estarrecedor.
Paulo Roberto de Almeida

Disponível na plataforma Academia.edu, neste link:
https://www.academia.edu/9975584/O_roubo_mafioso_na_Petrobras_depoimento_de_funcionario_%C3%A0_DPF

Portugal-Inglaterra: a mais antiga alianca diplomatica do mundo - tratado de 1353

Esse tratado deixou de existir, mas os dois países mantêm outro, o mais antigo do mundo, de aliança e amizade, feito bem antes do Reino Unido, logo depois da restauração portuguêsa de 1640. Como nunca foi denunciado, permanece em vigor, por mais de três séculos...
Grato a meu amigo Paulo Werneck por mais esta pérola.
Paulo Roberto de Almeida

Tratado de Boa Vizinhança em 1353 com a Inglaterra (II)
Blog Guardamoria, 01 Jan 2015
Paulo Werneck

Recentemente encontrei, em Internet Archive, a coleção dos 18 volumes do "Quadro Elementar das Relações Politicas e Diplomáticas de Portugal com as Diversas Potencias do Mundo Desde o Principio da Monarchia Portugueza Até aos Nossos Dias", redigido pelo segundo Visconde de Santarém, diplomata e historiador.

A coleção registra documentos - tratados, cartas, até mesmo eventos - que mostram as relações de Portugal com o resto do mundo, desde priscas eras, os volumes organizados cronologicamente por nações.

O volume 14 contempla um extrato do tratado que denominei de Boa Vizinhança, que está copiada a seguir, para o leitor usar como uma segunda leitura do referido tratado, publicado na íntegra na postagem "Tratado de Boa Vizinhança em 1353 com a Inglaterra", com a minha tradução leiga:
Tratado de commercio por 50 annos entre Duarte III, Rei d'Inglaterra, e os mercadores, maritimos, e communidades da marinha das cidades e villas maritimas de Portugal, sendo Enviado destas Affonso Martins Alho, que assignou o mesmo Tratado.

Principia este acto pela forma seguinte: «Seja a todos notório, que as gentes, os mercadores, communidades (associações) das cidades maritimas de Lisboa e Porto, e outras do Reino e Senhorios do Rei de Portugal e do Algarve, enviárão Affonso Martins, chamado Alho, como seu mensageiro e procurador perante o excellente Principe, Edwardo pela graça de Deos Rei d'Inglaterra e de França, afim de se contractar e firmar um Tratado de amizade e alliança entre o dito Rei, seus vassallos e os povos, mercadores, maritimos, e communidades das ditas cidades maritimas de Portugal com todas em geral, e com cada uma dellas em particular para sempre, ou por um tempo determinado, em consequencia do que resolve e determina ElRei que se estabeleça uma alliança firme e d'amizade, afim de entreter a melhor affeição entre o dito Rei d'Inglaterra e a de seus vassallos, e os do sobredito povo e cidades maritimas de Portugal, para mutua vantagem e proveito de ambas as partes. Em virtude do que se estipulou o seguinte:

1.º Haveria a melhor intelligencia e firme alliança tanto por mar, como por terra, entre as ditas partes contractantes, por 50 annos a partir da data deste Tratado.

2.º Em consequência disso, os vassallos d'ElRei d'Inglaterra não serião injuriados nem maltratados, tanto nas suas pessoas como nos seus navios, mercadorias ou outros objectos a elles pertencentes, pelos mercadores e maritimos, ou communidades das cidades maritimas de Lisboa e Porto.

3.º Pela mesma maneira o povo, mercadores e communidades das sobreditas cidades não receberião injuria, vexação, ou prejuizo nas suas pessoas, navios, mercadorias ou outros objectos dos maritimos de Inglaterra, Gasconha, Irlanda e de Galles, nem de nenhum outro subdito d'ElRei de Inglaterra.

4.º Nenhum dos povos ou subditos de uma ou de outra parte poderia contractar alliança com os inimigos, opponentes, ou adversários da outra, nem causar-lhe prejuizo, nem prestar-lhe ajuda ou soccorro.

5.º Estipula-se igualmente que os subditos commerciantes, maritimos e quaesquer outros de que condição forem de uma e de outra parte possão livremente, e com toda a segurança, ir e voltar por mar ou por terra a todos os portos de mar, cidades e villas de um e de outro paiz, e passar por todos os logares dos ditos Reinos quando e onde lhes convier, assim como seus navios grandes e pequenos, e Iodas as mercadorias que trouxerem nos seus ditos navios, de qualquer paiz de onde ellas possão provir.

