terça-feira, 20 de outubro de 2020

Ruy Castro sobre a grande família bolsonarista

 Ruy Castro identifica algumas espécies, tipos, representantes, exemplos e modelos da já grande família bolsonarista.

Vc, caro leitor, pode estar entre eles, veja bem se se enquadra em algumas delas.

Ou não. Pode ser um cidadão ou cidadã perfeitamente honesto(a), ingênuo(a) e true believer, isto é, um verdadeiro crente nas supostas virtudes do capitão.

Ou não, e ser apenas um(a) idiota útil, ou inútil, para mais uma tropa de assaltantes do Brasil.

Leia, reflita, observe, conclua:

Paulo Roberto de Almeida

Ruy Castro (FSP, 19/10/2020)

“Texto de Rui Castro, hoje na Folha

Rui Castro, hoje na Folha. vale a leitura. 

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Todos os fãs de Bolsonaro

Se você gosta dele e acha que a corrupção acabou, veja se se enquadra em alguma categoria. Iludem-se os que acreditam que Jair Bolsonaro só tem adeptos entre a meia dúzia que vai vê-lo quando ele sai do Alvorada para, digamos, trabalhar. Bolsonaro tem seguidores em muitas categorias. Eis algumas.

Pecuaristas, madeireiros, garimpeiros, grileiros e incendiários infiltrados na Amazônia, no Pantanal, na mata atlântica, nos manguezais, restingas, dunas, terras indígenas e quaisquer santuários que possam ser destruídos e enriquecer amigos. Ex-cupinchas da Velha Política, sempre prontos a ser comprados. Profissionais das bancadas do boi, da bala e da Bíblia. Assessores de gabinete dispostos a ceder 80% de seus salários pagos com dinheiro público, lavá-los e depositá-los nas contas de seus familiares. Formadores de quadrilha, praticantes de peculato e operadores de esquemas, investigados, denunciados ou réus em ações judiciais. Juízes complacentes e advogados corruptos. Lobistas diversos, íntimos dos 01, 02 e 03.

Militares ideológicos, fãs confessos de torturadores, ou apenas oportunistas, a fim de cargos no governo. PMs expulsos, delegados venais, chefes de milícias e matadores de aluguel, presos ou foragidos. 

Fabricantes de armas e "colecionadores" das ditas. Pastores evangélicos, animadores de televisão, cantores sertanejos e promotores de rodeios, todos felizes beneficiários das novas mamatas.Negacionistas, homófobos, terraplanistas, camelôs de cloroquina, disparadores de fake news, linchadores virtuais, incineradores de livros, fascistas assumidos e odiadores por atacado. E uma próspera alcateia de bolsonaros, composta de filhos, mulheres, ex-mulheres, mães, noras e aliados do presidente, dedicados a vultosas transações com dinheiro vivo e sem explicação contábil, às vezes transportado entre as nádegas.

Bolsonaro tem também seguidores bem intencionados, que não se veem nas categorias acima e acham que, com ele, a corrupção acabou.”

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Estaria a Suécia e Elon Musk corretos? E todos os epidemiologistas errados? - Jonathan Miltimore

 Elon Musk sobre o lockdown: A Suécia estava com a razão?

Jonathan Miltimore é editor-gerente do site FEE.org. Seus textos aparecerem na revista TIME, The Wall Street Journal, CNN, Forbes, Fox News e Star Tribune.

Gazeta do Povo, 16/10/2020 


Quando as pessoas pensam em países polarizados, elas raramente mencionam a Suécia. Ao menos era assim antes de 2020.

A decisão sueca de "levar com leveza" a pandemia de coronavírus ignorando os lockdowns rígidos e se baseando sobretudo na responsabilidade social para estimular o distanciamento fez do país um alvo de muitas críticas.

Muitos analistas diziam que a Suécia estava sendo irresponsável e egoísta ao se recusar a impor um lockdown econômico como a maioria dos outros países ao redor do mundo.

