segunda-feira, 8 de abril de 2024

Estadão diz que, sob Lula, Brasil é “impotência regional medíocre” - Editorial Estadão

Estadão diz que, sob Lula, Brasil é “impotência regional medíocre”

Jornal considera o petista rígido com a Europa e o Oriente, mas omisso em relação ao próprio continente

Pleno News, 8/04/2024

https://pleno.news/brasil/politica-nacional/estadao-diz-que-sob-lula-brasil-e-impotencia-regional-mediocre.html?utm_source=pushnotification&utm_medium=notificacao 

O jornal O Estado de S.Paulo chamou o Brasil sob a gestão Lula (PT) de “impotência regional medíocre” ao observar que o país permanece omisso diante dos abusos cometidos pelo ditador Nicolás Maduro, na Venezuela. No texto opinativo, o periódico aponta que, enquanto o petista comete exageros ao falar da Europa e do Oriente Médio, ele impõe um “silêncio ensurdecedor ao Itamaraty” em relação ao próprio continente Sul Americano.

O editorial contextualiza que Maduro, após impedir que o principal grupo de oposição se candidatasse às eleições, decidiu agora “legalizar” a repressão por meio de uma lei “Contra o Fascismo, Neofascismo e Expressões Similares”. Através da nova legislação, qualquer manifestação ou movimento que o regime considerar “fascista” poderar ser punido com mais de 8 anos de cadeia.

– A ironia é que, se houvesse Justiça independente na Venezuela, Maduro e seus bate-paus seriam os primeiros a ser punidos por esses crimes, a começar pelo último. Não há na América do Sul nada mais similar ao regime fascista de Mussolini que o regime chavista – avalia o jornal.

O Estadão também apontou que Maduro promulgou a lei criando o Estado venezuelano da “Guiana Essequiba”, visando anexar 70% do território do país vizinho. Apesar disso, o que de fato surpreende o veículo de imprensa não é a postura de Maduro e sim a omissão da parte de Lula.

– A condenação da comunidade internacional civilizada é unânime, inclusive de lideranças de esquerda latino-americanas. Todos os países do Mercosul, com exceção do Brasil, condenaram sem meias palavras a orgia totalitária chavista. (…) Lula rebaixou o Estado brasileiro a uma usina de panos quentes. No improviso de uma entrevista coletiva, Lula se descuidou de sua habitual hipocrisia deixando escapar que considera “grave” o bloqueio à candidatura da substituta de Corina, mas, oficialmente, o máximo que permitiu à sua chancelaria foi uma nota de “preocupação”. O resto é silêncio, mesmo ante a ameaça de um conflito regional – assinalou o periódico.

Por fim, o Estadão manifesta que a política externa brasileira foi “sequestrada pelas afinidades pessoais e ideológicas de Lula” e está “desmoralizada ante a comunidade internacional”.


Balance of Power: EUA desejam que a China reveja a sua política industrial e "excesso' de exportações - Jenni Marsh (Bloomberg)

 Balance of Power 

Bloomberg, April 8, 2024


President Xi Jinping’s vision for powering China’s economy through a major manufacturing drive is raising tensions with some of his nation’s biggest trading partners.

The domestic need for growth means he’s unlikely to change course.

During her visit to China this week, US Treasury Secretary Janet Yellen implored top Chinese leaders to rethink their industrial strategy, saying the Asian nation was producing more goods than the world could bear.

The trained economist advised policymakers to improve “retirement security” and “affordable education” to reduce household savings and encourage domestic spending, in a bid to rebalance the world’s second-largest economy.

Essentially, she proposed an entire rethink of their economic strategy.

The leadership in Beijing well knows the problems, and even outlined overcapacity as an issue in a major policy document earlier this year.

But an entrenched crisis in the property sector that once drove about a quarter of annual expansion means China can’t afford to abruptly shift plans if it wants to hit an ambitious growth target of around 5% this year.

President Joe Biden’s campaign to severely restrict China’s access to cutting-edge semiconductors only adds to the impetus. China has made technological self-sufficiency a national priority, as it tries to advance domestic chip design and manufacturing to protect against threats from US policy.

With a US presidential election looming in America this November, Beijing is facing increasing pressure from the world’s biggest economy with Republican contender Donald Trump threatening 60% tariffs on China.

As Xi tries to challenge the US-led world order, his main partner in that mission is President Vladimir Putin.

