domingo, 15 de setembro de 2024

A Cúpula do Futuro de Lula esvaziada- Jamil Chade e Paulo Roberto de Almeida

A Cúpula do Futuro de Lula esvaziada

Jamil Chade e Paulo Roberto de Almeida 

Uma simples constatação: o sistema multilateral está irremediavelmente fraturado, enquanto ditadores se impuserem pela força, e enquanto lideres do chamado Sul Global forem complacentes ou coniventes com eles. A iniciativa de Lula estava condenada ao fracasso desde o início, pois que ele, entre muitos outros, se recusou a denunciar os violadores do Direito Internacional e nunca quis se juntar às nações democráticas, preferindo o seu protagonismo megalomaníaco. 

A diplomacia profissional se esforçou por angariar apoios entre os grandes e os menos grandes, mas o exercício estava condenado desde o início e isso era visível: falta de senso de realidade no chefe da diplomacia personalista e falta de coragem entre os profissionais para falar sinceramente dos riscos de um fracasso. Vão dizer que valeu o esforço. PRA


Da coluna de Jamil Chade:

Um pacto esvaziado

Era para ser o resgate da ONU e do sistema multilateral. Mas a Cúpula do Futuro, organizada para ocorrer a partir do dia 22 de setembro em Nova York, não contará com os líderes de nenhuma das potências e membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

A China, por exemplo, irá apenas com um vice-ministro, enquanto Rússia, Reino Unido, Estados Unidos e França designaram seus chanceleres para falar.

Mediadores estrangeiros que fizeram parte das negociações do acordo admitiram ainda que houve uma revisão das ambições, diante do profundo racha que existe na comunidade internacional.

O texto, originalmente com o objetivo de recuperar a importância da ONU e dar respostas para os desafios do século 21, foi transformado em uma lista de aspirações, com pouco impacto. Ainda assim, o impasse continua em alguns dos aspectos relacionados à segurança e outros temas.

Para muitos, o acordo, com o ambicioso nome de "Pacto do Futuro", não passa de um compromisso dos governos a compromissos já feitos no passado. E que nunca foram cumpridos.

Numa sangrenta disputa de poder, o pacto ameaça ser apenas mais um sinal do mal-estar que atravessa o mundo e a diplomacia.

Todos os detalhes em minha coluna deste domingo:  

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2024/09/15/cupula-da-onu-com-lula-e-esvaziada-por-lideres-de-potencias.htm 

Guerras em curso: intermináveis? - Paulo Roberto Almeida

Guerras em curso: intermináveis?

Paulo Roberto Almeida

Não há solução aparente para a atual guerra Hamas-Netanyahu (sim, ele mesmo). Nenhum dos lados, ambos extremistas, tem qualquer intenção de parar com uma guerra insana que é impulsionada pelo irredentismo demencial de cada um deles.

Já o conflito Israel-Palestina poderia ter sido solucionado décadas atrás, com lideranças moderadas no comando dos seus respectivos povos. Infelizmente, os extremistas israelenses e palestinos capturaram o poder em cada lado. Vai perdurar, até o esgotamento das energias belicistas e conquistadoras.

Já a guerra de agressão da Rússia, ou melhor, de Putin contra a Ucrânia só vai parar quando a Rússia for diminuída militarmente e economicamente. Mas, ela é mantida militarmente ativa com a ajuda iraniana e coreana do norte, e mantida economicamente apta pela China. O Ocidente deveria agir em consequência. 

Ele o fará?

Dificilmente: americanos e alemães estão se rendendo à chantagem de Putin.

Brasília, 15/09/2024

Ascensão e queda dos EUA líderes industriais e o Partido Republicano - Paulo Roberto de Almeida

Ascensão e queda dos EUA como líderes industriais e o Partido Republicano

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a evolução econômica dos EUA e os desafios na segunda Guerra Fria.