Ainda que a taxa de mortalidade per capita permanecesse bem abaixo de vizinhos europeus como o Reino Unido, a Bélgica e a Espanha países que impuseram lockdowns rígidos a Suécia se tornou, nas palavras de um repórter da CBS, "um exemplo de como não lidar com a Covid-19".

Como observado anteriormente, contudo, o fato de a Suécia ter sido atacada tem menos a ver com os resultados das medidas e mais com o caráter dessas medidas. Havia exemplos "de advertência" como a Bélgica, país com uma população semelhante, mas cuja taxa de mortalidade per capita é 50% maior do que a da Suécia.

Ao contrário da Suécia, contudo, a Bélgica impôs um lockdown restrito que, como relatou a BBC em maio, foi fiscalizado com drones em parques e multas para todos os que burlavam as regras de distanciamento social. Mas ninguém se importava com a Bélgica porque eles tinham seguido o roteiro dos lockdowns.

Meses mais tarde, a decisão sueca de ignorar lockdowns se mostra a mais acertada. Enquanto boa parte da Europa está sofrendo uma segunda onda da doença, os números da Suécia vão no sentido contrário. Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde e milhares de médicos e autoridades de saúde pública hoje se posicionam contra os lockdowns como forma de conter o vírus.

O motivo para isso é óbvio. Enquanto os prejuízos causados pelos lockdowns são claros trilhões de dólares em perdas, deterioração da saúde mental e decadência social não há provas de que essas medidas tenham reduzido as mortes por Covid-10 ou a disseminação do vírus.

Musk: a Suécia estava certa

Os resultados da estratégia sueca se tornam mais evidentes a cada dia que passa. E cada vez mais pessoas estão começando a notar isso.

"A Suécia estava certa", tuitou recentemente o fundador da Tesla, Elon Musk.

Musk, claro, suspeita da eficácia dos lockdowns há meses.

Ainda em maio, ele ousou retomar a produção na fábrica da Tesla em Fremont, na Califórnia, desafiando as ordens do governo para que a instalação permanecesse fechada.

A Tesla está retomando a produção hoje, "contra as regras do condado de Alameda", tuitou na época Musk. "Eu estarei na linha de produção com todo mundo. Se alguém for preso, peço que seja apenas eu".

O ato de desobediência civil de Musk valeu a pena. As autoridades de saúde do condado de Alameda recuaram da decisão, revogando a ordem de fechamento da fábrica e aprovando temporariamente a reabertura do complexo.

As consequências dos lockdowns.

A Covid-19 é grave. Até meados de outubro, quase 1,1 milhão de pessoas no mundo todo haviam morrido, de acordo com dados da Johns Hopkins University. Entre eles, havia 216 mil norte-americanos.

Ao contrário de pandemias anteriores, contudo, os custos humanos foram acompanhados por uma recessão mundial e um colapso econômico sem precedente na história contemporânea. (Isso parece confirmar a análise anterior de Musk de que o perigo do pânico era uma ameaça maior do que o vírus em si).

Como notam o economista de Harvard David M. Cutler e o ex-economista-chefe do Banco Mundial Lawrence H. Summers , os custos da Pandemia de 2020 são diferentes de qualquer coisa que o mundo contemporâneo já viu.

"As perdas de produção dessa magnitude são imensas. A perda de produção na Grande Depressão foi 75% menor", escrevem os autores. "A perda econômica é duas vezes maior do que o custo monetário de todas as guerras que os Estados Unidos travaram desde 11 de setembro de 2001, incluindo as guerras no Afeganistão, Iraque e Síria".

As consequências econômicas dos lockdowns são inegáveis. Enquanto isso, são escassos os indícios de que eles tenham salvado vidas. Na verdade, novas pesquisas sugerem que os lockdowns ampliaram a disseminação do vírus.

Infelizmente, muitas pessoas ainda querem negar os dados e a ciência. Como disse recentemente um analista do Washington Examiner, quanto mais promissores os números da Suécia parecem, mais furiosas as pessoas ficam.