The Chinese leader’s continued support for his Russian counterpart might be leading to more tension with the US, but it’s another area where he’s unlikely to back down. 


A ordem global está baseada no poder bruto, militar, mas há outros fatores

 Resumindo o quadro a seguir:

🇺🇲 The US spends more on its military than the following countries combined:

China 🇨🇳

Russia 🇷🇺

India 🇮🇳

UK 🇬🇧

Germany 🇩🇪

France 🇫🇷

Saudi Arabia 🇸🇦

Japan 🇯🇵

South Korea 🇰🇷

Ukraine 🇺🇦

Israel 🇮🇱

Iran 🇮🇷

Ou seja, os EUA ainda são a grande potência hegemônica mundial, capazes de confrontar qualquer outro poder militar. Mas o domínio do poder nuclear por alguns deles pode alterar os dados de uma equação bélica de confronto direto e total. 

Cabe considerar esta coalizão:

NATO countries by year:

1949: 12 (🇧🇪 🇨🇦 🇩🇰 🇫🇷 🇮🇸 🇮🇹 🇱🇺 🇳🇱 🇳🇴 🇵🇹 🇬🇧 🇺🇸)

1952: 14 (+ 🇬🇷 🇹🇷)

1955: 15 (+ 🇩🇪)

1982: 16 (+ 🇪🇸)

1999: 19 (+ 🇨🇿 🇭🇺 🇵🇱)

2004: 26 (+ 🇧🇬 🇪🇪 🇱🇻 🇱🇹 🇷🇴 🇸🇰 🇸🇮)

2009: 28 (+ 🇦🇱 🇭🇷)

2017: 29 (+ 🇲🇪)

2020: 30 (+ 🇲🇰)

2023: 31 (+ 🇫🇮)

2024: 32 (+ 🇸🇪)


Livros sobre s politica externa brasileira- ESRI

 Observaoinici:

Seleção baseada numa visão apenas acadêmica das relações exteriores, da politica externa e da diplomacia brasileira. Seria preciso complementar com obras de diplomatas. (PRA)

 Livros  de  Política  Externa Brasileira  –  Dinâmicas   Períodos 

Preparamos uma seleção especial com os melhores e mais importantes livros de política externa brasileira. 

política externa do Brasil, com suas dinâmicas complexas e impacto significativo tanto no cenário global quanto interno, é um campo de estudo importante e crucial para compreender o papel do país no mundo.

A formulação e execução da política externa do país refletem não apenas suas aspirações de desenvolvimento e inserção global, mas também os desafios geopolíticos e socioeconômicos enfrentados ao longo de sua história. 

Dessa forma, os livros de política externa brasileira servem como ferramentas essenciais para desvendar os caminhos trilhados pelo Brasil nas relações internacionais, oferecendo uma visão abrangente e aprofundada dos princípios, estratégias e resultados dessas políticas. Ao explorar obras que cobrem diferentes períodos e aspectos da política externa brasileira, podemos perceber a evolução e as constantes adaptações do país às mudanças no cenário internacional.

Para quem busca mergulhar nos estudos da política externa brasileira, apresentamos uma seleção criteriosa de livros que são referências no tema. Estas obras proporcionam uma compreensão abrangente da disciplina, desde suas raízes históricas até as tendências contemporâneas. Além disso, estabelecem conexões entre os diversos períodos da política externa do Brasil, ilustrando como decisões passadas ecoam nas práticas atuais.

Livros de Política Externa Brasileira

Organizamos a lista de maneira que reflita uma sequência lógica e didática, facilitando a compreensão da evolução da política externa brasileira:

  1. Política Externa Brasileira – Henrique Altemani de Oliveira
  2. História da Política Exterior do Brasil – Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno
  3. Relações Exteriores do Brasil I (1808-1930) – José Luiz Werneck da Silva e Williams Gonçalves
  4. Relações Exteriores do Brasil II (1930-1964) – Paulo Fagundes Visentini
  5. Relações Exteriores do Brasil III (1964-1990)– Analúcia Danilevicz Pereira
  6. Sucessos e Ilusões: Relações Internacionais do Brasil Durante e Após a Segunda Guerra Mundial – Gerson Moura
  7. De Dutra a Lula: A Condução e os Determinantes da Política Externa Brasileira – Octavio Amorim Neto

Vou conectar os livros e aspectos importantes, assim facilitará a sua organização dos estudos. Bora lá?