A coisa mais extraordinária, e abominável, que se passou com o Partido Republicano (e seus caciques) foi a passagem do mais absoluto horror à fraude completa chamada Trump à total submissão ao mentecapto populista vulgar, misógino, megalomaníaco e demente que conquistou boa parte da América em declínio da segunda revolução industrial.

 Os EUA da ascensão pós-guerra civil, e auge pós- Segunda Guerra Mundial, perderam o passo na passagem para a quarta revolução industrial, da microeletrônica, da qual eles foram os coo-inventores (junto com japoneses e europeus). 

Os Republicanos deixaram de ser  os liberais conservadores do multilateralismo econômico, antiprotecionismo e promotores do livre comércio, para o mais horrendo e irracional mercantilismo, quando outros países os alcançaram e superaram na produtividade industrial, usando as mesmas técnicas e know-how inventado e desenvolvido por eles, mas aperfeiçoados e incrementados pelos asiáticos, japoneses, coreanos e taiwaneses, e logo em seguida pela China de Deng Xiaoping.

No entanto, tanto os americanos, quanto os europeus e os asiáticos capitalistas democráticos continuam inovadores e produtivos, e avançados nos planos científico e tecnológico, mas parecem ter perdido a energia na força de trabalho que os caracterizava anteriormente, sobretudo os preguiçosos e obesos trabalhadores do Rust Belt, origem da segunda revolução industrial, a do aço, do automóvel e da manufatura de bens duráveis, o que não é mais o caso desde os anos 1980.

A era Reagan corresponde à passagem do Partido Republicano do liberalismo ao protecionismo, da liderança multilateral para o nacionalismo defensivo, do realismo fiscal para o acumulador de dívida pública, tanto que foram presidentes democratas - Clinton, Obama e Biden - que tiveram de corrigir os desequilíbrios fiscais e orçamentários criados por presidentes republicanos: Reagan, Bush Jr. e Trump.

Atualmente, os chineses, que tinham completamente perdido a primeira e a segunda revoluções industriais, e que ainda tinham ignorado a terceira, sob o maoísmo demencial, conseguiram, sob Deng, engatar na quarta revolução industrial e avançar decisivamente para a quinta e dar a partida à sexta revolução industrial, graças à energia do seu povo trabalhador e uma predisposição favorável à globalização e ao livre comércio. Mas, nos últimos anos, o novo imperador Xi Jinping enveredou novamente pelo nacionalismo e intervencionismo, o que, junto com problemas estruturais chineses, de origem demográfica e fiscal, pode conduzir a grande nação asiática a uma semi estagnação, como o Japão dos anos 1990-2000 (o que no entanto não obstruiu a capacidade científica e de inovação tecnológica).

Trump representou o maior retrocesso mental e motivacional nos EUA, fazendo o país reverter do multilateralismo triunfante do pós-Segunda Guerra para o mais estreito e vulgar nacionalismo protecionista, sinônimo de declínio irremediável, pateticamente patrocinado pelo Partido Republicano, cujos caciques se renderam a um farsante histriônico e medíocre.

Não é irremediável e os EUA podem se recuperar do atual desastre econômico e político, mas, curiosamente, muito do novo vigor competitivo dos dois lados oceânicos dos EUA tem muito a ver com as comunidades imigrantes dinâmicas, não latinas ou africanas, mas asiáticas e indianas, responsáveis pela nova competitividade setorial americana.

O Partido Republicano terá de se desvencilhar do mentecapto que o capturou com base no mais vulgar populismo demencial, e retomar suas concepções liberais de outrora. Podem fazê-lo, mas terá de ter sangue novo em suas lideranças, num país que se tornou doentio pelo armamentismo exacerbado e também desgarrado pelo identitarismo idiota que penetrou e conquistou o Partido Democrata. 