Esse é o perigo de se politizar o vírus. Ele esconde a realidade. Muitos parecem dispostos a defender o lockdown porque ele foi criado para ajudar as pessoas (ou talvez porque o presidente Trump tenha resistido a esse tipo de medida), mas esse tipo de raciocínio deveria ser evitado.

"Um dos maiores erros possíveis é julgar medidas e programas por suas intenções, não resultados", disse o economista ganhador do Prêmio Nobel Milton Friedman.

Em vez de rejeitarmos a Suécia e estados como a Dakota do Sul, que expuseram as falhas dos lockdowns, deveríamos agradecê-los.

Sem eles, talvez jamais tivéssemos descoberto a verdade que está se tornando mais óbvia a cada dia: os lockdowns fracassaram.


©2020 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês

Alô DPF: que tal olhar a indústria dos trabalhos plagiados? Isso também é corrupção e fraude...

 Acabo de receber a oferta abaixo.

Não sei se algum candidato a uma vaga existente no STF recorreu alguma vez a um serviço destes. Provavelmente não: sempre existem colegas de escritório que se dispõem a trabalhar na confecção de teses, dissertações, artigos, notas, pós-docs, e outras coisas mais... 

Paulo Roberto de Almeida


Olá,

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Heleno admite que Abin monitorou 'maus brasileiros' na Conferência do Clima - Felipe Frazão (OESP)

 Como já escrevi, quero me inscrever nesse "clube" dos "maus brasileiros" do Heleno (de Troia?).

Num governo de boçais, paranóicos, autoritários e ignorantes, melhor se distinguir desde já dos "brasileiros" dos saudosistas da ditadura militar, e fazer parte de outro grupo, esse aí aventado pelo PIOR chefe do GSI desde que foi criado. Vou pedir ao Heleno o formulário de inscrição...

Paulo Roberto de Almeida 


Heleno admite que Abin monitorou 'maus brasileiros' na Conferência do Clima

Felipe Frazão

O Estado de S.Paulo, 16/10/2020

   
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, admitiu nesta sexta-feira, dia 16, que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) monitorou participantes da Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP 25), realizada em Madri, em dezembro passado. Em sua conta no Twitter, ele escreveu que o órgão deve acompanhar campanhas internacionais apoiadas por "maus brasileiros", que o governo Jair Bolsonaro entende como prejudiciais ao Brasil.

Ele afirmou que a Abin tem competência legal para atuar na COP e continuará a agir em "eventos no Brasil e no exterior". "Temas estratégicos devem ser acompanhados por servidores qualificados, sobretudo quando envolvem campanhas internacionais sórdidas e mentirosas, apoiadas por maus brasileiros, com objetivo de prejudicar o Brasil", escreveu o ministro. "A Abin é instituição de Estado e continuará cumprindo seu dever em eventos, no Brasil e no exterior."

A admissão de Heleno ocorreu quatro dias depois de o Estadão revelar detalhes da operação realizada por quatro agentes da Abin, três deles recém-concursados, no mais importante evento sobre o clima do mundo. A reportagem confirmou com um dos oficiais de inteligência enviados à Espanha que o objetivo era monitorar e relatar menções negativas a políticas ambientais do governo Bolsonaro, especialmente na Amazônia. Eles focaram nas organizações não-governamentais (ONGs), com as quais o governo mantém relação conflituosa, mas também observaram atividades e integrantes da própria comitiva brasileira e de delegações estrangeiras.

Heleno está sob pressão. A manifestação do ministro no Twitter ocorre também depois de deputados oposicionistas, da bancada do PSOL, acionarem a Procuradoria-Geral da República e a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão cobrando investigação por crime de responsabilidade e ato de improbidade administrativa. Os parlamentares pedem que Heleno e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sejam responsabilizados pela operação da Abin e pela omissão de informações ao Congresso. A Constituição prevê punição por envio formal de informações falsas requisitadas por congressistas.