“História da Política Exterior do Brasil”, de Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno, oferece uma base sólida para entender as origens e a evolução da política externa brasileira. Este livro é fundamental para aqueles que desejam começar seus estudos com uma visão abrangente da matéria, delineando os principais eventos e figuras que moldaram a direção da política externa desde o início da nação.

Livros de Política Externa Brasileira

Seguindo a linha do tempo, “Relações Exteriores do Brasil I (1808-1930)”, por José Luiz Werneck da Silva e Williams Gonçalves, e “Relações Exteriores do Brasil II (1930-1964)”, por Paulo Fagundes Visentini, juntos cobrem um vasto período da história brasileira, oferecendo detalhes sobre as políticas externas em momentos-chave da formação do Estado brasileiro até o pós-Segunda Guerra Mundial. Estas obras detalham as estratégias e contextos específicos de cada época, proporcionando uma compreensão profunda das bases sobre as quais a política externa contemporânea foi construída.

Livro de Política Externa Brasileira

A continuação natural desses estudos se encontra em “Relações Exteriores do Brasil III (1964-1990)”, de Analúcia Danilevicz Pereira. Este volume foca em um período turbulento da história brasileira, marcado por regimes militares e a busca por uma nova identidade no cenário internacional, oferecendo insights preciosos sobre as decisões e desafios enfrentados pelo Brasil durante a Guerra Fria.

Livro de Política Externa Brasileira

Para compreender as dinâmicas da política externa brasileira no contexto pós-Segunda Guerra e suas repercussões até os dias atuais, “Sucessos e Ilusões: Relações Internacionais do Brasil Durante e Após a Segunda Guerra Mundial”, de Gerson Moura, e “De Dutra a Lula: A Condução e os Determinantes da Política Externa Brasileira”, de Octavio Amorim Neto, são leituras essenciais. Eles exploram as aspirações do Brasil no cenário global, os sucessos alcançados e os obstáculos enfrentados.

Livro de Política Externa Brasileira

Por fim, “Política Externa Brasileira”, de Henrique Altemani de Oliveira, serve como uma obra de referência atualizada, analisando as políticas externas mais recentes e seus impactos nos objetivos globais e regionais do Brasil. Este livro conecta os pontos entre o passado e o presente, mostrando como as lições históricas informam as práticas contemporâneas.

POLITICA EXTERNA BRASILEIRA livro

Cada livro desta lista não só aprofunda o entendimento sobre a política externa brasileira, mas também interliga as diversas fases da história do país, oferecendo uma visão holística e integrada. Essas obras são fundamentais para estudantes, acadêmicos, profissionais da área e todos aqueles interessados em compreender o papel do Brasil no palco internacional e as forças que moldam suas relações exteriores.

Leia também 

Guia de Política Externa – Fundamentos e Análise

Filmes sobre História do Brasil: 8 Clássicos para você assistir

20 de Abril – Dia do Diplomata: importantes diplomatas

Curso de Política Externa do Brasil

Quer aprofundar seu conhecimento sobre a complexa e fascinante política externa brasileira? 

O curso de Política Externa Brasileira, oferecido pela Revista Relações Exteriores, é sua porta de entrada para entender as nuances, estratégias e impactos das decisões do Brasil no cenário global. 

Com conteúdo atualizado e acessível, este curso é perfeito para estudantes, profissionais e todos aqueles que desejam compreender melhor as dinâmicas internacionais do país. Não perca esta chance de enriquecer sua formação e expandir suas perspectivas. 

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domingo, 7 de abril de 2024

Legado econômico da ditadura: desempenho da economia brasileira no período militar foi mediano - Samuel Pessoa (FSP)

Samuel Pessôa

Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP. 

Legado econômico da ditadura

Com ajustes necessários, desempenho da economia brasileira no período militar foi mediano 

Folha de S. Paulo,  07abr24

É fato que houve piora do desempenho econômico no período democrático medido pelo crescimento do PIB per capita. Nesta coluna, avaliarei qual teria sido o custo, na forma de perda de desempenho econômico, que tivemos com a democracia.

Análises como esta servem para aquelas pessoas que argumentam que a redemocratização foi ruim pois a economia tinha um desempenho melhor na ditadura.

Se a pessoa pensa dessa forma, para ela, a democracia não é um valor fundamental. Para essa pessoa, a escolha do tipo de governo tem que ser feita de acordo com as consequências práticas deste ou daquele tipo de governo. Não é a minha visão, mas vou aceitar essa premissa e analisar os números com esse olhar. 