O Brasil perdeu o vigor do desenvolvimentismo estatizante e nacionalista de uma era já ultrapassada e ainda não consolidou as bases de um novo crescimento que deveria estar, desta vez, vinculado à globalização e ao livre comércio, em primeiro lugar na própria região, o que seria o terreno natural de seu imperialismo hobsoniano, isto é, baseado nos investimentos externos e na abertura unilateral de seus mercados aos países vizinhos. Infelizmente, não o fez e não se sabe quando o fará, pois o populismo lulopetista o empurra de volta ao desenvolvimentismo nacionalista e estatizante da era geiseliana, todo o contrário do que deveria fazer numa era dominada pela competitividade asiática nos mercados. Vai demorar mais um pouco para corrigir. Como evidenciado no farto exemplo de decadência argentina, certos países têm de passar primeiro pelo declínio econômico, político e até mental, antes de conseguirem se recuperar. Já é o caso da Argentina - processo que já dura oito décadas - e pode ser o caso do Brasil, e parece que já estamos nisso há mais de três décadas. Vamos nos recuperar? Talvez: nossa “americanização” ainda não se converteu em energia laboral e produtiva asiática. Pode ser que demore mais uma ou duas gerações…

 

Brasília, 4733, 15 setembro 2024, 2 p.

Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/09/ascensao-e-queda-dos-eua-lideres.html).

sábado, 14 de setembro de 2024

Trump: um narcisista incurável - Michael J. Brenner (The Globalist)

 É absolutamente surpreendente como o velho Partido Republicano e milhões de americanos “normais”, cidadãos eleitores, se deixaram capturar por um debiloide total. PRA


https://theglobalist.us4.list-manage.com/track/click?u=fe900a29e67b9f5bd30ac3091&id=32f5c83882&e=23ed0dfe5f 

Narcissism and Trump: The Long Story

Dear reader,

The U.S. presidential TV debate last week underscored two points about Donald Trump that increasingly stun even many Republican politicians in the United States.   

The first one is his deep-seated narcissism. The second one is his exhibiting a level of ADHD (attention deficit disorder) that makes it so hard to connect any of the dots of what he may be saying.  

In our weekend feature "Narcissism and Trump: The Long Story,” Michael J. Brenner explores the clinical psychology of narcissism epitomized by Trump and how U.S. political culture is becoming progressively more related to conduct associated with narcissism. 
 

Cheers,
Stephan Richter
Publisher and Editor-in-Chief



A cultura do autoritarismo - Paulo Roberto Almeida

A cultura do autoritarismo

Paulo Roberto Almeida

Personalidades autoritárias não se convertem em ditadores abertos do dia para a noite; aproveitam as condições societais, de cultura política preexistente na nação. Bolchevismo, nazismo, maoísmo, fascismos variados, não seriam possíveis sem certa propensão dos povos respectivos ao mando autoritário.  

Exemplos: Lênin, Mussolini, Hitler, Chávez, Putin, Erdogan, Maduro, Orban e outros.

Mas, os casos são diferentes entre si: o antissemitismo era (é) disseminado na Europa central e oriental; o nacionalismo russo é doentiamente pró-Putin. A dependência econômica dos pobres venezuelanos os tornam submissos às “cestas básicas” do chavismo. 

Brasília, 13/09/2023

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Mistérios imponderáveis da natureza humana - Paulo Roberto de Almeida

 São também mistérios da razão burocrática. 

Ou seriam atinentes a algum fator ideológico?

A atual diplomacia brasileira publicou dezenas de notas lamentando os ataques israelenses a alvos civis na Faixa de Gaza. 

Ela não foi capaz de elaborar qualquer nota a respeito dos bombardeios russos contra alvos civis na Ucrânia. 

Deve haver algum motivo para essa brutal diferença de tratamento para duas guerras em curso. 

Ainda temos de descobrir por que isso!

