domingo, 10 de março de 2019

Itamaraty de volta à Lei da Mordaça? (2) - Comentários dos leitores

Ademais das matérias principais, nos grandes jornais que sigo cotidianamente – dioturna e noturnamente, como diria Madame Pasadena –, eu também tenho esse costume de ler as cartas de leitores, o que é mais fácil nos jornais impressos, pois elas se limitam a 10 ou 15 no máximo.
É por essas cartas que se pode seguir o humor da população sobre os governos, o que me interessa como sociólogo (mas não psicólogo).
Nos folhetins eletrônicos, nas colunas digitais, isso se tornou mais difícil, não só porque o número se multiplica por dezenas, por vezes mais de uma centena, mas também ali estão comentários absolutamente lamentáveis, xingamentos vulgares, linguagem de baixo calão, idiotas à solta, expressando toda a sua ignorância grosseira, já que os redatores já não possuem mais faculdade de vetar as bobagens mais chocantes, pronunciamentos delirantes, até no limite da calúnia, ou do pedido de eliminação sumária.
Minha postagem anterior, neste mesmo espaço, se referia a esta matéria. Agora eu me permito transcrever os comentários, não sem uma ponta de vergonha, pela baixaria expressa em vários desses comentários. Desculpando-me de meus leitores, aqui vai o complemento (até 23h16 de 10/02/2019) desta matéria:

Araújo retoma e reforça censura imposta por seu sogro no Itamaraty
Demissão de embaixador reacende chama de perseguição da época da Lei da Mordaça, sob FHC
Thais Bilenky
FSP, 10.mar.2019 às 2h00


comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.
  1. SIDNEI ANTTOGNETO
    Mais tendenciosa que essa chamada só a apresentação da carteirinha de filiado PSOL do redator !!!!!
  2. JOSÉ RICARDO BRAGA
    Deve haver uma angústia do pessoal 'de centro' do seu agir nos últimos 30 anos. Durante todo esse tempo houve campanha explícita deles para que a esquerda não 'fizesse besteira' nas relações internacionais - alinhamentos esdrúxulos, políticas que fizessem mal ao país, etc... - no que tiveram sucesso. Julgaram que não precisavam admoestar a direita. Olha o resultado... ;)
    1. JAQUES BRAND
      Análise perfeita, e pode ser estendida a quase tudo mais na política brasileira dos últimos "x "anos. Enquanto vigiavam o Ursinho de Pelúcia do Lula, o monstrinho do Olavo crescia no departamento ao lado.
  3. TAUFF GANEM DE ABREU
    "liberais" que publicamente fazem pouco caso das garantias e liberdades individuais nãos são liberais são yuppiniquins.
  4. HILDEBRANDO TEIXEIRA
    Caro Luiz Gonzaga, não seria o caso de quem você chama de "inimigo" de Araújo tenha tratado os "outros" exatamente como inimigos por 24 anos, difamando-os com ajuda da imprensa capturada e fraudando eleições com dinheiro público para se perpetuar no poder? Depois de tanto apanhar, os liberais-conservadores são obrigados ainda a dar cargos aos adversários? Me desculpe, mas é pedir demais; este Governo é democrático mas não é trohuhxa.
  5. HILDEBRANDO TEIXEIRA
    A Foice defende seus interesses c/ outra peça difamatória, vide esforço em transformar algo irrelevante em fato negativo, relacionando ao Governo. Num País onde as corporações sempre definiram as regras, sejam os corporativistas de ordem fascista desde início do século passado, auge em Getúlio Vargas e até o governo Sarney, sejam os marxistas de FHC a Temer, a imprensa "amiga" do Estado não poderia agir diferente c/ "mero" capitão do baixo clero que se arroga a tentar alterar o status quo atual
  6. LUIZ GONZAGA
    O Araújo está invertendo totalmente a noção de diplomacia- falta-lhe diplomacia; para ele o mundo se divide em "quem concorda comigo" e "inimigos".
  7. LUIZ RANCAN
    A ditadura voltou ao Itamarati. onde antes havia muita competência, agora é imposição e linearidade. O que se defende é a imposição de um pensamento único, quando não a primazia da ignorância e da incompetência. É um governo do atraso e da volta à era do obscurantismo. Este desgoverno está destruindo o nosso País e seu povo.