Segundo os dados do Ipea, o crescimento brasileiro do produto per capita entre 1964 e 1984, considerando 1963 como base de comparação, foi de 3,9% ao ano. Para o período de 1985 até 2019 —deixei a fase da pandemia de fora—, foi de 1,2% ao ano. Houve, portanto, uma vantagem de 2,8 pontos percentuais por ano para a ditadura.

Note que mantive na conta a década perdida da ditadura, os anos 1980, e a década perdida da democracia, os anos de 2013 até 2022. Ambas tiveram uma componente internacional. Nos anos 1980, a elevação dos juros nos EUA; na última década perdida, a queda dos preços das commodities que ocorreu em duas etapas, em 2011 e 2014.

No entanto, o elevado grau de vulnerabilidade que demonstramos aos choques externos foi fruto de escolhas que fizemos internamente nos dois períodos. Com os militares, a decisão de endividar o país por meio de dívida em moeda estrangeira com juros flutuantes; no episódio mais recente, uma série de medidas —a mais importante delas

foi a mudança do marco regulatório do petróleo— que aumentaram muito a exposição da economia brasileira à queda dos preços internacionais das commodities.

Recentemente, em artigo publicado no terceiro fascículo de 2023 da Revista Brasileira de Economia, Edmar Bacha, Guilherme Tombolo e Flávio Versiani revisam os números da economia brasileira de 1900 até 1980. Com os novos números, o crescimento brasileiro ao longo do período ditatorial foi 1 ponto percentual menor do que a estatística que consta no Ipea. A vantagem da ditadura cai para 1,8 ponto percentual por ano.

A dificuldade de pararmos com o exercício por aqui é que a ditadura ocorreu em um período distinto daquele em que transcorreu a democracia. A economia mundial teve desempenho distinto.

Isto é, se imaginarmos um contrafactual em que a ditadura continuasse até agora, o crescimento não teria sido o mesmo. Qual teria sido o crescimento na ditadura se ela continuasse conosco?

Minha proposta é avaliarmos pela diferença entre o crescimento que tivemos na ditadura e a média do crescimento dos países na mesma época. Ou seja, a hipótese de meu exercício é que a diferença entre o comportamento do Brasil na ditadura em relação aos demais países naquele período se manteria até hoje. Considerarei como comportamento médio dos demais países o crescimento mediano de um conjunto de países que usarei como grupo de controle para a análise consequencialista do período ditatorial.

Considerei todos os países com informações disponíveis de PIB per capita de 1963 até hoje da base de dados de Maddison. Ajustei os números de Maddison para o Brasil à correção de Bacha, Tombolo e Versiani. O crescimento per capita brasileiro entre 1964 e 1984 foi de 2,4% ao ano, e o da mediana dos países da base de dados foi de 2,4%. Não houve uma clara vantagem da ditadura sobre a mediana das taxas de crescimento da base de Maddison.

Para o período democrático, o crescimento do Brasil foi de 1,9% ao ano, e o crescimento da mediana foi de 2,1%, uma diferença de 0,2 ponto percentual para pior.

Ou seja, a diferença da ditadura sobre o grupo de controle foi de 0,2 ponto percentual (0,2 + 0) maior que a diferença da democracia brasileira sobre o grupo de controle. Acumulada de 1985 até hoje, essa diferença gera um ganho de renda de 8%.

Parece muito pouco se levarmos em conta que o bem-estar de uma sociedade não depende só do ganho de renda, mas também da desigualdade, que certamente seria maior se a ditadura tivesse continuado até os dias de hoje.

Ou seja, nem o consequencialismo salva nossa experiência ditatorial.

Reestimating Brazil’s GDP growth from 1900 to 1980 - Edmar Bacha, Guilherme Tombolo, Flávio Versiani (Revista Brasileira de Economia)

Revista Brasileira de Economia

https://periodicos.fgv.br/rbe/article/view/88204

Reestimating Brazil’s GDP growth from 1900 to 1980

Autores

Palavras-chave: 

Brasil; Contas Nacionais; Século XX

Resumo

Resumo: Apresentamos evidências de superestimação do crescimento do PIB brasileiro tanto pela Fundação Getúlio Vargas de 1947 a 1980 quanto por Claudio Haddad de 1900 a 1947. A principal razão é viés de seleção em favor de atividades produtoras de bens de maior crescimento em detrimento de atividades de serviços de menor crescimento. Desenvolvemos e aplicamos métodos para incluir tais serviços nas séries de produto real. Como resultado, sugerimos cortes que reduzem a taxa de crescimento anual do PIB de 7,4% para 6,2% no período de 1947-1980 e de 4,4% para 4,0% no período de 1900-1947. Para todo o período de 1900-1980, os cortes que sugerimos reduzem a taxa de crescimento anual do PIB de 5,7% para 4,9%.