Ao responder a requerimento por escrito, o Itamaraty deixou de informar no ofício à Câmara dos Deputados sobre a presença de nomes da Abin e do GSI na delegação brasileira. O documento omite o vínculo funcional dos quatro oficiais de inteligência concursados da agência e de um assessor de confiança que representou Heleno no na ONU, o coronel da reserva do Exército Adriano de Souza Azevedo, da Assessoria de Planejamento e Assuntos Estratégicos. Todos foram identificados apenas como "assessores" da Presidência da República.

Apesar disso, Heleno alega que o governo foi "transparente" porque a Abin publicou na versão antiga de seu site uma nota dizendo que "integrou a COP 25", dias depois de a missão em Madri ter sido concluída. Questionados há 10 dias, nem o GSI nem a Abin haviam se manifestado ou respondido a perguntas da reportagem sobre a operação na ONU. Sem precedentes, ela foi contestada também por ambientalistas, diplomatas, ex-chefes de delegação internacional e dirigentes de ONGs.

Crachá

Tendo o elo com Abin oculto, eles foram credenciados na ONU pelo Itamaraty como "analistas" do GSI para supostamente participar das rodadas de "negociações" da COP 25. Com isso, receberam um crachá com tarja rosa que dava o mais amplo acesso a salas de negociação e a espaços sob responsabilidade e segurança das Nações Unidas. A suspeita da presença deles e o comportamento no pavilhão de debates e exposições organizado por ONGs, o Brazil Climate Action Hub, provocou um clima de desconfiança generalizada na delegação.

Até delegados de outros países entraram em alerta. Intimidados, servidores técnicos deixaram de falar em público com ambientalistas, que por sua vez notaram comportamentos suspeitos e deixaram de promover reuniões de coordenação numa sala de debates envidraçada, após abordagem de um "representante do GSI".

O Estadão consultou as listas oficiais das delegações nas edições da COP de 2013 a 2018, em posse das Nações Unidas. Em nenhuma delas aparece o nome de representantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ou da Abin. Fontes acostumadas a participar do evento disseram ser a primeira vez que a Abin monitorou o encontro.

https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,heleno-admite-que-abin-monitorou-maus-brasileiros-na-conferencia-do-clima-da-onu,70003478088

Sobre as eleições bolivianas e nossa circunstância diplomática - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre as eleições bolivianas e nossa circunstância diplomática

Uma triste reflexão sobre os descaminhos de uma política externa regional que já foi mais sensata, num passado não muito distante. Vamos para um buraco negro diplomático?

Paulo Roberto de Almeida (19/10/2020, 08:00)


 Essa vitória da esquerda na Bolívia também representa uma grande derrota para a diplomacia bolsolavista, que sempre apoiou a extrema-direita. 

Aguardem que o capitão vai começar a xingar a “esquerdalha” de lá, dizendo que MT e MS vão virar uma nova Roraima. Querem apostar? Não costuma falhar.

O homem não se contém e costuma ser estimulado pelo chanceler acidental, que ainda exacerba nas agressões verbais.

Triste fim de uma outrora bem sucedida liderança diplomática natural, de natureza sobretudo moral e puramente política, do Brasil na região. Nunca antes em nossa história diplomática fomos o contrário do que deveríamos ser na política externa regional e na construção de um espaço econômico unificado, pelo menos no Cone Sul Latinoamericano.

Desde 2019, o Brasil se descolou inteiramente da América do Sul: vive em outro planeta, na Trumplândia, situado numa galáxia a anos-luz de distância de qualquer processo de integração que se possa conceber.

Quando esse planetinha medíocre e patético cair no buraco negro da derrota eleitoral de 3 de novembro, o Brasil da Bolsolândia estará singularmente sozinho no universo de sua própria mediocridade diplomática. 

Quem vai lhe fazer companhia na solitude? Orban? Modi? O UKIP do Brexit? Salvini no seu desterro italiano?

Sequer a direita racional de Lacalle e Pinera lhe fazem companhia, num isolamento que nunca existiu desde o Segundo Reinado.

Nunca o Brasil ficou tão só num continente que é a nossa circunstância orteguiana.