6.º Todas as disputas, dissensões e discórdias que existirão nos tempos passados, bem como todos os damnos e prejuizos causados por uma ou por outra das partes (contractantes) anteriormente á data do presente Tratado (se por ventura existem) serão (e annullandas) annuladas para sempre, e não se intentará nenhuma acção nem processo por nenhuma das duas partes.

Se porêm no futuro alguma das duas partes contractantes causar algum aggravo ou prejuizo á outra, neste caso o aggravo, ou damno será devidamente reparado pelos senhorios ou autoridades das partes respectivas, e a parte prejudicada será indemnizada das despezas que fizer no proseguimento da pessoa ou dos bens da pessoa que lhe tiver causado o prejuizo.

No caso porêm que esta não possua sufficientes mercadorias ou bens para pagar as multas será constrangido e preso, e justiça será feita em proveito da pessoa que soffreu o aggravo.

7.º Estipula-se também que no caso que ElRei d'Inglaterra, ou algum dos seus vassallos, tome ou ganhe sobre seus adversarios alguma cidade, castello, ou porto no qual se achem mercadorias, ou fazendas pertencentes ao povo, mercadores, maritimos ou communidades das cidades mencionadas (Lisboa e Porto, etc), ou navios nos quaes se encontrem mercadorias pertencentes ás mesmas, nesse caso o dito Rei d'Inglaterra e de França, ou a pessoa que commandar em seu nome, procederá a uma pesquiza sobre a pessoa em cujas mãos se achão taes mercadorias ou effeitos, fazendo taes diligencias conforme a Lei, e exibindo este Tratado, afim de que taes navios e mercadorias sejão restituidas e recobradas pelo povo, mercadores, maritimos ou outras pessoas das associações maritimas acima mencionadas, tendo estas declarado previamente com juramento que estas lhes pertencião.

Advertindo todavia que taes navios não estejão armados, ou que tenhão dado ajuda ou auxilio aos inimigos do dito Rei d'Inglaterra. No caso que algum dos ditos navios seja encontrado armado, ou lendo assistido ou soccorrido os inimigos do dito Rei, perderá os seus bens e das pessoas a quem pertencerem, mas que os outros que cumprirem lealmente este acordo não deverão experimentar nenhum damno.

Outrosim no caso que os vassallos do dito Rei d'Inglaterra e de França tomem ou capturem no mar, ou em um porto, algum ou alguns navios dos seus adversários e inimigos, e que nelles se encontrar algumas mercadorias ou objectos pertencentes ás ditas cidades maritimas, estas serão transportadas para Inglaterra onde serão cuidadosamente guardadas até que os interessados provem o seu direito a ellas.

Em idênticos casos o mesmo será observado pelo povo e marinha das ditas cidades a respeito dos vassallos do dito Rei d'Inglaterra.

8.º Outrosim se ajustou que os pescadores das ditas cidades maritimas (de Portugal) poderão ir pescar livremente sem incorrer em nenhum perigo nos portos d'Inglaterra e de Bretanha, e nos outros portos e logares que elles julgarem opportunos, pagando somente os direitos (costumes) devidos ao senhor do paiz.

Feito era Londres a 20 d'Outubro do anno da graça de 1353
Veja também:
Tratado de Boa Vizinhança em 1353 com a Inglaterra.

Fonte:
CARVALHOSA, Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e (Visconde de Santarém). Quadro Elementar das Relações Politicas e Diplomáticas de Portugal com as Diversas Potencias do Mundo Desde o Principio da Monarchia Portugueza Até aos Nossos Dias. Tomo 14. Segunda edição. Páginas 39 a 43. Lisboa: Typographia da Academia Real das Sciencias, 1865. Disponível em Internet Archive (www.archive.org).

O afundamento da Petrobras pelos petistas desonestos - Carlos Alberto Sardenberg

Um desastre de Lula/Dilma

Perdeu-se um momento de preço alto do óleo, que atrairia investimentos, nacionais e estrangeiros, ávidos pelos novos campos 