Falta de rumo de Lula 3 causa o barraco do BBB 24 da Petrobras - Vinicius Torres Freire (FSP)

Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA). 

Falta de rumo de Lula 3 causa o barraco do BBB 24 da Petrobras 

Após quase um terço do mandato, governo não tem política para a estatal, petróleo e energia 

Os assuntos mais importantes da Petrobras são política de preços, pesquisa e plano de investimento —quanto vai para petróleocombustíveis fósseis ou energia renovável. A petroleira é a única estatal, talvez a única empresa do país, que se possa chamar de "estratégica", como a esquerda gosta de dizer até de barraca de dogão.

Mais importante é a política nacional de petróleo e energia. Isto é, saber quanto mais petróleo se vai explorar e quais as alternativas econômicas que preservem a segurança do abastecimento de energia. Ou saber o que se vai fazer de impostos, dividendos e outros dinheiros petrolíferos. Por ora, tais receitas mal ajudam a cobrir as despesas do governo muito deficitário. Como seria possível, então, que a exploração de petróleo ajudasse a bancar pesquisa e desenvolvimento de energias renováveis? O que se pode fazer a respeito? 

Não há política nacional de petróleo e energia, apenas disputas desorganizadas em um governo que já vai completar um terço de mandato. Petrobras, Meio Ambiente, Minas e Energia, Casa Civil e Fazenda, para citar os mais influentes, no caso, têm ideias diferentes ou mesmo opostas a respeito. Não há decisão de rumo e projeto.

Não há nem mesmo política para Petrobras, apenas desejos de Luiz Inácio Lula da Silva. No limite, tais vontades vagas são incompatíveis com normas e com a solidez econômica da Petrobras. De imediato, tais desejos estimulam a politicalha, esse salseiro vexaminoso que prejudica também o crédito da petroleira e mesmo o do governo.

Nosso maior interesse vai para o BBB 24 da Petrobras. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, espezinha o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, para quem soltou em público, nesta Folha, um "sabe com quem está falando?" e um "ponha-se no seu lugar". O presidente da Petrobras pede a Lula que decida quem manda no barraco. Lula "se irrita", não gosta de ser "emparedado", vaza pelas mídias. Prates ou seus amigos choramingam anonimamente: Prates está "machucado". O drama cafona e irrelevante jorra. Informações sigilosas vazam.

Silveira é amiguinho do casal presidencial. Bajula o presidente, que quer "obras" da Petrobras: navio, refinaria, gasoduto, fábrica de lampião, sabe-se lá. Por vários motivos, pois, entre eles o desejo de mandar mais na empresa, Silveira se sente à vontade de dinamitar Prates, que tentava conciliar estatutos e interesses (e pressões internas) da empresa com os desejos de Lula quanto a preços e investimentos.

A vulgaridade do "reality" aumenta. Uma turma vaza veneno sobre Prates, suas nomeações heterodoxas na empresa, várias de petistas e sindicalistas, tendo, porém, deixado "bolsonaristas" em cargos relevantes. Outra turma vaza que Silveira e amigos seus no conselho da empresa são quase-bolsonaristas (nem bem isso são: agem de acordo com a oportunidade de poder). Etc.

Entra Aloizio Mercadante na história, que talvez substituísse Prates. No paredão, ele "desagrada" ao mercado; na fofoca amiga, teria dito a Prates que não vai lhe passar uma rasteira e que está "moderado" no BNDES.

O país adora fofoca, novela, barraco e reality, das elites toscas ao restante do povo. Disputa de poder e intriga são compreensíveis e mais interessantes do que balanços, eficiência, transição energética e política de desenvolvimento. Causa desânimo terminal que a burrice da conversa seja tão grande mesmo nisso que se chama de elite nacional.

Dentro e fora do governo, nos ministérios, no BNDES, na Petrobras etc., há gente séria e capaz de pensar uma política. O governo, porém, é uma desordem jeca, amigo de ideias provincianas e erradas de desenvolvimento. Lula, coadjuvado por vassalos atrasados e ignaros, deixou essa baderna daninha acontecer.


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