Desde Rosas e as intervenções entre Blancos e Colorados, ou talvez desde a Cisplatina, os entreveros diplomáticos foram tão grandes num contexto geográfico que deveria ser de construção, não de destruição de pontes diplomáticas. 

O Bolsolavismo diplomático desmantelou até a capacidade do Brasil ser o mediador que sempre foi nos problemas regionais, pelo menos desde Oswaldo Aranha, este até mais do que o Barão.

Este terrível parênteses de mediocridade diplomática vai estar tristemente registrado nos anais de nossa história regional dos últimos 150 anos, desde o final da Guerra da Tríplice Aliança. 

Certos retratos não deveriam figurar em paredes de uma galeria que já hospedou algumas mediocridades, mas raramente, ou nunca, capachos desequilibrados.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 19/10/2020

domingo, 18 de outubro de 2020

Celso Lafer: Negacionismo na política externa (OESP)

Opinião

Diplomacia e conhecimento

O negacionismo nos isola no mundo e compromete a nossa inserção internacional.

Celso Lafer

O Estado de S.Paulo, 18 de outubro de 2020 | 03h00

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,diplomacia-e-conhecimento,70003478204

 

Robert Zoellick, ex-presidente do Banco Mundial, acaba de publicar o livro America in the World. Nele, com conhecimento e experiência diplomática, examina o papel da política externa na construção do poderio dos Estados Unidos no mundo. Um capítulo é dedicado a Vannevar Bush, por ele qualificado como o “inventor do futuro”.

Bush dirigiu o Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento nos governos Roosevelt e Truman. Escreveu Science: The Endless Frontier, excepcional documento de 1945, que inspirou a criação da Fapesp. A Vannevar Bush se deve a concepção do sistema americano de ciência e tecnologia após a 2.ª Guerra Mundial, levando em conta a interdependência da ciência básica e aplicada e da complementariedade entre os distintos papéis do governo, de uma comunidade científica e universitária livre e independente, da indústria e dos empresários privados. 

A implementação das concepções de Bush criou um modelo de inovação que eclipsou o sistema soviético, estatal. Esse é um dos dados do sucesso americano na dinâmica da bipolaridade Leste/Oeste. O desafio do presente é a competição entre o modelo de pesquisa e inovação dos EUA e o que vem sendo construído com apreciável sucesso pela China.

Bush antecipou a velocidade com que a cultura científica da pesquisa expande vertiginosamente as fronteiras do conhecimento e vem trazendo mudanças significativas em todas as esferas e dimensões, alterando as condições da vida em escala planetária e impactando a dinâmica da ordem mundial. Henry Kissinger observou que a era digital colonizou o espaço físico e permitiu a ubiquidade do funcionamento das redes que operam na instantaneidade dos tempos. Isso vem induzindo grandes transformações, até na maneira de conduzir a política externa e de atuar no campo diplomático.

Ciência e conhecimento são dados de base do cenário mundial do século 21, o que confere realce especial à afirmação de Bacon “conhecimento é poder”, nela se incluindo o poder da sociedade de dar rumos aos seus caminhos. 

Desde o Renascimento a ciência é uma atividade internacional que se alimenta do intercâmbio de ideias e descobertas. Daí as atividades internacionais das academias científicas, incluída a brasileira, no exercício de uma diplomacia da ciência. 

As formas como a ciência se insere na pauta internacional e interna levaram a Royal Society inglesa a elaborar novas formulações que vão além da tradicional diplomacia da ciência. Daí o destaque dado à ciência na diplomacia e nas políticas públicas em geral e da ciência em prol da diplomacia. Essas vertentes são ingredientes de grande relevo para um juízo diplomático apropriado para identificar as necessidades internas do País e avaliar possibilidades de melhor inserção internacional.