  8. MARCELO BONDIOLI
    Sábias palavras: https://www.youtube.com/watch?v=rUsrwQFpxOI
  9. ROQUE ALVES
    Arnesto Araújo = Simão Bacamarte.
  10. CAIO MILANI
    Parece-me evidente que Araújo procure pessoas de sua confiança e ideologia para proporem sua gestão no Itamaraty. Por muitos anos o MRE viveu sob ideologia petista e parece-me evidente que muitos dos hoje embaixadores seniors não se enquadrem. Embaixadores e diplomatas não deveriam nunca fazer política externa , deveriam segui-la pois são somente agentes executivos do chanceler que define a política a ser seguida em concordância com o Presidente da República tout court.
    1. ALEXANDRE MATONE
      Ernesto Geisel era o responsável pelo "sumiço" dos indivíduos desaparecidos na época da ditadura. Provavelmente, Brilhante Ustra fica apequenado diante deste general, nos respectivos misteres.
    2. WAGNER SANTOS
      Ao contrário do que muitos imaginam, a doutrina pragmática que seguiam foi adotada por Geisel, e considerada uma das melhores do mundo, respeitada amplamente. Unanimidade sem voz dissonante dá problema sério. A diplomacia exterior de Fhc foi uma das pioresdo século passado e a de Bolso caminha para isso.
  11. LEOZETE BARCELOS
    A minha preocupação é com a falta de comando do congresso porque aquele tal de MAI é um pau mandado do executivo aprova todos os projetos que vierem do Planalto inclusive a previdência para matar os pobres de trabalhar como ele próprio disse que pode trabalhar até os 80 anos
    1. ALBERTO HENRIQUE
      Salário miserável
    2. ALBERTO HENRIQUE
      Salário miserável
    3. MAURICIO LAHAN
      trabalhador não morre,ele recebe pelo seu trabalho o salario ,se não tiver patrão não tem emprego,as empresas são feitas para dar lucro,procuram outros paises
    4. MAURICIO LAHAN
      trabalhador não morre,ele recebe pelo seu trabalho o salario ,se não tiver patrão não tem emprego,as empresas são feitas para dar lucro,procuram outros paises
  12. LEOZETE BARCELOS
    A minha preocupação é com a falta de comando do congresso porque aquele tal de MAI é um pau mandado do executivo aprova todos os projetos que vierem do Planalto inclusive a previdência para matar os pobres de trabalhar como ele próprio disse que pode trabalhar até os 80 anos
    1. NELSON VIDAL GOMES
      Com todo respeito a você e a sua opinião,mas a impressão que fica é que sua preocupação maior vem da mudança de governo,ao contrário de mim,que até agora,vejo nossos dirigentes mais preocupados com os interesses do país do que com a continuidade no poder.Que Deus nos ilumine a todos e um abraço fraterno em agnósticos e ateus!
  13. PAULO ZACARIAS
    Folha, está na hora de vocês colocarem tecnologia melhor para seus leitores. Não sei se humano ou replicante, esse censor está pior que o Araújo do Itamaraty. A única palavra "feia" do meu texto era "xixi". Tentei "chichi", "chi chi", "pipi", "pi pi", "3,14... 3,14"... Que nada! Desse jeito, Bolsonaro terceirizará vocês como assessoria de imprensa.
    1. MAURICIO LAHAN
      faltou mijo
    2. MAURICIO LAHAN
      faltou mijo
  14. PAULO ZACARIAS
    Próximo exame para o CACD (se houver): candidatos, vestirão azul e candidatas, rosa; levar flores para candidata, 10 pontos; se se descobrir "cola" nas flores, "paredón"; cantar hino nacional estendendo um dos braços será eliminatória; eliminação tipo "minority report" para quem apresentar "presunção de divergência"; ir de fraldão, pois fazer "chi chi" com um cavaleiro da Ordem Olaviana apocalíptica ao seu lado, como fiscal, será assustador;não haverá ressarcimento para tratamento de traumas.
  15. ANTONIO MARCOS MENDES AUGUSTO
    Estas palhaçadas é o que se pode esperar de quem é um indicado de olavo de carvalho. Ainda bem que o tal guru, por questões financeiras, está em guerra contra os militares. Espero que esta os militares ganhem.