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 13/08/2024

Escalada de Maduro na Venezuela pressiona Lula a subir o tom com o ex-aliado - Henrique Lessa (Correio Braziliense)

 Escalada de Maduro na Venezuela pressiona Lula a subir o tom com o ex-aliado

Henrique Lessa
Correio Braziliense - Online | Política
11 de setembro de 2024



Oposição venezuelana organizou protestos em frente à representação brasileira em Caracas. Para especialistas, o Brasil perdeu oportunidade de se posicionar de forma adequada em relação à postura autocrática do regime de Maduro

Com as ameaças de invasão da embaixada da Argentina em Caracas, hoje sob a guarda do , e o aumento da pressão internacional contra Nicolás Maduro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cada vez mais é pressionado para subir o tom com o regime bolivariano. Também a coalizão opositora ao governo atual protestou, nesta quarta-feira (11/9), em Caracas, em frente à embaixada brasileira no país, para pedir que Lula interceda pelos presos políticos do país.

"Nos mobilizamos, na Venezuela e no mundo, para a sede diplomática do governo brasileiro para solicitar sua mediação na libertação de todos os presos políticos e o fim da repressão", dizia uma das convocações nas redes sociais, atribuída a María Corina Machado, principal líder da oposição. O protesto ocorreu em uma praça do centro da cidade. Os manifestantes encerraram o protesto em frente da representação diplomática brasileira.

Com o recente cerco à embaixada da Argentina, sob responsabilidade do governo venezuelano, a situação do governo Lula fica ainda mais difícil, aponta o embaixador aposentado Paulo Roberto de Almeida. "O Lula tem a sua diplomacia personalista, diminuída sistematicamente desde que ele começou. Convocou uma reunião em maio de 2003, para refazer a Unasul, que foi um fracasso. O Celso Amorim e Lula têm uma postura dúbia em relação à , que se mantém até hoje", criticou o diplomata.



Itamaraty ressalta que o vem se posicionando contra os desmandos de Maduro, e alertam que a postura tem sido a do diálogo, e apontam como prioridade manter a inviolabilidade das instalações da embaixada da Argentina em Caracas. "O que nos cabe é manter a inviolabilidade das instalações e a integridade física de quem está ali dentro", disse ao Correio uma fonte da diplomacia, sob reserva.

Para a professora de relações internacionais da ESPM Denilde Holzhacker, a postura do governo é cautelosa, mas aponta que Lula falha em não cobrar de forma mais enfática a manutenção da democracia no país vizinho. "O governo brasileiro tem usado aí uma estratégia de manter uma certa cautela nas ações com relação a ao , para não ampliar ainda mais o conflito. Mas a gente já poderia ter, por exemplo, sinalizado um apoio maior para a oposição nos órgãos internacionais é ter feito uma nota mais contundente com relação a questão da embaixada", avalia a professora.

Para especialistas ouvidos pelo Correio, o cenário mais provável é a permanência de Maduro no comando da e um agravamento da situação no país vizinho.

"O cenário é a permanência do Maduro e o aumento da repressão criando mais fissuras, mas são impactos na oposição. A oposição deve se enfraquecer, a saída de (Edmundo) González (candidato da oposição) já demonstra uma fragilidade para a manutenção do processo (de oposição). A oposição, ainda que bastante unida e com capacidade de mobilização, com, cada vez mais, apoio internacional, pode gerar mais pressão e repressão", aponta a professora Holzhacker.

Segundo a organização não governamental venezuelana Foro Penal, o país contabiliza quase 1,8 mil prisões políticas - 1.659 desde o final de julho, após o início dos protestos contra os resultados divulgados da eleição dando a vitória a Nicolás Maduro.

O não reconhece a vitória de Maduro nem da oposição, como já fizeram os Estados Unidos e outros países. Mesmo com o interesse da diplomacia brasileira em preservar os canais de comunicação com o governo de Caracas, analistas avaliam que falta ao governo Lula uma postura mais enérgica e alinhada aos compromissos brasileiros com a democracia.

"Está feio, e o vai sair feio. Qualquer coisa que o faça agora em relação ao Maduro, perdeu o tempo, vai ficar feio. Muito tarde e muito pouco", disse o embaixador Paulo Roberto Almeida. Para o diplomata, ninguém espera que  Lula venha a romper as relações com o país vizinho.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...