Dois itens da pauta interna e internacional são reveladores de um negacionismo do papel da ciência e do conhecimento nas políticas públicas e na diplomacia do governo Bolsonaro. O primeiro diz respeito à sua postura no enfrentamento da crise da covid-19, que fez aflorarem novos riscos para a saúde do mundo. A gestão desses riscos requer conhecimento e cooperação internacionais. Demanda as pontes de um multilateralismo permeado pela ciência na diplomacia. Não está no horizonte de uma diplomacia de confronto, que rejeita o acervo de realizações da tradição da política externa brasileira e se alinha aos muros dos unilateralismos excludentes.

O segundo diz respeito ao meio ambiente, tema global, transversal, que permeia a vida internacional. Foi o conhecimento que identificou os riscos que põem em questão a integridade dos ecossistemas, que, no seu conjunto, sustentam a vida na Terra. Foi o aprofundamento do conhecimento que ampliou o escopo operativo da gestão de riscos nessa matéria.

O paradigma do desenvolvimento sustentável consagrado na Rio-92 assinala a presença internacional ativa do Brasil nesse campo e é um exemplo da ciência na diplomacia. O desenvolvimento sustentável é o caminho para lidar, com o apoio do conhecimento, com a interligação economia e meio ambiente.

O desabrido negacionismo do governo Bolsonaro, por atos e palavras, em relação ao tema do meio ambiente é uma denegação do prévio acervo de realizações das políticas públicas brasileiras e de suas instituições de conhecimento. Corrói a credibilidade internacional do Brasil. Põe em questão a nossa capacidade, como país, de lidar criativa e construtivamente, pelo conhecimento, com a riqueza da nossa natureza e com o nosso potencial de crescimento econômico.

Em síntese, como diz o provérbio, “pior cego é o que não quer ver e pior surdo, o que não quer ouvir”, manifestado neste governo por um duplo e interconectado negacionismo: a denegação da importância dos fatos que a ciência e o conhecimento revelam e a recusa do papel da ciência e do conhecimento como o caminho para o seu deslinde. É o que nos isola no mundo e compromete a nossa inserção internacional.


PROFESSOR EMÉRITO DA USP, EX-PRESIDENTE DA FAPESP (2007-2015), EX-MINISTRO DE RELAÇÕES EXTERIORES (1992 E 2001-2002), É MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS.

 


Albert Fishlow: derrota para Trump, dificuldades para Bolsonaro (OESP)

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,trump-vai-perder-e-o-mesmo-pode-ocorrer-com-bolsonaro,70003478931

COLUNISTA

 

Trump vai perder (e o mesmo pode ocorrer com Bolsonaro)

Há uma vaga aberta no País para uma liderança de credibilidade

Albert Fishlow

O Estado de S.Paulo18 de outubro de 2020 | 05h00

 

O eleitorado terá seu momento de decisão nos Estados Unidos em apenas duas semanas. Minha expectativa é de uma derrota decisiva de Trump. Há razões importantes para isso.

Em primeiro lugar, sua política para a economia doméstica foi um grande fracasso. Sob o governo Trump, a expansão funcionou bem até esse ano, por um motivo significativo. O déficit fiscal federal seguiu alto durante o mandato dele, possibilitando uma alta no consumo e a construção de novas habitações.

Mas, com os juros mantidos em patamares baixíssimos, não havia problema nisso. A inflação foi trivial. A lógica pedia um auxílio federal maior para o terceiro trimestre, como anteriormente nesse ano, mas ele não conseguiu fazer com que o senado republicano agisse. Eles preferiram concentrar suas atenções na vaga para a Suprema Corte.

Em segundo lugar, sua política externa apresentou pouco progresso. Trump pareceu atraído principalmente por ditadores estrangeiros, e seus assistentes (uma equipe que ele renovou várias vezes) jamais conseguiram acompanhar sua insistência em glorificar-se publicamente. Seja ao lidar com a Coreia do Norte, com a China, as Filipinas, Arábia Saudita, Turquia, Ucrânia, Rússia e outros países, ele pensou que seu estilo simplista de administração invariavelmente funcionaria. Em se tratando da Europa Ocidental e da Otan, ele ofereceu pouco de positivo – além de seus campos de golfe, quem sabe.