  16. TADEU FURTADO DE OLIVEIRA ALVES
    Só está começando, vai piorar muito ainda!
    1. MARCELO BONDIOLI
      Resumo do Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=VX3lz5ph8A0
  17. NELSON VIDAL GOMES
    Nos governos do PT tivemos a partidarização de nossa Política de Relações Exteriores, sem que a imprensa se desse conta disso.Que Deus nos ilumine a todos e um abraço fraterno em agnósticos e ateus!
    1. MAURICIO LAHAN
      faziam criticas,mas não guerra suja como fazem
    2. MAURICIO LAHAN
      faziam criticas,mas não guerra suja como fazem
    3. ALESSANDRO POMBO DOS SANTOS
      E no governo petista houve protagonismo internacional do Brasil. As relações comerciais bombaram nos cinco continentes e o (des)alinhamento estratégico com os EUA apenas ratificou a linha adotada desde Geisel e que sempre foi tida por acertada e a favor dos interesses brasileiros. Ideologia por ideologia, e essa palavra tem ficado cansativa e desgastada hoje em dia, um Chanceler que segue a "ideologia" de um desvairado como Olavo de Carvalho apenas reflete o desvario de quem o nomeou.
    4. GERALDO DA SILVA
      Tu ta enganado. no gov pt a imprensa fazia críticas a cada minuto à atuação daquele partido. Tenho mais de 500 anotações de críticas ferozes.
  18. NELSON VIDAL GOMES
    A nossa diplomacia e a Instituição que a corporifica o MRE, sempre se notabilzaram no cenário internacional pelo primado das políticas de Estado sobre as de governo,mesmo no regime militar quando fomos representados por brilhantes chanceleres.A mudança dessa cultural se operou nos governos de Lula, como ademais, tudo que veio em detrimento dos interesses do país e de nosso povo,enganado por um projeto de poder.Que Deus nos ilumine a todos e um abraço fraterno em agnósticos e ateus!
  19. HILDEBRANDO TEIXEIRA
    O artigo está parecendo fofoca de beata fuxiquenta; se não tem mais como falar mal do desafeto, fala dos parentes. A Foice Fake News, o aparelho partidário viciado em dinheiro público, agora virou isso, concorrente de Caras.
    1. MAURICIO LAHAN
      não tem o que falar ?tem sim,sou pediatra e assinante da folha,estou esperando a noticia da sorologia da meningite do neto do ex presidente, se é que foi meningite,pois não vi a vigilância sanitária dar resultado ou fazer bloqueio vacinal no bairro do menino já era tempo!!!!!!
  20. BAGDASSAR MINASSIAN
    ...sr. Felipe Martins, qual a visão do Jair, conforme sua afirmação, para o Itamaraty e para as relações externas ?
    1. WEIMAR ANGELO FURQUIM DONINI
      Não tem visão nenhuma. O negócio é colocar abaixo tudo o que funciona. Ah, sim . . . e lam ber botas de Tru mp, fazer dobradinha com todos os que acham que a Terra é quadrada, tipo Ma cri, Benja mim, o turco, o italiano, May.
  21. AVELINO DE FREITAS NETO
    “Reacende onda de perseguição” bem bolada chamada do jornalismo da lactação. O líder de vcs está preso!
  22. RICARDO CAMPOS
    O José de Abreu poderia transferir esse Araujo para a Venezuela ou Coreia do Norte
    1. BRITES DELANE GOMES DOS SANTOS
      Vc tem direito de não gostar do José de Abreu, mas dizer que é um péssimo ator, aí transferiu antipatia pra outra coisa. E ser preso pq? Pela brincadeira da presidência? Então Guaidó teria que ser TB.
    2. ALEXANDRE MATONE
      Quando esse indivíduo conseguir o reconhecimento de 53 paises, a gente conversa.
    3. CAIO MILANI
      E o que o palhaço chamado Zé de Abreu tem a ver com isso tudo ? Zé de Abreu é um péssimo ator que aliás acabará atrás das grades ou pior ..
  23. VICENTE FERREIRA
    O pensamento e as decisões desse ministro nada tem a ver com a tradição brasileira nas relações exteriores. O que ele está fazendo é destruir a imagem do Brasil perante a comunidade internacional, que está boquiaberta sem saber o que acontece por aqui. Mas o pior é que nem nós sabemos. Esse Ernesto ser chefe do Itamaraty só poderia passar por nossas cabeças em crises paranóicas. Ou em pesadelos!