Carlos Alberto Sardenberg

O Globo, 1/01/2015

O preço do petróleo tem ciclos e pelo menos parte da história funciona assim. O mundo entra em um período de crescimento — e aí falta o combustível, cuja produção estava ajustada à demanda anterior, de baixa expansão econômica. Sobe o preço do petróleo e isso viabiliza mais investimentos na exploração e produção de óleo, especialmente quando se supõe que o crescimento global é duradouro. E as pessoas têm uma tendência irresistível de achar que agora vai, e vai por muito tempo. Daí, podem acontecer duas coisas: o ciclo de expansão é longo ou curto. Neste último caso, o preço do petróleo cai e volta logo ao patamar anterior, pois a oferta fica maior que a demanda, diminuída com a redução do crescimento do PIB mundial.
Procurar, explorar e produzir petróleo novo não é atividade trivial. Requer muita tecnologia e investimentos pesados. Se o ciclo de expansão global for muito curto, às vezes nem dá tempo de se iniciar a busca. Investimentos são paralisados ainda na fase de planejamento.
Mas se o período de crescimento for longo o suficiente, os novos investimentos vão a campo, viabilizados pela contínua alta da demanda. Foi o que aconteceu nos anos 90 e no início deste século 21, até a grande crise de 2008/09. O consumo mundial de óleo subiu o tempo todo e chegou aos 93 milhões de barris/dia.
Preços foram para a lua e viabilizaram mesmo a produção do petróleo caro — e caro, nesta história, é sempre em relação à mixaria que se gasta na Arábia Saudita para tirar um barril de óleo bom: menos de US$ 5. Para comparar: nosso petróleo mais barato, o da Bacia de Campos, sai por algo como US$ 15 o barril.
Já o óleo novo, do pré-sal, varia de US$ 30 a US$ 70. No seu programa de investimentos até 2018, a Petrobras fez todas as contas considerando o barril a US$ 100 na média do período.
Pois o preço está abaixo dos US$ 60.
Ficando assim, inviabiliza alguns campos e reduz as margens de lucro de todos os outros. Quer dizer, o investimento fica proporcionalmente mais caro.
Quando se olha para a economia mundial, o que se vê hoje? Entre os desenvolvidos, só os EUA vão bem. A recuperação ainda é moderada, diz o Federal Reserve, Fed, o banco central deles. Mas é muito melhor do que ocorre no Japão e na Europa, onde só a Inglaterra tem dados animadores.
A China, motor emergente, está em clara desaceleração. Em consequência, o resto do mundo necessariamente cresce menos. E não dá alimento para novas altas do petróleo.
Para alguns economistas, o capitalismo já era, de modo que, no máximo, teremos ciclos muito curtos de crescimento modesto. O que vem depois? Não dizem. Não sabem.
Mas se aceitarmos que o capitalismo é o melhor sistema que a humanidade conseguiu criar, a melhor ideia disponível, então certamente teremos novos longos ciclos de crescimento.
Portanto, para os países que têm boas reservas de petróleo, é só ter calma, moderar os investimentos atuais (fatal), mas ficar preparado para um novo ciclo de crescimento global. Certo?
Mais ou menos. É verdade que o óleo negro é a mais eficiente fonte de energia jamais descoberta.
Mas é poluente. Isso não era importante quando se iniciou a era do petróleo, mas agora, obviamente, é.
Além disso, acontece que boa parte da humanidade, a maior parte, está farta dessa dependência do petróleo. Primeiro, porque dá excessivo poder político aos donos do óleo. Segundo, porque transfere muita riqueza a esses donos. Depois, porque picos e vales dos preços desarrumam a economia global, ora gerando inflação, ora deflação.
Resultado, está todo mundo procurando e desenvolvendo outras fontes de energia que, a cada dia, tornam-se mais viáveis, econômica e tecnicamente. Aqui cabem desde as novas formas de se obter óleo e gás, como a extração do xisto, até as outras fontes, etanol, palha de cana, vento, sol, e um mundo de alternativas nas quais trabalham centros de tecnologia pelo mundo afora.
Tudo considerado, fica evidente que o Brasil, nos governos Lula e Dilma, perdeu uma imensa oportunidade. Cinco anos sem leilão para a exploração de novas áreas, enquanto se discutia e se tentava aprovar a nova forma de dividir o dinheiro do óleo, deixaram um enorme prejuízo. Perdeu-se um momento de preço alto, que certamente atrairia investimentos, nacionais e estrangeiros, ávidos pelos novos campos.
Quando se juntam a cobiça e a miopia política, histórica e econômica, o resultado só pode ser um imenso desastre. Lula e Dilma anunciaram a autossuficiência em petróleo e a devolução da Petrobras ao povo brasileiro, para terminar importando combustível caro e jogando a Petrobras no mar da corrupção e do atraso. Sem contar a quase destruição do etanol. Pode haver desastre maior que esse?
Não ouviram o sábio ensinamento do xeque Yamani, inventor da Opep: a Idade da Pedra não terminou por falta de pedra.

Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/um-desastre-de-luladilma-14937623#ixzz3NdsHydXA
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Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...