Em terceiro lugar, suas preferências em termos de políticas sociais foram abomináveis. A atitude em relação aos imigrantes foi desprezível. Todos lembram da incapacidade de Trump de estabelecer um consenso quanto às etapas viáveis positivas para reduzir o crescente fluxo de imigrantes, e do seu interesse na deportação forçada. Mas a questão do desejo por uma melhoria no ensino não pode ser tirada do quadro. A questão da restauração do foco em sistemas públicos de qualidade em todo o país não é trivial, seja para o ensino dos jovens ou daqueles em idade universitária.

Por outro lado, os americanos quase pobres fracassaram feio em acompanhar os ricos, beneficiados por impostos muito mais baixos. Eles não receberam novo treinamento para desenvolver habilidades para novas ocupações. É claro que se trata de um problema desafiador, mas uma questão que pouco preocupou Trump.

Em quarto lugar, sua incapacidade de compreender a necessidade de uma política coerente de saúde remonta ao seu ódio em relação ao Obamacare. O nome em si era suficiente para irritá-lo profundamente e provocar sua insistência em substituir o programa por algo menos caro e infinitamente melhor. Mas há claramente um problema. Atualmente, os EUA gastam cerca de 18% do PIB em atendimento de saúde, muito mais do que outros países desenvolvidos. Mas os americanos não têm cobertura universal.

Mudanças são necessárias. Se não ocorrerem, o gasto seguirá aumentando conforme a média etária continua subindo. O mesmo vale para novos arranjos para o financiamento dos pagamentos de seguridade social, situação na qual, seguindo a mesma mudança demográfica da média etária, o sistema será incapaz de garantir o pagamento de benefícios cada vez maiores. Em ambos os casos, Trump (e o Partido Republicano) jamais chegaram sequer a apresentar um plano convincente.

Em quinto lugar e, talvez, resumindo os demais pontos, a visão de Trump do poder presidencial como janela de oportunidade para ganhos materiais para seus parentes mais próximos não é a qualidade de liderança executiva exigida. Sua insistência maníaca nas mentiras - a contagem oficial já passou de 20 mil - sugere a necessidade de tratamento psiquiátrico, e não de uma reeleição.

O Brasil também terá pela frente uma eleição no mês que vem, mas envolvendo o nível municipal e um terço do Senado. Como Bolsonaro decidiu criar um novo partido no ano que vem, seu envolvimento tem sido modesto, porém crescente nas semanas mais recentes. Após a conclusão do pleito, certamente haverá mudanças no nível federal como preparativos para 2022.

Bolsonaro reteve (e até melhorou) sua aprovação popular em pesquisas recentes. A maioria das estimativas para o ano que vem no Brasil mostram a expectativa de um crescimento de 3% a 4% do PIB - muito melhor do que os 5% de declínio previstos para este ano. Mas, para tanto, pode ser necessário um desempenho melhor na Europa e nos EUA, coisa que as novas quarentenas motivadas pelo retorno do coronavírus talvez impeçam. China e Índia certamente crescerão bastante.

Será que o desempenho econômico melhorado servirá como alavanca para as esperanças de Bolsonaro quanto à sua reeleição? Não necessariamente. Muito vai depender do quanto essa melhoria for parte de uma estratégia articulada de prazo mais longo, ou apenas uma recuperação cíclica seguida por crescimento medíocre. Ainda sabemos pouco a respeito de quem vai dirigir a transformação do comércio encolhido para o comércio expandido, do consumo para o investimento, da expansão em novas áreas de investimento coordenado como parte da globalização. Por outro lado, o nível de endividamento e os déficits fiscais funcionarão como novas distrações.

Cada vez mais, essas questões virão para o primeiro plano conforme a atividade se recupera mais plenamente e a doença alcança possíveis novos patamares com o público correndo para as praias e a primavera se transformando em verão. Há uma vaga aberta para uma liderança de credibilidade. /

 

Tradução de Augusto Calil

Economista e cientista político, professor emérito nas universidades de Columbia e da Califórnia em Berkeley. 

 

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