    1. MAURICIO LAHAN
      já viajaste ao exterior,pegou jornal no exterior do dia dia,não diga o que não sabe,não existimos
    2. MAURICIO LAHAN
      já viajaste ao exterior,pegou jornal no exterior do dia dia,não diga o que não sabe,não existimos
    3. DIMAS FLORIANI
      Aliás até as referências ao nacionalismo dos anos 30, ao falar tupi, com a expressão Anauê, conforme seu discurso de posse, é de um tal anacronismo semelhante ao empregado pelo integralismo de Plínio que pode ser tanto o Salgado, quanto aquele outro da TFP. Trata-se de assumir uma ideologia regressiva. Na cabeça deles, para coroar, só falta a coroa de César.
  24. BRUNO PIMENTA
    Corrigindo Ricupero, Bozo foi eleito pela minoria do total de votantes...cerca de 35%. É um governo com total ranço ideológico, mas de uma ideologia vigente há 100.
    1. CAIO MILANI
      Eu votaria novamente nesse governo se necessário fosse para não eleger o PT e sua ideologia bolivariana que transformaria o Brasil definitivamente; mas para o retrocesso. Quem quer que tenha lido o programa de governo bolivariano do PT depositado na justiça eleitoral ( abolição do judiciário independente , eleição de “notáveis “ para julgar ; intervenção na economia privada , etc ) continuaria a votar em quem quer que seja para não deixar os petistas transformarem o Brasil naquilo que hoje é a V
    2. NELSON VIDAL GOMES
      O raciocionio a contrário sensu também aqui se aplica.Bolsonaro foi eleito como efeito da rejeição de 110 milhões de brasileiros ao PT e a Lula.57 milhões de seus eleitores somados aos votos brancos e nulos.Que Deus nos ilumine a todos e um abraço fraterno em agnósticos e ateus!
    3. HENRIQUE FARINHA
      Como, aliás, Lula e Dilma. Somar abstenções, votos brancos e nulos para alegar minoria é a típica desonestidade intelectual. Em 2006, por exemplo, Lula, eleito em 1o turno, teve 46.662.365 votos de um total de 104.820.459. Somando as 21.092.675 abstenções, eram então 125.913.134 de eleitores. Ou seja, quadro bem similar ao atual. Eu também não sou eleitor de Bolsonaro, não compactuo com sua ideologia e política externa, mas não dá para utilizar esse argumento de “minoria de votos”. É ridículo.
  25. BRUNO PIMENTA
    Corrigindo Ricupero, Bozo foi eleito pela minoria do total de votantes...cerca de 35%. É um governo com total ranço ideológico, mas de uma ideologia vigente há 100.
    1. CLAUDIO L. ROCHA
      Caio Milani seu discurso ideologico contra a esquerda, acho não pega mais nem com seus familiares, veja a que esse discurso nos levou, colocamos no governo pessoas que pelo comportamento politico administrativo, até agora, demonstra total despreparo para o importante cargo de dirigente da nação, falo mais, o general mourão com todo seu discurso de extrema direita da um banho de como governante de um Pais e estadista deve se comportar perante o mundo e da propria nação
    2. CAIO MILANI
      Qualquer coisa menos o Pt e os Petistas Bruno . Simples assim.
  26. CLAUDIO L. ROCHA
    Qdo se fala esquerda, no geral se coloca como oposto a governos de direita, entendeu, não tem nada a ver com a associação doentia que alguns pseudo donos da verdade, racistas, preconceituosos fazem com comunismo que somente existe nas cabeças manipuladas por habeis politicos para chegarem ao poder, como agora. Nos USA a esquerda e o partido democrata. Então com td respeito a opiniao de alguns, esse papo de culpar e associar esquerda a comunismo p/justificar golpes contra povo é manipulação
    1. CLAUDIO L. ROCHA
      Srs. Caio e Mauricio que replicaram meu comentario, o que chega a revoltar no comentario é que para voces quem luta para que os impostos, q. todos pagam até no arroz, sejam aplicados na melhoria serviços publicos como educaão/saude/infra-edstrutura é comunista defende assistencialismo. Voces defendem, acham normal empobrecer Pais, miserabilizar pessoas desde que o dinheiro imposto prossiga sendo drenado para previlegiar o rentismo e juros de banqueiro. Da tristeza o discurso mentiroso de voces
    2. MAURICIO LAHAN
      o que a esquerda traz de bom, mazelas sociais com dinheiro arrecadado das elites
    3. MAURICIO LAHAN
      o que a esquerda traz de bom, mazelas sociais com dinheiro arrecadado das elites
    4. CAIO MILANI
      Parece-me evidente que quem faz esse teu discurso nunca leu o programa de governo do PT depositado na justiça eleitoral; essa sim um verdadeiro atentado à liberdade de imprensa , a independência do judiciário brasileiro e a liberdade da iniciativa é da propriedade privada . Chamem de bolivarianismo e não de comunismo mas o resultado seria a mesma catástrofe que hoje chama-se Venezuela. Continuaria a votar nesse governo , mesmo discordando em tantos pontos , para evitar o mal maior chamado PT.


Itamaraty de volta à Lei da Mordaça? - Thais Bilenky (FSP)


Tenho diversas, na verdade muitas, divergências com o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães em várias áreas de interesse comum: política externa, relações econômicas internacionais do Brasil, diplomacia regional, etc. 
Mas temos uma característica comum: ambos defendemos ideias nas quais acreditamos, e não hesitamos em afrontar superiores na defesa do nosso direito de expressar essas ideias. Samuel é um corajoso, e sofreu vários percalços no Itamaraty – como eu aliás – por defender essas ideias, até o ponto de ser defenestrado do posto que ocupava como diretor do IPRI, o que acaba de ocorrer comigo.
Fizeram uma "Lei da Mordaça" especialmente para ele, o que é de uma vergonha sem par, uma vez que acresce ao que já está na Lei do Serviço Exterior introduzindo um regime de censura prévia e de controle absoluto sobre o que possam falar os diplomatas. Ou seja, tratava-se de um instrumento intimidatório. Não adiantou: Samuel continuou falando o que queria sobre a Alca, o Nafta, o Mercosul "neoliberal".
Foi defenestrado no início de 2001, e eu me solidarizei com ele. Quando eu fui, meses mais tarde, punido pela mesma Lei da Mordaça, por causa de uma entrevista às Páginas Amarelas de Veja, foi ele a telefonar-me para emprestar-me a mesma solidariedade que eu havia demonstrado no começo do ano.
Isso não o impediu – et pour cause – de me vetar o cargo de diretor do mestrado do Instituto Rio Branco no início de 2003, quando ele já se tinha tornado o todo poderoso SG do Itamaraty.
Agora foi ele quem novamente me telefonou para demonstrar sua solidariedade para comigo.
Somos dois defenestrados por motivos similares: enfrentar a cúpula do Itamaraty, uma espécie de Vaticano, com seus cardeais, seus ritos, seus dogmas, uma rígida hierarquia, impondo disciplina aos servos de gleba, que somos todos os demais...
A história tem muitas voltas Eu e Samuel vamos tomar cerveja para falar sobre tudo isso. Não nos moveremos um milímetro de nossas crenças e posturas políticas e econômicas, mas certos valores e princípios são comuns.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de março de 2019

Araújo retoma e reforça censura imposta por seu sogro no Itamaraty
Demissão de embaixador reacende chama de perseguição da época da Lei da Mordaça, sob FHC
Thais Bilenky
FSP, 10.mar.2019 às 2h00

A demissão de um embaixador durante o Carnaval reacendeu no Itamaraty a chama da perseguição política que afligiu diplomatas em diversos momentos da história —um em particular. 
Em 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o Ministério de Relações Exteriores baixou uma circular conhecida como Lei da Mordaça, que impunha a necessidade de aprovação prévia de qualquer manifestação pública dos diplomatas.
Foi designado como censor o então secretário-geral, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, sogro do atual chanceler, Ernesto Araújo.
O mais conhecido alvo da circular foi o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, demitido do cargo que ocupava na época, o de diretor do Ipri (Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais).
A ruidosa demissão na segunda-feira de Carnaval, 4 de março, atingiu outro embaixador, Paulo Roberto de Almeida, que exercia a mesma função no Ipri. E envolveu, mais uma vez, ainda que de forma indireta, Seixas Corrêa.
O sogro do chanceler daria uma palestra no instituto —um braço acadêmico do Itamaraty— na sexta-feira (8). 
Segundo apurou a Folha, para escapar da saia justa, Seixas Corrêa desistiu ao saber da demissão do diretor, crítico da influência do polemista Olavo de Carvalho na política externa brasileira. 
“O sogro do Ernesto me puniu duas vezes pela chamada ‘Lei da Mordaça’”, afirmou Almeida em uma rede social.
“Depois da demissão do Samuel, quando ele me cumprimentou, em 2016, por ter assumido o Ipri, eu apenas respondi: ‘Grato, embaixador; só espero não ser defenestrado como um antecessor meu’. Ele sorriu e nada disse. Pois é, agora aconteceu, por uma dessas ironias do destino.”
Chanceler à época da Lei da Mordaça, Celso Lafer afirmou que os dois momentos são incomparáveis. Na sua gestão, a polêmica girava em torno da Alca (Área de Livre-Comércio das Américas), à qual a esquerda, de forma geral, e Pinheiro Guimarães, em particular, eram contrários. Lafer afirma que queria pluralismo nos debates no Ipri, daí a demissão.
“O que está ocorrendo agora é uma espécie de vocação inquisitorial, onde aparentemente o chanceler se unge da lembrança de [Tomás de] Torquemada, um grande inquisidor [do século 15]”, diz.
A gestão de Ernesto Araújo, na sua avaliação, se mostra “muito centralizadora e muito inquisitorial”. Desde que foi indicado chanceler pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), Araújo, cuja promoção a embaixador não tem um ano, gerou desconforto no corpo diplomático por medidas vistas como quebra de hierarquia.
Diplomatas gabaritados foram removidos ou postos de escanteio, e servidores menos graduados ocuparam postos de comando na atual gestão.
São citados os casos de Everton Vargas e Gisela Padovan, entre outros. O primeiro estava cotado para comandar as negociações ambientais do Itamaraty e não o foi. A segunda, meses depois de assumir a direção do Instituto Rio Branco, está de mudança para Madri para tocar o consulado.
Reservadamente, o grupo de Araújo diz que não assumiu compromisso com esses servidores, que as destinações foram decididas em comum acordo, que Almeida ofendeu o chanceler e que é natural o ministro se cercar de pessoas de sua confiança.
“Um governo que se elegeu com maioria pode evidentemente escolher pessoas que são mais afins”, disse o embaixador Rubens Ricupero, crítico de Araújo. “Mas dar à diplomacia uma cor unívoca vai eliminar muito a diversidade, que é desejável nessa área.”
Para Ricupero, que protagonizou um debate público nesta semana com Araújo, o chanceler “está revelando uma atitude de irritação e pouca tolerância à crítica”.
Procurado, o ministro não se manifestou.
“É um momento de muito mais constrangimento ideológico do que nunca”, afirmou Guilherme Casarões, pesquisador na Fundação Getúlio Vargas. “A identificação da crítica é tácita.”
Para irem para o jocosamente chamado departamento de escadas e corredores, diplomatas não precisaram verbalizar críticas a Araújo. Em alguns casos, a presunção de divergência bastou. Aconteceu antes mesmo da oficialização de Araújo como chanceler.
Hoje assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Filipe Martins, aluno de Olavo de Carvalho e próximo de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, fez campanha contra nomes aventados para liderar o Itamaraty durante a transição. 
O argumento era suposta submissão ao ideário do PSDB.
“Quem quer que esteja recomendando diplomatas vinculados a FHC para chefiar o MRE tem em mente interesses estranhos aos da nação e contrários aos do presidente eleito”, escreveu, em novembro.
Alguém perguntou se era o caso do embaixador José Alfredo Graça Lima, ligado ao PSDB, desafeto do PT e então cotado para o cargo. Martins assentiu. “Continuísmo explícito, visão exclusivamente comercialista, aversão às propostas do Jair”, justificou. 
Escaparam à análise daquele momento as afinidades políticas do sogro de quem viria a ser escolhido. Seixas Corrêa foi secretário-geral do Itamaraty, segundo posto mais alto da instituição, no governo Collor e no de FHC. Mantém laços com o círculo de diplomatas experimentados e afinidades com o tucanato. É elogiado pelo genro publicamente.
Ao tomar posse pela segunda vez, em 1999, discursou: “Acreditamos plenamente no projeto e teremos orgulho em contribuir para a sua consolidação e aprofundamento neste novo mandato que a sociedade brasileira outorgou pelas urnas ao presidente Fernando Henrique Cardoso”.

A crise entre olavistas e militares - Alon Feuerwerker

O que é a contradição entre ‘o olavismo’ e ‘os militares’, diz Alon Feuerwerker

Polarização inicial tende a ser interna
Poder precisa tirar elementos radicais
Olavo de Carvalho é um dos mentores de propostas do integrantes do governo Bolsonaro, como o chanceler Ernesto Araújo Reprodução/Youtube
10.mar.2019 (domingo) - 5h50

É erro político acreditar que alguém conseguirá tutelar um presidente da República recém-instalado e com a popularidade essencialmente preservada. Outro equívoco é imaginar que o presidente, por isso, pode fazer o que dá na telha. Ele decide, mas dentro de limites definidos, em última instância, pela correlação de forças no governo, nos demais poderes e na sociedade.
Costumam levar vantagem nas disputas internas do poder os núcleos mais organizados, disciplinados e dotados de clareza estratégica. E, sempre, mais conectados aos grupos de pressão social influentes. Outro detalhe: é comum a polarização em início de governo ser intestina ao próprio governo. Pois a oposição não carrega expectativa de poder.
O que acontece na administração Bolsonaro? Quadros provenientes das Forças Armadas estão, no popular, comendo pelas beiradas e ganhando espaço. “Os militares” vai propositalmente entre aspas no título desta análise. Não há no Planalto um “Partido Militar” atuando com comando centralizado e hierarquia, paralelamente ao presidente da República.
O bolsonarismo enxerga-se como uma revolução. E toda revolução costuma trazer duas tendências, que em certo momento entram em choque mortal: 1) a revolução precisa e quer expandir-se e 2) o novo poder, para consolidar-se e governar, precisa expurgar seus elementos mais “radicais”. E alguma hora precisa fazer a velha superestrutura trabalhar para o novo status quo.
A crise entre o “olavismo” e “os militares” é indicação de que a 2ª tendência vai aos poucos prevalecendo sobre a 1ª, e o processo nunca é linear ou indolor. Mas costuma ser irreversível. Num paralelo histórico que talvez desagrade ao bolsonarismo, este parece estar transitando da “revolução permanente” para o “bolsonarismo num só país”.
Não é casual que o choque mais visível e agudo apareça na política externa. O governo precisa decidir se a prioridade é 1) alinhar-se a –ou seguir a diretriz de– uma “internacional trumpista” ou 2) adotar para valer a linha de “o Brasil primeiro”. E isso vem sendo exposto na crise venezuelana. Como já vinha dando as caras em demais temas externos.
O desfecho ideal para o bolsonarismo na Venezuela seria uma “Revolução dos Cravos” de sinal trocado. A cúpula militar degolar o governo bolivariano sem derramamento de sangue, e promover rapidamente a transição pacífica para um regime constitucional alinhado ao “Ocidente”. Mas a coisa não parece estar tão à mão, ainda que cautela analítica em situações voláteis seja bom.
Mas, se tal saída não rolar, até onde o Brasil está disposto a ir na colaboração com o “regime change” em Caracas? A questão, de ordem prática, talvez seja o foco mais emblemático da tensão entre as duas tendências. Que algumas vezes é explicada como oposição entre alas “adulta” e “infantil”, ou “racional” e “irracional”. São descrições insuficientes.
Uns parecem acreditar que a sobrevivência do bolsonarismo depende centralmente de livrar a América do Sul de qualquer núcleo de poder relacionado aos partidos do Foro de São Paulo. Outros talvez achem que é melhor cuidar de consolidar o poder por aqui mesmo, a arriscar um conflito de consequências políticas, regionais e internas, potencialmente desestabilizadoras.
As duas correntes têm argumentos. A favor da 2ª, há duas coisas que governos precisam pensar muitas vezes antes de fazer: convocar um plebiscito e começar uma guerra. #FicaaDica.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...